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<p>ECONOMIA BRASILEIRA</p><p>CONTEMPORÂNEA (SÉC. XX)</p><p>AULA 4</p><p>Prof.ª Rossandra Oliveira Maciel de Bitencourt</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Nesta abordagem, inicialmente revisitaremos o período do golpe militar e</p><p>a crise dos anos 1960 que atingiu a economia brasileira. Na sequência,</p><p>adentraremos ao PAEG (1964-67), que foi um Plano de Ação Econômico do</p><p>Governo implementado durante a ditadura militar. A seguir, discutiremos o</p><p>período conhecido por Milagre Brasileiro com ênfase (1968-76), avançando</p><p>também para a análise do II Plano Nacional de Desenvolvimento - PND (1975-</p><p>1979). Por fim, veremos como se encerrou esse ciclo com as políticas de ajustes</p><p>implementadas por Delfim Neto.</p><p>CONTEXTUALIZANDO</p><p>Em 13 de março de 1964, durante um comício realizado pelo presidente</p><p>João Goulart em frente à estação ferroviária Central do Brasil, no Rio de Janeiro,</p><p>uma audiência numerosa – estimada entre 150 mil e 300 mil pessoas –</p><p>testemunhou seu discurso enfatizando a necessidade urgente de implementar</p><p>reformas estruturais no país. Goulart, popularmente conhecido como Jango,</p><p>assumira a Presidência em 1961, sucedendo Jânio Quadros em meio a um</p><p>cenário político instável. Inicialmente limitado por um breve período de</p><p>parlamentarismo que foi abolido em 1963, ele enfrentava oposição do Congresso</p><p>enquanto buscava respaldo popular para a implementação das Reformas de</p><p>Base.</p><p>No dia seguinte ao comício, os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de</p><p>S. Paulo publicaram editoriais condenando veementemente o evento. Ambos os</p><p>editoriais acusaram Goulart de ter intenções golpistas ao promover reformas</p><p>sociais que supostamente violavam a Constituição. Essas críticas inflamaram o</p><p>debate público e, subsequentemente, incitaram setores das Forças Armadas a</p><p>se posicionarem contra as alegadas ameaças constitucionais, sinalizando a</p><p>possibilidade de intervenção militar iminente.</p><p>Saiba mais</p><p>Para saber mais sobre o dia do Golpe: como o Brasil virou uma ditadura</p><p>militar, acesse: . Acesso em: 12 jul. 2024.</p><p>3</p><p>TEMA 1 – A CRISE DOS ANOS 1960 E O GOLPE MILITAR</p><p>Conforme vimos anteriormente, o governo de JK (1956-1961) foi marcado</p><p>por intensas transformações econômicas, sociais e políticas no Brasil. Durante</p><p>os anos 50 e início dos anos 60, o Brasil experimentou um período de rápido</p><p>crescimento econômico impulsionado principalmente pela industrialização e pela</p><p>substituição de importações.</p><p>Contudo, esse crescimento foi acompanhado por um aumento</p><p>significativo da inflação e da dívida externa, o que gerou significativas pressões</p><p>econômicas. E no contexto social, houve um intenso processo de urbanização,</p><p>com migração maciça da população rural para as cidades. Esse crescimento</p><p>urbano trouxe desafios como a falta de infraestrutura e concentração da pobreza.</p><p>É nesse cenário, em resposta às demandas que nasciam junto aos</p><p>movimentos sociais – estudantil, sindicais, camponeses, dentre outros – que</p><p>Jango propôs uma mudança estrutural ampla por meio das Reformas de Base</p><p>(Amorim, 2024):</p><p>• Agrária: destinar terras improdutivas marginais às rodovias e ferrovias</p><p>federais e ao campesinato;</p><p>• Educacional: focar no ensino superior com vistas a superação das causas</p><p>sociais;</p><p>• Eleitoral: direito de voto à população analfabeta;</p><p>• Administrativa: organizar o setor público, “a máquina administrativa</p><p>federal” para implementação do Plano Nacional de Desenvolvimento</p><p>Econômico e Social;</p><p>• Urbana: incentivar a construção civil, porém com regulação para</p><p>minimizar a especulação imobiliária.</p><p>• Bancária: ampliar o acesso ao crédito;</p><p>• Tributária: tributar menos o consumo e mais as grandes fortunas;</p><p>• Salário-mínimo: elevação real do salário-mínimo.</p><p>Saiba mais</p><p>As Reformas de Base constituíam-se em propostas de mudanças</p><p>consideradas necessárias à renovação das instituições socioeconômicas e</p><p>político-jurídicas brasileiras que tinham como objetivo remover os obstáculos à</p><p>marcha do processo de desenvolvimento do país. Essas propostas foram a base</p><p>4</p><p>do programa de governo do presidente João Goulart (1961-1964), assumindo o</p><p>caráter de bandeira política durante a fase presidencialista daquela gestão. As</p><p>reformas consideradas prioritárias eram a agrária, a administrativa, a</p><p>constitucional, a eleitoral, a bancária, a tributária (ou fiscal) e a universitária (ou</p><p>educacional). Para saber mais detalhes sobre as Reformas de Base, consulte o</p><p>Atlas Histórico do Brasil organizado pela FGV através do seguinte site:</p><p>. Acesso em: 12 jul. 2024.</p><p>Esse também foi um período de instabilidade política marcado, em âmbito</p><p>global, pela Guerra Fria, e internamente, pela crescente polarização interna com</p><p>conflitos entre conservadores e progressistas. Os conflitos que ensejaram a crise</p><p>política que antecedeu o golpe militar se deram, na verdade, pelo choque de dois</p><p>modelos de desenvolvimento, dois projetos de nação. De um lado, um projeto</p><p>conservador-burguês e do outro, um projeto popular que buscava atender aos</p><p>anseios da classe trabalhadora (Amorim, 2024).</p><p>Tendo em vista o cenário externo de Guerra Fria, as Forças Armadas</p><p>preocupadas com a possibilidade de um suposto avanço comunista e</p><p>insatisfeitas com as políticas de Goulart, lideraram o golpe militar em 31 de</p><p>março de 1964, depondo o presidente e instaurando um regime autoritário que</p><p>duraria até meados dos anos 1980. O golpe militar de 1964 foi um ponto de</p><p>virada na história brasileira, interrompendo um período de tentativas de reformas</p><p>sociais e políticas e estabelecendo um regime de repressão política e censura</p><p>que marcaria profundamente o país nas décadas seguintes.</p><p>Dez dias após o golpe militar, o general Costa e Silva, comandante chefe</p><p>do exército e integrante da junta militar no comando do país, anunciou o Ato</p><p>Institucional n. 1, depois conhecido como AI-1 composto por onze artigos que</p><p>propunham medidas voltadas à “reconstrução econômica, financeira, política e</p><p>moral do Brasil”.</p><p>Esse momento foi o início de uma repressão política e social que deixou</p><p>profundas marcas na história do país e do povo brasileiro. Na sequência,</p><p>adentraremos mais especificamente aos aspectos econômicos da ditadura</p><p>militar no Brasil.</p><p>Saiba mais</p><p>Lançado em 1985, o livro intitulado Brasil Nunca Mais foi a forma</p><p>encontrada de dar publicidade a um extenso trabalho documentação dos crimes</p><p>5</p><p>cometidos durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). O projeto foi</p><p>idealizado por dom Paulo Evaristo Arns, pelo reverendo presbiteriano Jaime</p><p>Wright e pelo rabino Henry Sobel. Durante o período de pesquisa, foram colhidas</p><p>informações em mais de 1 milhão de páginas, obtidas em 707 processos do</p><p>Superior Tribunal Militar. O material permitiu que se conhecesse a extensão da</p><p>repressão política no Brasil, no período entre 1961 e 1979. Cerca de 30</p><p>pesquisadores realizaram o trabalho, que durou cerca de seis anos. Leia mais</p><p>em: . Acesso em: 12 jul. 2024.</p><p>TEMA 2 – PLANO DE AÇÃO ECONÔMICO DO GOVERNO – PAEG (1964-67)</p><p>O Plano de Ação Econômica do Governo, conhecido como PAEG, foi</p><p>implementado logo no início da ditadura militar e tinha como princípio central a</p><p>retomada do crescimento associado à estabilidade de preços e à busca pelo</p><p>equilíbrio no balanço de pagamentos. Trazia, portanto, um diagnóstico</p><p>monetarista a respeito da inflação, ou seja, os formuladores do plano entendiam</p><p>que a causa estava no excesso de demanda, na monetização dos déficits</p><p>públicos, na expansão do crédito às empresas e nos aumentos salariais</p><p>superiores ao aumento da produtividade.</p><p>Logo, a proposta do PAEG centrava-se na redução do déficit público, no</p><p>aumento da carga tributária, na contenção do crédito e no arrocho salarial como</p><p>medidas para combater a inflação – que, caso seguisse a tendência de alta,</p><p>chegaria em 144% ao final de 1964. Desse modo, os reajustes salariais poderiam</p><p>acontecer somente abaixo dos índices efetivos de inflação, para que o</p><p>trabalhador não tivesse acesso a um aumento real no nível de renda (Mello;</p><p>Belluzzo, 1984).</p><p>Conforme observam os autores acima, no bojo dessa reforma foi criado o</p><p>BNH (Banco Nacional de Habitação) para amparar a renda proveniente do FGTS</p><p>(poupança forçada) destinando esse recurso ao setor da construção civil. No que</p><p>se refere à reforma monetária, foram criados, em 1964, o Conselho Monetário</p><p>Nacional (órgão normativo) e o Banco Central (órgão executivo).</p><p>6</p><p>Créditos: Alf Ribeiro/Shutterstock.</p><p>A esse conjunto de providências voltadas ao combate à inflação, o PAEG</p><p>buscou estimular a poupança privada por meio do aumento da taxa de juros</p><p>reordenando o sistema financeiro a fim de atrair também investimento externo.</p><p>No contexto da política externa, o PAEG implementou incentivos às exportações</p><p>para favorecer a mecanização da agricultura e industrializar o campo. E no</p><p>âmbito da internacionalização financeira, buscou a captação de recursos</p><p>externos pelos bancos comerciais (Mello, Belluzzo, 1984).</p><p>Além do mais, o programa de estabilização o PAEG foi positivo, pois</p><p>executou transformações institucionais viabilizando o controle da inflação e a</p><p>retomada do crescimento. Contudo, Mello e Belluzzo (1984) destacam que o</p><p>principal erro na condução do PAEG foi presumir que a causa da inflação estava</p><p>associada ao excesso de moeda. O leque de políticas fiscais e monetárias</p><p>contracionistas penalizou em grande medida os trabalhadores e trouxe como</p><p>consequência a falência de pequenas empresas e o aumento do desemprego.</p><p>Por outro lado, evidenciou-se nesse período o fortalecimento dos oligopólios e a</p><p>desnacionalização da economia.</p><p>Em suma, o PAEG foi um programa de políticas liberais implementadas</p><p>em meio ao autoritarismo. Um período marcado pelo liberalismo econômico sem</p><p>liberalismo político. Ainda que a um custo social elevado, conforme veremos a</p><p>seguir, o PAEG criou as condicionalidades para o “Milagre Brasileiro”.</p><p>Saiba mais</p><p>Em artigo publicado por Resende e Silva, os autores analisam os</p><p>condicionantes do regime autoritário brasileiro para as políticas econômicas</p><p>formuladas e as reformas institucionais aplicadas no âmbito da implementação</p><p>do PAEG (1964-1967). Leia o artigo na íntegra em:</p><p>https://www.shutterstock.com/g/alfribeiro</p><p>7</p><p>. Acesso em: 12</p><p>jul. 2024.</p><p>TEMA 3 – O MILAGRE BRASILEIRO (1968-73)</p><p>Após a implementação de diversas medidas institucionais e econômicas,</p><p>o período que segue de 1968-73 ficou conhecido como Milagre Brasileiro, por ter</p><p>apresentado as maiores taxas de crescimento do PIB com relativa estabilidade</p><p>de preços.</p><p>O ministro da Fazenda dos governos Costa e Silva e Médici, Antônio</p><p>Delfim Neto, professor de economia da Universidade de São Paulo, foi um dos</p><p>principais planejadores do chamado Milagre Econômico. Uma importante</p><p>mudança nesse processo se deu em relação ao diagnóstico da inflação – que</p><p>agora não era mais vista como consequência da demanda, mas sim dos cursos</p><p>elevados. Com isso, afrouxaram-se as políticas de contenção, ampliaram o</p><p>acesso ao crédito, retomaram o investimento público em infraestrutura, bem</p><p>como em empresas estatais e intensificaram o incentivo às exportações (Mello;</p><p>Belluzzo, 1984).</p><p>Ao longo desse período começaram as negociações com o governo</p><p>paraguaio para a construção da usina de Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo.</p><p>O governo Médici inaugurou ainda a era dos chamados projetos de impacto, com</p><p>a construção da Transamazônica, rodovia que se propunha unir o país de leste</p><p>a oeste, ligando caminhos já existentes e abrindo 2.025 km de estrada, em boa</p><p>parte na selva virgem. Em 1974, foi inaugurada a ponte Rio-Niterói, com 12,9 km</p><p>de extensão.</p><p>Créditos: Jose Luis Stephens/Shutterstock.</p><p>8</p><p>Curiosidade</p><p>Em 1973, técnicos percorrem o rio de barco em busca do ponto mais</p><p>indicado para a construção da Itaipu Binacional. O local é escolhido após a</p><p>realização de estudos com o apoio de uma balsa. No coração da América do Sul,</p><p>brasileiros e paraguaios indicam um trecho do rio conhecido como Itaipu, que,</p><p>em tupi, quer dizer a pedra que canta. A construção da Itaipu Binacional</p><p>começou em 1974, com a chegada das primeiras máquinas ao futuro canteiro</p><p>de obras. Entre 1975 e 1978, mais de 9 mil moradias foram construídas nas duas</p><p>margens para abrigar os homens que atuam na obra. Até um hospital é</p><p>construído para atender os trabalhadores. Na época, Foz do Iguaçu era uma</p><p>cidade com apenas duas ruas asfaltadas e cerca de 20 mil habitantes, em dez</p><p>anos, a população passa para 101.447 habitantes. Leia mais em:</p><p>. Acesso em: 12 jul. 2024.</p><p>No que se refere ao setor produtivo, nesse período priorizou-se a indústria</p><p>de bens duráveis de consumo (automóveis e construção civil), diferentemente</p><p>do Plano de Metas, cujo setor dominante era o de bens de capital. Há um hiato,</p><p>uma defasagem no ritmo de acumulação e um aumento da demanda de</p><p>importação por esses bens. A retomada da indústria de bens de capitais</p><p>esbarrava no problema da falta de economia de escala (Mello; Belluzzo, 1984).</p><p>De acordo com os autores acima, o Milagre Econômico – que se deu em</p><p>um contexto de ditatura e autoritarismo político – teve a condução de toda a</p><p>política econômica orientada pela intervenção no Estado no controle do câmbio,</p><p>salários, juros, impostos dentre outros elementos centrais da esfera econômica.</p><p>Entre 1972-73 foi o auge do ciclo, quando a taxa de investimento chegou a atingir</p><p>27%.</p><p>Por outro lado, umas das principais consequências desse período foi o</p><p>aumento do endividamento externo, que se intensificou para que ampliássemos</p><p>internamente a retenção de reservas. Associado a isso, também foi adotada uma</p><p>política de aumento da taxa de juros. O principal intuito ao longo do Milagre era</p><p>promover o crescimento da economia brasileira, e assim se fez. Contudo, esse</p><p>crescimento se deu paralelo ao aumento da desigualdade distributiva no âmbito</p><p>salarial, estando associado, portanto, ao aumento da concentração de renda.</p><p>Essa conduta de crescimento com concentração de renda ficou conhecida</p><p>como a Teoria do Bolo. Na época, o governo defendia a ideia de que era</p><p>necessário um processo de concentração de renda inicial, a fim de elevar a</p><p>9</p><p>poupança e, consequentemente, o investimento, acelerando o crescimento</p><p>econômico. Após esse auge, a riqueza construída seria redistribuída. Na teoria,</p><p>a ideia era crescer o bolo para depois dividi-lo.</p><p>Ao analisar esse cenário, Furtado (1992) afirma que o Brasil passou por</p><p>um processo de Modernização Conservadora. Modernização porque cresceu,</p><p>ampliou o processo de acumulação; e conservadora, porque esse crescimento</p><p>não se traduziu em uma homogeneidade social, mas intensificou ainda mais a</p><p>desigualdade socioeconômica no país.</p><p>Em 1975, frente à desaceleração do “Milagre Econômico”, o país volta a</p><p>apresentar uma crise pela incompatibilidade entre as taxas de acumulação e de</p><p>crescimento da demanda efetiva de bens duráveis de consumo. Logo, a</p><p>modernização conservadora refere-se também à mudança que moderniza, mas</p><p>não transforma a estrutura, pois permanece com defasagem de métodos</p><p>produtivos eficazes (Furtado, 1992).</p><p>TEMA 4 – II PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO - PND (1975-1979)</p><p>Créditos: tete_escape/Shutterstock.</p><p>O II PND deu sequência ao IPND que fora elaborado durante o governo</p><p>do general Emílio Garrastazu Médici entre 1972-1974. No entanto, a crise</p><p>internacional do Petróleo de 1973/1974 comprometeu a execução das diretrizes</p><p>propostas no I</p><p>PND e gerou também a crise do “Milagre Econômico”.</p><p>Para entender o contexto do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND),</p><p>precisamos nos remeter ao Choque do Petróleo de 1973 que trouxe sérias</p><p>consequências para a economia em âmbito externo e interno. Se entre 1945-</p><p>1970 houve um longo período de prosperidade no cenário mundial, com taxas</p><p>10</p><p>de crescimento médio de 6%a.a; nos anos 1970, diversos países tiveram que</p><p>lidar com a crise energética e com a consequente desordem econômica.</p><p>Em decorrência do Choque do Petróleo, os países ricos passam a reduzir</p><p>os gastos públicos e as importações de petróleo, além de elevar suas taxas de</p><p>câmbio de modo a preservar suas contas externas e a buscar outras formas de</p><p>geração de energia. Temendo desemprego no setor produtivo, o Brasil mantém</p><p>as compras do óleo a preços altíssimos, busca estimular exportações de bens</p><p>manufaturados e investe pesadamente em projetos de produção de álcool, como</p><p>alternativa de combustível à caríssima gasolina. Nos anos seguintes, o</p><p>endividamento brasileiro começa a subir, e o nível de crescimento do PIB se</p><p>sustenta positivamente, embora em patamares bem inferiores à média de 9%</p><p>registrada durante os anos do milagre econômico, entre 1967 e o fim de 1973</p><p>(IPEA, 2010).</p><p>Na visão de Castro e Souza (1988), o Brasil se endividou para crescer em</p><p>marcha forçada. A ousadia do governo brasileiro estava em não adotar medidas</p><p>restritivas, mas, ao contrário, passou a considerar a possibilidade de um novo</p><p>ciclo de endividamento – enquanto os juros ainda não haviam subido</p><p>significativamente – para manter o impulso desenvolvimentista.</p><p>O II PND (1975-1979) foi então um plano nacionalista, que buscava a</p><p>ocupação produtiva na Amazônia e no Centro-Oeste, a criação de transportes</p><p>coletivos nos centros urbanos, a implementação de políticas voltadas à redução</p><p>da desigualdade regional; o crescimento acelerado e a transformação do</p><p>Nordeste. O governo brasileiro recusou, portanto, o caminho do ajustamento e</p><p>retomou o crescimento pela via do endividamento. Basicamente, no âmbito da</p><p>exportação a economia brasileira se manteve no mesmo ritmo, contudo, o saldo</p><p>das importações passou a ser mais elevado trazendo estrangulamentos ao</p><p>Balanço de Pagamentos (Castro; Souza, 1988).</p><p>Frente a esse cenário, era nítida a necessidade de uma transformação na</p><p>estrutura produtiva. Logo, o II PND visava também a consolidação de oligopólios</p><p>nacionais por meio de fusão de empresas existentes. O objetivo era combater a</p><p>vulnerabilidade, mediante ações na busca do autoabastecimento e do</p><p>desenvolvimento de novas vantagens comparativas na construção de uma</p><p>moderna economia industrial. Nesse âmbito, nota-se a criação de novos setores</p><p>e adaptação de tecnologias. Os produtos que mais receberam apoio do</p><p>programa foram: metais não ferrosos, produtos químicos, papel e celulose,</p><p>11</p><p>fertilizantes, produtos siderúrgicos; metalurgia, petroquímica. As importações</p><p>desse conjunto de bens caíram 60% entre 1980-83, cabendo ressaltar que o</p><p>sustentáculo do programa se deu com o apoio das seguintes empresas:</p><p>Eletrobrás, Petrobrás, Siderbrás, Embratel. Diferentemente do Plano de Metas,</p><p>nesse momento, a indústria automobilista já não era mais uma prioridade</p><p>(Castro; Souza, 1988).</p><p>Saiba mais</p><p>Ao longo do II PND, a política industrial apontada tinha como meta dotar</p><p>o país de uma cadeia produtiva completa. A estratégia industrial, no período,</p><p>considerava os seguintes pontos: I) Desenvolvimento dos setores de base e,</p><p>como novas ênfases, particularmente da indústria de bens de capital, da indústria</p><p>eletrônica de base e da área de insumos básicos. II) Abertura de novos campos</p><p>de exportação de manufaturados, com maior complexidade tecnológica, em</p><p>complemento às exportações de indústrias tradicionais. Tais campos incluem os</p><p>computadores de grande porte; minicomputadores de fabricação nacional;</p><p>navios; automóveis, ônibus, caminhões; motores e outros componentes da</p><p>indústria automobilística; equipamentos agrícolas, rodoviários e hidroelétricos;</p><p>máquinas-ferramenta e instrumentos; produtos siderúrgicos, inclusive pela</p><p>construção de usinas destinadas, principalmente, à produção de semiacabados</p><p>para exportação; equipamentos e componentes de bens de capital; relógios,</p><p>aparelhos de precisão. III) Maior impulso ao desenvolvimento tecnológico</p><p>industrial, inclusive com preocupação de evitar dispêndios excessivos nos</p><p>pagamentos por tecnologia. IV) Impulso ao desenvolvimento da indústria de</p><p>alimentos. V) Atenuação dos desníveis regionais de desenvolvimento industrial,</p><p>evitando-se a continuação da tendência à concentração da atividade industrial</p><p>em uma única área metropolitana. Continue a leitura em:</p><p>. Acesso em: 12 jul. 2024.</p><p>Em suma, com ativa participação do Estado, o II PND concebe o Brasil</p><p>como um país em processo de desenvolvimento e estimula o investimento via</p><p>BNDE. Castro e Souza (1988) salientam que entre 1974-1979 o PIB cresceu</p><p>61%, mais do que a população, cuja taxa foi de 15% para o referido período. A</p><p>preocupação com a garantia de aumento do salário real e a busca pela redução</p><p>dos focos de pobreza absoluta também contemplaram os objetivos do II PND.</p><p>12</p><p>Contudo, na prática se observa uma intensa transformação na estrutura</p><p>produtiva, embora o plano tenha fracassado em realizar política redistributivas.</p><p>O II PND foi a principal ferramenta para a constituição de uma economia</p><p>moderna e diversificada no Brasil. Todavia, a piora do cenário externo associada</p><p>à elevação unilateral dos juros nos Estados Unidos comprometeram grande</p><p>parte dos objetivos oficiais do programa. Entre 1974 e 1979, a dívida externa</p><p>passou de US$ 14,9 bilhões para US$ 55,8 bilhões (IPEA, 2016).</p><p>TEMA 5 – O AJUTE FISCAL COMO TENTATIVA DE RECUPERAÇÃO</p><p>Créditos: TippaPatt/Shutterstock.</p><p>O período que segue após o II PND vem marcado por um novo contexto</p><p>de crise frente à queda da capacidade para importar e ao segundo choque do</p><p>petróleo que elevou o valor das importações de US$4 bilhões para US$ 10</p><p>bilhões entre 1980-82. Os investimentos dos anos 1970 já haviam sido digeridos</p><p>e se encontravam em adiantado estágio de maturação. Então ainda não era o</p><p>momento de deslanchar uma nova onda de inovações (Castro; Souza, 1988).</p><p>De acordo com os autores acima, a política orientada por Delfim Neto para</p><p>contornar essa situação apresentava profundas inconsistências. No intuito de</p><p>aumentar a poupança interna e levar o país “de volta à economia de mercado”,</p><p>desfez-se dos instrumentos heterodoxos internos. O foco agora estava em ceder</p><p>espaço à empresa privada e retomar expansão agrícola com vistas a ampliar a</p><p>capacidade de importar.</p><p>Entre 1983-1984, foi implementada uma política de ajustamento pautada</p><p>nas seguintes ações (Castro; Souza 1988):</p><p>• Corte dos gastos e do investimento público;</p><p>• Aumento da carga tributária;</p><p>13</p><p>• Redução na oferta de crédito;</p><p>• Aumento da taxa de juros;</p><p>• Arroxo salarial.</p><p>Esse conjunto de políticas fiscais e monetárias contracionistas não</p><p>consegue recuperar o ritmo crescimento da economia brasileira, e acaba por</p><p>intensificar um cenário de crise que rotula os anos 1980 como a década perdida.</p><p>TROCANDO IDEIAS</p><p>Convido você a pesquisar mais sobre o período denominado de Milagre</p><p>Brasileiro. Busque por empresas que foram fundadas nessa época analisando</p><p>as principais contribuições para o desenvolvimento econômico do país.</p><p>NA PRÁTICA</p><p>Conforme vimos, o início do Milagre Brasileiro (1968-73) se apoia em um</p><p>novo diagnóstico de inflação, diferente daquele que orientou o PAEG, o que abriu</p><p>as portas para um conjunto de medidas expansionistas que passaram a ser</p><p>implementadas pelo Estado. Explique o que mudou no diagnóstico e cite as</p><p>principais medidas adotadas nesse período de acordo com Castro e Souza</p><p>(1988).</p><p>No início do período denominado de Milagre Brasileiro, o diagnóstico da</p><p>inflação não era mais associado à demanda e sim aos custos. Diante dessa</p><p>interpretação, afrouxaram-se as políticas de contenção, houve a retomada do</p><p>gasto público; aumento do investimento das empresas; expansão do crédito,</p><p>aumento da demanda pela via do endividamento familiar; incentivos ao setor de</p><p>construção civil e das exportações.</p><p>FINALIZANDO</p><p>Ao longo desta abordagem, adentramos brevemente à crise dos anos</p><p>1960, que culminou com o golpe militar de 1964 iniciando um período de ditadura</p><p>política e centralização do poder nas mãos dos militares. Entre 1964 e 1967, foi</p><p>implementado o Plano de Ação Econômico do Governo, que teve como</p><p>sequência o período denominado de Milagre Brasileiro (1968-76).</p><p>Vimos também que, mesmo em meio a um cenário de crise econômica</p><p>mundial ocasionada pelo Choque de Petróleo, o Brasil continuou crescendo em</p><p>14</p><p>“marcha forçada” desenvolvendo setores estratégicos da economia por meio do</p><p>II Plano Nacional de Desenvolvimento – PND (1975-1979). Se por um lado</p><p>tivemos um intenso processo de crescimento econômico, por outro, esse ciclo</p><p>deixou uma expressiva dívida externa. No intuito de minimizar os danos, Delfim</p><p>Neto encerrou esse ciclo com as políticas de ajustes que intensificaram ainda</p><p>mais o contexto de crise.</p><p>15</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>CASTRO, A. B. de, SOUZA, F. E. P. de. A economia brasileira em marcha</p><p>forçada. São Paulo: Paz e terra, 1988</p><p>FURTADO, C. O subdesenvolvimento revisitado. Economia e Sociedade, v. 1,</p><p>p. 5-19, ago. 1992.</p><p>IPEA. História – Petróleo. Desafios do Desenvolvimento, ed. 59, ano 7, 2010.</p><p>Disponível em:</p><p>. Acesso em: 12 jul. 2024.</p><p>_____. A maior e mais ousada iniciativa do nacional‑desenvolvimentismo.</p><p>Desafios do Desenvolvimento, Ano 13, ed. 88, 2016. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 12 jul. 2024.</p><p>MELLO, J. M. C. de; BELLUZZO, L. G. de M. Reflexões sobre a crise atual. In:</p><p>COUTINHO, R.; BELLUZZO, L. G. de M. Desenvolvimento Capitalista no</p><p>Brasil: ensaios sobre a crise. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.</p>

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