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DIREITO DE FAMÍLIA RODRIGO GONÇALVES U N I D A D E 2 UNIDADE 2| INTRODUÇÃO Nesta unidade, trataremos sobre um dos atos civis mais solenes de nosso ordenamento jurídico, o casamento. Estudaremos neste encadernado eletrônico os detalhes que tornam essa matéria tão especial. Saberemos quem pode se casar, e o porquê de não poderem, falaremos questões que vão desde a habilitação até a escolha do regime de bens. Fonte: pixabay. UNIDADE 2 | OBJETIVOS 1. Definir o pressuposto sobre casamento civil e religioso. 2. Entender o processo de habilitação ao casamento. 3. Enunciar causas suspensivas e impedimentos matrimoniais. 4. Descrever o regime de bens existentes no ordenamento jurídico do matrimônio. O CASAMENTO CIVIL E RELIGIOSO Como já vimos, o casamento, segundo a legislação vigente, é a união lograda por duas pessoas, tendo seu reconhecimento e sua regulamentação oferecidos pelo Estado. Essa união é constituída com a finalidade voltada para a composição de uma família, fundamentada em um vínculo afetivo. Fonte: pixabay. Frise-se que, embora a doutrina conceitue de plano geral o casamento sendo um ato entre homem e mulher inspirado no texto vigente do CC/2002, outros atos normativos já entendem a viabilidade da união matrimonial entre pessoas do mesmo sexo. Isso ficou explícito em 2015, com o Enunciado n. 601 da VII Jornada de Direito Civil, que referendou ser existente e válido o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Dessa maneira, uma vez que o casamento compõe um negócio jurídico característico, com regras próprias, por sua vez, ele é formado e possui princípios específicos. Tais princípios não existem na esfera contratual ordinária, porém, geram obrigação entre as partes como rege o direito das obrigações. Independentemente de conceituação, o que se afigura para nós, sendo o casamento um negócio jurídico, é a viabilidade de aplicação das regras inerentes à teoria geral do negócio jurídico que você, aluno, deve ter visto na parte geral do próprio CC/2002. Porém, é imperioso destacar que tais aplicações só não poderão ser feitas caso não exista regra específica na parte especial. DEVERES DO CASAMENTO AGREGADOS AO CÓDIGO CIVIL O CC, prelecionando sobre os deveres do casal, nos coloca em verdade a finalidade do casamento. Tais deveres estão apregoados no art. 1.566 e seus incisos. Fonte: pixabay. O inciso primeiro aponta para que a primeira finalidade do casamento seja a da fidelidade recíproca. Embora muitas vezes marginalizada, a cláusula matrimonial desse inciso faz menção direta ao princípio da monogamia. Quando um casal se propõe a unir- se em um ato jurídico solene, está expressamente consignando o dever de fidelidade recíproca. O segundo inciso do artigo em comento fala que, ao casar-se, requer-se do casal uma vida em comum no domicílio conjugal. Isso é no mínimo curioso, pois hoje, nem sempre isso é possível, ante as condições diversificadas de trabalho, contudo, presume-se impreterível que o casal mantenha ao menos um domicílio fixo. Completando os incisos do artigo ainda em comento, citamos honrosamente o dever de respeito e consideração mútuos. Esse inciso diferencia-se pelo fato de que os cônjuges devam entre si respeito e consideração, no sentido de um dar para o outro tratamento devido e adequado em todos os momentos. O casamento religioso celebrado sem as formalidades exigidas somente terá efeitos civis se o requerimento do casal for registrado, a qualquer tempo no registro civil, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente, observando o prazo de 90 dias, a contar da data em que foi extraído o certificado. Será nulo o registro civil do casamento religioso se, anteriormente, qualquer dos consorciados já tiver tido outro casamento civil. HABILITAÇÃO PARA O CASAMENTO Nas sociedades primitivas, o processo para celebração de um casamento era algo extremamente simples, bastava que os nubentes estivessem sobre uma autoridade competente, que geralmente era a autoridade religiosa local, para que o ato fosse feito. Fonte: pixabay. Com a evolução social, seguida de um controle estatal maior sobre os atos de seus constituintes, o casamento, como ato, teve que ser aprimorado ao longo dos anos, de modo que, para que ele fosse realizado, seria necessário cumprir alguns requisitos. Alguns antecipamos nas leituras passadas, quais sejam, estar em idade núbio, não estar enquadrado nas hipóteses de impedimento e preferencialmente não estar inserido nas hipóteses de suspensão. Caso os nubentes encontrem-se inteiramente aptos ao matrimônio de acordo com os requisitos legais, o CC estabeleceu um rito processualístico que nós chamamos de habilitação para a celebração do casamento. Essa evolução da processualista do casamento foi importantíssima para o entendimento que o torna um negócio jurídico formal e solene. O art. 1.526 do CC/2002, nos termos de sua redação, trazia que o processo de habilitação seria realizado perante o oficial do Registro Civil e, somente após audiência com o Ministério Público, é que se poderia ser homologado pelo juiz. O dispositivo foi beneficamente alterado pela Lei nº 12.133/2009. O CC preleciona que a celebração do casamento propriamente dita, ou seja, a solenidade, ocorrerá na sede do cartório, de portas abertas, com a devida publicidade, com a necessidade de duas testemunhas, podendo estas serem parentes ou não dos contraentes. Se as partes quiserem, e consentindo a autoridade celebrante, existe uma permissão do art. 1.534 do CC admitindo a possibilidade de o casamento ser celebrado em outro edifício, público ou particular, contanto que fiquem portas abertas durante o ato (art. 1.534, § 1º, do CC). MODALIDADES ESPECIAIS DE CASAMENTO QUANTO À SUA CELEBRAÇÃO Caso um dos nubentes esteja acometido por moléstia grave, o presidente do ato poderá celebrar o casamento onde se encontrar a pessoa impedida. Caso seja urgente, poderá celebrar o ato ainda que à noite. O ato é obrigatoriamente celebrado perante duas testemunhas que saibam ler e escrever. Fonte: pixabay. Casamento nuncupativo: Também chamado de in extremis vitae momentis, ou in articulo mortis, esse tipo de casamento abarca situações extremas. Então usando da previsão legal, os nubentes convocam às pressas seis testemunhas que não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau. Estes testemunham os desejos desses nubentes de casarem-se consumando informalmente o ato. Casamento por procuração (art. 1.542 do CC): Esse casamento pode ser celebrado mediante procuração, por instrumento público, com poderes especiais. Devemos, portanto, afirmar que a eficácia do mandato não ultrapassará 90 dias da sua celebração (art. 1.542, § 3º), podendo ser revogada a qualquer tempo, e, se caso o mandante quiser revogar o instrumento, a revogação não necessita chegar ao conhecimento do mandatário (art. 1.542, § 1º, do CC). CAUSAS SUSPENSIVAS E IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS É comum nos bancos da faculdade haver no primeiro turno uma certa confusão sobre alguns termos aqui citados nesta disciplina, por exemplo, mistura-se casualmente a incapacidade para o casamento com os impedimentos matrimoniais. Fonte:pixabay. Embora semanticamente os termos guardem alguma relação, a incapacidade é, em regra, aquilo que impede que uma pessoa venha a casar-se com outrem. Ao passo que os impedimentos matrimoniais abeiraram-se para apontar que pessoas, em situações específicas, não podem se casar. Desse modo, em linhas gerais, os impedimentos submergem no que tange a legitimação, já a capacidade, e nas lições que encontramos na parte geral do CC/2002, faz relação a quem pode celebrar determinado ato ou negócio jurídico, sendo aqui, no nosso caso, o casamento. No advento do CC/2002, algumas críticas insurgiram pelo fato de este não elencar um rol específico de pessoas capazes ou incapazes de casar. Os que então criticavam, diziam que o artigo art. 1.517 só deixava de forma expressa a idade mínima para casar e não dissecava melhor outras questõesinerentes à capacidade. Para entender melhor, e que fique bem fixado, a pessoa, uma vez que conquistada essa idade de 16 anos, poderá ter o direito de se casar, porém, o texto legal deixa claro que deverá ter uma expressa autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, já que não foi atingida a maioridade civil. O ECA prevê que a maioridade cível ocorre aos 18 anos, isso não é à toa, pois é nessa idade que física e psicologicamente o corpo humano está plenamente apto para todos os atos sociais, como o trabalho. Em 2019, passa o art. 1.520 por nova reforma conceitual. Isso porque, com a chegada da Lei nº 13.811/2019, restou-se categoricamente proibido o casamento de menores de 16 anos, no entanto, a referida lei não modificou dispositivos do mesmo código que mantinham relação direta com o artigo em comento. DOS IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS Os impedimentos matrimoniais estão constantes no art. 1.521 do CC. É lá onde podemos encontrar um rol taxativo de pessoas que não podem casar. Podemos entender os impedimentos como situações que podem ferir de alguma forma a ordem pública. Fonte: pixabay. São impedidos de casar-se os ascendentes com os seus descendentes, sejam eles oriundos do parentesco natural ou civil, ou seja, pelo parentesco sanguíneo ou afetivos. São impedidos também de se casarem os parentes colaterais até terceiro grau, exatamente pelas mesmas razões acima. O CC também impede que os afins em linha reta casem-se, esse fenômeno jurídico é chamado de impedimento decorrente de parentesco por afinidade. O adotante com quem foi cônjuge do adotado, e o adotado com quem o foi do adotante, também estão impedidos de se casarem. As pessoas já casadas estão impedidas de se casarem novamente, visto o CC prelecionar a monogamia. Ainda no texto do CC, está impedido de casar o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. As causas suspensivas do casamento, diferentemente dos impedimentos matrimoniais, tratam-se de situações compreendidas dentro de um quadro de menor gravidade. Para entender melhor, ao passo que os impedimentos ferem uma ordem pública, moral, ética, as causas suspensivas refletem questões patrimoniais e de ordem privada. Portanto, seus efeitos processuais também são diferentes, pois os impedimentos geram nulidade do casamento, já as suspensões impõem sanções patrimoniais aos cônjuges. REGIME DE BENS NO CASAMENTO Uma vez que houve o processo de habilitação, os nubentes devem escolher qual regime de bens regerá o casamento. É exatamente neste ponto em que observamos a realidade mais contratualista do matrimônio. Fonte: pixabay. Ante o exposto, entende-se por regime de bens o conjunto de normas que disciplina a incursão jurídico-patrimonial entre os cônjuges ou companheiros. O CC em si não trata de conceituar o que venha a ser o regime de bens, apenas se atem de forma objetiva às questões relevantes a cada regime, apoiado em três princípios. São eles: o princípio da liberdade de escolha, o princípio da variabilidade e o princípio da mutabilidade. QUESTÕES TRANSVERSAIS AO REGIME DE BENS Pacto antenupcial: Nas palavras de Gagliano e Pomplona Filho (2019 p. 350), “trata-se de um negócio jurídico solene, condicionado ao casamento, por meio do qual as partes escolhem o regime de bens que lhes aprouver, segundo o princípio da autonomia privada”. Fonte: pixabay. Autorização conjugal: Também será chamada de outorga uxória ou outorga marital. Em casos específicos da lei, alguns bens do casal, para serem objetos de negócios jurídicos, precisam de autorização expressa do consorte. Tal outorga visa proteger o patrimônio do casal contra atos que venham dilapidar os bens de família. Mudança de regime de bens do casamento: Para requerer a alteração do regime, é necessário saber que ela não poderá ser pela via administrativa de um cartório, necessita de uma devida instrução judicial, que, por sua vez, será de jurisdição voluntária, pois não há um conflito entre os cônjuges. Administração dos bens: O CC, imbuído do espírito de igualdade, preleciona em seu texto, precisamente no art. 1.642, que tanto o marido quanto a mulher podem livremente praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua profissão, bem como administrar os bens próprios, isso, como já bem dissemos, foi um grande avanço, pois a gerência do patrimônio estava toda pautada na figura masculina no CC anterior. Regime de bens no direito civil brasileiro: Embora o assunto tenha grande extensão tanto no CC como na doutrina, buscaremos aqui trazer uma síntese dos principais pontos que servirão para sua atividade profissional como operador do direito. Hoje é admissível em nosso direito os seguintes regimes de bens: a) Comunhão parcial de bens. b) Comunhão universal de bens. c) Separação (convencional e obrigatória) de bens. d) Participação final nos aquestos. Regime da comunhão parcial de bens: Também chamado de regime legal ou supletório, esse regime será consignado pelas partes quando não houver pacto entre os cônjuges, ou, ainda, sendo o casamento considerado nulo ou ineficaz (art. 1.640, caput, do CC). Regime da comunhão universal de bens: Os bens nesse regime seguem uma tendência diferente, pois comunicam-se tanto os bens anteriores como os posteriores à celebração do casamento, incluindo as dívidas passivas de ambos (art. 1.667 do CC). Regime de participação final nos aquestos: No regime de participação final nos aquestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio, consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento (art. 1.672 do CC/2002). Regime da separação de bens: Como o próprio nome sugere, aqui os bens não comungam nem antes da união nem depois. Cabendo a administração desses bens de forma exclusiva a cada um dos cônjuges (art. 1.687 do CC). OBRIGADO!