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<p>1</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>EDUCAÇÃO, SAÚDE E</p><p>SEXUALIDADE</p><p>2</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>A Faculdade Multivix está presente de norte a sul</p><p>do Estado do Espírito Santo, com unidades em</p><p>Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova</p><p>Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória.</p><p>Desde 1999 atua no mercado capixaba, des-</p><p>tacando-se pela oferta de cursos de gradua-</p><p>ção, técnico, pós-graduação e extensão, com</p><p>qualidade nas quatro áreas do conhecimen-</p><p>to: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sem-</p><p>pre primando pela qualidade de seu ensino</p><p>e pela formação de profissionais com cons-</p><p>ciência cidadã para o mercado de trabalho.</p><p>Atualmente, a Multivix está entre o seleto</p><p>grupo de Instituições de Ensino Superior que</p><p>possuem conceito de excelência junto ao</p><p>Ministério da Educação (MEC). Das 2109 institui-</p><p>ções avaliadas no Brasil, apenas 15% conquistaram</p><p>notas 4 e 5, que são consideradas conceitos</p><p>de excelência em ensino.</p><p>Estes resultados acadêmicos colocam</p><p>todas as unidades da Multivix entre as</p><p>melhores do Estado do Espírito Santo e</p><p>entre as 50 melhores do país.</p><p>MiSSão</p><p>Formar profissionais com consciência cida-</p><p>dã para o mercado de trabalho, com ele-</p><p>vado padrão de qualidade, sempre mantendo a</p><p>credibilidade, segurança e modernidade, visando</p><p>à satisfação dos clientes e colaboradores.</p><p>ViSão</p><p>Ser uma Instituição de Ensino Superior reconheci-</p><p>da nacionalmente como referência em qualidade</p><p>educacional.</p><p>GRUPO</p><p>MULTIVIX</p><p>4</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Aluno (a) Multivix,</p><p>Estamos muito felizes por você agora fazer parte</p><p>do maior grupo educacional de Ensino Superior do</p><p>Espírito Santo e principalmente por ter escolhido a</p><p>Multivix para fazer parte da sua trajetória profissional.</p><p>A Faculdade Multivix possui unidades em Cachoei-</p><p>ro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia,</p><p>São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999,</p><p>no mercado capixaba, destaca-se pela oferta de</p><p>cursos de graduação, pós-graduação e extensão</p><p>de qualidade nas quatro áreas do conhecimento:</p><p>Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, tanto na mo-</p><p>dalidade presencial quanto a distância.</p><p>Além da qualidade de ensino já comprova-</p><p>da pelo MEC, que coloca todas as unidades do</p><p>Grupo Multivix como parte do seleto grupo das</p><p>Instituições de Ensino Superior de excelência no</p><p>Brasil, contando com sete unidades do Grupo en-</p><p>tre as 100 melhores do País, a Multivix preocupa-</p><p>-se bastante com o contexto da realidade local e</p><p>com o desenvolvimento do país. E para isso, pro-</p><p>cura fazer a sua parte, investindo em projetos so-</p><p>ciais, ambientais e na promoção de oportunida-</p><p>des para os que sonham em fazer uma faculdade</p><p>de qualidade mas que precisam superar alguns</p><p>obstáculos.</p><p>Buscamos a cada dia cumprir nossa missão que é:</p><p>“Formar profissionais com consciência cidadã para o</p><p>mercado de trabalho, com elevado padrão de quali-</p><p>dade, sempre mantendo a credibilidade, segurança</p><p>e modernidade, visando à satisfação dos clientes e</p><p>colaboradores.”</p><p>Entendemos que a educação de qualidade sempre</p><p>foi a melhor resposta para um país crescer. Para a</p><p>Multivix, educar é mais que ensinar. É transformar o</p><p>mundo à sua volta.</p><p>Seja bem-vindo!</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>DA DIREÇÃO</p><p>EXECUTIVA</p><p>Prof. Tadeu Antônio de Oliveira Penina</p><p>diretor Executivo do Grupo Multivix</p><p>5</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>liSTa dE FiGuRaS</p><p>> FIGURA 1 - Intersetorialidade 19</p><p>> FIGURA 2 - Responsáveis pela garantia da Educação como direito 20</p><p>> FIGURA 3 - Ações na perspectiva da intersetorialidade 23</p><p>> FIGURA 4 - Intersetorialidade: conceitos-chave 26</p><p>> FIGURA 5 - Etapas do trabalho escolar envolvendo</p><p>a temática da sexualidade 29</p><p>> FIGURA 6 - Mecanismos condicionantes da sexualidade 38</p><p>> FIGURA 7 - Elementos que compõe a concepção sobre sexualidade 39</p><p>> FIGURA 8 - Descrição de práticas sexuais normais</p><p>e anormais a partir da ideia do “coito natural” 40</p><p>> FIGURA 9 - Aspectos que trazem implicações para</p><p>a construção da sexualidade 45</p><p>> FIGURA 10 - Fase oral 53</p><p>> FIGURA 11 - Adultização infantil 63</p><p>> FIGURA 12 - Erotização precoce 64</p><p>> FIGURA 13 - Abordagem da sexualidade em uma</p><p>proposta pedagógica ético-política 73</p><p>> FIGURA 14 - Características da criança sexualmente saudável 79</p><p>> FIGURA 15 - Conceitos-chave para o desenvolvimento</p><p>saudável da sexualidade 80</p><p>> FIGURA 16 - A escola na proposta de EPS 90</p><p>> FIGURA 17 - A família na proposta EPS 91</p><p>> FIGURA 18 - A comunidade na proposta de EPS 92</p><p>> FIGURA 19 - Ações do Programa Saúde na Escola 95</p><p>> FIGURA 20 - Princípios do PSE 96</p><p>> FIGURA 21 - Ações de saúde na educação 99</p><p>> FIGURA 22 - Constituição do conceito de gênero 105</p><p>> FIGURA 23 - Orientação sexual 107</p><p>> FIGURA 24 - Identidade de gênero 107</p><p>6</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>liSTa dE FiGuRaS</p><p>> FIGURA 25 - Questões que ameaçam a tentativa de</p><p>controle da permissividade sexual 112</p><p>> FIGURA 26 - Conceitos-chave da abordagem emancipatória 115</p><p>7</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>liSTa dE QuadRoS</p><p>> QUADRO 1 - Ações previstas na Agenda Nacional</p><p>para a Promoção do Desenvolvimento Saudável da Juventude 31</p><p>> QUADRO 2 - Estágios Psicossexuais do Desenvolvimento 55</p><p>> QUADRO 3 - Principais marcos da política</p><p>em saúde para adolescentes 67</p><p>> QUADRO 4 - Concepções de sexualidade de</p><p>docentes da educação básica 74</p><p>> QUADRO 5 - Princípios da educação sexual no contexto escolar 80</p><p>8</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>SuMÁRio</p><p>1 Educação, SaúdE E SExualidadE: iNTERSEcçÕES PoSSÍVEiS 17</p><p>1.1 EDUCAÇÃO, SAÚDE E SEXUALIDADE: INTERSECÇÕES POSSÍVEIS 17</p><p>1.1.1 CONCEITOS DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL, EDUCAÇÃO,</p><p>SAÚDE E INTERSETORIALIDADE 18</p><p>1.2 A TEMÁTICA DA SEXUALIDADE E AS ARTICULAÇÕES</p><p>POSSÍVEIS COM OS CAMPOS DA EDUCAÇÃO E DA SAÚDE 26</p><p>BiBlioGRaFia coMENTada 32</p><p>coNcluSão 33</p><p>2 a SExualidadE coMo coNSTRução SÓcio-HiSTÓRico-culTuRal 35</p><p>iNTRodução da uNidadE 35</p><p>2.1 A SEXUALIDADE COMO CONSTRUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICO-CULTURAL 36</p><p>2.1.1 DIMENSÕES HISTÓRICO-SOCIAIS DA SEXUALIDADE 37</p><p>2.1.2 IMPLICAÇÕES DE ALGUNS ASPECTOS SOCIAIS,</p><p>HISTÓRICOS E CULTURAIS NA CONSTRUÇÃO DA SEXUALIDADE HUMANA 45</p><p>coNcluSão 48</p><p>3 SExualidadES: NÍVEl BiolÓGico E PSicoSSExual</p><p>E SuaS MaNiFESTaçÕES Na iNFÂNcia E adolEScÊNcia 50</p><p>iNTRodução 50</p><p>3.1 SEXUALIDADES: NÍVEL BIOLÓGICO E PSICOSSEXUAL E</p><p>SUAS MANIFESTAÇÕES NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 51</p><p>3.1.1 SEXUALIDADE INFANTIL: A CRIANÇA COMO SER SEXUAL 52</p><p>UNIDADE 1</p><p>UNIDADE 2</p><p>UNIDADE 3</p><p>9</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>SuMÁRio</p><p>3.1.2 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SEXUAL ADOLESCENTE 59</p><p>3.1.3 PROBLEMAS DE SAÚDE MAIS PREVALENTES NA INFÂNCIA</p><p>E ADOLESCÊNCIA E SEUS CONDICIONANTES SOCIOECONÔMICOS</p><p>E DE ESTILO DE VIDA 62</p><p>BiBlioGRaFia coMENTada 68</p><p>coNcluSão 69</p><p>4 SExualidadE coMo caMPo dE ESTudoS da Educação 71</p><p>iNTRodução 71</p><p>4.1 SEXUALIDADE COMO CAMPO DE ESTUDOS DA EDUCAÇÃO 72</p><p>4.1.1 INTERSECÇÕES ENTRE SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO 72</p><p>4.1.2 DIFERENCIANDO CONCEITOS: SEXO, SEXUALIDADE</p><p>E EDUCAÇÃO SEXUAL 77</p><p>4.1.3 AS POSSIBILIDADES OFERECIDAS NO ATENDIMENTO ÀS</p><p>NECESSIDADES DE CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO</p><p>INFANTIL E ADOLESCENTE 78</p><p>BiBlioGRaFia coMENTada 83</p><p>coNcluSão 84</p><p>UNIDADE 4</p><p>10</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>UNIDADE 5</p><p>UNIDADE 6</p><p>SuMÁRio</p><p>5 o coNcEiTo dE EScola SaudÁVEl dENTRo daS ESTRaTÉGiaS</p><p>dE PRoMoção da SaúdE E oS PRoGRaMaS TRaNSVERSaiS</p><p>No ENSiNo BÁSico 86</p><p>iNTRodução 86</p><p>5.1 O CONCEITO DE ESCOLA SAUDÁVEL DENTRO DAS</p><p>ESTRATÉGIAS DE PROMOÇÃO DE SAÚDE 87</p><p>5.1.1 PARCERIAS, ALIANÇAS E O PACTO SOCIAL 93</p><p>5.1.2 PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE NA ESCOLA</p><p>DENTRO DA PERSPECTIVA DAS ÁREAS TRANSVERSAIS</p><p>DE ENSINO FUNDAMENTAL: PROGRAMAÇÃO, CRITÉRIOS</p><p>E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO 95</p><p>BiBlioGRaFia coMENTada 99</p><p>coNcluSão 100</p><p>6 aBoRdaGENS coNTEMPoRÂNEaS PaRa a Educação SExual Na Sala</p><p>dE aula: RElaçÕES dE GÊNERo, oRiENTação SExual E iGualdadE</p><p>NuMa PRoPoSTa dE RESPEiTo ÀS diFERENçaS 102</p><p>iNTRodução 103</p><p>6.1 ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS PARA A EDUCAÇÃO SEXUAL</p><p>NA ESCOLA: RELAÇÕES DE GÊNERO,</p><p>desde a infância, sendo</p><p>uma energia que move o desenvolvimento.</p><p>Na época, tudo aquilo que se referia ao tema era considerado impróprio, por isso</p><p>não deveria ser debatido. Então, ao proferir suas ideias, Freud chocou a sociedade</p><p>da época, contrariando a ideia da sexualidade como instinto, que surgiria a partir da</p><p>puberdade, período em que se iniciaria a maturação biológica e o instinto sexual pelo</p><p>sexo e pela masturbação (COSTA; OLIVEIRA, 2011).</p><p>A concepção clássica de instinto tem como modelo um comportamento que</p><p>se caracteriza por sua finalidade fixa e pré-formada, com um objeto e objetivos</p><p>determinados, enquanto a noção freudiana de sexualidade defende a ideia de</p><p>que a sexualidade humana não é instintiva, pois o homem busca o prazer e</p><p>a satisfação através de diversas modalidades, baseadas em sua história indi-</p><p>vidual e ultrapassando as necessidades fisiológicas fundamentais. Assim, se a</p><p>sexualidade se inicia com anatomia (no nascimento), sua conquista depen-</p><p>de de um longo percurso durante a construção da subjetividade da criança.</p><p>(ZORNIG, 2008, p. 73).</p><p>A chamada “descoberta da sexualidade infantil” por Freud provocou muito alvoroço</p><p>nas concepções que se tinha até então sobre essa temática. O descaso para com a</p><p>sexualidade na infância era baseado na ideia de que a criança seria um ser assexuado</p><p>e de que a própria sexualidade se restringiria ao coito e à reprodução. Freud (1996)</p><p>revoluciona o pensamento a esse respeito, trazendo a ideia de que desde o nasci-</p><p>mento o indivíduo é dotado de afeto, desejos e conflitos.</p><p>53</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>“Freud, além da alma” é um filme norte-americano de 1962 dirigido por John</p><p>Huston, com trilha sonora de Jerry Goldsmith. Conta a história da psicanálise,</p><p>reconstruindo as vivências de Sigmund Freud. A partir de 2h09m de filme é</p><p>exibida a primeira vez em que Freud apresenta a teoria da sexualidade infantil</p><p>em uma conferência em Viena. Caso tenha interesse, vale a pena conferir o que</p><p>essas ideias representaram e como impactaram a todos!</p><p>De acordo com a teoria freudiana, as manifestações da sexualidade infantil se origi-</p><p>nariam no primeiro ano de vida pela atração da criança ao seio materno – primeiro</p><p>objeto do instinto sexual, evoluindo para o autoerotismo, quando a criança “abando-</p><p>na” o seio materno (objeto externo) e o substitui por uma área do próprio corpo – o</p><p>dedo ou a mão que o bebê leva à boca. O instinto oral torna-se, então, autoerótico.</p><p>Subsequentemente, abandona o autoerotismo, substituindo o próprio corpo por um</p><p>objeto externo, ocasião em que os bebês começam a explorar o mundo com a boca,</p><p>levando brinquedos e outros objetos até essa região do corpo.</p><p>FIGURA 10 - FASE ORAL</p><p>Fonte: SHUTTERSTOCK, 2019.</p><p>54</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>A partir dos dois/três anos, a maturação neuromuscular possibilita o controle sobre os</p><p>esfíncteres, especialmente o esfíncter anal. É o momento do desfralde.</p><p>Dos três aos cinco anos a criança entra em uma nova fase, em que se interessará em</p><p>estimular a região genital. O pênis torna-se o órgão de principal interesse para as</p><p>crianças de ambos os sexos, e a falta de um pênis nas meninas é considerada evidên-</p><p>cia de castração. Haverá também o interesse no genitor do sexo oposto, caracterizado</p><p>pelo Complexo de Édipo.</p><p>O Complexo de Édipo é proposto por Freud (1996) para compreender a fase</p><p>fálica da Teoria Psicossexual do Desenvolvimento Humano. Fazendo alusão ao</p><p>mito de Édipo Rei, originalmente escrito por Sófocles por volta de 427 a.C., Freud</p><p>caracteriza a fase dos três aos cinco anos de vida como o momento de vivência</p><p>da escolha objetal pelo genitor do sexo oposto.</p><p>O mito de Édipo Rei é uma tragédia grega que conta a história de Laio, rei de</p><p>Tebas, que teria sido avisado por um Oráculo sobre a desgraça de seu futuro:</p><p>seria assassinado por seu próprio filho, que se casaria com sua mulher, mãe</p><p>deste. Para evitar que isso ocorresse, Laio decide abandonar a criança num lugar</p><p>distante, colocando-lhes pregos nos pés, para que morresse. Um pastor encon-</p><p>tra a criança e lhe dá o nome de Edipodos (pés-furados). A criança, mais tarde,</p><p>é adotada pelo rei de Corinto. Na vida adulta o próprio Édipo, ao consultar o</p><p>oráculo, recebe a mesma mensagem que seu pai Laio recebera anos antes, mas,</p><p>acreditando que se tratava dos pais adotivos, Édipo foge de Corinto. Em sua</p><p>fuga, Édipo se depara com um bando de negociantes e acaba matando seu</p><p>líder durante uma briga, sem saber que esse líder era Laio, seu pai. Ao chegar</p><p>a Tebas, Édipo decifra o enigma da Esfinge e livra a cidade de suas ameaças.</p><p>Assim, recebe o trono de rei e a mão da rainha Jocasta, agora viúva. Os dois se</p><p>casam e têm quatro filhos.</p><p>55</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Anos depois, quando uma peste chega à cidade, Édipo e Jocasta consultam o</p><p>oráculo para tentar resolver essa questão e acabam descobrindo que são mãe e</p><p>filho. Jocasta suicida-se e Édipo fura os próprios olhos como punição por não ter</p><p>reconhecido a própria mãe e ter se casado com ela (FERRARI, s.d.).</p><p>Dos cinco/seis aos doze anos de idade a fase é de relativa tranquilidade ou inativi-</p><p>dade do impulso sexual, que se estende da resolução do complexo de Édipo até a</p><p>puberdade.</p><p>A partir dos doze anos, a energia sexual reaparece, junto com o sentimento de identi-</p><p>dade individual e integração de um conjunto de papeis e funções adultas que permi-</p><p>tem novas ações adaptativas dentro das expectativas sociais e dos valores culturais.</p><p>Uma síntese das principais características de cada fase do desenvolvimento psicosse-</p><p>xual é apresentada a seguir.</p><p>QUADRO 2 - ESTÁGIOS PSICOSSEXUAIS DO DESENVOLVIMENTO</p><p>FASE/ IDADE ZONAS ERÓGENAS MANIFESTAÇÕES OBJETIVOS</p><p>Oral - 1º ano de</p><p>vida</p><p>Boca</p><p>Língua</p><p>Mucosa da boca</p><p>Constitui-se em dois</p><p>elementos:</p><p>libidinal: os estados</p><p>de tensão oral</p><p>levam a procura</p><p>de gratificação</p><p>oral, tipificada pela</p><p>tranquilidade no final</p><p>da alimentação.</p><p>agressivo (sadismo</p><p>oral): a agressão oral</p><p>pode manifestar-se</p><p>no ato de morder,</p><p>mastigar, cuspir ou</p><p>chorar. Está vinculada</p><p>aos desejos primitivos</p><p>de morder devorar e</p><p>destruir.</p><p>Estabelecer expressão e</p><p>gratificação confortando</p><p>as necessidades libidinais</p><p>orais, sem excessivo</p><p>conflito e ambivalência</p><p>de desejos orais sádicos.</p><p>56</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>FASE/ IDADE ZONAS ERÓGENAS MANIFESTAÇÕES OBJETIVOS</p><p>Anal - 1 a 3 anos</p><p>Aparelho de secreção</p><p>Controle dos</p><p>esfíncteres</p><p>A criança se descobre</p><p>produzindo algo e isto</p><p>lhe dá prazer.</p><p>As fezes são vistas</p><p>como um presente ao</p><p>mundo.</p><p>Crescente mudança</p><p>da passividade para a</p><p>atividade (autonomia)</p><p>associada à obtenção de</p><p>controle voluntário dos</p><p>esfíncteres.</p><p>Fálica - 3 a 5 anos Genitais</p><p>A estimulação genital</p><p>é vista como processo</p><p>criativo.</p><p>Fantasias</p><p>predominante</p><p>inconscientes de</p><p>envolvimento com</p><p>o genitor do sexo</p><p>oposto, caracterizada</p><p>pelo complexo de</p><p>Édipo.</p><p>Capacitação para o</p><p>exercício da sexualidade</p><p>na idade adulta.</p><p>Organização do caráter.</p><p>Latência - 5/6 aos</p><p>12 anos</p><p>A energia sexual é</p><p>canalizada para outras</p><p>atividades</p><p>A sexualidade está</p><p>latente, adormecida.</p><p>A representação</p><p>e impulsos orais,</p><p>anais e fálicos são</p><p>empurrados para</p><p>o inconsciente,</p><p>reprimidos.</p><p>Integração das</p><p>identificações edípicas</p><p>e consolidação da</p><p>identidade sexual e dos</p><p>papeis sexuais</p><p>Genital - A partir</p><p>dos 12 anos</p><p>Genitais</p><p>Intensificação</p><p>dos impulsos,</p><p>especialmente os</p><p>libidinais, a partir da</p><p>maturação fisiológica</p><p>dos sistemas de</p><p>funcionamento</p><p>genital (sexual e dos</p><p>sistemas glandulares).</p><p>Reabertura de</p><p>conflitos de estágios</p><p>anteriores devido a</p><p>uma reorganização da</p><p>personalidade</p><p>O sucesso nas demais</p><p>fases será determinante</p><p>na sexualidade do adulto.</p><p>Nova oportunidade de</p><p>resolução dos conflitos</p><p>no contexto da obtenção</p><p>da maturidade sexual e</p><p>identidade adulta.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>Como visto, a sexualidade está presente desde a primeira infância e irá se manifestar</p><p>de diversas formas. No contexto</p><p>escolar, como você agiria ao perceber essa manifes-</p><p>tação? O que poderia ser feito?</p><p>Do ponto de vista pedagógico, a fase oral não representa um grande desafio, mesmo</p><p>57</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>porque as crianças dessa faixa etária muitas vezes ainda estão sob os cuidados fami-</p><p>liares. Para a criança que já frequenta creche ou berçário, o ideal seria permitir a esti-</p><p>mulação da boca e da mucosa da boca a partir da exploração do corpo e de brinque-</p><p>dos apropriados para essa finalidade, como mordedores, por exemplo.</p><p>Na fase anal, o treino de toalete deve ser feito com paciência, sempre observando o</p><p>tempo e sinais que a criança dá de que está preparada para o desfralde.</p><p>A reportagem “Chegou a hora de largar a fralda”, publicada em 2008 pela revista</p><p>Nova Escola, aborda a importância da parceria entre escola e família para iden-</p><p>tificar os sinais de maturidade das crianças para o desfralde e oferece dicas de</p><p>como passar por essa fase sem traumas. Caso tenha interesse em aprofundar</p><p>sobre este tema, vale a pena conferir!</p><p>A fase fálica talvez seja uma das mais desafiadoras, pois é um período de muita</p><p>curiosidade e descoberta da criança sobre o corpo, especialmente a região genital.</p><p>É comum crianças se tocarem, se exibirem (tirando as calças na frente dos colegas,</p><p>familiares ou visitas) e terem curiosidade em saber sobre o corpo do outro. Na escola,</p><p>quando alguma dessas manifestações ocorrerem, é importante não fazer alarde ou</p><p>tratar o acontecimento como um “evento”. Como algo natural ao desenvolvimento,</p><p>não é adequado repreender a criança ou dar-lhe sermões. O que pode ser feito é</p><p>canalizar essa energia para outras atividades, por exemplo, chamando a criança para</p><p>ajudar em algo ou fazer alguma tarefa. Esta também pode ser uma boa oportunida-</p><p>de para ensinar sobre intimidade e privacidade, orientando as crianças sobre o fato</p><p>de que ninguém pode tocar no corpo delas, além dos cuidadores mais próximos,</p><p>com finalidade voltada para higiene e cuidado.</p><p>A latência, teoricamente, poderia representar um período sem grandes preocupa-</p><p>ções em relação às questões sexuais para os educadores, porém não é o que se tem</p><p>percebido na atualidade.</p><p>58</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>A antecipação dos parâmetros da puberdade, chamada de “aceleração secu-</p><p>lar do crescimento”, é um processo que desencadeia o disparo do desenvol-</p><p>vimento sexual. O amadurecimento precoce e a elevada produção hormonal</p><p>em crianças têm ocorrido cada vez mais cedo e é um fenômeno mundial. A</p><p>cada década há uma antecipação de três ou quatro meses, de acordo com as</p><p>pesquisas. Os fatores atrelados a esse fenômeno são a alimentação (atualmen-</p><p>te come-se melhor, porém produtos contendo hormônios e outras substâncias</p><p>nocivas à saúde), a exposição a estímulos eróticos através da TV, música e outras</p><p>mídias, além da erotização precoce voltada ao consumo. Para saber mais, você</p><p>pode consultar a reportagem “Adolescência: cada vez mais cedo” publicada na</p><p>Folha de São Paulo.</p><p>A fase genital é o período em que na escola podem ser abordados mais enfatica-</p><p>mente conteúdos como proteção, autocuidado, direitos reprodutivos, que auxiliam</p><p>os jovens a entenderem e exercerem uma sexualidade madura, saudável e conscien-</p><p>te, tendo autonomia para o autocuidado e para tomar decisões sobre a iniciação</p><p>sexual segura. De acordo com os documentos oficiais do Ministério da Educação,</p><p>como é o caso dos PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), esta</p><p>temática deve ser abordada de forma transversal no currículo, devendo ser trabalha-</p><p>da em toda e qualquer disciplina.</p><p>Mesmo havendo muitas publicações sobre a sexualidade infantil, tanto de Freud</p><p>quanto de outros estudiosos, ainda existe muita recusa ante a essa ideia. Costa e</p><p>Oliveira (2011) mencionam que a razão dessa negligência ou desatenção pode ser</p><p>entendida, em parte, devido ao fenômeno chamado de amnésia infantil, descrito</p><p>pelo próprio Freud (1996). Para ele, trata-se de um fenômeno psíquico caracterizado</p><p>pelo esquecimento parcial ou total das lembranças da infância, especialmente dos</p><p>primeiros seis ou oito anos de vida.</p><p>E você, o que pensa sobre essa teoria? Avalie se ela te ajuda a compreender o compor-</p><p>tamento das crianças que você conhece. Seja qual for sua opinião, é importante reco-</p><p>nhecer que entender a existência da sexualidade na infância e de que forma ela se</p><p>59</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>manifesta é de suma importância para o trabalho com esse público.</p><p>3.1.2 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SEXUAL</p><p>ADOLESCENTE</p><p>A adolescência é um período do desenvolvimento no qual ocorrem transformações</p><p>rápidas e profundas de aspectos biopsicossociais, com mudanças físicas e funcionais,</p><p>possibilitando diferentes interações sociais e despertando novos interesses (OPAS,</p><p>2017). Essas mudanças, por estarem relacionadas às questões próprias do crescimen-</p><p>to e desenvolvimento humano, acabam trazendo questões de ordem psíquicas, que</p><p>têm a ver com a reorganização da personalidade e a necessidade de definição de</p><p>uma identidade própria, que muitas vezes se distancia do modelo apresentado pelos</p><p>pais, familiares ou mesmo pela sociedade.</p><p>Em busca da definição de sua identidade, de encontrar seu lugar no mundo</p><p>(“não sou mais criança, mas também ainda não sou adulto”), alguns adolescen-</p><p>tes confrontam os padrões e modelos de autoridade à sua volta, como pais,</p><p>familiares e professores. Esse comportamento, embora opositor, é típico de</p><p>pessoas que se encontram nessa fase da vida.</p><p>Essas mudanças físicas, psíquicas e comportamentais podem tornar os adolescen-</p><p>tes muito vulneráveis a situações de risco, especialmente a algumas relacionadas à</p><p>saúde sexual. Isso se agrava quando a descoberta e o exercício da sexualidade são</p><p>diferentes dos padrões da sociedade (OPAS, 2017).</p><p>60</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), feita em 2015 pelo IBGE</p><p>com o apoio do Ministério da Educação (IBGE, 2016) mostrou que dos 109.104</p><p>adolescentes de 13 a 17 anos entrevistados, 55% já consumiu bebida alcoóli-</p><p>ca. Na contramão das campanhas que enfatizam os prejuízos ocasionados pelo</p><p>álcool, a pesquisa mostrou que adolescentes e jovens têm começado a beber</p><p>cada vez mais cedo. Vários fatores podem explicar este fenômeno, dentre eles</p><p>o senso de onipotência e imprevisibilidade de consequência, típicas da adoles-</p><p>cência. Isso quer dizer que os jovens não costumam pensar nas consequências</p><p>ou desdobramentos possíveis de seus atos, além disso, frequentemente têm a</p><p>sensação de estarem imunes aos perigos (“não vai acontecer comigo!”).</p><p>Para além dessas questões, existe a responsabilidade adulta, que muitas vezes está</p><p>presente na vida do jovem, seja por sustentar ou contribuir financeiramente com a</p><p>família ou, ainda, por tornar-se pai ou mãe na adolescência.</p><p>A iniciação precoce da sexualidade não representa, em si, uma forma de</p><p>passagem para a vida adulta; talvez possa ser mais bem entendida como</p><p>outra forma de “experimentar” vivências do mundo adulto, sem assumi-lo</p><p>completamente. Assim, jovens casais vivendo juntos sem casamento, jovens</p><p>que criam seus filhos na casa dos pais ou mesmo jovens que moram com os</p><p>pais depois de já serem financeiramente independentes são fenômenos cada</p><p>vez mais comuns, que desorganizam a compreensão tradicional de transição</p><p>para a vida adulta, evidenciando o exercício de vários “papéis adultos” por indi-</p><p>víduos que ainda se identificam como jovens (AQUINO, 2009, p. 28).</p><p>Se, por um lado, essas novas experiências e formas de comportamento podem repre-</p><p>sentar uma preocupação para muitos, por outro, convida para o desenvolvimento</p><p>de estratégias que contribuem decisivamente para a autonomia de adolescentes e</p><p>jovens, que agora se veem diante da necessidade de tomarem suas próprias decisões,</p><p>sem a coerção dos mais velhos (BRASIL, 2013).</p><p>No que diz respeito à saúde e sexualidade, a população adolescente é</p><p>considerada</p><p>um grupo vulnerável, já que os jovens nem sempre preveem consequência e acre-</p><p>ditam, muitas vezes, que estão imunes a acontecimentos e problemas que podem</p><p>61</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>surgir em decorrência de sua exposição à violência, à prática do sexo desprotegido e</p><p>do consumo de álcool e outras drogas.</p><p>De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL, 1990), toda</p><p>criança e adolescente tem direito ao atendimento integral à saúde, o que os torna</p><p>sujeitos de direitos nas variadas condições sociais e individuais que envolvem a</p><p>prevenção e remediação da saúde. Isso quer dizer que o adolescente tem direito</p><p>de decidir sobre todo e qualquer assunto que afete sua vida, como o início da vida</p><p>sexual, contracepção, com quem irá partilhar a intimidade, etc. Também tem direito</p><p>à privacidade e a ser ouvido e esclarecido sobre suas dúvidas, curiosidades e ques-</p><p>tões que podem ajudá-lo a compreender melhor e tomar decisões conscientes que</p><p>envolvam seu desenvolvimento integral, sua saúde e sua sexualidade (OPAS, 2017,</p><p>p. 9). Esse é um ponto bem importante, quando se considera que é justamente na</p><p>adolescência que a (re)abertura de vários conflitos individuais, psíquicos, acontecem.</p><p>Soma-se a esse fato a instabilidade emocional, muitas vezes presente, a identidade</p><p>em construção e os dilemas próprios do vir a ser adulto.</p><p>Nesse contexto, as experiências sociais, de interação, podem ser marcantes, tanto</p><p>positiva quanto negativamente. Isso significa que ter a oportunidade de conviver em</p><p>um ambiente familiar saudável e frequentar locais de convivência (como clube, local</p><p>para prática da religião e espaços públicos de lazer, por exemplo) que permitam a</p><p>liberdade de pensamento e expressão, além da criação de laços afetivos com outras</p><p>pessoas, pode representar muita diferença na (re)construção da identidade de cada</p><p>um. Essas vivências podem, inclusive, ser destrutivas, caso o ambiente de convivên-</p><p>cia seja nocivo, pouco acolhedor ou hostil; e, como consequência de experiências de</p><p>socialização e criação de relações de afeto malsucedidas, alguns jovens podem sofrer</p><p>com depressão, ansiedade, automutilação, ideação suicida, abuso de álcool e outras</p><p>drogas, transtornos alimentares, comportamento sexual de risco, reclusão social e</p><p>delinquência (OPAS, 2017).</p><p>Havendo compreensão da importância de se priorizar a saúde do jovem, alguns sofri-</p><p>mentos e dificuldades podem ser amenizados, embora ainda sejam bastante comuns</p><p>a essa população. O ambiente escolar, por ser local de convivência e aprendizagem,</p><p>pode ser um espaço de acolhimento, que oferece ao jovem novas possibilidades de</p><p>se entender e se relacionar com as pessoas. Para isso, é importante que os professores</p><p>conheçam sobre desenvolvimento adolescente e sejam sensíveis aos dilemas típicos</p><p>dessa fase da vida.</p><p>62</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Em sala de aula, pode ser desenvolvido um trabalho que valorize a diversidade e</p><p>promova o respeito à individualidade de cada um, e isso pode ser feito não apenas a</p><p>partir do próprio conteúdo curricular, mas também por meio de atitudes e posturas</p><p>éticas e respeitosas, que acabam servindo como modelo para os alunos sobre como</p><p>interagir de forma saudável com colegas e professores.</p><p>3.1.3 PROBLEMAS DE SAÚDE MAIS PREVALENTES</p><p>NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA E SEUS</p><p>CONDICIONANTES SOCIOECONÔMICOS E DE ESTILO</p><p>DE VIDA</p><p>Saúde é sinônimo de qualidade de vida. Quando algo interfere na qualidade de vida</p><p>de uma pessoa, isso acarreta um problema de saúde. Por estarem em pleno processo</p><p>de crescimento e desenvolvimento, crianças e adolescentes são os que mais apre-</p><p>sentam condição vulnerável a sofrer impactos na saúde e qualidade de vida, muitas</p><p>vezes decorrente da negação de seus direitos básicos (BRASIL, 2006).</p><p>Quando se pensa nos problemas de saúde relacionados à sexualidade, na infância a</p><p>maior prevalência é a adultização e erotização precoce, além de violência/ exploração</p><p>sexual infantil.</p><p>Imaturos e dependentes, muitas vezes as crianças não entendem as violências que</p><p>sofrem, pois são persuadidas pela mídia e por adultos a adotarem atitudes e compor-</p><p>tamentos incompatíveis com sua faixa etária. Este é o caso de crianças que, expostas a</p><p>um mercado publicitário que na atualidade já comercializa até salto alto para bebês,</p><p>usam maquiagem, alisam os cabelos e vestem-se com roupas sensuais (com renda,</p><p>frente única) por influência/conivência de seus cuidadores, nem sempre percebem</p><p>estas questões como nocivas. Este fenômeno é chamado de adultização infantil.</p><p>63</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>FIGURA 11 - ADULTIZAÇÃO INFANTIL</p><p>Fonte: SHUTTERSTOCK, 2019.</p><p>O uso de salto alto, de roupas de padrão adulto (transparentes, rendadas e que</p><p>mostrem grande parte do corpo), além do incentivo ao comportamento sexualizado,</p><p>como dançar de forma sensual, implica outro fenômeno, conhecido como erotiza-</p><p>ção precoce. A erotização precoce ocorre com meninos e meninas, mas nota-se que</p><p>o fenômeno é muito mais frequente com meninas, o que demonstra que o corpo da</p><p>mulher (da menina) é sexualizado desde a infância.</p><p>64</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>FIGURA 12 - EROTIZAÇÃO PRECOCE</p><p>Fonte: SHUTTERSTOCK, 2019.</p><p>Mas, porque algo aparentemente tão inocente e até “bonitinho”, como ver uma crian-</p><p>ça dançando, se divertindo ou usando roupas bonitas e maquiagem, pode ser ruim?</p><p>Como isso pode prejudicar a saúde dessas crianças? É importante lembrar que as</p><p>crianças estão em pleno processo de formação de sua identidade e personalidade.</p><p>Ao entrar em contato com padrões adultos, a criança absorve o que é bonito, o que</p><p>é feito, o que é belo, que tipo de cabelo é “bom”, que padrão de beleza é valorizado.</p><p>Ao usar roupas impróprias para seu corpo e faixa etária, a criança limita suas possibili-</p><p>dades de brincadeira, preocupando-se (ou sendo orientada) a não se sujar, não correr</p><p>para não suar.</p><p>Outro problema diz respeito à vulnerabilidade à violência sexual a que crianças estão</p><p>expostas. O abuso sexual de crianças por adultos ocorre por pessoas que desejam</p><p>satisfazer suas necessidades de poder e contato corporal com o público infantil.</p><p>Como não tem capacidade de discernimento para consentir livremente, a criança</p><p>é levada a cooperar (inclusive ocultando o ato). Estes episódios marcam a vida de</p><p>qualquer um de forma muito negativa, condenando a criança à indefesa e ao desam-</p><p>paro, ocasionando problemas que podem ser físicos e emocionais/psíquicos, poden-</p><p>do evoluir para quadros muito mais graves de patologias psicológicas (WIRTZ, 1990</p><p>apud BRASIL, 2006).</p><p>65</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>O documento “Violência faz mal à saúde”, publicado pelo Ministério da Saúde,</p><p>apresenta um histórico do estudo sobre o tema, além de ações de prevenção</p><p>à violência contra crianças e adolescentes, e sugestões de como criar redes de</p><p>proteção e enfrentamento deste problema. Caso tenha interesse em aprofun-</p><p>dar nestes assuntos, acesse este documento no site do Ministério da Saúde.</p><p>A adolescência é o período de maior exploração da identidade sexual de uma pessoa.</p><p>Em muitos casos, essas buscas e experimentações favorecem uma maior exposição</p><p>a comportamentos de risco que impactam a vida pessoal e sexual, como o abuso de</p><p>álcool e outras drogas, a prática do sexo desprotegido, com maior suscetibilidade às</p><p>doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e gravidez não desejada, além da exposi-</p><p>ção às múltiplas formas de violência. Problemas de saúde mental também incidem</p><p>sobre essa população, que apresenta elevado índice de ansiedade e depressão, além</p><p>de ideação suicida e comportamento de automutilação (OPAS, 2017).</p><p>Essas questões denotam o quão urgente e importante é pensar sobre a saúde do</p><p>adolescente, que precisa da orientação e auxílio do outro mais experiente para passar</p><p>por estes conflitos. O estilo parental adotado pelos pais, a forma de criação, as cren-</p><p>ças familiares e</p><p>os condicionantes sociais, como a religiosidade, o que é aceito ou</p><p>não, especialmente no que se refere à sexualidade, muitas vezes podem favorecer o</p><p>aparecimento de problemas de saúde, sejam eles psicológicos ou não.</p><p>Quando se pensa na saúde da mulher adolescente, a gravidez não desejada aparece</p><p>como um problema a ser resolvido, já que na faixa etária de 10 a 14 anos de idade,</p><p>em sua maioria, está relacionada à ocorrência de violência sexual. Nas adolescentes</p><p>com idades mais avançadas, de 15 a 19 anos, a gravidez tende a se relacionar à falta</p><p>de orientação e informação sobre sexualidade (OPAS, 2017).</p><p>Não se deve deixar de levar em conta, nessa discussão, as restrições de acesso aos</p><p>serviços básicos de saúde que muitas pessoas são privadas, dentre as quais os adoles-</p><p>centes. Além disso, muitas vezes, dependendo de onde vivem, as adolescentes</p><p>compreendem a gravidez como a tentativa de encontrar e sustentar um lugar social,</p><p>66</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>especialmente em contextos marcados pelas desigualdades de raça, gênero e classe</p><p>social (BRASIL, 2013).</p><p>Segundo dados do Ministério da Saúde, os investimentos voltados à ampliação</p><p>do acesso aos serviços, às informações de qualidade em linguagem acessível e</p><p>às ações de promoção e atenção à saúde têm surtido efeitos positivos. Tem-se</p><p>observado uma diminuição do número de parto de mulheres na faixa de 10 a</p><p>19 anos de idade. Em 2009 foram registrados 486.292 partos, em 2010 o núme-</p><p>ro foi de 469.742 e em 2011, 467.702 partos (BRASIL, 2013).</p><p>Outro problema que aparece como importante fator para o cuidado da saúde com</p><p>foco na sexualidade do adolescente é o sofrimento psíquico a que muitos estão sujei-</p><p>tos. A adolescência, por si só, já representa um desafio de ordem psíquica muito</p><p>intenso (OPAS, 2017), em razão das várias alterações no corpo, na libido e nas rela-</p><p>ções sociais.</p><p>Quando se pensa em adolescentes em situação de maior vulnerabilidade esse sofri-</p><p>mento pode ser ainda maior. Fazem parte deste público os adolescentes com defi-</p><p>ciência, com doenças crônicas, migrantes, que vivem em áreas remotas ou são refu-</p><p>giados, ou mesmo os que são marginalizados e estigmatizados por sua crença, etnia,</p><p>raça ou orientação sexual (OPAS, 2017).</p><p>O que se sabe, na atualidade, é que, em relação às políticas de saúde do Estado brasi-</p><p>leiro, já existem estratégias que visam proteção e promoção da saúde à população</p><p>infantil e adolescente, buscando regular os comportamentos de risco e minimizar as</p><p>vulnerabilidades associadas a eles ou às próprias condições de vida dos adolescentes</p><p>e suas famílias (OPAS, 2017). No entanto, ainda há a necessidade de melhor formação</p><p>profissional, já que se sabe que os profissionais de saúde têm importantes deficiên-</p><p>cias em sua formação inicial, especialmente no que se refere ao atendimento em</p><p>sexualidade (OPAS, 2017).</p><p>A Organização Pan-Americana da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação</p><p>67</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>elaborou uma linha do tempo com os principais marcos na política de saúde para</p><p>adolescentes. Os principais marcos serão mencionados no quadro a seguir.</p><p>QUADRO 3 - PRINCIPAIS MARCOS DA POLÍTICA EM SAÚDE PARA ADOLESCENTES</p><p>ANO MARCO</p><p>1989</p><p>• Criação da convenção sobre os direitos da criança</p><p>• Criação do PROSAD (Programa Saúde do Adolescente)</p><p>1990</p><p>• Sancionada a lei n.º 8.069, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente</p><p>• Homossexualidade é retirada da lista de doenças mentais.</p><p>1993 • Normas de atenção à saúde integral do adolescente</p><p>1999</p><p>• Conselho de Psicologia publica resolução para não atendimento com finalidade de cura</p><p>para homossexualidade</p><p>2000 • Publicação de manual de atendimento para adolescentes grávidas</p><p>2005 • É instituído o Programa de Saúde Integral para Adolescentes e Jovens</p><p>2006</p><p>• Promulgação da Lei Maria da Penha</p><p>• Publicação da cartilha sobre direitos sexuais e direitos reprodutivos</p><p>2007</p><p>• Criação do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-juvenil</p><p>• Programa Saúde na Escola</p><p>• Marco legal: saúde, um direito de adolescentes</p><p>2010</p><p>• Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na</p><p>promoção, proteção e recuperação da saúde</p><p>2011</p><p>• STF reconhece união civil entre pessoas do mesmo sexo</p><p>• Publicação de normas técnicas de atenção humanizada ao abortamento</p><p>• Divulgação de aspectos jurídicos para atendimento às vítimas de violência sexual</p><p>• Publicação de matriz pedagógica para formação das redes para atenção integral para</p><p>mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica e sexual</p><p>2012 • Prevenção e tratamento dos agravos da violência sexual em mulheres e adolescentes</p><p>2013</p><p>• Orientações básicas de atenção integral à saúde de adolescentes nas escolas e unidades</p><p>básicas de saúde</p><p>• Publicação de “O SUS e a saúde sexual e reprodutiva de adolescentes e jovens no Brasil”</p><p>• Seminário Internacional Saúde, Adolescência e Juventude</p><p>2014</p><p>• Divulgação de Metodologias para o Cuidado de Crianças, Adolescentes e suas Famílias</p><p>em Situação de Violências</p><p>• Oficina “O SUS e o Estatuto da Juventude</p><p>Fonte: Adaptado de OPAS, 2017, p.18-19.</p><p>O documento da OPAS (2017) aponta que os principais desafios para o desenvolvi-</p><p>mento de programas de atenção integral à saúde do adolescente no atual cenário</p><p>sócio-político-cultural são o conservadorismo político e o fundamentalismo religioso</p><p>que têm se firmado na reprodução dos discursos de polarização e intolerância em</p><p>boa parte da população. São essas questões que se interpõem na atualidade como</p><p>algo a ser debatido e superado para que a criança e o adolescente sejam vistos e</p><p>68</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>cuidados em sua integralidade, tendo oportunidade de crescer, desenvolverem-se e</p><p>construírem sua identidade cultural e sexual de forma sadia.</p><p>Profissionais que trabalham com este público, incluindo professores, precisam</p><p>promover o diálogo sobre sexualidade, saúde e aspectos de autocuidado, visando</p><p>favorecer a construção da identidade sexual e do desenvolvimento saudável, como</p><p>um todo. Por isso, é importante entender a sexualidade em sua abordagem múltipla,</p><p>para que preconceitos e práticas de discriminação possam ser mitigados no espa-</p><p>ço da escola. O professor, como mediador do processo de ensino, pode promover o</p><p>respeito e o acesso a informações de qualidade que auxiliem crianças e jovens a lidar</p><p>com autonomia das questões que envolvem saúde e sexualidade, estando aptos para</p><p>o autocuidado e proteção.</p><p>BIBLIOGRAFIA COMENTADA</p><p>Veja a seguir uma indicação de obra que complementará seu conhecimento sobre os</p><p>assuntos abordados na disciplina.</p><p>• HOLOVKO, S. C.. CORTEZZI, M. C. (Orgs.). Sexualidades e gênero: desafios da</p><p>psicanálise. 1. ed. digital. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 2018.</p><p>O livro “Sexualidades e gênero: desafios da psicanálise” apresenta o olhar da psicaná-</p><p>lise sobre a construção da identidade sexual de crianças e jovens em seu processo de</p><p>desenvolvimento. O livro, como um todo, oferece subsídios para melhor compreen-</p><p>são de como as diferentes sexualidades vão se moldando ao longo da vida humana.</p><p>Vale a pena a leitura!</p><p>69</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>CONCLUSÃO</p><p>Nesta unidade você estudou a sexualidade a partir de seus condicionantes biológicos</p><p>e psicossociais. A mudança corporal que ocorre em cada fase da vida foi apresentada</p><p>e debatida de forma conjunta às questões psíquicas que constituem a formação da</p><p>identidade de cada um de nós.</p><p>A manifestação da sexualidade foi debatida à luz das ideias de Sigmund Freud e</p><p>de sua teoria Psicossexual do Desenvolvimento, que apresenta diferentes fases em</p><p>que a energia sexual é canalizada para diferentes objetivos. Também foi estudada a</p><p>construção da identidade adolescente, tendo em vista que essa população é poten-</p><p>cialmente vulnerável a comportamentos de risco e violência, que podem ocasionar</p><p>problemas de saúde.</p><p>Os problemas de saúde de maior incidência na infância e adolescência</p><p>foram apre-</p><p>sentados, e alguns condicionantes socioeconômicos e de estilo de vida do adolescen-</p><p>te e de sua família foram analisados, como fatores que influenciam ou exacerbam a</p><p>ocorrência destes problemas.</p><p>Saber que a sexualidade está presente desde a primeira infância e evolui ao longo da</p><p>vida é um importante fator para se entender comportamentos e identificar suas dife-</p><p>rentes formas de manifestação. No exercício do trabalho docente dentro do espaço</p><p>escolar, atentar-se para os riscos a que crianças e adolescentes estão sujeitos nas dife-</p><p>rentes etapas do desenvolvimento faz-se urgente e necessário, pois pode influenciar</p><p>a forma destes se perceberem, construírem e viverem a sexualidade.</p><p>Tendo subsídios para compreender melhor as diferentes sexualidades, o professor</p><p>terá condições de ensinar e intervir de maneira mais efetiva e adequada nos casos</p><p>em que a mediação com a temática da sexualidade se fizer necessária. Estejamos</p><p>atentos a essas questões!</p><p>70</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao final desta</p><p>unidade,</p><p>esperamos</p><p>que possa:</p><p>UNIDADE 4</p><p>> Identificar as</p><p>possibilidades de</p><p>intersecção entre</p><p>educação e sexualidade.</p><p>> Diferenciar sexo,</p><p>sexualidade e educação</p><p>sexual, reconhecendo as</p><p>principais características</p><p>de cada conceito.</p><p>> Examinar como</p><p>a educação pode</p><p>criar possibilidades</p><p>de atendimento</p><p>às necessidades</p><p>relacionadas à construção</p><p>da sexualidade durante</p><p>o crescimento e</p><p>desenvolvimento infantil</p><p>e adolescente.</p><p>71</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>4 SEXUALIDADE COMO</p><p>CAMPO DE ESTUDOS DA</p><p>EDUCAÇÃO</p><p>Nesta unidade, você estudará sobre as possibilidades de intersecção entre educação</p><p>e sexualidade. A proposta é apresentar a educação como uma área que pode favo-</p><p>recer o entendimento e a concepção que se tem sobre as questões que envolvem a</p><p>sexualidade, desde a construção da identidade sexual infantil e adolescente até as</p><p>abordagens que podem ser trabalhadas dentro do espaço escolar, visando pensar</p><p>um currículo que discuta a educação sexual e as várias possibilidades de trabalho</p><p>com os alunos.</p><p>Também é objetivo desta unidade apresentar os conceitos de sexo e sexualidade,</p><p>diferenciando-os de educação sexual, de modo a favorecer a compreensão sobre o</p><p>que significa cada um desses termos e sob que perspectivas podem ser entendidos.</p><p>Embarque nesta aprendizagem!</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Esta unidade trata da intersecção entre educação e sexualidade, propondo apresen-</p><p>tar como esses dois campos de atuação e estudos podem atuar de forma a contri-</p><p>buir para a construção da sexualidade de crianças e adolescentes. Por serem indiví-</p><p>duos em formação, esses públicos encontram-se em pleno processo de crescimento e</p><p>desenvolvimento de vários conceitos e habilidades, entre os quais a identidade sexual.</p><p>A educação, como área do saber que propicia o acesso ao conhecimento produzi-</p><p>do pela humanidade, pode favorecer a apropriação dos conceitos de sexo, sexuali-</p><p>dade e educação sexual, de modo que se possa conhecer e perceber a diferenciação</p><p>entre eles. Conhecendo as múltiplas facetas da sexualidade humana, talvez seja possí-</p><p>vel entendê-la e exercê-la de forma mais plena e saudável, o que significaria maio-</p><p>res chances de diminuir problemas de identidade, autoaceitação e intolerância com</p><p>o que aparenta ser diferente. Nesta perspectiva, o presente material busca oferecer</p><p>72</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>subsídios para se pensar a educação sexual a partir de suas várias abordagens, que não</p><p>se limitam a reduzir e classificar o sexo ou a sexualidade em categorias únicas e fixas.</p><p>4.1 SEXUALIDADE COMO CAMPO DE ESTUDOS DA</p><p>EDUCAÇÃO</p><p>A quem compete o ensino sobre sexualidade? Qual o papel da família em relação a</p><p>esse tipo de orientação? E a escola, o que pode ensinar? Até aonde a escola pode ir</p><p>quando aborda esse tema? Quais são os limites? Essas questões são comuns, quando</p><p>se pensa em sexualidade e educação. Há, inclusive, alguns debates ideológicos que</p><p>colocam essa temática como algo que deve ser tratado no âmbito familiar. Estudio-</p><p>sos da área, porém, defendem que uma educação sexual é urgente e imprescindível</p><p>à formação do ser humano, em todas as etapas de seu desenvolvimento.</p><p>Há muitos anos, a escola tem sido responsável por oferecer um ensino denominado</p><p>de “educação sexual”. O que esse ensino engloba? Quais temas contempla? O que há</p><p>de novo em relação às abordagens curriculares para o trabalho com a sexualidade?</p><p>Essas questões são as norteadoras deste material.</p><p>4.1.1 INTERSECÇÕES ENTRE SEXUALIDADE E</p><p>EDUCAÇÃO</p><p>Na escola, a temática da sexualidade geralmente está vinculada ao ensino de ciên-</p><p>cias ou biologia e em geral se restringe ao conhecimento do corpo, à abordagem dos</p><p>aparelhos reprodutores masculino e feminino, puberdade, menstruação, virgindade,</p><p>iniciação sexual, prática do sexo seguro, prevenção à doenças sexualmente transmis-</p><p>síveis (DST), AIDS e gravidez não planejada (FURLANI, 2016).</p><p>Mais recentemente, com as atuais políticas voltadas à garantia dos direitos sexuais</p><p>e reprodutivos da população, a escola tem sido considerada um local privilegiado</p><p>para o reconhecimento e valorização da diversidade de expressões de sexualidade</p><p>(GESSER et al., 2015). No entanto, mesmo que os documentos oficiais recomendem</p><p>um trabalho transversal com essa temática, ele ainda fica restrito a poucas discipli-</p><p>nas. E algumas escolas parecem fomentar predominantemente o preconceito ao</p><p>73</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>diferente, patologizando atitudes e comportamentos que fogem ao modelo da hete-</p><p>ronormatividade (LOURO, 2008; ALÓS, 2011; SEFFNER, 2013).</p><p>Condizente com o que propõe o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), (BRASIL,</p><p>1990), o Caderno de Orientação Sexual dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)</p><p>(MEC, 1998) e a Política de Prevenção e Combate à Homofobia - Brasil sem homo-</p><p>fobia (MEC, 2004), uma proposta pedagógica em uma perspectiva ético-política, de</p><p>acordo com Gesser et al. (2015), consideraria oferecer possibilidades para:</p><p>FIGURA 13 - ABORDAGEM DA SEXUALIDADE EM UMA</p><p>PROPOSTA PEDAGÓGICA ÉTICO-POLÍTICA</p><p>• Desconstrução das significações de sexualidades opressoras.</p><p>• Desnaturalização das violências contra as diferentes formas</p><p>de manifestação da sexualidade.</p><p>• Ampliação da autonomia para que cada um possa exercer</p><p>sua sexualidade.</p><p>• Garantia dos direitos sexuais e reprodutivos.</p><p>• Diminuição da vulnerabilidade de quem expressa sexualidade fora do</p><p>padrão heterossexual.</p><p>Fonte: Elaborada pela autora, 2019.</p><p>Apesar de os termos “gênero” e “orientação sexual” terem sido suprimidos da</p><p>Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017), as temáticas sobre</p><p>discussão dos direitos humanos e discriminação foram contempladas no docu-</p><p>mento, o que significa que as questões que envolvem a sexualidade devem ser</p><p>trabalhadas nas redes de ensino.</p><p>74</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>A oferta de uma educação que contemple a temática da sexualidade de forma múlti-</p><p>pla e ética ainda é um desafio no Brasil. Nas escolas, predomina uma pluralidade de</p><p>concepções que vão desde as relacionadas ao higienismo até aquelas que buscam</p><p>promover a democracia sexual, ou seja, a aceitação da diversidade e da pluralidade de</p><p>identidades sexuais em suas diferentes formas de manifestação (GESSER et al., 2015).</p><p>Higienismo: ideia baseada na “limpeza” a partir da eliminação do que é “sujo”.</p><p>Na concepção de sexualidade tratada nesta unidade, o conceito refere-se à</p><p>exclusão, minimização ou marginalização de toda forma de manifestação</p><p>sexual que não seja heteronormativa, ou seja, da sexualidade considerada peri-</p><p>férica, desviante, suja.</p><p>Para entender melhor as formas como a sexualidade tem sido compreendida a partir</p><p>da perspectiva do ensino, Gesser et al. (2015) apresentam algumas concepções de</p><p>sexualidade de docentes que atuam na educação básica.</p><p>QUADRO 4 - CONCEPÇÕES DE SEXUALIDADE DE DOCENTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>concepção preventista</p><p>Articulada</p><p>a discursos morais e religiosos, a preocupação está ligada à prevenção da gravidez na</p><p>adolescência e de infecções causadas por doenças sexualmente transmissíveis (DST) e AIDS. Também</p><p>há uma grande preocupação em não “incitar precocemente” crianças e adolescentes a se interessa-</p><p>rem por questões relacionadas à sexualidade.</p><p>Nessa concepção, a gravidez na adolescência é denominada como “precoce”, assim a iniciação sexual</p><p>antes da idade adulta é também vista como precoce, já que a sexualidade é reduzida ao coito, a</p><p>doenças e à reprodução. O sexo é tido como algo que deve ser praticado por pessoas adultas, que</p><p>desejam ter filhos.</p><p>75</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>concepção desenvolvimentista</p><p>Compreende a sexualidade como um tema a ser tratado em determinada idade ou etapa do desen-</p><p>volvimento. Nessa concepção, a sexualidade inexiste na infância, por isso acredita-se que há uma</p><p>“idade certa” para se abordar esses assuntos. A sexualidade também é reduzida ao seu aspecto bioló-</p><p>gico, abordando o desenvolvimento dos aparelhos reprodutores, doenças e reprodução, mas não</p><p>contempla questões de gênero e outros marcadores identitários. Também se nota uma preocupação</p><p>em não “adiantar processos”, acreditando-se que as idades devem ser respeitadas, por isso não se</p><p>deve permitir que crianças ou adolescentes entrem em contato com conteúdo impróprio para sua</p><p>faixa etária, pois isso poderia despertar seu interesse para a sexualidade ou até mesmo induzi-la à</p><p>homossexualidade.</p><p>concepção de prevenção para a garantia dos direitos sexuais e reprodutivos</p><p>Preocupação em oferecer conhecimentos sobre o corpo e seu desenvolvimento, suas partes, suas</p><p>funções, gravidez e doenças, além de elementos simbólicos, como a pluralidade de conceitos e possi-</p><p>bilidades de vivência da sexualidade, buscando favorecer uma maior autonomia para que crianças e</p><p>adolescentes possam construir sua identidade sexual e decidirem sobre o autocuidado.</p><p>concepção heteronormativa de sexualidade</p><p>Contempla discursos pautados na heteronormatividade, ou seja, demonstrando a construção da</p><p>sexualidade marcada pela norma heterossexual. Os efeitos dessa concepção são práticas da chama-</p><p>da “pedagogização dos gêneros e sexualidades”, baseadas no sexismo e na caracterização da norma-</p><p>tividade a partir dos conceitos de mulher/homem, heterossexual/homossexual e sexo/gênero.</p><p>concepção de democracia sexual</p><p>Articulada aos valores de igualdade e liberdade, apresenta práticas que visam à aceitação e ao acolhi-</p><p>mento das diferentes sexualidades. Preocupa-se em criticar as práticas heteronormativas na escola e</p><p>em promover o respeito à diversidade sexual, buscando eliminar a patologização dos comportamen-</p><p>tos dos alunos e das diferentes configurações familiares.</p><p>Fonte: Adaptado de GESSER et al., 2015.</p><p>Sexismo: também conhecido como discriminação de gênero, refere-se à atitude</p><p>de discriminação e objetificação baseada no sexo, gênero ou orientação sexual.</p><p>Na discussão sobre as diferentes concepções de sexualidade trabalhadas na esco-</p><p>la, é importante considerar que o entendimento sobre essas questões pelos docen-</p><p>tes e por toda equipe pedagógica passa, necessariamente, por normas, valores e até</p><p>mesmo preconceitos presentes nos contextos culturais e históricos nos quais cada</p><p>um desses profissionais se constituíram como pessoas ao longo de sua formação</p><p>(GESSER et al., 2015).</p><p>76</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>A sexualidade é uma temática que aparece nos documentos oficiais de educa-</p><p>ção como “transversal”. A partir da década de 1990 no Brasil, alguns documen-</p><p>tos oficiais passaram a dar visibilidade a questões que até então eram conside-</p><p>radas impróprias para serem abordadas com crianças e jovens. Os Parâmetros</p><p>Curriculares Nacionais (PCN) é um desses documentos, que traz a sexualidade</p><p>em um volume específico, denominado “Temas transversais”, ou seja, como algo</p><p>que pode e deve ser trabalhado no currículo de qualquer disciplina. Para conhe-</p><p>cer as diretrizes que o documento menciona para o desenvolvimento desse</p><p>trabalho, consulte: BRASIL. Parâmetros curriculares Nacionais: apresentação</p><p>dos temas transversais - ética. Brasília: MEC/SEF, 1997.</p><p>Por mais fundamental que seja, a implementação de um trabalho que vise ao direito</p><p>e à valorização da diversidade ainda enfrenta muitas dificuldades para ser desenvol-</p><p>vido e sustentado nas escolas. Por medo de serem desqualificados por pessoas que</p><p>apresentam um posicionamento heterossexista, muitos profissionais se veem impo-</p><p>tentes para promover ações mais amplas e gerais sobre essa temática. Por outro lado,</p><p>contemplar esse tema a partir do diálogo sobre a diferenciação sobre sexo, sexualida-</p><p>de e educação sexual parece ser um caminho possível nas mais diversas disciplinas</p><p>do currículo, afinal esses conceitos podem e devem ser transversais a todo trabalho</p><p>desenvolvido na escola.</p><p>Heterossexismo: atitude de discriminação, preconceito, negação e estigmatiza-</p><p>ção ou ódio contra toda manifestação de sexualidade que não seja heterossexual.</p><p>77</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>4.1.2 DIFERENCIANDO CONCEITOS: SEXO,</p><p>SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO SEXUAL</p><p>Sexo</p><p>A palavra sexo é geralmente utilizada para definir os órgãos genitais masculino e</p><p>feminino, distinguindo a mulher do homem. Seu referencial é fisiológico e está</p><p>diretamente relacionada à anatomia dos corpos de meninos e meninas, homens e</p><p>mulheres.</p><p>De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) (OMS, 1975), sexo também</p><p>pode ser compreendido como ato sexual. O sexo possui características biológicas,</p><p>que classificam os seres humanos em macho ou fêmea.</p><p>Sexualidade</p><p>Sexualidade refere-se às construções históricas, culturais e sociais produzidas sobre as</p><p>características biológicas dos indivíduos (LOURO, 2004). Para além do entendimento</p><p>da orientação do desejo (heterossexual ou homossexual), a Organização Mundial da</p><p>Saúde define que:</p><p>A sexualidade faz parte da personalidade de cada um, é uma necessidade</p><p>básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros</p><p>aspectos da vida. Sexualidade não é sinônimo de coito (relação sexual) e não</p><p>se limita à ocorrência ou não de orgasmo. Sexualidade é muito mais que isso,</p><p>é a energia que motiva a encontrar o amor, contato e intimidade e se expressa</p><p>na forma de sentir, nos movimentos das pessoas, e como estas tocam e são</p><p>tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e intera-</p><p>ções e, portanto a saúde física e mental. Se saúde é um direito humano funda-</p><p>mental, a saúde sexual também deveria ser considerada um direito humano</p><p>básico (OMS, 1975).</p><p>O conceito de sexualidade, surgido no século XIX, vem para ampliar a definição de</p><p>sexo, representando a qualidade e a significação do que é sexual (FEITOSA, 2005).</p><p>Educação sexual</p><p>Já a educação sexual refere-se a um conjunto de projetos pedagógicos que tratam</p><p>da sexualidade a partir de conteúdos relacionados à matriz da sexualidade, relações</p><p>78</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>de gênero e prevenção às doenças sexualmente transmissíveis (DST), AIDS (BRASIL,</p><p>1997). A expectativa é promover a construção de condutas sexuais orientadas, sadias</p><p>e protegidas (DZIABAS; MIRANZI, 2007).</p><p>Alguns estudiosos (como STEINBERG; KINCHELOE, 2001) argumentam que, por ser</p><p>plural, a educação sexual não se limita aos espaços escolares, mas ocorrem, na verda-</p><p>de, desde o convívio familiar e, mais recentemente, têm abrangido outros “ambien-</p><p>tes”, como os virtuais, passando também pelos livros, materiais didáticos, filmes, nove-</p><p>las, desenhos animados, músicas, etc.</p><p>Mesmo com toda a avalanche de informação que a criança e o jovem recebem hoje</p><p>em dia, a escola ainda continua sendo o local privilegiado para o trabalho com a</p><p>sexualidade. Mas quais as possibilidades de trabalho com essa temática e como esse</p><p>ensino pode favorecer o desenvolvimento de crianças e adolescentes em seu proces-</p><p>so de formação?</p><p>4.1.3 AS POSSIBILIDADES OFERECIDAS NO</p><p>ATENDIMENTO ÀS</p><p>NECESSIDADES DE CRESCIMENTO</p><p>E DESENVOLVIMENTO INFANTIL E ADOLESCENTE</p><p>Como local privilegiado para o ensino e debate, a escola é uma instituição que pode</p><p>contribuir muito para o atendimento das necessidades de crescimento e desenvolvi-</p><p>mento das crianças e adolescentes. Em relação às questões ligadas à sexualidade, é</p><p>importante entendê-la como um componente humano, presente desde a infância,</p><p>cuja construção e manifestação poderão despertar interesse, curiosidade e muitas</p><p>dúvidas nos estudantes em formação. Da escola, então, seria esperado que pedago-</p><p>gicamente assumisse essa discussão, inserindo-a no currículo escolar.</p><p>Furlani comenta que “as escolas que não proporcionam a educação sexual a seus</p><p>alunos e alunas estão educando-as parcialmente” (FURLANI, 2003 p. 68). A educação</p><p>sexual, vista como possibilidade de ampliação de conhecimentos sobre si mesmo e</p><p>sobre o outro, pode favorecer o desenvolvimento de concepções e da construção de</p><p>uma identidade sexual sadia.</p><p>A educadora sexual Debra Haffner (2005, apud FURLANI, 2016) apresenta em seu livro</p><p>“A criança e a educação sexual” o que caracteriza uma criança como sendo sexual-</p><p>mente saudável:</p><p>79</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>FIGURA 14 - CARACTERÍSTICAS DA CRIANÇA SEXUALMENTE SAUDÁVEL</p><p>Se sentem bem com seus corpos</p><p>Respeitam os membros da família e outras crianças</p><p>Entendem o conceito de privacidade</p><p>Tomam decisões adequadas à sua idade</p><p>Ficam à vontade para fazer perguntas</p><p>Se sentem preparadas para a puberdade</p><p>Fonte: Adaptada de HAFFNER, 2005, apud FURLANI, 2016, p. 65.</p><p>Pensando nessa caracterização, pode-se refletir sobre como a escola ou educadores</p><p>podem contribuir para que o desenvolvimento de crianças e jovens seja saudável. O</p><p>que há de se fazer? Por onde se pode começar?</p><p>De início, vale a pena retomar os pilares para o desenvolvimento saudável da sexua-</p><p>lidade. Essa construção, iniciada desde a primeira infância, acompanha o indivíduo</p><p>pela vida, por isso oferecer elementos que o auxiliem a compreender a multiplicida-</p><p>de desse conceito é um dos pontos centrais deste trabalho.</p><p>80</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>FIGURA 15 - CONCEITOS-CHAVE PARA O DESENVOLVIMENTO SAUDÁVEL DA SEXUALIDADE</p><p>Sentir-se</p><p>bem</p><p>Tomar</p><p>decisões</p><p>Estar</p><p>preparada</p><p>Respeitar</p><p>Fonte: Adaptada de FURLANI, 2016.</p><p>Contribuindo com essa abordagem, Furlani (2016) apresenta oito princípios para</p><p>o trabalho com a educação sexual na escola. Estes princípios estão detalhados no</p><p>quadro a seguir.</p><p>QUADRO 5 - PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO SEXUAL NO CONTEXTO ESCOLAR</p><p>Princípio 1 – a educação sexual deve começar na infância e, portanto, fazer parte do currículo</p><p>escolar</p><p>Entendendo a manifestação da sexualidade desde a infância como natural e os conteúdos relativos</p><p>à sexualidade como imprescindíveis à formação de crianças e jovens, propõe-se desconstruir a ideia</p><p>de que a abordagem desse tema deve acontecer apenas na adolescência.</p><p>A sexualidade está presente desde a infância, por isso pode ser abordada</p><p>com as crianças desde a educação pré-escolar. O cuidado que se deve ter</p><p>é em relação à linguagem utilizada e a não oferta de detalhes desneces-</p><p>sários durante essa conversa. Quando se entende que os temas relaciona-</p><p>dos à sexualidade não devem ser tratados com crianças, ignora-se toda</p><p>uma gama de possibilidades de se trabalhar questões de fundamental</p><p>importância para o desenvolvimento e formação da criança, como noção</p><p>de privacidade, intimidade, conhecimento do corpo e suas funções, etc.</p><p>81</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Princípio 2 – as manifestações da sexualidade não se justificam, apenas, pelo objetivo da “reprodução”</p><p>Desconstruir o paradigma da infância assexuada e do modelo de sexualidade vinculada apenas à</p><p>reprodução. Entendendo a sexualidade como algo múltiplo, que está presente desde a infância e que</p><p>pode ser manifesta de muitas formas, é essencial para a construção de uma identidade sexual sadia.</p><p>A reprodução é apenas uma das formas de manifestação da sexualida-</p><p>de. Crianças e adolescentes precisam de instruções e diálogo sobre outras</p><p>questões que envolvem essa temática, como a construção das diferentes</p><p>identidades sexuais, questões que envolvem relações de gênero, orien-</p><p>tação sexual e uma educação sexual mais ampla, que discuta direitos,</p><p>problematize concepções e ofereça formas de repensar os modelos hete-</p><p>ronormativos, que excluem o diferente.</p><p>Princípio 3 – a descoberta corporal é expressão da sexualidade</p><p>A criança descobre seu corpo desde bebê e ela faz isso explorando as mãos, chupando os dedos,</p><p>tocando em diferentes partes, que lhe são agradáveis e lhe transmitem prazer. Expressar-se sexual-</p><p>mente é natural e deve ser encarado como tal.</p><p>Não é raro acontecer em sala de aula situações em que a expressão da</p><p>curiosidade e do prazer que a criança sente ao tocar seu corpo. De forma</p><p>explícita e inocente, algumas crianças tratam essa questão como natural,</p><p>como de fato elas são! Por isso, professores não devem fazer alarde ou inibir</p><p>esse comportamento com recriminação ou punição. Aos educadores, cabe</p><p>orientar crianças e jovens sobre essas questões, abordando temas, como</p><p>corporalidade, diferenças pessoais, privacidade, intimidade e responsabi-</p><p>lidade pelas escolhas.</p><p>Princípio 4 – Não deve haver segregação de gênero nos conhecimentos apresentados a meni-</p><p>nos e meninas, portanto a prática pedagógica da educação sexual deve acontecer sempre em</p><p>coeducação</p><p>Coeducação significa ensino misto, de convivência mútua entre meninos e meninas. Tem por princí-</p><p>pio não restringir conteúdo em função do gênero dos alunos, buscando promover o respeito e desle-</p><p>gitimar a desigualdade, o sexismo e o machismo.</p><p>Não existe razão lógica para separar meninos e meninas em atividades</p><p>escolares, inclusive as esportivas. Algumas escolas, em vez de oferecerem</p><p>o futebol para meninos e ballet para menina, ou oferecem essas modali-</p><p>dades para todos ou optam por ofertar outras atividades, como a capoeira,</p><p>por exemplo.</p><p>A ideia de que meninos vão melhor em disciplinas de exatas e meni-</p><p>nas nas de humanas também não se justifica cientificamente. As escolas</p><p>devem promover ensino e cursos extracurriculares para todos, potenciali-</p><p>zando o desenvolvimento da criança e do jovem, independentemente de</p><p>seu gênero.</p><p>82</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Princípio 5 – Meninos e meninas devem/podem ter os mesmos brinquedos</p><p>Desconstruir a ideia de que meninos devem brincar com um certo tipo de brinquedo e meninas com</p><p>outro. Desconstruir a ideia de que a forma ou com o que a criança brinca determina sua orientação</p><p>sexual no futuro. Brinquedos favorecem o desenvolvimento da criança, influenciando sua criativida-</p><p>de e inteligência, por isso, separar brinquedos pela categoria (criada culturalmente) de gênero limita</p><p>as possibilidades de desenvolvimento e aprendizado das crianças.</p><p>Os brinquedos devem ser partilhados por todos. No espaço da escola ou da</p><p>creche, o educador pode fazer essa mediação criando situações de apren-</p><p>dizagem que permitam a interação entre as crianças a partir de vários brin-</p><p>quedos, sem o estigma de gênero.</p><p>Princípio 6 – a linguagem plural, usada na educação sexual, deve contemplar tanto o conheci-</p><p>mento científico quanto o conhecimento familiar/popular/ cultural</p><p>A escola deve considerar os saberes populares, assim como considera os saberes científicos, pois</p><p>ambos constituem as experiências dos indivíduos e são expressões da diversidade humana.</p><p>Os nomes dados aos órgãos sexuais e as formas de entender as múltiplas</p><p>manifestações da sexualidade devem ser considerados durante a educa-</p><p>ção sexual, pois pode-se partir desse conhecimento que o indivíduo já tem</p><p>para desconstruir padrões, preconceitos ou mesmo ampliar o repertório da</p><p>criança ou do jovem sobre essa temática.</p><p>Princípio 7 – Há muitos modos de a sexualidade e o gênero se expressarem em cada pessoa;</p><p>portanto, é possível ter alunos/as se constituindo homossexuais</p><p>Entender a homossexualidade como mais uma forma de expressão da sexualidade,</p><p>buscar ressig-</p><p>nificar o preconceito e a discriminação a esse público, na tentativa de criar uma cultura de paz, de</p><p>respeito e menos violenta na escola.</p><p>O professor não deve recriminar ou tentar inibir manifestações da sexuali-</p><p>dade que sejam compatíveis com as identidades sexuais não valorizadas,</p><p>muito pelo contrário, ele pode identificar essa situação como potencial</p><p>para promover o ensino, conversar sobre a diversidade e promover situa-</p><p>ções em que se trabalhe a empatia, o respeito e a valorização da diferença.</p><p>Princípio 8 – a educação sexual pode discutir valores, como respeito, solidariedade e direitos</p><p>humanos</p><p>A escola pode questionar preconceitos, propondo uma reflexão sobre a importância de considerar “o</p><p>outro”, o “diferente” como alguém que pode agregar, contribuir. A escola deve buscar mitigar todas as</p><p>formas de exclusão e desigualdade, resgatando valores humanos e contribuindo para a valorização</p><p>da diversidade.</p><p>Professores e demais profissionais que atuam na escola podem propi-</p><p>ciar situações de interação e aprendizagem que favoreçam o exercício da</p><p>empatia, do pensar a partir do ponto de vista do outro, para que se busque</p><p>a valorização do outro como alguém que tem direitos e responsabilidades,</p><p>mas que também deve ser respeitado.</p><p>Fonte: Adaptado de FURLANI, 2016, p. 67-70.</p><p>83</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Esses princípios orientam um trabalho de resgate aos valores humanos e valorização</p><p>da diferença, propondo abordar a sexualidade como algo natural ao desenvolvimen-</p><p>to desde a primeira infância. Desenvolver um trabalho pedagógico pautado nessas</p><p>sugestões certamente tem o potencial de favorecer o crescimento e desenvolvimen-</p><p>to saudável de crianças e adolescentes em variados aspectos e habilidades.</p><p>As crianças e adolescentes estão em pleno processo de formação de suas identi-</p><p>dades, por isso é importante colocá-las diante de situações e propostas de ensino</p><p>que apresentem a diversidade como algo natural ao desenvolvimento humano. A</p><p>valorização das diferentes identidades auxilia na construção de uma concepção</p><p>mais plural sobre a sexualidade, favorecendo um convívio mais harmonioso, menos</p><p>preconceituoso e hostil.</p><p>Pode parecer difícil, ou mesmo utópico, implementar todos esses princípios, mas</p><p>um bom começo pode ser refletir sobre eles e a prática pedagógica. O cenário muda</p><p>quando a ação é motivada pela reflexão.</p><p>BIBLIOGRAFIA COMENTADA</p><p>Veja a seguir uma indicação de obra que complementará seu conhecimento sobre os</p><p>assuntos abordados na disciplina.</p><p>• FURLANI, Jimena. Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orien-</p><p>tação sexual e igualdade étnico-racial numa proposta de respeito às diferen-</p><p>ças. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.</p><p>O livro “Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orientação sexual e igual-</p><p>dade étnico-racial numa proposta de respeito às diferenças” apresenta um panora-</p><p>ma sobre a educação sexual, trazendo as concepções mais recentes para o trabalho</p><p>com o tema no âmbito educacional. O capítulo 3 aborda a educação sexual para/na</p><p>infância, trazendo com detalhes os princípios para uma educação para a sexualidade</p><p>numa abordagem de valorização da diversidade. Vale a pena conferir!</p><p>84</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>CONCLUSÃO</p><p>Nesta unidade, você estudou as possibilidades de intersecção entre educação e</p><p>sexualidade. Como lócus privilegiado para o ensino de crianças e jovens, a escola foi</p><p>pensada como uma instituição capaz de contribuir com a formação infantil e adoles-</p><p>cente a partir do trabalho com a temática da sexualidade no cotidiano pedagógico.</p><p>No âmbito escolar, o trabalho de valorização da diversidade e alguns princípios</p><p>norteadores da atuação pedagógica na abordagem para a discussão da sexualidade</p><p>foram postos em pauta, de modo a oferecer possibilidades de reflexão e modelos de</p><p>como esses temas podem adentrar e fazer parte do currículo.</p><p>Um dos objetivos da unidade era favorecer a articulação da temática da sexualidade</p><p>na escola. Uma forma de propiciar esse diálogo foi introduzindo a diferenciação de</p><p>sexo, sexualidade e educação sexual. Para isso, cada um desses conceitos foi aborda-</p><p>do separadamente, visando a uma melhor compreensão de suas características.</p><p>Por fim, a abordagem da sexualidade através da educação foi pensada como possi-</p><p>bilidade de contribuição para o atendimento das necessidades de crianças e adoles-</p><p>centes – seres em formação – que estão em pleno processo de desenvolvimento de</p><p>sua identidade sexual, além de outras construções e habilidades.</p><p>85</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao final desta</p><p>unidade,</p><p>esperamos</p><p>que possa:</p><p>UNIDADE 5</p><p>> Discutir o conceito de</p><p>escola saudável.</p><p>> Analisar a importância</p><p>de parcerias e alianças</p><p>para o trabalho em</p><p>saúde no contexto</p><p>escolar.</p><p>> Valorizar os programas</p><p>de educação e de</p><p>saúde na escola,</p><p>conhecendo sua</p><p>programação, critérios</p><p>e instrumentos de</p><p>avaliação.</p><p>86</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>5 O CONCEITO DE ESCOLA</p><p>SAUDÁVEL DENTRO DAS</p><p>ESTRATÉGIAS DE PROMOÇÃO</p><p>DA SAÚDE E OS PROGRAMAS</p><p>TRANSVERSAIS NO ENSINO</p><p>BÁSICO</p><p>Nesta unidade, você estudará o conceito de escola saudável a partir da perspectiva</p><p>do trabalho em saúde no contexto escolar. O enfoque será na abordagem da sexua-</p><p>lidade em suas múltiplas dimensões e formas de manifestação. Para compreender</p><p>melhor como esse tipo de trabalho pode ser realizado, será discutido o conceito de</p><p>intersetorialidade e da importância de formação de parcerias, pactos e alianças entre</p><p>diferentes setores e áreas profissionais.</p><p>Também é objetivo desta unidade apresentar o Programa Saúde na Escola, enten-</p><p>dendo seu histórico de implementação, os temas abordados e as ações previstas</p><p>dentro das escolas. Os indicadores de monitoramento e avaliação serão explicitados,</p><p>assim como a perspectiva mais atual do trabalho em saúde no contexto educacional.</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Esta unidade trata das ações de saúde na educação, ou seja, das formas possíveis de</p><p>ações de prevenção, promoção e melhoria da saúde no espaço escolar. Há muitos</p><p>anos, vêm sendo implementados programas que visam garantir o direito à saúde da</p><p>população no país. Sendo as crianças e jovens uma população vulnerável, assim como</p><p>aprendizes em desenvolvimento, cujos comportamentos habilidades e concepções</p><p>estão em plena formação, estes se tornam público-alvo de ações que visem ensinar</p><p>hábitos de vida, atitudes e comportamentos que permitam a diminuição de riscos e</p><p>o aumento de fatores de proteção para uma vida mais segura e saudável. Como essa</p><p>87</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>população está na escola, essa instituição torna-se o lócus principal para a partilha</p><p>de informações de qualidade, ações de prevenção e intervenção em saúde. Tendo</p><p>isso em vista, programas de saúde na escola serão apresentados, visando oferecer um</p><p>modelo de programação, monitoramento e avaliação de ações já realizadas e acom-</p><p>panhadas por equipes intersetoriais.</p><p>5.1 O CONCEITO DE ESCOLA SAUDÁVEL DENTRO</p><p>DAS ESTRATÉGIAS DE PROMOÇÃO DE SAÚDE</p><p>As ações educativas em saúde no Brasil datam da Primeira República, quando, a</p><p>partir de 1889, ensinavam-se comportamentos, atitudes e hábitos considerados</p><p>saudáveis para a época. No século XX, com a concepção higienista em voga, a educa-</p><p>ção em saúde passou a utilizar a observação, o exame, o controle e a disciplina na</p><p>infância para “promover” o desenvolvimento sadio e produtivo de uma determinada</p><p>“raça” (VALADÃO, 2004).</p><p>A mudança da terminologia “educação sanitária” para “educação em saúde”, no</p><p>século XX, diz respeito a algumas mudanças nos modelos de prática educativa</p><p>na época. A educação sanitária entendia que, para que o indivíduo aprendesse</p><p>a cuidar de sua saúde, teria de ter acesso ao conteúdo a respeito, por isso valo-</p><p>rizava o repasse de informações, seguindo uma concepção mais tradicional de</p><p>educação. A educação em saúde pública, por sua vez, entende que a saúde é</p><p>resultante de vários fatores que atuam</p><p>conjuntamente, por isso o indivíduo não</p><p>apenas tem acesso a informações, mas também aprende a cuidar de sua saúde</p><p>(PELICIONI, 2019).</p><p>Ao longo de todo o século XX, a universalização do ensino provoca uma mudança</p><p>nos modelos de atuação em saúde na escola, trazendo a concepção da promoção de</p><p>saúde para capacitar o indivíduo para uma vida saudável (VALADÃO, 2004).</p><p>88</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>A educação em saúde tornou-se obrigatória no Brasil por meio da Lei n°</p><p>5.692/1971, artigo 7, que instituiu os programas de saúde nos currículos de 1º e</p><p>2º graus.</p><p>Na atualidade, a temática da saúde na escola é composta por ações e programas</p><p>apoiados por diversos organismos internacionais, como a Organização Mundial da</p><p>Saúde (OMS) e a UNESCO, pois entende-se que a atuação integrada desses setores</p><p>pode promover o acesso à informações de qualidade e conteúdo que auxilie os indi-</p><p>víduos na capacitação para a tomada decisões e controle da própria vida, garantindo</p><p>a possibilidade de usufruir de um bom estado de saúde.</p><p>A escola se configura como o espaço ideal para essas ações, uma vez que é na infân-</p><p>cia que ocorre o período de aquisição das bases de comportamento e aprendizagem,</p><p>com a adoção de hábitos de higiene; a descoberta da potencialidade do corpo e o</p><p>desenvolvimento de habilidades e destrezas que possibilitam o cuidado com a saúde</p><p>pessoal e o respeito às diferentes formas de viver e se expressar (PELICIONI, 2019).</p><p>Durante um tempo, as ações da educação em saúde na escola foram centradas</p><p>na individualidade dos alunos, buscando mudar comportamentos e atitudes sem,</p><p>muitas vezes, considerar as inúmeras influências da realidade na qual os estudantes</p><p>estavam inseridos (SILVA et al., 2010). Aos poucos, isso foi mudando, pois foi-se perce-</p><p>bendo que a promoção da saúde na escola não dependia apenas da inserção desse</p><p>conteúdo no currículo, mas sim de uma visão integral, holística, que considera as</p><p>pessoas e seus contextos familiar, comunitário e social. Dessa perspectiva, a proposta</p><p>de educação em saúde, de acordo com a Organização Panamericana de Saúde, é:</p><p>• Procura desenvolver conhecimentos, habilidades e destrezas para o auto-</p><p>cuidado da saúde e a prevenção das condutas de risco em todas as opor-</p><p>tunidades educativas.</p><p>• Fomenta uma análise crítica e reflexiva sobre valores, condutas, condições</p><p>sociais e estilos de vida, buscando fortalecer tudo aquilo que contribui</p><p>para a melhoria da saúde, da qualidade ambiental e do desenvolvimento</p><p>humano.</p><p>89</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>• Facilita a participação de todos os integrantes da comunidade educativa</p><p>na tomada de decisões.</p><p>• Colabora para a promoção de relações socialmente igualitárias entre as</p><p>pessoas, para a construção da cidadania e democracia.</p><p>• Reforça a solidariedade, o espírito de comunidade e os direitos humanos</p><p>(OPAS, 1996, p. 22-25).</p><p>O que se percebe a partir do que foi exposto é que as ações em saúde são vistas como</p><p>resultantes de um meio ambiente biopsicossocial saudável, e não como uma ques-</p><p>tão individualizada, daí a importância da inserção, na escola, de ações que envolvam</p><p>todos que se relacionam com a instituição e com o meio que a cerca. Dessa maneira, a</p><p>escola saudável deve significar um espaço que possibilita a participação crítica, a cria-</p><p>tividade e o exercício da autonomia, para que se desenvolvam as potencialidades físi-</p><p>cas, psíquicas, cognitivas e sociais dos escolares (WHOE, 1995 apud PELICIONI, 2019),</p><p>favorecendo a formação de cidadãos críticos, que adotam um estilo de vida saudável,</p><p>afastando comportamentos de risco e sentindo-se aptos para lutar pela transforma-</p><p>ção da sociedade e melhoria das condições de vida de todos (PELICIONI, 2019).</p><p>A educação em saúde é feita a partir de ações que visam à prevenção e à promo-</p><p>ção da saúde não apenas por meio do currículo explícito, mas também contan-</p><p>do com o apoio da comunidade e da família à escola (PELICIONI, 2019).</p><p>Para um projeto de Escola Promotora de Saúde (EPS), Pelicioni e Torres (1999)</p><p>propõem desenvolver um plano que inclua:</p><p>90</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>FIGURA 16 - A ESCOLA NA PROPOSTA DE EPS</p><p>para a</p><p>ESCOLA</p><p>Desenvolvimento</p><p>de sistema de</p><p>valores</p><p>Capacitação dos</p><p>profissionais da</p><p>escola</p><p>Currículo flexível</p><p>Fonte: Adaptada de PELICIONI; TORRES, 1999.</p><p>Para a escola, é importante possibilitar um currículo diferenciado, flexível, em que os</p><p>temas ligados à saúde e sexualidade sejam ensinados transversalmente, em todas as</p><p>disciplinas. Esse currículo deve atender às demandas e necessidades específicas dos</p><p>alunos de cada escola/localidade, atentando-se para a faixa etária, interesses e curio-</p><p>sidades de cada público específico.</p><p>A capacitação dos docentes e dos demais funcionários da escola deve ocorrer perio-</p><p>dicamente, de modo a possibilitar o diálogo e a possibilidade de construção conjunta</p><p>do conceito de escola promotora de saúde. Para isso, esses profissionais precisam se</p><p>apropriar dos objetivos, conteúdos e métodos da educação e da promoção da saúde.</p><p>O desenvolvimento de um sistema de valores que seja coerente com o conceito de</p><p>EPS entre os estudantes, seus docentes e familiares é importante, pois pode contri-</p><p>buir para a criação, a execução e a manutenção de políticas públicas adequadas.</p><p>91</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>FIGURA 17 - A FAMÍLIA NA PROPOSTA EPS</p><p>Para a</p><p>FAMÍLIA</p><p>Envolvimento</p><p>dos familiares no</p><p>processo</p><p>ensino-aprendiza</p><p>gem dos alunos</p><p>Informações</p><p>sobre as</p><p>finalidades e</p><p>objetivos da</p><p>escola</p><p>Consulta aos</p><p>responsáveis</p><p>sobre assuntos</p><p>de saúde</p><p>Fonte: Adaptada de PELICIONI; TORRES, 1999.</p><p>Estabelecer uma relação estreita e respeitosa com as famílias é fundamental para</p><p>a promoção da EPS. Para isso, é importante selecionar e preparar cuidadosamente</p><p>materiais e estratégias que aproximem os familiares da escola, possibilitando o diálo-</p><p>go e a realização de atividades conjuntas.</p><p>Uma estratégia para isso seria acolher as dúvidas, anseios e preocupações das</p><p>famílias para propor rodas de conversa ou bate-papo com profissionais da</p><p>própria escola ou das áreas de saúde e/ou assistência social, para auxiliar em</p><p>cada demanda. As famílias também podem ser convidadas a participar ativa-</p><p>mente de conselhos e associações nas escolas, de modo a contribuir no plane-</p><p>jamento das ações didático-pedagógicas.</p><p>92</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>FIGURA 18 - A COMUNIDADE NA PROPOSTA DE EPS</p><p>Para a</p><p>COMUNIDADE</p><p>Envolvimento de</p><p>agentes</p><p>comunitários e</p><p>lideranças locais na</p><p>proposta de EPS</p><p>Mobilização de</p><p>recursos</p><p>materiais e</p><p>humanos da</p><p>comunidade</p><p>Troca de</p><p>informações e</p><p>experiências com</p><p>a comunidade</p><p>Fonte: Adaptada de PELICIONI; TORRES, 1999.</p><p>Integrar a escola com a comunidade na qual ela está inserida pode potencializar as</p><p>ações, pois envolver as pessoas que moram no entorno e os profissionais que atuam</p><p>na região, além de agentes comunitários e lideranças locais, pode promover a mobili-</p><p>zação de recursos materiais e humanos da própria comunidade, além de possibilitar</p><p>a troca de informações e experiências que enriqueçam os debates e o planejamen-</p><p>to de ações. Em parceria com escola, essas pessoas podem identificar demandas a</p><p>serem discutidas e resolvidas no bairro, pensando e planejando ações conjuntas que</p><p>visem à resolução dos problemas locais.</p><p>93</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Uma escola que atua junto com sua comunidade pode identificar os problemas</p><p>locais e propor ações que visem à sua melhoria. Por exemplo: se há ruas pouco</p><p>iluminadas no bairro, que dificultam o trânsito de pessoas à noite e tornam</p><p>perigoso o trajeto dos alunos (especialmente das alunas) à escola no período</p><p>noturno, uma ação conjunta poderia envolver a mobilização das pessoas para</p><p>acionar a subprefeitura ou algum órgão público para a averiguação e solução do</p><p>problema. Para isso, alguma gráfica local poderia colaborar produzindo panfle-</p><p>tos para distribuição às pessoas, alguma liderança</p><p>local poderia encabeçar uma</p><p>petição pública ou audiência com alguém que atue na subprefeitura e a escola</p><p>pode ceder espaço para reuniões ou propor ações de prevenção da violência</p><p>com os estudantes. Juntos, escola e comunidade lutam e articulam ações que</p><p>beneficiarão todos.</p><p>5.1.1 PARCERIAS, ALIANÇAS E O PACTO SOCIAL</p><p>Alianças e parcerias em ações de educação em saúde visam à redução de riscos e</p><p>ao fortalecimento de fatores protetores da saúde de crianças e jovens. Em vez de</p><p>focar individualmente em questões que podem sinalizar problemas, tem-se perce-</p><p>bido que a integração entre grupos que atuam e se apoiam mutuamente são mais</p><p>eficientes, mesmo porque grande parte dos problemas, em geral, apresentam causas</p><p>comuns (BRASIL, 1999).</p><p>Todo jovem precisa de informações abrangentes sobre saúde sexual e repro-</p><p>dutiva. Tais informações, no entanto, têm mais utilidade quando associadas à</p><p>educação voltada para a construção de habilidades para a vida, para a autoes-</p><p>tima, para o senso de responsabilidade e confiança. Assim, os jovens podem</p><p>resistir às pressões para a adoção de comportamentos que possam agredir sua</p><p>saúde e seu desenvolvimento. Essas habilidades podem ser úteis na preven-</p><p>ção do consumo de drogas, no trato da ansiedade, na avaliação de situações</p><p>de risco e na negociação de situações conflituosas (BRASIL, 1999, p. 16).</p><p>94</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>O Programa Saúde na Escola (PSE) é um exemplo de aliança construída em prol</p><p>da saúde da população escolar. Trata-se de um movimento que prevê a ação</p><p>intersetorial para promover estratégias para a promoção de saúde individual e</p><p>coletiva por meio de ações intra e intersetoriais articuladas entre os âmbitos da</p><p>saúde, educação e assistência social (BRASIL, 2014).</p><p>O PSE foi instituído em 2007 e compõe uma política de governo voltada à interseto-</p><p>rialidade, objetivando capacitar a comunidade para atuar na melhoria da qualidade</p><p>de vida e saúde (BRASIL, 2002), atendendo aos princípios e diretrizes do Sistema</p><p>Único de Saúde (SUS): integralidade, equidade, universalidade, descentralização e</p><p>participação social. O PSE propõe a articulação de saberes entre alunos, pais, comu-</p><p>nidade escolar e sociedade, como um todo, para promover e tratar a saúde e a educa-</p><p>ção de forma integral (CARVALHO, 2015).</p><p>O conceito de promoção de saúde amplia a compreensão de que saúde não é</p><p>somente a ausência de doença, mas também que pode ser vista como um esta-</p><p>do positivo, um recurso para a qualidade de vida (CARVALHO, 2015).</p><p>Por meio de ação intersetorial, o PSE propõe uma intersecção entre o saber dos</p><p>profissionais de saúde e de educação, além dos saberes provenientes das próprias</p><p>experiências de vida dos sujeitos. A intersetorialidade torna-se fundamental nessa</p><p>proposta, uma vez que a escola recebe uma variedade muito grande de perfis de</p><p>alunos, com experiências de vida e questões sociais muito diversas, o que demanda a</p><p>ação de vários profissionais e diferentes setores (CARVALHO, 2015).</p><p>O pacto social, como compromisso da sociedade em garantir e assegurar direi-</p><p>tos, reconhece o bem-estar, a saúde e a proteção social como direitos sociais. Esse</p><p>95</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>compromisso é assegurado na medida em que pessoas da sociedade civil/profissio-</p><p>nais das mais diversas áreas se propõem a dialogar e atuar em prol da promoção e</p><p>melhoria desses indicadores sociais. O professor, como profissional da educação, é</p><p>um importante ator nesse cenário, pois, por ter contato com estudantes e suas famí-</p><p>lias, pode debater e articular ações que beneficiem as escolas, podendo ir para além</p><p>dos muros desta, atingindo também a comunidade.</p><p>5.1.2 PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE NA</p><p>ESCOLA DENTRO DA PERSPECTIVA DAS ÁREAS</p><p>TRANSVERSAIS DE ENSINO FUNDAMENTAL:</p><p>PROGRAMAÇÃO, CRITÉRIOS E INSTRUMENTOS DE</p><p>AVALIAÇÃO</p><p>Quando se pensa em programas de educação e saúde na escola, o Programa Saúde</p><p>na Escola (PSE) é o mais comentado e pesquisado, pois é o principal programa volta-</p><p>do à atenção e à saúde de estudantes de escolas públicas brasileiras. O PSE subsidia</p><p>as ações de integração e articulação entre as políticas de educação e de saúde no</p><p>contexto escolar, tendo como objetivo ampliar as ações de saúde direcionadas aos</p><p>estudantes da rede pública, articulando as redes básicas de educação e de saúde e</p><p>contribuindo para sua formação e desenvolvimento integrais (CARVALHO, 2015).</p><p>FIGURA 19 - AÇÕES DO PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA</p><p>Prevenção</p><p>em saúde</p><p>Prevenção</p><p>em saúde</p><p>Prevenção</p><p>em saúde</p><p>PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA</p><p>Fonte: Adaptada de BRASIL, 2018.</p><p>96</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>As ações do PSE devem sempre estar inseridas no projeto político-pedagógico da</p><p>escola, considerando-se a diversidade sociocultural das redes e a autonomia dos</p><p>professores e das equipes pedagógicas. Guiados por essas diretrizes, o programa</p><p>adota três princípios:</p><p>FIGURA 20 - PRINCÍPIOS DO PSE</p><p>Integralidade Territorialidade Intersetorialidade</p><p>Fonte: Adaptada de BRASIL, 2018.</p><p>O princípio de integralidade propõe articular ações que impactem as diferentes</p><p>áreas envolvidas (educação, saúde, assistência social). A territorialidade diz respeito à</p><p>discussão, elaboração e implantação de ações que atendam às demandas locais de</p><p>cada população específica. A intersetorialidade entende que ações integrais e basea-</p><p>das no princípio da territorialidade aconteçam quando há a articulação entre dife-</p><p>rentes setores, envolvendo profissionais de várias áreas, para um alcance mais amplo</p><p>dos objetivos propostos no projeto.</p><p>Seguindo os princípios básicos do programa, cada rede deve pensar e propor suas</p><p>ações a partir do planejamento local. Isso significa que o PSE varia conforme a região</p><p>e seu público-alvo, tendo possibilidade de tratar de variados temas, que atendam às</p><p>demandas de cada contexto particular. Veja alguns exemplos a seguir.</p><p>A partir do levantamento da demanda local, em ação do Programa Saúde na</p><p>Escola, uma rede optou por trabalhar diferentes projetos em cada nível de ensi-</p><p>no. No Ensino Fundamental e na Educação de Jovens e Adultos (EJA), abordou-</p><p>-se desde a saúde ocular, passando por práticas corporais que envolviam ativi-</p><p>dades físicas e de lazer até a discussão sobre prevenção ao uso de álcool, tabaco</p><p>e outras drogas (BRASIL, 2018).</p><p>97</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>No Programa Saúde na Escola em uma instituição de ensino básico, a entrada</p><p>da profissional de saúde da assistência social se deu de forma cuidadosa com os</p><p>estudantes. Chamada pela coordenadora pedagógica para auxiliar no manejo</p><p>de comportamentos sexuais exacerbados por parte de adolescentes, ela iniciou</p><p>seu trabalho apresentando uma palestra com uma temática não ligada à sexua-</p><p>lidade, buscando uma oportunidade de conhecer e se aproximar dos alunos.</p><p>Depois de familiarizados com sua presença na escola, a profissional abordou a</p><p>sexualidade em uma palestra, seguida de roda de conversa, o que possibilitou</p><p>uma abordagem menos impositiva e de maior receptividade dos jovens em</p><p>relação à proposta (CARVALHO, 2015).</p><p>Em outra escola, de ensino fundamental II, a ação de saúde no Programa Saúde</p><p>na Escola consistiu em momentos de conversa, apresentação de vídeos e traba-</p><p>lhos pedagógicos, como dramatização e apresentação de paródias sobre temas</p><p>ligados à sexualidade, tendo a pesquisa dos alunos e a mediação dos professo-</p><p>res e profissionais de saúde como ponto central da abordagem.</p><p>A programação do PSE inclui ações pactuadas em conjunto no momento da adesão</p><p>ao programa. Estas incluem:</p><p>• práticas de cuidados à prevenção de riscos e danos à saúde;</p><p>• promoção de alimentação adequada e saudável;</p><p>• estímulo à prática de exercícios corporais e atividade física;</p><p>• diálogos sobre direito sexual e reprodutivo;</p><p>98</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>• prevenção à gravidez não desejada, DST e Aids;</p><p>• ações no sentido de promover a convivência respeitosa com a diferença;</p><p>• prevenção das</p><p>ORIENTAÇÃO SEXUAL E</p><p>IGUALDADE NUMA PROPOSTA DE RESPEITO ÀS DIFERENÇAS 103</p><p>6.1.1 DEFININDO CONCEITOS: GÊNERO, ORIENTAÇÃO</p><p>E IDENTIDADE SEXUAL 104</p><p>6.1.1.1 GÊNERO 104</p><p>6.1.1.2 ORIENTAÇÃO SEXUAL 107</p><p>6.1.1.3 IDENTIDADE SEXUAL OU DE GÊNERO 107</p><p>6.1.2 EDUCAÇÃO SEXUAL: POSSIBILIDADES DIDÁTICAS 108</p><p>11</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>SuMÁRio</p><p>6.1.3 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO SAUDÁVEIS E NÃO PUNITIVAS</p><p>NOS CASOS DE MANIFESTAÇÃO DA SEXUALIDADE</p><p>NO AMBIENTE ESCOLAR 118</p><p>BiBlioGRaFia coMENTada 121</p><p>coNcluSão 121</p><p>REFERÊNciaS 123</p><p>12</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>icoNoGRaFia</p><p>ATENÇÃO</p><p>PARA SABER</p><p>SAIBA MAIS</p><p>ONDE PESQUISAR</p><p>DICAS</p><p>LEITURA COMPLEMENTAR</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>ATIVIDADES DE</p><p>APRENDIZAGEM</p><p>CURIOSIDADES</p><p>QUESTÕES</p><p>ÁUDIOSMÍDIAS</p><p>INTEGRADAS</p><p>ANOTAÇÕES</p><p>EXEMPLOS</p><p>CITAÇÕES</p><p>DOWNLOADS</p><p>13</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>BIODATA DA AUTORA</p><p>Roselaine Pontes de almeida</p><p>Mestre em Educação e Saúde na Infância e Adolescência pela Universidade Fede-</p><p>ral de São Paulo. Pedagoga e Psicopedagoga. Professora de cursos de Graduação e</p><p>Pós-graduação, atuando nos cursos de Licenciatura em Letras, Matemática, Especiali-</p><p>zação em Psicopedagogia e Neuropsicologia. Professora autora de Educação Infantil</p><p>no projeto Planos de Aula da Nova Escola. Atua como docente, formadora de profes-</p><p>sores e produtora de conteúdo para EaD.</p><p>JUSTIFICATIVA</p><p>O trabalho com crianças e adolescentes demanda dos profissionais conhecimen-</p><p>tos que os permitam lidar com questões relacionadas à Educação, Saúde e Sexua-</p><p>lidade. Muitos dos tópicos que compõem essas temáticas representam um desafio</p><p>para o educador, uma vez que são cercados por mitos, tabus e falta de informação.</p><p>Compreender a construção sócio-histórico-cultural destas temáticas em suas múlti-</p><p>plas dimensões auxilia o professor a refletir sobre a importância de um trabalho volta-</p><p>do à equidade e respeito às diferenças, favorecendo o entendimento de suas princi-</p><p>pais manifestações, dúvidas e conflitos, que naturalmente adentram o espaço escolar</p><p>e permeiam a relação entre professor e aluno. Tendo isso em vista, esta disciplina</p><p>foi estruturada de modo a oferecer as principais abordagens que fundamentam o</p><p>estudo e a atuação prática com as temáticas da Educação, Saúde e Sexualidade.</p><p>A proposta é oferecer um panorama sobre as diferentes dimensões da construção,</p><p>manifestação e suas implicações pessoais e sociais das questões relacionadas à saúde</p><p>e sexualidade.</p><p>14</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>ENGAJAMENTO</p><p>A proposta desta disciplina é fazer uma articulação entre os temas que envolvem</p><p>Educação, Saúde e Sexualidade, de modo a permitir um diálogo que favoreça a refle-</p><p>xão e a construção de práticas voltadas à valorização e respeito às diferenças. Assim,</p><p>antes de iniciar este estudo, reflita sobre seu conhecimento prévio sobre essa temáti-</p><p>ca e como você imagina que ela pode ser abordada na atualidade:</p><p>• Como lidar com a curiosidade, as dúvidas e as manifestações da sexualidade</p><p>no ambiente escolar?</p><p>• De que modo Educação, Saúde e Sexualidade podem ser trabalhadas na</p><p>escola?</p><p>• Quais programas têm sido desenvolvidos nas escolas, visando à promoção de</p><p>educação, saúde e orientação sobre sexualidade? O que eles propõem?</p><p>Certamente as respostas a estas questões não esgotam as abordagens destes temas,</p><p>que são tão amplos e complexos. Nosso desejo, pelo contrário, é que elas suscitem</p><p>ainda mais curiosidade e vontade de compreender as múltiplas possibilidades em</p><p>que Educação, Saúde e Sexualidade podem ser investigadas. Embarque conosco</p><p>nessa descoberta!</p><p>APRESENTAÇÃO DA</p><p>DISCIPLINA</p><p>Seja bem-vindo à disciplina Educação, Saúde e Sexualidade! Nela, você vai conhe-</p><p>cer as diferentes dimensões em que cada um destes temas tem sido estudado e as</p><p>intersecções possíveis entre eles, além das implicações que as diferentes abordagens</p><p>trazem para o debate e construção do conhecimento nas diversas áreas. A proposta é</p><p>tratar os temas de forma ampla, abordando educação, saúde e as diferentes manifes-</p><p>tações da sexualidade na infância e adolescência, buscando articular questões bioló-</p><p>gicas e psicossexuais às possibilidades que estes conhecimentos oferecem para a</p><p>compreensão sobre o crescimento e desenvolvimento infanto-juvenil.</p><p>15</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Também serão estudados nesta disciplina os programas de Educação e Saúde na</p><p>escola e as abordagens contemporâneas para a educação sexual na escola, numa</p><p>perspectiva de trabalho voltada ao respeito às diferenças. Sabemos que esta temática</p><p>representa um grande desafio no contexto escolar, por isso, conhecer sua fundamen-</p><p>tação teórica e estratégias de como lidar com estes temas é fundamental à forma-</p><p>ção do professor. Deste modo, é importante que você realize as leituras e atividades</p><p>propostas, pois é a partir de seu estudo e engajamento que o conhecimento poderá</p><p>ser construído.</p><p>OBJETIVOS DA DISCIPLINA</p><p>Ao final desta disciplina, esperamos que você seja capaz de:</p><p>• Apontar os paradigmas subjacentes às várias abordagens que articulam</p><p>educação, saúde e sexualidade e seus reflexos no cotidiano escolar.</p><p>• Discutir a sexualidade como uma construção sócio-histórico-cultural, buscan-</p><p>do desconstruir preconceitos e mitos existentes.</p><p>• Articular teoria à prática de propostas que visem à prevenção ao preconceito,</p><p>à discriminação e ao respeito à diversidade.</p><p>16</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao final desta</p><p>unidade,</p><p>esperamos</p><p>que possa:</p><p>> Analisar e interpretar</p><p>diferentes abordagens</p><p>sobre educação, saúde</p><p>e sexualidade.</p><p>> Discutir os conceitos</p><p>de desenvolvimento</p><p>social, educação, saúde</p><p>e intersetorialidade.</p><p>> Expressar as</p><p>articulações possíveis</p><p>entre educação, saúde</p><p>e sexualidade.</p><p>UNIDADE 1</p><p>17</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>1 EDUCAÇÃO, SAÚDE</p><p>E SEXUALIDADE:</p><p>INTERSECÇÕES POSSÍVEIS</p><p>O presente conteúdo foi elaborado com o objetivo de fornecer a base teórica para a</p><p>compreensão de Educação, Saúde e Sexualidade, em suas múltiplas possibilidades</p><p>de manifestação e investigação. Nesta Unidade, você vai estudar como se constitui</p><p>cada um destes campos e o que propõem as diferentes abordagens. Depois, serão</p><p>abordadas as articulações possíveis entre os temas, apresentando as intersecções já</p><p>existentes entre essas áreas.</p><p>Para essa compreensão, você estudará o conceito de intersetorialidade, pois o obje-</p><p>tivo é explicitar como essa reunião de esforços em busca da definição de objetivos</p><p>comuns e ações articuladas pode significar o bom planejamento e atuação efetiva no</p><p>combate às demandas educacionais, de saúde e até sociais.</p><p>Diante desta premissa, Educação, Saúde e Sexualidade serão abordadas em suas</p><p>múltiplas dimensões, tendo como objetivo a construção de um conhecimento holís-</p><p>tico sobre essas temáticas, de modo a possibilitar práticas respeitosas e inclusivas no</p><p>âmbito escolar.</p><p>1.1 EDUCAÇÃO, SAÚDE E SEXUALIDADE:</p><p>INTERSECÇÕES POSSÍVEIS</p><p>Educação, Saúde e Sexualidade são temas de pesquisa e atuação de várias áreas</p><p>do conhecimento. Em algumas delas, a interdisciplinaridade inerente a eles é mais</p><p>explícita e aproxima os conceitos e saberes próprios de cada campo, favorecendo a</p><p>compreensão para que se atue sobre um dado fenômeno. Ao se considerar as trans-</p><p>formações do mundo contemporâneo e as demandas educacionais atuais, nota-se</p><p>que essas intersecções são imprescindíveis, pois tornam possível uma reunião de</p><p>dados e informações para a reflexão e tomada de decisões amplas e diversificadas.</p><p>18</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Compreender cada uma destas áreas e como elas dialogam entre si é importan-</p><p>te para que se desenvolva um pensamento articulado em prol dos benefícios que</p><p>essa intersecção pode representar. Nesta perspectiva, serão definidos cada um destes</p><p>conceitos, e você entenderá como, juntos, constroem a possibilidade de reflexões e</p><p>ações no âmbito intersetorial.</p><p>1.1.1 CONCEITOS DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL,</p><p>EDUCAÇÃO, SAÚDE E INTERSETORIALIDADE</p><p>Muitas</p><p>violências e dos acidentes;</p><p>• identificação de alunos com possíveis sinais de doenças;</p><p>• práticas de autocuidado e abordagem de riscos e danos do uso de álcool,</p><p>tabaco e outras drogas, buscando fortalecer vínculos e afetos que favoreçam</p><p>escolhas de vida saudáveis.</p><p>O monitoramento do PSE é realizado a partir das informações lançadas no sistema</p><p>e-SUS Atenção Básica, que considera indicadores de evasão escolar, motivos de baixa</p><p>frequência e dados sociodemográficos. Esses dados são provenientes da própria esco-</p><p>la em parceria com a assistência social. O controle de presença dos estudantes, bem</p><p>como dos dados de rendimento acadêmico, é de incumbência do professor, que os</p><p>repassa para a gestão escolar, intermediária das ações do Programa Saúde na Escola.</p><p>As informações e formulários de acompanhamento das ações desenvolvidas</p><p>no Programa Saúde na Escola podem ser consultadas em: BRASIL. Programa</p><p>Saúde na Escola: documento orientador – indicadores e padrões de avaliação.</p><p>PSE, ciclo 2017/2018. Disponível na Internet.</p><p>Em relação aos indicadores que permitem avaliar o PSE, ou seja, aos parâmetros</p><p>qualitativos e/ou quantitativos que servem para detalhar se os objetivos do programa</p><p>foram alcançados, encontram-se: (i) a cobertura do PSE nas escolas; (ii) a cobertura</p><p>das ações nas escolas; (iii) a quantidade de tipos de ações realizadas (BRASIL, 2018).</p><p>99</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Em resumo, é importante que essas ações de saúde na educação busquem:</p><p>FIGURA 21 - AÇÕES DE SAÚDE NA EDUCAÇÃO</p><p>Ter foco na prática pedagógica, e não na ação assistencial</p><p>Estabelecer parceria entre professores, profissionais de saúde e alunos,</p><p>para que as ações sejam relevantes para eles.</p><p>Valorizar a percepção que os alunos têm sobre seus problemas, sua identidade e sua prática social.</p><p>Apoiar a comunidade escolar para que ela mesma vença suas dificuldades.</p><p>Fonte: Adaptada de CARVALHO, 2015.</p><p>Quando associadas a práticas educativas, as ações de saúde podem ser o ponto de</p><p>partida para a aquisição de novas condutas de autocuidado e respeito à saúde. Essas</p><p>ações devem levar em conta a realidade que cerca a escola e a vida dos alunos.</p><p>Para Junqueira (2004), o público-alvo da ação de saúde deve ser considerado como</p><p>sujeito desta, e não meramente como objeto. Dessa perspectiva, ele passa a assumir</p><p>um papel participativo, colaborando na identificação das demandas e da proposição</p><p>de suas soluções. Essas ideias e propostas devem ser construídas numa discussão</p><p>intersetorial (entre alunos, professores, gestores, equipe de saúde, assistência social),</p><p>de modo a favorecer a tomada de consciência e enfrentamento dos problemas viven-</p><p>ciados (WIMMER; FIGUEIREDO, 2006).</p><p>A atuação na área de assistência social permite articular as ações na escola à reali-</p><p>dade de seus alunos, aproximando os projetos do universo familiar e comunitário,</p><p>possibilitando a efetivação dos princípios de integralidade, intersetorialidade e terri-</p><p>torialidade das ações implementadas.</p><p>BIBLIOGRAFIA COMENTADA</p><p>Veja a seguir uma indicação de obra que complementará seu conhecimento sobre os</p><p>assuntos abordados na disciplina.</p><p>• PELICIONI, Maria Cecília Focesi. Educação e promoção da saúde: teoria e práti-</p><p>ca. 2. ed. Rio de Janeiro: Santos, 2019.</p><p>100</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>O livro “Educação e promoção da saúde: teoria e prática” aborda o desenvolvimento</p><p>de práticas educativas e promotoras de saúde em diferentes espaços. As partes três</p><p>e quatro apresentam diversas experiências e práticas de atuação da saúde na escola.</p><p>Conheça e se inspire!</p><p>CONCLUSÃO</p><p>Nesta unidade, você estudou a atuação da saúde na educação a partir do desenvol-</p><p>vimento de ações de prevenção, promoção e melhoria da saúde para estudantes.</p><p>Foi discutida a importância da formação de pactos e alianças entre diferentes áreas/</p><p>setores, para que as demandas em saúde presentes na escola possam ser atendidas</p><p>de forma coerente e integral, pois sabe-se que a multiplicidade de questões e neces-</p><p>sidades que cada população escolar, em seu contexto específico, apresenta, é muito</p><p>diversa e complexa, exigindo a articulação entre diferentes áreas e o diálogo constan-</p><p>te entre muitos profissionais.</p><p>Para compreender melhor um exemplo de como esse trabalho pode ser pensado e</p><p>efetivado, o Programa Saúde na Escola foi apresentado, abordando-se inicialmente o</p><p>histórico de desenvolvimento do programa e, depois, as ações previstas para as esco-</p><p>las, além das formas de monitoramento e critérios de avaliação.</p><p>Como a atuação do professor com crianças e jovens deve envolver o trabalho que</p><p>potencialize seu desenvolvimento, conhecer as formas de se trabalhar as questões de</p><p>saúde, de forma articulada a outros profissionais, é importante no sentido de fornecer</p><p>caminhos para a abordagem do tema de forma transversal na escola.</p><p>101</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao final desta</p><p>unidade,</p><p>esperamos</p><p>que possa:</p><p>UNIDADE 6</p><p>> Nomear os conceitos</p><p>de gênero, orientação e</p><p>identidade sexual.</p><p>> Examinar as</p><p>possibilidades didáticas</p><p>do trabalho com a</p><p>educação sexual no</p><p>ambiente escolar.</p><p>> Reunir estratégias de</p><p>intervenção saudáveis</p><p>e não punitivas como</p><p>parte do repertório</p><p>necessário à atuação</p><p>docente.</p><p>102</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>6 ABORDAGENS</p><p>CONTEMPORÂNEAS PARA</p><p>A EDUCAÇÃO SEXUAL NA</p><p>SALA DE AULA: RELAÇÕES</p><p>DE GÊNERO, ORIENTAÇÃO</p><p>SEXUAL E IGUALDADE NUMA</p><p>PROPOSTA DE RESPEITO ÀS</p><p>DIFERENÇAS</p><p>Nesta unidade, você estudará as abordagens contemporâneas para a educação sexual</p><p>no ambiente escolar. Essa temática, cujo ensino era de responsabilidade da família,</p><p>cada vez mais tem sido reconhecida como necessária nas propostas pedagógicas. Há</p><p>alguns anos, a sexualidade figura entre os temas transversais do ensino, o que signi-</p><p>fica que deve estar presente no currículo escolar, podendo ser trabalhada em várias</p><p>disciplinas. Assim, esta unidade tem o objetivo de explicitar os conceitos de gênero,</p><p>orientação sexual e identidade sexual, buscando esclarecer o que significa cada um</p><p>deles e discutir suas implicações não apenas epistemológicas (o significado da pala-</p><p>vra, em si), mas também problematizando as questões da vida prática, as concepções,</p><p>formas de entender e as relações que se estabelecem no meio social. Por fim, algu-</p><p>mas estratégias de intervenção saudáveis e não punitivas serão demonstradas, pois</p><p>cabe ao (aspirante a) professor considerar a diversidade presente nas escolas como</p><p>um potencial a ser valorizado e trabalhado, na perspectiva de não apenas respeitar,</p><p>mas também de aprender com a diferença.</p><p>103</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Esta unidade trata das abordagens contemporâneas para a educação sexual no</p><p>ambiente escolar, contemplando as possibilidades didáticas para um trabalho de</p><p>respeito e valorização da diversidade. Nesse sentido, apresenta os conceitos de gêne-</p><p>ro, orientação e identidade sexual, buscando discutir suas implicações para as formas</p><p>de entender, conceber e se relacionar em sociedade. Serão apresentadas as abor-</p><p>dagens pedagógicas que embasam a atuação docente na temática da sexualidade,</p><p>buscando ampliar o debate sobre o que está por trás das ações e posturas frente à</p><p>sexualidade em sala de aula. Ao educador, é fundamental conhecer esses conceitos,</p><p>para que possa identificar situações de desrespeito e discriminação e atuar em prol</p><p>de uma educação que problematiza a diferença como algo natural e saudável. Algu-</p><p>mas estratégias não punitivas para a intervenção nos casos em que houver manifes-</p><p>tação da sexualidade na escola serão contempladas, buscando oferecer repertório ao</p><p>professor de como agir nessas situações.</p><p>Venha nesta viagem pelo conhecimento!</p><p>6.1 ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS PARA A</p><p>EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA: RELAÇÕES DE</p><p>GÊNERO, ORIENTAÇÃO SEXUAL E IGUALDADE</p><p>NUMA PROPOSTA DE RESPEITO ÀS DIFERENÇAS</p><p>A educação sexual nas escolas brasileiras sempre foi tema de discussões e controvér-</p><p>sias.</p><p>No passado, as escolas separavam meninos e meninas num ensino que orienta-</p><p>va cada gênero para o desempenho de um papel social específico. Depois, mesmo</p><p>quando meninos e meninas estudavam juntos numa mesma escola, ao falar sobre</p><p>sexualidade, ou reprodução humana, estes eram separados em diferentes salas de</p><p>aula, para que cada um tivesse acesso à informação pertinente ao seu gênero (além</p><p>do fato de que abordar tal temática entre todos podia constranger o professor). Com</p><p>o passar do tempo, essa separação física, de sala, já não era mais necessária. Os estu-</p><p>dos em ciências e biologia contemplavam o que era importante ensinar ao adoles-</p><p>cente (sim, porque falar sobre sexualidade na infância era algo que não fazia sentido),</p><p>104</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>por isso os livros traziam o sistema reprodutor humano, as DSTs, o HIV, a Aids e a</p><p>gravidez na adolescência como algo a ser ensinado aos jovens.</p><p>Nas décadas de 1970 e 1980 surgem os estudos de gênero, o que provoca uma</p><p>mudança no conceito de “papéis sexuais” até então naturalizados pela biologia. Esse</p><p>é um ponto importante dos estudos em sexualidade, pois muda toda uma concep-</p><p>ção sobre a temática e introduz uma nova categoria de análise nos fenômenos da</p><p>vida histórica e social, ao mesmo tempo em que traz para o debate o enfoque políti-</p><p>co (FURLANI, 2016).</p><p>6.1.1 DEFININDO CONCEITOS: GÊNERO, ORIENTAÇÃO</p><p>E IDENTIDADE SEXUAL</p><p>Muitas vezes, gênero, orientação e identidade sexual são confundidos ou tratados</p><p>como sinônimos. Os conceitos nem sempre são compreendidos, de modo que ainda</p><p>é comum, por exemplo, ouvir algumas pessoas se referirem à “opção” sexual quando</p><p>falam da orientação do desejo sexual dos homossexuais ou ao “gênero” como um</p><p>conceito negativo. Essa falta de esclarecimento se deve, entre outros motivos, ao fato</p><p>de historicamente não terem sido abordadas amplamente nos estudos escolares e</p><p>na sociedade como um todo. Para desmistificar esses conceitos, cada um deles será</p><p>explicado a seguir.</p><p>6.1.1.1 GÊNERO</p><p>É um conceito que diz respeito às relações existentes entre homens e mulheres e</p><p>tem contribuído para problematizar as diferenças tomadas como “naturais” e “biolo-</p><p>gicamente” determinadas (GUIZZO; RIPOLL, 2015).</p><p>Guacira Lopes Louro (2004) ressalta que o conceito de gênero não se resume à dife-</p><p>renciação de “papéis” e “funções” femininos e masculinos, como modos de ser, de se</p><p>comportar, de se vestir, etc., mas diz respeito às relações de poder existentes entre</p><p>homens e mulheres.</p><p>105</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>A noção de que “ninguém nasce mulher: torna-se mulher” vem dos escritos de</p><p>Simone de Beauvoir, que, em 1949, publicou em “O segundo sexo” que a cons-</p><p>tituição do ser mulher é algo ensinado para que os sujeitos se tornem dessa ou</p><p>daquela maneira.</p><p>Partindo das ideias de Simone de Beauvoir, pode-se afirmar que gênero é o produ-</p><p>to do “trabalho” da sociedade, da cultura, sobre a biologia (GUIZZO; RIPOLL, 2015).</p><p>Assim, fazer de alguém mulher ou homem requer investimentos continuados</p><p>(LOURO, 2008).</p><p>Segundo Costa et al. (2009), o conceito de gênero é constituído em quatro partes:</p><p>FIGURA 22 - CONSTITUIÇÃO DO CONCEITO DE GÊNERO</p><p>Símbolos que nos</p><p>fornecem modelos para</p><p>sermos mulheres e</p><p>homens</p><p>Normas que afirmam e</p><p>negam modelos de</p><p>feminilidade e</p><p>masculinidade</p><p>Papel das instituições</p><p>sociais no reforço da</p><p>composição de masculino</p><p>e feminino</p><p>Identidades subjetivas</p><p>que revelam que nem</p><p>todas as imposições aos</p><p>homens e mulheres são</p><p>sentidas da mesma forma</p><p>Fonte: Adaptado de COSTA et al., 2009.</p><p>Recebem-se da sociedade, da família e da mídia modelos de o que é ser mulher ou</p><p>homem em na sociedade, de o que se espera em relação à linguagem (poder falar,</p><p>106</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>ter de calar), à vestimenta (poder ficar à vontade ou não sem camisa), ao comporta-</p><p>mento (ser dócil, passiva ou firme, propositivo).</p><p>O famoso “homem não chora” ou “mulher é o sexo frágil” são exemplos de normas</p><p>que afirmam e negam modelos de feminilidade e masculinidade, atribuindo carac-</p><p>terísticas de rigidez emocional e força corporal ao homem e docilidade e fragilidade</p><p>às mulheres. Esses padrões são reforçados pelas instituições sociais, quando se sepa-</p><p>ram meninos e meninas na escola, nas aulas de educação física ou quando o trabalho</p><p>doméstico fica relegado apenas às meninas, por exemplo.</p><p>Essas imposições sociais não são sentidas da mesma forma por meninas e meninos,</p><p>mulheres e homens, uma vez que o gênero marca uma relação desigual de poder de</p><p>homens sobre as mulheres, provocando uma desigualdade de direitos.</p><p>Os lugares de meninos e meninas nas escolas eram bem delimitados. Separa-</p><p>vam-se nas filas, nas brincadeiras, nas aulas de educação física. E era proibido</p><p>qualquer tipo de transgressão dessas fronteiras (SANTOS; SOUZA, 2015).</p><p>Acreditava-se que as meninas tinham maior aptidão para as ciências humanas,</p><p>enquanto os meninos se saíam melhor com disciplinas das ciências exatas. As</p><p>meninas eram mais calmas e os meninos eram “naturalmente” mais agitados.</p><p>As meninas eram vistas como mais emotivas, enquanto os meninos deviam se</p><p>controlar e não demonstrar sensibilidade (LOURO, 1997).</p><p>107</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>6.1.1.2 ORIENTAÇÃO SEXUAL</p><p>É a caracterização do desejo sexual predominante de uma pessoa, indicando por</p><p>quais gêneros ela sente-se atraída física, romântica ou emocionalmente. A orientação</p><p>sexual vai para além do binômio heterossexual vs. homossexual, expandindo-se para</p><p>bissexual, assexual ou pansexual.</p><p>FIGURA 23 - ORIENTAÇÃO SEXUAL</p><p>Heterossexual Homossexual Bissexual Assexual Pansexual</p><p>Atração por</p><p>pessoas do</p><p>gênero oposto.</p><p>Atração por</p><p>pessoas do</p><p>mesmo</p><p>gênero.</p><p>Atração por</p><p>pessoas do</p><p>mesmo gênero</p><p>e do gênero</p><p>oposto .</p><p>Atração por</p><p>todos os</p><p>gêneros.</p><p>Nenhuma</p><p>atração sexual.</p><p>Fonte: Elaborada pela autora, 2019.</p><p>6.1.1.3 IDENTIDADE SEXUAL OU DE GÊNERO</p><p>Indica a percepção sobre o gênero que uma pessoa tem de si mesma. A elaboração da</p><p>identidade sexual pressupõe identificações com papéis sociais, experimentações, dife-</p><p>renciações e liberdade de opção. Apresenta expectativas de comportamento e valores</p><p>que se veiculam diretamente ao papel esperado para cada gênero (DALL´AGNOL, 2003).</p><p>FIGURA 24 - IDENTIDADE DE GÊNERO</p><p>Indivíduo que se identifica e se</p><p>apresenta com o seu gênero biológico.Cisgênero</p><p>Indivíduo que não se identifica</p><p>com o gênero biológico.Transgênero</p><p>Indivíduo cuja expressão de gênero</p><p>não se limita às categorias "masculino"</p><p>ou "feminino".</p><p>Não-binário</p><p>Fonte: Elaborada pela autora, 2019.</p><p>108</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>6.1.2 EDUCAÇÃO SEXUAL: POSSIBILIDADES</p><p>DIDÁTICAS</p><p>A educação sexual nas escolas tem uma tradição de ser, em grande parte, oferecida</p><p>nas disciplinas de ciências e biologia. Os temas vão desde puberdade e menstrua-</p><p>ção, passando pelo aparelho reprodutor masculino e feminino, virgindade, iniciação</p><p>sexual, até discussão sobre DSTs, HIV e AIDS e gravidez na adolescência.</p><p>Furlani (2016) apresenta as abordagens para a educação sexual nas escolas, desde as</p><p>tradicionais até as mais contemporâneas. São essas concepções que estão presentes</p><p>nas práticas pedagógicas cotidianas nas escolas, na atuação de professores, repercu-</p><p>tindo o modo como se tem lidado com a sexualidade no contexto escolar.</p><p>abordagem biológico-higienista</p><p>Prioriza a discussão sobre o desenvolvimento sexual humano, dando ênfase aos</p><p>aspectos biológicos para a promoção da saúde, da reprodução, das DSTs e da gravi-</p><p>dez não desejada.</p><p>É higienista porque considera o sexo como algo sujo, por isso a “pureza” (sexual)</p><p>seria a forma mais eficaz de prevenir DSTs e gravidez não desejada.</p><p>A crítica a essa abordagem é em relação ao fato de ser considerada exclusiva, ou seja,</p><p>acredita-se que ela “dá conta” das demandas que precisam ser atendidas na adoles-</p><p>cência, o que torna o currículo reducionista e limitado. De acordo com a aborda-</p><p>gem, é nesse</p><p>período de vida que ocorre a iniciação sexual, portanto é também nesse</p><p>período que a discussão sobre esses assuntos devem ser iniciadas.</p><p>abordagem moral-tradicionalista</p><p>Atrelada a princípios da moral tradicional e religiosa, defende a completa priva-</p><p>ção sexual como forma de prevenção às DSTs, HIV, Aids e gravidez na adolescência,</p><p>109</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>afirmando que a abstinência é o método 100% eficaz para se evitar essas situações</p><p>(ASSOCIAÇÃO NACIONAL PRÓ-VIDA E PRÓ-FAMÍLIA, 2002 apud FURLANI, 2016).</p><p>A chamada “educação da abstinência” é defendida como educação sexual para a</p><p>adolescência, na contramão da difusão de informações sobre sexo consciente e segu-</p><p>ro. Nela defende-se uma educação separada para meninos e meninas; a castidade</p><p>pré-marital, o casamento e a monogamia. Pregam a intolerância com a diversidade</p><p>e com as concepções e manifestações da sexualidade que não sejam reprodutivas</p><p>(FURLANI, 2016).</p><p>castidade pré-marital: abstinência sexual antes do casamento.</p><p>Monogamia: ter apenas um conjugue, um parceiro sexual, enquanto se estiver</p><p>casado.</p><p>A campanha “Eu escolhi esperar” foi criada em 2011 em Vila Velha/ES com o</p><p>propósito de orientar, encorajar e fortalecer solteiros cristãos a esperarem para</p><p>viverem suas experiências sexuais apenas após o casamento. A campanha, que</p><p>tem projeção nacional e milhões de seguidores, defende que se deve viver uma</p><p>vida em pureza e santidade, baseada nas escrituras sagradas. É voltada tanto</p><p>para pessoas virgens, como para quem já teve experiências sexuais e agora opta</p><p>por se preservar até o casamento.</p><p>Fundamentando sua crítica a essa abordagem, Furlani (2016) chama a atenção para</p><p>o fato de a mesma defender que a educação sexual deve ser de responsabilidade da</p><p>família, que deve desencorajar o sexo e a reprodução. Para a autora, esse modelo priva</p><p>os jovens de informação a partir da censura e constrói enunciados que legitimam a</p><p>homofobia.</p><p>abordagem terapêutica</p><p>Busca causas e explicações para os “problemas sexuais” ou para as manifestações</p><p>110</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>sexuais consideradas “anormais”, apresentando ideias simplistas, genéricas e univer-</p><p>sais para o que se refere à vida sexual.</p><p>O Grupo Exodus é ligado a igrejas cristãs evangélicas e adota uma concepção</p><p>de educação sexual que rejeita a homossexualidade, assumindo-a como mal</p><p>indesejado, mas que pode ser curado. Nesse sentido, propõe-se a oferecer espe-</p><p>rança às famílias e apoio às pessoas que lutam contra os sentimentos homosse-</p><p>xuais (CARVALHO, 2004).</p><p>A abordagem terapêutica entende que o crescimento e desenvolvimento psicosse-</p><p>xual da criança deve ocorrer pela aproximação do menino com o pai e da menina</p><p>com a mãe. A criança precisa do referencial do genitor do mesmo gênero para que</p><p>este aprove e confirme sua masculinidade ou feminilidade. Assim, se o pai ou a mãe</p><p>for ausente, negligente ou violento, pode ocorrer a falta de amadurecimento psicos-</p><p>sexual necessária, podendo levar a criança a desenvolver uma orientação homosse-</p><p>xual (CARVALHO, 2004). Para essa abordagem,</p><p>(...) A carência de uma relação positiva, íntima e satisfatória com o pai resulta</p><p>num vazio emocional e em necessidades insatisfeitas que a mãe não pode</p><p>suprir porque ‘isso é coisa de homem’. Assim, ao afirmar que a mãe (mulher)</p><p>não apenas é incapaz de suprir a ausência do pai (homem) na educação da</p><p>criança, como também, muitas vezes, atrapalha e agrava o quadro por super-</p><p>proteger o filho, [a abordagem], além de homofóbica, expressa um sexismo e</p><p>uma misoginia evidentes (FURLANI, 2016, p. 19).</p><p>111</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Misoginia: ódio, desprezo ou preconceito contra meninas e mulheres, que pode</p><p>ser manifesto pela exclusão social, negação de direitos, hostilidade e discrimi-</p><p>nação sexual.</p><p>abordagem religioso-radical</p><p>Apresenta apego e interpretação literal da Bíblia, colocando o discurso religioso</p><p>sobre a sexualidade como uma verdade incontestável. Furlani (2016) denuncia que</p><p>essa forma de interpretação acentua e legitima a homofobia, a segregação racial e a</p><p>opressão à mulher.</p><p>A “Carta aos bispos da Igreja Católica sobre a colaboração do homem e da</p><p>mulher na Igreja e no mundo” afirma que o feminismo contribuiu para que</p><p>surgissem ideologias de igualdade entre homossexuais e heterossexuais e ques-</p><p>tionam o modelo de família biparental (com a presença de pai e mãe), apresen-</p><p>tando a sexualidade como algo múltiplo e diverso (SABINO, 2004, p. 86, apud</p><p>FURLANI, 2016, p. 21).</p><p>Nessa abordagem, a sexualidade entendida como “normal” é aquela que se manifes-</p><p>ta após o casamento, buscando a pureza da vida em família, sem uso de preservativos</p><p>e sem a prática de sexo oral e anal (LÍRIO, 2004). Aos solteiros, é pregada a castidade.</p><p>112</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>A “Canção Nova” é um exemplo de comunidade que busca evangelizar através</p><p>dos meios de comunicação. Ela orienta seus seguidores sobre a vida em socie-</p><p>dade e busca educar os jovens para que vivam em abstinência sexual e vençam</p><p>“as tentações da carne”, como usar drogas, bebidas e praticar sexo fora do casa-</p><p>mento. O principal programa de rádio da comunidade chama-se Por Hoje Não</p><p>vou Pecar (PHN) (LÍRIO, 2004) e um slogan muito difundido entre os jovens é o</p><p>“Castidade! Deus quer, você consegue” (BARRETO, 2005).</p><p>O teórico Jeffrey Weeks (2000) vê certa semelhança entre as abordagens moral-tradi-</p><p>cionalista, terapêutica e religiosa-radical, indicando que a preocupação central destas</p><p>está no controle da permissividade sexual, ameaçado pelas seguintes questões:</p><p>FIGURA 25 - QUESTÕES QUE AMEAÇAM A TENTATIVA DE</p><p>CONTROLE DA PERMISSIVIDADE SEXUAL</p><p>Promovido</p><p>pelo feminismo</p><p>Ameaça à família</p><p>Questionamento</p><p>dos papéis sexuais</p><p>Promovido pelos</p><p>movimentos gays e</p><p>lésbicos em busca de uma</p><p>educação sexual liberal</p><p>Ataque à</p><p>heterossexualidade</p><p>Ameaça aos valores</p><p>Fonte: Adaptada de WEEKS, 2000, p. 76-77.</p><p>113</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Para Weeks (2000), ao questionar os papéis sexuais e problematizar as relações de</p><p>gênero, o feminismo ameaça a família, pois questiona as relações de poder dos</p><p>homens sobre as mulheres. Já o ataque à heterossexualidade promovido pelos movi-</p><p>mentos homossexuais ameaça os valores da sociedade ao se buscar uma educação</p><p>sexual liberal.</p><p>abordagem dos direitos humanos</p><p>Assume o contexto educacional como um local não apenas de reprodução de pensa-</p><p>mentos e atitudes excludentes, mas também de resistência e contestação de grupos</p><p>marginalizados e discriminados por causa de sua condição social, de seu gênero, orien-</p><p>tação sexual, raça, etnia, condição física ou intelectual. Busca minimizar e combater a</p><p>discriminação, injustiça e desigualdades que esses grupos sofrem no ambiente esco-</p><p>lar através de uma educação que explicita e problematiza as representações nega-</p><p>tivas e as identidades “excluídas” desses grupos. Um bom exemplo para se entender</p><p>essa abordagem é pensar a educação de alunos refugiados. O processo educacional</p><p>é assumidamente político e compromete-se com o acolhimento a essa população e</p><p>tratamento equitativo, garantindo os mesmos direitos sexuais, reprodutivos e acesso</p><p>ao debate sobre saúde e sexualidade. Essa abordagem contribui para a construção</p><p>de uma sociedade mais humana e menos desigual (FURLANI, 2016).</p><p>abordagem dos direitos sexuais</p><p>Entende a sexualidade como algo plural e diverso, já os direitos sexuais, como funda-</p><p>mentais e universais. Aborda a liberdade sexual como premissa base para o trabalho</p><p>com a educação sexual, abordando questões de ordem afetiva e prazerosa, além das</p><p>questões biológicas e reprodutivas, discutindo e problematizando relações de gênero,</p><p>exclusão, preconceito, controle, hegemonia e discriminação sexual (FURLANI, 2016).</p><p>114</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>A “Declaração dos direitos sexuais” é um documento político de reivindicações e</p><p>conquistas. Reconhece a sexualidade como um direito humano</p><p>fundamental e</p><p>universal e apresenta em seus artigos: o direito à liberdade, autonomia e integrida-</p><p>de sexual, à segurança do corpo, o direito à privacidade, à justiça e ao prazer sexual,</p><p>à expressão sexual e emocional, à livre parceria sexual, a fazer escolhas livres, produ-</p><p>tivas e responsáveis, à informação baseada em evidência científica e à educação e</p><p>saúde sexual. Consulte o documento na íntegra, disponível na Internet.</p><p>abordagem emancipatória</p><p>Advinda das ideias de Paulo Freire e de sua luta por uma educação libertadora, a</p><p>abordagem emancipatória busca a formação de indivíduos autônomos, capazes de</p><p>pensar por si só, para a construção de uma sociedade mais consciente e menos desi-</p><p>gual. Por meio da prática dialógica e antiautoritária, explicita que o processo educati-</p><p>vo não é neutro, por isso, quando se propõe a ser crítico, participativo, flexível e dialó-</p><p>gico, pode libertar o indivíduo para que promova uma transformação social.</p><p>[...] Uma abordagem de educação sexual emancipatória é visualizada como</p><p>uma intervenção qualitativa, intencional, no processo educacional [...] que</p><p>busca desalojar certezas, desafiar debates e reflexões [...] contribuindo na</p><p>busca pela cidadania para todos (MELO, 2002, p. 37-38).</p><p>115</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>FIGURA 26 - CONCEITOS-CHAVE DA ABORDAGEM EMANCIPATÓRIA</p><p>Consciência</p><p>Emancipação</p><p>Autonomia</p><p>Fonte: Elaborado pela autora, 2019.</p><p>Assim, na abordagem emancipatória parte-se de um modelo educacional que prio-</p><p>riza a problematização das questões, valorizando a participação e diálogo dos indiví-</p><p>duos para despertar a consciência crítica que os leve à libertação (emancipação) de</p><p>sua condição (de ignorantes, oprimidos, subjugados), permitindo o desenvolvimento</p><p>da autonomia de pensamento (MELO, 2000).</p><p>abordagem queer</p><p>A teoria queer surge da aliança entre o movimento LGBTQ e as feministas e é uma</p><p>linha de pensamento que vai contra a padronização e classificação de identidades.</p><p>É orientada pela política das diferenças e da subversão e busca transformar a socie-</p><p>dade para que não existam mais os conceitos de “normal” e “anormal” em relação à</p><p>sexualidade.</p><p>A educação sexual baseada nos pressupostos da teoria queer rejeita, então, toda</p><p>forma de normatividade, buscando questionar e romper com os modelos que apre-</p><p>sentam a existência de uma única identidade, pois, com isso, outras identidades têm</p><p>sido negadas, invisibilizadas ou têm sido vítimas de preconceito, como as travestis e</p><p>as drag queens. A abordagem queer questiona a identidade estável e fixa propondo</p><p>uma política da diferença que permita conhecer e pensar a sexualidade de forma</p><p>mais ampla.</p><p>116</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Nesse sentido, um currículo voltado a essas ideias se proporia a “desconfiar” dos</p><p>conhecimentos prontos, questionando o que é estável e fazendo um enfrentamento,</p><p>contestando o que está posto como verdade. A premissa seria a discussão de como</p><p>cada identidade é construída e como tem sido valorizada ou desvalorizada social-</p><p>mente, desconstruindo o pressuposto de normalidade.</p><p>Uma escola que adota a abordagem queer em sua proposta pedagógica propo-</p><p>ria intervenções críticas (reflexivas) ou até mesmo subversivas das relações de</p><p>poder entre a sexualidade heteronormativa e a relações de gênero, buscan-</p><p>do demonstrar que a normalidade é um produto cultural, histórico, político e</p><p>intencionalmente formulado e, por isso mesmo, questionável, instável e mutá-</p><p>vel (FURLANI, 2016).</p><p>Assim, “uma pedagogia e um currículo queer estariam voltados para o processo de</p><p>produção das diferenças e trabalhariam, centralmente, com a instabilidade e a preca-</p><p>riedade de todas as identidades” (LOURO, 2004, p. 48).</p><p>117</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>lGBTQia+: sigla para lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros (transexuais e traves-</p><p>tis), queers, intersexo, assexuais e mais. A sigla também é utilizada como o nome</p><p>do movimento pela luta dos direitos desses grupos e contra a homofobia. O L de</p><p>“lésbicas” no início é para destacar a desigualdade de gênero, também diferen-</p><p>ciando homossexuais femininas e masculinos.</p><p>Transexuais: pessoas que não se identificam com o corpo biológico. Nascem</p><p>com um sexo biológico, mas se sentem pertencentes ao gênero oposto (BRETAS,</p><p>2011).</p><p>Travestis: pessoas que se vestem e transformam seu corpo conforme o sexo</p><p>oposto, sentindo-se homem e mulher ao mesmo tempo. Podem ser heterosse-</p><p>xuais, bi ou homossexuais (BRETAS, 2011).</p><p>drag queens: pessoas que através de roupas e atitudes exageradas criam perso-</p><p>nagens do sexo oposto para brincar com os papéis sexuais. Podem ser heteros-</p><p>sexuais, bi ou homossexuais (BRETAS, 2011).</p><p>intersexo: pessoas que nascem com anatomia sexual que não corresponde à</p><p>definição típica de feminino ou masculino. Por exemplo: a pessoa pode nascer</p><p>com aparência exterior masculina, mas sua anatomia reprodutiva ser feminina.</p><p>assexuado: pessoa que não sente atração sexual.</p><p>Todas essas oito abordagens apresentam as formas como a educação sexual tem sido</p><p>compreendida hoje no Brasil. Conhecer essas concepções é essencial ao professor,</p><p>pois são elas que embasam a prática pedagógica cotidiana dentro das escolas.</p><p>118</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>6.1.3 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO SAUDÁVEIS E</p><p>NÃO PUNITIVAS NOS CASOS DE MANIFESTAÇÃO DA</p><p>SEXUALIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR</p><p>Quando a escola reconhece que a sexualidade faz parte do processo de desenvol-</p><p>vimento humano, assumir a responsabilidade por uma educação sexual torna-se</p><p>essencial à formação integral do aluno. Abordar a educação sexual de forma trans-</p><p>versal e abrangente nas práticas pedagógicas significa prover crianças e jovens de</p><p>informações de qualidade que lhes permitirão reconhecer seus direitos, entender</p><p>suas responsabilidades, identificar situações de preconceito e gozar de uma vida de</p><p>cidadania plena. Mas como fazer isso? Por onde começar?</p><p>Furlani (2016) propõe etapas didáticas de atividades para a educação sexual na</p><p>educação, a saber:</p><p>• conhecer as partes do corpo de meninos e meninas;</p><p>• entender noções de higiene pessoal;</p><p>• entender o conceito de nudez;</p><p>• entender o conceito de privacidade;</p><p>• problematizar a linguagem (nomes familiares vs. nomes científicos);</p><p>• conhecer os vários modelos de famílias;</p><p>• iniciar o entendimento acerca das “diferenças” (pessoais, familiares, linguísti-</p><p>cas) ao encontro das diferenças de gênero, sexual, racial, étnica, etc.;</p><p>• apresentar a educação de meninos e meninas a partir dos estudos de gênero;</p><p>• discutir informações sobre as futuras mudanças do corpo na puberdade.</p><p>119</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Desde a educação infantil se deve questionar com as crianças as normas e</p><p>padrões associados a cada um dos gêneros: que cor é de menino, que cor é</p><p>de menina, que brinquedo é de menina, que brinquedo é para menino. Como</p><p>menina deve se comportar, como menino pode se comportar. Debater essas</p><p>questões desde as etapas mais elementares de escolarização ajuda a descons-</p><p>truir ideias equivocadas de marcadores de gênero para a definição de compor-</p><p>tamentos, atitudes e papéis sociais.</p><p>Para crianças maiores, adolescentes, algumas questões podem ser problematizadas</p><p>e discutidas, dando oportunidade aos alunos de falarem livremente sobre suas dúvi-</p><p>das e curiosidades sobre temas que envolvam a sexualidade. Para isso, pode-se:</p><p>• problematizar a linguagem, nomeando as partes do corpo, as diferenças de</p><p>identidade e orientação sexual;</p><p>• mostrar a pluralidade de formas de viver e manifestar a sexualidade;</p><p>• questionar o tratamento genérico no masculino;</p><p>• problematizar as discussões sobre relações de gênero.</p><p>120</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Quando o educador presenciar situações de machismo entre os alunos, é</p><p>fundamental deixar de naturalizar esses episódios. Pode-se problematizar essa</p><p>questão debatendo sobre o respeito à mulher. É importante não usar diferen-</p><p>tes critérios para o comportamento</p><p>de meninas e meninos, como se o interes-</p><p>se sexual fosse apenas dos garotos. As questões muito ouvidas nesses casos,</p><p>como “Você não provocou?” e “O que você fez para ele agir assim?”, devem ser</p><p>refletidas, para que se proponha uma mudança de comportamento. Os alunos</p><p>e alunas precisam aprender que assédio e atos violentos sempre são culpa do</p><p>agressor, e não da roupa ou atitude da vítima.</p><p>O trabalho com a temática da sexualidade na escola também pode ser desen-</p><p>volvido criando-se projetos, oficinas e rodas de conversas a partir das dúvidas</p><p>dos estudantes. É importante mapear o que os alunos já sabem e quais são</p><p>as principais dúvidas e curiosidades, para que se promova reflexão crítica, se</p><p>desconstrua falsas ideias e se promova um ambiente saudável e propício ao</p><p>aprendizado das questões que envolvem a sexualidade.</p><p>Conversar com crianças e jovens sobre essas temáticas é respeitar suas dúvidas,</p><p>sua necessidade de informação, reconhecendo essa curiosidade como natural. Isso</p><p>permite um crescimento mais tranquilo e seguro, responsável. Independentemente</p><p>do tipo ou da forma de manifestação, estudiosos da área são unânimes em recomen-</p><p>dar que não se deve silenciar, punir ou negativizar a sexualidade.</p><p>É importante, portanto, definir e implementar na escola espaços permanentes de</p><p>diálogo sobre a sexualidade, nos quais os alunos sintam-se acolhidos e livres para</p><p>sanar suas dúvidas e curiosidades.</p><p>121</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>BIBLIOGRAFIA COMENTADA</p><p>Veja a seguir uma indicação de obra que complementará seu conhecimento sobre os</p><p>assuntos abordados na disciplina.</p><p>• FURLANI, Jimena. Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orien-</p><p>tação sexual e igualdade étnico-racial numa proposta de respeito às diferen-</p><p>ças. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.</p><p>O livro “Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orientação sexual e igual-</p><p>dade étnico-racial numa proposta de respeito às diferenças” traz nos capítulos 5 e 7</p><p>dicas de atividades para se trabalhar a educação sexual na escola desde a educação</p><p>infantil até o final do ensino fundamental. Vale a pena conferir!</p><p>CONCLUSÃO</p><p>Nesta unidade, você estudou as abordagens contemporâneas para a educação sexual</p><p>na escola, conhecendo os principais pressupostos teóricos e práticos que norteiam as</p><p>ações com a temática da sexualidade no ambiente escolar. Para isso, foram apresen-</p><p>tadas as abordagens tradicionais e inovadoras, discutindo suas implicações para o</p><p>ensino de crianças e adolescentes. Foram conceituados os termos gênero, orientação</p><p>sexual e identidade sexual, apresentando as características de cada conceito e as dife-</p><p>rentes categorizações nas quais se enquadram a percepção humana, forma de ser e</p><p>orientação do desejo. O conceito de gênero foi problematizado à luz das teorias que</p><p>o entendem como algo que vai para além da diferenciação biológica entre homem</p><p>e mulher, menino e menina. Depois, a orientação sexual foi discutida como algo não</p><p>binário (heterossexual vs. homossexual), mas como um conceito mais amplo, que</p><p>engloba a assexualidade, a bissexualidade e a panssexualidade. Para a compreen-</p><p>são dos tipos de identidade sexual existentes, foram abordadas as características que</p><p>definem os cisgêneros, transgêneros e os não binários e, por fim, foram apresentadas</p><p>algumas possibilidades didáticas para o trabalho com a temática da sexualidade na</p><p>educação infantil e fundamental.</p><p>122</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Conhecer esses modelos e ter contato com as diferentes possibilidades de se traba-</p><p>lhar a sexualidade no âmbito escolar é fundamental ao professor de qualquer disci-</p><p>plina, pois a sexualidade faz parte da natureza humana e, como tal, se manifestará</p><p>em crianças, jovens e adultos de diferentes idades. Entender os conceitos e saber</p><p>diferenciar estratégias pode auxiliar o professor a pensar formas mais eficazes de</p><p>abordar a sexualidade em seu cotidiano de trabalho, tendo na diferença (própria a</p><p>todo tipo de grupo) algo que pode ser explorado e problematizado, contribuindo no</p><p>desenvolvimento e na aprendizagem de todos os alunos.</p><p>123</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ANDRADE, L. O. M. a saúde e o dilema da intersetorialidade. São Paulo: Editora Huci-</p><p>tec, 2006.</p><p>AQUINO, L. Introdução − A juventude como foco das políticas públicas. In: CASTRO,</p><p>J.A. de; AQUINO, L.; ANDRADE, C. C. de. (Orgs.). Juventude e políticas sociais no Brasil.</p><p>Brasília: Ipea, 2009.</p><p>BRASIL. constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Fede-</p><p>ral,1988.</p><p>BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente. lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990.</p><p>DOU de 16/07/1990. 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Brasília: Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde, 1999.</p><p>BUSS, P. M.; CARVALHO, A. I. Desenvolvimento da promoção da saúde no Brasil nosúl-</p><p>timos vinte anos (1988-2008). ciência & Saúde coletiva, v. 14, n. 6, p. 2305-16, 2009.</p><p>http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base</p><p>http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base</p><p>124</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>CAMPOS DO JORDÃO. Câmara Municipal. lei municipal nº 62, de 18 de julho</p><p>de2013. Autoriza o Poder Executivo a instituir o Programa de Atenção Integral aos</p><p>Alunoscom Transtornos de Aprendizagem (Dislexia, Disgrafia e Discalculia) de Educa-</p><p>ção, edá outras providências.</p><p>COSTA, E. R.; OLIVEIRA, K. E. A sexualidade segundo a teoria psicanalítica freudiana eo</p><p>papel dos pais neste processo. itinerarius Reflectionis, v. 2, n. 11, p. 1-17, 2011.</p><p>DEL PRIORE, Mary. Homens e mulheres: o imaginário sobre a esterilidade na Améri-</p><p>caportuguesa. 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Educação, gênero e sexualidade: percursos e instabilida-</p><p>des do fazer-se pesquisadora/pesquisador-professora/professor. Espaço do currículo,</p><p>v. 8, n. 2, p. 209-222, maio/ago. 2015.</p><p>SILVA, K. L.; RODRIGUES, A. T. ações intersetoriais para promoção da saúde na Estra-</p><p>tégia Saúde da Família: experiências, desafios e possibilidades. Rev. Bras. Enferm. v.</p><p>63, n. 5, p. 762-769, 2010.</p><p>SOUZA, M. C.; ESPERIDIÃO, M. A.; MEDINA, M. G. A intersetorialidade no Programa-</p><p>Saúde na Escola: avaliação do processo político-gerencial e das práticas de trabalho.</p><p>ciência & Saúde coletiva, v. 22, n. 6, p. 1781-1790, 2017.</p><p>COSTA, A. P.; SCALIA, A. C. M.; BEDIN, R. C.; SANTOS. Sexualidade, gênero e educação:-</p><p>novos olhares. Revista ibero-americana de Estudos em Educação, [S.l.], v. 4, n. 1, p.</p><p>65-75, maio 2010.</p><p>VYGOTSKY, L. S. a formação social da mente 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.</p><p>WIMMER, G. F.; FIGUEIREDO, G. O. Ação coletiva para qualidade de vida: autonomia,</p><p>transdisciplinaridade e intersetorialidade. ciência & Saúde coletiva, v. 11, n. 1, p.</p><p>145-154, 2006.</p><p>127</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>ZORNIG, S. A. As teorias sexuais infantis na atualidade: algumas reflexões. Psicolo-</p><p>giaem Estudo, Maringá, v. 13, n. 1, p. 73-77, jan./mar. 2008.</p><p>ALÓS, A. P. Gênero, epistemologia e performatividade: estratégias pedagógicas de</p><p>subversão. Revista Estudos Feministas, vol. 19, n. 2, 2011, p. 421-449.</p><p>BRASIL. Base nacional comum cur¬ricular. 2017. Disponível em: <http://basenacio-</p><p>nalcomum.mec.gov.br/a-base>. Acesso em: 9 jul. 2019.</p><p>BRASIL. lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e</p><p>do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/</p><p>ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 9 jul. 2019.</p><p>BRASIL. Parâmetros curriculares Nacionais: temas transversais – pluralidade cultu-</p><p>ral e orientação sexual. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental e Ministério da</p><p>Educação, 1997.</p><p>DZIABAS, D. C.; MIRANZI, S. S. C. Educação em saúde e sexualidade do escolar. intera-</p><p>gir: pensando a extensão, Rio de Janeiro, n. 11, jan./jul. 2007, p. 89-93.</p><p>FEITOSA, L. C. amor e sexualidade: o masculino e o feminino em grafites de Pompéia.</p><p>São Paulo: Annablume; Fapesp, 2005.</p><p>FURLANI, J. Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orientação sexual</p><p>e igualdade étnico-racial numa proposta de respeito às diferenças. Belo Horizonte:</p><p>Autêntica, 2016.</p><p>FURLANI, J. Educação sexual: possibilidades didáticas. In: LOURO, G. L.; NECKEL, J. F.;</p><p>GOELLNER, S. V. (Orgs). corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na</p><p>educação. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 66-81.</p><p>GESSER, M.; OLTRAMARI, L. C.; PANISSON, G. Docência e concepções de sexualidade</p><p>na educação básica. Psicologia & Sociedade, vol. 27, n. 3, 2015, p. 558-568.</p><p>HAFFNER, Debra W. a criança e a educação. Lisboa: Presença, 2005.</p><p>LOURO, G. L. Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Pro-Posições, vol.</p><p>19, n. 2, 2008, p. 17-23.</p><p>http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base</p><p>http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm</p><p>128</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>LOURO, G. L. Sexualidades contemporâneas: políticas de identidade e de pós-iden-</p><p>tidade. In: UZIEL, A. P.; RIOS, L. F.; PARKER, R. G. (Org.). construções da sexualidade:</p><p>gênero, identidade e comportamento em tempos de aids. Rio de Janeiro: Pallas -</p><p>Programa de Gênero e Sexualidade IMS/UERJ; ABIA, 2004. p. 203-212.</p><p>MELO, S. M. de. Educação e sexualidade. caderno Pedagógico, Florianópolis, v. 1,</p><p>UDESC, 2002.</p><p>MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA (MEC). caderno de orientação sexual dos</p><p>parâmetros curriculares nacionais. Brasília: 1998. Disponível em: <http://portal.mec.</p><p>gov.br/seb/arquivos/pdf/livro102.pdf>. Acesso em: 9 jul. 2019.</p><p>MINISTÉRIO DA SAÚDE. Brasil sem homofobia: programa de combate à violência e</p><p>à discriminação contra GLTB e promoção da cidadania homossexual. Brasília: 2004.</p><p>Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/brasil_sem_homofobia.</p><p>pdf>. Acesso em: 9 jul. 2019.</p><p>ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. 1975. Disponível em: <http://www.who.int/</p><p>country/bra/en>. Acesso em: 9 jul. 2019.</p><p>SEFFNER, F. Sigam-me os bons: apuros e aflições nos enfrentamentos ao regime da</p><p>heteronormatividade no espaço escolar. Educação e Pesquisa, vol. 39, n. 1, 2013, p.</p><p>145-159.</p><p>STEINBERG, S. R.; KINCHELOE, J. L. Sem segredos: cultura infantil, saturação de infor-</p><p>mação e infância pós-moderna. In: STEINBERG, S. R.; KINCHELOE, J. L (Orgs.). cultura</p><p>infantil: a construção corporativa da infância. Tradução de George Eduardo Japiassú</p><p>Bricio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p. 9-52.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da</p><p>Saúde. A promoção da saúde no contexto escolar. Revista de Saúde Pública, v. 36, n.</p><p>2, 2002, p. 533-535.</p><p>BRASIL. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política</p><p>Nacional de Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Saúde e desenvolvi-</p><p>mento da juventude brasileira: construindo uma agenda nacional. Brasília, 1999.</p><p>http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro102.pdf</p><p>http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro102.pdf</p><p>http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/brasil_sem_homofobia.pdf</p><p>http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/brasil_sem_homofobia.pdf</p><p>http://www.who.int/country/bra/en</p><p>http://www.who.int/country/bra/en</p><p>129</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>BRASIL. Programa Saúde na Escola: documento orientador – indicadores e padrões</p><p>de avaliação – PSE, ciclo 2017/2018. Brasília: 2017.</p><p>CARVALHO, F. F. B. A saúde vai à escola: a promoção da saúde em práticas pedagógi-</p><p>cas. Physis Revista de Saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 4, 2015 p. 1207-1227.</p><p>FURLANI, J. Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orientação sexual</p><p>e igualdade étnico-racial numa proposta de respeito às diferenças. Belo Horizonte:</p><p>Autêntica, 2016.</p><p>GONÇALVES, F. D. et al. A promoção da saúde na educação infantil. interface – comu-</p><p>nicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 12, n. 24, jan./mar. 2008, p. 181-92.</p><p>JUNQUEIRA, L. A. P. A gestão intersetorial das políticas sociais e o terceiro setor. Saúde</p><p>e Sociedade, São Paulo, v. 13, n. 1, jan./abr. 2004, p. 25-36.</p><p>ORGANIZACIÓN PAN-AMERICANA DE SALUD (OPAS). Promoción de la salud median-</p><p>te las escuelas – iniciativa mundial de la salud escolar. In: REUNIÓN Y ASAMBLEA</p><p>CONSTITUTIVA – RED LATINO AMERICANA DE ESCUELAS PROMOTORAS DE SALUD.</p><p>1. San Jose. Memoria. Washington: OPAS, 1996.</p><p>PELICIONI, Maria Cecília Focesi. Educação e promoção da saúde: teoria e prática. 2.</p><p>ed. Rio de Janeiro: Santos, 2019.</p><p>PELICIONI, M. C. F.; TORRES, A. L. a escola promotora de saúde. São Paulo: Departa-</p><p>mento de Práticas de Saúde Pública, 1999. Série Monográfica, 12 – Eixo Promoção da</p><p>Saúde.</p><p>SILVA, C. M. C.; MENEGHIM, M. C.; PEREIRA, A. C. et al. Educação em saúde: uma refle-</p><p>xão histórica de suas práticas. ciênc. Saúde coletiva, v. 15, n. 5, 2010, p. 2539-2550.</p><p>VALADÃO, M. M. Saúde na escola: um campo em busca de espaço na agenda interse-</p><p>torial. 2004. 154 f. Tese (Doutorado em Serviços de Saúde) – Departamento de Prática</p><p>de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.</p><p>WIMMER, G. F.; FIGUEIREDO, G. O. Ação coletiva para qualidade de vida: autonomia,</p><p>transdisciplinaridade e intersetorialidade. ciência e Saúde coletiva, v. 11, n. 1, 2006,</p><p>p. 145-154.</p><p>130</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>BARRETO, F. C. No Brasil, baixo quórum: pequenos grupos militam pela castidade.</p><p>carta capital, São Paulo, a. XI, n. 340, 04 mai. 2005.</p><p>BEAUVOIR, Simone de. o segundo sexo. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.</p><p>Original publicado em 1949.</p><p>BRETAS, J. R. S. Sexualidades. São Paulo: All Print, 2011.</p><p>CAMPANHA EU ESCOLHI ESPERAR. Disponível em: <http://www.euescolhiesperar.</p><p>com/>. Acesso em: 21 jul. 2019.</p><p>CARVALHO, E. R. Os homossexuais podem mudar? Exodus latinoamérica, 2004.</p><p>COSTA, A. P.; SCALIA, A. C. M.; BEDIN, R. C.; SANTOS, S. R. Saúde, gênero e educação:</p><p>novos olhares. Revista iberoamericana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 4, n.</p><p>1, 2009.</p><p>DALL´AGNOL, R. S. A sexualidade no contexto contemporâneo: permitida ou reprimi-</p><p>da? Revista de Psicologia da Vetor Editora, vol. 4, n. 2, 2003, p. 26-31.</p><p>FURLANI, J. Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orientação sexual</p><p>e igualdade étnico-racial numa proposta de respeito às diferenças. Belo Horizonte:</p><p>Autêntica, 2016.</p><p>GUIZZO, B. S.; RIPOLL, D. Gênero e sexualidade na educação básica e na formação de</p><p>professores: limites e possibilidades. HoloS, a. 31, vol. 6.</p><p>LÍRIO, S. No reino da alma. carta capital, São Paulo, a. X, n. 296, jun. 2004.</p><p>LOURO, G. L. o corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Hori-</p><p>zonte: Autêntica, 2004.</p><p>LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista.</p><p>Petrópolis: Vozes, 1997.</p><p>LOURO, G. L. Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Pro-Posições, v. 19,</p><p>n. 2 (56), mai./ago. 2008.</p><p>http://www.euescolhiesperar.com/</p><p>http://www.euescolhiesperar.com/</p><p>131</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>MELO, S. M. de. Educação e sexualidade. caderno Pedagógico, Florianópolis, UDESC,</p><p>v. 1, 2002.</p><p>SANTOS, F. F.; SOUZA, M. L. Educação, gênero e sexualidade: percursos e instabilida-</p><p>des do fazer-se pesquisadora/pesquisador–professora/professor. Espaço do currículo,</p><p>v. 8, n. 2, mai./ago. 2015, p. 209-222.</p><p>WEEKS, Jeffrey. O corpo e a sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes (Org.). o corpo</p><p>educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 37-82.</p><p>EAD.MULTIVIX.EDU.BR</p><p>CONHEÇA TAMBÉM NOSSOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA NAS ÁREAS DE:</p><p>SAÚDE • EDUCAÇÃO • DIREITO • GESTÃO E NEGÓCIOS</p><p>FIGURA 1 - Intersetorialidade</p><p>FIGURA 2 - Responsáveis pela garantia da Educação como direito</p><p>FIGURA 3 - Ações na perspectiva da intersetorialidade</p><p>FIGURA 4 - Intersetorialidade: conceitos-chave</p><p>FIGURA 5 - Etapas do trabalho escolar envolvendo a temática da sexualidade</p><p>FIGURA 6 - Mecanismos condicionantes da sexualidade</p><p>FIGURA 7 - Elementos que compõe a concepção sobre sexualidade</p><p>FIGURA 8 - Descrição de práticas sexuais normais e anormais a partir da ideia do “coito natural”</p><p>FIGURA 9 - Aspectos que trazem implicações para a construção da sexualidade</p><p>FIGURA 10 - Fase oral</p><p>FIGURA 11 - Adultização infantil</p><p>FIGURA 12 - Erotização precoce</p><p>FIGURA 13 - Abordagem da sexualidade em uma</p><p>proposta pedagógica ético-política</p><p>FIGURA 14 - Características da criança sexualmente saudável</p><p>FIGURA 15 - Conceitos-chave para o desenvolvimento saudável da sexualidade</p><p>FIGURA 16 - A escola na proposta de EPS</p><p>FIGURA 17 - A família na proposta EPS</p><p>FIGURA 18 - A comunidade na proposta de EPS</p><p>FIGURA 19 - Ações do Programa Saúde na Escola</p><p>FIGURA 20 - Princípios do PSE</p><p>FIGURA 21 - Ações de saúde na educação</p><p>FIGURA 22 - Constituição do conceito de gênero</p><p>FIGURA 23 - Orientação sexual</p><p>FIGURA 24 - Identidade de gênero</p><p>FIGURA 25 - Questões que ameaçam a tentativa de</p><p>controle da permissividade sexual</p><p>FIGURA 26 - Conceitos-chave da abordagem emancipatória</p><p>QUADRO 1 - Ações previstas na Agenda Nacional para a Promoção do Desenvolvimento Saudável da Juventude</p><p>QUADRO 2 - Estágios Psicossexuais do Desenvolvimento</p><p>QUADRO 3 - Principais marcos da política em saúde para adolescentes</p><p>QUADRO 4 - Concepções de sexualidade de docentes da educação básica</p><p>QUADRO 5 - Princípios da educação sexual no contexto escolar</p><p>1 Educação, Saúde e Sexualidade: intersecções possíveis</p><p>1.1 Educação, Saúde e Sexualidade: intersecções possíveis</p><p>1.1.1 Conceitos de desenvolvimento social, educação, saúde e intersetorialidade</p><p>1.2 A temática da sexualidade e as articulações possíveis com os campos da educação e da saúde</p><p>Bibliografia comentada</p><p>Conclusão</p><p>2 A sexualidade como construção sócio-histórico-cultural</p><p>Introdução da Unidade</p><p>2.1 A sexualidade como construção sócio-histórico-cultural</p><p>2.1.1 Dimensões histórico-sociais da sexualidade</p><p>2.1.2 Implicações de alguns aspectos sociais, históricos e culturais na construção da sexualidade humana</p><p>Conclusão</p><p>3 Sexualidades: nível biológico e psicossexual e suas manifestações na infância e adolescência</p><p>Introdução</p><p>3.1 Sexualidades: nível biológico e psicossexual e suas manifestações na infância e adolescência</p><p>3.1.1 Sexualidade infantil: a criança como ser sexual</p><p>3.1.2 A construção da identidade sexual adolescente</p><p>3.1.3 Problemas de saúde mais prevalentes na infância e adolescência e seus condicionantes socioeconômicos e de estilo de vida</p><p>Bibliografia Comentada</p><p>Conclusão</p><p>4 Sexualidade como Campo de Estudos da Educação</p><p>Introdução</p><p>4.1 Sexualidade como campo de estudos da educação</p><p>4.1.1 Intersecções entre sexualidade e educação</p><p>4.1.2 Diferenciando conceitos: sexo, sexualidade e educação sexual</p><p>4.1.3 As possibilidades oferecidas</p><p>no atendimento às necessidades de crescimento e desenvolvimento infantil e adolescente</p><p>Bibliografia comentada</p><p>Conclusão</p><p>5 O Conceito de Escola Saudável Dentro das Estratégias de Promoção da Saúde e os Programas Transversais no Ensino Básico</p><p>Introdução</p><p>5.1 O conceito de escola saudável dentro das estratégias de promoção de saúde</p><p>5.1.1 Parcerias, alianças e o pacto social</p><p>5.1.2 Programas de educação e de saúde na escola dentro da perspectiva das áreas transversais de ensino fundamental: programação, critérios e instrumentos de avaliação</p><p>Bibliografia comentada</p><p>Conclusão</p><p>6 Abordagens Contemporâneas para a Educação Sexual na Sala de Aula: Relações de Gênero, Orientação Sexual e Igualdade numa Proposta de Respeito às Diferenças</p><p>Introdução</p><p>6.1 Abordagens contemporâneas para a educação sexual na escola: relações de gênero, orientação sexual e igualdade numa proposta de respeito às diferenças</p><p>6.1.1 Definindo conceitos: gênero, orientação e identidade sexual</p><p>6.1.1.1 Gênero</p><p>6.1.1.2 Orientação sexual</p><p>6.1.1.3 Identidade sexual ou de gênero</p><p>6.1.2 Educação sexual: possibilidades didáticas</p><p>6.1.3 Estratégias de intervenção saudáveis e não punitivas nos casos de manifestação da sexualidade no ambiente escolar</p><p>Bibliografia comentada</p><p>Conclusão</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>vezes ao assistir o telejornal ou ao ler jornais e portais da internet, nos depara-</p><p>mos com notícias que falam sobre desenvolvimento social. Esse termo, geralmente</p><p>pouco compreendido isoladamente, muitas vezes é associado a economia, progra-</p><p>mas sociais, assistência à saúde, cidadania, dentre tantos outros, passando a ideia de</p><p>amplitude do conceito. Mas, afinal, o que é desenvolvimento social?</p><p>Desenvolvimento social diz respeito às condições e qualidade de vida de uma dada</p><p>população. Como ocorre a partir da reunião de vários fatores, expressa-se no bem-es-</p><p>tar social, um conceito que agrega democracia, liberdade, justiça, equidade, tolerân-</p><p>cia, igualdade e solidariedade. Assim, uma sociedade possui bom desenvolvimento</p><p>social quando há possibilidades reais de satisfação de suas necessidades, que vão</p><p>desde a expectativa de vida de homens, mulheres e crianças até o acesso e fruição de</p><p>bens educacionais, de saúde, moradia e empregabilidade (LAMPREIA, 1995).</p><p>Para que as necessidades da população sejam atendidas e, com isso, haja desenvol-</p><p>vimento social, é necessário que haja articulação de políticas econômicas e sociais,</p><p>numa perspectiva de enfraquecimento e abandono das ações fragmentadas e conse-</p><p>quente fortalecimento do regime de colaboração entre setores.</p><p>19</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>FIGURA 1 - INTERSETORIALIDADE</p><p>Fonte: SHUTTERSTOCK, 2019.</p><p>Nesta perspectiva, a Educação tem sido vista como uma forma de potencializar o</p><p>desenvolvimento das pessoas, já que, tradicionalmente, é transmitida a crianças</p><p>desde a mais tenra idade e, cada vez mais, em instituições especializadas. No passa-</p><p>do, a educação na primeira infância (até os 6/7 anos) ocorria em casa e, muitas vezes,</p><p>depois disso, com preceptores contratados pela família; mais recentemente, a partir</p><p>desta idade, as crianças iam para a instituição escola. Na atualidade, as mudanças</p><p>sociais e nas configurações familiares, além das conquistas das mulheres pela inde-</p><p>pendência financeira e vida autônoma, fizeram surgir a necessidade de uma educa-</p><p>ção voltada às crianças pequenas, com menos de 3 anos de idade.</p><p>Vê-se, com essa nova configuração, que as crianças – aprendizes de uma dada cultura</p><p>e sociedade – recebem, cada vez mais cedo, uma educação institucionalizada, o que</p><p>torna a escola (a creche) em um local de ensino por excelência. Você já parou para</p><p>pensar no que isso pode significar?</p><p>Se, por um lado, as crianças hoje podem ter maiores possibilidades de contato com</p><p>a diversidade, com as múltiplas formas de expressão e vivência dos indivíduos de</p><p>diferentes culturas, também se pode imaginar que alguns aprendizados básicos e</p><p>20</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>o desenvolvimento de importantes habilidades, como experiências que ensinem</p><p>valores morais e éticos, o controle dos impulsos, a frustração e o respeito às ideias e</p><p>opiniões dos outros, por exemplo, podem, muitas vezes, ser insuficientemente explo-</p><p>rados e desenvolvidos.</p><p>Essa reflexão é importante para nos fazer compreender como a educação, seja ela</p><p>formal (que ocorre nos sistemas de ensino), seja a não formal (que ocorre ao longo</p><p>da vida, fora da escola), é um importante elemento que ajuda a moldar as crenças,</p><p>valores e subjetividades, que contribuem para a formação da identidade das pessoas.</p><p>Observando outro aspecto da Educação, é preciso reconhecer que, sendo ela um</p><p>direito cuja garantia deve ser assegurada pelo Estado, pela família e pela sociedade</p><p>(BRASIL, 1988), ela prevê a reunião de esforços e o compartilhamento de responsabi-</p><p>lidades. Essa premissa aparece na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) (BRASIL,</p><p>2017), que expressa que “a educação deve afirmar valores e estimular ações que</p><p>contribuam para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana, social-</p><p>mente justa e, também, voltada para a preservação da natureza”. Assim, vê-se que a</p><p>Educação não é ação ou responsabilidade de um só, mas sim, que para se efetivar,</p><p>depende da união e do esforço coletivo.</p><p>FIGURA 2 - RESPONSÁVEIS PELA GARANTIA DA EDUCAÇÃO COMO DIREITO</p><p>EDUCAÇÃO</p><p>como direito</p><p>Estado</p><p>Família</p><p>Sociedade</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>21</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o documento que define no</p><p>Brasil as aprendizagens essenciais a que todos os alunos têm direito durante</p><p>a Educação Básica. É ele a referência obrigatória que deve nortear a elabora-</p><p>ção dos currículos das redes de ensino (tanto públicas quanto privadas) em</p><p>escolas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio de todo</p><p>o país.</p><p>A BNCC está disponível no site do Ministério da Educação e Cultura, e o docu-</p><p>mento pode ser acessado e baixado na íntegra ou por nível de ensino. Vale a</p><p>pena conferir!</p><p>O caráter colaborativo do princípio de garantia da educação também é visto em</p><p>outros setores. Na área da Saúde, por exemplo, também se percebe o esforço do</p><p>trabalho conjunto, por vezes inter ou multidisciplinar, visando atuação para preven-</p><p>ção ou combate de doenças, atrasos ou transtornos do desenvolvimento. Entre os</p><p>profissionais deste campo, é comum o estudo e discussão de casos, a fim de compar-</p><p>tilhar experiências e impressões, com o objetivo de se obter uma visão mais global do</p><p>paciente e suas dificuldades, buscando a realização de diagnósticos mais completos</p><p>e precisos.</p><p>interdisciplinar: diz respeito à relação entre disciplinas ou profissionais de</p><p>diferentes áreas, no intuito de aprofundar o conhecimento para melhor</p><p>compreensão ou atuação sobre um caso ou diagnóstico.</p><p>Multidisciplinar: diz respeito ao conjunto de várias disciplinas ou profissio-</p><p>nais de diferentes áreas, que podem atender a um mesmo paciente, mas</p><p>que não necessariamente se relacionam entre si para a discussão de um</p><p>caso ou fechamento de diagnóstico.</p><p>22</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Educação e Saúde geralmente buscam atuar conjuntamente quando algu-</p><p>ma criança ou jovem apresenta problemas de aprendizagem. É comum as</p><p>escolas encaminharem estes alunos a profissionais especialistas (psicólogos,</p><p>fonoaudiólogos, psicopedagogos) para que se obtenha um “laudo” que traga</p><p>respostas sobre o porquê de este estudante ter dificuldades e não aprender.</p><p>Algumas experiências deste tipo envolvem a parceria entre escola e centro</p><p>de diagnóstico interdisciplinar (muitas vezes ligados às faculdades e centros</p><p>universitários), que recebem estes encaminhamentos e submetem o aluno a</p><p>uma avaliação com profissionais de várias áreas. Ao final da ampla avaliação,</p><p>que pode envolver a família e os professores, os profissionais discutem o caso</p><p>para identificar se o perfil apresentado pela criança ou jovem é compatível</p><p>com algum quadro de transtorno ou deficiência.</p><p>No que diz respeito às políticas de saúde, é fato que unir esforços com outros setores</p><p>representa maior escala e alcance de projetos.</p><p>Para citar outro exemplo, é possível pensar nos programas desenvolvidos</p><p>dentro das escolas. Seja para identificar problemas de visão com exames</p><p>oftalmológicos, combater pediculose ou para ensinar a maneira certa de</p><p>se escovar os dentes para uma boa higienização bucal, é provável que você</p><p>tenha tido alguma experiência deste tipo em seu período escolar.</p><p>O que se percebe, por estes exemplos, é que a tentativa de unir esforços para atuação</p><p>conjunta não é nenhuma novidade. Muito pelo contrário, essa busca pelo trabalho</p><p>compartilhado já existe e a ele chamamos Intersetorialidade.</p><p>23</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>intersetorialidade é uma iniciativa que visa ao trabalho entre setores, contrapon-</p><p>do o modelo fragmentado de atuação das políticas sociais. Diante da amplitude e</p><p>complexidade de muitos problemas enfrentados pela população, a intersetorialida-</p><p>de se coloca como ação fundamental para promover melhoria da qualidade de vida</p><p>das pessoas, superar os problemas enfrentados nos diversos âmbitos e otimizar a</p><p>busca por resultados (PHAC, 2008; SOUZA et al., 2017).</p><p>A</p><p>definição de intersetorialidade engloba, ainda, parceria e trabalho conjunto (SOUZA</p><p>et al., 2017). Prevê a articulação de saberes e experiências de diferentes áreas, de</p><p>modo a atuar de forma integrada para a solução de demandas e problemas (LIMA;</p><p>VILASBÔAS, 2011; WIMMER; FIGUEIREDO, 2006).</p><p>Assim, de forma sintetizada, listamos ações que, para Junqueira (2004), explicitam a</p><p>intersetorialidade:</p><p>FIGURA 3 - AÇÕES NA PERSPECTIVA DA INTERSETORIALIDADE</p><p>reunião de objetivos comuns</p><p>compartilhamento de tomada de decisão</p><p>planejamento conjunto</p><p>mobilização de recursos</p><p>implementação de propostas intersetoriais</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>Dadas suas características, o trabalho intersetorial não se limita à justaposição de</p><p>projetos, mas considera a importância tanto do planejamento quanto da operaciona-</p><p>lização para que se promovam programas bem estruturados, com objetivos e gestão</p><p>compartilhadas (BUSS; CARVALHO, 2009).</p><p>24</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Para que isso ocorra, é fundamental a definição de conceitos e objetivos comuns a</p><p>partir do levantamento das necessidades da população com a qual se deseja traba-</p><p>lhar (WIMMER; FIGUEIREDO, 2006), pois, conhecendo a realidade, demandas e expec-</p><p>tativas desse público-alvo, é possível delinear planos de ação factíveis, que favoreçam</p><p>a todos os envolvidos (SILVA; RODRIGUES, 2010).</p><p>Em 2012, uma organização do terceiro setor iniciou, no município de Campos</p><p>do Jordão, uma ação intersetorial para favorecer as crianças com problemas</p><p>de aprendizagem. Após mapear, com a secretaria de educação, os índices de</p><p>alunos com dificuldades em leitura e escrita, e identificar a ausência de um</p><p>plano de ação efetivo para auxiliar esses estudantes e diminuir a fila de espe-</p><p>ra para atendimento psicológico e fonoaudiológico no setor da saúde – que</p><p>recebia muitos encaminhamentos provenientes das escolas – foi formado</p><p>um Grupo Articulador, composto por representantes da sociedade civil (mãe</p><p>de crianças com problemas de aprendizagem e membros da associação de</p><p>moradores) e das secretarias municipal de Educação, Saúde e Desenvolvi-</p><p>mento Social. O projeto previa a formação de professores e psicopedagogas,</p><p>de uma equipe interdisciplinar na área da saúde (composto por neurologis-</p><p>ta, psicólogas e fonoaudiólogas) e a articulação da população para o forta-</p><p>lecimento da luta por políticas públicas que beneficiassem essa população.</p><p>Essa ação intersetorial foi fundamental para a aprovação da Lei Municipal</p><p>nº 62, de 18 de julho de 2013, que prevê a identificação precoce e acompa-</p><p>nhamento dos alunos com transtornos de aprendizagem na rede pública</p><p>de ensino. Além disso, trouxe benefícios para todas as áreas envolvidas no</p><p>projeto.</p><p>Na contramão dessas iniciativas, as intervenções isoladas nos setores têm mostra-</p><p>do baixa efetividade para promover mudanças esperadas, além de menor adesão</p><p>dos envolvidos. No entanto, mesmo que as ações fragmentadas sejam reconhecidas</p><p>como menos exitosas, elas ainda acontecem em um bom número de projetos. Nos</p><p>casos em que já há um trabalho intersetorial, muitas vezes há a necessidade de ações</p><p>25</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>mais amplas e complexas, voltadas à organização, orientação e desenvolvimento de</p><p>estratégias que favoreçam à comunidade envolvida. Assim, aponta-se que práticas</p><p>intersetoriais possibilitam a construção compartilhada de projetos estratégicos</p><p>Na Educação, a intersetorialidade busca a melhoria dos processos educacionais por</p><p>meio de parcerias e colaboração entre sociedade e instituições governamentais e não</p><p>governamentais (BRASIL, 2014). Na área da saúde, é reconhecida como uma estraté-</p><p>gia de ação que se sobrepõe aos determinantes sociais, possibilitando reorganização</p><p>de todo o sistema (ANDRADE, 2006).</p><p>Mesmo sendo uma prática existente desde o Século XX, Figueiredo et al., 2010 apon-</p><p>tam muitos desafios e fragilidades na implementação de ações intersetoriais, como</p><p>as ações fragmentadas, a ausência de comprometimento igualitário entre os setores</p><p>e o predomínio de abor¬dagens setorizadas (SANTOS, 2005).</p><p>Alguns estudiosos do tema assumem que um dos desafios da intersetorialidade está</p><p>justamente em operacionalizar os projetos superando as hierarquias institucionais,</p><p>além da criação de novas relações entre os diferentes setores e segmentos envolvi-</p><p>dos. Este é um desafio que se apresenta para todos aqueles que acreditam no traba-</p><p>lho em parceria e na troca de saberes para o bem comum.</p><p>Conhecer o significado de termo e os conceitos-chave que representam essa ideia é</p><p>um primeiro movimento para se criar um pensamento ou projeto intersetorial.</p><p>26</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>FIGURA 4 - INTERSETORIALIDADE: CONCEITOS-CHAVE</p><p>Planejamento e</p><p>desenvolvimento de ações</p><p>conjuntas e integradas</p><p>Parceria</p><p>Trabalho coletivo</p><p>Diálogo</p><p>Envolvimento</p><p>Aproximação</p><p>Decisões horizontais</p><p>Compartilhamento de poder</p><p>Intersetorialidade</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>A partir dos projetos e ações intersetoriais é possível que áreas distintas, que talvez</p><p>não tenham a tradição ou o hábito de dialogar, podem iniciar a identificação de</p><p>pontos e objetivos comuns em algum tipo de trabalho. Deste exercício, algumas arti-</p><p>culações entre temas, projetos e ações podem surgir, fomentando o compartilha-</p><p>mento de ideias para uma atuação que pode vir a ser colaborativa e integrada.</p><p>1.2 A TEMÁTICA DA SEXUALIDADE E AS</p><p>ARTICULAÇÕES POSSÍVEIS COM OS CAMPOS DA</p><p>EDUCAÇÃO E DA SAÚDE</p><p>A temática da sexualidade há muito representa um tabu em nossa sociedade. Vista</p><p>muitas vezes como representação única do fundamento genital e sua disposição</p><p>para a reprodução, gera conflitos, desconfortos e ambiguidades. Por isso, às vezes é</p><p>evitada ou debatida de forma breve e superficial, mesmo no âmbito escolar.</p><p>Para se romper com a ideia muitas vezes equivocada que se tem sobre sexualidade,</p><p>é fundamental compreendê-la em sua perspectiva mais ampla, que engloba além</p><p>do fundamento biológico, anatômico e também genital, uma disposição psíquica,</p><p>mencionada por Freud (1905) como a essência da atividade humana.</p><p>27</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>As múltiplas expressões da sexualidade na contemporaneidade dão conta de nos</p><p>mostrar que esse é um campo muito diverso e complexo, que não é facilmente expli-</p><p>cado ou vivido em sua tradicional definição. Este movimento tem sido influenciado</p><p>pelas múltiplas transformações constituídas pela globalização, pelas novas configu-</p><p>rações familiares e pelos novos modelos sociais e de comportamento (HOLOVKO;</p><p>CORTEZZI, 2018).</p><p>Diante deste novo e amplo cenário, as múltiplas sexualidades demandam ser repen-</p><p>sadas e dois campos, em especial, podem contribuir para essa reflexão: o da educa-</p><p>ção e o da saúde.</p><p>Na Educação, é importante se reconhecer que a sala de aula é um ambiente compos-</p><p>to por um grupo heterogêneo de pessoas que apresentam uma pluralidade extensa</p><p>de diversidades, sendo as relacionadas à sexualidade uma delas. Em sua vasta hete-</p><p>rogeneidade, os alunos irão vivenciar, interagir e manifestar suas atitudes e compor-</p><p>tamentos tendo como referência o modelo social, familiar e da autoridade. O teor e a</p><p>qualidade das informações, mensagens e modelos repassados aos jovens é de funda-</p><p>mental importância em seu processo de formação e na orientação das escolhas que</p><p>farão ao longo da vida (BRASIL, 1999). Deste ponto de vista, o professor é uma figura</p><p>de referência para o aluno e também lhe oferece ferramentas para o pensamento e</p><p>modelos de conduta.</p><p>Independentemente das convicções e crenças pessoais de professores e alunos, no</p><p>âmbito escolar é importante compreender o campo da sexualidade como múltiplo</p><p>e diverso, para que se crie e compartilhe um ambiente de aprendizagem sadio e</p><p>acolhedor, onde se pratica a empatia e o respeito.</p><p>Holovko e Cortezzi (2018, p. 21) explicitam que “a sexualidade, quando não reduzida</p><p>ao seu sentido biológico, torna-se heterogênea”, o que significa</p><p>que é múltipla em</p><p>sua significação. Compreender essa ideia e trabalhar em sala de aula a partir dessa</p><p>perspectiva favorece atitudes e modos de pensar que despatologizam fenômenos</p><p>relacionados à diversidade sexual ou familiar, do mesmo modo que auxilia na identi-</p><p>ficação e denúncia de preconceitos de todo tipo.</p><p>Para além desse reconhecimento, Dziabas e Miranzi (2007) chamam a atenção para a</p><p>necessidade de o trabalho com a educação sexual ir para além da abordagem peda-</p><p>gógica de temas que abordem a sexualidade humana. Para os autores, o tema deve</p><p>ser tratado no plano escolar de forma interdisciplinar e em contextos curriculares e</p><p>extracurriculares. Para isso, propõem que se privilegie: o espaço, a turma, as diferentes</p><p>28</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>necessidades dos alunos, o apoio às famílias e as formas de apoio individualizado e</p><p>específico a quem deles necessitar.</p><p>Para além da abordagem pedagógica comum com a qual o tema da sexua-</p><p>lidade geralmente é abordado em sala de aula, é possível trabalhá-lo de dife-</p><p>rentes formas e em várias disciplinas do currículo. Um primeiro movimento</p><p>seria não restringi-la às aulas de Ciências ou Biologia, pois, como algo natu-</p><p>ral ao processo de desenvolvimento humano, a sexualidade pode ser abor-</p><p>dada na literatura, na matemática (a partir do estudo estatístico de temas</p><p>que vão ao encontro das curiosidades e necessidades dos jovens), em histó-</p><p>ria, abordando as questões relacionadas a gênero e outros condicionantes</p><p>socioculturais), bem como a partir de projetos interdisciplinares, transversais</p><p>e inclusivos, explorando com seriedade o tema, adequando a abordagem e</p><p>o aprofundamento da discussão a cada nível etário ou escolar dos alunos.</p><p>Vale reconhecer também que, de modo geral, por conta de características próprias</p><p>do desenvolvimento, os jovens estão expostos a certas vulnerabilidades associadas à</p><p>saúde reprodutiva, identificação de sua sexualidade e construção/remodelação de</p><p>sua identidade. Nesta etapa da vida, questões como sexualidade, anticoncepção,</p><p>reprodução, aborto, maternidade e paternidade são temas que permeiam de dúvi-</p><p>das e curiosidades o pensamento e comportamento dos jovens (LUZ; BERNI, 2000).</p><p>Sem a orientação correta, a atitude dos adolescentes não poderia ser dife-</p><p>rente da que predomina à sua volta. Conversar de forma séria sobre assuntos</p><p>sexuais, em geral, tende a baixar a ansiedade dos jovens, que, naturalmente,</p><p>são muito curiosos e desejam viver suas experiências o mais rápido possível</p><p>(ROSISTOLATO, 2003, p. 133).</p><p>Não deve ser negligenciado nessa reflexão o fato de o jovem de hoje encontrar fora</p><p>da escola inúmeras informações e espaços de aprendizagem (nem sempre sérios ou</p><p>coerentes). O acesso irrestrito a todo tipo de conteúdo, ao invés de possibilitar maior</p><p>conhecimento e orientação, pode significar o contato com informações equivocadas,</p><p>que pouco ou nada auxiliam nas questões enfrentadas por que as procuram.</p><p>29</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Assim, um trabalho sério, desenvolvido no espaço escolar, deve ser voltado a ofere-</p><p>cer diálogo e informação de qualidade, acolhendo o jovem e suas dúvidas. Para isso,</p><p>Dziabas e Miranzi (2007) propõem:</p><p>FIGURA 5 - ETAPAS DO TRABALHO ESCOLAR ENVOLVENDO A TEMÁTICA DA SEXUALIDADE</p><p>Interação/ criação de vínculo entre educador e aluno</p><p>Diálogo contínuo</p><p>Refletir sobre quem somos e como nos relacionamos</p><p>Propiciar experiências que ofereçam modelos</p><p>Oferecer oportunidades para mudanças internas</p><p>Provocar o aprofundamento das reflexões</p><p>Incentivar o desenvolvimento da autonomia e da ação</p><p>Fonte: Adaptada de DZIABAS; MIRANZI, 2007.</p><p>O desenvolvimento deste trabalho demanda vivência do lúdico e o incentivo ao diálo-</p><p>go e à reflexão, possibilitando a aquisição de novas posturas e maneiras de lidar com</p><p>as questões. Para favorecer esse movimento, além do material teórico e ilustrativo</p><p>apropriado, pode-se utilizar recursos como música, dramatizações, poesias e filmes</p><p>(DZIABAS; MIRANZI, 2007).</p><p>30</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Um grupo de acadêmicos da Universidade Federal do Triângulo Mineiro</p><p>(UFTM) desenvolveu um projeto de educação sexual com alunos do últi-</p><p>mo ano do Ensino Fundamental de uma escola municipal de Uberaba/MG.</p><p>As atividades foram divididas em 6 módulos que abordaram: fisiologia e</p><p>anatomia humana; iniciação, maturação e comportamento sexual; métodos</p><p>contraceptivos; DST/ AIDS; violência e exploração sexual; menopausa/andro-</p><p>pausa e disfunções sexuais.</p><p>Caso tenha interesse em saber um pouco mais sobre os tópicos trabalha-</p><p>dos no projeto de Educação Sexual desenvolvido por alunos da UFTM e os</p><p>resultados do projeto, confira o relato Educação em Saúde e Sexualidade</p><p>do Escolar, de Daniel Cavarette Dziabas e Sybelle de Souza Castro Miranzi,</p><p>disponível na internet.</p><p>No setor da saúde, há algumas décadas o Ministério da Saúde, em parceria com Esta-</p><p>dos e Municípios, vem realizando ações de educação em saúde voltadas aos adoles-</p><p>centes, buscando prevenir doenças e agravos de saúde, bem como fortalecer fatores</p><p>protetores e minimizar fatores riscos (BRASIL, 1999).</p><p>A construção de uma agenda nacional para a promoção do desenvolvimento saudá-</p><p>vel da juventude foi proposta no documento “Saúde e desenvolvimento da juventude</p><p>brasileira: construindo uma agenda nacional” (BRASIL, 1999). O quadro a seguir traz</p><p>as principais ações previstas para o desenvolvimento da saúde dos jovens:</p><p>31</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>QUADRO 1 - AÇÕES PREVISTAS NA AGENDA NACIONAL PARA A PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO</p><p>SAUDÁVEL DA JUVENTUDE</p><p>Oferta de informação sobre saúde e educação sexual para o desenvolvimento das habilidades neces-</p><p>sárias para o jovem se manter saudável></p><p>Proteção à saúde de adolescentes grávidas e de mães adolescentes e seus filhos></p><p>Favorecimento do aleitamento materno de mães adolescentes no trabalho e na escola.</p><p>Favorecimento da permanência e a reintegração de pais adolescentes à escola.</p><p>Expansão do acesso aos serviços de saúde humanizados e receptivos às demandas específicas da</p><p>população jovem.</p><p>Discussão na sociedade sobre o direito do adolescente ter acesso ao aconselhamento e aos insumos</p><p>contraceptivos, bem como aos relativos à prevenção das DST/AIDS.</p><p>Reflexão e consequente ação contra o abuso sexual, a prostituição de menores e a violência domés-</p><p>tica.</p><p>Ambientes saudáveis de trabalho para a juventude, reduzindo os riscos das doenças profissionais.</p><p>Participação intensa da grande mídia no esforço de promover a saúde e o desenvolvimento da juven-</p><p>tude.</p><p>Implementação efetiva do Estatuto da Criança e do Adolescente, privilegiando sua proposta educa-</p><p>tiva e considerando o enfoque de gênero.</p><p>Fonte: BRASIL, 1999.</p><p>É importante comentar que, mesmo que a proposta não seja nova, ainda há muito</p><p>por se fazer. Muitas das ações de prevenção e intervenções voltadas para a melhoria</p><p>da saúde do adolescente ainda mantêm um foco estreito e desalinhado às principais</p><p>necessidades dessa população (BRASIL, 1999). Com isso, os resultados nem sempre</p><p>são promissores, e a eficácia e eficiência dos projetos são postos à prova.</p><p>O que já é reconhecido pelo senso comum e cada vez mais tem sido confirmado por</p><p>estudos científicos é que alianças e parcerias são essenciais para a criação e desenvol-</p><p>vimento de ações que visem proteção de saúde, bem-estar e direitos da população.</p><p>Para dar conta das demandas atuais, Educação e Saúde devem auxiliar os adoles-</p><p>centes a organizar o pensamento, munindo-os de informações sérias e de qualidade,</p><p>oferecendo-lhes condições de fazer suas escolhas pessoais de forma racional e de</p><p>adotarem comportamentos conscientes e seguros (ROSISTOLATO, 2003).</p><p>32</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>BIBLIOGRAFIA COMENTADA</p><p>Veja a seguir a indicação de uma obra que complementará seu conhecimento sobre</p><p>os assuntos abordados na disciplina.</p><p>• PELICIONI, Maria Cecília Focesi; MIALHE, Fábio Luiz. Educação e promoção da</p><p>saúde: teoria e prática.</p><p>2. ed. Rio de Janeiro: Santos, 2019.</p><p>O livro “Educação e promoção da saúde: teoria e prática” apresenta variadas expe-</p><p>riências da atuação do setor de saúde em escolas, centros de referência e outros</p><p>locais de trabalho. O capítulo 2, especificamente, traz o conceito de abordagem de</p><p>settings para a saúde, aproximando o diálogo com a intersetorialidade, tão necessária</p><p>nos projetos desta natureza. Trabalhar com as grandes estruturas sociais ou organiza-</p><p>cionais permite o maior alcance dos projetos a determinados grupos populacionais.</p><p>Essa premissa aparece em boa parte dos relatos que o livro traz. Não deixe de conferir!</p><p>33</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>CONCLUSÃO</p><p>Nesta Unidade você estudou os conceitos de desenvolvimento social, educação,</p><p>saúde e intersetorialidade. A partir de uma visão integrada, cada um dos conceitos</p><p>foi apresentado de forma a propiciar compreensão de seus pontos-chave, visando</p><p>favorecer a construção do conhecimento sobre como atuam esses diferentes setores.</p><p>Através de exemplos/cases, buscou-se propiciar a reflexão sobre a importância do</p><p>trabalho integrado entre diferentes áreas, visando criar possibilidades reais de elabo-</p><p>ração e desenvolvimento de projetos que ultrapassem a visão e atuação fragmenta-</p><p>das em prol de abordagens que priorizam o trabalho conjunto e a gestão comparti-</p><p>lhada.</p><p>A temática da sexualidade também foi abordada, ressaltando-se as múltiplas dimen-</p><p>sões existentes para a compreensão do tema. Chamou-se atenção da importância</p><p>de se tratar as questões relacionadas à sexualidade nos âmbitos escolar e da saúde,</p><p>de modo a oferecer aos jovens informações consistentes e programas que objeti-</p><p>vem a promoção do desenvolvimento dessa população. Em relação a essa temática,</p><p>também foram mencionadas as articulações possíveis entre sexualidade, educação e</p><p>saúde. A proposta foi oferecer uma visão geral de como essas áreas podem abordar o</p><p>tema, tratando-o de forma séria e condizente com as demandas atuais apresentadas</p><p>pelos jovens.</p><p>Profissionais que atuam com a população jovem devem conhecer as diferentes</p><p>abordagens que tratam da sexualidade. Essa é uma questão importante para que</p><p>se conheça os comportamentos e demandas atuais apresentadas pelos jovens nos</p><p>diferentes espaços de convivência, especialmente o escolar. Atuar compreendendo e</p><p>respeitando essa diversidade pode significar a efetivação de experiências que favore-</p><p>cem o acolhimento, a empatia e o respeito, possibilitando criar condições para que a</p><p>aprendizagem aconteça.</p><p>34</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao final desta</p><p>unidade,</p><p>esperamos</p><p>que possa:</p><p>> Identificar fatores históricos,</p><p>sociais e culturais como</p><p>constituintes do processo</p><p>de formação da sexualidade</p><p>humana.</p><p>> Articular o contexto</p><p>histórico, cultural e social</p><p>para compreender a</p><p>concepção que diferentes</p><p>sociedades têm sobre a</p><p>sexualidade.</p><p>> Examinar as implicações</p><p>de alguns aspectos sociais,</p><p>históricos e culturais na</p><p>construção da sexualidade</p><p>humana.</p><p>UNIDADE 2</p><p>35</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>2 A SEXUALIDADE COMO</p><p>CONSTRUÇÃO SÓCIO-</p><p>HISTÓRICO-CULTURAL</p><p>Nesta Unidade você estudará sobre como as questões sociais, os momentos históri-</p><p>cos e as características da cultura compõem a construção da sexualidade humana. A</p><p>proposta é pensar a sexualidade a partir de como ela é entendida e exercida em um</p><p>dado momento histórico e em diferentes sociedades e culturas. Sendo uma cons-</p><p>trução sociocultural, a identidade de cada ser humano é moldada por aquilo que é</p><p>transmitido em sua cultura e pelos valores adotados pela sociedade. Família, política,</p><p>religião, escola e as mídias, em geral, transmitem as crenças, valores e ideologias que</p><p>influenciam a forma de entender o que é permitido, aceitável, valorizado, em detri-</p><p>mento do que é perverso e inaceitável.</p><p>Essas formas de compreender o que é certo ou errado, do que é normal ou desviante</p><p>molda atitudes e comportamentos. Refletir sobre as implicações destes condicio-</p><p>nantes se faz necessário, na medida em que pode significar condutas mais éticas e</p><p>saudáveis, a partir do entendimento da sexualidade em suas múltiplas dimensões,</p><p>promovendo o respeito e a valorização da diversidade.</p><p>INTRODUÇÃO DA UNIDADE</p><p>O presente conteúdo foi elaborado com o objetivo de fornecer subsídios para se</p><p>pensar a sexualidade a partir de questões que vão além da constituição do indivíduo</p><p>em seu âmbito familiar. Pensando de forma macro, a unidade propõe analisar como</p><p>a cultura, a sociedade e o tempo histórico são importantes marcadores para enten-</p><p>der as formas de agir e pensar sobre a sexualidade. Para isso, propõe refletir sobre por</p><p>que algumas práticas são naturalizadas e difundidas em uma dada cultura, enquanto</p><p>que em outra pode ser considerada abominável.</p><p>Também chama atenção para o fato de que em cada momento histórico as visões</p><p>sobre a sexualidade podem ser diferentes, influenciando as condutas, as ideologias e</p><p>36</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>os padrões de comportamento da sociedade. Para entender essa gama de influên-</p><p>cias, a Teoria Sociointeracionista do Desenvolvimento é apresentada, trazendo a apro-</p><p>priação que os indivíduos fazem de seus signos e códigos culturais como algo essen-</p><p>cial à constituição do ser humano, transformando-o em ser social.</p><p>Por fim, algumas implicações sobre as questões sociais, culturais e históricas são</p><p>discutidas, enfatizando a importância de se pensar o contexto atual para entender</p><p>as formas de perceber e manifestar a sexualidade das crianças e dos jovens da atua-</p><p>lidade.</p><p>2.1 A SEXUALIDADE COMO CONSTRUÇÃO SÓCIO-</p><p>HISTÓRICO-CULTURAL</p><p>O que você sabe sobre sexualidade? Quais são os tabus e curiosidades que cercam</p><p>a temática da sexualidade? Quais manifestações da sexualidade você conhece e</p><p>como você as enxerga? Falar de sexualidade nem sempre é fácil. Mesmo sendo um</p><p>tema abordado nos livros, explorados pela dramaturgia e massivamente exposto pela</p><p>mídia, ainda é cercado de mitos, medos e falta de informação qualificada. Viver a</p><p>sexualidade, em suas diversas possibilidades de manifestação, é ainda mais compli-</p><p>cado, haja vista a dificuldade de se perceber a diferença entre sexo e sexualidade, e a</p><p>crença de muitos em uma única forma “correta” de exercê-la.</p><p>Esses dilemas, presentes na vida de cada um de nós, têm relação com questões</p><p>sociais, culturais e até mesmo históricas. Você já parou para pensar que muitas dessas</p><p>questões que influenciam nossa forma de pensar, entender e manifestar a sexualida-</p><p>de têm raízes históricas? Que os padrões e normas, do que é aceito e do que não é,</p><p>do que pode e do que não pode, do certo e do errado, são convenções sociais? Que</p><p>em outras culturas o entendimento sobre a sexualidade é muito diferente da forma</p><p>como a conhecemos? São essas questões que abordaremos nesta unidade. Venha</p><p>conosco nesta viagem pelo conhecimento!</p><p>37</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>2.1.1 DIMENSÕES HISTÓRICO-SOCIAIS DA</p><p>SEXUALIDADE</p><p>A sexualidade é uma construção histórico-social. A forma como a entendemos e a</p><p>manifestamos passa necessariamente por questões históricas, e é permeada por</p><p>convenções sociais. Isso quer dizer que este é um conceito que sofre variações e</p><p>modificações em momentos e espaços históricos diferentes (COSTA et al., 2010) e,</p><p>deste ponto de vista, o que hoje é considerado comum e aceitável pode não ter sido</p><p>em outros momentos, assim como o que é condenado e mal visto em nossa socie-</p><p>dade pode ser encarado de uma forma totalmente diferente em outra sociedade ou</p><p>cultura.</p><p>Antes de Freud desenvolver a Teoria Psicossexual do Desenvolvimento (FREUD,</p><p>1905/1996), a manifestação da sexualidade desde a primeira infância era algo</p><p>inconcebível. Freud adiciona o componente psíquico à sexualidade, antes</p><p>vista apenas como fundamento biológico, anatômico e genital. Em sua teoria,</p><p>a sexualidade manifesta-se desde os primeiros meses de vida do bebê e vai</p><p>evoluindo ao longo</p><p>dos anos de vida do ser humano. Para ele, sexualidade é a</p><p>essência da atividade humana.</p><p>Outro exemplo vem da Grécia antiga e diz respeito à naturalidade com que a</p><p>pederastia (relação sexual entre dois homens, um adulto e um jovem) era trata-</p><p>da. Característica dos períodos arcaico e clássico, essa prática acontecia como</p><p>um ritual de iniciação ao que hoje se conhece como adolescência. Nos dias</p><p>atuais, em nossa sociedade, essa prática seria denominada como pedofilia.</p><p>Salles e Cecarelli (2010) afirmam que a sexualidade é uma invenção da cultura</p><p>ocidental, que criou esse dispositivo para lidar com as reinvindicações pulsionais.</p><p>Esses discursos aparecem em momentos sócio-históricos específicos, na tentativa de</p><p>normatizar as práticas sexuais de acordo com os valores e padrões da época.</p><p>38</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Em cada tempo histórico, a moral vai criando tanto o discurso sobre a regulamenta-</p><p>ção da sexualidade quanto os dispositivos que buscam regulá-la, controlá-la, buscan-</p><p>do identificar e curar as manifestações desviantes.</p><p>FIGURA 6 - MECANISMOS CONDICIONANTES DA SEXUALIDADE</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>Assim, o que é aceito ou não em termos de sexualidade dentro de uma cultura ou</p><p>sociedade varia de acordo com o momento histórico. A historicidade da sexualidade</p><p>foi um tema estudado por Michel Foucault (1988), que menciona que:</p><p>Sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não a uma realidade</p><p>subterrânea que se apreende com dificuldades, mas a grande rede de superfície em</p><p>que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação do discurso, a</p><p>formação do conhecimento, o reforço dos controles e das resistências encadeiam-se</p><p>uns ao outros, segundo algumas grandes estratégias do saber e dos poderes (p. 100).</p><p>Como enfatizado por Foucault (1988), o poder e o controle são estratégias usadas</p><p>quando se trata de sexualidade. Os discursos morais, biomédicos, religiosos e midiá-</p><p>ticos influenciam as ideias em torno dessa temática, ditando, muitas vezes, uma</p><p>39</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>(suposta) normalidade e condenando comportamentos e concepções que fogem a</p><p>essa regra.</p><p>FIGURA 7 - ELEMENTOS QUE COMPÕE A CONCEPÇÃO SOBRE SEXUALIDADE</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>A visão médica sobre sexualidade vem da antiguidade. Manter relações sexuais prefe-</p><p>rencialmente no inverno era uma orientação de Pitágoras. Hipócrates recomendava a</p><p>retenção do sêmen para que o corpo pudesse ter mais energia. O médico pessoal do</p><p>Imperador Adriano de Éfaso instruía que o ato sexual deveria ocorrer exclusivamente</p><p>para a procriação (SALLES E CECCARELLI, 2010). A partir do século XVII a preocupa-</p><p>ção médica foi direcionada para as relações sexuais precoces e para o controle de</p><p>natalidade.</p><p>Na religião, houve um negativismo em relação ao prazer sexual, tornando o sexo,</p><p>inclusive dentro do casamento, um problema teológico. É deste período o início da</p><p>valorização do celibato. Quando se examina os textos bíblicos, especialmente os do</p><p>Gênesis, Salles e Cecarelli (2010) apontam a sexualização do pecado original. Como</p><p>consequência, o desejo gerou fragilidade e culpa, que acabaram por exaltar a virgin-</p><p>dade. Vê-se, aqui, que mais uma vez o casamento não era altamente recomendado,</p><p>já que se opunha à virgindade e poderia conduzir ao prazer sexual. Porém, mesmo</p><p>40</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>a castidade sendo valorizada, havia a necessidade de se regulamentar o sexo para a</p><p>procriação, e foi aí que o casamento assumiu este lugar.</p><p>O casamento é inferior à virgindade, e não sendo para a procriação, não há</p><p>justificativa para o ato carnal. O melhor seria a continência absoluta. Não se</p><p>podendo alcançá-la, aprisiona-se o desejo no casamento (SALLES. CECCAREL-</p><p>LI, 2010, p. 3).</p><p>Com o passar do tempo, ainda no discurso religioso e agora apoiado pelo discur-</p><p>so médico, surge a ideia de “coito natural”, dando origem à separação das práticas</p><p>sexuais em “normais”, voltadas à procriação, e “anormais”, que se referiam às práticas</p><p>infecundas.</p><p>FIGURA 8 - DESCRIÇÃO DE PRÁTICAS SEXUAIS NORMAIS E ANORMAIS A PARTIR DA IDEIA</p><p>DO “COITO NATURAL”</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>41</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Até a década de 1990 a homossexualidade ainda era diagnosticada como</p><p>perversão ou distúrbio sexual pelo discurso médico no Brasil. Curioso pensar</p><p>que a homossexualidade era vista por muitos profissionais da medicina como</p><p>uma doença que deveria ser tratada, embora já não constasse mais nos manuais</p><p>médicos desde 17 de maio de 1990, quando a Organização Mundial de Saúde</p><p>(OMS, 1996) a descaracterizou como doença.</p><p>Já o discurso midiático, impulsionado pela globalização e pelo alcance dos meios</p><p>de comunicação de massa, apresenta a sexualidade muitas vezes sem filtro, expon-</p><p>do-a massivamente em programas de entretenimento e peças publicitárias. Se, por</p><p>um lado, a sexualidade é exposta como algo que está ali e que pode ser explorada</p><p>de forma sadia e segura, por outro, a mídia nem sempre oferece suporte de como</p><p>isso pode ser feito pela criança ou pelo jovem. Ou seja, muitas vezes as informações</p><p>de qualidade ou suporte para que a criança ou o jovem possam buscar exercer essa</p><p>sexualidade dentro do que pode ser considerado sadio para cada faixa etária não é</p><p>visto ou é pouco explorado pela grande comunicação de massa.</p><p>O que se percebe ao identificar como a sexualidade é entendida em cada sociedade</p><p>é que em cada momento histórico ela é apresentada a partir das concepções normal</p><p>versus anormal. Se pensarmos na ideia muitas vezes concebida de sexualidade restri-</p><p>ta ao ato sexual, ao coito, é possível perceber que em dado momento histórico, ou a</p><p>partir de determinada concepção religiosa, ela tinha (ou tem) um caráter ligado pura-</p><p>mente à reprodução, não dando lugar às reflexões sobre a possibilidade do prazer</p><p>sexual e do exercício do que hoje se conhece como sexo lúdico ou recreativo, que</p><p>é o sexo sem qualquer intenção procriativa, feito por prazer e divertimento. Levan-</p><p>do-se em conta a ideia do sexo como ato sexual, percebe-se que qualquer forma</p><p>de sexualidade que não seja vinculada à reprodução é considerada perversão, e o</p><p>que não responde aos critérios socialmente estabelecidos ameaçam a ordem vigen-</p><p>te (SALLES; CECCARELLI, 2010).</p><p>Da mesma forma que a concepção de sexualidade pode ser restrita ou não à procria-</p><p>ção, a heteronormatividade, outro assunto da sexualidade, também pode ser creditada</p><p>42</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>ou valorizada em um período ou uma sociedade, enquanto em outros períodos ou</p><p>sociedade os comportamentos hostis à toda forma de variação dessa perspectiva</p><p>podem legitimar o preconceito, a intolerância e a violência. Neste último cenário, não</p><p>há muito espaço para se pensar a homossexualidade, a bissexualidade, a transgeneri-</p><p>dade ou outras variações como possíveis em indivíduos “normais” e “saudáveis”.</p><p>Bissexualidade: orientação sexual definida pela capacidade de atração física,</p><p>estética e/ou emocional por pessoas de ambos os sexos ou gêneros.</p><p>Heteronormatividade: palavra derivada do grego hetero (diferente) e norma,</p><p>do latim. É um termo que define que somente relacionamentos heterossexuais</p><p>(entre pessoas de sexos opostos) são corretos e normais. Deste modo, as situa-</p><p>ções nas quais a orientação sexual não é heterossexual são excluídas, ignoradas,</p><p>perseguidas ou marginalizadas por meio de práticas sociais, políticas e crenças</p><p>ideológicas/religiosas.</p><p>Homossexualidade: orientação sexual definida pela capacidade de atração físi-</p><p>ca, estética e/ou emocional por pessoas do mesmo sexo ou gênero.</p><p>Transgeneridade: refere-se a pessoas transgênero, que têm uma identidade de</p><p>gênero diferente do seu sexo biológico.</p><p>Foucault (1988) chama atenção para o fato de na atualidade ainda haver resquí-</p><p>cios de concepções sobre sexualidade que circulavam em outros séculos. A ideia já</p><p>mencionada da redução</p><p>da sexualidade à função reprodutiva, heterossexual e adulta,</p><p>por exemplo, data do século XIX. Nesta perspectiva, vê-se que todas as outras formas</p><p>de exercer a sexualidade, que fogem a essas normas, são consideradas “anormais”,</p><p>“desviantes” ou “periféricas”. Estas, por consequência, tendem a ser negadas e margi-</p><p>nalizadas.</p><p>É importante perceber que, enquanto construção social, a forma como entendemos</p><p>e vivemos a sexualidade é produzida na família, no convívio social, nas instâncias</p><p>43</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>religiosas e também na escola. São essas instituições que transmitem as regras,</p><p>normas e condutas que são estipuladas como aceitas e não aceitas pela nossa socie-</p><p>dade (LOURO, 2000), contribuindo para a formação de nossas crenças e valores, e</p><p>atuando sobre nosso comportamento. Para o sujeito em construção, estes valores</p><p>funcionam como suportes de identificação com a cultura a qual se faz parte (SALLES;</p><p>CECCARELLI, 2010).</p><p>A teoria Sociointeracionista do Desenvolvimento, também conhecida como Sócio-</p><p>-Histórica ou Sociocultural, de Lev. S. Vygotsky (1991), nos auxilia a compreender</p><p>como esses processos de interiorização das regras, normas e convenções da cultura</p><p>se dão. Na teoria vygotskyana, acredita-se que o homem, sujeito biológico, conver-</p><p>te-se em sujeito social na medida em que interage com o meio que o cerca. Desta</p><p>perspectiva, considera-se que a formação do homem se dá primeiramente em um</p><p>nível social, no processo de internalização dos signos, como a língua e os códigos de</p><p>comunicação, conduta, normas e padrões da cultura, para somente depois se consti-</p><p>tuir no nível individual.</p><p>Assim, a formação e o desenvolvimento humano são entendidos nas dimensões</p><p>sociais, culturais e políticas, e estes aspectos são determinantes para a construção da</p><p>sexualidade, constituindo suas particularidades, noções e manifestações. Podemos</p><p>afirmar que este processo acontece desde a mais tenra idade, na primeira infância,</p><p>momento no qual o bebê já se encontra rodeado de informações e conhecimentos</p><p>que lhe serão transmitidos ao longo de toda a sua vida. Com a mudança de contex-</p><p>to, cultura e fatos históricos, essas informações e conhecimentos são remodelados,</p><p>modificando a consciência e o comportamento do ser humano (MEIRA; SANTANA,</p><p>2014).</p><p>Tendo isso em vista, pode-se pensar que, como cada ser humano carrega um saber</p><p>social e historicamente construído, tudo o que é internalizado se relaciona com as</p><p>transformações do mundo, criando novos conhecimentos e estabelecendo diferen-</p><p>tes significados e conceitos (MEIRA; SANTANA, 2014). É por conta destes fatores que</p><p>muitas vezes as ideias e comportamentos acerca da sexualidade diferem muito de</p><p>lugar para lugar e de tempos em tempos, sendo às vezes mais libertárias e, em outras,</p><p>mais tradicionais ou repressivas.</p><p>44</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>A sexualidade adolescente na década de 1990 era vista como uma força impul-</p><p>sionadora sobre a qual o jovem não tinha controle. Influenciada por concepções</p><p>e ideologias conservadoras, como demonstrado no filme Kids, de 1995 (GIROUX,</p><p>1996), o comportamento adolescente, especialmente no que se referia à sexua-</p><p>lidade, era algo fora de controle, que exigia restrição, vigilância e outras formas</p><p>de poder disciplinar. Movido pelo impulso, o jovem fazia sexo desprotegido e</p><p>se expunha às doenças e gravidez não desejada. Na atualidade, com as novas</p><p>configurações familiares e as novas formas de parentalidade, percebe-se uma</p><p>autonomia maior do jovem em relação a estes aspectos. Hoje a questão da</p><p>sexualidade é encarada de uma outra forma por algumas famílias, que permi-</p><p>tem que o(a) filho(a) durma em casa com o(a) namorado(a), que conversam</p><p>sobre contracepção, por exemplo.</p><p>Parentalidade: processo de construção da relação dos pais com os filhos.</p><p>Pelo exposto, fica evidente que tanto o acesso quanto a construção do conhecimento,</p><p>assim como os preconceitos, curiosidades e tabus acerca da sexualidade, são deter-</p><p>minados por contextos específicos ao longo da história de cada um. Na perspectiva</p><p>sócio-histórica, é a partir das interações sociais e pelas aprendizagens dos discursos e</p><p>conhecimentos (historicamente construídos) que a formação, posição e atuação no</p><p>campo da sexualidade será delineada (MEIRA; SANTANA, 2014).</p><p>45</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>2.1.2 IMPLICAÇÕES DE ALGUNS ASPECTOS SOCIAIS,</p><p>HISTÓRICOS E CULTURAIS NA CONSTRUÇÃO DA</p><p>SEXUALIDADE HUMANA</p><p>Como você já viu, a sexualidade incorpora aspectos históricos, culturais e sociais que</p><p>constituem a forma como a entendemos e as experienciamos. Os condicionantes</p><p>históricos, as ideologias presentes na sociedade em que vivemos, a configuração e</p><p>as formas de educação recebidas na família, o exercício da religiosidade, a forma</p><p>como a escola entende e aborda a temática, a política e os recursos midiáticos, entre</p><p>outras instâncias, propagam discursos e formas de pensar a sexualidade, conferindo-</p><p>-lhe status (aceitável x não aceitável), valores (bom x mau) e normatividade (normal</p><p>x anormal).</p><p>FIGURA 9 - ASPECTOS QUE TRAZEM IMPLICAÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO DA</p><p>SEXUALIDADE</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>46</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>Um exemplo da infiltração do religioso no imaginário das pessoas é a questão</p><p>da esterilidade, que até o século XI era um indicador de alguma forma de impu-</p><p>reza entre o casal. Nas mulheres bonitas, era um castigo de Deus, e nas feias, era</p><p>um castigo pela inveja que sentiam das bonitas (DEL PRIORE, 2001).</p><p>A posição durante o ato sexual, a passividade da mulher, a condenação pela busca</p><p>pelo prazer, a luxúria, toda essa influência histórica e religiosa recaem sobre os indi-</p><p>víduos que compõem a sociedade, sua personalidade e a construção de sua história</p><p>enquanto sujeito. Assim, a forma como absorvemos/introjetamos essas questões vai</p><p>ser determinante na forma como vemos, pensamos e agimos frente à sexualidade. A</p><p>sexualidade legítima no seio da família, com a finalidade de procriação, ainda hoje é</p><p>defendida em alguns discursos.</p><p>Pense na sua experiência pessoal e em como essas influências fizeram (e fazem) parte</p><p>de quem você é hoje. Será que se você tivesse nascido em outra época ou em outra</p><p>cultura sua forma de agir e pensar sobre a sexualidade seria diferente? É bem prová-</p><p>vel que a resposta seja sim! Essa reflexão talvez auxilie você a compreender como</p><p>muitas vezes parece difícil para os pais e familiares compreenderem os padrões e</p><p>costumes dos dias de hoje. Muita coisa mudou desde o tempo em que eles eram</p><p>mais jovens, não é mesmo? Agora, pense nas crianças de hoje, na forma como elas</p><p>aprendem, como acessam a informação e no modo como vivem suas experiências.</p><p>Como será que elas estão construindo sua sexualidade? O que será que têm absorvi-</p><p>do e introjetado?</p><p>O exercício de refletir na experiência da criança de hoje tem um motivo bem simples</p><p>e especial: são essas crianças que estarão em contato com você, futuro professor, nas</p><p>salas de aula daqui a algum tempo! O que isso quer dizer? Ora, que as questões que</p><p>se vivencia atualmente na sociedade, a forma como concebemos a sexualidade, a</p><p>maneira como nossa cultura a manifesta (ou aceita suas manifestações) serão deter-</p><p>minantes na formação destes sujeitos.</p><p>Para tentar compreender o que isso pode significar e entender suas possíveis</p><p>47</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>implicações, basta que você pense nos discursos e ideias hoje em voga sobre sexuali-</p><p>dade. Como você tem encarado os debates atuais que envolvem essa temática?</p><p>A sexualidade ainda tem sido vista e analisada sobre perspectivas equivocadas</p><p>na atualidade. Apesar de alguns avanços, elementos de uma cultura repressiva</p><p>ainda pairam nos discursos familiares, religiosos e políticos. Essas questões são</p><p>discutidas por Dinis e Luz (2007), que abordam a necessidade de uma recon-</p><p>figuração na forma de analisar a sexualidade e de se oferecer uma educação</p><p>sexual. Por isso, caso queira se aprofundar neste tema, você pode ler o artigo</p><p>“Educação sexual na perspectiva histórico-cultural” destes autores, disponível na</p><p>internet. O artigo foi publicado em 2007 na revista Educar.</p><p>As tensões vividas no passado e no presente, muitas vezes associadas aos posicio-</p><p>namentos de líderes religiosos e políticos, absorvidos e propagados por algumas</p><p>famílias, ocasionam, de alguma forma, medo, insegurança e desinformação para as</p><p>pessoas. Se pensarmos nas crianças e jovens que, naturalmente, devido ao desenvol-</p><p>vimento, têm curiosidades e desejam saber mais sobre essa temática, faz-se impor-</p><p>tante responsabilizar-se pelo que se dissemina e pela forma como se expressa atitu-</p><p>des e comportamentos. Silenciar as dúvidas e negar a existência da diversidade não</p><p>é benéfico para a construção da sexualidade. Foucault (1988) critica esse posiciona-</p><p>mento. Colocar em debate temas, como gênero, corpo, sexualidade, é essencial para</p><p>uma abordagem que se pressupõe séria (SANTOS; SOUZA, 2015).</p><p>Quer queiramos, quer não, no mundo em que vivemos, surgem outras formas</p><p>de relação entre os sexos, novas modalidades de aliança e filiação, visíveis e</p><p>legalizadas. Homoerotismo, homoafetividade e homoparentalidade estão aí</p><p>e dirigem várias perguntas a nós e a nossos modelos. Pessoas do mesmo sexo</p><p>podem casar-se, e casais homoafetivos podem adotar crianças. O mundo se</p><p>transforma e se organiza (NETTO, 2018, p. 213).</p><p>As questões debatidas fazem parte da dimensão do ser humano, portanto, obriga-</p><p>toriamente, convivemos com elas. Como sujeitos histórico-sociais, construímos nossa</p><p>identidade na relação com o outro, e é desta maneira que aprendemos a perceber,</p><p>48</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>entender e vivenciar as múltiplas formas e dimensões da sexualidade (DINIS; LUZ,</p><p>2007).</p><p>CONCLUSÃO</p><p>Nesta unidade você estudou sobre como as questões históricas, culturais e sociais</p><p>podem influenciar a construção da sexualidade humana. Tendo como perspectiva</p><p>a sexualidade em suas múltiplas dimensões e manifestações, foram apresentados</p><p>exemplos de como uma prática ou concepção pode ser aceita e valorizada em uma</p><p>sociedade e condenada em outra.</p><p>A partir dos condicionantes históricos e culturais foi possível analisar como família,</p><p>igreja, política, escola e mídia colaboram para difundir ideias, crenças e padrões espe-</p><p>rados pela sociedade, determinando o que é “normal” e “anormal”, “próprio” e “impró-</p><p>prio”, “aceitável” ou “inaceitável”. Esses padrões moldam a forma de pensar e viver das</p><p>pessoas que fazem parte da sociedade, influenciando suas condutas e comporta-</p><p>mentos.</p><p>Tais condicionantes inevitavelmente acarretam algumas implicações para a cons-</p><p>trução da sexualidade dos indivíduos, por isso, alguns aspectos sociais, históricos e</p><p>culturais foram estudados sob essa ótica, objetivando uma abordagem plural, que</p><p>considera a diversidade como natural ao desenvolvimento humano. Deste ponto de</p><p>vista, foi possível compreender a importância de se considerar a sexualidade como</p><p>uma construção múltipla e diversa, superando concepções restritas e conservadoras.</p><p>49</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao final desta</p><p>unidade,</p><p>esperamos</p><p>que possa:</p><p>> Recordar que a sexualidade é</p><p>manifesta desde a primeira infância</p><p>e evolui ao longo da vida do ser</p><p>humano.</p><p>> Identificar as fases do</p><p>desenvolvimento psicossexual e as</p><p>manifestações da sexualidade na</p><p>infância e adolescência.</p><p>> Avaliar as implicações de alguns</p><p>aspectos sociais, históricos</p><p>e culturais na construção da</p><p>sexualidade humana.</p><p>> Valorizar o papel da escola para</p><p>a promoção de ações voltadas</p><p>à consciência sobre a saúde e à</p><p>construção da identidade sexual</p><p>saudável.</p><p>UNIDADE 3</p><p>50</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>3 SEXUALIDADES: NÍVEL</p><p>BIOLÓGICO E PSICOSSEXUAL</p><p>E SUAS MANIFESTAÇÕES NA</p><p>INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA</p><p>Nesta unidade você irá estudar sobre a sexualidade em seus níveis biológico e psicos-</p><p>sexual, entendendo-a a partir do ponto de vista do crescimento e desenvolvimento,</p><p>mas também como algo construído ao longo da história de um indivíduo. Como</p><p>uma construção histórico-social, a sexualidade é influenciada por questões sociais,</p><p>políticas, religiosas e culturais, moldando a forma de pensá-la e exercê-la durante a</p><p>vida. Essas manifestações estão presentes desde a infância, e é objetivo desta unida-</p><p>de abordar a Teoria Psicossexual do Desenvolvimento, apresentando a característi-</p><p>ca de cada fase de vida e suas manifestações, desde o período pós-nascimento até</p><p>a entrada na vida adulta. Também serão abordados os problemas de saúde mais</p><p>prevalentes na infância e adolescência, e seus condicionantes socioeconômicos e de</p><p>estilo de vida, assim como o papel da escola na promoção de ações que favoreçam a</p><p>consciência sobre os direitos relacionados à saúde e à construção de uma identidade</p><p>sexual saudável.</p><p>Contamos com você nesta viagem pelo conhecimento!</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>O presente conteúdo foi elaborado com o objetivo de apresentar a sexualidade em</p><p>seus níveis biológico e psicossexual. A partir do estudo do crescimento orgânico e</p><p>do desenvolvimento das funções do corpo, serão também abordados outros fato-</p><p>res, como os psicológicos, que influenciam as formas de se entender e manifestar a</p><p>sexualidade ao longo da vida.</p><p>A base para a construção da noção de sexualidade a partir da infância se dará pelo</p><p>estudo da Teoria Psicossexual do Desenvolvimento, proposta por Freud, que apresenta</p><p>51</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>diferentes fases pelas quais cada indivíduo passa no processo de construção da sua</p><p>identidade sexual.</p><p>Em seguida, serão apresentados os principais problemas de saúde na infância e</p><p>adolescência, e seus condicionantes socioeconômicos e de estilo de vida, trazendo a</p><p>importância da atenção integral à saúde, especialmente no período da adolescência,</p><p>fase em que os jovens estão mais vulneráveis a comportamentos de risco e expostos</p><p>a diferentes tipos de violência.</p><p>Por fim, será abordado o papel da escola como instituição capaz de oferecer infor-</p><p>mação de qualidade para que crianças e jovens desenvolvam sua sexualidade de</p><p>forma saudável e aprendam sobre seus direitos em relação à prevenção, promoção e</p><p>melhoria das condições de saúde.</p><p>3.1 SEXUALIDADES: NÍVEL BIOLÓGICO E</p><p>PSICOSSEXUAL E SUAS MANIFESTAÇÕES NA</p><p>INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA</p><p>Sexualidade é um conceito amplo, que vai para além da questão do sexo, do ato</p><p>sexual, da reprodução. É uma construção sócio-histórico-cultural que constitui a iden-</p><p>tidade de cada um de nós e se manifesta durante toda a nossa vida. Para além do</p><p>corpo, que se transforma e possibilita o desempenho de diferentes funções ao longo</p><p>do desenvolvimento, apresenta componentes psíquicos, que atuam sobre nossa</p><p>forma de ver, entender e viver as relações entre homens e mulheres, a orientação do</p><p>desejo, as questões relacionadas à saúde, dentre outras tantas que fazem parte do</p><p>nosso cotidiano. A sexualidade influencia a saúde física e mental, assim como nossos</p><p>pensamentos, sentimentos, ações e interações (OMS, 1975 apud EGYPTO, 2003). A</p><p>manifestação dessas vivências, tanto na infância quanto na adolescência, tem sido</p><p>estudada há muitos anos e são essas questões que serão abordadas nessa unidade.</p><p>Vamos juntos nessa descoberta?</p><p>52</p><p>Educação, SaúdE E SExualidadE</p><p>SUMÁRIO</p><p>3.1.1 SEXUALIDADE INFANTIL: A CRIANÇA COMO SER</p><p>SEXUAL</p><p>O que você pensa sobre a ideia de a criança manifestar sexualidade desde a mais</p><p>tenra idade? Será que é mesmo possível sentir prazer na infância? A partir de que</p><p>idade isso ocorre?</p><p>Essas questões até hoje provocam espanto e indignação em muita gente! Imaginar</p><p>que o bebê ou a criança apresenta comportamento sexual é algo impensável para</p><p>grande parte das pessoas. Em 1915/16, na XX Conferência de Viena, Sigmund Freud</p><p>falou, pela primeira vez, sobre essas ideias. Em seu discurso sobre a vida sexual dos</p><p>seres humanos, ele afirmou que a sexualidade está presente</p>