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COSTA E SILVA. Um Rio Chamado Atlãntico

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COSTA E SILVA, Alberto da. Ser Africano no Brasil dos Séculos XVIII e XIX. In: ______. UM RIO CHAMADO ATLÂNTICO: A África no Brasil e o Brasil na África.
O autor inicia mostrando como era comum no brasil destes séculos se encontrarem negros, nas mais variadas situações: escravos, libertos, fugitivos, etc. e como os negros se viam familiarizados com a paisagem, não só pelo compartilhamento do clima como pela circulação de espécies vegetais de um continente a outro e vice-versa.
	Além da grande presença já existente de negros no Brasil, o país continuamente trazia mais mão-de-obra negra para esta terra, já que apenas a natalidade não supria as necessidades econômicas de trabalho servil. Por isso, o negro que aqui se “acomodava” não absorvia de todo a cultura dos brancos, mas reforçava suas raízes africanas a cada chegada de pessoas de sua região, a cada contato com suas origens vindas da África, por mais que existissem inúmeras tribos de inúmeras denominações no continente africano, já que, realmente, o número de importações de escravos era gigantesco, de cada canto da África.
	Por isso mesmo, havia a possibilidade de acontecerem as subdivisões por etnias que aqui ocorriam. Num canto ficavam os de uma origem, noutro canto, os de outra origem. E, interessante, as identidades adotadas eram as designadas aos negros aqui, e eram as identidades recebidas dos brancos que os africanos adotavam, tentando refazer, ao menos parcialmente, “como podiam, os liames sociais violentamente partidos”.
	E as notícias das terras natais iam e vinham com facilidade, e chegavam a seus destinatários escravizados no Brasil, ou aos que restaram da tribo na África, por meio dos diversos africanos que percorriam a rota Brasil-África-Brasil, por diversos motivos. Muitos marinheiros negros trabalhavam no tráfico de escravos, a maioria africana de nascimento. E muitos escravos acompanhavam seus amos em expedições à África. Muitos ex-escravos que se tornaram donos e sócios iam à África adquirir cativos.
	A facilidade de comunicação era tamanha que chamou a atenção até de autoridades, que culpavam o intenso fluxo de contatos entre Brasil e África por trazer influências das guerras travadas no continente africano, para revoltas escravas do Brasil.
	Durante os três séculos da colonização do Brasil, até o século XIX, não parou de crescer o número de negros e mulatos. Os recenseamentos do fim do século XIX mostravam um grande número de negros, mas ainda um número razoável de brancos, um pouco menos da metade. Porém, o autor questiona: “Quantos não seriam mulatos claros, tidos socialmente por brancos?” e depois afirma que “o uso e abuso sexual da mulher escrava geraram no Brasil um enorme volume de mestiços, a maioria da população do país no século XIX.” Tudo isso, além da recente leva de imigração europeia, que se iniciava no Brasil e aumentaria no século XX.
	A seguir o autor lista os diversos meios de um escravo adquirir sua liberdade no Brasil. Um que é bastante característico da cultura de uma parte da África é o esusu iorubano, que consiste numa espécie de ajuda coletiva, na qual um grupo recolhia uma pequena quantia em dinheiro de seus membros para uma “poupança”, que serviria mais tarde para libertar um deles. O liberto teria ainda o compromisso de continuar ajudando o esusu. Outra forma muito comum no Brasil era o presente da liberdade dada como gratidão de um senhor por um gesto de um escravo, que salvara sua vida ou que lutasse em seu lugar ou no lugar de um de seus filhos na guerra, por exemplo, ou para uma escrava que lhe gerasse um filho.
	Depois de conquistada a liberdade, o escravo teria diante de si uma escolha, permanecer no Brasil ou retornar à África. No Brasil ele não teria a condição de cidadão, pois só quem era nascido livre no país o tinha. E na África não seria mais considerado africano na maioria dos casos, mas brasileiro. Muitos retornaram à África, e muitos ficaram no caminho intermediário: trabalhavam como comerciantes; tripulantes de navios negreiros; etc. As famílias também se dividiam. Para comerciar, um irmão ficava no Brasil e outro voltava ao continente africano.
	Existiam também negros que viviam no Brasil e não eram escravos nem libertos. Eram poucos, mas estavam aqui para vender produtos vindos da África, como tecidos e especiarias, para a enorme comunidade africana do Brasil; e, filhos de reis e chefes africanos que vinham para o Brasil estudar.
	Vinham para o Brasil também, tanto livres quanto escravos, exilados políticos da África. Alguns sofriam como quaisquer outros escravos em algum engenho, e outros conseguiam ter uma vida bastante luxuosa aqui no Brasil. (p. 162) “Em muitas partes, no seio da escravaria, reis e grandes chefes viveram e sofreram em segredo. Embora escravos, eles continuaram muitas vezes a receber o respeito e as homenagens de seus súditos também no cativeiro”. Prova disso são as festas negras como o maracatu, que festeja um “rei”. Ora, o rei é simbólico, mas podia muito bem ter sua origem numa homenagem a um rei verdadeiro vindo escravizado da África e aqui continuando seu reino sem os senhores perceberem.
	Como o maracatu, muitas outras festas populares, algumas delas apropriadas do catolicismo, foram utilizadas pelos escravos como reduto de resistência. 
(p. 163)
“O africano justapôs ou superpôs as suas formas culturais às que provinham da Europa. Na música, nas danças, na culinária, na casa e no arruado dos bairros populares. Mas também se apropriou, sem em quase nada modifica-las, de algumas dessas formas europeias.”
	“O mais comum, porém, foi a mescla dos valores africanos com os europeus e ameríndios, na reorganização da vida familiar, no compadrio e até na roupa.”
	“Dessas justaposições, recriações, somas e misturas, há evidências por todo lado. Nas urbes brasileiras, a cidade africana se incrusta na europeia.”
	Os negros, sobretudo os escravos, civilizaram o Brasil. Isto no sentido de que eles não deram apenas seu sofrimento e força de trabalho, mas a criatividade para se apropriar culturalmente de uma terra, tanto doando quanto recebendo valores culturais, tendo assim “papel enorme e decisivo [...] na construção do Brasil”.

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