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<p>A ANTROPOLOGIA NO</p><p>BRASIL</p><p>Aula 1</p><p>ANTROPOLOGIA E POVOS</p><p>INDÍGENAS NO BRASIL</p><p>Antropologia e povos indígenas no</p><p>Brasil</p><p>Olá, estudante! Nesta videoaula, você vai conhecer a história das</p><p>políticas indigenistas no Brasil e a maneira como a Antropologia</p><p>atuou nesse contexto. Este conteúdo é importante para a</p><p>compreensão de um dos principais conflitos que envolve a</p><p>sociedade nacional.</p><p>Prepare-se para esta jornada de conhecimento! Vamos lá!</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 1/59</p><p>Ponto de Partida</p><p>Nesta aula, vamos falar de uma questão central para compreender</p><p>as relações interétnicas do Brasil, trata-se da questão indígena.</p><p>Mais particularmente da relação entre o Estado brasileiro e essas</p><p>populações ao longo de nossa história republicana. Desde o início</p><p>do século XX, houve políticas direcionadas aos povos indígenas que</p><p>variaram ao longo do século de uma prática com o objetivo de</p><p>“aculturar” esses povos até de um certo respeito a suas diversidades</p><p>socioculturais.</p><p>Ao acompanhar essa história, gostaríamos que você prestasse</p><p>atenção no pano de fundo teórico que acompanha as ações do</p><p>Estado brasileiro, seja implícita ou explicitamente. Procure analisar</p><p>esse processo tendo em mente a história da Antropologia e das</p><p>perspectivas sociais que abordam as relações interétnicas desde um</p><p>ponto de vista das sociedades ocidentais.</p><p>Ao final, voltaremos para fazer essa relação com você. Boa leitura!</p><p>Vamos Começar!</p><p>O Estado e os povos indígenas no Brasil</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 2/59</p><p>As relações entre Estado brasileiro e os povos indígenas variaram</p><p>de acordo com a maneira como essas sociedades foram entendidas</p><p>pelos poderes dominantes, bem como pelos processos de</p><p>resistência dos povos tradicionais, além da própria formação da</p><p>noção de nação e de povo brasileiro. Como nos coloca Lima (2015,</p><p>p. 92 – 93):</p><p>Em 1889, o Brasil republicano emergiu de um recente</p><p>passado colonial, trazendo consigo os legados institucionais e</p><p>simbólicos da monarquia, da escravidão, e da fusão entre a</p><p>Igreja e o Estado. Em que pese o afã modernizador do</p><p>Segundo Império brasileiro, as elites mestiças governantes da</p><p>República tinham grandes desafios a enfrentar: um enorme e</p><p>heteróclito território, mitificado desde a chegada dos</p><p>colonizadores portugueses como a sede de inúmeros</p><p>eldorados e quimeras, dotado de um vasto litoral; um</p><p>contingente humano composto por populações múltiplas -</p><p>imigrantes vindos da Europa do Norte, negros de origem</p><p>africana, negros crioulos, as populações indígenas dessa</p><p>porção das Américas e uma massa de mestiços que</p><p>consistiria nos quadros da burocracia de um Estado nacional</p><p>em expansão.</p><p>É a partir desse contexto que devemos entender as políticas</p><p>indigenistas e a relação entre o Estado brasileiro e os povos</p><p>indígenas. Como lembra Lima (2015), o primeiro serviço do Estado</p><p>brasileiro republicano foi criado em 1910, denominado Serviço de</p><p>Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais. Oito</p><p>anos depois passou a ser denominado Serviço de Proteção aos</p><p>Índios (SPI).</p><p>Era um momento de intensos conflitos, os povos indígenas resistiam</p><p>à invasão de seus territórios tradicionais, como consequência da</p><p>expansão do Estado e de atividades econômicas de ocupação e</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 3/59</p><p>exploração de terras. O SPI surgiu, conforme explica Lima (2015, p.</p><p>95), para responder a esses conflitos e foi influenciado pelo</p><p>“acúmulo simbólico e político estabelecido com a Comissão de</p><p>Linhas Telegráficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas</p><p>(1907-1915), comandada pelo, então, Tenente Coronel Cândido</p><p>Mariano da Silva Rondon.”.</p><p>Segundo Lima (2015), a chamada Comissão Rondon, integrada por</p><p>engenheiros-militares e expedições de cientistas naturais, foi</p><p>inspirada pelos princípios de Auguste Conte e a sua Religião da</p><p>Humanidade, e foi uma das primeiras iniciativas de contato com os</p><p>povos indígenas sem o uso deliberado de violência (o que não quer</p><p>dizer que não houvesse). Segundo o autor, Rondon passou a se</p><p>valer das técnicas jesuíticas de distribuir presentes aos indígenas ao</p><p>realizarem a penetração de novos territórios, porém a preocupação</p><p>não era mais da conquistar “almas indígenas”, e sim a de formar</p><p>cidadãos brasileiros. Segundo Lima (2015, p. 84):</p><p>Pretendendo primar por métodos científicos e contribuir para</p><p>a expansão de uma ciência nacional sobre o Brasil, a</p><p>Comissão Rondon acabou por se constituir numa das</p><p>principais fontes de peças etnográficas e espécimes naturais</p><p>para os museus brasileiros. Estava aí entrelaçada a nascente</p><p>Antropologia feita no Brasil. Muitos desses objetos serviriam</p><p>às permutas com numerosas instituições congêneres pelo</p><p>mundo, integrando um circuito de trocas singular: um dos</p><p>modos privilegiados de fazer circular as imagens do exótico,</p><p>do diferente e do inferior, tão caras à grande tradição</p><p>filosófica ocidental.</p><p>Importante também contextualizar que, conforme Lima (2015), a</p><p>Comissão Rondon promoveu uma grande ação midiática,</p><p>produzindo fotos e filmes que eram exibidos em conferências com a</p><p>finalidade de contribuir para construção que vinha sendo feita de</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 4/59</p><p>uma imagem desejada sobre o Brasil. Dessa forma, se projetava a</p><p>ideia da transformação do indígena arredio, feroz, inimigo em um</p><p>típico sertanejo, mestiço que se somaria às massas produtivas.</p><p>Era um período de valorização da noção de civilizado versus</p><p>selvagem e, nesse contexto, a estratégia era de atração e</p><p>pacificação dos indígenas a partir da distribuição de presentes,</p><p>gerando dívidas e construindo uma imagem de superioridade</p><p>técnica e moral. Assim, conforme Lima (2015), o Estado brasileiro se</p><p>colocava como benevolente – pois poderia matar mas opta por</p><p>assimilar – e tecnicamente superior, pois passa a imagem de que se</p><p>contrapõe ao indígena guerreiro com estratégias racionais, daí cria-</p><p>se uma dependência clientelista e inferiorizante na relação entre</p><p>indígenas e agentes do Estado.</p><p>Povos indígenas e tutela</p><p>Denominados de ‘silvícolas’, desde o Código Civil brasileiros de</p><p>1917, os indígenas eram considerados “relativamente incapazes”,</p><p>ao lado de menores de vinte um anos de idade e mulheres casadas.</p><p>Em lei aprovada em 1928, o SPI passa a ser o responsável legal do</p><p>Estado de tutelar o “índio”, categoria genérica que não especificava</p><p>exatamente quem seriam esses sujeitos. Conforme Lima (2015):</p><p>Inaugurou-se então o regime tutelar sobre os povos</p><p>indígenas, marcado pelas mesmas ideias assimilacionistas de</p><p>nosso arquivo colonial, no qual os indígenas são categoria</p><p>transitória, pois, uma vez expostos à “civilização”, a ela</p><p>adeririam por puro efeito mimético e pelas vantagens</p><p>evidentes que havia em ser “civilizado”. Por isso, a ideia era</p><p>reconhecer-lhes pequenas faixas como reservas de terras –</p><p>as áreas do Mato Grosso do Sul demarcadas pelo SPI são</p><p>excelente exemplo disso –, o básico para que se</p><p>sustentassem, não de acordo com seus reais modos de vida,</p><p>mas sim com aquilo que se pretendia que fossem no futuro –</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 5/59</p><p>pequenos produtores rurais ocupando o território brasileiro,</p><p>isto é, trabalhadores nacionais.</p><p>Perceba aqui a relação com as teses evolucionistas que apontam</p><p>para inferiorização e infantilização do indígena frente ao “civilizado”,</p><p>a tutela do Estado em relação aos povos indígenas, tratando como</p><p>um sujeito genérico e não como pertencente a uma variedade de</p><p>etnias com as suas próprias características, o que limita esses</p><p>povos do exercício de uma cidadania plena e busca assimilar</p><p>41/59</p><p>seu domínio imperceptível, ou seja, é preciso que a sociedade</p><p>naturalize, por exemplo, a presença dominante do branco nos</p><p>principais lugares de poder, seja público ou privado.</p><p>O racismo institucional é, portanto, sutil, não depende da intenção</p><p>individual na prática da discriminação, pode haver, por exemplo, um</p><p>indivíduo branco antirracista que ocupe uma posição de poder em</p><p>uma instituição que promova, por meio de suas regras, uma série de</p><p>dificuldades aos negros, como exigência de escolaridade elevada à</p><p>qual essa população não teve acesso.</p><p>Como vimos, as instituições refletem aquilo que já está presente em</p><p>uma sociedade. Se as instituições estão permeadas pelo racismo e</p><p>por conflitos, é porque eles estão estruturados na sociedade, daí a</p><p>importância de discutirmos a concepção de racismo estrutural.</p><p>A estrutura social, como bem enfatiza Almeida (2019, p. 48 - 49), se</p><p>constitui por diversos conflitos, como os de classe, raciais, sexuais.</p><p>As instituições que se propõem a enfrentar o racismo, devem adotar</p><p>práticas concretas de ações que visem esse fim, ou irão reproduzir</p><p>as práticas racistas já ‘naturalizadas’ na sociedade. Como diz o</p><p>autor: “Nesse caso, as relações do cotidiano no interior das</p><p>instituições vão reproduzir práticas sociais corriqueiras, dentre as</p><p>quais o racismo, na forma de violência explicita ou de</p><p>microagressões – piadas, silenciamento, isolamento etc.”</p><p>Notemos que o racismo se constitui, portanto, como um processo</p><p>político e histórico. Político porque a distinção e a discriminação</p><p>dependem do exercício do poder de um grupo sobre outro e, em</p><p>sociedades como a nossa, esse poder só pode ser exercido a partir</p><p>da dominação das instituições e do próprio Estado, no qual as</p><p>maiorias se impõem sobre grupos raciais minoritários.</p><p>E é um processo histórico, pois ele se manifesta em situações e</p><p>contextos específicos, de acordo com as variações sociais. Cada</p><p>sociedade tem a sua formação histórica particular, passando por</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 42/59</p><p>processos de mudança. Como lembra Almeida (2019), no Brasil, a</p><p>raça é definida a partir da aparência física e da classe, assim, um</p><p>negro pode reproduzir uma estética ligada à branquitude por meio</p><p>da capacidade de consumo típico da classe média, enquanto nos</p><p>Estados Unidos a classificação racial está ligada ao “sangue negro”,</p><p>em que qualquer um com ancestralidade africana é identificado</p><p>como negro, independentemente da posição social e econômica.</p><p>Com isso, podemos perceber que a análise de qualquer fenômeno</p><p>social depende da compreensão de processos históricos específicos</p><p>ligados à formação social da sociedade. Mesmo que uma pesquisa</p><p>se utilize, como é o caso da Antropologia, de ferramentas como a</p><p>observação direta e o trabalho empírico, ela deve vir acompanhada</p><p>de uma associação ao contexto mais amplo relacionado à sociedade</p><p>na qual o sujeito está inserido.</p><p>Siga em Frente...</p><p>Raça e juventudes</p><p>Os estudos sobre juventude no Brasil iniciam, especialmente, nos</p><p>anos 1960, quando análises sociológicas apontam a juventude, em</p><p>geral de classe média, como revolucionária e questionadora da</p><p>ordem social. Já nos anos 1990, segundo Abramo (1994), as</p><p>análises sobre juventude tendiam a ressaltar a negatividade e a</p><p>ausência de crítica da ordem social.</p><p>Sousa (2003), ao refletir a relação entre juventude e política, chama</p><p>a atenção para existência de uma politização de parte de jovens,</p><p>críticos às práticas políticas tradicionais institucionalizadas, como os</p><p>partidos políticos. A autora distingue a atuação dos sujeitos na</p><p>esfera do poder político institucional da atuação em espaços da</p><p>experiência social:</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 43/59</p><p>As manifestações juvenis contemporâneas se qualificam</p><p>como atividade política numa abrangência social e cultural</p><p>diferenciada daquela de que se ocupa a esfera institucional</p><p>com um sentido singular [...] discutir o que há de político nos</p><p>seus movimentos, ou onde é possível identificar a</p><p>transferência do elemento político como 'resposta humana'</p><p>uma vez que a política pensada apenas no universo de uma</p><p>luta pelo poder limita a dimensão explicativa das suas</p><p>práticas contestatórias atuais. (Sousa, 2003, p. 3)</p><p>Em uma pesquisa de campo com jovens de Salvador, identificados</p><p>pelo termo brau, Pinho (2005) mostra que eles têm incorporado uma</p><p>série de significados impostos e autoatribuídos, apoiados em novas</p><p>identidades e cultura negras. Trata-se de um processo de</p><p>reafricanização, que o autor entende como uma agência social,</p><p>política e cultural afrodescendente, que se apoia em símbolos</p><p>ligados à africanidade global.</p><p>Para Pinho (2005), o brau representa, ao seu modo, um processo</p><p>mais amplo que afeta diversos grupos negros da sociedade, de</p><p>reinvenção de identidade e de representação do negro e da “cultura”</p><p>negra. O autor destaca que nesse grupo há uma forte e agressiva</p><p>afirmação corporal, em um contexto social-discursivo de</p><p>reconfiguração identitária afrodescendente na busca por</p><p>reconhecimento e autonomia.</p><p>É importante chamar a atenção que a análise de Pinho (2005) trata</p><p>de um caso particular, situado em Salvador, na Bahia e, portanto,</p><p>está sujeito ao contexto político e cultural daquela sociedade. A</p><p>maneira como se vivencia essa fase da vida, a juventude, vai variar</p><p>segundo muitos marcadores sociais da diferença, como raça,</p><p>gênero e classe. Sendo assim, podemos falar que existem</p><p>juventudes, no plural. O exemplo do brau nos ajuda a pensar nessa</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 44/59</p><p>diversidade, e na noção de que os aspectos locais e situacionais</p><p>são fundamentais para qualquer análise ou intervenção social.</p><p>Nesse sentido, mais do que uma fase biológica da vida, as</p><p>juventudes são configurações sociais, definidas culturalmente. Nas</p><p>sociedades ocidentais, essa fase da vida é idealmente pensada</p><p>como uma preparação para a vida adulta, caracterizadas por</p><p>momentos de estudos, de tempo livre, de liberdade e de</p><p>experimentação. No entanto, percebemos que os sujeitos vão</p><p>vivenciar esse momento de forma muito diversificada, influenciados</p><p>pelos mais diversos marcadores sociais da diferença.</p><p>Uma jovem negra, periférica, por exemplo, provavelmente vai ter</p><p>muitas experiências diferentes de uma jovem branca de classe</p><p>social privilegiada. Muitas vezes, os jovens de classes sociais</p><p>menos favorecidas precisam se inserir no mercado de trabalho de</p><p>forma precoce, prejudicando o processo de escolarização, de</p><p>vivência do lazer e do tempo livre, características ideais das</p><p>juventudes ocidentais. Nesse sentido, algumas questões</p><p>caracterizadas como responsabilidades da vida adulta são</p><p>vivenciadas precocemente. É nesse sentido que afirmamos que</p><p>juventude é uma questão cultural e social, para além de traços</p><p>biológicos.</p><p>Questões idealizadas de gênero também impactam a vida dos</p><p>homens jovens. Pensando no ideal de masculinidade ligado às</p><p>noções de coragem, agressividade, virilidade, sexualidade ativa,</p><p>podemos analisar as práticas de risco que os homens jovens se</p><p>submetem constantemente, sendo eles os que mais são vitimados</p><p>por mortes violentas e pela criminalidade. Somado às questões</p><p>raciais que fazem com que os negros sejam a maior parcela da</p><p>sociedade em situação de vulnerabilidade social, os jovens negros</p><p>acabam em contextos de maior precariedade social se comparado</p><p>aos jovens brancos.</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 45/59</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Agora que você se aproximou da análise sobre juventudes, classe e</p><p>gênero, vamos voltar às nossas questões iniciais. Como havíamos</p><p>provocado: poderíamos dizer que é diferente a maneira de ser</p><p>jovem em um contexto de uma sociedade de classes?</p><p>Ou a</p><p>juventude é marcada por uma questão biológica e se expressa da</p><p>mesma forma em qualquer lugar? Quais são os valores e quais são</p><p>as representações e autorrepresentações com as quais os jovens</p><p>contemporâneos identificam-se? O que é ser homem? Como essas</p><p>masculinidades se relacionam entre si, e entre as feminilidades?</p><p>Em cada sociedade, em diferentes períodos históricos e em</p><p>diferentes culturas, pode variar a maneira como se entende essa</p><p>fase da vida que nominamos como juventude. E no interior de uma</p><p>mesma sociedade também vamos ter uma diversidade de</p><p>experiências, desse modo, as oportunidades e o estilo de vida de</p><p>um jovem branco, de classe média de São Paulo, por exemplo,</p><p>podem ser muito diferentes de um jovem periférico, negro, de</p><p>Salvador.</p><p>Quando queremos atuar junto a um grupo social, ou uma população,</p><p>devemos ter em mente a necessidade de sempre considerar a</p><p>situação e o contexto em que esses sujeitos estão inseridos,</p><p>evitando concepções prévias de quais seriam as necessidades ou</p><p>demandas dos sujeitos.</p><p>Nesse mesmo sentido, o que é ser considerado “homem de</p><p>verdade” ou uma “mulher de verdade” pode variar a depender</p><p>desses fatores, ou seja, vai ficar pendentes dos valores e, por sua</p><p>vez, de classe social, de raça, de experiencias de vida individuais.</p><p>Claro que temos alguns modelos ideais que acabam servindo de</p><p>referência, como vimos em nossos estudos. Assim, ainda tem</p><p>bastante peso em nossa sociedade a ideia de que o “homem de</p><p>verdade” deve expressar virilidade, coragem, força, enquanto ser</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 46/59</p><p>“mulher de verdade” remete à delicadeza, sensibilidade, cuidado de</p><p>si e do outro etc. A sociedade ao reproduzir essa ideologia acaba</p><p>por influenciar na reprodução desses ideais entre os novos</p><p>membros e, em determinadas situações, esses ideais podem</p><p>colaborar para colocar esses sujeitos em situações de risco, de</p><p>violência, de subordinação, de exclusão, e assim por diante.</p><p>O que você achou de nossas discussões? Você acrescentaria quais</p><p>pontos para essas questões?</p><p>Saiba Mais</p><p>A raça como uma classificação social</p><p>Desde os anos 1960, temos uma intensificação, em todo mundo,</p><p>das ações de movimentos sociais organizados pela população</p><p>negra, reivindicando o fim das discriminações raciais. No Brasil não</p><p>é diferente. Há uma longa história do movimento negro por aqui.</p><p>Propomos a leitura do artigo “Movimento negro brasileiro: alguns</p><p>apontamentos históricos” para conhecer um pouco mais dessa</p><p>história.</p><p>DOMINGUES, P. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos</p><p>históricos. Tempo, v. 12, n. 23, p. 100-122, 2007.</p><p>Racismo individual, institucional e estrutural</p><p>Entenda um pouco mais sobre a noção de minorias, e como esse</p><p>conceito pode contribuir para discutir as discriminações e as</p><p>desigualdades sociais.</p><p>VIANA, N. O que são Minorias?. Revista Posição, [S. l.], v. 3, n. 09,</p><p>p. 27-32, 2022.</p><p>Raça e juventudes</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 47/59</p><p>https://www.scielo.br/j/tem/a/yCLBRQ5s6VTN6ngRXQy4Hqn/#</p><p>https://www.scielo.br/j/tem/a/yCLBRQ5s6VTN6ngRXQy4Hqn/#</p><p>https://redelp.net/index.php/pos/article/view/147/137</p><p>As ações afirmativas e as políticas de Estado abarcando minorias e</p><p>direitos humanos do ponto de vista antropológico, da antropóloga</p><p>Denise Fagundes Jardim, é um texto que nos fornece um ótimo</p><p>exemplo do que as instituições e o Estado podem fazer para</p><p>impactar positivamente a sociedade brasileira no sentido de um</p><p>combate efetivo ao racismo estrutural.</p><p>JARDIM, D. F. As ações afirmativas e as políticas de Estado</p><p>abarcando minorias e direitos humanos do ponto de vista</p><p>antropológico. In: JARDIM, D.F.; LÓPEZ, L.C. (org). Políticas da</p><p>diversidade: (in)visibilidades, pluralidade e cidadania em uma</p><p>perspectiva antropológica [online]. Porto Alegre: Editora da UFRGS,</p><p>2013.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>ABRAMO, H. W. Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo</p><p>urbano. São Paulo: Página Aberta, Scritta/ANPOCS, 1994.</p><p>ALMEIDA, S. L. de. Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro.</p><p>Pólen, 2019.</p><p>DOMINGUES, P. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos</p><p>históricos. Tempo, v. 12, n. 23, p. 100-122, 2007. Disponível em:</p><p>https://www.scielo.br/j/tem/a/yCLBRQ5s6VTN6ngRXQy4Hqn/#.</p><p>Acesso em: 21 de fev. de 2024.</p><p>JARDIM, D. F. As ações afirmativas e as políticas de Estado</p><p>abarcando minorias e direitos humanos do ponto de vista</p><p>antropológico. In: JARDIM, D. F.; LÓPEZ, L. C. (org.). Políticas da</p><p>diversidade: (in)visibilidades, pluralidade e cidadania em uma</p><p>perspectiva antropológica [online]. Porto Alegre: Editora da UFRGS,</p><p>2013. Disponível em:</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 48/59</p><p>https://static.scielo.org/scielobooks/sny5t/pdf/jardim-9788538603856.pdf#page=118</p><p>https://static.scielo.org/scielobooks/sny5t/pdf/jardim-9788538603856.pdf#page=118</p><p>https://static.scielo.org/scielobooks/sny5t/pdf/jardim-9788538603856.pdf#page=118</p><p>https://static.scielo.org/scielobooks/sny5t/pdf/jardim-9788538603856.pdf#page=118</p><p>https://static.scielo.org/scielobooks/sny5t/pdf/jardim-9788538603856.pdf#page=118</p><p>https://static.scielo.org/scielobooks/sny5t/pdf/jardim-9788538603856.pdf#page=118</p><p>https://www.scielo.br/j/tem/a/yCLBRQ5s6VTN6ngRXQy4Hqn/#</p><p>https://static.scielo.org/scielobooks/sny5t/pdf/jardim-</p><p>9788538603856.pdf#page=118. Acesso em: 21 fev. 2024.</p><p>PINHO, O. de A. Etnografias do brau: corpo, masculinidade e raça</p><p>na reafricanização em Salvador. Revista Estudos Feministas,</p><p>Florianópolis, v. 13, n. 1, p. 127-145, 2005.</p><p>SOUSA, J. T. P. As insurgências juvenis e as novas narrativas</p><p>políticas contra o instituído. Cadernos de Pesquisa, Florianópolis, v.</p><p>32. p. 1-33, fev., 2003.</p><p>VIANA, N. O que são Minorias?. Revista Posição, [S. l.], v. 3, n. 09,</p><p>p. 27-32, 2022. Disponível em:</p><p>https://redelp.net/index.php/pos/article/view/147. Acesso em: 21 fev.</p><p>2024.</p><p>Encerramento da Unidade</p><p>A ANTROPOLOGIA NO</p><p>BRASIL</p><p>Videoaula de Encerramento</p><p>Olá, estudante! Nesta videoaula, você vai conhecer os elementos</p><p>centrais da história da Antropologia brasileira.</p><p>Este conteúdo é importante para a sua prática profissional, pois, ao</p><p>analisar a história da Antropologia brasileira, vamos refletir sobre</p><p>temas centrais para a compreensão das desigualdades sociais que</p><p>nos acometem.</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 49/59</p><p>https://redelp.net/index.php/pos/article/view/147</p><p>https://redelp.net/index.php/pos/article/view/147</p><p>https://redelp.net/index.php/pos/article/view/147</p><p>Prepare-se para esta jornada de conhecimento! Vamos lá!</p><p>Ponto de Chegada</p><p>O nosso objetivo com essa última reflexão da disciplina, é</p><p>conjecturar a compreensão intercultural sobre os desafios</p><p>enfrentados pelo Brasil a partir do contato entre povos indígenas,</p><p>populações tradicionais e colonizadores europeus. Podemos dizer</p><p>que esse é o ponto inicial da construção de uma sociedade</p><p>estruturalmente desigual, desde os primeiros contatos com os povos</p><p>indígenas, a posterior exploração de mão de obra escravizada, com</p><p>os sequestros dos povos africanos.</p><p>Nessa reflexão, nós vamos partir da discussão sobre as políticas</p><p>indigenistas do Brasil república e as suas relações com as teorias</p><p>sociais que predominavam no final do século XIX e início do século</p><p>XX. Abordaremos, ainda, o período militar e o contexto social de</p><p>resistência, do fortalecimento dos movimentos sociais e das</p><p>conquistas históricas que culminaram na Constituição de 1988. Por</p><p>fim, abordaremos as contradições entre os direitos formais e a</p><p>vivência das pessoas, pois a efetivação dos direitos e da cidadania</p><p>não se deu para todas as pessoas.</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html</p><p>50/59</p><p>As relações entre o Estado brasileiro republicano e os povos</p><p>indígenas começa em 1910, com a implementação do Serviço de</p><p>Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais, que</p><p>logo seria Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Era um contexto de</p><p>conflitos com a resistência dos povos indígenas que estavam</p><p>perdendo os seus territórios tradicionais com a expansão do Estado.</p><p>A Comissão Rondon ficou encarregada de contatar os indígenas,</p><p>instituiu-se, então, a prática de presentear e atrair os povos</p><p>indígenas com a intenção de integrá-los na sociedade envolvente.</p><p>Em termos teóricos prevalecia no pensamento social as teses</p><p>evolucionistas e positivistas, que valorizavam a ideia de progresso e</p><p>distinguiam as culturas como civilizadas ou selvagens, o que</p><p>justificava e “legitimava” as ações do Estado de acantonamento dos</p><p>indígenas, ou seja, juntá-los em territórios previamente definidos e</p><p>demarcados pelo Estado. Note que os povos já tinham os seus</p><p>territórios definidos por sua existência originária e suas práticas.</p><p>Hoje, quando se define um território indígena, essa história é</p><p>preservada o máximo possível, mas naquele período inicial não</p><p>havia essa preocupação.</p><p>A política do SPI foi se transformando à medida em que</p><p>antropólogos começam a ser formados no Brasil, e passam atuar no</p><p>Estado, jovens antropólogos como Darcy Ribeiro, Eduardo Galvão e</p><p>Roberto Cardoso de Oliveira, com isso passamos, paulatinamente, a</p><p>ter uma política indigenista mais relativista, bem como passamos a</p><p>ter uma legislação internacional de maiores garantias de direitos às</p><p>populações originárias. Vale destacar, aqui, a Convenção 169 da</p><p>Organização Internacional para o Trabalho (OIT) sobre a “Proteção</p><p>de Populações Indígenas e Tribais”, que trata das populações</p><p>indígenas e tribais de todo o mundo.</p><p>Movimentos de defesa e proteção de populações tradicionais</p><p>vulneráveis, e a própria organização dos povos tradicionais,</p><p>inclusive do Brasil, vão pressionar Estados nacionais para a</p><p>proteção e a garantia dos direitos de suas populações tradicionais.</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 51/59</p><p>No Brasil, nos períodos entre as décadas de 1930 e 1970, as</p><p>políticas indigenistas vão ser influenciadas pelos estudos de</p><p>contatos interétnicos, que predominava na Antropologia da época,</p><p>bem como por uma série de convenções e tratados internacionais,</p><p>que pressionavam por uma relação mais humanista nesses</p><p>contatos.</p><p>O golpe militar de 1964 e a implementação da ditadura no Brasil</p><p>intensificou as políticas desenvolvimentistas e o avanço na</p><p>Amazônia, gerando um processo de invasão e tomada dos territórios</p><p>tradicionais indígenas, porém, com as pressões internacionais e a</p><p>articulação de movimentos de resistência dos povos tradicionais,</p><p>tivemos uma política indigenista de criação de territórios reservados</p><p>para essas populações reproduzirem, na medida do possível, as</p><p>suas tradições e modos de vida. As análises teóricas já haviam</p><p>avançado e superado as noções de selvagens/civilizados, o que vai</p><p>impactar na formação da Fundação Nacional do Índio – Funai</p><p>(atualmente chamada de Fundação Nacional dos Povos Indígenas),</p><p>que viria a substituir o SPI, como órgão de Estado responsável pelas</p><p>populações indígenas.</p><p>A política indigenista do período ficou marcada pela noção de Tutela,</p><p>que considerava os povos indígenas relativamente incapazes</p><p>juridicamente. Outra marca importante do período foi a criação do</p><p>Parque Nacional do Xingú, que hoje é um Território Indígena que</p><p>abriga várias etnias. É nesse contexto que vai se desenhando a</p><p>ideia dos Territórios Indígenas no Brasil, como uma política</p><p>indigenista oficial, o que vai se efetivar somente na Constituição de</p><p>1988, quando finalmente tivemos uma normatização em forma de</p><p>Lei que considera os indígenas como sujeitos portadores de direitos</p><p>civis, sociais e difusos.</p><p>A Constituinte foi marcada por forte pressão internacional e grande</p><p>mobilização e articulação dos povos indígenas, que conseguiram</p><p>avanços significativos para a proteção de sua diversidade social e</p><p>cultural, ao menos no plano formal. É fato que a pressão, a invasão</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 52/59</p><p>e a ocupação de seus territórios tradicionais não termina com a</p><p>garantia legal, ainda hoje assistimos a grilagem de suas terras, o</p><p>avanço do agronegócio e da fronteira agrícola de seus territórios,</p><p>bem como a mineração ilegal, a caça e pesca ilegal, e o descaso do</p><p>Estado na garantia de seus direitos conquistados.</p><p>Isso nos leva ao questionamento sobre a relação entre a Lei e a</p><p>prática. É senso comum no Brasil que tem Lei “que não pega”, ou</p><p>seja, que existem garantias constitucionais que são diariamente</p><p>desrespeitadas e de difícil acesso prático a parcelas consideráveis</p><p>da população. Nesse sentido, podemos refletir sobre quem são os</p><p>sujeitos de direitos no Brasil, quem consegue exercer a sua</p><p>cidadania e ter acesso às garantias legais.</p><p>É nesse contexto que a noção de minorias sociais pode ser</p><p>debatida. Minorias são todos aqueles grupos que enfrentam</p><p>barreiras e obstáculos na garantia do acesso aos serviços e direitos</p><p>para o exercício de uma vida digna e saudável. Nesse sentido,</p><p>povos indígenas, negros, mulheres, pobres, entre outros, são</p><p>cotidianamente afetados pela realidade desigual que não oferece as</p><p>mesmas oportunidades para todos.</p><p>A história da Antropologia no Brasil pode ser lida em paralelo à</p><p>história dos grupos minoritários, à medida em que seu interesse pelo</p><p>entendimento da diversidade e a sua preocupação em compreender</p><p>a organização das sociedades, levou antropólogas e antropólogos a</p><p>acompanhar de perto a vida de sujeitos, muitas vezes invisibilizados</p><p>ou inferiorizados pelo senso comum, pela mídia, e por diversos</p><p>setores do pensamento científico, como vimos no exemplo da</p><p>análise das políticas indigenistas no Brasil.</p><p>Mas a diversidade não está presente somente nessas diferenças</p><p>culturais mais evidentes, como é caso da distância cultural entre os</p><p>indígenas e os não-indígenas. Quando analisamos as relações entre</p><p>as demais minorias e o Estado/sociedade no Brasil, também</p><p>podemos perceber a maneira como se produz a diferença e, mais</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 53/59</p><p>ainda, a maneira como se produz e reproduz as desigualdades</p><p>sociais.</p><p>Aqui vale a pena voltarmos ao debate sobre a relação entre direitos</p><p>e sujeitos de direito. A Constituição de 1988 trouxe garantias aos</p><p>direitos individuais, sociais e difusos, mas percebemos que esses</p><p>direitos ainda não chegam a todas as pessoas, à medida em que a</p><p>estrutura social, a formação histórica e cultural produze reproduz</p><p>hierarquias que parecem definir quem deve ou não ser</p><p>“merecedores” de direitos.</p><p>Aspectos morais e ideológicos tendem a reproduzir valorações a</p><p>determinados sujeitos, enquanto naturalizam a desvalorização de</p><p>outros. Os pobres, por exemplo, não raramente são</p><p>responsabilizados individualmente por suas dificuldades e mazelas,</p><p>basta pensarmos em falas como: “quem trabalha consegue melhorar</p><p>de vida e até ficar rico”, “basta se esforçar que a gente conquista as</p><p>coisas”, e assim por diante. Falas como essas reproduzem o</p><p>discurso meritocrático, que é focado no esforço individual, atribuindo</p><p>sucesso ou fracasso – que normalmente está ligado a questões</p><p>materiais – aos próprios indivíduos, ignorando questões sociais e</p><p>culturais.</p><p>Ao longo de sua história no Brasil, a Antropologia buscou</p><p>demonstrar, justamente, que os indivíduos atuam em contextos e</p><p>situações específicas, assim se desenvolveu uma Antropologia</p><p>urbana que procurou demonstrar a maneira como os sujeitos</p><p>vivenciam a diversidade social nas cidades, procurando interpretar</p><p>os significados das experiências sociais, sejam elas positivas ou</p><p>negativas, em meio a uma expansão urbana desordenada que</p><p>explicita</p><p>as diferenças de classe social.</p><p>A Antropologia, nesse contexto, vai produzir uma série de reflexões</p><p>sobre as questões de classe, como observamos nas pesquisas que</p><p>procuram analisar os efeitos de políticas públicas e programas de</p><p>Estado direcionado a pessoas vulneráveis economicamente. É o</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 54/59</p><p>caso das análises sobre o Programa Bolsa Família, mais do que</p><p>analisar o Programa em si, a Antropologia vai buscar ouvir a voz dos</p><p>benificiários da política, e os efeitos práticos na vida cotidiana dos</p><p>sujeitos.</p><p>Importante notar também as relações da Antropologia com os</p><p>movimentos sociais, em um jogo de mão dupla, acadêmicos são</p><p>influenciados pelas demandas e questionamento dos movimentos</p><p>sociais ao passo que desenvolvem análises e reflexões que são</p><p>reapropriados pelos militantes. Caso o exemplar dessa relação são</p><p>as discussões sobre gênero, provocadas pelos movimentos</p><p>feministas, a Antropologia foi desenvolvendo inúmeras pesquisas</p><p>para contribuir com o enfrentamento das desigualdades que afetam</p><p>as mulheres.</p><p>Por fim, vale ressaltar que a Antropologia brasileira acompanha os</p><p>desenvolvimentos da Antropologia feita fora do país,</p><p>predominantemente na Europa e Estados Unidos, os paradigmas e</p><p>escolas de pensamento desenvolvidos fora, chegam aqui e são</p><p>repensadas ganhando contornos próprios estimulados pela nossa</p><p>própria realidade, isso acontece, pois o método da Observação</p><p>Participante e da etnografia, exige que conceitos e teorias seja</p><p>produzidos a partir das interrelações do pesquisador com os sujeitos</p><p>da realidade pesquisada, como as realidades são diferentes, as</p><p>necessidades analíticas também são. Assim, podemos dizer que</p><p>temos uma Antropologia brasileira, feita aqui com características</p><p>próprias, sem deixar de dialogar com a Antropologia feita fora, num</p><p>movimento de leituras e releituras do próprio fazer antropológico, o</p><p>que tende a enriquecer análises e, esperamos contribuir para</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 55/59</p><p>melhorar a vida de todos, coletivamente, respeitando as diferenças e</p><p>valorizando a diversidade.</p><p>É Hora de Praticar!</p><p>Leia esta matéria da Agência Brasil sobre as condições de vida de</p><p>povos indígenas que vivem nas cidades do Brasil: Indígenas na</p><p>cidade: pobreza e preconceito marcam condição de vida, publicada</p><p>em 19 abril de 2017, por Blanca Palva e Maíra Helnen.</p><p>Reflita</p><p>Como podemos analisar o contexto descrito na reportagem a partir</p><p>das reflexões de nossa disciplina? Quais respostas poderíamos dar</p><p>a esse quadro?</p><p>Resolução do estudo de caso</p><p>Podemos perceber que a Antropologia pode ser importante para</p><p>discutir e desenvolver políticas públicas para o enfrentamento de</p><p>diversos problemas sociais. No caso aqui discutido, poderíamos</p><p>Reflita</p><p>Quais pontos de encontro você encontra entre a Antropologia e a</p><p>sua área de formação?</p><p>Em sua área de formação é importante a atenção à diversidade</p><p>social e cultural?</p><p>Qual parte da Antropologia chamou mais a sua atenção?</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 56/59</p><p>https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-04/indigenas-na-cidade-pobreza-e-preconceito-marcam-condicao-de-vida</p><p>https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-04/indigenas-na-cidade-pobreza-e-preconceito-marcam-condicao-de-vida</p><p>sugerir que é papel da Antropologia ouvir as demandas das</p><p>populações indígenas que se encontram nas cidades e, a partir</p><p>desse diálogo e junto aos indígenas, sugerir ações e programas</p><p>para o atendimento dessas populações.</p><p>As demandas podem ser diferentes a depender do contexto e da</p><p>situação dos povos indígenas que vivem nas cidades brasileiras. A</p><p>Antropologia nos ensina que não há uma resposta única para todos</p><p>os casos, as demandas podem variar de uma cidade para outra, e</p><p>de acordo com as práticas culturais dos povos indígenas afetados.</p><p>O mais importante é que haja um acompanhamento constante de</p><p>avaliação e aplicação das políticas públicas, envolvendo os próprios</p><p>sujeitos que serão objeto dessas políticas.</p><p>É comum em nosso país que os programas e as políticas públicas</p><p>sejam elaboradas, aplicadas e avaliadas por pessoas que não,</p><p>necessariamente, vivenciam e veem de perto os problemas</p><p>enfrentados pelas pessoas, isso pode criar distorções e empecilhos</p><p>para a efetivação das políticas, gerando gastos de recursos de</p><p>forma desnecessária e mal direcionada.</p><p>A Antropologia tem demonstrado a importância de compreender o</p><p>sentido das experiências humanas, o que envolve o respeito e a</p><p>valorização da diferença. Dessa forma, as políticas públicas</p><p>precisam ser ao mesmo tempo universalizantes, no sentido de</p><p>atingir a população como um todo, mas também devem ser</p><p>maleáveis para que possam atender às pessoas respeitando suas</p><p>particularidades culturais e sociais.</p><p>Dê o play!</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 57/59</p><p>Assimile</p><p>Vamos visualizar as fases da Antropologia brasileira? O</p><p>desenvolvimento de um paradigma ou da história de um</p><p>pensamento não é linear e dificilmente comporta grandes rupturas,</p><p>ou seja, pensamentos e teses diversas convivem juntas, porém</p><p>podemos sugerir, para efeitos didáticos, algumas características e</p><p>fases de um pensamento. Vejamos a seguir:</p><p>Referências</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 58/59</p><p>BERNARDO, L. F. Povos indígenas e Direitos Territoriais. 1. ed.</p><p>Belo Horizonte, MG: Editora Del Rey, 2021. Disponível em:</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/196975/epub/0?</p><p>code=hbZA+yN7h9QXu5Lufr86LkolUZTLKaZnSR7fZlue/FemGqI/y3</p><p>ZWCoFcivxbcEF3BMYFI6oDKQAljk44inH9Aw==. Acesso em: 19</p><p>fev. 2024.</p><p>LIMA, A. C. de S. Estado e povos indígenas no Brasil</p><p>contemporâneo: da tutela à ação do movimento indígena. In: DO</p><p>VALLE, C. G. do (Org). Etnicidade e mediação. São Paulo:</p><p>Annablume, 2015.</p><p>RIBEIRO, D. Diários índios: os Urubus-Kaapor. 1. ed. digital. Global</p><p>editora: São Paulo, 2020. Disponível em:</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/185246/epub/0?</p><p>code=J3MhDwA0sgnWQdC3SLl4JCoK+xoWWjPG+wVnOqH5Q1Po</p><p>nmHn/tFON0TU6nHP85c7uWAAOjrxO8ayNxIwZnbTDA==. Acesso</p><p>em: 19 fev. 2024.</p><p>PAIVA, B.; HELNEN, M. Indígenas na cidade: pobreza e</p><p>preconceito marcam condição de vida. Agência Brasil, 2017.</p><p>Disponível em https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-</p><p>humanos/noticia/2017-04/indigenas-na-cidade-pobreza-e-</p><p>preconceito-marcam-condicao-de-vida. Acesso em: 22 fev. 2024.</p><p>WITTMANN, L. T. Ensino (d)e História Indígena. Belo Horizonte:</p><p>Autêntica Editora, 2015. Disponível em:</p><p>https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/97885821742</p><p>65/pageid/4. Acesso em: 19 fev. 2024.</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 59/59</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/196975/epub/0?code=hbZA+yN7h9QXu5Lufr86LkolUZTLKaZnSR7fZlue/FemGqI/y3ZWCoFcivxbcEF3BMYFI6oDKQAljk44inH9Aw==</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/196975/epub/0?code=hbZA+yN7h9QXu5Lufr86LkolUZTLKaZnSR7fZlue/FemGqI/y3ZWCoFcivxbcEF3BMYFI6oDKQAljk44inH9Aw==</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/196975/epub/0?code=hbZA+yN7h9QXu5Lufr86LkolUZTLKaZnSR7fZlue/FemGqI/y3ZWCoFcivxbcEF3BMYFI6oDKQAljk44inH9Aw==</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/185246/epub/0?code=J3MhDwA0sgnWQdC3SLl4JCoK+xoWWjPG+wVnOqH5Q1PonmHn/tFON0TU6nHP85c7uWAAOjrxO8ayNxIwZnbTDA==</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/185246/epub/0?code=J3MhDwA0sgnWQdC3SLl4JCoK+xoWWjPG+wVnOqH5Q1PonmHn/tFON0TU6nHP85c7uWAAOjrxO8ayNxIwZnbTDA==</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/185246/epub/0?code=J3MhDwA0sgnWQdC3SLl4JCoK+xoWWjPG+wVnOqH5Q1PonmHn/tFON0TU6nHP85c7uWAAOjrxO8ayNxIwZnbTDA==</p><p>https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-04/indigenas-na-cidade-pobreza-e-preconceito-marcam-condicao-de-vida</p><p>https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-04/indigenas-na-cidade-pobreza-e-preconceito-marcam-condicao-de-vida</p><p>https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-04/indigenas-na-cidade-pobreza-e-preconceito-marcam-condicao-de-vida</p><p>https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788582174265/pageid/4</p><p>https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788582174265/pageid/4</p><p>esses</p><p>sujeitos na cultura nacional.</p><p>Conforme Lima (2015), esse processo de aldeamento fez conhecer</p><p>a diversidade de situações históricas dos indígenas e, na década de</p><p>1950, jovens profissionais da Antropologia social e cultural passam a</p><p>fazer parte das políticas de Estado. Era o contexto pós-guerra, as</p><p>teorias racialistas que embasaram o Holocausto passam por uma</p><p>revisão crítica, assim como os nacionalismos e colonialismos são</p><p>objetos de análise.</p><p>Os jovens antropólogos Darcy Ribeiro, Eduardo Galvão e</p><p>Roberto Cardoso de Oliveira, etnólogos do SPI, viram surgir a</p><p>Declaração Universal de Direitos do Homem, de 10 de</p><p>dezembro de 1948, dos quais também redundaria a</p><p>Convenção nº 107, de 26 de junho de 1957, da Organização</p><p>Internacional para o Trabalho (OIT), sobre a “Proteção de</p><p>Populações Indígenas e Tribais”, de cujo processo de</p><p>discussão participou o SPI. O Brasil a ratificaria só nove anos</p><p>após, pelo Decreto nº 58.824, de 14 de julho de 1966. Igual</p><p>demora aconteceria, veremos, com a Convenção 169, que</p><p>substituiu a de número 107. Durante os anos do governo</p><p>“democrático” do (ex)ditador brasileiro Getúlio Vargas (1950-</p><p>1954), Ribeiro, sobretudo, além de Galvão e Cardoso, junto</p><p>com outros antropólogos, técnicos do SPI, como José Maria</p><p>da Gama Malcher, ou médicos, como Noel Nutels, elaboraram</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 6/59</p><p>uma nova visão, uma utopia, em que os povos indígenas</p><p>poderiam ser o signo de sua própria diferença, num país que</p><p>historicamente primou por construir sua imagem de unidade</p><p>homogênea. (LIMA, 2015, p. 96)</p><p>Superados os estudos embasados em teses evolucionistas, as</p><p>novas teorias que se apoiavam nas análises de contato interétnico,</p><p>levaram a um processo de maior humanização na relação entre</p><p>Estado e povos indígenas, e passa a prevalecer a ideia de</p><p>autogestão das terras pelos próprios indígenas, onde eles deveriam</p><p>se relacionar com natureza da maneira como achassem melhor.</p><p>Como lembra Lima (2015), é daí que surge a criação do parque</p><p>indígena do Xingu, criado em 1961. Em meio a tensões e conflitos</p><p>pela terra, o Parque do Xingú viria a se transformar em uma ‘vitrine’</p><p>do indigenismo brasileiro, na qual os indígenas poderiam viver, a</p><p>partir de um ideário romantizado, em um mundo ‘intocado pelo</p><p>branco’, de modo ‘primitivo’, como um ‘verdadeiro índio’.</p><p>É importante notar que essa ideia produz um outro problema, à</p><p>medida em que cria-se a imagem de um ‘verdadeiro índio’, gera-se</p><p>também o seu oposto, ‘o falso índio’, e nesse caso, é mais difícil o</p><p>reconhecimento e a garantia de direitos. Desse modo, segundo Lima</p><p>(2015), no Nordeste brasileiro, os povos indígenas lutavam para ser</p><p>reconhecidos como tal, esses, acantonados em pequenas porções</p><p>de terras em regiões que ocupavam a séculos, foram objeto de</p><p>grande discriminação e exploração de sua mão de obra, e já vinham</p><p>reivindicando a sua tutela por parte do SPI, desde 1920. Com isso,</p><p>buscavam o reconhecimento de condição de indígenas e direitos ao</p><p>usufruto de seus territórios tradicionais.</p><p>Siga em Frente...</p><p>Funai e Territórios Indígenas</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 7/59</p><p>Em 1967, a Fundação Nacional do Índio – Funai (atualmente</p><p>chamada de Fundação Nacional dos Povos Indígenas) substitui o</p><p>SPI e a tutela aos indígenas passa a ter um foco um pouco mais</p><p>relativista, levando em consideração a necessidade de terras e</p><p>partindo do entendimento que as sociedades indígenas têm ritmos</p><p>culturais específicos. Porém, como coloca Lima (2015), sob a</p><p>ditadura militar e o AI-5, o desenvolvimentismo e a expansão para a</p><p>Amazônia no projeto de integração nacional impactou severamente</p><p>as populações indígenas. Nas décadas de 1970 e 1980, muitas</p><p>denúncias de organizações que lutavam pelos direitos indígenas</p><p>geraram algum constrangimento internacional, o que forçou o</p><p>governo militar a aprovar o Estatuto do Índio (Lei 6001/1973), que,</p><p>apesar de manter o ideal assimilacionista e tutelar, abriu maiores</p><p>possibilidades de luta pelas terras indígenas.</p><p>Conforme Lima (2015), os movimentos internacionais passam a</p><p>pressionar as instituições financeiras, como o Banco Mundial, em</p><p>favor do meio-ambiente e da defesa dos direitos humanos. A</p><p>pressão impacta o financiamento do governo brasileiro em seu</p><p>projeto desenvolvimentista de expansão à Amazônia. Ainda segundo</p><p>Lima (2015), a Funai desse período é presidida por militares, porém</p><p>o contexto força a abertura para atuação de antropólogos, muitos</p><p>ligados a ONGs.</p><p>Com isso, temos uma grande visibilidade às críticas aos efeitos</p><p>etnocidas das políticas desenvolvimentistas. Lima (2015) destaca</p><p>dois importantes momentos que vão ser marcantes para a luta pelo</p><p>direito à terra para as populações indígenas: a Reunião de Barbados</p><p>(1971) e a Reunião de Peritos sobre Etnodesenvolvimento e</p><p>Etnocídio na América Latina (1981), promovida pela UNESCO e pela</p><p>Faculdad Latinoamericana de Ciencias Sociales (FLACSO) em San</p><p>José de Costa Rica. A partir daqui, temos a atenção para propostas</p><p>de desenvolvimento alternativo, marcado por projetos de</p><p>etnodesenvolvimento.</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 8/59</p><p>É nesse contexto que também surge uma das instituições mais</p><p>atuantes em defesa dos direitos indígenas, o Conselho Indigenista</p><p>Missionário (CIMI). Ligado à Igreja católica, conforme Lima (2015, p.</p><p>100), o CIMI colabora na criação de uma espécie de associativismo</p><p>pan-indígena e começamos, então, a ver a configuração de um</p><p>movimento indígena, “no qual o porta-voz branco, tutor seja oficial</p><p>ou não, deve ser ultrapassado, e dê curso à polifonia indígena em</p><p>nosso país.”.</p><p>Conforme Lima (2015, p. 101), esse processo ajuda a fortalecer as</p><p>vozes indígenas que tiveram uma intensa participação na</p><p>Constituinte e conseguiram conquistas fundamentais que foram</p><p>expressas em nossa Constituição de 1988, na qual temos, no</p><p>capítulo VIII, “Dos Índios”:</p><p>Artigo 231. São reconhecidos aos índios sua organização</p><p>social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos</p><p>originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,</p><p>competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar</p><p>todos os seus bens. (...) Artigo 232. Os índios, suas</p><p>comunidades e organizações são partes legítimas para</p><p>ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses,</p><p>intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo</p><p>(Constituição Brasileira, 1988). O texto constitucional</p><p>reconhece-lhes, ainda, pelo artigo 210 o direito a uma</p><p>educação diferenciada.</p><p>Lima (2015) ressalta que, apesar dos avanços, na Constituição de</p><p>1988 ainda não fica claro quem são aqueles que devem ser</p><p>considerados indígenas pelo Estado. Foi com o novo Código Civil</p><p>brasileiro (Lei 10.406, de 2001), que os indígenas deixam de ser</p><p>considerados “relativamente incapazes” e, com o Decreto Legislativo</p><p>nº 143, de 20/06/2002, a Convenção 169 da Organização</p><p>Internacional do Trabalho, é ratificada e, com isso, conseguimos</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 9/59</p><p>mais avanços importantes no que se refere à definição de quem</p><p>pode ser considerado indígena perante a lei, trata-se do direito à</p><p>autodefinição coletiva.</p><p>Foram avanços importantes, porém, como bem aponta Lima (2015),</p><p>são muitas as pressões contra os povos indígenas, com intensa</p><p>disputa por terras para o agronegócio, a mineração e a busca por</p><p>recursos energéticos. Ou seja, apesar de diversas conquistas, os</p><p>povos indígenas brasileiros ainda enfrentam muitas barreiras para a</p><p>garantia de sua dignidade, são cotidianas as notícias de ataques a</p><p>lideranças indígenas e seus apoiadores, bem como à invasão ilegal</p><p>de seus territórios já demarcados, sem falar de inúmeras</p><p>populações que ainda buscam o reconhecimento</p><p>do Estado de seu</p><p>direito ao usufruto de seus territórios.</p><p>Por fim, vale comentar que o uso de território por parte dos</p><p>indígenas não se confunde com o uso da terra por parte da</p><p>sociedade ocidental, território, para os povos indígenas, não é</p><p>“apenas” uma maneira de reproduzir condições materiais de vida, é</p><p>fundamental para a sua reprodução simbólica e cultural, já que em</p><p>suas cosmologias, o território assume uma importância existencial,</p><p>filosófica e religiosa.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Chegamos ao final de nossa aula e você pôde conhecer um pouco</p><p>melhor a história das relações entre o Estado brasileiro e as</p><p>populações indígenas.</p><p>No começo desta aula, nós te provocamos a associar as políticas</p><p>direcionadas aos povos indígenas brasileiros tendo em mente a</p><p>história da Antropologia e do pensamento social do século XX, e</p><p>traçar relações entre ambos.</p><p>Perceba que as primeiras ações do Estado brasileiro tinham como</p><p>proposta a integração das populações indígenas na sociedade</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 10/59</p><p>brasileira. Essa política está diretamente relacionada ao</p><p>pensamento evolucionista que entendiam as sociedades nativas</p><p>como atrasadas em relação às sociedades capitalistas ocidentais.</p><p>Dessa forma, a lógica era a de que essas populações iriam</p><p>desaparecer ao passarem por um processo civilizatório. As</p><p>sociedades indígenas eram tidas como infantis e selvagens, tal qual</p><p>os evolucionistas advogavam.</p><p>Em um segundo momento, podemos perceber um maior relativismo</p><p>nas ações do Estado, porém ainda muito marcado por políticas</p><p>assimilacionistas, que, apesar de considerarem a diversidade</p><p>cultural, atuavam no sentido de assimilar esses povos na lógica da</p><p>construção de Estado nacional e de um projeto de nação que</p><p>buscava homogeneizar a sociedade.</p><p>Só na última metade do século XX que tivemos, especialmente com</p><p>a Constituição de 1988, uma prática que não intervenção cultural, de</p><p>consideração da importância da autonomia dessas populações, indo</p><p>ao encontro aos avanços das perspectivas sociais e dos direitos</p><p>humanos, de autodeterminação dos povos nativos, e de valorização</p><p>da diversidade cultural.</p><p>Esperamos que você tenha aproveitado a leitura e tenha ficado</p><p>interessado em aprofundar mais ainda os seus conhecimentos sobre</p><p>a diversidade dos povos indígenas brasileiros. Te convidamos, por</p><p>fim, a refletir sobre a atual situação dos povos indígenas: será que</p><p>essas populações têm o seu devido reconhecimento pela sociedade</p><p>brasileira? Podemos dizer que hoje, essas populações têm os seus</p><p>direitos plenamente garantidos? O que você percebe?</p><p>Saiba Mais</p><p>O Estado e os povos indígenas no Brasil</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 11/59</p><p>Os povos indígenas foram vítimas de processos de etnocídio no</p><p>mundo todo, a lógica do desenvolvimento do capitalismo com os</p><p>processos de colonização provocou um impacto drástico na vida dos</p><p>povos nativos, porém, eles resistiram e continuam a resistir,</p><p>produzindo e reproduzindo as suas tradições, mesmo sob condições</p><p>muito adversas. Você conhece as populações indígenas do Brasil?</p><p>Veja interessantes argumentos sobre o tema em Quantos são?, do</p><p>portal Povos Indígenas no Brasil.</p><p>Povos indígenas e tutela</p><p>As políticas indigenistas variaram ao longo de nossa história, com</p><p>diferentes práticas e agentes envolvidos. Conheça um pouco mais</p><p>dessas políticas em: O que é política indigenista?, publicado no</p><p>portal Povos Indígenas no Brasil.</p><p>Funai e Territórios Indígenas</p><p>Veja uma definição de Terras Indígenas em: O que são Terras</p><p>Indígenas?, publicado no portal Povos Indígenas no Brasil.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>BERNARDO, L. F. Povos indígenas e Direitos Territoriais. 1. ed.</p><p>Belo Horizonte, MG: Editora Del Rey, 2021. Disponível em:</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/196975/epub/0?</p><p>code=hbZA+yN7h9QXu5Lufr86LkolUZTLKaZnSR7fZlue/FemGqI/y3</p><p>ZWCoFcivxbcEF3BMYFI6oDKQAljk44inH9Aw==. Acesso em: 19</p><p>fev. 2024.</p><p>LIMA, A. C. de S. Estado e povos indígenas no Brasil</p><p>contemporâneo: da tutela à ação do movimento indígena. In: DO</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 12/59</p><p>https://pib.socioambiental.org/pt/Quantos_s%C3%A3o%3F</p><p>https://pib.socioambiental.org/pt/Quantos_s%C3%A3o%3F</p><p>https://pib.socioambiental.org/pt/O_que_%C3%A9_pol%C3%ADtica_indigenista</p><p>https://pib.socioambiental.org/pt/O_que_s%C3%A3o_Terras_Ind%C3%ADgenas%3F</p><p>https://pib.socioambiental.org/pt/O_que_s%C3%A3o_Terras_Ind%C3%ADgenas%3F</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/196975/epub/0?code=hbZA+yN7h9QXu5Lufr86LkolUZTLKaZnSR7fZlue/FemGqI/y3ZWCoFcivxbcEF3BMYFI6oDKQAljk44inH9Aw==</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/196975/epub/0?code=hbZA+yN7h9QXu5Lufr86LkolUZTLKaZnSR7fZlue/FemGqI/y3ZWCoFcivxbcEF3BMYFI6oDKQAljk44inH9Aw==</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/196975/epub/0?code=hbZA+yN7h9QXu5Lufr86LkolUZTLKaZnSR7fZlue/FemGqI/y3ZWCoFcivxbcEF3BMYFI6oDKQAljk44inH9Aw==</p><p>VALLE, C. G. do (Org). Etnicidade e mediação. São Paulo:</p><p>Annablume, 2015.</p><p>RIBEIRO, D. Diários índios: os Urubus-Kaapor. 1 edição digital.</p><p>Global editora : São Paulo, 2020. Disponível em:</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/185246/epub/0?</p><p>code=J3MhDwA0sgnWQdC3SLl4JCoK+xoWWjPG+wVnOqH5Q1Po</p><p>nmHn/tFON0TU6nHP85c7uWAAOjrxO8ayNxIwZnbTDA==. Acesso</p><p>em: 19 fev. 2024.</p><p>WITTMANN, L. T. Ensino (d)e História Indígena. Belo Horizonte:</p><p>Autêntica Editora, 2015. Disponível em:</p><p>https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/97885821742</p><p>65/pageid/4. Acesso em: 19 fev. 2024.</p><p>Aula 2</p><p>ANTROPOLOGIA URBANA</p><p>NO BRASIL</p><p>Antropologia urbana no Brasil</p><p>Olá, estudante! Nesta videoaula, você vai conhecer a Antropologia</p><p>Urbana feita no Brasil.</p><p>Este conteúdo é importante para criar ferramentas de análise sobre</p><p>a vida social em contextos urbanos.</p><p>Prepare-se para esta jornada de conhecimento! Vamos lá!</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 13/59</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/185246/epub/0?code=J3MhDwA0sgnWQdC3SLl4JCoK+xoWWjPG+wVnOqH5Q1PonmHn/tFON0TU6nHP85c7uWAAOjrxO8ayNxIwZnbTDA==</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/185246/epub/0?code=J3MhDwA0sgnWQdC3SLl4JCoK+xoWWjPG+wVnOqH5Q1PonmHn/tFON0TU6nHP85c7uWAAOjrxO8ayNxIwZnbTDA==</p><p>https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/185246/epub/0?code=J3MhDwA0sgnWQdC3SLl4JCoK+xoWWjPG+wVnOqH5Q1PonmHn/tFON0TU6nHP85c7uWAAOjrxO8ayNxIwZnbTDA==</p><p>https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788582174265/pageid/4</p><p>https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788582174265/pageid/4</p><p>Ponto de Partida</p><p>Te convidamos agora para refletirmos sobre a Antropologia urbana.</p><p>A Antropologia se firmou como uma ciência autônoma ao</p><p>desenvolver pesquisas em lugares distantes da Europa, onde viviam</p><p>os principais pesquisadores da área no início do século XX. Em seu</p><p>percurso, essa ciência se dedicou a refletir sobre a diversidade, mas</p><p>restringiu suas pesquisas em sociedades consideradas “exóticas” e</p><p>com uma diferença muito evidente em relação aos europeus.</p><p>Porém, logo pesquisadores do mundo todo passaram a tentar</p><p>aplicar os conhecimentos antropológicos “perto de casa”,</p><p>começamos, então, a ver análises sobre grupos sociais em grandes</p><p>centros urbanos.</p><p>Quais seriam as vantagens de se realizar pesquisas antropológicas</p><p>nas cidades? Podemos dizer que nas cidades há uma diversidade</p><p>cultural? Quem são os sujeitos das análises realizadas pela</p><p>Antropologia urbana?</p><p>São essas algumas das perguntas que tentaremos responder neste</p><p>texto. Espero que você aproveite a leitura.</p><p>Vamos Começar!</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 14/59</p><p>Observando o</p><p>familiar: o "outro" próximo</p><p>Você viu ao longo de nossas discussões que a Antropologia se</p><p>consolida como uma ciência autônoma com as orientações de</p><p>Malinowski sobre a Observação Participante. Você também se</p><p>recorda que a Antropologia realizou suas pesquisas com povos</p><p>culturalmente muito diferentes do pesquisador. Porém a</p><p>Antropologia também foi se interessando em refletir sobre a</p><p>diversidade em contextos urbanos.</p><p>Como salienta Velho (1999), no texto “Observando o familiar”, uma</p><p>das mais tradicionais premissas das ciências sociais é a</p><p>necessidade de uma distância mínima frente ao objeto estudado, o</p><p>que pode garantir a objetividade necessária ao observador na</p><p>condução de seu estudo. É preciso que o pesquisador social seja</p><p>objetivo diante da realidade observada, evitando envolvimentos que</p><p>possam obscurecer as suas análises e conclusões. Se é necessário</p><p>estabelecer uma distância entre aquele que observa e aquele que é</p><p>observado, no ofício antropológico a ideia é que o antropólogo</p><p>mantenha uma perspectiva em que possa tornar o que lhe é</p><p>estranho em familiar, e o que lhe é familiar em estranho.</p><p>Essa postura auxilia na manutenção de uma distância necessária</p><p>entre pesquisador e sujeito pesquisado, favorecendo a</p><p>“neutralidade” e “imparcialidade” do resultado de seus estudos, mas</p><p>sem deixar de se envolver em uma relação intersubjetiva com os</p><p>sujeitos da pesquisa, fundamental na condução desta.</p><p>Salientando a importância de se apreender o “ponto de vista nativo”</p><p>mesmo quando imerso em um campo de pesquisa que não lhe é</p><p>alheio, como o estudo dos centros urbanos, a postura do</p><p>antropólogo é ainda mais problematizada e exige ainda mais</p><p>cuidado de sua parte. O distanciamento que deve nutrir em relação</p><p>aos sujeitos da pesquisa não está dado de antemão, ou seja, não</p><p>remete a uma distância geográfica, social, mas deve ser construída,</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 15/59</p><p>elaborada com rigor, a fim de conseguir observar os detalhes,</p><p>distinguir os hábitos e categorias nativas, sem correr o risco de</p><p>assumir totalmente o ponto de vista de outro e, com isso, não</p><p>conseguir empreender uma análise efetiva da realidade observada.</p><p>Seja qual for o lócus da pesquisa antropológica, a busca pelo</p><p>significado das práticas e da sociabilidade será de interesse social.</p><p>Em um artigo já clássico, Magnani (1996, p. 3) apresenta reflexões</p><p>interessantes sobre São Paulo, mas que pode ser estendida para</p><p>outros contextos urbanos, e nos mostra toda a pluralidade de temas</p><p>que emerge de uma Antropologia urbana:</p><p>São Paulo - como outras grandes cidades - constitui um</p><p>espaço privilegiado para experiências desse tipo, dada a</p><p>procedência de seus habitantes, a riqueza de suas tradições</p><p>culturais, a variedade de seus modos de vida, e, por</p><p>conseguinte, a infinita possibilidade de trocas e contatos que</p><p>propicia. Mas também alimenta representações que a</p><p>identificam com o ethos do trabalho, com a formalidade e</p><p>frieza das relações impessoais, o anonimato da vida</p><p>cotidiana. A desigualdade social, a violência - desde a</p><p>poluição sonora e visual, até a criminalidade, passando pelas</p><p>conhecidas e gritantes contradições urbanas, são outros</p><p>fatores presentes quando se avalia a qualidade de vida que</p><p>oferece.</p><p>Nesse sentido, a cidade oferece um campo de pesquisa que</p><p>apresenta os seus problemas, mas também as suas qualidades.</p><p>Podemos falar da violência e dos espaços de lazer e diversão, de</p><p>estilos de vida e de sociabilidades, de relacionamentos e de padrões</p><p>culturais. A diversidade e as relações de alteridade estão em todos</p><p>os lugares, não somente em uma sociedade distante e “exótica”.</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 16/59</p><p>As experiências humanas como objeto de</p><p>análise</p><p>O que importa para Antropologia, como mostra Magnani (1996), não</p><p>são as práticas e os arranjos sociais “exóticos”, tal qual se poderia</p><p>supor das análises da Antropologia moderna ao modo das</p><p>pesquisas de Malinowski e tantos outros, mas sim as experiências</p><p>humanas, os arranjos particulares e específicos e os temas de</p><p>interesse a toda humanidade.</p><p>Podemos, então, afirmar, a partir de Magnani (1996), que o estudo</p><p>das sociedades “modernas” nos coloca novos desafios, se</p><p>comparado com as análises clássicas de sociedades “tradicionais”.</p><p>São sociedades com uma complexidade específica no que toca as</p><p>relações econômicas, de poder, de organização social, de</p><p>produções simbólicas.</p><p>Ao falarmos das pesquisas urbanas, não podemos deixar de citar a</p><p>importância da “Escola de Chicago”, do departamento de Sociologia</p><p>da Universidade de Chicago, que estão entre os pioneiros, na</p><p>primeira metade do século XX, a realizar pesquisas empíricas nesse</p><p>tipo de contexto.</p><p>Como lembra Magnani (1996), a Chicago dos anos 1920 foi palco</p><p>de migrações intensas e um rápido crescimento, o que produziu</p><p>uma série de consequências: grupos de diversas origens</p><p>disputavam espaços e conceitos, como dominação, invasão de</p><p>dominância, que passam a ser importantes para explicar a produção</p><p>de “áreas” e “zonas” de influência de grupos. Os estudos empíricos</p><p>da Escola de Chicago tratavam de temas como delinquência,</p><p>prostituição, violência, criminalidade no fim dos anos 1930, conforme</p><p>Magnani (1996, p. 7):</p><p>Louis Wirth e Robert Redfield, no final dos anos trinta,</p><p>representam, respectivamente, a culminação de duas</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 17/59</p><p>tendências da Escola de Chicago. O primeiro, com sua</p><p>famosa definição de cidade - "para fins sociológicos, uma</p><p>cidade pode ser definida como um núcleo relativamente</p><p>grande, denso e permanente, de indivíduos socialmente</p><p>heterogêneos" (in VELHO, op. cit.: 96) - e a ênfase no caráter</p><p>segmentário, utilitarista, transitório das relações que impõe</p><p>aos indivíduos. Robert Redfield, ao contrário, aponta para a</p><p>“anti-cidade” - civilização e cultura de folk: núcleo pequeno,</p><p>isolado, analfabeto e homogêneo, com um forte sentimento</p><p>de solidariedade grupal.</p><p>Esses estudos foram muito importantes para o que vinha se</p><p>desenhando como uma Antropologia urbana. Seguindo essa</p><p>tendência, porém não em grandes centros urbanos, no Brasil as</p><p>pesquisas da década de 1940 foram denominadas como estudos de</p><p>comunidade, como veremos na sequência.</p><p>Siga em Frente...</p><p>Principais temas de pesquisa</p><p>Nos anos 1940, uma série de estudos influenciados pela Escola de</p><p>Chicago focaram nas pesquisas em pequenas localidades, em</p><p>pequenas cidades localizadas, especialmente, no interior de São</p><p>Paulo. Nesse período, conforme Magnani (1996), a Antropologia –</p><p>recém-institucionalizada junto às ciências sociais – se colocava</p><p>como tarefa central analisar as culturas indígenas em contato com a</p><p>“civilização”; estudos foram realizados sobre a cultura cabocla e de</p><p>grupos étnicos e raciais, como japoneses, alemães, negros. Foi</p><p>somente algumas décadas depois que a Antropologia efetivamente</p><p>vai realizar, no Brasil, aquilo que estamos chamando de</p><p>Antropologia urbana.</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 18/59</p><p>Conforme Magnani (1996, p. 11), a partir de um contexto político e</p><p>institucional no qual as minorias passam a ser protagonistas no</p><p>debate público e os movimentos sociais tomam maior corpo, a</p><p>Antropologia também ganha espaço, à medida em que as minorias,</p><p>como indígenas, negros, mulheres, já eram objeto de reflexão</p><p>tradicional da disciplina. Nesse contexto, segundo o autor:</p><p>Os temas e objetos centrais passaram a ser: os moradores da</p><p>periferia de São Paulo; estratégias de sobrevivência na</p><p>metrópole; religiões populares urbanas; comunidades</p><p>eclesiais de base; cultura e festas populares; formas de lazer</p><p>e entretenimento; movimentos feministas, negro,</p><p>homossexual; representações políticas</p><p>e participação em</p><p>associações de bairro; estratégias populares de saúde, e</p><p>tantos outros.</p><p>Dutra e Ribeiro (2013, p. 133 - 134) também chamaram a atenção</p><p>para o desenvolvimento da Antropologia urbana no fim nos anos</p><p>1972. As autoras lembram que a conjuntura política, social e</p><p>acadêmica do período era marcado pela repressão da ditadura</p><p>militar, pelo crescimento do urbano e da pobreza; para elas, a</p><p>Antropologia se distanciava das perspectivas da Sociologia e da</p><p>Ciência Política da época, que enfatizavam os aspectos ideológicos</p><p>políticos dos sujeitos sociais:</p><p>A perspectiva antropológica buscava perceber este sujeito</p><p>urbano não somente como um ator político que defendia uma</p><p>ideologia, mas também um indivíduo que possuía um local de</p><p>moradia, um trabalho, uma cultura e uma bagagem cultural</p><p>específica: “tratava-se de conhecer como esses grupos</p><p>urbanos organizam, classificam, representam, atuam e</p><p>constroem o seu espaço e modo de vida dentro de um</p><p>sistema urbano.” (MENDOZA, 2000, p. 191). Para conhecer</p><p>essa realidade cotidiana dos indivíduos era necessário dar</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 19/59</p><p>voz a esses sujeitos – que na maior parte das vezes eram</p><p>caracterizados pela opressão e pela invisibilidade - a partir de</p><p>técnicas de investigação qualitativa como a observação</p><p>participante.</p><p>A Antropologia, dessa forma, vai contribuir para as ciências sociais,</p><p>ao enfocar nos aspectos cotidianos e microssociais, analisando os</p><p>sujeitos sociais e as suas práticas, mas sempre situando o contexto</p><p>no qual esses sujeitos estão inseridos. Como lembram Dutra e</p><p>Ribeiro (2013), estamos falando de pesquisas na cidade e não da</p><p>cidade, da paisagem urbana que é a parte constitutiva da vida dos</p><p>sujeitos. As autoras lembram que as pesquisas procuram mostrar</p><p>que os sujeitos não são passivos frente às instituições e as</p><p>estruturas sociais e as pesquisas passam a dar voz aos moradores</p><p>e partes das cidades até então invisibilizadas e marginalizadas.</p><p>As autoras também chamam a atenção para a importância da</p><p>ampliação dos programas de pós-graduação nos principais centros</p><p>de pesquisa, que produziram grande parte das pesquisas</p><p>antropológicas nos anos seguintes, elas demonstram certa</p><p>variedade de temas e alguns interesses específicos desses</p><p>programas.</p><p>Segundo Dutra e Ribeiro (2013, p. 135), no Museu Nacional do Rio</p><p>de Janeiro, os temas que mais apareceram nas investigações foram</p><p>“as camadas médias, escolas de samba, religião, movimentos</p><p>sociais, futebol, produção cultural, desvio e comportamento, moradia</p><p>em favelas, parentesco, redes sociais e carnaval”; já na</p><p>Universidade de São Paulo vemos a ênfase em “família de</p><p>operários, associações de bairros, bairros populares, educação,</p><p>habitações na periferia, lazer, movimentos sociais, migrações para a</p><p>cidade, participação popular e política, religião.” Outro importante</p><p>polo de pesquisas em Antropologia é a UNICAMP, e os temas mais</p><p>comuns de análises em Antropologia urbana foram “papéis sociais,</p><p>prostituição, Antropologia da mulher, saúde, migrações, culturas</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 20/59</p><p>populares, organização social de bairros, trabalhadores rurais,</p><p>papéis sociais e identidade”.</p><p>É importante notar a grande variedade de temas e objetos de</p><p>pesquisas que podemos colocar dentro disso que estamos</p><p>chamando de Antropologia urbana, percebemos ainda que muitos</p><p>desses temas estão relacionados a outras áreas de conhecimento,</p><p>dessa forma, destacamos também o caráter multidisciplinar dessas</p><p>pesquisas, que podem contribuir para muitas áreas de atuação.</p><p>Será que esse modelo de pesquisa também poderia contribuir para</p><p>a sua área de interesse? Com criatividade e conhecimento,</p><p>podemos aproveitar os conhecimentos para contribuir para a nossa</p><p>vida e a para nossa atuação profissional. Aproveite esse momento</p><p>para refletir um pouco sobre as suas práticas, temos certeza de que</p><p>vai ser proveitoso.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>Você chegou ao final de nossa aula.</p><p>No começo desta aprendizagem, trouxemos algumas questões</p><p>sobre a Antropologia urbana no Brasil. Acreditamos que você já</p><p>deve ter os instrumentos para respondê-las. A Antropologia dedica-</p><p>se à análise do significado das experiências humanas, e elas</p><p>existem em qualquer lugar aonde se vá.</p><p>As grandes cidades apresentam uma grande diversidade social e a</p><p>Antropologia tem contribuído para conhecermos esses sujeitos de</p><p>perto. Ao utilizar da etnografia nesses contextos, a Antropologia</p><p>contribui para dar voz a sujeitos e locais inviabilizados pela</p><p>sociedade, isso é fundamental para o enfrentamento às</p><p>desigualdades e para formulação de políticas públicas eficientes.</p><p>Contribui, ainda, para a luta contra preconceitos e discriminações</p><p>que muitas vezes afetam as minorias sociais. As pessoas tendem a</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 21/59</p><p>temer o desconhecido, mas quando a Antropologia descreve e</p><p>dialoga com esses grupos, esse conhecimento produzido pôde</p><p>contribuir para desconstruir estereótipos, o que é fundamental na</p><p>luta contra o preconceito.</p><p>Saiba Mais</p><p>As experiências humanas como objeto de</p><p>análise</p><p>O antropólogo Gilberto Velho é um dos grandes nomes da</p><p>Antropologia urbana no Brasil. Confira esta entrevista com o</p><p>antropólogo e conheça um pouco melhor esse grande pensador</p><p>brasileiro.</p><p>Nosso entrevistado, o Professor Gilberto Velho, exerceu um</p><p>papel fundamental para o desenvolvimento dos estudos da</p><p>Antropologia urbana no Brasil. Em 1970, ao realizar uma das</p><p>primeiras tentativas de aplicação do método antropológico ao</p><p>estudo do meio urbano, baseado em pesquisas no bairro</p><p>carioca de Copacabana, mostrou como vivem os moradores</p><p>de camadas médias em um prédio de apartamentos do tipo</p><p>conjugado, porque as pessoas moravam em Copacabana e</p><p>valorizavam esse bairro. Essa obra ganhou o nome de A</p><p>Utopia Urbana que, por seu caráter pioneiro para a</p><p>Antropologia urbana no Brasil, já está na sua sexta edição.</p><p>(VELHO, 2006)</p><p>VELHO, G. Entrevista com Gilberto Velho, professor titular e decano</p><p>do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da</p><p>Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, concedida em 20 de</p><p>julho de 2006 à Gisela Verri de Santana e Leonardo Cruz da Silva.</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 22/59</p><p>https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812006000200014&lng=pt&nrm=iso</p><p>https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812006000200014&lng=pt&nrm=iso</p><p>https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812006000200014&lng=pt&nrm=iso</p><p>https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812006000200014&lng=pt&nrm=iso</p><p>Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p. 152-158, dez.</p><p>2006.</p><p>Principais temas de pesquisa</p><p>Um dos nomes de destaque da Antropologia urbana no Brasil é José</p><p>Guilherme Magnani. Neste artigo que recomendamos, você</p><p>conhecerá um pouco mais da obra e abordagem do autor.</p><p>Neste artigo, fazemos o exercício de pensar a Antropologia da</p><p>Antropologia, com a atenção voltada para a abordagem da</p><p>festa, da sociabilidade e do lazer nas pesquisas</p><p>antropológicas brasileiras. A partir de uma perspectiva de</p><p>“teoria vivida”, queremos refletir, por meio da relação entre o</p><p>contexto sociocultural, a obra acadêmica e a trajetória de vida</p><p>do antropólogo José Guilherme Magnani, alguns dos</p><p>problemas e questões do campo antropológico dentro, e fora,</p><p>da academia. Neste processo, destacamos algumas das</p><p>linhagens antropológicas que contribuíram para a</p><p>institucionalização dos paradigmas da Antropologia Urbana</p><p>no Brasil, bem como a tensão criada em campo com a</p><p>inserção da festa como forma de reflexão a respeito</p><p>da</p><p>cidade, de seus moradores e de seus modos de vida.</p><p>(RODRIGUES; RIETH, 2018, p. 5)</p><p>RODRIGUES, V. B.; RIETH, F. M. S. Festa é coisa séria: José</p><p>Guilherme Magnani e a Antropologia Urbana no Brasil. Cadernos</p><p>do LEPAARQ, v. XV, n. 29, 2018.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 23/59</p><p>https://periodicos.ufpel.edu.br/index.php/lepaarq/article/view/11608/8463</p><p>https://periodicos.ufpel.edu.br/index.php/lepaarq/article/view/11608/8463</p><p>DUTRA, R. C. de A.; RIBEIRO, N. O. V. A Antropologia Urbana no</p><p>Brasil. Juiz de Fora, v. 8, n. 1, p. 127-138, jan./jun. 2013.</p><p>MAGNANI, J. G. Quando o campo é a cidade: fazendo Antropologia</p><p>na cidade. In: MAGNANI, J. G. C.; TORRES, Lilian de Lucca (Orgs.).</p><p>Na Metrópole - Textos de Antropologia Urbana. EDUSP, São</p><p>Paulo, 1996</p><p>MAGNANI, J. G. De perto e de dentro: notas para uma etnografia</p><p>urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBSC), v. 17, n.</p><p>49, jun. 2002.</p><p>VELHO, G. Observando o Familiar. In: Individualismo e cultura:</p><p>notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. 6. ed.</p><p>Rio de Janeiro: Zahar, 1999.</p><p>VELHO, G. Entrevista com Gilberto Velho, professor titular e decano</p><p>do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da</p><p>Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, concedida em 20 de</p><p>julho de 2006 a Gisela Verri de Santana e Leonardo Cruz da Silva.</p><p>Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p. 152-158, dez.</p><p>2006. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?</p><p>script=sci_arttext&pid=S1808-</p><p>42812006000200014&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 20 fev. 2024.</p><p>Aula 3</p><p>ANTROPOLOGIA E</p><p>ESTUDOS DE GÊNERO NO</p><p>BRASIL</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 24/59</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812006000200014&lng=pt&nrm=iso</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812006000200014&lng=pt&nrm=iso</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812006000200014&lng=pt&nrm=iso</p><p>Antropologia e estudos de gênero</p><p>no Brasil</p><p>Olá, estudante! Nesta videoaula, vamos discutir o conceito de</p><p>gênero e a relação entre gênero e violência.</p><p>Este conteúdo é muito importante, pois as mulheres têm sido</p><p>colocadas em um lugar de subordinação frente aos homens. O tema</p><p>é fundamental para diminuirmos as desigualdades de gênero em</p><p>nossa sociedade.</p><p>Prepare-se para esta jornada de conhecimento! Vamos lá!</p><p>Ponto de Partida</p><p>Nesta aula, vamos abordar um dos temas que tem gerado reflexões</p><p>inovadoras e fundamentais para a construção de uma sociedade</p><p>mais justa e igualitária. Estamos nos referindo aos debates em torno</p><p>do gênero. Essa é uma categoria de análise desenvolvida para</p><p>refletir sobre as desigualdades que afetam as mulheres em todo o</p><p>mundo, porém que assume particularidades em diferentes locais.</p><p>Abordaremos a violência contra as mulheres, a partir de uma</p><p>perspectiva que suscita reflexões sobre como tratar um tema que é,</p><p>ao mesmo tempo, global e local.</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 25/59</p><p>Gostaríamos de te provocar a pensar sobre como podemos atuar</p><p>frente a esse problema, para tanto, tente responder às seguintes</p><p>indagações: a violência contra as mulheres é uma questão cultural?</p><p>Você já ouviu o termo “cultura do estupro”? Que tipo de ações</p><p>podem ser realizadas para o enfrentamento da violência contra as</p><p>mulheres? Existe uma violência específica contra as mulheres ou a</p><p>violência acomete a todos e, por consequência, também atinge as</p><p>mulheres?</p><p>Acredito que ao final da leitura de nosso material, você terá</p><p>condições de responder a essas perguntas a partir de um ponto de</p><p>vista antropológico.</p><p>Tenha uma boa leitura.</p><p>Vamos Começar!</p><p>O conceito de gênero</p><p>Tradicionalmente, em nossa sociedade, o lugar da mulher é</p><p>geralmente associado ao papel da mãe responsável pelo cuidado</p><p>dos filhos e da casa, enquanto o homem ocupa o espaço público da</p><p>rua, lugar a que está sujeito a uma série de riscos. É claro que as</p><p>mudanças sociais pelas quais passamos nas últimas décadas</p><p>possibilitou maior inserção das mulheres no mercado de trabalho,</p><p>bem como homens passaram a realizar mais atividades de cuidado</p><p>com a casa e com os filhos, mas ainda atribuímos a homens e</p><p>mulheres determinados papeis tradicionais, que servem de</p><p>referência na educação dos indivíduos desde a primeira infância.</p><p>Como mostra Connell (1995), o gênero é inerentemente relacional,</p><p>ou seja, só se pode pensar a masculinidade em contraste com a</p><p>feminilidade. Também é preciso ter em mente, como ressalta o autor,</p><p>que a noção que temos de masculinidade e feminilidade é uma</p><p>construção histórica, própria da sociedade moderna ocidental. Os</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 26/59</p><p>termos masculino e feminino implicam pensar além da diferenciação</p><p>entre homens e mulheres, mas refletem sobre as relações que os</p><p>homens estabelecem entre eles e as mulheres entre elas.</p><p>O gênero, para Connell (1995), é uma esfera que ordena as práticas</p><p>sociais, que se referem aos corpos, mas que não se reduz a ele. As</p><p>práticas sociais são, neste sentido, criadoras e inventivas, no</p><p>entanto não completamente autônomas, pois elas se dão dentro de</p><p>estruturas definidas de relações sociais. Na perspectiva dinâmica</p><p>das práticas sociais, a masculinidade e a feminilidade constituem-se</p><p>como “projetos de gênero”. Compreender o funcionamento do</p><p>gênero deve, necessariamente, passar por questões de classe, raça</p><p>e de suas políticas de gênero.</p><p>Portanto, coloca-se a necessidade de pensar o gênero além dele</p><p>próprio, além de questões de classe ou raça. Podemos discutir as</p><p>relações de gênero internamente, assim, uma determinada</p><p>hegemonia se estabelece entre as masculinidades e as</p><p>feminilidades em disputa, ou seja, existem padrões hegemônicos de</p><p>gênero quando atribuímos um conjunto ideal de características para</p><p>os homens e para as mulheres. Segundo Connel (1995), é mais</p><p>provável que uma hegemonia só se estabeleça se houver uma</p><p>correspondência entre o ideal cultural e o poder institucional, se for</p><p>coletivo e não individual.</p><p>Gênero, sexualidade e violência</p><p>A sexualidade dos sujeitos se define a partir das suas trajetórias</p><p>individuais e da maneira como se relacionam com o seu meio social,</p><p>ou seja, tanto questões coletivas quanto a biografia interpenetram-</p><p>se na orientação das práticas afetivo-sexuais das pessoas, sendo</p><p>que a sexualidade ocupa lugares diferentes na construção das</p><p>identidades dos sujeitos:</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 27/59</p><p>[...] a sexualidade é uma das áreas mais profícuas para</p><p>investigar na dinâmica social as intrincadas relações entre</p><p>processos de modernização e permanência de lógicas</p><p>tradicionais, tanto no que concerne ao nível das práticas</p><p>quanto ao plano dos valores. Como domínio socialmente</p><p>construído, as transformações macroestruturais já aludidas,</p><p>que ensejaram uma alteração do status da mulher na</p><p>sociedade, são centrais. No entanto, isso não significou uma</p><p>relativa aproximação das experiências entre os dois sexos.</p><p>Nos costumes sexuais há notáveis mudanças, apesar da</p><p>permanência de relações assimétricas, que continuam a</p><p>informar a conduta de homens e mulheres. (Heilborn, Cabral</p><p>& Bozon, 2006, p. 211)</p><p>A relação entre gênero, sexualidade e violência tem sido alvo de</p><p>muitas pesquisas e análises no Brasil e no exterior. Essa é uma</p><p>combinação que torna as mulheres vulneráveis a muitos tipos de</p><p>assédios e agressões, que, a depender da sociedade, têm sido</p><p>constantemente justificado por questões culturais e sociais.</p><p>Naturalizando práticas que de fato são consequências de arranjos</p><p>sociais que, como tal,</p><p>estão sempre sujeitos a mudanças. Nesse</p><p>sentido, analisar as práticas e os discursos recorrentes sobre</p><p>gênero, violência e sexualidade, nos ajudam a enfrentar problemas</p><p>sociais importantes que podem ser superados.</p><p>As visões de especialistas e teóricos devem também passar</p><p>constantemente por revisões, porque novos dados e novas</p><p>situações ajudam a ampliar o olhar e refinar conceitos. Os conceitos,</p><p>se bem apropriados pela sociedade, podem contribuir efetivamente</p><p>na construção de políticas públicas e estratégias de enfrentamento</p><p>dos problemas sociais.</p><p>Um exemplo disso são os discursos desencadeados pela violência</p><p>contra as mulheres e os debates em torno da chamada “cultura do</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 28/59</p><p>estrupo”. Segundo Piscitelli (2017), esse termo foi cunhado nos</p><p>Estados Unidos na década de 1970, em meio a debates entre</p><p>feminismos liberais e radicais. Segundo a autora, no caso das</p><p>liberais, o estupro é lido como um ataque para além do aspecto de</p><p>gênero, relacionado à autonomia individual, sendo comparado a</p><p>qualquer outra violência que atinge os indivíduos. Já as radicais</p><p>enfatizam a relação entre o estupro e as construções de gênero e</p><p>sexualidade próprios ao patriarcalismo, ligado ao poder masculino.</p><p>O dano causado por essas construções atingem as mulheres</p><p>enquanto grupo. Conforme Piscitelli (2017, p. 19 - 20):</p><p>As conceitualizações dessa noção que circulam no momento</p><p>atual, no Brasil, na web, mostram algumas diferenças, mas</p><p>tendem a seguir a conceitualização de ONU Mulheres. Numa</p><p>reelaboração das formulações anteriores, essa</p><p>conceitualização considera a “cultura do estupro” como “as</p><p>maneiras pelas quais a sociedade culpa as vítimas de</p><p>assédio sexual e normaliza o comportamento sexual violento</p><p>dos homens”.</p><p>Piscitelli (2017) analisa de modo mais amplo a relação entre gênero,</p><p>sexualidade e acrescenta uma temática pouco abordada, a do</p><p>turismo, especialmente nos casos de relações entre mulheres</p><p>viajantes (em particular de regiões mais ricas do mundo) e homens</p><p>locais (de países mais pobres). Nesse caso, como coloca Sheila</p><p>Jeffreys (apud Piscitelli, 2017), a questão de gênero se sobrepõe às</p><p>de classe, raça ou nacionalidade, deixando as mulheres em</p><p>posições subordinadas e sujeitas às mais diversas violências, como</p><p>roubo, espancamento, estupro. Jeffreys (apud Piscitelli, 2017)</p><p>exemplifica essa prevalência das configurações de gênero ao tratar</p><p>da “violência doméstica” em países ocidentais, em que a violência é</p><p>pensada a partir da construção de uma masculinidade dominante,</p><p>quando homens produzem suas masculinidades por meio de</p><p>práticas de objetificação da mulher e de agressão.</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 29/59</p><p>Siga em Frente...</p><p>A “Lei Maria da Penha” como resposta à</p><p>violência doméstica</p><p>No Brasil, há uma Lei específica para combater a violência contra as</p><p>mulheres, trata-se da chamada Lei Maria da Penha. O nome pela</p><p>qual a Lei n° 11.340, criada em 2006, ficou conhecida, se refere à</p><p>Maria da Penha Maia Fernandes, que foi alvo de duas tentativas de</p><p>homicídio por parte do marido e ficou paraplégica. Por mais de duas</p><p>décadas, grupos de mulheres de todo o país, e, também, de fora,</p><p>lutaram para que o marido agressor fosse punido.</p><p>Em termos legais, o Brasil também criou um dispositivo para</p><p>combater o assassinato de mulheres, trata-se da Lei nº 13.104, de 9</p><p>de março de 2015, que alterou o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de</p><p>7 de dezembro de 1940 do Código Penal. Essa regulamentação visa</p><p>prever o feminicídio e o coloca no rol dos crimes hediondos.</p><p>Em termos de análise, a violência contra as mulheres,</p><p>necessariamente, exige uma abordagem interseccional. Como</p><p>demonstra Piscitelli (2017), na literatura internacional há diferentes</p><p>abordagens sobre o tema, enfatizando a diversidade de tipos de</p><p>violências em diferentes lugares do mundo, nesse sentido, a</p><p>violência contra as mulheres pode estar associada a aspectos</p><p>ligados à sexualidade, à classe e a situações e contextos locais</p><p>específicos.</p><p>Segundo Piscitelli (2017), na década de 1980, surgem os primeiros</p><p>estudos sobre o tema no Brasil, quando a “violência contra a mulher”</p><p>era entendida a partir da relação mulher/vítima e homem/operador</p><p>da violência. Essa dicotomia acaba reduzindo a questão à violência</p><p>conjugal doméstica. Esse esquema analítico vai sendo superado,</p><p>conforme Piscitelli (2017, p. 25):</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 30/59</p><p>No entanto, as análises sobre as relações entre gênero e</p><p>violência foram rapidamente tornando-se mais complexas.</p><p>Vale lembrar os esforços de teorização, no final da década de</p><p>1980, entre as feministas “do Terceiro Mundo”, “pós-coloniais”</p><p>e “transnacionais”, contestando, como fez Chandra Mohanty</p><p>(1988), a ideia de uma conspiração masculina internacional e</p><p>de uma hierarquia de poder histórica, na forma de uma noção</p><p>monolítica de patriarcado ou de dominação masculina.</p><p>Piscitelli (2017), dialogando com Henrietta Moore, aponta para</p><p>importância que passou a ser dada, a partir dos anos 1990, à</p><p>interseccionalidade entre gênero e violência e os planos</p><p>internacional e nacional, ampliando as análises para além das</p><p>relações interpessoais, como nos casos de violência contra as</p><p>mulheres relacionados a crimes de guerra, a estupros coletivos, e a</p><p>diversos contextos em que a violência é exercida contra mulheres</p><p>por homens que não têm nenhuma proximidade ou intimidade</p><p>anterior com a vítima.</p><p>O desafio que está posto, como bem coloca Piscitelli (2017), é o de</p><p>produzir análises sobre esse fenômeno, que acomete mulheres do</p><p>mundo inteiro, levando em conta as especificidades culturais ao</p><p>mesmo tempo evitando estereotipar ou generalizar as mulheres ou</p><p>as relações de gênero.</p><p>Não podemos perder de vista a ideia de que gênero é relacional e</p><p>situacional, isso quer dizer que as relações de gênero podem variar</p><p>de acordo com características locais, sociais, culturais, de raça, de</p><p>sexualidade, de classe, e assim por diante. O poder pode variar de</p><p>acordo com essas relações.</p><p>Vamos Exercitar?</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 31/59</p><p>Agora que passamos pelo nosso conteúdo vamos voltar para as</p><p>nossas reflexões iniciais?</p><p>Os movimentos sociais surgem a partir de demandas específicas,</p><p>em busca de transformações nas condições de vida que venham</p><p>trazer obstáculos e dificuldades no pleno exercício dos direitos e da</p><p>cidadania. É nesse contexto que podemos entender os movimentos</p><p>feministas. A Antropologia tem dialogado com esses movimentos na</p><p>tentativa de colaborar para o enfrentamento das desigualdades que</p><p>acometem as mulheres no mundo todo.</p><p>Apesar de ser um fenômeno global, as respostas locais deveriam,</p><p>de acordo com as análises mais recentes da Antropologia, estar</p><p>atentas às especificidades e situações particulares de onde ocorre o</p><p>fenômeno. Nesse sentido, as violências que acometem as mulheres</p><p>nem sempre são ocasionadas pelos mesmos motivos, mas em geral</p><p>estão relacionadas às hierarquias de gênero, associadas a outras</p><p>categorias, como as de raça, classe, etnia, nacionalidade, enfim,</p><p>cada caso deve ser analisado tentando relacionar aspectos mais</p><p>amplos a elementos particulares.</p><p>As políticas públicas devem ser constantemente avaliadas para que</p><p>comportem aspectos de mudança social e de prevenção, além de</p><p>punições e penalidades legais a atos criminosos. A educação pode</p><p>ser considerada uma importante ferramenta de prevenção e</p><p>mudança cultural para que as mulheres deixem de serem</p><p>inferiorizadas em qualquer esfera, seja a sexual, no trabalho, na vida</p><p>pública e política.</p><p>Nesse sentido, para além de um fortalecimento das mulheres,</p><p>precisamos de debates constantes na sociedade para que a cultura</p><p>como um todo também mude. Só com a mudança da sociedade</p><p>como um todo é que de fato teremos mais segurança e justiça para</p><p>com as mulheres. As mudanças sociais já vêm ocorrendo nesse</p><p>sentido, pois podemos afirmar que as mulheres contemporâneas já</p><p>conquistaram muito mais direitos do que as gerações anteriores</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 32/59</p><p>tinham, mas ainda é um fato, facilmente observável, que as</p><p>mulheres estão sujeitas a muitas injustiças e violências</p><p>simplesmente pelo fato de serem mulheres, o que não pode ser</p><p>aceitável em termos éticos e de direitos.</p><p>Saiba Mais</p><p>O conceito de gênero</p><p>As discussões sobre o uso da internet para o debate social são</p><p>fundamentais para compreendermos a política contemporânea. A</p><p>cientista social Carolina Branco de Castro Ferreira nos traz um</p><p>excelente artigo investigando a atuação de grupos feministas na</p><p>rede. Vejamos a apresentação do artigo pela autora:</p><p>Neste artigo, busco compreender os usos da internet como</p><p>espaço de ação e de reflexão de grupos feministas no cenário</p><p>brasileiro, tendo como foco a relação entre novas gerações e</p><p>estéticas feministas e o espaço social da internet. Vários</p><p>grupos feministas têm privilegiado o uso da internet e de</p><p>redes sociais como plataformas relevantes para organização,</p><p>atuação e expressão política. Para tanto, tomo como objeto</p><p>de análise um blog bastante atuante nesse contexto, o</p><p>Blogueiras Feministas (BF), também o utilizo como recurso</p><p>etnográfico para entender a gama de atores coletivos, bem</p><p>como os lugares e estratégias sociais, culturais e políticas em</p><p>jogo nesta cena feminista. (FERREIRA, 2015)</p><p>FERREIRA, C. B. de C. Feminismos web: linhas de ação e maneiras</p><p>de atuação no debate feminista contemporâneo. Cadernos Pagu, n.</p><p>44, p. 199–228, jan. 2015.</p><p>Gênero, sexualidade e violência</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 33/59</p><p>https://www.scielo.br/j/cpa/a/CHYYZ9sKBpMtNZqQy3fLFsb/?lang=pt#</p><p>https://www.scielo.br/j/cpa/a/CHYYZ9sKBpMtNZqQy3fLFsb/?lang=pt#</p><p>Sobre este tema indicamos a leitura:</p><p>NJAINE, K. et al. (org.). Violência e perspectiva relacional de</p><p>gênero. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina,</p><p>2014.</p><p>Destacamos a seguir um trecho:</p><p>A violência de gênero se caracteriza por qualquer ato de</p><p>agressão física, de relações sexuais forçadas e outras formas</p><p>de coerção sexual, maus tratos psicológicos e controle de</p><p>comportamento que resulte em danos físicos ou emocionais,</p><p>perpetrado com abuso de poder de uma pessoa contra a</p><p>outra, em uma relação marcada pela desigualdade e pela</p><p>assimetria entre gêneros. Pode acontecer nas relações</p><p>íntimas entre parceiros, entre colegas de trabalho e em outros</p><p>espaços da sociedade. Abrange a violência praticada por</p><p>homens contra mulheres, por mulheres contra homens, entre</p><p>homens e entre mulheres (BRASIL, 2005; ZUMA et al., 2009).</p><p>Portanto, a violência de gênero se refere às relações de</p><p>poder e à diferença entre as características culturais</p><p>atribuídas a cada um dos sexos e suas peculiaridades</p><p>biológicas. No âmbito das relações de intimidade entre ambos</p><p>os sexos, ou entre parceiros do mesmo sexo, as mulheres</p><p>têm sido as mais vitimizadas, particularmente nas sociedades</p><p>em que as desigualdades entre homens e mulheres são mais</p><p>marcantes. Ou seja, a violência contra as mulheres é grave, a</p><p>ponto de muitas precisarem procurar os serviços de saúde</p><p>por conta das agressões, apesar de os homens também</p><p>sofrerem violências de todos os tipos. (NJAINE, 2014, p. 12-</p><p>13)</p><p>A “Lei Maria da Penha” como resposta à</p><p>violência doméstica</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 34/59</p><p>https://violenciaesaude.ufsc.br/files/2015/12/Genero.pdf</p><p>https://violenciaesaude.ufsc.br/files/2015/12/Genero.pdf</p><p>A Lei Maria da Penha costuma ser objeto de muitas discussões na</p><p>sociedade, muitas vezes, principalmente nas redes sociais e no</p><p>senso comum, surgem visões que destorcem os dispositivos e</p><p>aplicações da Lei. Na reportagem que trazemos aqui, você verá</p><p>alguns dos debates mais comuns sobre o tema. Leia a matéria 5</p><p>mitos sobre a Lei Maria da Penha, criada há 17 anos para combater</p><p>a violência doméstica.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>CABRAL, C. S.; BOZON, M. Valores sobre sexualidade e elenco de</p><p>práticas: tensões entre modernização diferencial e lógicas</p><p>tradicionais. In: HEILBORN, M. L. et al. (Org.). O aprendizado da</p><p>sexualidade: reprodução e trajetória de jovens brasileiros. Rio de</p><p>Janeiro: Ed Fiocruz/Garamond, 2006. p. 207-266.</p><p>CONNELL, R. W. Masculinities. University of Califórnia. Los</p><p>Angeles: Press Berkeley,1995.</p><p>FERREIRA, C. B. de C. Feminismos web: linhas de ação e maneiras</p><p>de atuação no debate feminista contemporâneo. Cadernos Pagu, n.</p><p>44, p. 199-228, jan. 2015.</p><p>NJAINE, K. et al. Violência e perspectiva relacional de gênero.</p><p>Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2014.</p><p>PISCITELLI, A. “#queroviajarsozinhasemmedo”: novos registros das</p><p>articulações entre gênero, sexualidade e violência no Brasil.</p><p>Cadernos Pagu, n. 50, p. 175008, 2017.</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 35/59</p><p>https://www.bbc.com/portuguese/articles/c2v2ezq4d0qo</p><p>https://www.bbc.com/portuguese/articles/c2v2ezq4d0qo</p><p>Aula 4</p><p>RAÇA E</p><p>INTERSECCIONALIDADE</p><p>Raça e interseccionalidade</p><p>Olá, estudante! Nesta videoaula, vamos conversar sobre as relações</p><p>entre raça, questão etária, violência e gênero. Este conteúdo é</p><p>importante, pois no Brasil a questão racial é central para</p><p>compreensão das desigualdades sociais.</p><p>Prepare-se para esta jornada de conhecimento! Vamos lá!</p><p>Ponto de Partida</p><p>Esperamos que com esta aula, você aprimore o seu olhar para</p><p>questões importantes para a nossa atuação em uma sociedade</p><p>complexa como a brasileira. Na Antropologia, procuramos</p><p>características humanas que no senso-comum muitas vezes são</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 36/59</p><p>entendidas como naturais, ou seja, que seria característica de uma</p><p>determinada natureza humana.</p><p>Chamamos de marcadores sociais da diferença aquelas</p><p>características que ao mesmo tempo que nos caracteriza, também</p><p>nos diferencia de outros sujeitos. Para esta aula, trataremos de</p><p>algumas dessas características, quais sejam: a classe social, a</p><p>questão etária e a de gênero.</p><p>Esperamos que você esteja preparado para realizar uma boa</p><p>reflexão acerca das questões raciais; o nosso desafio agora é</p><p>associar essas questões às categorias de classe, juventude e</p><p>gênero. No que se refere ao gênero, faremos uma apresentação de</p><p>um ponto de vista não tão frequente, as abordagens que discutem a</p><p>construção social da ideia de masculinidades em nossas</p><p>sociedades.</p><p>Para continuarmos, gostaríamos de propor algumas questões</p><p>iniciais para reflexão. Estude o nosso material com estas questões</p><p>em mente que ao final voltaremos para refletir sobre elas com você.</p><p>Poderíamos dizer que é diferente a maneira de ser jovem em um</p><p>contexto de uma sociedade de classes? Ou a juventude é marcada</p><p>por uma questão biológica e se expressa da mesma forma em</p><p>qualquer lugar? Quais são os valores e quais são as representações</p><p>e autorrepresentações com as quais os jovens contemporâneos</p><p>identificam-se? O que é ser homem? Como essas masculinidades</p><p>se relacionam entre si, e entre as feminilidades?</p><p>Vamos lá! Tenha uma boa aula!</p><p>Vamos Começar!</p><p>A raça como uma classificação social</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 37/59</p><p>As diferenciações raciais, o racismo e as discriminações raciais</p><p>existem em diferentes sociedades e não é diferente no Brasil, aliás,</p><p>é</p><p>possível verificar que o racismo é uma das questões mais</p><p>fundamentais na sociedade brasileira, dado o nosso passado</p><p>escravocrata e a estrutura social e econômica que se forma em</p><p>torno da exploração da mão de obra negra. Como afirma Almeida</p><p>(2019, p. 24- 25): “por trás da raça sempre há contingência, conflito,</p><p>poder e decisão, de tal sorte que se trata de um conceito relacional</p><p>e histórico. Assim, a história da raça ou das raças é a história da</p><p>constituição política e econômica das sociedades.”.</p><p>Conforme analisa Almeida (2019), a reflexão sobre a unidade e a</p><p>multiplicidade da existência humana presentes no Iluminismo do</p><p>século XVII, toma as características físicas e culturais como</p><p>parâmetro de comparação e classificação dos grupos humanos.</p><p>Antes desse processo, como aponta o autor, a noção de</p><p>pertencimento a uma comunidade estava mais centrada em</p><p>aspectos políticos e religiosos.</p><p>Também de acordo com Almeida (2019), o Iluminismo vai fornecer</p><p>as bases intelectuais para as revoluções liberais, fundamentando as</p><p>noções de direitos universais e a razão, como as bases da</p><p>civilização, da liberdade e da igualdade individuais. Conforme</p><p>sinaliza o autor, foi em nome da razão e do ideário civilizatório, que</p><p>vimos a expansão do colonialismo.</p><p>Achille Mbembe afirma que o colonialismo foi um projeto de</p><p>universalização, cuja finalidade era ‘inscrever os colonizados</p><p>no espaço da modernidade’. Porém, a ‘vulgaridade, a</p><p>brutalidade tão habitualmente desenvolta e sua má-fé fizeram</p><p>do colonialismo um exemplo perfeito de antiliberalismo’. No</p><p>século XVIII, mais precisamente a partir do ano de a791, o</p><p>projeto de civilização iluminista baseada na liberdade e</p><p>igualdade universais encontraria sua grande encruzilhada: a</p><p>Revolução Haitiana. (ALMEIDA, 2019, p. 27)</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 38/59</p><p>Almeida (2019) demonstra que a raça está ancorada em dois pontos</p><p>fundamentais que se entrecruzam: trata-se de uma característica</p><p>biológica, no sentido de que há uma identificação racial associada a</p><p>traços físicos, como a cor da pele. É também uma característica</p><p>étnico-racial, quando a identidade é vinculada à origem geográfica, à</p><p>religião, à língua ou a costumes.</p><p>Como bem lembra Almeida (2019), o genocídio promovido pela</p><p>Alemanha ao longo da Segunda Guerra Mundial é exemplo do</p><p>aspecto político da raça, que só pode ser compreendido analisando</p><p>as situações e os contextos específicos. A Antropologia do início do</p><p>século XX desconstrói a ideia de uma determinação biológica ou</p><p>geográfica para aspectos morais, chamando a atenção para a</p><p>autonomia e para as lógicas internas das sociedades, nas definições</p><p>de suas características culturais. A biologia moderna também já</p><p>demonstrou que não há diferenças biológicas entre os seres</p><p>humanos para legitimar qualquer tipo de hierarquização ou</p><p>inferiorização de grupos humanos.</p><p>É nesse sentido que podemos afirmar, como faz Almeida (2019, p.</p><p>31), “que a noção raça é utilizada para naturalizar desigualdades e</p><p>legitimar a segregação e o genocídio de grupos sociologicamente</p><p>considerados minoritários.” Feita essas constatações, podemos</p><p>perceber que o racismo contemporâneo, o preconceito e a</p><p>discriminação racial são frutos de um longo processo de construção</p><p>ideológica que foi utilizado econômica e politicamente para a</p><p>dominação de minorias sociais. Segundo Almeida (2019, p. 32):</p><p>Podemos dizer que o racismo é uma forma sistemática de</p><p>discriminação que tem a raça como fundamento, e que se</p><p>manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes</p><p>que culminam em desvantagens ou privilégios para</p><p>indivíduos, a depender do grupo racial ao qual pertençam. (...)</p><p>O preconceito racial é o juízo baseado em estereótipos</p><p>acerca de indivíduos que pertençam a um determinado grupo</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 39/59</p><p>racializado, e que pode ou não resultar em práticas</p><p>discriminatórias. (...) A discriminação racial por sua vez, é a</p><p>atribuição de tratamento diferenciado a membros de grupos</p><p>racialmente identificados.</p><p>Nesse ponto é fundamental chamar a atenção para o fato de que a</p><p>discriminação racial só pode se efetuar, como diz Almeida (2019), a</p><p>partir do poder, pois só é possível que se obtenha vantagens ou</p><p>desvantagens raciais por meio do uso da força. O autor distingue</p><p>dois tipos de discriminação, a direta ou indireta. A discriminação</p><p>direta é ostensiva e intencional direcionada a indivíduos ou grupos</p><p>identificados por algum atributo racial. A discriminação indireta não</p><p>apresenta uma intenção explicita de discriminar pessoas, nesse</p><p>caso, as condições de grupo minoritários, marcados por</p><p>diferenciações sociais significativas, não são levadas em</p><p>consideração, apesar de existirem de fato.</p><p>Racismo individual, institucional e estrutural</p><p>O racismo vai além da discriminação, ele se caracteriza, conforme</p><p>mostra Almeida (2019), pelo seu caráter sistêmico e processual e</p><p>produz relações de subalternidade e de privilégio entre os grupos</p><p>raciais, afetando as esferas políticas, econômicas e das relações</p><p>cotidianas. O autor nos apresenta ainda três concepções de</p><p>racismo: o racismo individual, relacionando racismo e subjetividade;</p><p>o institucional, associando racismo e Estado; e o estrutural,</p><p>pensando na relação entre racismo e economia.</p><p>A concepção individualista do racismo está ligada aos discursos que</p><p>apontam para o racismo como um fenômeno ético ou psicológico,</p><p>atribuído a grupos ou indivíduos de forma isolada do contexto social</p><p>e histórico. Nesse sentido, como mostra Almeida (2019), a</p><p>discriminação racial é tratada como uma irracionalidade, ou uma</p><p>anormalidade, que deve ser combatida a partir de critérios</p><p>punitivistas e legais. Essa concepção acaba por induzir à ideia de</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html 40/59</p><p>que não existe um caráter político ou social no racismo, mas</p><p>somente uma ação individual, nesse sentido, não estaríamos</p><p>tratando de racismo, mas de preconceito isolado por parte de</p><p>indivíduos que devem ser punidos.</p><p>A concepção institucional trata o racismo como uma consequência</p><p>do funcionamento das instituições que acaba por reproduzir, mesmo</p><p>que de modo indireto, as desvantagens e os privilégios baseados na</p><p>raça. Nesse ponto é importante definir instituição, como argumenta</p><p>Almeida (2019). As instituições são maneiras de orientar e</p><p>coordenar comportamentos e ações sociais, de modo que se tornem</p><p>normatizadas e produzam relativa estabilidade social. Assim,</p><p>a estabilidade dos sistemas sociais depende da capacidade</p><p>das instituições de absorver os conflitos e os antagonismos</p><p>que são inerentes à vida social. (...) em outras palavras, é no</p><p>interior das regras institucionais que os indivíduos se tornam</p><p>sujeitos, visto que suas ações e seus comportamentos são</p><p>inseridos em um conjunto de significados previamente</p><p>estabelecidos pela estrutura social. (ALMEIDA, 2019, p. 38 -</p><p>39)</p><p>É importante ressaltar, como faz Almeida (2019), que as sociedades</p><p>são permeadas por conflitos, contradições e antagonismos que são</p><p>absorvidos pelas instituições, nesse sentido, as instituições são</p><p>reflexo da sociedade e quando o racismo está presente em todas as</p><p>esferas da vida, ele também se mantém nas instituições. À medida</p><p>em que as instituições atuam na produção e na reprodução de</p><p>valores, normas, padrões estéticos, cultura etc., elas, direta ou</p><p>indiretamente, acabam por impor barreiras que dificultam o acesso</p><p>ao poder por parte dos negros e mulheres, já que o padrão</p><p>dominante hegemônico, como alerta Almeida (2019), é o do homem</p><p>branco. Mas para esse processo ser suficientemente estável, é</p><p>necessário que o grupo no poder tenha a capacidade de tornar o</p><p>10/10/2024, 13:58 A Antropologia no Brasil</p><p>https://alexandria-html-published.platosedu.io/5a2cb918-b557-4577-80ef-2db533e0564b/v1/index.html</p>

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