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<p>1Curso	Ênfase	©	2020</p><p>Direito	Do	Trabalho	–	Joalvo	Magalhães</p><p>Trabalho	Ilícito	E	Trabalho	Proibido</p><p>Olá,	 pessoal.	 Estamos	 de	 volta	 com	 mais	 uma	 unidade	 de</p><p>aprendizagem	e	vamos	trabalhar	agora	o	trabalho	ilícito	e	o	trabalho</p><p>proibido.</p><p>Iniciando	 a	 nossa	 unidade	 de	 aprendizagem,	 uma	 pergunta</p><p>provocadora,	 que	 é,	 sem	 dúvida	 alguma	 uma	 pergunta	 muito</p><p>importante:	 A	 distinção	 entre	 trabalho	 ilícito	 e	 trabalho</p><p>proibido?</p><p>2Curso	Ênfase	©	2020</p><p>Qual	a	diferença	entre	o	trabalho	ilícito	e	o	trabalho	proibido?</p><p>Vamos	lembrar	da	teoria	das	nulidades	trabalhistas.</p><p>3Curso	Ênfase	©	2020</p><p>É	muito	importante	entender	a	teoria	das	nulidades	trabalhistas	para</p><p>entender	a	distinção	entre	trabalho	ilícito	e	trabalho	proibido.</p><p>Vejam,	 pela	 teoria	 das	 nulidades	 trabalhistas	 há	 uma	 preocupação</p><p>com	trabalho	que	foi	despendido	pelo	empregado,	porque	ele	não	tem</p><p>como	 retornar.	No	 direito	 civil	 quando	 se	 declara	 a	 nulidade	 de	 um</p><p>contrato,	 vamos	 imaginar	uma	compra	e	venda	 foi	declarada	nula,	o</p><p>dinheiro	 você	 devolve	 e	 o	 bem	 é	 restituído.	 Isso	 é	 perfeitamente</p><p>possível	de	acontecer.</p><p>No	direito	do	trabalho	não,	essa	solução	é	inviável,	porque	o	trabalho</p><p>despendido,	 o	 trabalho	 realizado	 e	 o	 tempo	 gasto,	 não	 tem	 como</p><p>retornar	 e	 não	 tem	 como	 ser	 devolvido.	 Diante	 disso,	 há	 uma</p><p>preocupação	no	âmbito	do	direito	trabalho	de	que	aquele	trabalho	já</p><p>realizado	 seja	 remunerado.	 Aquele	 trabalho	 já	 realizado	 seja</p><p>corretamente	 pago	 pelo	 empregador,	 ainda	 que	 haja	 alguma</p><p>invalidade	e	ainda	que	haja	alguma	nulidade.</p><p>Nesse	 contexto,	 pessoal,	 é	 muito	 importante	 fazer	 a	 diferenciação</p><p>entre	trabalho	ilícito	e	trabalho	proibido.</p><p>4Curso	Ênfase	©	2020</p><p>Essa	 é	 uma	 distinção	 importantíssima:	 trabalho	 ilícito	 e	 trabalho</p><p>proibido.	Vamos,	então,	colocar	aqui	o	nosso	conteúdo	importante.</p><p>CONTEÚDO	IMPORTANTE</p><p>Na	verdade,	quando	nós	pensamos	em	um	trabalho	ilícito,	nós	temos</p><p>que	lembrar	antes	e	saber	o	que	é	um	objeto	lícito.</p><p>5Curso	Ênfase	©	2020</p><p>A	 licitude	 tem	 a	 ver	 com	 respeitar	 a	 lei,	 a	 moral,	 os	 princípios	 de</p><p>ordem	pública	e	os	bons	costumes.	Vamos	lembrar	que	o	art.	104	do</p><p>Código	 Civil	 (CC)	 estabelece	 que	 o	 objeto	 deve	 ser	 lícito,	 possível,</p><p>determinado	ou	determinável.	O	objeto	 lícito	é	aquele	que	respeita	a</p><p>lei,	a	moral,	os	princípios	de	ordem	pública	e	os	bons	costumes.</p><p>Ora,	se	isso	é	lícito,	o	que	seria	o	trabalho	ilícito?</p><p>Trabalho	 ilícito	 é	 aquele	 que	 viola	 a	 lei,	 viola	 a	 moral,	 viola	 os</p><p>princípios	 de	 ordem	 pública	 e	 viola	 os	 bons	 costumes.	 Esse	 é	 o</p><p>trabalho	ilícito.</p><p>Ora,	 muito	 bem,	 o	 trabalho	 ilícito	 é	 aquele	 cujo	 objeto	 é	 ilícito	 e	 a</p><p>finalidade	é	ilícita,	por	exemplo,	o	sujeito	é	contratado	como	matador</p><p>de	aluguel.</p><p>Qual	é	a	finalidade	do	contrato?</p><p>6Curso	Ênfase	©	2020</p><p>Matar	pessoas.</p><p>Ou	como	traficante	de	drogas.</p><p>Qual	é	o	objetivo	do	contrato?</p><p>Vender	drogas.</p><p>Ou	o	médico	que	é	contratado	para	realizar	aborto	criminoso	ou	um</p><p>contrato	para	trabalhar	com	rinhas	de	galo,	que	é	algo	ilícito.</p><p>Todas	 essas	 atividades,	 normalmente,	 são	 crimes	 ou	 contravenções</p><p>penais.	Isso	vai	redundar	no	chamado	trabalho	ilícito.</p><p>O	que	é,	então,	Joalvo,	o	trabalho	ilícito?</p><p>É	 aquele	 trabalho	 cujo	 objeto	 é	 ilícito.	 Muitas	 vezes,	 um	 crime	 ou,</p><p>muitas	vezes,	uma	contravenção.</p><p>O	 trabalho	 sendo	 lícito,	 o	 contrato	 de	 trabalho	 não	 pode	 produzir</p><p>qualquer	 tipo	 de	 efeito.	 Isso	 é	 interessante,	 porque	 a	 teoria	 das</p><p>nulidades	 trabalhistas	 normalmente	 tenta	 salvar	 o	 contrato	 de</p><p>trabalho,	porque	a	mão	de	obra	não	tem	como	ser	ressarcida	e	a	mão</p><p>de	obra	não	tem	como	ser	devolvida	ao	empregado,	mas,	no	caso,	do</p><p>trabalho	ilícito	não.</p><p>Como	é	um	objeto	 ilícito	que	prejudica	 toda	a	sociedade	e	prejudica</p><p>questões	 de	 ordem	 pública,	 nem	 mesmo	 a	 proteção	 que	 o	 direito</p><p>trabalho	 confere	 ao	 empregado	 vai	 prevalecer	 nesse	 caso,	 porque</p><p>dada	a	ilicitude,	o	crime	ou	a	contravenção	que	foi	praticada,	não	vai</p><p>poder	 ser	 aproveitado	 e	 não	 vai	 poder	 ser	 reconhecido	 o	 vínculo	 de</p><p>7Curso	Ênfase	©	2020</p><p>emprego	naquele	caso	específico.</p><p>Qual	 é	 a	 diferença	 do	 trabalho	 ilícito	 para	 o	 trabalho</p><p>proibido?</p><p>O	trabalho	 ilícito	constitui	um	crime	ou	uma	contravenção,	algo	que</p><p>prejudica	 toda	 a	 sociedade.	 Já	 o	 trabalho	 proibido	 não.	 O	 trabalho</p><p>proibido	 tem	 um	 objeto	 lícito,	 porém,	 aquele	 trabalho	 e	 naquela</p><p>circunstância	 é	 proibido	 para	 aquela	 pessoa,	 como	 uma	 forma	 de</p><p>proteger	o	trabalhador.</p><p>Vou	dar	um	exemplo	pessoal:	Prestação	de	horas	extras	acima	de	duas</p><p>horas.	 É	 um	 trabalho	 proibido.	 Via	 de	 regra,	 o	 trabalhador	 só	 pode</p><p>fazer	duas	horas	extras	por	dia.	Se	ele	presta	cinco	horas	extras,	está</p><p>laborando	em	proibição	legal.</p><p>Mas	 aquele	 objeto	 é	 ilícito,	 está	 cometendo	 algum	 crime,</p><p>contravenção	ou	está	prejudicando	alguém?</p><p>Não.	 Ele	 está	 prejudicando	 a	 ele	 próprio.	 O	 empregador	 está</p><p>prejudicando	ele	próprio.	Então,	nesse	caso,	o	empregador	vai	ter	que</p><p>pagar	todas	essas	horas	extras.</p><p>A	 diferença	 do	 trabalho	 proibido	 para	 o	 trabalho	 ilícito	 é	 essa.	 O</p><p>trabalho	proibido	vai	ser	uma	situação,	na	qual	a	norma	desrespeitada</p><p>era	 uma	 norma	 de	 proteção	 ao	 trabalhador	 e	 uma	 vez	 que	 o</p><p>empregador	 desrespeitou	 uma	 norma	 de	 proteção	 ao	 trabalhador,</p><p>como,	 por	 exemplo,	 contratar	 um	menor	 de	 14	 anos,	 o	 empregador</p><p>não	vai	poder	se	locupletar	nesse	ato	lícito.	Ele	não	vai	poder	utilizar	a</p><p>sua	 torpeza	 para	 não	 pagar	 e	 para	 não	 assegurar	 os	 direitos</p><p>trabalhistas.</p><p>8Curso	Ênfase	©	2020</p><p>Já	 no	 trabalho	 ilícito	 não.	Como	 temos	um	crime,	 uma	 contravenção</p><p>ou	um	objeto	ilícito,	nesse	caso,	o	trabalhador	não	vai	ter	nenhum	tipo</p><p>de	direito	assegurado.</p><p>Em	relação	à	prostituição,	muito	 se	debate	 sobre	a	característica	da</p><p>prostituição.</p><p>Seria	 um	 trabalho	 proibido	 ou	 seria	 um	 trabalho	 ilícito</p><p>trabalho?	Seria	um	trabalho	lícito?</p><p>Há	 uma	 certa	 divergência	 quanto	 a	 isso.	 Há	 quem	 defenda	 que	 a</p><p>prostituição	deveria	ser	regulamentada	e	ser	considerada	um	contrato</p><p>de	trabalho	como	outro	qualquer.</p><p>No	entanto,	vamos	 lembrar	aqui	que,	embora	a	prostituição	não	seja</p><p>crime,	 é	 crime	 explorar	 a	 prostituição.	 Imaginem	 vocês	 que	 exista</p><p>9Curso	Ênfase	©	2020</p><p>uma	 empresa	 que	 explore	 a	 prostituição	 das	 suas	 empregadas.	 Essa</p><p>exploração	 é	 crime	 e	 a	 empregada	 que	 está	 sendo	 explorada	 está</p><p>participando	daquela	prostituição	e	participando	daquele	crime.</p><p>Então,	não	é	possível	 reconhecer	a	validade	do	contrato	de	 trabalho,</p><p>nesse	 caso,	 até	 porque	 viola	 os	 bons	 costumes	 e	 valores	 de	 ordem</p><p>pública.	Forçar	alguém	a	realizar	a	atividade	sexual,	então,	o	Direito</p><p>do	Trabalho	ainda	não	alberga	a	validade	desse	contrato.</p><p>Há	 situações	 como,	 por	 exemplo,	 garçonete	 que	 trabalha	 em	 um</p><p>prostíbulo,	 mas	 ela	 não	 é	 prostituta,	 só	 garçonete.	 A	 atividade	 dela</p><p>não	 está	 ligada	 ao	 crime,	 então,	 nesse	 caso,	 poderia	 ser	 admitido	 o</p><p>seu	vínculo	de	emprego.</p><p>Há	situações	que	são	mais	difíceis,	por	exemplo,	uma	dançarina.	Ela</p><p>está	dançando	e,	via	de	regra,	dançar	não	é	se	prostituir,	mas	ela	está</p><p>atraindo	clientes	para	que	haja	depois,	ali,	a	atividade	de	prostituição.</p><p>Então,	 alguns	 julgados	 já	 reconhecem	 a	 ilicitude	 desse	 tipo	 de</p><p>contratação.</p><p>10Curso	Ênfase	©	2020</p><p>Há	também	outras	discussões,	por	exemplo,	um	professor	que	dá	aula</p><p>sem	ter	a	devida	formação	ou	um	vigilante	que	não	tem	a	formação	e</p><p>o	 certificado	 para	 ser	 vigilante.	 Há	 uma	 certa	 divergência	 na</p><p>doutrina.</p><p>Se	prevalece	o	princípio	da	primazia	da	realidade,	o	que	vai	importar</p><p>é	a	 função	efetivamente	exercida	ou	se	vai	prevalecer	a	exigência	de</p><p>formação.	 Então,	 o	 professor	 que	 não	 é	 formado	 não	 poderia	 ter</p><p>reconhecido	 o	 vínculo	 de	 emprego	 como	 professor,	 porque	 ele	 não</p><p>tem	o	bacharelado	ou	a	licenciatura	necessária	para	dar	aula.</p><p>O	Tribunal</p><p>Superior	do	Trabalho	 (TST)	 tem	uma	OJ	 	 nº	296	em	que</p><p>não	permite	a	equiparação	salarial	de	um	atendente	com	um	auxiliar</p><p>de	 enfermagem.	 Muitas	 vezes,	 o	 atendente	 entrava	 com	 uma	 ação</p><p>dizendo	que	fazia	a	mesma	função	do	auxiliar	de	enfermagem	e	pedia</p><p>a	equiparação	salarial.	O	TST	diz	que	não	é	possível	essa	equiparação,</p><p>porque	o	auxiliar	de	enfermagem	tem	uma	formação	diferenciada	e	o</p><p>11Curso	Ênfase	©	2020</p><p>atendente	 não	 tendo	 um	 curso	 de	 auxiliar	 de	 enfermagem,	 não</p><p>poderia	ganhar	o	mesmo	salário.</p><p>Também	 há	 uma	 questão	 dessa	 falta	 de	 formação	 profissional,	 que</p><p>pode	 gerar	 a	 nulidade	 do	 contrato,	 quando	 ela	 se	 traduzir	 em	 um</p><p>objeto	ilícito.	É	também	uma	outra	discussão,	por	exemplo,	isso	pode</p><p>redundar	no	exercício	ilegal	da	profissão.</p><p>Vamos	 imaginar	 um	 dentista	 que	 é	 contratado	 por	 uma	 clínica	 de</p><p>odontologia,	 mas	 ele	 não	 é	 um	 dentista	 formado.	 Ele	 não	 tem	 a</p><p>formação,	 falsifica	 o	 diploma,	 entrega	 para	 o	 seu	 empregador	 e	 é</p><p>contratado.	Trabalha	alguns	anos	como	dentista.</p><p>Será	que	ele	pode	depois	pedir	 o	 reconhecimento	do	 vínculo</p><p>de	emprego	ou	será	que	haveria	uma	ilicitude	do	objeto?</p><p>12Curso	Ênfase	©	2020</p><p>Nesse	caso,	é	até	um	crime	exercício	 ilegal	da	profissão.	A	profissão</p><p>de	 dentista	 exige	 a	 formação	 em	 odontologia.	 Se	 ele	 não	 tem	 essa</p><p>formação,	está	cometendo	um	crime	e,	cometendo	um	crime,	não	vai</p><p>poder	se	formar	a	relação	de	emprego,	já	que	há	uma	ilicitude	dentro</p><p>daquele	objeto.</p><p>Situação	 já	mais	 comum	na	 Justiça	 do	 Trabalho	 e	 que	 gera	 também</p><p>uma	série	de	discussões	é	a	situação	do	trabalhador	em	jogo	do	bicho,</p><p>que	 é	 uma	 modalidade	 de	 apostas	 muito	 comum	 no	 Brasil	 e	 que</p><p>encontra	uma	certa	 tolerância	dentro	da	nossa	 sociedade.	É	possível</p><p>ver	várias	bancas	de	 jogo	do	bicho	em	várias	cidades,	no	 interior,	na</p><p>Capital	e	em	grandes	centros	urbanos.	Muitas	vezes,	a	polícia	passa	e</p><p>não	 toma	 qualquer	 conhecimento	 daquelas	 atividades	 que	 são</p><p>realizadas.</p><p>Diante	dessa	situação,	vários	trabalhadores	em	jogo	do	bicho,	muitas</p><p>vezes,	entram	com	a	ação	pedindo	o	reconhecimento	com	o	bicheiro,</p><p>o	 dono	 da	 banca	 do	 jogo	 do	 bicho.	 Pedindo	 o	 reconhecimento	 do</p><p>vínculo	de	emprego.</p><p>Nesse	caso,	seria	possível	reconhecer	o	vínculo	de	emprego?</p><p>Há	algumas	correntes.</p><p>13Curso	Ênfase	©	2020</p><p>A	primeira	 corrente	diz	o	 seguinte:	O	 sujeito	que	 trabalha	com	 jogo</p><p>do	 bicho,	 qualquer	 atividade	 dele	 está	 contribuindo	 para	 esta</p><p>contravenção	penal.	O	jogo	do	bicho	nós	sabemos	não	é	crime,	mas	é</p><p>uma	contravenção	penal.	O	objeto,	então,	seria	ilícito	e	não	haveria	a</p><p>possibilidade	de	reconhecimento	do	vínculo	de	emprego.</p><p>Há	 quem	 defenda	 que	 o	 contrato	 é	 válido,	 já	 que	 o	 jogo	 do	 bicho	 é</p><p>tolerado.	 Para	 quem	 usa	 esse	 argumento	 diz	 o	 seguinte:	 O	 poder</p><p>público	não	faz	nada,	o	jogo	do	bicho	é	totalmente	tolerado	e	apenas	o</p><p>empregado	que	sai	prejudicado,	porque	não	tem	reconhecido	os	seus</p><p>direitos	 trabalhistas.	 Essa	 tese,	 porém,	 é	 amplamente	 minoritária	 e</p><p>não	é	admitida.</p><p>Há	 quem	 defenda	 a	 teoria	 da	 dosagem,	 ou	 seja,	 de	 acordo	 com	 o</p><p>conhecimento	e	a	participação	do	empregado	na	atividade	ilícita,	ele</p><p>poderia	 ter	 ou	 não	 o	 reconhecimento	 do	 vínculo	 de	 emprego,	 que	 é</p><p>parecida	 com	 a	 outra	 teoria	 que	 é	 a	 atividade	 desenvolvida.	 Vai</p><p>14Curso	Ênfase	©	2020</p><p>depender	 muito	 da	 atividade,	 pois	 se	 o	 sujeito	 está	 vendendo	 ou</p><p>anotando	o	jogo	do	bicho,	ele	está	diretamente	na	contravenção	e	não</p><p>teria	o	vínculo	de	emprego.</p><p>Porém,	se	ele	faz	atividades	periféricas	dentro	da	atividade	do	jogo	do</p><p>bicho,	uma	atividade	que	não	é	a	atividade-fim,	ele	não	está	envolvido</p><p>diretamente	 na	 contravenção	 penal,	 haveria	 a	 possibilidade	 de</p><p>reconhecimento	do	vínculo	de	emprego.</p><p>São	 algumas	 correntes	 que	 se	 desenvolvem	 no	 âmbito	 da	 doutrina</p><p>trabalhista.</p><p>Lembrando	ainda	sobre	essa	ilicitude,	vejam	o	que	o	art.	606	diz:</p><p>Se	o	 serviço	 for	prestado	por	quem	não	possua	 título	de	habilitação,</p><p>ou	 não	 satisfaça	 requisitos	 outros	 estabelecidos	 em	 lei,	 não	 poderá</p><p>15Curso	Ênfase	©	2020</p><p>quem	 os	 prestou	 cobrar	 a	 retribuição,	 mas	 o	 juiz	 pode	 determinar</p><p>uma	 compensação	 razoável.	 É	 aquela	 situação	 que	 eu	 disse	 dos</p><p>empregados	que	não	têm	a	qualificação	necessária.	Eles,	em	tese,	não</p><p>poderiam	cobrar	 o	 salário	 de	um	empregado	qualificado,	mas	 o	 juiz</p><p>pode	fixar	uma	compensação.</p><p>Por	que	eu	trouxe	isso	para	o	jogo	do	bicho?</p><p>Olha	o	que	o	CC	diz	no	parágrafo	único:</p><p>Não	 se	 aplica	 a	 segunda	 parte	 deste	 artigo,	 quando	 a	 proibição	 da</p><p>prestação	de	serviço	resultar	de	lei	de	ordem	pública,	que	é	o	caso	do</p><p>jogo	 do	 bicho	 ou	 é	 o	 caso,	 por	 exemplo,	 de	 exercício	 ilegal	 da</p><p>profissão.</p><p>Quando	houver	 uma	norma	de	 ordem	pública	 proibindo	 a	 prestação</p><p>daquele	 serviço,	 via	 de	 regra,	 a	 consequência	 vai	 ser	 a	 ilicitude	 do</p><p>objeto	 e	 vai	 ser	 a	 configuração	 de	 um	 trabalho	 ilícito,	 portanto,</p><p>impedindo	o	reconhecimento	do	vínculo	de	emprego.</p><p>16Curso	Ênfase	©	2020</p><p>Tenha	muita	atenção	aqui	e	não	erre.</p><p>NÃO	ERRE</p><p>Em	relação	ao	jogo	do	bicho	nós	temos	uma	OJ.	O	TST	possui	uma	OJ.</p><p>O	que	é	OJ?</p><p>Orientação	 jurisprudencial.	 É	 uma	 jurisprudência	 já	 consolidada	 no</p><p>âmbito	do	TST,	que	é	a	OJ	nº	199.	Vejamos	aqui	o	que	diz	a	OJ:</p><p>Pela	OJ	que	diz	é	nulo	contrato	de	atividade	inerente	à	prática	do	jogo</p><p>do	bicho.	Então,	a	OJ	dá	marguem	àquela	corrente	que	nós	vimos	que</p><p>a	 depender	 da	 atividade	 que	 o	 empregado	 faz,	 por	 exemplo,	 ele	 é</p><p>17Curso	Ênfase	©	2020</p><p>motorista	do	bicheiro	e	não	está	envolvido	no	jogo	do	bicho.</p><p>O	 fato	 dele	 trabalhar	 para	 um	 bicheiro	 não	 necessariamente	 quer</p><p>dizer	que	ele	está	envolvido	em	atividade	 inerente	à	prática	no	 jogo.</p><p>Se	 ele	 faz	 atividades	 periféricas	 e	 que	 não	 contribuem	 diretamente</p><p>para	 a	 ilicitude	 e	 não	 contribuem	 diretamente	 para	 a	 contravenção</p><p>penal,	 seria	 possível,	 em	 tese,	 o	 reconhecimento	 desse	 vínculo	 de</p><p>emprego.</p><p>Outra	 situação	 é	 a	 situação	 também	 do	 croupier,	 que	 é	 aquele	 que</p><p>fica	 responsável	 por	 organizar	 o	 jogo	 de	 poker,	 por	 exemplo.	 Ele</p><p>distribui	 as	 cartas	 em	 um	 cassino	 clandestino	 no	 Brasil.	 Ele	 está</p><p>distribuindo	as	cartas	e	pega	as	apostas.</p><p>18Curso	Ênfase	©	2020</p><p>Será	que	ele	pode	depois	ajuizar	uma	ação	contra	esse	cassino</p><p>clandestino	 pleiteando	 o	 reconhecimento	 do	 vínculo	 de</p><p>emprego?</p><p>Via	 de	 regra,	 também	 não.	 O	 jogo	 de	 pôquer	 apostado	 (pois	 pode</p><p>jogar	o	jogo	de	pôquer	sem	apostar)	é	vedado	pelo	nosso	ordenamento</p><p>jurídico.	 Esse	 tipo	 de	 aposta	 é	 proibido	 pelo	 nosso	 ordenamento</p><p>jurídico.	Então,	 é	 um	objeto	 ilícito	 e	 também,	 assim	como	o	 jogo	do</p><p>bicho,	vai	subtrair	a	 licitude	do	objeto.	O	contrato	de	trabalho	não	é</p><p>válido	e	não	vai	poder	haver	o	reconhecimento	do	vínculo	de	emprego.</p><p>Muita	atenção	para	a	jurisprudência.</p><p>JURISPRUDÊNCIA</p><p>Eu	trouxe	aqui	para	vocês	uma	jurisprudência	de	outro	caso	bastante</p><p>importante	 sobre	 a	 validade	 do	 contrato	 de	 trabalho,	 que	 é	 uma</p><p>situação	 envolvendo	 policiais	 militares,	 mas	 vale	 também	 para	 o</p><p>policial	civil	e	vale	também	para	os	militares	do	Exército	e	das	Forças</p><p>Armadas,	que	é	a	Súmula		nº	386.</p><p>De	que	trata	essa	Súmula?</p><p>Vou	ler	para	vocês	e	depois	eu	explico:</p><p>19Curso	Ênfase	©	2020</p><p>Olha	 que	 interessante	 isso:	 normalmente	 os	 policiais	 militares</p><p>trabalham	 em	 plantões.	 O	 sujeito	 trabalha	 24	 horas	 seguidas	 e</p><p>descansa	48	ou	72	horas,	isso	é	muito	comum.</p><p>Como	os	policiais,	muitas	vezes,	não	são	bem	remunerados,	o</p><p>que	eles	fazem?</p><p>Eles	 utilizam	 esses	 dias	 de	 folga	 para	 desempenhar	 outras	 funções.</p><p>Uma	função	bem	comum,	como	o	sujeito	já	é	policial	e	anda	armado,</p><p>é	exercer	a	função	de	segurança	privado.	Ele	chega	no	dia	de	folga	e</p><p>trabalha	 como	 segurança	 de	 uma	 boate	 ou	 em	 um	 shopping.	 Ele</p><p>trabalha	 como	 segurança	 à	 paisana.	 Ele	 trabalha	 durante	 alguns</p><p>meses</p><p>ou	 durante	 alguns	 anos	 e	 ajuíza	 uma	 ação	 pedindo	 o</p><p>reconhecimento	do	vínculo	de	emprego.</p><p>O	que	que	as	empresas	dizem?</p><p>20Curso	Ênfase	©	2020</p><p>Ora,	não	pode	excelência,	porque	o	estatuto	da	Polícia	Militar	proíbe</p><p>que	 ele	 trabalhe	 na	 sua	 folga.	 Se	 ele	 está	 trabalhando	 na	 sua	 folga,</p><p>está	 cometendo	 um	 ato	 ilícito	 e,	 desse	 ato	 ilícito,	 não	 poderia	 gerar</p><p>um	 vínculo	 de	 emprego	 e	 não	 poderia	 haver	 reconhecimento	 de</p><p>direito	para	esse	policial	militar.</p><p>O	 TST	 não	 concorda	 com	 essa	 tese	 e	 entende	 que	 são	 instâncias</p><p>diferentes.	Do	ponto	de	vista	do	direito	administrativo,	se	o	Estatuto	a</p><p>que	está	subordinado	o	policial	militar	 (vai	depender	de	cada	Estado</p><p>que	 terá	 um	 Estatuto	 para	 sua	 polícia)	 foi	 descumprido,	 vai	 caber</p><p>uma	penalidade	disciplinar.	Vai	caber	uma	sanção	e	ele	pode	ser	até</p><p>expulso	 da	 corporação,	 pode	 ter	 uma	 suspensão	 ou	 pode	 ter	 algum</p><p>tipo	de	penalidade,	essa	é	uma	questão	de	direito	administrativo.</p><p>É	 uma	 relação	 que	 ele	 vai	 ter	 com	 o	 Estado,	 mas	 com	 o	 ente</p><p>particular,	se	estão	presentes	os	requisitos	do	vínculo	de	emprego,	é	a</p><p>questão	da	primazia	da	realidade	sobre	a	forma,	se	estão	presentes	os</p><p>requisitos	 do	 vínculo	 de	 emprego,	 ele	 deve	 ser	 reconhecido.	 O</p><p>contrato	de	trabalho	será	reconhecido,	o	contrato	é	válido	contrato	e</p><p>não	tem	qualquer	tipo	de	ilicitude.</p><p>São	esferas	diferentes,	pois	uma	coisa	é	a	 relação	do	policial	militar</p><p>com	 o	 seu	 empregador	 privado	 e	 outra	 coisa	 é	 a	 relação	 do	 policial</p><p>militar	com	o	seu	empregador	público.	Perante	o	empregador	público</p><p>ele	 pode	 vir	 a	 responder,	mas	 perante	 o	 empregador	 privado	 ele	 vai</p><p>ter,	sim,	o	reconhecimento	do	vínculo	de	emprego.</p><p>Para	 finalizar	 a	 nossa	 unidade	 de	 aprendizagem	 existe	 a	 questão	 do</p><p>objeto	possível.</p><p>21Curso	Ênfase	©	2020</p><p>O	 art.	 104	 exige	 que	 o	 objeto	 seja	 possível.	 Diante	 disso,	 podemos</p><p>fazer	 a	 diferença	 entre	 impossibilidade	 material	 e	 impossibilidade</p><p>jurídica.</p><p>O	objeto	é	impossível	do	ponto	de	vista	jurídico	quando	ele	é	proibido</p><p>pelo	 ordenamento	 jurídico.	 É	 o	 caso	 do	 trabalho	 proibido,	 que	 vai</p><p>gerar	uma	impossibilidade	jurídica.</p><p>Há	 também	 a	 impossibilidade	 material	 que	 é	 uma	 impossibilidade</p><p>física.	 O	 empregador	 exige	 no	 contrato,	 por	 exemplo,	 que	 o</p><p>empregado	 percorra	 42	 km	 andando	 em	 20	 minutos.	 É	 impossível,</p><p>pois	nenhum	ser	humano	consegue	fazer	isso.</p><p>Então,	 tanto	 a	 impossibilidade	 jurídica,	 quanto	 a	 impossibilidade</p><p>material	vão	gerar	a	invalidade	do	contrato	ou	da	cláusula	contratual</p><p>respectiva.</p><p>22Curso	Ênfase	©	2020</p><p>Bons	estudos	e	até	o	nosso	próximo	encontro.</p>

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