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Direito Civil - Obrigações

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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais 
Campus Poços de Caldas 
Curso de Direito 
DIREITO CIVIL I – Cristiano Medeiros/2013 
 
 
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS/ CONCEITO E IMPORTÂNCIA DO DIREITO 
DAS OBRIGAÇÕES 
1) CONCEITO: O estudo do direito civil envolve uma gama extremamente extensa 
de conhecimentos especializados, abrangendo todas as relações e situações jurídicas 
realizadas antes mesmo do surgimento da pessoa (natural ou jurídica), até depois de seu 
perecimento (morte ou falência/ dissolução). 
Por isso, as codificações modernas têm apresentado uma divisão didática das matérias, 
estabelecendo uma parte geral e outra parte especial, que agrupam regras particulares, 
sistematizadas em função da natureza peculiar das relações jurídicas a que se destinam 
abranger. 
O direito das obrigações, portanto, consta da parte especial do Código Civil e constitui o 
mais lógico e refratário a mudanças, de todos os ramos do direito. Embora não seja 
imutável, as alterações de valores, hábitos e costumes sociais não são capazes de influir em 
sua substância, tal como no direito de família por exemplo. 
Pode ser conceituado como conjunto de normas e princípios jurídicos reguladores das relações 
patrimoniais entre um credor (sujeito ativo) e um devedor (sujeito passivo) a quem incumbem o dever de 
cumprir espontânea ou coativamente, uma prestações de dar, fazer ou não fazer. 
Etimologicamente, a palavra obrigação vem do vocábulo latino obrigare – ob + ligatio – que 
significa “ligar”, “atar”, “unir”, impor um determinado compromisso. 
O Código Civil não definiu obrigação (diferentemente do Código Português que o fez em 
seu art. 397), deixando a tarefa conceitual a cargo da doutrina. 
Embora a expressão comporte diferentes significados, em sentido técnico-jurídico pode-se 
afirmar ser a relação jurídica transitória, que estabelece vinculo jurídico entre duas 
diferentes partes, denominadas credor e devedor, cujo objeto é uma prestação 
pessoal, positiva ou negativa, de cumprimento garantido, sob pena de coerção 
judicial. 
 
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais 
Campus Poços de Caldas 
Curso de Direito 
DIREITO CIVIL I – Cristiano Medeiros/2013 
 
 
HISTORICIDADE 
Na Grécia antiga o mais próximo que se chegou da noção de obrigação(ões) foi reflexão de 
Aristóteles, que dividiu as relações obrigatórias em dois tipos, a saber, as voluntárias 
(decorrentes de um acordo entre duas pessoas) e as involuntárias (resultantes da prática de 
um ato ilícito) – às involuntárias subdividiu em atos ilícitos cometidos “às escondidas” e 
atos ilícitos decorrentes de violência. 
Já no Direito Romano, também não se conhecia a expressão obrigação, mas seu equivalente 
histórico teria sido a figura do nexum – espécie de contrato – que conferia ao credor o 
poder de exigir do devedor o cumprimento da obrigação entabulada, sob pena de 
responder com seu próprio corpo, podendo ser reduzido, inclusive, à condição de 
escravo, o que se realizava por meio da actio per manus iniectionem (ação pela qual o credor 
poderia vender o devedor como escravo). 
Como se nota, o vínculo obrigacional incidia sobre a pessoa do devedor e a substituição 
para se fazer recair a execução da prestação sobre o seu patrimônio parece ter sido lenta e 
ditada pelas necessidades de evolução da própria sociedade romana. 
Silvio de Salvo Venosa afirma que a lei romana suprimiu a manus iniectio no século IV a.C, 
porque, ao que tudo indica, o instituto já estava em desuso na época. 
Dentre o povo hebreu, também há registros da actio iniectio no século VIII a.C, relatada no 
livro de II Reis, cap. 3, versículo 4. 
Daí pode-se concluir que o traço diferencial marcante entre as reminiscências históricas do 
conceito de obrigação e sua concepção moderna está no seu CONTEÚDO 
ECONÔMICO, visto que hodiernamente a garantia das obrigações contraídas não mais 
repousa sobre a pessoa do devedor, mas sobre seu patrimônio – art. 391 CC brasileiro – 
Princípio da Responsabilidade Patrimonial. 
 
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Curso de Direito 
DIREITO CIVIL I – Cristiano Medeiros/2013 
 
 
Tal modificação enfatiza a dignidade humana e ao mesmo tempo retira da pessoa do 
devedor a importância central da obrigação, permitindo, desse modo, a sua 
transmissibilidade (art. 286 CC), para que outra pessoa, diversa do sujeito passivo, passe a 
figurar como devedor em seu lugar. 
O Código de Napoleão de 1.804 – Código Civil Francês – consagrou em seu art. 2.093 que 
“os bens do devedor são a garantia comum de seus credores”. 
CAMPO DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 
Não é qualquer espécie de direito que integra as relações jurídicas obrigacionais, mas 
exclusivamente os direitos passíveis de circulação jurídica; de conteúdo econômico (direitos 
de crédito). 
Portanto, ficam de pronto descartados os direitos da personalidade: vida/ nome/ estado 
da pessoa. 
Os mencionados direitos de crédito são de natureza essencialmente PESSOAL e não se 
confundem com os direitos reais em geral. 
Desse modo, se dois sujeitos celebram contrato, passando a ser credor e devedor, um do 
outro, diz-se que o credor possui um direito pessoal de crédito exercitável contra o devedor, a 
quem o negócio jurídico celebrado impõe o dever de prestar uma obrigação de dar, fazer 
ou não fazer. 
Isso significa que não existe uma pretensão de natureza REAL no crédito formado, que 
outorgue ao credor poderes de proprietário em relação à coisa à atividade objeto da relação 
ou mesmo, à pessoa do devedor. (exemplo do restaurante) 
Há que se enfatizar que o credor não possui direito real de propriedade sobre a prestação 
devida, mas tão somente direito pessoal de crédito, que se traduz numa pretensão, 
juridicamente tutelada, de se exigir pela via judicial o cumprimento da prestação devida 
pelo devedor. (exemplo do $ no bolso) 
 
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DIREITO CIVIL I – Cristiano Medeiros/2013 
 
 
Em apertada síntese, quer-se dizer que o cumprimento da prestação, e não a coisa em si, 
constitui o objeto imediato da obrigação e por conseguinte, do próprio direito de crédito – 
O QUE EQUIVALE A DIZER QUE OS DIREITOS REAIS SÃO TRATADOS PELO 
DIREITO DAS COISAS, ENQUANTO OS DIREITOS DE CRÉDITO (PESSOAIS) 
SÃO O ESTRITO OBJETO DE ESTUDO DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES. 
DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS REAIS E DIREITOS PESSOAIS 
Em linhas iniciais, o direito real é aquele que afeta a coisa direta e imediatamente, sob 
todos ou certos aspectos e a segue em poder de quem quer que a detenha. Em 
contrapartida, o direito pessoal é o direito contra determinada pessoa. 
Real é o direito que traduz o poder jurídico direto de uma pessoa sobre uma coisa, 
submetendo-a em todos ou em certos aspectos. 
Para o seu exercício a figura de outro sujeito (pessoa) é absolutamente PRESCINDÍVEL – 
ou seja, a figura do sujeito passivo é despicienda. p. ex. O dono de um bem móvel ou 
bem imóvel exerce seu direito de propriedade independente da interferência de outrem, 
pois a sua existência é independente de qualquer obrigação. 
Para os direitos reais, tanto o sujeito passivo, quanto suas correspondentes obrigações 
somente surgem diante da efetiva violação ou ameaça concreta de lesão, momento a 
partir do qual o infrator do direito terá o dever de reparar o status quo ante ou, não 
havendo efetiva lesão, abster-se da prática de qualquer ato danoso, sob pena de ser 
civilmente responsabilizado. 
Daí se dizer que o sujeito passivo de uma obrigação de natureza real é a coletividade em 
geral, a quem é oposta um dever geral de abstenção, dada a sua oponibilidade erga omnes, 
sendo efetivamente determinado o sujeito somente após a violação do direito. 
Características distintivas dos direitos reais: 
 
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DIREITO CIVILI – Cristiano Medeiros/2013 
 
 
 Princípio da legalidade (tipicidade) – Os direitos reais somente existem 
se estiverem especificamente tipificados na Lei (art. 1.225 CC); 
 Princípio da taxatividade: O rol de direitos reais é denominado numerus 
clausus, ou seja, a enumeração legal dos direitos reais é taxativa, NÃO SE ADMITINDO 
A SUA AMPLIAÇÃO PELA SIMPLES VONTADE DAS PARTES. 
 Publicidade: primordialmente para bens imóveis, por se submeterem a um 
modo especial de registro público – vide Lei de Registros Públicos (6.015/73). 
 Eficácia erga omnes: Significa que os direitos reais são oponíveis a todas 
as pessoas, indistintamente. Todavia, esta eficácia deve ser entendida com ressalvas 
constitucionais, uma vez que o exercício do direito real (até mesmo o da propriedade) deve 
atender a um interesse social – art. 5º, XXIII CF/88. 
 Inerência ou Aderência: O direito real adere à coisa, acompanhando-a em 
todas as suas mutações. Ex. direitos reais em garantia (hipoteca, penhor). 
 Sequela: Como consequencia da característica anterior, o titular de um 
direito real poderá perseguir a coisa onde quer que se encontre e em mãos de quem quer 
que seja. 
Por tais características, o poder atribuído ao titular de um direito real é juridicamente muito 
mais expressivo do que aquele conferido a um titular de direito de natureza pessoal ou 
obrigacional, cujos efeitos somente são produzidos inter partes. 
Como visto, seu objeto constitui a própria atividade do devedor, em favor do credor, e não 
propriamente a coisa devida. 
 
 
 
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DIREITO CIVIL I – Cristiano Medeiros/2013 
 
 
SITUAÇÕES HÍBRIDAS DE CONFLUÊNCIA ENTRE DIREITOS REAIS E 
PESSOAIS 
Há casos em que há uma convergência entre direitos reais e obrigacionais, coexistindo na 
mesma relação jurídica. 
São os casos de nus proprietários e usufrutuários (art. 1.400 CC) ou promitentes 
vendedores e promissários compradores (art. 481 cc/ 1.227 CC); 
Direito de preferência do locatário – art. 8º e 33 da Lei 8.245/91 – Neste caso, não há 
direito real de preferência, dado o caráter taxativo do art. 1.225; mas o que se tem é o típico 
exemplo de se conferir ao direito obrigacional, que vincula locador e locatário, eficácia erga 
omnes, podendo exercer sua preempção, no prazo de seis meses após a realização do 
negocio, depositando o preço, tanto por tanto, e havendo o imóvel para si. 
As cláusulas restritivas de impenhorabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade 
também constituem vínculo obrigacional, que por constarem do Registro de Imóveis, SE 
TORNAM OPONÍVEIS E SEQUELANTES. 
OBRIGAÇÕES PROPTER REM 
Essas modalidades de obrigações constituem prestações impostas ao titular de determinado 
direito real, pelo simples fato de assumir tal condição. As obrigações mistas são simbióticas, 
pois apresentam características comuns aos direitos obrigacionais e reais; A PESSOA 
ASSUME UMA PRESTAÇÃO DE DAR, FAZER OU NÃO FAZER, EM RAZÃO DA 
AQUISIÇÃO DE UM DIREITO REAL. 
Conhecidas, também, por obrigações mistas ou ambulatórias; constituem uma figura 
peculiar, pois se inserem entre os direitos reais e os direitos obrigacionais, assimilando 
características de ambos. 
 
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DIREITO CIVIL I – Cristiano Medeiros/2013 
 
 
CAIO MARIO DA SILVA PEREIRA a definiu como obrigação de caráter misto, pelo 
fato de ter como a obrigatio in personam objeto consistente em uma obrigação específica; e 
como a obligatio in re, o estar sempre incrustada no direito real. 
A OBRIGAÇÃO PROPTER REM ESTÁ VINCULDA À TITULARIDADE DO BEM, 
SENDO ESTA A RAZÃO PELA QUAL SERÁ SATISFEITA DETERMINADA 
PRESTAÇÃO POSITIVA OU NEGATIVA, IMPONDO-SE SUA ASSUNÇÃO A 
TODOS OS QUE SUCEDAM AO TITULAR NA POSIÇÃO TRANSMITIDA. 
Qualificam-se como obrigações propter rem: 
 A do condômino, de contribuir para a conservação da coisa comum; 
 A do proprietário, em solver as obrigações tributárias da coisa; 
 As decorrentes do direito de vizinhança; 
 A do condômino, em submissão às normas condominiais, constantes da convenção 
de condomínio. 
É licito convencionar que obrigações propter rem sejam solvidas pelo possuidor da coisa, 
sem que isso implique transferência da obrigação real ou alteração de sujeição passiva, mas 
apenas um acordo de vontades, restrito aos contratantes. Por óbvio, o acordo é ineficaz 
relativamente a terceiros, remanescendo a sujeição passiva do titular do direito real. 
Por fim, as obrigações propter rem não se prendem necessariamente ao registro (nos casos de 
transmissão de bens imóveis), sendo que, nos casos de contribuições condominiais, p.ex., o 
STJ já pacificou a legitimidade passiva do promitente comprador (com contrato “de 
gaveta”) para responder pelas contribuições condominiais. 
 
 
 
 
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ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO 
A obrigação tem sido concebida pela maioria dos doutrinadores contemporâneos, como 
um direito do credor a um comportamento do devedor, consistente numa prestação 
de dar, fazer ou não fazer. 
Consoante preleciona Orlando Gomes, estrutura-se a obrigação pelo vínculo entre 
dois sujeitos (ativo e passivo), para que um deles satisfaça em favor do outro, certa 
prestação. 
Em linhas gerais, os elementos estruturantes da relação obrigacional são os mesmos de 
uma relação jurídica, a saber: SUJEITO, OBJETO e VÍNCULO. Isso significa que numa 
relação obrigacional estão compreendidos sujeitos contrapostos, vinculados por um 
liame que permite a exigibilidade da prestação pactuada. 
Em suma síntese, a relação obrigacional se compõe de SUJEITO (credor e devedor), 
PRESTAÇÃO (objeto) e VÍNCULO JURÍDICO (que propicia a exigibilidade). 
Eis, a seguir, a análise de cada um desses elementos: 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS 
 Elemento Subjetivo – CREDOR E DEVEDOR 
Tem-se, aqui, o elemento pessoal (SUBJETIVO) da relação obrigacional, representado pela 
pessoa do devedor (SUJEITO PASSIVO) e pela pessoa do credor (SUJEITO ATIVO), os 
quais se encontram em posições contrapostas. 
Cabe o realce quanto a rara hipótese em que os indivíduos serão apenas credores e 
devedores na relação, visto que, habitualmente, as partes são credoras e devedoras 
recíprocas. 
Por óbvio, o credor é aquele que pode exigir de outrem um determinado comportamento, 
enquanto o devedor é aquele a quem incumbe cumpri-lo. 
 
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DIREITO CIVIL I – Cristiano Medeiros/2013 
 
 
É possível que haja pluralidade em qualquer dos pólos da relação obrigacional; 
multiplicidade de credores ou devedores, ou de ambos; o que não descaracteriza a 
dualidade da relação obrigacional – INDEPENDENTE DO NÚMERO DE CREDORES 
OU DEVEDORES, SEMPRE HAVERÁ CONTRAPOSIÇÃO DE DUAS PARTES 
– DE UM LADO CREDOR (ES), E DE OUTRO, DEVEDOR (ES). 
Tais sujeitos podem ser pessoas naturais ou jurídicas; de direito público ou privado; com 
finalidade econômica ou não; independentemente, inclusive, da capacidade (lembrando, p. 
e. que o absolutamente incapaz pode ser credor de uma obrigação alimentícia). 
É possível, de igual modo, que até mesmo entes despersonalizados, como o espólio, o 
condomínio, a massa falida, entre outros, componham um dos pólos da relação 
obrigacional – p. e. O condomínio é credor da contribuição condominial mensal, para o 
custeio das despesas de manutenção das áreas e coisas comuns; o espólio pode figurar no 
pólo ativo de uma demanda que visa o cumprimento de uma obrigação de outorga de 
escritura de bem imóvel adquirido, porém não escriturado; a massa falida pode ser 
devedora de obrigações trabalhistas. 
Há situações jurídicas específicas em que as partes recebem nomenclaturasdistintas, 
contudo sem descaracterizar os pólos ativo e passivo da relação obrigacional – relação de 
consumo= CONSUMIDOR E FORNECEDOR; relação de locação= LOCADOR 
E LOCATÁRIO. 
Por fim, o sujeito da relação não necessita ser DETERMINADO, mas apenas 
DETERMINÁVEL. 
Ora, quando da gênese da relação não se exige que o CREDOR ou DEVEDOR sejam, de 
pronto, determinados, pois a própria fonte da obrigação fornecerá elementos para a 
determinação futura do sujeito. Ao tempo do cumprimento da prestação deverá ser ao 
menos determinável. 
Tal INDETERMINAÇÃO é relativa, momentânea, como nos casos de EMISSÃO DE 
CHEQUE AO PORTADOR e de PROMESSA DE RECOMPENSA. 
 
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CARLOS ROBERTO RIOS GONÇALVES ensina que só NÃO PODERÁ o sujeito da 
relação ser ABSOLUTAMENTE INDETERMINADO. 
Importante registrar que aos sujeitos da relação obrigacional não se impõe manterem-se até 
a sua extinção – MAS APENAS NAS OBRIGAÇÕES PERSONALÍSSIMAS. 
É lícito às partes serem substituídas nos pólos ativos ou passivos da relação obrigacional, 
por meio de hipóteses variadas, tais como a ASSUNÇÃO DE DÍVIDA ou CESSÃO DE 
DÉBITO (art. 299 e segs.), CESSÃO DE CRÉDITO (art. 286 e segs.), além da SUB-
ROGAÇÃO (art. 346 e segs.) e da NOVAÇÃO (art. 367 e segs.). 
Por fim, relevante frisar que a bipolaridade da relação é elemento de sua essência, de modo 
que, caso ocorra a confusão de ambas as figuras em apenas um dos indivíduos, a obrigação 
se extinguirá, a rigor do art. 381 CC. 
 Elemento objetivo (PRESTAÇÃO) 
O objeto da relação jurídica obrigacional se consubstancia na PRESTAÇÃO DEVIDA, 
que terá, sempre, CONTEÚDO ECONÔMICO ou CONVERSIBILIDADE 
PATRIMONIAL – pode ser positiva (dar/ fazer) ou negativa (não fazer), consistindo, 
invariavelmente, numa conduta humana. 
FABIO ULHOA COELHO ensina que O OBJETO DA OBRIGAÇÃO NÃO SE 
CONFUNDE COM O OBJETO DA PRÓPRIA PRESTAÇÃO – aquele implica uma 
conduta humana, negativa ou positiva; esse se refere a um determinado bem da vida – p. e. 
Num contrato de compra e venda de um sapato, a obrigação do devedor consiste em 
realizar o pagamento, enquanto o objeto da própria prestação (bem da vida) é o dinheiro 
dado em pagamento. 
Pode-se dizer que o objeto IMEDIATO da obrigação consiste na ação humana, positiva ou 
negativa, enquanto o seu objeto MEDIATO refere-se ao bem da vida devido. 
São características essenciais do ELEMENTO OBJETIVO da obrigação: 
 
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DIREITO CIVIL I – Cristiano Medeiros/2013 
 
 
1) LICITUDE DO OBJETO – Sendo o objeto contrário à lei, a obrigação nula; 
2) POSSÍBILIDADE FÍSICA E JURÍDICA DO OBJETO – Diz respeito à 
possibilidade derivada das leis da natureza – não pode o objeto atentar contra as leis 
da física ou a força humana. Já a possibilidade jurídica se refere à não vedação legal; 
p. e. ALIENAÇÃO DE BENS PÚBLICOS, SEM A OBEDIENCIA DOS 
REQUISITOS LEGAIS ou a DISPOSIÇÃO DE BENS DE HERANÇA DE 
PESSOA VIVA. Sendo impossível o objeto a obrigação será nula. 
3) DETERMINABILIDADE DO OBJETO – O objeto deve ser ao menos 
determinável, ao tempo do cumprimento da prestação (art. 243 CC). A 
indeterminabilidade absoluta do objeto torna a obrigação nula. 
4) PATRIMONIALIDADE (VALOR ECONOMICO) DO OBJETO – 
Fundamental é que o interesse do credor seja digno de interesse jurídico, mesmo 
que de ordem moral (p. e. dever de fidelidade conjugal). Interesses valorados com 
sérios e úteis podem sustentar obrigações válidas. 
SCHULD E HAFTUNG 
Superada exposição estrutural da relação obrigacional, em elemento subjetivo {credor (es) 
e devedor (es)}, elemento objetivo {prestação (imediato) e bem da vida (mediato)} e 
vínculo jurídico (elo que vincula os sujeitos em torno de uma prestação entabulada), 
cumpre-nos, agora, dissecar a relação obrigacional, afim de melhor entendê-la. 
Para os alemães a relação obrigacional decompõe-se, essencialmente, em dois elementos: O 
DÉBITO (SCHULD) E A RESPONSABILIDADE (HAFTUNG). 
O débito (schuld) consiste na prestação, no comportamento a ser efetuado pelo devedor. 
A responsabilidade (haftung) refere-se à sujeição do patrimônio do devedor, em caso de 
descumprimento do débito, pela utilização da força cogente do Estado. É fato que a 
possibilidade de constrangimento do devedor, decorrente da pretensão, mantém-se em 
 
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DIREITO CIVIL I – Cristiano Medeiros/2013 
 
 
POTENCIAL e somente tem lugar diante de seu inadimplemento – DEVE SER 
ENTENDIDA COMO A CONSEQUÊNCIA DO INADIMPLEMENTO. 
Inicialmente, cria-se que todas as obrigações traziam em sua essência, o débito (schuld) e a 
responsabilidade (haftung), o que ficou conhecida por teoria monista objetivista. 
Posteriormente observou-se a existência de obrigações que continham apenas o débito 
(schuld)¹, mas não traziam em si a responsabilidade (haftung); e ainda, outras, que traziam a 
responsabilidade (haftung)², mas não continham o débito (schuld)= ¹é o exemplo das 
obrigações naturais, tais como as dívidas de jogo, para as quais se reconhece o débito 
(schuld), em que pese não sejam exigíveis (art. 814 cc); ²e o contrato de fiança, para o qual 
não remanesce a responsabilidade (haftung), visto que o fiador não responde diretamente 
pela dívida, mas somente em caso de inadimplemento do devedor principal. Tal 
interpretação ficou conhecida como teoria dualista. 
OBRIGAÇÕES NATURAIS 
 Historicidade 
As obrigações classificam-se, tradicionalmente, em civis e naturais, exigíveis ou apenas 
pagáveis (desprovidas de exigibilidade jurídica), respectivamente. 
Ora, a obrigação natural é um debitum que não se pode exigir judicialmente, com vista à 
responsabilização patrimonial do devedor; contudo, se adimplida, não se pode repetir, 
POIS NÃO CARACTERIZA DÉBITO INDEVIDO. 
A ela se aplicam os elementos estruturais caracterizadores das obrigações, COM 
PECULIAR EXCEÇÃO DA EXIGIBILIDADE, em que pese a impossibilidade de se 
repetir o pagamento realizado. 
Sua origem remonta ao Direito Romano, que embora berço do direito civil, era 
extremamente elitista e formalista. 
 
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DIREITO CIVIL I – Cristiano Medeiros/2013 
 
 
Sociedade eminentemente rurícola e familiar, os romanos somente admitiam a existência de 
atividade negocial entre cidadãos romanos, excetuando-se os estrangeiros e os escravos. O 
conceito de personalidade jurídica (aptidão genérica, que toda pessoa tem, para adquirir 
direitos e contrair obrigações) era restrito aos romanos e somente a eles era dado contratar 
validamente. 
Somado a isso, as obrigações eram tipificadas (inexistência da autonomia das vontades) e 
constavam de um rol bastante limitado, seguidas de regras formais necessárias à 
formação do vínculo jurídico entre as partes – posto isso, as obrigações se encontravam 
aptas a ser protegidas por ação judicial. 
Em paralelo, os indivíduos desprovidos de capacidade jurídica faziam acordos entre si, e os 
cidadãos romanos nem sempre guardavam as solenidades contratuais em seus negócios; 
como resultado, nem sempre os atos praticados estavam sujeitos à proteção da lei (em 
especial, a pretensão). 
Entre as causas que impediam o nascimento do direito de ação, colocava-se a incapacidade 
do devedor, como, p.e., nos casos de devedores sujeitos ao poder familiar do credor (visto 
que não se admitia o exercício do direito de ação contra pessoa que estivesse sob o poder 
de outra, ou que estivessem, ambas, sob o poder do mesmo pater família); ou o fato de certo 
pater família legar em favor de escravo seu, além da alforria, determinado número de moedas 
de ouro. 
Especialmente quanto à obrigação dos descentes, de pagarao escravo o ato de última 
vontade do pater, a jurisprudência romana divergia entre LEGADO NULO – por ser o 
escravo parte do patrimônio de seu senhor, não podendo tomar assento na condição de seu 
credor – e herança válida, tendo em vista que a intenção do testador não era a de solver 
dívida civil, mas DÍVIDA NATURAL PARA COM SEU SERVO. 
A partir de problemas dessa natureza os romanos construíram a TEORIA DA 
OBRIGAÇÃO NATURAL, reconhecendo, à luz da equidade, A EXISTÊNCIA DE UM 
VÍNCULO QUE, EMBORA NÃO ESTIVESSE AMPARADO PELA ACTIO 
 
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ROMANA, ERA DOTADO DE CERTOS EFEITOS JURÍDICOS, 
NOTADAMENTE, O DE DAR CAUSA A UM PAGAMENTO VÁLIDO. 
 Conceito 
As obrigações naturais suscitam interessantes debates, pois se colocam entre o conceito do 
justo e do legal, entre a moral e o direito. 
Afirma Caio Mário que a obrigação natural é entidade intermediária entre o mero dever de 
consciência e a obrigação juridicamente exigível – É MAIS QUE UM DEVER MORAL, 
PORÉM, MENOS QUE UMA OBRIGAÇÃO CIVIL. 
As obrigações naturais são insuscetíveis de serem exigidas em juízo, posto que DESPIDAS 
de coerção. Nelas há apenas o schuld, mas INEXISTE o haftung. Trata-se de obrigação que, 
igualmente à obrigação civil, impunha ao sujeito passivo o dever de prestar ao credor uma 
ação de dar, fazer ou não fazer, MAS, que por alguma razão de ordem legislativa, não se 
elevou ao nível das obrigações civis, ou tendo sido obrigação civil, perdeu, por força de lei, 
sua exigibilidade. 
O Código Civil a define como obrigação judicialmente inexigível (art. 882), sendo lícito 
depreender que a obrigação natural se distingue da civil, por não ser provida de pretensão 
hábil a compelir o devedor ao adimplemento, quando da violação do dever de prestar. Mas 
se ESPONTANEAMENTE solver a dívida, não o fará indevidamente, posto que, estará 
o credor que recebeu a prestação, PROTEGIDO DO DEVER DE REPETÍ-LA AO 
DEVEDOR. 
O cumprimento da obrigação natural atende a reclames de consciência, que podem levar 
alguém a cumprir obrigação não imposta pela lei. 
 Exemplos recorrentes 
 
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1. Dívidas de jogo ou aposta – em que pese sejam contratos, de acordo com a 
legislação civil, são moralmente reprováveis e se subdividem em REGULADOS, 
TOLERADOS E PROIBIDOS (art. 814). 
Os jogos e apostas regulados ou legalizados, definitivamente não estão sob a égide da 
obrigação natural, nem tão pouco são moralmente condenáveis. A regência incide sobre 
aqueles tolerados ou proibidos. 
O pagamento de tais dívidas constitui obrigação natural, bem como a fiança prestada em 
sua garantia, além da impossibilidade de execução do titulo executivo extrajudicial, 
concedido ao credor em decorrência desses contratos. 
2. Dívidas prescritas – Constante do art. 189 cc/ art. 206 do CC, a prescrição 
decorre da inércia do credor em deduzir seu direito material em face do devedor. 
Causa extintiva da pretensão, remanesce para o credor o direito material, de modo que se 
espontaneamente do devedor solver o débito, não terá direito de repeti-lo. Cuidou o 
Código Civil de equiparar, expressamente, a dívida prescrita às obrigações naturais. (art. 
882) 
3. Deveres morais ou sociais – O fundamento de tais deveres é diverso das 
obrigações, pois nasce das relações alicerçadas na convivência social, verdadeiro 
imperativo de solidariedade. Trata-se de situações de pagamento de alimentos a 
parentes distantes além do 2º grau, ou pagamento de legado a pessoa que não 
constou do testamento, mas de quem se sabia desejava o testador contemplar, ou 
ainda, a doação de gorjetas a empregados. 
Tais pagamentos, quando realizados voluntariamente, tornam-se irrepetíveis, pois 
resultantes de deveres morais, são considerados PERFEITOS. 
Por fim, a obrigação natural não se confunde com MERO DEVER MORAL, pois 
representa uma dívida efetiva, proveniente de uma causa precisa. O que significa dizer que 
o objeto de sua prestação pertence, do ponto de vista ideal, ao patrimônio do credor, de 
 
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modo que, não cumprida a obrigação, sofre ele um prejuízo (o que não se verifica quando 
há o descumprimento de um dever meramente moral). Tal dívida não se sujeita à 
exigibilidade, mas uma vez adimplida, não haverá como compelir aquele que recebeu a 
restituir. 
ELEMENTOS ACIDENTAIS DAS OBRIGAÇÕES 
Nos tópicos anteriores falamos dos elementos essenciais da obrigação (sujeitos, objeto e 
vínculo jurídico), sem a identificação dos quais não há que se falar em obrigação. Podemos 
assim dizer, que tais elementos situam-se no campo da EXISTÊNCIA das relações 
obrigacionais. 
Uma vez reconhecida a existência da relação obrigacional, cumpre-nos estudar acerca de 
sua EFICÁCIA; saber se seus efeitos serão produzidos de imediato ou não. 
Daí a importância do estudo das denominadas CONDIÇÕES ACIDENTAIS das 
obrigações, cuja ocorrência determina como serão produzidos os efeitos da obrigação – a 
TERMO, sob CONDIÇÃO ou ENCARGO. 
 Condição 
A condição diz respeito a ocorrência de um evento futuro e incerto, que poderá ser 
SUSPENSIVA ou RESOLUTIVA. 
a) Condição suspensiva – Opera-se a condição suspensiva à obrigação, quando a 
produção de seus efeitos depende de sua ocorrência. Somente a partir do momento 
de seu implemento é que haverá o nascimento do direito de crédito do credor e a 
correspondente exigibilidade da prestação, por parte do devedor. 
É o caso p.e. da obrigação assumida pelo fiador, que somente se tornará efetivo devedor, 
caso ocorra inadimplência por parte do devedor principal. Ou ainda, quando no contrato 
de compra e venda de uma fração ideal de um bem imóvel rural, credor e devedor 
 
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contratam que a compra e venda somente será possível caso o comprador consiga aprovar 
junto aos órgãos públicos o desdobro da área que está adquirindo. 
b) Condição resolutiva – Opera-se a condição resolutiva, quando a sua ocorrência 
faz cessar os efeitos da obrigação assumida entre credor e devedor. A partir deste 
momento, as partes se desobrigam de seus respectivos ônus obrigacionais. 
É o caso p.e da obrigação assumida pelo comprador que adquire bem hipotecado ou 
alienado fiduciariamente. Deixando o devedor hipotecário ou o alienatário fiduciário de 
pagar a obrigação, a garantia da dívida assumida (o próprio bem) será executada, de modo 
que o adquirente perderá o bem, sem que o possa reclamar, pelo implemento de condição 
resolutiva. 
 Termo 
O termo consiste na ocorrência de um evento futuro e certo estabelecido como marco, 
inicial ou final, da produção dos efeitos de determinada obrigação assumida. 
É o caso p.e da obrigação assumida pelo devedor, de pagar ao credor, com os frutos da 
primeira colheita. Somente a partir da primeira colheita é que a prestação passará a ser 
devida pelo sujeito passivo ao credor. Ou ainda, a obrigação assumida pelo adquirente de 
um bem, de pagar o preço ao credor até o último dia do ano. 
 Encargo 
Cuida-se o encargo, de um ônus imposto ao beneficiado por uma obrigação gratuita. 
É o caso p.e da doação de livros a uma biblioteca, com o encargo de franquear ao público 
em geral o acesso aos livros doados. 
IMPORTANTE FRISAR QUE NEM TODAS AS OBRIGAÇÕES SOFRERÃO A 
INCIDÊNCIA DE ELEMENTOS ACIDENTAIS. NA AUSÊNCIA DELES A 
PRODUÇÃO DE SEUS EFEITOS SERÁ IMEDIATA, CONTEMPORÂNEA À 
CONTRATAÇÃO. 
 
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FONTES DAS OBRIGAÇÕES 
 Noções introdutórias 
Em sentido léxico, fontes podem ser nascentes/ causas donde provêm efeitos/ o texto 
original de uma obra. 
No contexto jurídico, fontes são os meios pelos quais se formam ou se estabelecem as 
normas jurídicas. Trata-se de verdadeiras instancias de manifestação normativa, tais como, 
A LEI, OS COSTUMES, A ANALOGIA, A JURISPRUDÊNCIA, OS PRINCÍPIO 
GERAIS DE DIREITO, A DOUTRINA E A EQUIDADE. 
Precisamente, quer-se estudar aqui os fatos jurídicos dos quais se originam, NÃO AS 
NORMAS, mas as RELAÇÕES OBRIGACIONAIS; ou seja, qual a realidade que faz 
brotar a obrigação e lhe concede concretude material. 
 Fontes obrigacionais 
Há uma enorme diversidade de posicionamentos na sistematização da classificação das 
fontes das obrigações, todavia se pode dizer que parte significativa da doutrina entende 
como fontes das obrigações: 1ª – A LEI, que estabelece obrigação para o indivíduo, em 
face de comportamento seu, independentemente de manifestação volitiva; 2ª – A 
VONTADE HUMANA consubstanciada na ação ou omissão, espontânea, originária do 
querer do agente, efetuada na conformidade do ordenamento jurídico e 3ª – O ATO 
ILÍCITO consistente no comportamento humano voluntário, contrário ao direito, 
causador de prejuízo de ordem material ou moral. 
1) A LEI – Na docência de Silvio Venosa (com ele concordando Silvio Rodrigues/ 
Orlando Gomes/ Maria Helena Diniz), a lei é sempre fonte imediata das 
obrigações. Não pode existir obrigação sem que a lei, ou em síntese, o 
ordenamento jurídico a ampare. Todas as demais figuras que podem dar origem a 
uma obrigação são fontes mediatas. São na realidade fatos, atos e negócios jurídicos 
que dão margem ao surgimento de obrigações. 
 
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2) A VONTADE HUMANA – Frutos da vontade humana, são fontes mediatas de 
obrigações os atos jurídicos negociais (dentre os quais se encontram o contrato), 
as declarações unilaterais de vontade (tais como o testamento e a promessa de 
recompensa), e os atos jurídicos não negociais (derivados do simples 
comportamento humano, que produzem efeitos na órbita do direito, sendo capaz 
de gerar obrigações, como a situação fática de vizinhança, da qual decorre uma série 
de restrições legais impostas pela lei). 
3) O ATO ILÍCITO – Como dito acima, decorrente de um comportamento humano 
voluntário, contrário ao direito, causador de prejuízos de ordem moral e/ou 
material, vincula pessoalmente o agente à vítima, até que este cumpra a sua 
obrigação de indenizar. 
Anexo ao ato ilícito está o ABUSO DE DIREITO manifesto pelo exercício 
manifestamente excessivo de um direito, por seu titular, ultrapassando os limites 
econômicos, sociais, da boa fé ou dos bons costumes – art. 187 CC. 
São exemplos de abuso de direito, a recusa em contratar após uma das partes efetuar 
gastos nesse sentido e o uso anormal da propriedade, que causa danos a vizinhos. 
Em sentido contrário, MARCELO JUNQUEIRA CALIXTO preleciona que parece ser 
mais certo a respeito do tema a consideração de sua pouca importância prática, não 
sendo perfeitamente justificado o intenso debate doutrinário que o caracteriza, pois é certo 
que as obrigações podem nascer de qualquer fato que implique consequencias 
jurídicas (fatos jurídicos, atos jurídicos, negócios jurídicos e atos ilícitos), o que impede 
uma sistematização apropriada. 
OBRIGAÇÕES SOB O ENFOQUE CIVIL-CONSTITUCIONAL 
O ser humano é o protagonista do ordenamento jurídico e será tutelado por direitos 
fundamentais. 
A sociedade deve agir de forma a proporcionar proteção e amparo a cada ser humano. 
 
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As relações obrigacionais devem ser examinadas por uma perspectiva humanista, voltada à 
tutela das situações existenciais e da dignidade humana – isso quer dizer que para além de 
uma prestação a ser cumprida pelo devedor em favor de um credor, o tema civil-
constitucional impõe a existência de deveres anexos acrescidos à obrigação pela via do 
princípio da boa fé objetiva, que significa um modelo de conduta intersubjetiva leal e 
honesta, que exige das partes uma forma de agir na qual cada parceiro visualize no outro 
um titular de direitos fundamentais. 
Esse padrão de conduta ao qual todos devemos ajustar nossos comportamentos incidirá 
ANTES, DURANTE E DEPOIS da existência da própria prestação (art. 422 CC), pois a 
confiança é a base de toda e qualquer relação humana. 
De igual modo, se a boa fé é capaz de ampliar a esfera da relação obrigacional, também é 
capaz de retirar dela toda e qualquer forma de conduta ilegítima e excessiva que seja capaz 
de sacrificar direitos fundamentais (art. 187 CC). 
Isso significa que o exercício de um direito subjetivo ou potestativo que ofenda as legitimas 
expectativas de confiança do parceiro contratual, e seja considerado como desproporcional 
em face das exigências éticas do sistema, será fulminado por um juízo de antijuridicidade 
material, posto contrário aos fundamentos valorativos do ordenamento. 
Nesse sentido, a autonomia da vontade (autonomia privada) não pode ser analisada 
separadamente da boa fé objetiva, pois é somente a partir daí que se pode chegar ao 
satisfatório adimplemento da obrigação. 
Associado à boa fé está o princípio da função social segundo o qual todo direito subjetivo 
deve ser exercitado de maneira que a satisfação dos interesses individuais não propicie a 
desgraça alheia (p.e. a impenhorabilidade do bem de família, a impenhorabilidade do 
salário, a impenhorabilidade de saldo de caderneta de poupança, nos limites da lei, a 
prescrição e a decadência, entre muitos outros institutos). 
Tais conceitos são sobremodo relevantes, ante a constatação de que a obrigação é um fato 
jurídico que repercute sobre a sociedade. 
 
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Ora, a boa fé e a função social dos contratos são princípios obrigacionais – e não 
meramente contratuais – que relativizam a autonomia privada, com o objetivo NÃO DE 
REDUZÍ-LA, AS SIM VALORIZÁ-LA, no sentido de garantir que a prestação seja a mais 
proveitosa ao credor e a menos sacrificante ao devedor e à sociedade. 
Boa fé e função social são CLÁUSULAS GERAIS, normas de conteúdo intencionalmente 
vago e impreciso que serão concretizadas pelo princípio da solidariedade (art. 3º, I, CF). A 
solidariedade é a progenitora da boa fé e da função social, e somente alcança as relações 
obrigacionais por seus intermédios. 
As dimensões de direitos fundamentais que foram lentamente construídas nos últimos 
duzentos anos, através dos sonhos do revolucionário francês (liberdade, igualdade e 
solidariedade) acabaram por refletir nas relações privadas. O equilíbrio entre liberdade, 
igualdade formal e solidariedade, na órbita das obrigações, exige que o legislador e o 
JULGADOR tenham sabedoria ao harmonizar as relações de crédito SEM QUE A 
EXCESSIVA LIBERDADE ANIQUILE A SOLIEDARIEDADE, E SEM QUE A 
EXCESSIVA SOLIEDARIEDADE DESTRUA A LIBERDADE CONTRATUAL – 
protegendo o eu (liberdade) sem que se descuide do nós (solidariedade). 
Ante o exposto pode-se concluir que qualquer sociedade somente se afirma em 
cooperação, que pode ser traduzida pela boa fé e pela função social no governo dos 
negócios jurídicos, para a tutela avançada e privilegiada da pessoa humana, em sua esfera 
existencial. As relações patrimoniais servem somente para assegurar a tutela da própria 
pessoa humana.

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