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Consulex - barriga de aluguel

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26/03/13 Consulex Online
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[a-] [A+]
Revista Jurídica Consulex nº 378
Direito e Bioética
15/10/2012
ALUGA-SE ÚTERO
Há pouco tempo, quando se falava em “barriga de aluguel”, compreendendo aqui a maternidade
substitutiva, aparentemente tratava-se de mais uma das ficções científicas relatadas em O admirável
mundo novo, de Aldous Huxley. O leitor entendia o procedimento proposto, mas jamais imaginaria que
tal descrição pudesse superar a barreira da realidade. A atualidade em caminhar acelerado, ao contrário,
mostra o homem tentando acompanhar o ritmo alucinante das pesquisas envolvendo seres humanos e
permite constatar que tudo aquilo que um dia foi utópico pode desbastar um novo caminho para a
humanidade.
A evolução da engenharia genética e os progressos científicos na área da reprodução humana têm
solucionado satisfatoriamente o problema da infertilidade, criando várias opções para a procriação
assistida, com a manipulação dos componentes genéticos dos dois sexos. As técnicas desenvolvidas, por
meio de inseminação artificial e fecundação in vitro, culminando com a gestação de substituição,
trazem grande esperança para muitos casais.
Vale ressaltar, a inseminação artificial compreende o procedimento de transferência do sêmen do
cônjuge, companheiro ou de um doador para o útero da futura gestante. A fertilização in vitro
compreende a manipulação do material procriativo masculino e feminino, com a consequente
transferência intrauterina dos embriões. Com isso, o casal pode se valer dos próprios gametas ou
daqueles doados por terceiros, além da doação temporária de útero, para atingir o projeto parental. 
Nada obstante, a questão, relevante socialmente, ainda caminha por terreno ainda movediço e
comporta várias discussões jurídicas, médicas, éticas e religiosas. A reprodução assistida, em razão de
Bom dia, seja bem-vindo!
 
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Eudes Quintino de Oliveira Júnior
Promotor de Justiça aposentado. Mestre em Direito Público, Doutor e Pós-Doutor em Ciências
da Saúde. Reitor do Centro Universitário do Norte Paulista (UNORP), em São José do Rio Preto
(SP).
26/03/13 Consulex Online
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sua implantação “à fórceps”, carece de legislação ordinária para regulamentar todos os pressupostos e
requisitos exigidos para cada procedimento. Isto porque a legislação sempre sucede a pesquisa e irá se
posicionar somente quando a experiência for bem-sucedida e receber a aprovação para ser utilizada na
sociedade. O Código Civil brasileiro, em vigor desde 2002, em iniciativa exemplar, ensaiou os primeiros
passos na regulamentação das inseminações e fecundações homóloga e heteróloga (art. 1.597).
Supletivamente, o Conselho Federal de Medicina editou a Resolução nº 1.957/10, dispondo sobre a
gestação de substituição (doação temporária de útero) e permitindo o procedimento quando existente
um problema médico que impeça ou contraindique a gestação na doadora genética. Assim,
obrigatoriamente, as doadoras temporárias devem pertencer à família da doadora genética até o
segundo grau de parentesco (mãe, irmã, prima), para afastar-se qualquer tentativa de comércio e lucro. 
Ausente o vínculo de parentesco, exige a Resolução a autorização do Conselho Regional de Medicina
para a realização do procedimento, pelo que o órgão do Estado de São Paulo, no âmbito da atribuição
que lhe foi conferida, vem permitindo a cessão temporária de útero entre não parentes para gestar
bebês, desde que haja recomendação médica para tanto e que ausente qualquer suspeita de comércio
entre os envolvidos.
Nem sempre é possível contar que haja parentes dispostos ou até mesmo com condições de saúde
para praticar a gestação de substituição e alojar os embriões que serão transferidos, e até mesmo difícil
acreditar que qualquer outra mulher, mesmo movida pelo mais puro altruísmo, o faça de forma gratuita.
O órgão deliberativo médico não tem competência legal e muito menos legitimidade para exigir
qualquer outra medida, além de se ver impedido de realizar investigação para apurar se foi atendida a
espontaneidade que move a doação. Na reprodução assistida, a mulher não parente que gestará o bebê
é indicada pelos pais interessados no procedimento e, havendo acordo entre estes, certamente o fato
não será ventilado. Com isso, abre-se uma brecha permissiva da prática de atos de comércio.
A doação de órgãos e tecidos no Brasil, a título comparativo, regulamentada pela Lei nº 9.434/97,
determina que a doação inter vivos será sempre gratuita, proibida qualquer iniciativa comercial,
conforme também determina o § 4º do art. 199 da Constituição. No caso da cessão de útero, sem
qualquer ônus, deve-se aplicar o § 7º do art. 226 do texto constitucional, no que determina que
oplanejamento familiar é livre decisão do casal, cabendo ao Estado o dever de proporcionar recursos
científicos para o exercício desse direito àqueles que não conseguem atingir a procriação pelos meios
naturais.
Disto decorre a premente necessidade de se regulamentar o procedimento de maternidade
substitutiva, estabelecendo-se todos os requisitos exigidos no procedimento médico escolhido e, com
relevo, o cumprimento rigoroso da gratuidade da medida. Se assim não for, possivelmente veremos
anúncios em jornais e revistas oferecendo aluguel de útero. Depois virão as agências especializadas,
cooperativas, consórcios e assim por diante. É o ingresso na “fábrica de robôs”, preconizado pelo
tcheco Karel Tchápek, que com muito humor discutiu o aspecto ético e até mesmo indiscriminado da
Biotecnociência e da Biotecnologia.

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