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* MALANDRAGEM E "JEITINHO BRASILEIRO" Profº Eduardo Fonseca * Qual a nossa atitude para com e diante de uma lei universal que teoricamente deve valer para todos? Como procedemos diante de uma norma geral, se fomos criados numa casa onde, desde a mais tenra idade, aprendemos que há sempre um modo de satisfazer nossas vontades e desejos, mesmo que isso vá de encontro às normas do bem senso e da coletividade? * Dilema brasileiro: cumprimento das leis universais (indivíduo) vs. manobra utilizada para burlar as leis e as normas procurando atender a uma “necessidade” pessoal (pessoa); “(...) uma trágica oscilação entre o esqueleto nacional feito de leis universais cujo sujeito era o indivíduo e situações onde cada qual se salvava e se despachava como podia, utilizando para isso de seu sistema de relações sociais” (Da'Matta, p. 95); * Acomodar um problema pessoal (atraso, descumprimento das normas e regras etc.) com as exigências das leis (pessoal ↔ impessoal); Temos “modos de navegação” social que são traços da cultura brasileira, isto é, são características comuns dos brasileiros: O jeitinho brasileiro e a malandragem “Você sabe com quem você está falando?” * De acordo com Barbosa (1992): “O jeitinho é sempre uma forma especial de se resolver algum problema ou situação difícil ou proibida; ou uma solução criativa para alguma emergência, seja sob a forma de burla a alguma regra ou norma pré-estabelecida, seja sob a forma de conciliação, esperteza ou habilidade” (p. 11) * Para Barbosa (1992) o jeitinho: Expediente ambíguo. Situa-se entre o fazer considerado honesto e positivamente caracterizado e a corrupção desonesta, percebida de forma negativa; Instituição nem legal, nem ilegal, mas paralegal; * Jeitinho brasileiro é uma forma criativa, uma improvisação, criando espaços pessoais em domínios impessoais; Processo individualizante; baseia-se, para a sua eficácia, na identidade pessoal do indivíduo; Não é uma forma de ação social planejada; surge e é utilizada a partir da situação; * JEITINHO, FAVOR E CORRUPÇÃO Jeitinho Envolve sempre transgressões de normas e regras. Ocorre, principalmente, entre pessoas desconhecidas; A relação entre os envolvidos é igualitária. É necessário criar intimidade, familiaridade e igualdade entre os envolvidos; Envolve uma pequena vantagem material para os envolvidos (cervejinha, cafezinho, cigarrinho etc); * Jeitinho É utilizado numa situação de emergência, diante de um imprevisto ou uma proibição; Instaura-se uma forma de reciprocidade indireta e difusa; * Favor Dificilmente envolve transgressões de normas e regras. Ocorre entre pessoas conhecidas: parentes, amigos, vizinhos, colegas de trabalho etc; A relação é hierárquica, isto é, o credor fica numa posição de superioridade em relação a devedor; Instaura-se uma relação de reciprocidade direta entre os envolvidos. Quem recebe o favor é sempre devedor de quem o fez; * Corrupção Envolve transgressões de normas e regras. Ocorre entre pessoas conhecidas: parentes, amigos, colegas de trabalho etc; Envolve uma enorme vantagem material para os envolvidos: desvios de verbas para os paraísos fiscais, lavagem de dinheiro, grandes fraudes etc; Instaura-se uma relação de reciprocidade direta entre os envolvidos; * IDIOMAS DO JEITINHO A forma de abordar é fundamental para o para o envolvimento e o estabelecimento de uma relação positiva: saber pedir, saber argumentar etc; As pessoas envolvidas: Mulher solicitando um jeitinho a outra mulher: (+) competição e (–) cumplicidade * As pessoas envolvidas: Homem solicitando um jeitinho a outro homem: (–) competição e (+) cumplicidade Homem solicitando um jeitinho a uma mulher e vice-e-versa: charme, paquera e sedução; * TÉCNICAS DO JEITINHO Revelar a necessidade pessoal de quem solicita o jeitinho (urgência); Envolver emocionalmente quem pode conceder o jeitinho (apelo); Compartilhar os problemas pessoais do indivíduo que solicita com quem pode conceder o jeitinho; * MALANDRAGEM O malandro seria o profissional do jeitinho e da arte de sobreviver nas situações difíceis; Sobrevive sem trabalhar, utilizando “expedientes”, “contos-de-vigário” e outros artifícios pessoais para tirar proveito material das situações; * MALANDROS NO IMAGINÁRIO SOCIAL BRASILEIRO Macunaíma (herói sem caráter); Zé Carioca (1940 - Walt Disney); Malandro (sambista e carioca); * “SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?” Ocorre uma medição de forças entre o agente da lei e a pessoa que transgride a lei. Busca-se uma hierarquização das autoridades envolvidas na disputa; Tem-se um impasse autoritário: Não pode o não pode!; * Mediação pessoal entre a lei, a situação onde ela deveria aplicar-se e as pessoas nela implicadas. Tornamos a lei que é impessoal em algo pessoal. Fazemos gradações e hierarquizações na aplicação das leis; "Sustento que é precisamente essa possibilidade de gradação que permite a interferência das relações pessoais com a lei universal, dando-lhe – em cada caso – uma espécie de curvatura específica que impede sua aplicabilidade universal (...)” (p. 98); * 1. No Brasil, temos malandragem em nossas organizações? Nas organizações prevalecem as relações pessoais ou mérito individual (eficiência, produtividade, competência)? 2. Que valor atribuímos ao desempenho individual (mérito) e as relações pessoais (amizade, parentesco, apadrinhamento)? * 3. As relações pessoais são importantes nos processos de admissão, promoção, avaliação e demissão? 4. Em quais situações a sedução e a sensualidade são utilizadas nas organizações brasileiras? 5. O jeitinho é uma manobra utilizada nas organizações brasileiras? Em quais situações essa manobra é acionada? O que existe de positivo e negativo no jeitinho utilizado nas organizações brasileiras? * Referências Bibliográficas BARBOSA, Lívia. “Navegando em Águas Brasileiras: O Mapa Social do Jeitinho”. In: O Jeitinho Brasileiro. A arte de ser mais igual que os outros. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1992. DA’MATTA, Roberto. “O Modo de Navegação Social: a malandragem e o ‘jeitinho’ ”. In: O Que Faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1989.
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