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SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 289 - 
 
 
 
 
 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 02ª 
VARA C ÍVEL DA COMARCA DE LONDRINA/PR 
 
 
 
 
 
 
 
AUTOS N. º XXXXXXXXX 
 
 
 VEÍCULOS LTDA, pessoa ju r íd ica de d i re i to 
pr ivado já dev idamente qua l i f i cada nos autos em ep ígra fe de AÇÃO 
DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C INDE NIZAÇÃO POR DANOS 
MORAIS que lhe move xxxxxxxxxxx , igua lmente qual i f i cado, vem, 
a t ravés de seu advogado ao f ina l ass inado ( inst rumento de 
mandato e documentos soc ia i s an exos) , o ferecer defesa na forma 
de CONTESTAÇÃO , o que faz com fu lc ro no art igo 300 do C ódigo 
CONTESTAÇÃO 
Sílvia Helena Neves de Sales 
José Valdemar Jaschke 
Antonio Guilherme de Almeida Portugal 
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de Processo C iv i l e de acordo com as razões de fa to e de d i re i to 
que a segu i r se expõem. 
 
 
01. SÍNTESE DA DEMANDA 
 
Trata-se de Ação de Resc i são Cont ra tua l c/c 
inden ização por danos mora is onde o Autor sustenta o segu in te . 
 
Que em fevere i ro de 2007 adqu i r iu da Segunda Ré, o ra 
contestante , o veícu lo PEUGEOT 307 SEDAN 2006/2007 fabr ic ado 
pe la Pr imeira Ré que aprox imadamente 07 ( sete) meses após a 
compra apresentou prob lemas de aquec imento excess ivo no m otor . 
Após Rec lamar do defe i to , sustenta que fo i conven c ido 
pe los vendedores da Segunda Ré a t rocar o ve ícu lo por out ro novo, 
pagando a d i ferença , porque as novas versões não aprese ntar iam o 
mesmo defe i to pois que já ter ia s ido sanado pe la Pr imei ra Ré . 
 
O Autor ace i tou a proposta e adqu i r iu outro 307 
SEDAN 2008 que apresentou exatamente o mesmo defe i to . A lega 
que se t rata de ve ícu lo da mesma sér ie do anter io r sendo 
prev is íve l , por tanto , que também acusar ia o mesmo prob lema. 
 
Em razão desses fa tos a lega que perdeu a conf iança no 
ve ícu lo que ter ia a segurança e a qua l idade compromet idas , pelo 
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que manejou a presente demanda após restar in f ru t í fe ra te ntat iva 
anter ior de comp os ição no PROCON loca l . 
 
Pede a resc i são do contra to com os ped idos sucess ivos 
de : 1 . res t i tu ição imediata e in tegra l do va lor pago; 2 . subst i t u ição 
do produto por outro da mesma espéc ie em per fe i tas cond ições de 
uso e ; 3 . abat imento proporc iona l do preço . 
 
Requer , a inda , a condenação das Rés so l idar iamente 
ao pagamento de inden izações por danos mora is . 
 
Data vênia , não devem prosperar as pretensõ es do 
Autor como será ana l i sado a segu ir . 
 
 
02. PRELIMINAR – CARÊNCIA DE AÇÃO – AUSÊNCIA DE 
INTERESSE DE AGIR. 
 
 Conforme consta nos autos , no que a t ine à prete nsão 
de um novo ve ícu lo e sobre a inden ização de danos mora is , o A utor 
é carecedor de ação porque em nenhum momento opor tunizou às 
Rés a prer rogat iva de so luc ionarem o a legado defei to no prazo de 
30 d ias que a le i consumer is ta o fer ta ao fabr ica nte/comerc iante 
para sanarem os v íc ios aparentes ou ocu l tos . 
 T razendo ta l fa to à luz do Dire i to , temos que ao 
Autor fa l ta interesse pr ocessual , não merecendo ter 
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prossegu imento o presente fe i to . Para fundamentar ta l a rgumento , 
nada melhor que o entend imento dout r inár io sobre a matér ia : o 
mest re Vicente Grecco F i lho , em sua obra “D i re i to Processua l C iv i l 
Bras i le i ro ” , 1º vo lume, ed . sara iva , menc iona o s egu inte : 
 
“O interesse processual é a necess idade de se 
socorrer ao Judic iár io para a obtenção do 
resultado pretendido, independentemente da 
legit imidade ou legal idade da prete nsão. 
 ( . . . ) 
1 .1 .1 .1 Basta que se ja necessár io que o Autor não 
possa obter o mesmo resul tado por outro meio 
extraprocessua l . Fa l tará o interesse processua l se a 
v ia jur i sd ic iona l não for ind i spensável , como, por 
exemplo , se o mesmo resu ltado puder ser 
a lcançado por meio de um negóc io jur íd ico sem a 
part ic ipação do Jud ic iár io .” 
 
 
 V icente Grecco F i lho a inda sa l ienta que o interesse 
processual nasce d iante da res istênc ia que a lguém oferece à 
sat is fação da pretensão de o utrem, porque este não poderá fazer 
jus t i ça pelas própr ias mãos: 
 
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“E ssa res i s tênc ia po de se r forma l , dec la rada , ou 
s implesmente resu l tan te da inérc ia de a lguém que 
de i xa de cumpr i r o que o out ro acha que d ever ia . 
 ( . . . ) 
O interesse de agir surge da 
necess idade de obter do processo a proteção do 
interesse substancia l ; pressupõe, pois , a le são 
desse interesse e a idoneidade do provimento 
ple i teando para protegê- lo e sat is fazê- lo .” 
 
 
No caso em aná l i se , o ped ido pr inc ipa l do Autor é 
las t reado no art igo 18 , § 1º do Código de Defesa do Consumidor 
que determina a resc i são do negóc io ; t roca do p roduto ou 
abat imento do preço , à e sco lha do consumidor , quando o produto 
ou serv iço apresentar v íc io e este não for sa t i s fa tor iamente s anado. 
 
I s to porque a lega que o ve ícu lo novo adqu ir ido 
apresentou aquec imento excess ivo e vazamento de água do 
reservatór io do rad iador , o que poder ia impl icar na perda de 
qua l idade e segurança do ve ícu lo . 
 Nesta oportun idade , o Gerente de Of ic ina da Segu nda 
Ré pessoa lmente conversou com o Autor exp l i cando 
deta lhadamente qua l ser ia o pro ced imento a ser adotado, 
consequênc ias e sua complex idade . 
 
 In formou que a t roca das juntas é proced imento 
S IMPLES e RÁPIDO, su f ic iente a so luc ionar o prob lema de forma 
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DEFINITIVA. Bastar ia ao Autor de ixar seu ve ícu lo por apenas 01 d ia 
nas o f ic inas da Segunda R ec lamada que, adotando o procedi mento 
determinado pe la Pr imeira Ré , re a l i za r ia o reparo . 
 
 PORÉM O AUTOR NÃO CONCORDOU EM DE IXAR SEU 
VEÍCULO PARA A NECESSÁRIA INTERVENÇÃO, EXIG INDO, DESDE 
LOGO, O DESFAZIMENTO DO NEGÓCIO. 
 
 Ou se ja , ÀS RÉS NÃO FOI OPORTUNIZADO O DIREITO 
DE REPARAR O VEÍCU LO DENTRO DO PRAZO DE 30 DIA S , PELO QUE 
NÃO SUBSISTE O DIREITO DO AUTOR DE POSTULAR A DEVOLUÇÃO 
DO VEÍCULO. 
 
 O d i re i to do consumidor de p le i tear as h ipóteses do § 
1º do menc ionado ar t igo di re i to NASCE quando, opor tun izado o 
reparo , es te não ocorre no praz o de 30 d ias . Somente APÓS o 
t r igés imo d ia é que o consumidor pod erá exercer as facu ldades ora 
em aná l i se . 
 
 É o entend imento doutr inár io : 
 
Examinemos , então , e sses aspec tos . A 
norma diz : “não sendoo v íc io sanado no prazo de 
30 ( t r in ta ) d ias pode o consum ido r ex ig i r . . . ” , e 
apresenta as a l te rnat ivas de ex igênc ias que o 
consumidor pode fazer d iante do fo rnecedor . Note -
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se : apenas se o v íc io não fo r sanado em 30 d ias . Ou 
se ja , o fo rnecedor , desde o receb imento do produto 
com víc io , tem 30 d ias para saná - lo sem qua lquer 
ônus . Eventua is ônus surg i rão somente após 
SOMENTE APÓS os 30 d ias se o se rv i ço de 
saneamento do produto não t i ve r s ido fe i to – o que 
comentaremos na seqüênc ia . 1 
 
 A inda : 
Em pr ime i ra in tenção , o d i spos i t ivo 
concede ao fo rnecedor a opor tun idade de ac ionar o 
s i s tema de garant ia do produto e reparar o de fe i to 
no prazo máximo de 30 dias . 
Não sanado o v íc io , no prazo legal , o 
consumidor poderá ex ig i r , à sua e sco lha t rês 
a l te rnat ivas . 2 
 
 Co mo ad i an t e d i t o , o Au t o r nã o de i xo u seu ve í c u l o pa r a r ep a ro . 
S i mpl es me n te EX IGIU o de s f a z i me n to d o n e góc i o e d i a n t e d a n e g a t i va fo i 
e mb o ra , não r e to r no u , e i n gr es s ou c o m a p r e se n t e d e ma nda , e nq ua n t o que 
s eu d i r e i t o de e x i g i r a r e sc i sã o do n e góc io S OME NT E S E INICIAR IA S E 
DE CO R RIDOS OS T RINT A DIAS SE M O DEV IDO RE P ARO. 
 
 Diante de todo o exposto, requer se ja ACOLHIDA a 
pre l iminar de carência de ação e dec larada a inex i stênc ia de 
in teresse processua l do Autor , ext inguindo, por consequ ência , o 
 
1
 NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Curso de Direito do Consumidor. 2 ed. Re. São Paulo: Saraiva, 2005.p. 180. 
2
 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: comentado pelos autores do anteprojeto. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense 
Universitária, 2004. 
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presente fe i to sem reso lução do mér i to , nos termos dos ar t s . 301 , X 
e 267, VI , todos constantes do Código de Processo C iv i l . 
 
 
03. PRELIMINAR – ILEGITIMIDADE PASSIVA – EXTINÇÃO DO 
FEITO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO EM RELAÇÃO À RÉ 
OPECAR VEÍCULOS LTDA. 
 
Antes de adent rar -se ao mér i to , va le ressa l ta r que a 
presente demanda deverá ser EXTINTA se m reso lução de mér i to em 
re lação a Segunda Ré OPECAR por ser es ta parte i leg í t ima para 
compor o pó lo pass ivo da demanda . 
 
Com efe i to , o ped ido de mér i to formulado pe lo Autor 
se res tr inge à resc i são cont ra tua l em razão de v íc io na fabr icação 
do ve ícu lo e na f ixação de indenização por danos mora is em va lor a 
ser f i xado por Vo ssa Exce lênc ia porque , segundo a lega , adqu i r iu 
ve ícu lo zero qui lômetro que , não obstante esta qual idade 
apresentou defe i tos insanáveis . 
A lega que, por tanto , s of reu in tenso abalo mora l fac e à 
f rust ração das expectat ivas sobre o ve ícu lo novo e , espec ia lmente 
porque perdeu a conf iança no ve ícu lo e constantemente so f re o 
medo de fa lha do ve ícu lo enquanto em uso pondo em r i sco a 
segurança sua e de sua fam í l ia . 
 
Para descort inar a i leg i t imidade pass iva da Segunda 
Ré , necessár ias são a lgumas cons iderações quanto à d i ferenc iação 
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entre o que o Código de Defesa do Consumidor nominou c omo 
sendo FATO DO PRODUTO OU SERVIÇO (ar t . 12 e 13 do CDC) e 
V ÍCIO DO PRODUTO OU SERVI ÇO (a r t . 18 do CDC) e as 
consequênc ias quanto à responsab i l idade. 
 
Como “fato do produto ou serv iço” conso l idou-se o 
entendimento de que se t ra tam de DANOS provocados pe lo prod uto 
ou serv iço que a fetam d iretamente a SEGURANÇA e SAÚDE do 
consumidor e que são E XTRÍNSECOS ao produto ou serv iço . 
 
Por sua vez , “víc io do produto ou serv iço” se re fere à 
defe i tos INTRÍNSECOS ao bem (produto ou serv iço ) que lhe ret i ram 
a UTIL IDADE, mesmo que em par te , para a qua l foram 
desenvo lv idos . 
 
Diferenc iar no mundo fát i co as h ipóteses de “ fa to do 
produto” e “v íc io do produto” , que a pr io r i parece s imples , é tar e fa 
á rdua e que provoca intenso debate dout r inár io e re f le te 
d i retamente nos ju lgados que envolvem as re lações de consumo, 
produz indo dec isões d ivergentes e mesmo contrad i tór ias . Todavia , 
para a per fe i ta subsunção do fa to concreto a qua lquer das 
h ipóteses , antes é conven iente estabelecer de forma ob jet iva e 
c la ra a natureza ju r íd ica desses inst i tutos prev istos do Estatuto 
Consumei r i s ta . 
 
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Com efe i to , “fato do produto – art . 12” se reveste da 
natureza de RESPONSABIL IDADE C IV IL , a mesma teor ia ap l i cada nas 
re lações c iv i s gera i s , porém hav idas em uma re lação de consumo. 
 
Para que ha ja a t ip i f i cação desse inst i tuto são 
necessár ios os t rês e lementos ense jadores da responsab i l idade 
c iv i l ; qua is se jam: 
 
a ) conduta (no caso das re lações de consumo e por 
prev isão expressa no CDC, a responsab i l idade é sempre OBJETIVA 
presc indindo do DOLO, ba s tando a “cu lpa” para sua ocorrênc ia ) ; b ) 
nexo de causa l idade entre a conduta e o dano e , f ina lmente ; c ) 
dano. 
 
No entanto , para a caracter ização da responsab i l idade 
c iv i l com base no ar t igo 12 do CDC, não basta que o prod uto ou 
serv iço apresente a lgum prob lema (defe i to) , É NECESSÁRIO QUE 
ESTE DEFEITO ATENTE CONTRA A SEGURANÇA OU SAÚDE DO 
CONSUMIDOR (ART . 8º E SEGUINTES) , ofende ndo a sua integr idade. 
 
Ve ja , por exemplo , a h ipótese da compra de um 
l iqu id i f i cador . 
 
Se o consumidor adqu ire este produto ( l iqu id i f i cador) 
e , ao usá- lo pela pr imei ra vez , a lâmina se desprende por defe i to 
de fabr icação e corta a mão do consumidor , há t ip i camente “Fato 
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do Produto” ; ou se ja , há a conduta culposa do fabr icante que não 
apertou corretamente a lâm ina; há o dano EXTRÍNSECO ao 
produto representado pelo corte na mão do consumidor e, por 
f im; o nexo de caus a l idade na medida em que o dano decorreu 
d iretamente da conduta culposa do fabr icante do l iquid if icador. 
 
Ou se ja , TIPICAMENTE HÁ RESPONSABILIDADE CIVIL 
do fabr icante e este evento convencionou -se nominar “ac idente 
de consumo”. 
 
Doutro lado, não se t ra ta o “V ÍC IO DO PRODUTO OU 
SERVIÇO” de “RESPONSABIL IDADE CIV IL” , MAS S IM DE 
“INADIMPLEMENTO CONTRATUAL ” , ou se ja , o fabr icante do 
produto NÃO ENTREGA o bem ou serv iço ta l qua l contratado vez 
que este NÃO SE PRESTA À UTIL IDADE a que fo i desenvo lv ido ; 
porém, o prob lema e stá INTRÍNSECO ao produto . 
 
Mantendo o exemplo da compra do l iqu id i f i cador , 
cons idere a h ipótese doconsumidor , ao usá - lo pe la pr imei ra vez , 
perceber que o a l imento NÃO É DEVIDAMENTE TRITURADO porque, 
percebe que a lâmina está “cega” , sem o f io necessár io ao 
cumpr imento de sua tare fa . 
 
Ve ja que nesta h ipótese não houve qua lquer dano NO 
consumidor ; o produto não se presta à UTIL IDADE a que se dest ina , 
ou se ja , o fabr icante DESCUMPRIU o cont ra to de compra e venda, 
po is não ent regou o l iqu id i f icador em per fe i tas condições . Esta é a 
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c láss ica h ipótese de V ÍCIO DO PRODUTO prev ista no ar t igo 18 do 
CDC. 
 
É comum que ha ja confusões , e não ra ras vezes , há 
impropr iamente ped ido de indenização por RESPONSABIL IDADE 
C IVIL com base no art igo 18 do CDC, ao passo que SOMENTE 
PODERÁ HAVER PEDIDO com este pro v imento com base no ar t igo 
12 do CDC. 
 
Por f im, l í c i to é observar que a prev isão do art igo 18 
do CDC também não se confunde com a responsab i l idade por v íc io 
red ib i tór io do d ire i to c iv i l ; po is que , para a conf iguração deste o 
defe i to deve ser OCULTO, enquan to que para o d i re i to 
consumei r i sta não importa se o d efe i to é ocu lto ou aparente ; o 
dever de subst i tu i r o bem ou devolver o va lo r correspondente em 
d inhe iro subs is t i rá em qua lquer h ipótese . 
 
Neste sent ido , a l ição dout r inár ia : 
 
“ Já no que concerne aos v íc i os , t ra tados a par t i r do 
ar t igo 18 , o ponto se a f igura de fo rma di fe re nte ; 
não se cu ida de danos causados ao consum idor , ou 
eventual bystander , mas s im de um pre ju ízo 
pat r imonia l exper imentado pe lo consumidor em 
v i r tude de uma imper fe i ção do bem adqu i r ido , que 
não lhe fo i – obviamente – in fo rmada quando da 
aqu is i ção . 
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A d i fe rença encontra -se , por tanto , na 
local i zação do fundamento fá t i co da 
responsabi l idade que res ide , quanto aos v íc ios , na 
co isa em s i e não em evento a e la re la t i vo ; não há 
causação de dano ex t r ínseco ao produto ou se rv iço . 
O que há, em verdade , é a aqu is ição de um produto 
ou se rv iço permeados por imper fe ições que os 
to rnam impróprios ou inadequados ao consumo a 
que se des t inam ou lhe d iminuam o va lo r , 
consoante de l imi tação lega l t raz ida pe l o ar t igo 
18 . ” 3 
 
 
No mesmo sent ido : 
 
“O Código d is t ingue do is mode los de 
responsabi l idade : por v íc io de qual idade ou 
quant idade dos produtos ou se rv iços e por danos 
causados aos consumidores , d i tos ac identes de 
consumo. 
O ar t . 12 d isc ip l ina es te ú l t imo 
modelo , ocupando-se da responsabi l idade do 
fo rnecedor por danos decorrentes dos v íc ios de 
qual idade dos bens , rect ius , de de fe i tos 
decorrentes de pro je to , fabr icação , cons t rução , 
 
3
 Nunes Junior, Vidal Serrano. Código de Defesa do Consumidor interpretado. São Paulo: Saraiva, 2003. p.73. 
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montagem, fó rmulas , manipu lação , apresentação 
ou acondic ionamento dos produtos . 
A responsabi l idade por danos decorre 
da propagação do v í c io de qual idade , a lcançando o 
consumidor e inc lus ive te rce i ros , v í t imas do evento 
(c f . a r t . 17 ) , e supõe a ocorrênc ia de t rês 
pressupos tos : 
a ) de fe i to do produto ; 
b ) eventus damini ; e 
c ) re lação de causa l idade ent re de fe i to 
e o evento danoso . ” 4 
 
Quanto ao v íc io do produto e ao comentar o a r t igo 18 
do CDC, lec iona o mesmo autor : 
 
“De res to , a responsabi l idade por 
v íc ios de qual idade ou quant idade não se ident i f i ca 
onto log icamente , com a responsabi l idade por 
danos , nem recorre a fa to res ex t r ínsecos , 
envo lvendo a apuração da culpa do fo rnecedor . 
E s te mode lo de responsabi l idade , a nosso aviso , é 
consec tár io do inad implemento contratual : o 
fo rnecedor tem a obr igação de assegurar a boa 
execução do co ntrato , co locando o produto ou 
 
4
 Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 8ª Ed. Rio de Janeiro: 
Forense Universitária, 2004. p. 177. 
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se rv iço no mercado de consumo em per fe i tas 
condições de uso ou f ru ição . ” 5 
 
E s tando, po is , bastante ev idenc iada a d i ferença dos 
inst i tutos menc ionados; t ra ta remos , ad iante , de subsumir o fato 
apresentado pe lo autor à correta t ip i f icaçã o legal , o que não 
comportará maiores i lações porquanto ev idente no ped ido de 
mér i to fo rmulado. 
 
A pretensão do Autor está em haver a RESCISÃO 
CONTRATUAL e a INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS que, 
ev identemente somente tem cab imento quando observada a 
RESPONSABIL IDADE C IVIL do fo rnecedor ; es ta , como já observado, 
assentada na ex i stênc ia dos t rês e l ementos já menc ionados. 
 
Por es forço argumentat ivo , acei tando os fatos como 
postos pe lo Autor , têm -se a segu inte conc lusão : 
 
a ) a conduta i l íc ita dos Réus res ide em forne cer 
ve ícu lo com defe i to de fábr ica ; 
 
b ) o dano é a insat is fação e desconfor to gerados ao 
autor em razão da perda de conf iab i l idade do bem e também por 
conta das inúmeras idas à concess ionár ia para a so lução dos 
 
5
 Idem. p. 201. 
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prob lemas, ass im como su je i ta r -se a ind ispon ib i l idade do bem 
enquanto rea l i zados os conser tos ; veja que o dano é EXTRINSECO 
ao produto, posto que ocorreu NO consumidor , pois este teve a 
SUA int imidade vio lada; 
 
c ) o nexo de causa l idade entre o dano que somente 
ocorreu por conta da conduta i l í c i ta descr i ta . 
 
Está-se , pois , d iante da hipótese prevista no art igo 
12 do CDC; ou seja , pedido de indenização por danos morais em 
razão de “FATO DO PRODUTO”. 
 
Ora, havendo então caracter izado o pedido de 
condenação a indenização por danos morais com base no art igo 
12 do CDC – fato do produto – impor ta em reconhecer a 
I LEGITIMIDADE da Segunda Ré, mera comerc iante , ao ressarc imento 
pretend ido. 
 
I s to porque, o art igo 12 “caput” é TAXATIVO ao 
impor a responsabi l idade pelo FATO DO PRODUTO ao 
FABRICANTE, PROD UTOR, CONSTRUTOR (NACIONAL OU 
ESTRANGEIRO) E AO IMPORTADOR. 
 
 
O comerc iante possu i responsab i l idade SUBSIDIÁRIA 
e responde somente quando NÃO CONHECIDO aquele 
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or ig inar iamente legit imado pelo “caput” do art . 12 para 
responder pelo dano, conforme consta expressamente do art igo 
13 do CDC. 
 
In casu ,o fabr icante do produto é conhec ido (PEUG EOT 
do Bras i l ) e já in tegra a presente l ide , pelo que É A ÚNICA 
RESPONSÁVEL pe la eventua l compos ição do dano moral 
eventua lmente exper imentado pelo Autor , não podendo , POR 
VEDAÇÃO EXPRESSA DO CDC, reca i r a responsab i l idade sobre o 
comerc iante (OPECAR VE ÍCULOS LTDA) . 
 
Por tanto , reve la -se a I LEGIT IMIDADE PASSIVA da 
Segunda Ré OPECAR VEÍCULOS LTDA para compor o p o lo pass ivo da 
presente demanda , QUANTO AO PEDIDO DE CONDENAÇÃO A 
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS , pe lo que deverá ser ex t inta 
sem reso lução de mér i to nos termos do a r t igo 267, VI do CPC. 
 
 
04 . DO MÉRITO 
 
Superadas as questões pre l iminares susc i tadas e 
a lcançado o mér i to , o que se admite por fo rça do respei to ao 
pr inc íp io da eventua l id ade , a presente demanda deverá ser ju lgada 
IMPROCEDENTE como a segu ir será ana l i sado. 
 
 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 306 - 
05. DA AUSÊNCIA DE PROVAS. ÔNUS DO AUTOR. 
IMPOSSIBILIDADE DE INVERSÃO DO ÔNUS À LUZ DO CDC. 
 
Para a per fe i ta so lução da presente demanda cabe, 
nesta oportun idade , ana l i sar a questão do ônus probatór io 
espec ia lmente por conta do tex to inserto no ar t igo 6º , VI I I do 
Código de Defesa do Consumidor e o ped ido expresso do Autor de 
ver declarada a inversão do ônus da prova . Para tanto , antes é 
necessá r io de l imi ta r “qua l fa to” será ob jeto de pr ova . 
 
Da aná l i se do contexto da demanda, ver i f i ca -se que o 
controvert ido não está somente na ex i s tênc ia , mas também res ide 
na supos ta “ausênc ia de cred ib i l idade” e durabi l idade do bem e 
eventua l r i sco à seg urança do Autor e sua famí l ia . 
 
Somente a través de prova per ic ia l é que se poderá 
a lcançar a sat i s fatór ia resposta a ta l quest ionamento . I s to porque, 
NÃO HÁ COMO AS RÉS t razerem provas de que do defe i to NÃO 
SUBSISTE RISCO À SEGURANÇA e que O VEÍCULO NÃO ESTARÁ 
SUJE ITO A APRESENTAR O MESMO DEFEITO NOVAMENT E APÓS OS 
REPAROS NECESSÁRIOS. 
 
Porém, a rea l i zação de eventua l per íc ia deverá ser 
promov ida PELO AUTOR sob pena de , não o fazendo , A DEMANDA 
SER JULGADA IMPROCEDENTE por abso luta AUSÊNCIA de provas 
quanto aos a l egados r i scos . 
 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 307 - 
O Código de Defesa do Consum idor em seu ar t igo 6º , 
V I I I determina a inversão do ônus da prova para fac i l i tar a defesa 
do consumidor em ju ízo DESDE QUE, a c r i tér io do Ju iz , fo rem 
ident i f i cadas a VEROSSIMILHANÇA e a HIPOSSUFIC I ÊNCIA do 
consumidor . Por tanto , a inversão do ônus não é INE RENTE aos 
processos que envo lvem re lações de co nsumo TAMPOUCO 
OBRIGATÓRIA . 
 
Neste sent ido : 
2 . A chamada inver são do ônus da prova , no C ód igo de 
De fe sa do Consumidor , e s tá no contex to da fac i l i ta ção 
da de fe sa dos d i re i t o s do consum idor , f i cando 
subord inada ao " c r i t é r i o do ju i z , quando for ve ros s ími l 
a a legação ou quando for e le h ipos suf i c ien te , s egundo 
a s regras ord inár ia s de exper i ê nc ia s" ( a r t . 6º , V I I I ) . 
I s so quer d izer que não é automát ica a inversão do 
ônus da pr ova . 
E la depende de c i r cunstânc ia concre ta s que se rão 
apuradas pe lo j u i z no con tex to da " fac i l i t a ção da 
de fe sa " dos d i r e i to s do consumidor . E e s sa s 
c i r cunstânc ia s conc re ta s , ne s se ca so , não f oram 
cons ide radas pre sente s pe las i ns tânc ia s ord iná r ia s . 
( ST J – 3 ª T . REsp 122505/SP . Fonte DJ 24 .08 .1998 p . 
71 . Re la tor Car los A lber to Menezes D i re i to ) . 
 
Por tanto , para que ha ja a inversão do ônus HÁ QUE 
HAVER um PRESSUPOSTO ou INÍ C IO DE PROVA ou , emprestando 
termino log ia do d i re i to pena l , deve haver “ JUSTA CAUSA” para a 
demanda , sob pena de serem promov idas ações to ta lmente 
descab idas onde, em razão da inversão do ônus e da 
imposs ib i l idade ev idente de se produz ir p rovas negat ivas , o 
consumidor obtenha êx i to sem last ro em verdadeiro d i re i to . 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 308 - 
Ass im, se pretender a procedência da demanda 
compete ao Autor demons trar que o defe ito ainda não foi 
sanado e que há IMINENTE r isco de, mesmo se reparado, ocorrer 
novamente. 
 
A ausênc ia da demonstração de ex i s tênc ia do defe i to 
afasta rá derradei ramente a necessár ia “veross imi lhança” às 
a legações do Autor e que poder ia ense ja r eventua l inversão de 
ônus. 
 
Sobre a Veross imi lhança lec iona R izzato Nunes : 
“Para a sua ava l iação não é 
su f i c iente , é ve rdade , a boa redação da pe t ição 
in ic ia l . Não se t rata apenas do bom uso da técn ica 
de argumentação que mui tos pro f i s s iona is têm. I s to 
é , não bas ta re la tar fa tos e conec ta - los 
logicamente ao d i re i to , de modo a produz i r uma 
boa peça exord ial ”6 
 
No mesmo sent ido José Gera ldo Br i to F i lomeno: 
“É ev idente , ent retanto , que não será 
em qua lquer caso que ta l se dará , adver t indo o 
menc ionado d ispos i t i vo , como se ve r i f i ca de seu 
teor , que i s so dependerá , a c r i té r io do Ju iz , da 
 
6
 NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Curso de Direito do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 2005. p.739. 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 309 - 
veross imi lhança da a legação da v í t ima e segundo 
as regras o rd inár ias de exper iênc ia . 
Ou , me lhor expl icando e socorrendo -
nos mais uma vez de exemplos : se o ac idente se 
ve r i f i cou não por imprudênc ia do motor is ta ou por 
um buraco na pi s ta , fa to res ta is que eventua lmente 
também poder iam te r causado a quebra da roda 
( . . . ) 
Cada parte deverá nortear sua 
at ividade probatória de acordo com o interesse 
de oferecer as provas que embasam seu direito . 
Se não agir ass im, assumirá o r isco de sofrer a 
desvantagem de sua própria inérc ia, com a 
incidência das regras de exper iência a favor do 
consumidor.”7 
 
Ora , Exce lênc ia , o Autor NÃO TRAZ SEQUER INDÍCIO 
DE PROVA de que o a legado defe i to a inda p ers i s te , pe lo que, de 
acordo com tudo o que fo i já exposto , a demanda deverá ser 
ju lgada improcedente POR AUSÊNCIA DE PROVA, não podendo v ig i r 
in casu a inversão do ônus da prova , descurando -se , a seu tu rno , o 
autor do ônus que lhe i mpõe o a r t igo 333, I do Código de Processo 
C iv i l . 
06. DO PROVIMENTO PRINCIPAL 
 
 
7
 FILOMENO, José Geraldo Brito. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos autores do 
Anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. p. 142/3. 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito– Ano I-2009 – N.º 4 - p. 310 - 
 O Autor pede em sua in ic ia l , por consequênc ia dos 
fa tos por e le narrados , o segu in te : 
 
d ) CONDENAR os Réus so l idar iamente 
à sucess ivamente : 1 ) res t i tu i ção imediata da 
quant ia paga, monetar iamente a tua l i z ada; b ) 
subs t i tu i ção do produto por outro da mesma 
espéc ie , em pe r fe i tas condições de uso ; c ) 
abat imento propo rc ional do preço . 
 
 O ped ido é las t reado no ar t igo 18 , § 1º do Código de 
Defesa do Consumidor que determina ta i s prov idênc ias , à escolha 
do consumidor , quando o produto ou serv iço apresentar v íc io e 
este não for sa t i s fa tor iamente sanado . 
 
 O Autor a lega a inda , e t raz not í c ia jo rna l í s t i ca ( f l s . 
27/28) que ora se impugna, que os defe i tos apresentados pe lo 
ve ícu lo e que mot ivar ia m a insegurança a legada , são comuns em 
todos os ve ícu los produz idos pe la Pr imeira Ré PEUGEOT DO BRASIL 
S .A . 
 
 Todav ia , neste ponto também não ass i ste razão ao 
Autor . 
 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 311 - 
 P r imeiramente cumpre ressa l ta r que a Segunda Ré, ora 
contestante , é mera CONCESSIONÁRIA dos ve ícu los da marca 
PEUGEOT para a c idade de Londr ina e reg ião . 
 
 Dessa forma, não obstante sua responsab i l idade 
SUBSIDIÁRIA nos termos do CDC na qual idade de CO MERCIANTE, é 
fa to que a Segunda Ré NÃO PRODUZIU O VEÍCULO de sorte que não 
pode responder quanto à ex i stênc ia de defe i to na fabr icação do 
ve ícu lo do Autor . 
 
 As empresas concess ionár ias de ve ícu los somente 
vendem o ve ícu lo e , vár ias de las , porém não todas , também 
agregam a prestação de serv iços de ass i stência técn ica e 
assemelhados. 
 
 No caso de ass is tênc ia técn ica dos ve ícu los novos 
vend idos , a Concess ionár ia age exatamente de acordo com os 
procedimentos e rec omendações da montadora . 
 
 
 A produção de ve ícu lo é ta re fa complexa que ex ige 
prec i são ext rema dos equ ipamentos , peças e acessór ios . Cada i tem 
é desenvo lv ido espec ia lmente para aquele modelo e u t i l id ade, 
sendo certo que o pr o jeto envo lve conhec imentos pro fundos dos 
d iversos ramos da engenhar ia . 
 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 312 - 
 De qua lquer sor te , o pro jeto de um ve ícu lo envo lve 
também os i tens de segurança que, a seu turno , ex ige um 
cronograma f ie l de manutenção exatamente para preservar a v ida 
ú t i l de cada i tem. 
 
 I s to porque o veícu lo é montado com peças de uso 
cont ínuo que, ev identemente, se desgastam em razão do uso ; o que 
não poder ia ser d i ferente . 
 
 Neste contexto , a montadora pro jeta as cham adas 
“ rev isões per iód icas” onde são subst i tu ídas as peças cu jo desgaste 
é prev is to exatamente para aquele momento da rev i são . 
 
 A tendendo f ie lmente esse c ronograma de rev i sões e as 
demais o r ientações de manutenções cont idas no manua l do 
propr ietár io (como pressão dos pneus , ver i f i cação dos f lu ídos , 
ver i f i cação de água etc . . . ) , a “v ida út i l ” da máqu ina é sens ive lmente 
estend ida e d issabores ev i tados. 
 
 No caso espec í f i co , os veícu los 307 são desenvo lv idos 
e produz idos na p lanta pr inc ipa l da PEUGEOT na França e 
regu larmente importados pe la PEUGEOT DO BRASIL . 
 
 Por cer to que as condições de c l ima , umidade do ar , 
so lo , pressão atmosfér ica e condições de est rada são fa tores 
re levantes ao funcionamento do motor . 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 313 - 
 
 Ass im, os ve ícu los importados , QUALQUER QUE SEJA A 
MARCA E MODELO, devem sofrer a lguns a justes para se adaptarem 
à rea l idade bras i le i ra . Ta i s a justes fo ram rea l izados nos modelos 
307 importados. 
 
 Ocorre que sempre há a poss ib i l idade de , a inda com 
todos os a justes e após toda a rev i são f ina l para a entre ga do 
ve ícu lo , subs is ta defe i to que somente se man i festará com o uso . 
 
 E ta i s eventos não impl icam em neg l igênc ia , mal 
a tend imento ou incompetênc ia da empresa montadora do ve ícu lo , 
ao contrár io , são eventos abso lu tamente poss íve i s . 
 
 Da í porque o Código d e Defesa do Consumidor PREVÊ 
c la ramente a POSSIBIL IDADE de o bem duráve l apresentar a lgum 
defe i to E NÃO PUNE O FABRICANTE OU COMERCIANTE pe lo s imples 
fa to de o defe i to ter se man i festado. 
 
 O CDC pune o fabr icante SOMENTE em duas h ipót eses : 
a ) com responsa bi l idade ob jet iva em caso de FATO DO PR ODUTO 
quando o dano é EXTRÍNS ECO e at inge o consumidor ; b ) quando 
apresentado o d efe i to e dada a oportun idade de reparo o 
fabr icante não o rea l i za no prazo de t r inta d ias . Es ta ser ia a 
h ipótese do caso em aná l i se . 
 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 314 - 
 O ve ícu lo do Autor não causou ABSOLUTAMENTE 
NENHUM DANO AO AUTOR (CONSUMIDOR) OU SUA FAMÍLIA . De 
sorte que se t rata , por tanto , do d i re i to de GARANTIA . 
 
 A GARANTIA nada mais é do que o DIREITO do 
fabr icante/comerc iante , conforme o caso , de REPARAR o produto 
que tenha apresentado defe i to . 
 
 O d i re i to do consumidor de p le i tear as h ipóteses do § 
1º do menc ionado ar t igo NASCE quando , opor tun izado o reparo , 
es te não ocor re no prazo de 30 d ias . Somente APÓS o t r igés imo d ia 
é que o consumidor poderá exercer as facu ldades ora em aná l i se . 
 No caso presente os fatos ocor reram da segu inte 
fo rma. 
 
 O Autor de fato adqu i r iu em fevere i ro de 2007 um 
ve ícu lo do modelo 307 SEDAN 2006/2007 que apresentou a 
necess idade da t roca das juntas do cabeçote em razão do 
aquec imento excess ivo do motor . 
 
 Ent retanto , o reparo É S IMPLES e não envo lve ret í f ica 
do motor como sugere a reportagem anexada pe lo Autor . Basta a 
t roca das juntas e o prob lema é INTEGRALMENTE sanado, não 
havendo qua lquer sequela ou poss ib i l idade de o prob lema 
reaparecer . 
 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 315 - 
 Porém, ta lvez in f luenc iado por fa l sos boatos o Autor 
f icou “ receoso” da qua l idade dos reparos e das consequ ênc ias em 
razão de le . 
 
 Por conta desse rece io , o Autor e as Rés negoc ia ram a 
t roca daquele pr imeiro ve ícu lo , o que ocorreu em condições 
EXTREMAMENTE favoráve is ao Autor tendo em conta que a 
d i ferença paga não representou todo o custo necessár io à t roca , 
tendo a Segunda Ré sacr i f i cado sua ma rgem de lucro para poder 
a tender ao Autor . 
 
 Após a lguns meses de receber o novo ve ícu l o , o Autor 
vo l tou à Segunda Ré a legando que novamente o motor estava com 
aquec imento excess ivo e sem opor tunizar o reparo d isse que quer ia 
desfazer a negóc io , devo lver o ve ícu lo e reaver o va lo rp ago. 
 
 Nesta oportun idade , o Gerente de Of ic ina da Segu nda 
Ré pessoa lmente conversou com o Autor exp l i cando 
deta lhadamente qua l ser ia o pro ced imento a ser adotado, 
consequênc ias e sua complex idade , SE CASO FICASSE 
EVIDENCIADO QUE O DEFEITO DE FATO TERIA SE APRESE NTADO . 
 
 O autor NÃO PERMITIU QUE O GERENTE DE OFICINA 
DIAGNOSTICASSE EVENTUAL DEFEITO, POIS NÃO DEIXOU SEU 
VEÍCULO NAQUELA CONCESSIONÁRIA. 
 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 316 - 
 PORTANTO, O DEFEITO, POR ORA, É MERAMENTE 
SUPOSTO, NÃO HÁ PROVAS DE QUE DE FATO EXISTA. 
 
 QUANDO O CLIENTE COMPARECE ACUSANDO O 
DEFEITO, OS CONSULTORES DE OFICINA REALIZAM UMA SÉRIE 
DE TESTES PARA IDENTIFICAR O DEFEITO, PORÉM ESTE 
PROCEDIMENTO NÃO FOI REAL IZADO NO VEÍCULO DO AUTOR. 
 
 In formou que a t roca das juntas é proced imento 
S IMPLES e RÁPIDO, su f ic iente a so luc ionar o prob lema de forma 
DEFINITIVA. Bastar ia ao Autor de ixar seu ve ícu lo por apenas 01 d ia 
nas o f ic inas da Segunda Ré que , adotando o proced imento 
determinado pe la Pr imeira Ré , r ea l i za r ia o reparo . 
 
 PORÉM O AUTOR NÃO CONCORDOU EM DE IXAR SEU 
VEÍCULO PARA A NECESSÁRIA INTERVENÇÃO, EXIG INDO, DESDE 
LOGO, O DESFAZIMENTO DO NEGÓCIO. 
 
 Ou se ja , ÀS RÉS NÃO FOI OPORTUNIZADO O DIREITO 
DE REPARAR O VE ÍCULO DENTRO DO PRAZO DE 30 DIAS, CASO 
FOSSE DE FATO DIAGNOSTICADO O DEFEITO ALEGADO , PELO QUE 
NÃO SUBSISTE O DIRIETO DO AUTOR DE POSTU LAR A DEVOLUÇÃO 
DO VEÍCULO. 
 
 Havendo a poss ib i l idade de o ve ícu lo ser dev idamente 
reparado a improcedênc ia dos ped idos se impõe. É o que se requer . 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 317 - 
 
 
 
07. DO DANO MORAL 
 
 
O Autor requer a condenação das Rés so l idar iamente 
ao pagamento de inden ização por danos mora is em quant ia a ser 
a rb i t rada por Vossa Exce lênc i a ( i tem “e” do ped ido) , sob o segui nte 
fundamento , em s ín tese : 
 
É ce r to que os Réus , ao não cumpr i rem 
com as suas obr igações de ent regarem ao Autor um 
ve ícu lo com toda a segurança esperada , O QUE É 
P IOR, POR DUAS VEZES! ! ! ! , causou enorme 
t rans to rno na es fe ra ps íquica do Autor , causando -
lhe um pro fundo medo ín t imo de que adqui r i r out ro 
ve ícu lo PEUGEOT . O evento gerou a inda in tenso 
const rangimento pessoal perante amigos e 
fami l ia res , por te r adqu i r ido carro ze ro qu i lômetros 
que somente gera prob lemas e d i f i cu ldades . 
 
Contudo, a pretensão do Autor a inden ização por d anos 
mora is não deve prosperar . 
 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 318 - 
Com efe i to , a responsab i l idade c iv i l es tá assentada na 
demonstração da conduta ; dano e nexo de causa l idade; onde 
somente haverá o dever de ind en izar quando demonst rados esses 
e lementos . 
 
No tóp ico anter io r , res tou caba lmente demonstrado 
que NÃO HOUVE qua lquer conduta i l í c i ta das RÉS a ense jar a 
inden ização , ag indo ambas no est r i to a tendimento a suas 
obr igações o que já exc lu i qua lquer responsabi l idade c iv i l . 
 
Não obstante , em atenção ao pr inc íp io da 
eventua l idade, mesmo que Vossa Exce lênc ia entenda pe la ex i stência 
de a to i l í c i to , é cer to que não há como prosperar o ped ido de 
inden ização por danos mora is . 
 
I s to porque, o Autor NÃO INDICOU NA NARRATIVA DOS 
FATOS, OU MESMO NA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA DO PEDIDO, 
qua l o fa to DETERMINADO que tenha s ido o provocador do aba lo 
mora l . 
 
Somente d ivagou com i lações sem qua lquer supor te 
fá t i co , de ixando de ind icar em que rea lmente cons ist iu o postu l ado 
“dano mo ra l ” . 
 
Não se t rata , nes ta h ipótese , de admit i r -se o “dano 
mora l p resumido” como nos casos de protesto indevido . Haver ia o 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 319 - 
Autor de demonst rar CONCRETAMENTE qua l o dano mora l a que 
esteve su je i to por conta da co nduta das Rés . 
 
As Rés prezam por todos seus c l ientes e procuram 
sempre dar a tend imento condigno e condizente com o mercado 
a l tamente compet i t ivo a que está inser ido . I s to pressupõe um 
atend imento cortês e e f i c iente . A e sco lha pe la compra do ve ícu lo é 
prer rogat iva do c l iente que , dentre as v ár ias opções do mercado , 
opta por aque la que melhor atende a seus anse ios e des e jos . 
 
Ass im, ao optar pe lo ve ícu lo o ferec ido pe las Rés , o 
Autor a lcançou um ob jet ivo e rea l izou um dese jo ; sent imento que, 
ao cont rá r io de gerar danos mora is ; causa sa t i s fação , orgu lho e 
regoz i jo . 
 
No que tange ao dano mora l , é de se observar que 
a t ine e le essenc ia lmente aos d i re i tos de persona l idade . 
 
Nesse sent ido : 
 
Nesta l inha de rac ioc ínio , o dano 
moral pode se r conce i tuado como uma lesão aos 
d i re i tos da pe rsonal idade . Não há dano mora l fo ra 
dos d i re i tos da personal idade . Os di re i tos da 
personal idade são at r ibutos es senc ia i s e inerentes 
à pes soa. 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 320 - 
Concernem à sua própr ia ex is tênc ia e 
abrangem a sua in tegr idade f í s ica , ps íquica ou 
emoc ional , sob os pr i smas espi r i tua l , soc ia l , 
a fe t i vo , in te lec tua l ou soc ia l . Ass im, se uma 
conduta repercute em danos à pessoa , so f rendo e la 
l esão em sua i nd iv idual idade , há o dano m oral . 8 
 
O que essa premissa in ic ia l reve la , por tanto , é que o 
dano mora l enverga componente eminentemente ex t raord inár io , 
que se sobressa i das consequênc ias meramente corr ique iras 
observadas quando da prát ica de um i l í c i to cont ra tua l ou 
ex t racontra tua l . 
 
E ssa noção , a l iás , advém da idé ia de que a v ida em 
soc iedade é essenc ia lmente impregnada de advers idades , 
d i f i cu ldades , desentendimentos e sobressa l tos . Frust rações e 
incômodos ord inár ios , portanto , são e lementos que , apesar de 
negat ivos , devem ser suportados por todos , e não há que se fa lar 
em recompos ição f inance ira em razão d isso . 
Não é , po is , qualquer i l i c i tude que rende ense jo ao 
dano mora l . É prec i so que e la se ja de ta l monta que suas 
consequênc ias t ranspassem as ra ias do comum, de modo a 
provocar , fundamentadamente, abalo emociona l ou ps ico lóg ico na 
 
8
 ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações. Impetus. 3a ed., 2004. 
 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 321 - 
v í t ima , a render ense jo à compensação f inancei ra mediante 
respect iva inden ização . 
 
Neste sent ido já se pronunc iou o Eg. STJ em caso 
abso lutamente aná logo (RECURSO ESPECIAL Nº 554 .876 - RJ 
(2003/0101941-5) . Ve ja que, pe lo re la tór io cont ido no acórdão 
percebe-sea semelhança de casos : 
 
Lu isa Borges a ju izou ação ord inár ia 
em desfavor de Conora Ve ícu los R io Lt da . , para 
subst i tu i r o ve ícu lo adqu ir ido por outro da mesma 
espéc ie , a lém do pagamento de inden ização de 
danos mora is e mater ia i s pe los danos so f r idos ( f l s . 
02 a 18 ) . Apresentada contestação pe la ré ( f l s . 58 
a 63) , o Ju iz de 1º grau ju lgou procedentes os 
ped idos para "condenar a ré a res sarc i r a autora o 
va lo r a tual i zado de R$ 560,00 , que se rão ac resc idos 
de ju ros de mora de 6% a/a desde a data da 
c i tação , condenada , bem ass im, a pagar 
indenização por dano ex t ra -pat r imonia l em quant ia 
equiva lente a 50 (c inqüenta) sa lár ios mín imos" ( f l . 
254) . 
A lém d isso , condenar "a ré , a inda , a 
subs t i tu i r o ve ícu lo a dqu i r ido pe la autora por um 
outro - Zero KM. - da mesma marca, modelo , 
po tênc ia e com os mesmos acessór ios ex is tentes no 
ve ícu lo adqu i r ido pe la autora" ( f l . 254 ) . 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 322 - 
 
No seu voto , o eminente Re la tor Car los A lberto 
Menezes D i re i to ass im fundamentou: 
 
No que concerne aos danos morai s , 
entendo que em c asos como o dos autos são 
indevidos , tendo ass im vo tado em acórdão da 
Terce i ra Turma (REsp nº 445.804/RJ , Re la to r o 
Mini s t ro Ari Pargendler , DJ de 19/5/03) . Todavia , 
embora tenha permanec ido com o mesmo 
entendimento , f ique i venc ido em precedente 
pos te r io r (o pr imei ro ju lgado na se ssão de 
05/12/02 e o segundo na sessão de 10/12/02) , 
Re la to ra a Min is t ra Nancy Andrighi , que assentou , 
com os vo tos dos Mini s t ros Antônio de Pádua 
Ribeiro e Castro F i lho , a sua per t inênc ia . 
Todav ia , peço vên ia para ins is t i r na 
mesma pos ição . No precedente da Quarta Turma, 
Re la to r o Min is t ro Sálvio de Figueiredo Teixei ra 
(REsp nº 402.356/MA, DJ de 2 3/6/03) , f i cou bem 
anotado , em ques tão semelhante , que os “ fa tos 
ocorr idos es tão inc lu ídos nos pe rca lços da v ida , 
t ra tando- se de meros d is sabores e aborrec imentos ” 
, ass ina lando o i lus t re Re la to r que a par te não 
ques t ionou o cab imento da indenização por da nos 
morais , mas , apenas , seu va lo r . No vo to , ressal tou 
o Re la to r que “os danos não t i ve ram repercussão 
fo ra da es fe ra ind iv idual , não tendo o autor so f r ido 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 323 - 
abalo à honra e nem sequer passador por s i tuação 
de dor , so f r imento ou humi lhação” . Com isso , tenho 
que se r ia mesmo uma demasia t rans f e r i r esse t ipo 
de aborrec imento para o âmbi to do dano mora l , 
que s ign i f ica out ra co isa , que tem outro sent ido . 
Não há nos autos qualquer ind ic ação de que tenha 
hav ido atuação que conf igure um sent imento de 
ind ignação d iante de agressão in jus t i f i cada ou 
mesmo t ra tamento des respe i toso . Ve ja -se que a 
própr ia pe t ição in i c ia l menc iona os d is sabores , 
ind icando como fundamento para o ped ido de dano 
moral ; “ (a ) a quantos compromissos de ixou de 
comparecer a autora , v i s i ve lmente onerada , pe la 
fa l ta do seu carro ; (b ) as inúmeras e sucess ivas 
idas e v indas da autora a o f ic inas m ecânicas ; (c ) as 
quebras de seu ve í cu lo nos mais d ive rsos lugares ; 
(d ) a permanente ins egurança e a f l i t i va incer t eza 
geradas por es se quadro ; (e ) o sem -número de 
te le fonemas à ré , sem respos ta , e as incontáve is 
in ic ia t i vas no se nt ido de so lução do probl ema” ( f l . 
15 ) . 
E sse cenár io , com todo o maior 
respe i to , não me convence de que cab íve l a 
indenização pe lo dano mora l , re fo rçando , ao revés , 
a minha convi cção de que é impert inente a 
condenação d iante da desc r ição fe i ta pe la própr ia 
par te dos d is sabores que passou . 
 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 324 - 
 
Ass im, d iante da ausênc ia de comprovação concreta da 
ocorrênc ia do dano mora l , ônus que compet ia ao Autor , não há que 
se fa la r em dever de indenizar . 
 
 
08 . DO QUANTUN INDENIZATÓRIO 
 
Por f im, caso ha ja condenação em danos morais , o que 
não se espera , cumpre cons ignar os parâmetros ba l izadores para a 
sua f ixação . 
 
Não há qualquer c r i tér io objet ivo para f i xação do v a lor 
da indenização por danos morais , porém a ju r i sprudênc ia vem 
f i rmando entend imento de que ta l va lor deve cons iderar os 
segu in tes e lementos : a ) ex tensão do dano; b ) capac idade 
econômica do o fend ido e c ) capac idade ec onômica do o fensor . 
No caso concreto , não houve qua lquer dano 
demonstrado pelo Autor ; caso se entenda pe lo desconfor to ou 
d issabor inden izáve l , o va lo r deve ser condizente com o MÍNIMO 
dano so fr ido , cons iderando que não fug iu à es f era ínt ima. 
 
Também não há provas quanto à capac idade econ ômica 
do Autor , de sorte que o va lor não pode impl ic ar em 
enr iquec imento sem causa caso f i x ado em va lores e levados. 
 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 325 - 
A capac idade econômica do o fensor jamais pode 
representar autor ização para a f i xação de inden ização que 
represente um enr iquec imento à v í t ima, agregando patr imôn io , 
espec ia lmente d iante do ca rá ter compensatór io da inden ização ; o 
que jamais pode representar aumento de patr im ôn io . 
 
Por f im, é cor rente o entend imento de que o s imples 
reconhec imento da conduta i l í c i ta e a pun ição já representa ao 
o fend ido o neces sár io confor to de ver a conduta i l í c i ta reconhec ida 
e restabe lec ido o seu d ire i to , de sor te que a dec isão cumpr iu a sua 
função independente do va lor f i x ado . 
 
Neste sent ido : 
 
E M E N T A : E M E N TA : - D A N O S M OR A I S - Q U A N T U M A RB I T RA DO 
D E A C O R D O C OM AS P E C U L I A R I D A D E S D O C A S O C O N C R E TO - M I N O RA Ç ÃO 
I N D E V I D A - SE N T E N Ç A M A N T I DA P O R S E U S P R Ó P R IO S F U N D A M E N T O S .A 
i n s u r g ê n c i a r e c u r s a l r e c a i s o b r e s e n t e n ç a q u e j u l g o u p a r c i a l me n t e p r o c e d e n t e 
a r e c l a m a ç ã o e c o n d e n o u o r e c l a m a d o a o p a g a m e n t o d e R $ 2 . 0 00 , 00 , 
r e f e r e n t e à i n d e n i za ç ão p o r d a no s m or a i s . A l e g a o r e c o r r en t e e x c e s s o n a 
c o n d e n a ç ã o a o p ag a m e n t o d e i n d e n i z a çã o a t í tu l o d e d a n o s m o r a i s , 
r e q u e r e n d o a r e d uç ã o d o v a l o r a t r i bu í d o e m s e n t e n ç a c o n d e n a t ó r i a . " É 
p r e s u m i d a a e x i s t ê nc i a d e d a n o m o ra l , n o s c a s o s d e p r o te s t o d e t í t u lo e 
i n s c r i ç ã o e / ou m a nu t e n ç ã o e m ó r g ã od e p r o t e ç ã o a o c r é d i t o , q u a n do 
i n d e v i do s " ( E nu n c i ad o n º 08 ) . P A R A A F I XA Ç ÃO D O D A N O M OR AL , 
N E C E SS Á R I O E J U ST O TO MA R C O MO C R I T É R I O D E A F E R I Ç Ã O , A L É M D A 
G R A V I D A D E D O F A T O , T A MB É M A S I T UA Ç Ã O F I N A N C E I R O - E C O N Ô MI C A D OS 
L I T I G A N T E S , S E MP RE C O M O C U I D A D O D E N Ã O P RO P O R C IO N A R , P O R U M 
L A D O , U M V A L O R Q U E P A R A O A U T O R S E T O R N E I N E X PR E S S I V O E , P O R 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 326 - 
O U T R O , Q U E S E J A U MA C A U S A D E E NR I Q U E C I ME N T O IN JU S T O , N UN C A S E 
O L V I D A N D O , A I N D A , D O E F E I T O I N I B I TÓ R I O Q U E D E V E R Á D E S E MP E N H A R A 
S A N Ç Ã O P E C UN I Á R I A P E R A N T E O A G E N T E O F E NS O R . As s i m s e n d o , a 
s e n t e n ç a o r a e m a p r e ç o , f i x o u d e f o r m a p r u d e n t e e p o n d e r a d a o v a l o r da 
i n d e n i z a çã o , a t e n d en d o a s p e c u l i a r i d a d es d o c a s o e a s i t u a ç ã o f i n a n c e i r a do s 
e n v o l v i d o s . R e c u r s o c o n h e c i d o e d e s p r ov i d o . M a n t i d a a s e n t e n ç a , c o m b a s e 
n o a r t . 5 5 d a L e i n . 9 . 0 99 / 95 f i c a o r e c o r r e n t e c o n d e n a do a o p a g a m e n t o d as 
c u s t a s p ro c e s s u a i s e d e h o no r á r i o s a dv o c a t í c i o s , e s t e s a rb i t r a do s e m 20 % 
( v i n t e p o r c e n t o ) s o b r e o v a lo r a t u a l i z a d o d a c o nd e n a ç ã o . É o v o to q ue 
p r op o n ho D E C I S ÃO : D i a n t e d o e x p o s to , e s t a T u r m a R e c u r s a l r e s o l v e , po r 
u n a n i m i d a d e d e v o tos , c o n h e c e r d o r e c u r s o e , n o m é r i t o , n e g ar p r ov i m e n t o ao 
m e s m o , n o s e x a t o s te r m o s c o n s t a n t e s n a e m e n t a . ( R e c u rs o : 20 0 7 .00 08 0 86 - 7 - 
R e c u r so I n o mi n a d o A ç ã o O r i g i ná r i a 2 0 07 .2 06 4 5 C o ma rc a d e O r i g e m
 L o n d r i n a – 4 º J E C Ju i z R e l a to r T E L MO Z A I O N S Z A I N K O D at a 
d o J u l g a me n t o 2 8 /0 9 /2 00 7 N ú m e r o d o A c ó r dã o 2 43 15 ) 
 
 
A inda no mesmo sent ido : 
Recurso inominado : 2007 .0011580 -0/0 
3° JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Da comarca de 
Mar ingá 
RECORRENTE: Bras i l Te lecom s/a 
RECORRIDO: LOURDES MONTEIRO SANCHEZ 
RELATOR: HELDER LUÍS HENRIQUE TAGUCHI 
C ÍVEL . RECURSO INOMINADO. 
INSCRIÇÃO INDEVIDA. FRAUDE. FALTA DE CAUTELA 
DA CONCESSIONÁRIA DE TELEFONIA AO 
INSCREVER O NOME DO CONSUM IDOR NOS 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 327 - 
ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. 
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. RED UÇÃO. 
 
1 . Lourdes Monte i ro Sanchez propôs 
ação de indenização cobrança em face de Bras i l 
Te lecom S/A, a legando que desconhece as 
cobranças pe la u t i l i zação de l inha te le fôn ica que 
não so l ic i tou . 
 
A dec isão da Ju íza le iga , homologada 
por sentença , condenou a ré ao pagamento de 
indenização por danos morais no va lo r de R$ 
3 .500 ,00 e de te rmino a ba ixa das re s t r i ções de 
c rédi to . 
A ré in te rpôs recurso inominado 
a legando a complex idade da causa . Sus tenta que a 
autora so l i c i tou a l inha te le fônica e fez uso de la . 
Impugna a carac te r i zação do dano e o valo r 
arb i t rado . 
2 . Os documentos que fo ram juntados 
pe la ré só após a pro lação da sentença podem ser 
examinados nes ta ins tânc ia , uma vez que a 
produção da prova fo i jus t i f i cada e de fe r ida a inda 
na aud iênc ia de ins t rução e ju lgame nto . 
À autora fo i opor tunizada a 
mani fes tação nas contra - razões do recurso . 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 328 - 
São ce r t idões da Junta Comerc ia l do 
Paraná in fo rmando que a autora é sóc ia de uma 
soc iedade comerc ia l sediada em Maria lva -Pr . , e que 
fo i sóc ia de out ra empresa até 15 de dezembro de 
2005 , também em Mar ialva-Pr . 
O exame i so lado dessa in fo rmação 
nada ac rescenta na so lução da l ide , se a inda não 
se sabe com quem a ré cont ratou a pres tação dos 
se rv iços de te le fonia . 
Não é o caso de a ré lançar dúv idas , 
suspe i tas , quando deve s implesmente indicar com 
prec isão e c lareza com quem contratou e quando 
aconteceu o contrato . 
Com e fe i to , a prova que importa diz 
re spe i to a contratação regu lar dos se rv iços de 
te le fon ia da ré pe la autora . E prova nes te sent ido 
não fo i apresentada . Por i s so , não cabe agora 
te rg ive rsar . 
Va le d ize r , não res tou comprovado nos 
autos que a autora tenha ce lebrado qualquer 
negóc io ju r íd ico com a ré , o que to rna o déb i to 
inex i s tente e indev ida e abus iva a insc r ição do seu 
nome nos cadas tros de ó rgãos de res t r i ção de 
c rédi to . 
O consumidor que não ce lebrou o 
contrato , não pode se r imputado como devedor nem 
penal i zado com a inc lusão indev ida de seu nome 
nos se rv i ços de res t r i ção ao c réd i to em razão da 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 329 - 
vu lnerab i l idade do s i s tema de contratação da 
Rec lamada. Forma de captação de c l ie nte la 
u t i l i zada pe la Requer ida (por te le fone , sem 
autor i zação esc r i ta do consumidor/contratante e 
sem confe rênc ia de documentos com a real 
ident idade do contratante ) que po tenc ia l i za a 
oco rrênc ia de f raudes e ense ja o dever do 
fo rnecedor do se rv i ço de arcar com a reparação de 
eventual dano causado a te rce i ro (ap l icação da 
norma do ar t igo 17 da Le i n°8 .078/90) . T rata -se de 
responsabi l idade pe lo fa to do se rv iço . 
3 . A c r iação de um débi to sem causa 
impõe ao supos to devedor a imagem de mau 
pagador , no seu ín t imo produz uma preocupação 
descab ida, e t raz aborrec imentos e cont ratempos 
até a regu lar i zação da s i tuação . 
Enunc iado n . º 8 da TRU/PR : “É 
presumida a ex i s tênc ia de dano moral , nos casos de 
pro tes to de t í tu lo e insc r ição e/ou manutenção em 
órgão de pro teção ao c réd i to , quando indevidos ” . 
 
Para f ixação do valor da 
indenização decorrente de d ano moral , muito 
embora disponha o Juiz de ampla l iberdade 
para aferi r o valor da reparação, deve perquiri r 
todos os fatores inerentes aos f atos , à s i tuação 
das partes , e a norma legal apl icável ao caso . 
 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 330 - 
Procura-se como se sabe, uma 
compensação mínima aos transtornos causados 
pelo ato abusivo , ut i l izando -se dos seguintes 
cr i tér ios , e laborados em consideração às 
pecul iar idades do caso co ncreto . A quantidade 
de cr i tér ios é var iáve l , conforme as 
c i rcunstâncias de cada c aso. 
a) caráter punitivo e premonitório 
da conduta ofensiva da recorrente; 
 
b) a condenação deve importar em quant ia 
capaz de t raduzir algum conforto espir i tual 
pelo ul tra je exper imentado na honra da 
recorrida; 
 
c ) o valor da condenação deve ser 
compatível com a est rutura e a capacidade 
econômica das recorrentes . 
 
CONTEMPLADAS ESTAS 
CIRCUNSTÂNCIAS, E CONSIDERADO O EPISÓDIO 
ISOLADO REDUZO O VALOR DA INDEN IZAÇÃO 
PARA R$ 1 .000,00 . 
Recurso conhecido e provido em 
parte , para reduzir o valor da indenização por 
danos morais pra R$ 1 .000,00 , com correção 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 331 - 
monetária e juros de mora contados da d ata 
deste julgamento. 
 
Condena-se a recorrentes ao 
pagamento de 75% das cus tas processuais e 
honorár ios advocat í c ios de 10% sobre o valo r da 
condenação . ACÓRDÃO Acordam os Ju ízes de 
Di re i to in tegrantes da Tu rma Recursa l Única dos 
Ju izados Espec ia is C íve is e Cr imina is do Es tado do 
Paraná, à unanimidade , em conhecer e prover em 
parte o recurso nos te rmos do vo to do re la to r . O 
ju lgamento fo i pres id ido pe lo Senhor Ju iz 
A lexandre Barbosa Fab i an i , com vo to , e de le 
par t i c ipou a Senhora Ju íza Cr i s t iane Santos Le i te . 
Cur i t iba , 21 de dezembro de 2007 . He lder Lu ís 
Henrique Taguch i Re la to r 
 
Por tanto , caso haja a condenação à inden ização por 
danos mora is , requer desde logo que o va lor a ser f i xado por Vossa 
Exce lênc ia a tenda aos c r i té r ios ac ima expostos e não represente 
enr iquec imento sem causa ao a utor . 
 
09. DOS PEDIDOS 
 
Diante o exposto requer : 
 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 332 - 
 
a) se ja ACOLHIDA a pre l iminar de carênc ia de ação e 
dec larada a inex i s tênc ia de in teresse processual do Autor , 
ex t ingu indo, por conseqüênc ia , o presente fe i to sem reso lução do 
mér i to , nos termos dos ar t s . 301 , X e 267, V I , todos constantes do 
Cód igo de Processo C iv i l . 
b ) se ja ACOLHIDA a pre l iminar de i leg i t imidade 
pass iva da Segunda Ré OPECAR VEÍCULOS LTDA e ju lgando 
EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO a presente demanda com 
fu lcro no a r t igo 267, VI do Código de Processo C iv i l , quanto ao 
ped ido de condenação à inden iz ação por danos mora is . 
c ) Que, caso superada a pre l iminar , o que não se 
espera , que seja MANTIDO o ônus probatór io ao Autor quanto à 
demonstração caba l da ex i stênc ia do a legado defe i to , não h avendo 
presentes os r equis i tos para a inversão do ônus prev is to no ar t igo 
6º , VI I I do Código de Defesa do Consumidor . 
d ) No mér i to , que se ja a demanda JULGADA 
IMPROCEDENTE em todos os seus ped idos , d iante da abso luta 
ausênc ia de d i re i to do Autor na sua pretensão in ic ia l . 
e ) Sucess ivamente e em atenção ao pr inc íp io da 
eventua l idade, caso ha ja condenação em inden ização por danos 
mora i s , que se jam observados os c r i té r ios in formadores para a sua 
f i xação não excedendo ao mín imo condizente com a ex tensão do 
dano so fr ido pe lo autor . 
f ) A produção de todas as provas em d i re i to 
admit idas , em espec ia l o depo imento pessoa l das par tes ; a o i t i va de 
SOCIEDADE E DIREITO EM REVISTA 
- Revista do Curso de Direito – Ano I-2009 – N.º 4 - p. 333 - 
tes temunhas e a juntada de out ros documentos que se f i zerem 
necessár ios . 
g ) Que TODAS as int imações se jam encaminhadas à 
pub l icação em d iá r io o f i c ia l em nome de José Va ldemar Jaschke - 
OAB/PR. 22 .939 , t i tu la r deste escr i tór io , SOB PENA DE NULIDADE. 
 
 Termos em que pede defer imento .

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