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A Extensão Rural no Brasil IH406-IH427 Disciplina de Extensão Rural Unidade I UFRRJ – ICHS – DCS Professor Marcelo Duncan 1 O que é Extensão Rural? • Assistência técnica e extensão rural é uma política prevista na Constituição Federal e uma política pública oficialmente reconhecida como um DIREITO de agricultores familiares e camponeses assentados na reforma agrária • É também uma especialidade profissional do campo das ciências interdisciplinares que utiliza métodos educativos não formais para mediar, animar, apoiar e assessorar processos complexos de desenvolvimento rural sustentável. 2 Entidades de ATER • Em 2003 o NEAD/MDA identificou 5700 entidades que prestam serviços de ATER a agricultores familiares e assentados da reforma agrária, sendo: • Governamentais de Ater: 27 • Prefeituras: 1226 • ONGs: 495 • Representativas: 498 • Prestadoras de Serviços: 1858 • Cooperativas de Produção: 867 • Ensino e Pesquisa: 397 • Cooperativas de Crédito: 131 • Agroindústria: 78 • Outras públicas: 80 • Sistema S: 43 3 Extensão Rural estadual • As 27 organizações estaduais de Ater constituem uma extraordinária rede de serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural – Ater que congrega mais de 26.000 profissionais, atuantes em 5.298 municípios, ou 95% do território brasileiro. • É o serviço público com maior capilaridade no meio rural, uma das mais expressivas redes de construção coletiva do conhecimento, no âmbito do desenvolvimento rural sustentável (ASBRAER, 2010). 4 O que é extensão rural? ABCAR 1956 • “um processo cooperativo, baseado em princípios educacionais, que tem por finalidade levar, diretamente, aos adultos e jovens do meio rural, ensinamentos sobre agricultura, pecuária e economia doméstica, visando modificar hábitos e atitudes da família, nos aspectos técnico, econômico e social, possibilitando-lhe maior produção e melhorar a produtividade, elevando-lhe a renda e melhorando seu nível de vida.” MDA 2010 • “processo educativo com o objetivo de contribuir para a elevação da produção, da produtividade, da renda e da qualidade de vida das famílias rurais, sem dano ao meio ambiente.” 5 • “serviço de educação não formal, de caráter continuado, no meio rural, que promove processos de gestão, produção, beneficiamento e comercialização das atividades e dos serviços agropecuários e não agropecuários, inclusive das atividades agroextrativistas, florestais e artesanais.” EMBRATER 1976 Como surgiu? • Iniciativa de Nelson Rockfeller, membro de uma família de grandes milionários do petróleo que faziam filantropia. • Nelson tinha grande atração pela América Latina, especialmente Venezuela e Brasil. • Era republicano mas liberal e considerado um heterodoxo. • Ele tinha suas prioridades: – Negócios de petróleo e minerais (Standard Oil – Esso) – Levar o progresso a outras nações – Fazer filantropia • Fundou a AIA (American International Association for Economic and Social Development) e a IBEC (International Basic Economy Corporation) 6 No Brasil • A AIA apoiou um projeto piloto em Passa Quatro (SP) em uma bacia leiteira incipiente (Marcos Carvalho, 1946-1947) e usou seu exemplo para propor um projeto com o governo de Minas Gerais. • Em 1948 foi feito um convênio e foi fundada a ACAR em Minas Gerais, que já nascia para prestar assistência e utilizar o crédito rural como instrumento persuasão dos agricultores. • Modelo com origem no serviço Farm Home Administration, prestado pelas universidades do interior, adaptado às condições da região onde foi implantado e à conjuntura política da época. 7 Consórcio de recursos institucionais • Organismos filantrópicos: AIA (American International Association for Economic and Social Development) > Nelson Rockfeller (Rep./Liberal) • Organizações lucrativas: IBEC (International Basic Economy Corporation) > > Nelson Rockfeller (Standard Oil) • Governos: Ponto Quatro (USA) – Minas Gerais • Corporações bancárias: BNB, BB e CEMG 8 Objetivos diversos • Expansão capitalista; • Mercado de conhecimento e tecnologia; • Indústrias da guerra; • Negócios na Amazônia; • Internacionalização de grandes empresas; • Busca de petróleo e outros minerais; • Guerra fria; • Filantropia; • Fé e religião 9 Conceitos de Extensão Rural • Como processo educativo de comunicação de conhecimentos de qualquer natureza (técnicos ou não), no qual a relação entre os técnicos e os agricultores se dá no âmbito de uma dimensão temporal de médio e longo prazo. Difere da assistência técnica. – Extensão: caráter estratégico – Assistência técnica: caráter pontual • Como instituições públicas, privadas e não-governamentais • Como política uma ação pública para pôr em prática um plano, programa ou projeto de governo, orientadas por diretrizes, objetivos, metas. 10 Mais conceitos • Segundo o grau de participação e interação dos atores sociais: a) como informação, quando o agricultor se limita em receber informações úteis à sua atividade produtiva, sem ter a possibilidade de retroalimentar o processo, que geralmente ocorre por meio do rádio, da televisão, revistas, livros, etc.; b) como assistência técnica, quando o agricultor se dirige ao agente de desenvolvimento com um problema ou dúvida para que este o resolva ou forneça informações a respeito; 11 Conceitos ... c) como processo educativo, quando o agricultor recebe uma série de conhecimentos para que mais tarde possa resolver os problemas por si próprio, de tal modo que a sua participação ocorre numa segunda fase; d) como comunicação, quando a educação é concebida a partir de uma reflexão conjunta sobre a realidade dos agricultores, na qual busca-se uma diminuição das distâncias entre os extensionistas e agricultores; 12 Conceitos ... e) como animação, quando o agende da mudança canaliza ou acompanha um processo apoiando-o com seus conhecimentos e influências e desaparece de cena quando aquele está em marcha; f) como ação política, quando o agente de extensão se envolve nas demandas, conflitos e negociações dos atores sociais rurais, procurando estimular a organização coletiva dos agricultores de forma a torná-los sujeitos políticos conscientes. 13 Mais conceitos • Uma intervenção deliberada, de natureza pública ou privada • Em um dado espaço rural, realizada por agentes externos ou do próprio meio orientada à realização de mudanças no processo produtivo agropastoril, • Ou em outros processos socioculturais e econômicos inerentes ao modo de vida da população rural implicada 14 Extensão rural é .... • Um processo planejado e dirigido a determinados objetivos normativos • Realizada através de um processo comunicativo • Que envolve vários atores • Que possuem diferentes conhecimentos e que • Estão situados em posições assimétricas de poder. 15 Ou ainda ... • Processo de mediação social, onde um agente mediador articula outros, os mediados, a universos sociais que se lhe apresentam relativamente inacessíveis. • O mediador pode assumir esse papel por ter a capacidade de interagir em diferentes domínios sociais e de ‘lidar com vários códigos e valores adaptando-os e traduzindo-os para promover a comunicação entre grupos’. 16 Mudanças • Nos seus 65 anos de existência a Extensão Rural modificou sua natureza e postura. • Criada como um serviço autônomo não governamental, foi transformada em um sistema de empresas públicas que foram, depois de 1990, absorvidas completamente pelos sistemas públicos estaduais. • Presentemente, com a nova Lei de Ater, torna-se um sistema de múltiplasformas organizacionais com a coordenação e aporte financeiro do governo federal. 17 “HUMANISMO ASSISTENCIALISTA” 48-64 – Focaliza na subsistência mais digna da família rural e melhorias no seu estabelecimento – Não há reflexão sobre a situação que enfrentam – São atrasados, pobres e ignorantes e precisam de conhecimentos e crédito (supervisionado/orientado) – Para investir, produzir mais e ter mais renda – E com a renda melhorarem as condições materiais de vida – Mudanças tecnológicas e nos hábitos a partir de um modelo “desenvolvido” – Poderem atender às suas necessidades básicas 18 “DIFUSIONISMO PRODUTIVISTA” 65-85 – Focaliza na modernização tecnológica – Visa aumentar produtividade – Seleciona agricultores pelas condições econômicas – Tem de dar garantias para acessar crédito rural subsidiado – Tem de adotar os “pacotes tecnológicos” – Poder do extensionista para abrir ou fechar crédito – Trabalha com médios produtores – Produção para o mercado – Modo tutorial e paternalista de tratar os agricultores – Expansão da ATER – fim do trabalho “social” 19 LISITA, F. O. (2005) Considerações sobre a extensão rural no Brasil “HUMANISMO CRÍTICO” 85-95 – Construção de uma consciência crítica – Planejamento participativo – Ligar extensionistas aos produtores – Base pedagogia ‘freireana’ – Considerar cultura do público alvo – Busca participação ativa dos agricultores e organizações sociais – Incluir agricultor no mercado – Dependente de insumos indústria, subordinando-o ao capital industrial – Descentralização e municipalização 20 LISITA, F. O. (2005) Considerações sobre a extensão rural no Brasil CULTURALISMO ECOLÓGICO 95-10 – Consolidação de consciência crítica – Ativismo ambiental e político – O desenvolvimento local é fomentado pelo PRONAF – Consolida-se a agricultura familiar, foco na categoria social – A participação social é implementada pelos CMDR – O crédito rural volta a ser fundamental – O associativismo passa a ter mais importância – Surgem as redes sociais solidárias – Bases tecnológicas ecológicas ganham força – Extensionistas não sabem ser mediadores – Preservam a autoridade do conhecimento apesar de serem mais “dialógicos” 21 Evolução recente 2010-2014 • Lei de ATER LEI Nº 12.188, DE 11 DE JANEIRO DE 2010 cria as condições para o financiamento da ATER, como um sistema de gestão próprio para serviço público, gratuito e universalizado a todos os agricultores familiares. • Dec. Nº 8252 de 26 de maio de 2014 cria a ANATER que inclui os médios produtores como público da ATER e atribui à EMBRAPA a orientação do programa de difusão de tecnologia a ser financiado pela ANATER. • Sistema público e privado de ATER resiste à criação da ANATER e • A Diretoria da ANATER até hoje não foi nomeada • Apesar do direcionamento estratégico para o desenvolvimento rural sustentável, presume-se que poucas entidades públicas atualmente adotem as práticas recomendadas. 22 Situação atual • “Despolitização” das políticas focalizando a inovação como elemento de inclusão • Agricultura familiar ganha relevância econômica e política • Territórios rurais dão sentido espacial ao desenvolvimento rural sustentável • O desenvolvimento microrregional ajuda a construção de soluções inovadoras para a valorização dos recursos endógenos em regiões de pequenos e médios agricultores • Mudanças institucionais recentes provocam impasses na Extensão (EMBRAPA/MAPA, MDA/SAF > ANATER) 23 Princípios ATER • I - desenvolvimento rural sustentável, compatível com a utilização adequada dos recursos naturais e com a preservação do meio ambiente; • II - gratuidade, qualidade e acessibilidade aos serviços de assistência técnica e extensão rural; • III - adoção de metodologia participativa, com enfoque multidisciplinar, interdisciplinar e intercultural, buscando a construção da cidadania e a democratização da gestão da política pública; 24BRASIL. Lei 12188 de 11/01/10 Princípios ... • IV - adoção dos princípios da agricultura de base ecológica como enfoque preferencial para o desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis; • V - equidade nas relações de gênero, geração, raça e etnia; e • VI - contribuição para a segurança e soberania alimentar e nutricional. 25BRASIL. Lei 12188 de 11/01/10 Objetivos da ATER • I - promover o desenvolvimento rural sustentável; • II - apoiar iniciativas econômicas que promovam as potencialidades e vocações regionais e locais; • III - aumentar a produção, a qualidade e a produtividade das atividades e serviços agropecuários e não agropecuários, inclusive agroextrativistas, florestais e artesanais; 26BRASIL. Lei 12188 de 11/01/10 Objetivos ... • IV - promover a melhoria da qualidade de vida de seus beneficiários; • V - assessorar as diversas fases das atividades econômicas, a gestão de negócios, sua organização, a produção, inserção no mercado e abastecimento, observando as peculiaridades das diferentes cadeias produtivas; • VI - desenvolver ações voltadas ao uso, manejo, proteção, conservação e recuperação dos recursos naturais, dos agroecossistemas e da biodiversidade; • VII - construir sistemas de produção sustentáveis a partir do conhecimento científico, empírico e tradicional; 27 Objetivos... • VIII - aumentar a renda do público beneficiário e agregar valor a sua produção; • IX - apoiar o associativismo e o cooperativismo, bem como a formação de agentes de assistência técnica e extensão rural; • X - promover o desenvolvimento e a apropriação de inovações tecnológicas e organizativas adequadas ao público beneficiário e a integração deste ao mercado produtivo nacional; 28 Objetivos... • XI - promover a integração da Ater com a pesquisa, aproximando a produção agrícola e o meio rural do conhecimento científico; e • XII - contribuir para a expansão do aprendizado e da qualificação profissional e diversificada, apropriada e contextualizada à realidade do meio rural brasileiro. 29BRASIL. Lei 12188 de 11/01/10
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