Buscar

Critão

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O livro Diálogos, da coleção Clássicos Cultrix, traz em um de seus capítulos um diálogo ocorrido entre Sócrates, o filósofo e Críton, um de seus seguidores.
 Sócrates havia sido condenado à morte, com a alegação de que corrompia a juventude, desacreditava dos deuses e se empenhava em excesso na investigação de coisas sob a terra e os céus. Por isso, encontrava-se preso numa cela, aguardando a sua morte que ocorreria dentro de poucos dias.
 Críton, seguidor de Sócrates, vai á cela, ao seu encontro, durante a madrugada. Eles começam a conversar, Críton, muito apreensivo, contando-lhe que o dia de sua morte está próximo e provavelmente iria ocorrer dentro de dois dias. Sócrates, responde ao seus amigo de uma forma muito tranquila, demonstrando estar conformado com a situação.
 A partir daí, Críton tenta convencer Sócrates a deixar a prisão, exibindo a tristeza que ficaria quando lhe tirassem a vida, além do julgamento feito pelas pessoas que não os conheciam direito que teria de enfrentar. Estas pessoas pensariam que Crítão, juntamente com os demais amigos de Sócrates foram incapazes de gastar dinheiro para financiar a fuga do amigo. O que de fato não ocorreu, já que estes se prontificaram a ajudá-lo, mas o recurso financeiro não foi aceito por ele. Crítão continua insistindo na ideia de fuga para o amigo, apelando de diversas maneiras, oferecendo possibilidade de hospedagem segura na Tessália e demonstrando a necessidade da sua presença para a criação de seus filhos.
 A partir daí, Sócrates passa a adotar a maiêutica, o método pelo qual ele consegue que o outro raciocine e encontre a razão. Para tranquilizar Crítão, afirma que não é preciso se preocupar com a opinião dos outros, pois se deve acatar a todas as opiniões dos homens, somente as boas e não as ruins. 
 Para distinguir as opiniões boas das ruins, cita o exemplo de um homem que pratique ginástica. Para tal, seus exercícios, sua bebida, sua alimentação, devem ser reguladas pelo seu mestre. Caso o desobedeça e siga aquilo que a multidão leiga diz, sofrerá consequências ruins, seu corpo será arruinado.
 Analogicamente, Sócrates conclui que o que a população pensará será de pouca importância. O motivo de preocupação deve ser com o que dirá a autoridade, no campo da justiça e da injustiça, a Verdade em si. Logo, se as ações fossem condicionadas de acordo com aquilo que era pregado pela multidão, o regime seria arruinado, assim como o corpo do atleta seria se o fizesse.
 Sócrates também relembra a Críton o princípio de que é não se deve dar máxima importância ao viver, e sim ao viver bem. O viver bem significa viver com justiça, honra e dignidade. O fato de dar dinheiro, subornando as pessoas que o tirariam da prisão seria um modo de agir injusto. Nunca se pode proceder contra a justiça, nem mesmo retribuindo a injustiça contra injustiça. Logo, Sócrates não deveria trair a convenção firmada, devendo continuar na cadeia.
 Além disso, passa a refletir no âmbito das leis e da própria cidade. Se por acaso fugisse, Sócrates tornaria a cidade de Atenas destruída, pois as suas sentenças proferidas não teriam força alguma. Se o filósofo havia sido criado a sua vida inteira na cidade de Atenas, tinha a opção entre morar lá ou residir num outro local. Mas escolheu a primeira opção, fazendo isso porque o lugar lhe agradava, tanto que gerou filhos nele. O que significa que estaria submisso as leis de Atenas. Logo, deveria cumprir os mandados, as ordens, não esquivando-se, devendo veneração , obediência e carinho à sua pátria, já que , toda sua vida sempre foi regulada pelas leis atenienses.
 Caso o filósofo buscasse refúgio em outro local, também teria como consequência o fato de passar a ser visto como inimigo das instituições e destruidor das leis, por aqueles que zelam pela suas nações. Fora isso, não poderia proceder com seus discursos de justiça para a obtenção da virtude, já que haveria atentado contra as ordens da lei. E se seguisse aquilo que a justiça determinou, quando chegasse ao Hades, que é o reino dos mortos, seria julgado de forma justa, o que possuía uma grande importância.
 Portanto, em meio a tantos argumentos, Sócrates acaba convencendo Críton da importância de seguir o destino que lhe foi determinado, pois aquele havia sido o caminho que a divindade proporcionou. Além de tudo, o mais importante da vida seria viver bem e de forma justa e não fugindo da morte estaria fazendo isso, morreria com a sua dignidade.
.

Outros materiais