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Resumo do livro A EXTENSÃO RURAL NO BRASIL

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Sexta, 21 Agosto 2009 às 00:34
Fernando Antonio da Silva e Linalva Maria de Barros 
Resumo do Livro A Extensão Rural no Brasil, Um Projeto Educativo para o Capital 
Bacharelados em Ciências Sociais 
DLCH/UFRPE 
Recife/abril/2006 
Resumo do Livro A Extensão Rural no Brasil, Um Projeto Educativo para o Capital 
Fernando Antonio da Silva e Linalva Maria de Barros 
Resumo do Livro A Extensão Rural no Brasil, Um Projeto Educativo para o Capital 
Trabalho apresentado pelo aluno Fernando Antonio da Silva e aluna Linalva Maria de Barros, do
curso Bacharelado em Ciências Sociais, a nível de graduação do DLCH/UFRPE, à disciplina
Extensão Rural I sob a orientação do professor José Nunes. 
Recife/abril/2006 
EPÍGRAFE 
"Tais são as caricaturas da herança passada e recente da educação de colonizadores,
transplantada para o país, primeiro de caravela, depois de avião”. 
(Carlos Rodrigues Brandão) 
SUMÁRIO 
1. Introdução......................................­ ..................................................­ ...........07 
2. Capítulo Primeiro­ Das origens, dos fundamentais teóricos e da implantação da Extensão Rural
na América Latina e no Brasil ou Da necessidade sentida à imposição
consentida........................................­ ..................................................­ ........08 
3. Capítulo Segundo­ A criação da Associação de Crédito e Assistência Rural de Minas Gerais – a
ACAR­MG ou De Rockefeller ao caipira mineiro...........................................­
..................................................­ ...........15 
4. Capítulo Terceiro­ O nascimento e a estruturação da Associação Brasileira de Assistência
Técnica e Extensão Rural­ ABCAR ou Para se ter pela mesma cartilha..........................................­
...................................20 
5. Capítulo quarto­ Do trabalho de todos à riqueza de alguns ou “É tempo de mudanças” na
Extensão Rural do Brasil............................................­ ..................................................­ .............26 
1. Introdução 
O presente trabalho realizado pela Professora Maria Teresa Lousa da Fonseca nos mostra o
projeto educacional extensionista, sua trajetória retratada em dois momentos, ou seja, no primeiro
período compreendido de 1948 ­ 1968, e como segundo período estendido após 1968 até os
nossos dias. Discuti e aprofunda “para que” e “para quem” serviu o projeto educacional
extensionista brasileiro realizado no primeiro período. A autora trata sobre as relações sociais de
produção no setor agrícola, as turbulências e alterações da extensão no prisma político do país,
discutindo a problemática, perspectivas e possíveis mudanças no programa brasileiro de extensão
rural. 
Idéias Principais ­ 
O processo extensionista vivendo e convivendo com o paradoxo entre capital versus trabalho,
tendo como pano de fundo o capitalismo expropriando o saber e o trabalho de uma grande massa
agrícola, para gerar domínio e lucro para uma minoria dominante e interesses estrangeiros,
principalmente norte­americanos. O sistema extensionista definido com funções, perfis, ações e
objetivos, buscando mudanças de conhecimento, habilidade e atitudes programadas, através do
trabalho realizado junto às famílias rurais e suas lideranças. 
Palavras­ chaves ­ 
Processo extensionista, realidade rural, produtividade, saber, interesses, exclusão e capitalismo,
objetivos e lideranças. 
Resumo ­ 
2. Capítulo Primeiro­ Das origens, dos fundamentais teóricos e da implantação da Extensão Rural
na América Latina e no Brasil ou Da necessidade sentida à imposição consentida 
2.1 – As origens da prática extensionista 
sem avaliação
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Blog / RESUMO DO LIVRO A EXTENSÃO RURAL NO BRASIL
Descubra Fernandoantoniosilva e 
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fernandoantoniosilva
 masculino ­ 55 anos, sociólogo, bancário, consultor de empresa, Brasil
­ 354 visitantes
A tua avaliação: 0
A autora cita que a prática extensionista se originou nos EUA, com o período de mudança
estrutural do mercantilismo para o capitalismo, ocorrendo abertamente à concorrência entre
pequenos fazendeiros e grandes empresas americanas, como também, mudanças de atuação no
mercado interno para mercado mundial globalizado. Tal situação gerou organização dos
fazendeiros em formas associativas agrícolas, visando discussão sobre problemas conjunturais e
estruturais comuns, e conhecimento de técnicas desenvolvidas em universidades e colégios. Pela
evolução da atividade educativa, surgiram Conselhos de Agricultura, estações experimentais,
participação de mulheres, crianças e jovens, persuadindo o Governo Federal a oficializar o
Trabalho Cooperativo de Extensão Rural, tornando­se a extensão o elo entre o conhecimento
desenvolvido em estações experimentais e as populações rurais. 
Este modelo americano foi denominado como “modelo clássico”, servindo de base para regiões
subdesenvolvidas, tendo como características: conhecimento dos cientistas e técnicos como única
fonte de conhecimento; persuasão dos agricultores para adoção de melhores práticas agrícolas
visando aumento de produtividade; e utilização massiva de recursos audiovisuais com interesse
capitalista dos fabricantes de tais equipamentos, entretanto os resultados foram insatisfatórios, com
relação aos agricultores latino­americanos, pelo que, foram realizadas alterações e
complementações, visando adequação à realidade subdesenvolvida. 
2.2 – Principais teóricos que nortearam a extensão 
A autora comenta que o grande mestre do processo de adequação do “modelo clássico” ao
“mundo subdesenvolvido” foi Everett M. Rogers, gerando o modelo difusionista­inovador,
definindo­o com quatro funções: conhecer, persuadir, decidir e confirmar, tendo como ponto central
o processo de ensino­aprendizagem, consequentemente, a passagem de mudança do
subdesenvolvimento para o desenvolvimento. O desenvolvimento econômico­social é a transição
da sociedade tradicional com valores de conservadorismo, afetividade, compadrio e soluções
tradicionais para os problemas comuns para uma sociedade com padrões de lucro, neutralidade
afetiva, universalismo, especialização e soluções técnico­científicas para os problemas comuns. 
3. A introdução do modelo extensionista na América Latina 
A introdução de programas de extensão rural ocorreu após a Segunda Guerra Mundial,
inicialmente no “modelo clássico” e depois no “modelo de adoção­difusionista”, baseados em
experiências americanas, perseguindo as metas de melhores índices de produtividade com
racionalização de produção agrícola e melhores condições de vida no campo, visando o
desenvolvimento econômico­social. Segundo a autora, no processo de adaptação ao contexto
latino­americana, a extensão executada apresentou as definições de introdução de técnicas
adequadas, proporcionando informações e práticas úteis, visando obter mudanças de atitudes e
aperfeiçoamento de aptidões. Tais conceitos explicitam o caráter político da extensão como
instrumento para o alcance de objetivos sócio­econômicos, como a ampliação da produtividade da
área agrícola e do trabalho agrícola e, consequentemente, melhoria de vida. Esses aspectos
conduziram o extensionismo latino­americano a um objetivo básico, que, definido pela autora,
explicita:”o alcance de uma maior produtividade agrícola para a conquista de melhores condições
de vida no campo através da família rural”. 
A práxis da extensão latino­americana, traspassada pela ideologia liberal, buscava mudanças nas
sociedades rurais através de interferências técnicas, desprezando alterações estruturais nos
aspectos sociopolíticos e econômicos, alienando os agentes envolvidos aos conflitos existentes.
Os programas extensionistas, concentrados em teorias e mecanismos educacionais, desviavam­se
das desigualdadessociais e permeando que tais desigualdades deveriam ser socializadas por
todos, prorrogando a colisão entre a classe dominante reinante no campo jurídico, político e
financeiro e a classe rural explorada por essa dominação. 
4. A implantação da Extensão Rural no Brasil 
A autora cita dois aspectos que influenciaram a implantação da Extensão Rural, ou seja, “a
preocupação das elites para com a educação rural; o desempenho econômico exigido ao setor
agrícola no contexto das relações políticas após o movimento de 1930, na sua relação com a
conjuntura internacional do pós­guerra”. 
4.1­ A Extensão Rural no contexto das preocupações com a educação rural 
Segundo a autora, as elites brasileiras agrárias e industriais focaram no mecanismo da educação
rural, face à migração rural para os centros urbanos e, consequentemente, impossibilidade de
empregos urbanos para a maioria e a uma possível queda da oferta de alimentos e produtividade
do campo. A educação rural tinha como objetivos: um melhor treinamento dos trabalhadores rurais;
a permanência de oferta de trabalhadores no campo com mais produtividade; e a manutenção da
estrutura agrária imposta pelas elites. Na década de 40, o Governo Federal começa a receber
ajuda do Governo Americano e da ONU e em 1945, criou­se a Comissão Brasileiro­americana de
Educação das Populações Rurais (CBAR), com apoio da UNESCO, iniciando­se a Campanha
Nacional de Educação Rural, tomando como base que o atraso das zonas rurais era conseqüência
da escassez de métodos e técnicas, o que seria corrigido com a educação comunitária a ser
implantada com o modelo americano de Extensão Rural. 
4.2­ A proposta extensionista no contexto da história política brasileira 
Em 1948, dar­se início aos serviços de extensão rural, resultado de convênios realizados entre o
Brasil e Estados Unidos, ocorrendo o Programa Piloto de Santa Rita do Passa Quatro­ SP,
fundação da ACAR­ Minas Gerais e intensificada as visitas do Sr. Nelson Rockefeller­ mensageiro
especial da missão americana no Brasil. A autora nos contextualiza sobre a crise cafeeira de 1929,
o movimento político de 1930, o capital industrial como eixo central da nova economia, e o setor
agrícola continuaria fornecendo alimentos para exportação, e produtos baratos como matéria­
prima para a indústria e alimentação da população. As elites continuaram mantendo o controle
sobre as decisões sociais e políticas e o isolamento da classe trabalhadora através de
autoritarismo que durou de 1937 a 1945. Entretanto, com a vitória dos aliados e, no Brasil, a
política de Vargas para fortalecer a emancipação nacional, desagradava os interesses
estrangeiros, principalmente os norte­americanos, e as elites contrárias à participação das massas
no processo político, culminaram com o golpe de 29 de outubro de 1945, criando condições
favoráveis ao fluxo de capital estrangeiro no Brasil. No cenário internacional, o planeta estava
dividido entre URSS e EUA, cada um buscando o controle ideológico e comercial dos países
subdesenvolvidos. Na América Latina, intensificava­se campanha anticomunista e as relações
econômicas e políticas, promovidas pelos EUA junto às elites dominantes, oferecendo capital e
tecnologia como a melhor solução para os problemas existentes. Em 1947, no Governo Dutra
intensificou­se essas relações, ocorrendo à criação da Comissão Mista Brasileiro­Americana e
financiamento de obras pelo Plano Salte nos setores de saúde, alimentação, transporte e energia
com recursos internos do orçamento federal e empréstimos internos e externos. Ressalta a autora,
que a missão Rockefeller representa o expansionismo americano no Brasil, como também, as
elites brasileiras buscando a manutenção do domínio, da acumulação de riquezas e dos lucros.
Conclui que a experiência extensionista brasileira foi um modelo consentido pelas elites na
manutenção dos seus interesses e desvinculado da necessidade das populações rurais. 
3. Capítulo Segundo­ A criação da Associação de Crédito e Assistência Rural de Minas Gerais – a
ACAR­MG ou De Rockefeller ao caipira mineiro 
1­ Por que Minas Gerais? 
Em 1946, Minas Gerais continuava com a economia crítica, marcada pela indefinição de recursos e
emigração rural para o centro industrial de São Paulo. Iniciou­se o governo de Milton Campos,
elaborando o Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção, com intenções liberal­
democrática, com diversas medidas econômicas e assistenciais, e, principalmente, com o intuito de
diminuir o êxodo rural através de política social. Como Minas Gerais apresentava dificuldades de
aportar recursos na implementação do citado plano, havia forte disposição em aceitar cooperação
técnica e financeira, assim em 06 de dezembro de 1948, foi assinado convênio entre o Governo de
Minas Gerais e a AIA­ American International Association, criando a ANCAR­ Associação de
Crédito e Assistência Rural, visando instituir sistema de crédito para aumento de produção
agropecuária e outros benefícios sociais. Minas Gerais possuía abundância em recursos naturais,
burguesia atuante e governo determinado em resolver problemas estruturais e interesse em se
engajar ao capitalismo brasileiro. 
2­ Um agrônomo, uma professora e um jipe 
Segundo a autora, os primeiros relatórios dos trabalhos de extensão se concentrou na ideologia
americana do pós­guerra e como a experiência era importante como modelo para outros
organismos nacionais e internacionais, carecendo de informações acerca da prática extensionista.
Em 1952, técnicos americanos realizaram a primeira avaliação da ACAR­MG, concluindo pela
necessidade de novo planejamento, retomando a educação como instrumento central e o crédito
como ferramenta para implementação das técnicas recomendadas, ocorrendo nesse mesmo ano à
extensão como instrumento de educação. Em 1953, foi criado o Escritório Técnico de Agricultura­
ETA, tendo como objetivos: facilitar o desenvolvimento da agricultura através da cooperação entre
os governos americanos e brasileiros; estimular e aumentar intercâmbio entre os países, acerca de
conhecimentos, habilidades e técnicas em agricultura e recursos naturais; e, promover e fortalecer
entendimento entre os povos desses países na busca do crescimento de um meio democrático de
vida. O ETA apresentava sua política de atuação baseada em: prioridade aos treinamentos de
pessoal e trabalhos para o aumento de produção, beneficiando diretamente o fazendeiro e sua
família; estimulação de cooperação entre as agências de atividades semelhantes, no âmbito
federal, estadual, municipal e privadas e cooperação entre técnicos e fazendeiros e suas
associações; e, compartilhamento no trabalho entre técnicos brasileiros e americanos, visando
melhores resultados e melhorias na capacitação dos profissionais brasileiros e maiores
responsabilidades e direção do trabalho no futuro. Com relação a esse conteúdo dito pelos
americanos, comenta a autora, que tal discurso explicita “a incompetência dos técnicos brasileiros
na solução de seus problemas e na necessidade de interferências externas com a assimilação do
modelo difusionista­inovador”. O processo extensionista começa a ser desenhado sobre a
influência do ETA, cuja ação considerava quatro pontos: a experimentação empírica; a valorização
do tipo de trabalho exercido pelo técnico extensionista; o caráter educativo do trabalho; e, a crença
em alternativas comunitárias de auto­ajuda. A ACAR era constituída de uma equipe formada por
um supervisor (engenheiro agrônomo), uma supervisora doméstica (especializada em economia
doméstica), uma auxiliar (serviços de escritório) e a logística de um jipe, percorrendo sua área de
trabalho de até dois municípios, visitando comunidades e famílias rurais, organizando
demonstrações, reuniões e palestras, buscando através do conhecimento, mudanças nas atitudes
e habilitações para atingir o desenvolvimento individual e social. O trabalho era realizado
envolvendo o agricultor,sua esposa e filhos, persuadindo através de campanhas comunitárias, o
uso de recursos técnicos para maior produtividade e o bem estar social. O diagnóstico traçado
apresentava a família rural com carência de alimentos, de informações, de saúde, de contatos e
laços sociais, tendo como causa o baixo nível econômico e nível social inferior, apresentando
como solução aplicação de métodos modernos e práticos, negando seus conhecimentos técnicos
tradicionais. O modelo descartava, teoricamente, que o mecanismo das estruturas produtivas, e o
processo de exploração das elites dominantes, eram as causas da pobreza estrutural, mas sim a
ignorância técnico­científica e o atraso cultural. O extensionismo mostrava que essas práticas
modernas de agricultura e de economia doméstica, era o portal para as famílias se integrarem ao
sistema social de consumo e mercado, passando a produzir mais e em menor tempo, obtendo mais
rendimentos para poder consumir equipamentos e insumos e bens urbanos de consumo.
Complementarmente a ACAR utilizava o “crédito supervisionado” como instrumento para
incrementar a produção com introdução das técnicas e produtos (adubos químicos, sementes,
vacinas, fertilizantes, entre outros) repassadas no segmento educação, donde concluímos que os
objetivos finais eram econômicos. A soma da educação e crédito supervisionado contribuíram
para: redefinição da pequena propriedade como fornecedora de produtos agrícolas baratos para o
mercado interno, visando conter pressão por aumentos salariais das classes urbanas;
subordinação do trabalho familiar ao capital, tornando o trabalhador rural como “exército industrial
de reserva” para a indústria ou “bóia­fria” para a grande empresa rural; e, a família rural como
consumidora de créditos e produtos industrializados. Resumidamente, para a família rural era
renegado seu conhecimento acumulado, sofria exploração por parte do agente de capital, do
proprietário da terra, do comerciante de produtos agrícolas, da multinacional que fabricava
máquinas, fertilizantes, outros, além da exploração da empresa industrial que consumia seus
produtos agrícolas e o governo que cobrava impostos e controlava os preços dos produtos. Em
1956, a ANCAR mineira estava consolidada e no período de 1948 a 1967 tinha sido implantada a
ANCAR em 19 estados brasileiros, surgindo à necessidade da criação de um órgão coordenador a
nível nacional. 
4. Capítulo Terceiro­ O nascimento e a estruturação da Associação Brasileira de Assistência
Técnica e Extensão Rural­ ABCAR ou Para se ter pela mesma cartilha 
A introdução da rede ANCAR, para os historiadores da Extensão, gerou a necessidade de
implantar um órgão central para ordenar o trabalho extensionista. 
1­ A criação da Associação Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (ABCAR) e a
conjuntura política 
Na visão dos funcionários e técnicos americanos da AIA e da rede ACAR a criação da ACAR
federal, naquele momento não seria tranqüila, mediante a conjuntura política vivida pelo suicídio
de Vargas, manifestações populares, greves, eleições e posse de Juscelino Kubitschek. As
negociações foram iniciadas após a posse de Juscelino. A autora comenta o pensamento de
Octávio Ianni, o qual cita a importância do Programa de Metas de Juscelino para o capitalismo
brasileiro, principalmente pelo plano de industrialização, o qual não recebeu apoio dos
americanos, tendo Juscelino buscado apoio dos capitalistas europeus, essencialmente alemães,
que buscavam ampliação no mercado latino em competição com os americanos. Foi criada a
ABCAR em junho de 1956, como entidade privada sem fins lucrativos, exigência da AIA, que
também fazia parte como membro fundador, juntamente com a ETA, Banco do Brasil,
Confederação Rural Brasileira e as filiadas da rede ANCAR, ocorrendo posteriormente o ingresso
do Ministério da Agricultura, o MEC, o SSR, o IBC e o BNCC. As intenções dos americanos era de
que a ABCAR perseguiria, também, a eliminação da pobreza rural e o aumento da produtividade
agropecuária, como também, sabiam que, mediante o governo populista, esse programa
assistencial teria a participação direta desse governo. Com a ABCAR iniciou­se uma ação
planejada em critérios racionais e neutros com caráter controlador, apresentando as funções:
orientar a implantação e cooperação no desenvolvimento das entidades; promover um bom
entrosamento entre as filiadas, visando diretrizes uniformes, sem prejuízo as necessidades e
condições locais; obter recursos financeiros, materiais e técnicos internacionais, nacionais, inter­
regionais, intergovernamentais, oficiais e privados; cooperar na formação de treinamento do
pessoal técnico e administrativo das filiadas; estabelecer e manter o intercâmbio de pessoas,
idéias e experiências entre as filiadas; divulgar os resultados dos trabalhos; cooperar com as
filiadas no recrutamento de pessoal; cooperar com as filiadas no trato dos interesses destas na
Capital Federal; promover ampla divulgação do Programa; cooperar para o aumento da eficiência
dos setores de divulgação das filiadas. Tais funções buscavam padronizar as filiadas existentes e
as futuras filiadas, como também, centralizava a busca de recursos financeiros. Em seguida a
ABCAR definia o perfil das filiadas, contendo: ter âmbito estadual, ser administrativamente
autônomas e subordinar­se aos princípios gerais adotados pela ABCAR; ter uma sigla de
identidade identificando o Estado da federação; estrutura técnico­administrativa com escritórios
locais, regionais e especialistas; devem contar com o apoio do povo e autoridades e com suporte
financeiro governamental nas esferas federal, estadual e municipal, podendo aceitar, como
contribuintes e colaboradores, outras entidades, de natureza pública ou privada, nacionais ou
internacionais; e objetivo central a elevação do nível de vida das populações. A ABCAR definia
também o perfil dos agentes das filiadas, demonstrando a forma monocrática, com forte ideologia
de pensamento e ações, como também, sua estrutura hierárquica apresentava duas categorias
(chefes e subordinados) com quatro níveis: dos órgãos de decisões centrais­ nacionais e
estrangeiros; decisão estadual­ filiadas; escritórios regionais e escritórios locais. Cita a autora o
pensamento de Águeda Bernadete Uhle em sua Dissertação de mestrado intitulado O Exercício da
docilidade: estudo da formação profissional no SENAC, concluindo que o objetivo maior desse
organograma era o cumprimento de ordens e não a tomada de decisão ou apresentação de
soluções, além de entidades estrangeiras em posição superior de tomada de decisão no mesmo
patamar de autoridades brasileiras e as famílias e suas lideranças sem participação ativa no
planejamento, definição de metas e política de ação a serem executadas. 
2­ As propostas de ação da ABCAR 
A ABCAR apresentava as seguintes características: atua junto ao povo rural, onde ele vive e
trabalha; mantém contato direto e permanente com as Comunidades Rurais beneficiadas; ensina a
família rural a resolver seus problemas; atua junto a todos os membros da família; é um trabalho
social e de educação informal; exerce tarefa educacional nos níveis­ individual (família), grupal
(comunidade) e massa (município­ estado); possui pessoal habilitado; tem programas e objetivos
definidos; coopera com outras entidades; atinge diretamente a todas as áreas de sua jurisdição.
Além disso, apresentava os princípios básicos: as filiadas devem ter um programa e um plano de
trabalho organizado; as filiadas devem ser um Serviço de Extensão Rural e não apenas manter
atividades extensionistas; o trabalho educativo deve ser executado através do uso sistemático e
generalizado de todos os métodos de Extensão Rural; a aplicação do Crédito Rural
Supervisionado deve basear­se nos princípios que informam esta modalidade de crédito
educativo, fundamentado nos ensinamentos da Administração Rural; e é recomendável iniciar as
atividades de Crédito Supervisionadodepois de algum tempo de trabalho em Extensão Rural e
logo que possível. A autora cita José Paulo Ribeiro com o Programa de extensão, explicitando que
a intenção do trabalho extensionista era provocar mudanças: 1) mudanças em conhecimento, ou
coisas conhecidas; 2) mudanças em habilidades, ou coisas feitas; e mudanças em atitudes, ou
coisas sentidas. Portanto, o trabalho educativo buscava a mudança de comportamento mediante
seus problemas de ausência de planejamento e uso inadequado de práticas agrícolas. A autora
conclui que, mediante o modelo apresentado, o êxito da capacitação e melhoria de vida seriam
alcançados com planejamento integral, administração e supervisão racional da empresa agrícola.
Comenta, também, que novos fatos surgiam, como a indefinição da classificação de “pequenos e
médios produtores”, e o crédito como solucionador dos problemas estruturais de comportamentos,
ausência de planejamento, baixa produtividade da terra e uso inadequado de práticas agrícolas.
Buscava­se, conforme o contido no trabalho Deberes y Cualidades de los Trabahadores in:
Trabajo de extensión, citado pela autora, que o extensionista apresentasse as qualidades: ampla
experiência na área de trabalho; ser dirigente e construir confiança junto às famílias rurais; ter
experiência no meio agrícola; ter educação profissional; e apresentar qualidades pessoais­
integridade, imparcialidade e bom juízo, saúde, sentido de direção, capacidade técnica,
determinação, fé, valor cívico, iniciativa, perseverança, versatilidade, facilidade de expressão (oral
e escrita), sentido de humor, sentido de organização. A autora cita como estava planejado a
realização das ações e o alcance dos objetivos, contido no Sumário da II reunião de técnicos da
ABCAR: “Os métodos de trabalho são os próprios de um sistema educacional permanente e
dinâmico, extra­escolar, não obrigatórios, democrático, informal, orientado em função da situação
do meio, com a participação direta, voluntária e consciente do povo rural, mobilizador da
capacidade potencial de lideranças e de associativismo e adequado a levar aos habitantes do
meio rural os conhecimentos e informações necessárias à melhoria do seu nível de vida, no tríplice
aspecto técnico, econômico e social”. 
Foi ressaltado, também, a importância da seleção e treinamento de líderes formais e informais
realizados pela equipe da ANCAR, os quais eram multiplicadores dos ensinamentos para as
famílias, grupos e clubes. Esses líderes deveriam ser democráticos e com adaptabilidade para os
ensinamentos e trabalhos da ACAR, funcionando como elos entre ACAR e o meio rural. A partir da
ABCAR continuaria sendo trabalhado o modelo difusionista­inovador, entretanto com elementos
teóricos de racionalidade, planejamento e moderna administração, repassados por técnicos e
líderes, buscando solução técnicas para problemas históricos e estruturais do meio rural, e focando
a família rural como na nova condição de produtora e consumidora no mercado global. 
5. Capítulo quarto­ Do trabalho de todos à riqueza de alguns ou “É tempo de mudanças” na
Extensão Rural do Brasil 
O país vivia turbulências políticas no final dos anos 50 e 60, e a extensão rural no Brasil sofria
influência das agitações, pelo que, a ABCAR passava por auto­avaliação, planejamento e
mudanças estruturais, ocorrendo permutação da ABCAR pela EMBRATER­ Empresa Brasileira de
Assistência Técnica e Extensão Rural. 
1­ Auto­avaliação da ABCAR e planejamento de suas futuras atividades 
Ocorreu processo de avaliação por especialistas norte­americanos e técnicos brasileiros, visando
identificar os principais problemas, apresentação de sugestões e recomendações, destacando a
autora as recomendações: maior comprometimento governamental com recursos financeiros e
amparo legal; fortalecimento, controle e distribuição de recursos financeiros federais; e elaboração
de plano nacional com elementos necessários para uma política nacional de extensão rural.
Destaca­se, nesse momento, a implantação do regime socialista em Cuba com a vitória de Fidel
Castro, gerando influência em toda a América Latina e sérias preocupações para as elites norte­
americanas e latino­americanas. Em setembro de 1960 ocorria em Bogotá conferência focando os
problemas agrários de toda a América Latina, concebendo a “Aliança para o Progresso”,
‘demonstrando o enfraquecimento do domínio americano na América Latina. No governo popular
de Goulart, no foco da política interna brasileira, ocorriam greves, exigências por reformas de
estrutura, principalmente pela reforma agrária, e mobilização dos camponeses para solidificar o
movimento sindical e ligas camponesas de Francisco Julião, cujos fatos provocaram a AIA se
retirar da ABCAR. Em 1960 técnicos brasileiros da ABCAR elaboram o Plano Diretor Qüinqüenal
(1961­1965) com objetivos, diretrizes, metas, previsão de recursos para a ação de assistência ao
meio rural, tomando por base a experiência acumulada, flexibilidade para ajustamentos e que
serviria de base para o trabalho realizado em todos os níveis (federal, estadual, municipal), além
do Congresso Nacional, Assembléias Legislativas, classes e lideranças de produtores, enfim todos
os envolvidos com a questão rural no Brasil. Apresentou­se nesse plano a desvinculação do
crédito rural supervisionado da extensão rural, ocupando o crédito o papel de “meio operacional”
da extensão. Em 1961 a rede ABCAR foi considerada pelo Governo Federal como utilidade
pública, colaboradora no desenvolvimento rural, instrumento da política agropecuária, e recursos
estáveis nas esferas federal e estadual. 
2­ Do compromisso político às mudanças institucionais 
A ABCAR assumia o compromisso junto ao Governo Federal para que a agricultura ostentasse
papel de subordinação ao crescimento industrial, como fornecedora de mão­de­obra, matéria­
prima e alimentos e consumidora de produtos industrializados, portanto permanecia o prisma do
desenvolvimento focado, nesse momento, no desenvolvimento industrial, prorrogando a discussão
dos reais problemas da agricultura, ou seja, estrutura fundiária, condições de trabalho e sistema de
comercialização. A ABCAR apresentou as medidas priorizadas: promover impacto econômico para
o aumento da renda das famílias rurais; incrementar a produção de gêneros alimentícios; contribuir
para o aumento de produtividade, priorizando produtos de exportação para melhorias na política
de comércio exterior do País; e orientar as famílias rurais no aproveitamento das rendas e
conhecimento para melhorias das suas condições sociais. Com relação à reforma agrária, a
ABCAR se posicionou para: contribuir com subsídios para estudos da estrutura agrária e para
elaboração de planos e reforma agrária; colaborar na seleção de famílias e orientação técnica nos
programas de colonização, crédito fundiário, outros, em parceria com os órgãos governamentais
responsáveis pela reforma agrária. No campo político o país sofria turbulências internas
(movimentos das massas urbanas e rurais contra o processo econômico, e que o desenvolvimento
brasileiro não precisava ser necessariamente capitalista), e externas (saída de capitais nacionais e
desestímulo a entrada de capital estrangeiro), tendo como conseqüência a desaceleração do
crescimento econômico. 
A crise foi contida com repressão aos grupos contestatórios e mudança do processo político com o
sistema de poder implantado pelos militares e tecnocratas. Em novembro de 1964, foram lançadas
reformas no segmento agrícola: Lei do Estatuto da Terra, criação do Instituto Brasileiro de Reforma
Agrária­ IBRA, do Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário­ INDA, do Fundo Geral para a
Agricultura e Indústria­ FUNAGRI, instituição e regulamentação do Crédito Rural junto ao Banco
Central, visando controlar os movimentos rurais organizados e atender os anseios da elite
dominante que apoiou a “revolução”. Em maio de 1966, a ABCAR passou a ser coordenada pelo
Ministério da Agriculturae pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário. Em 1968,
ocorreram mudanças substanciais no foco da extensão rural: novo conceito de educação e
redefinição da clientela da ABCAR, tendo como conseqüência: ampliação da clientela da extensão
com a inclusão dos grandes produtores, visando melhores resultados no crescimento da produção
e produtividade; orientação preferencial aos proprietários rurais; assistência ao agricultor
empresarial em vez dos pequenos e médios produtores; priorização aos planos regionais com
visão macro em vez dos planejamentos locais; coordenação e integração dos vários órgãos com
atuação dissipada no meio rural; os pequenos e médios produtores deveriam se organizar em
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cooperativas, visando facilitar o acesso ao crédito e comercialização; os meeiros e assalariados
seriam conduzidos à sindicalização rural; e o sindicato assume papel assistencialista, como
propagador de benefícios, a exemplo do FUNRURAL, desviando­se dos movimentos de
organização (Ligas Camponesas e Sindicatos Livres). Com todas estas alterações a ABCAR
estava ameaçada de extinção, e o Estado centralizador assumiu o projeto extensionista criando em
1974 a EMBRATER­ Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural, com objetivos
básicos de melhoria das condições de vida das populações rurais e aumento substancial da
produção de alimentos e matérias­primas para o mercado interno e externo, classificando os
produtores em: alta renda dos quais se espera produção de larga escala para equilíbrio da
balança comercial; média renda dos quais se espera oferta global interna de alimentos e matérias­
primas e demandas de produtos do setor industrial; e baixa renda dos quais se espera, de forma
coletiva, oferta global interna de alimentos e matérias­primas e demandas para o setor industrial.
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