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Aula 1 - O Tempo de Mercúrio e o Tempo de Vulcano

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Cont. Met. e Prát. no Ensino de História e Geografia
Aula 1 – O Tempo de Mercúrio e o Tempo de Vulcano
Objetivos da aula: 1. Identificar as principais correntes de pensamento da Geografia; 2. Reconhecer a importância da Geografia Crítica para o entendimento do Espaço/Sociedade em que vivemos; 3. Relacionar os diferentes métodos de ensino da História com as linhas de pensamento que nortearam a matéria ao longo dos tempos; 4. Verificar a importância das escolas de Annalis e do Marxismo para uma reflexão histórica mais completa. 
O Pensamento Positivista
O Positivismo foi uma doutrina que englobou tanto perspectivas filosóficas como científicas do século XIX. Surgiu com o desenvolvimento do iluminismo, das crises social e moral do fim da Idade Média e do nascimento da sociedade industrial. 
O Positivismo pregava a redução dos fenômenos a um conteúdo físico e a um encadeamento, que faz as ciências interagirem ao redor desse conteúdo físico, fragmentando-o por seus dados em diferentes campos e métodos específicos. 
Tudo isso tinha como meta obter resultados claros, objetivos e completamente corretos. 
Ciência - Defendia a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro. Assim sendo, desconsiderava todas as outras formas do conhecimento humano que não podiam ser comprovadas cientificamente. 
Crença - Tudo aquilo que não pudesse ser provado pela ciência era considerado como pertencente ao domínio teológico-metafísico caracterizado por crendices e vãs superstições. 
Os seguidores desse movimento acreditavam num ideal de neutralidade, isto é, na separação entre o pesquisador/autor e sua obra. Para os Positivistas, o progresso da humanidade dependia única e exclusivamente dos avanços científicos, único meio capaz de transformar a sociedade e o planeta Terra. Augusto Comte, autor do movimento, afirmava que o homem passou  por três estágios em suas concepções, isto é, na forma de conceber as suas ideias e a realidade: 
Teológico - o ser humano explica a realidade apelando para entidades supranaturais (os "deuses"), buscando responder a questões como "de onde viemos?" e "para onde vamos?". 
Metafísico - é uma espécie de meio-termo entre a teologia e a positividade. No lugar dos deuses, há entidades abstratas para explicar a realidade: o Éter*, "o Povo", "o Mercado financeiro" etc. Continua-se a procurar responder a questões como "de onde viemos?" e "para onde vamos?" e procurando o absoluto. * Para os antigos gregos, o éter seria a matéria que permeava o cosmos, o quinto elemento, o ar brilahnte superior, de densidade menor que a do ar, assim definido em substituição ao vácuo. 
Positivo - etapa final e definitiva, não se busca mais o "porquê" das coisas, mas sim o "como", através da descoberta e do estudo das leis naturais, ou seja, relações constantes de sucessão ou de coexistência. A imaginação subordina-se à observação e busca-se apenas pelo observável e concreto. 
O Positivismo na Geografia e na História
	Você aprendeu que a essência do Positivismo foi a redução de todos os fenômenos a um conteúdo físico, ou seja, só se tornava verdade o que pudesse ser observado. E, nisso, a Geografia acompanhou o plano referencial da época.   Deixou de ser holística (ser indivisível, não podendo ser entendida através de uma análise separada de suas diferentes partes) para se tornar uma ciência pulverizada e especializada com seus saberes fragmentados. Surgem várias “Geografias” como a geomorfologia, a biogeografia, a climatologia etc. A descrição, a enumeração e a classificação dos fatos referentes ao espaço constituem o seu método.
	Os homens passam a ser estudados na Geografia Humana, através do tema população pelos dados quantitativos de crescimento, distribuição, expectativa de vida, natalidade e mortalidade. Mas, o mais grave, é que todas essas “Geografias” não se interrelacionavam. No que concerne a Geografia dos professores (a que era ensinada) apresentava um conhecimento meramente informativo, com uma coleção de dados quantitativos que exigiam muito mais a memorização do que a análise. Daí a velha fala de que “a Geografia é pura decoreba”.
	Recursos Naturais e Produção. População. Vegetação – Hidrografia. Clima – relevo. Dados Políticos. Muitos autores classificaram essa forma de ensinar como um sacrifício para os alunos, pois exigia a retenção de muitas informações, que na maioria das vezes não possuía significado para eles. O programa usado era formado das famosas “gavetinhas”, ou seja, saberes que se bastavam por si só aplicados aos estados, países e continentes: 
	Quanto à História, poderíamos iniciar pela expressão que retrata muito bem o seu momento positivista: “História não é arte, mas uma ciência pura”. Para os positivistas, a História é formada pela cronologia e o que esta realmente significa em si, ou seja, a busca incessante de fatos históricos e sua comprovação empírica. Utilizavam na pesquisa/análise o máximo de documentos possíveis para obter a totalidade sobre os fatos e não deixar nenhuma margem de dúvida no que se refere à sua compreensão. A busca desses fatos deveria ser feita por mentes neutras, pois qualquer juízo de valor na pesquisa ou análise alteraria o sentido e a verdade, modificando, pois a própria História. Excluía as tensões, os conflitos e todas as manifestações da vida social que não concorressem para a ordem e funcionamento da sociedade. A abordagem positivista do ensino da História implicou numa metodologia fundamentada na aula expositiva, na qual os alunos eram ouvintes passivos e contemplativos. O sujeito da aprendizagem tornava-se então, um receptáculo que deveria registrar os conteúdos transmitidos pelo professor e reproduzi-los de modo mais fiel possível. Os conteúdos, geralmente, os “grandes acontecimentos históricos e políticos” eram apresentados como fatos prontos e acabados, não passíveis de reflexão e interpretação por parte dos alunos. A História portanto, era factual e sequencial, que em geral se iniciava na data mais remota possível até chegar aos dias de hoje. O pressuposto básico da História dessa época é que “só se entende o presente a partir dos fatos passados”. Questão para reflexão: Será que essa modalidade de ensino da Geografia e História do século XIX (Positivista) ainda é feita em pleno século XXI? 
O Pensamento Marxista
O Marxismo é o conjunto de ideias filosóficas, econômicas, políticas e sociais elaboradas primariamente por Karl Marx e Friedrich Engels e desenvolvidas mais tarde por outros seguidores. Baseado na concepção do materialismo histórico (Doutrina sociofilosófica que considera as formas de produção econômica como os únicos fatores realmente determinantes do desenvolvimento histórico social.) e da dialética (É um método de diálogo cujo foco é contraposição de ideias que leva a outras ideias. Para a dialética, as coisas não são analisadas na quantidade de objetos fixos, mas em movimento: Nenhuma coisa está “acabada”, encontrando-se sempre em vias de se transformar, desenvolver; o fim de um processo é sempre o começo de outro) da História, interpreta a vida social conforme a dinâmica da base produtiva (o trabalho) das sociedades e das lutas de classes daí consequentes. O marxismo compreende o homem como um ser social histórico  que possui a capacidade de trabalhar e desenvolver a produtividade pela sua atividade, o que o diferencia  dos outros animais e possibilita o progresso de sua emancipação. Fruto de décadas de colaboração entre Karl Marx e Friedrich Engels, o marxismo influenciou os mais diversos setores da atividade humana ao longo do século XX, desde a política e a prática sindical até a análise e interpretação de fatos sociais, morais, artísticos, históricos e econômicos. Questão para reflexão: O trabalho é um conceito muito importante na teoria marxista. Explique as razões.
O Marxismo na Geografia e na História
	A Geografia sob a ótica do Marxismo, também chamada de Geografia Crítica, pode ser bem entendida pela afirmativa de Yves Lacoste: “É necessáriopensar o espaço, para saber nele se organizar, para saber nele combater”. Yves Lacoste é um geógrafo e geopolítico francês. Em março de 1976, escreveu: “A Geografia – Isso serve, em Primeiro Lugar, para Fazer a Guerra”. A partir dos anos 1980, Yves Lacoste e os membros da revista Heródote se dedicaram aos problemas de geopolíticas internas e externas, em escala regional, nacional, continental e internacional. 
	A proposta é construir uma visão integrada do espaço, numa perspectiva popular, e socializar este saber, pois ele possui fundamental valor estratégico nos embates políticos. Essa corrente propõe romper com a ideia de neutralidade científica para fazer da Geografia uma Ciência apta a elaborar uma crítica radical à sociedade capitalista pelo estudo do espaço e das formas de apropriação da natureza. O marxismo traz a seguinte questão aos geógrafos: ou a Geografia é uma ciência da sociedade ou uma ciência da natureza. Nesse sentido, escolhe-se a Geografia como ciência social (da sociedade) e os fenômenos da natureza são destacados enquanto recursos para a vida humana. Para tal, enfatiza a necessidade de engajamento político dos geógrafos e defende a diminuição das disparidades socioeconômicas e regionais.
Quanto ao ensino, a Geografia Crítica surge, no Brasil, na década de 1980 em contraposição às escolas anteriores, trazendo diversas inovações, como o uso do método materialista histórico dialético, a análise humana e a crítica social, de modo a promover, no ensino, a criticidade do educando. Estabelece uma educação que estimule a inteligência e o espírito crítico, ao contrário da memorização de informações. Enfim, não se trata de ensinar fatos, mas de levantar questões. O ensino, na perspectiva de uma geografia crítica, não se localiza no professor ou na ciência a ser "ensinada" ou vulgarizada, e sim no real, no meio em que aluno e professor estão situados e que é fruto da práxis coletiva dos grupos sociais. Na filosofia marxista, práxis, é o conjunto de atividades que visam a transformar o mundo, e particularmente, os meios e as realizações de produção, sobre a qual repousam as estruturas sociais. 
A teoria marxista da História compreende entre várias teses a teoria da História Materialista, (materialismo histórico), que foi uma proposição efetuada por Marx e que institui uma abordagem economicista para a história da Humanidade. A historiografia marxista ofereceu uma perspectiva importante para a compreensão do passado.  Esta mostrou a importância das massas nos feitos históricos e mostrou que grandiosos homens hoje homenageados não fizeram a história. Indicou que todos os fatos históricos foram motivados pela luta entre as classes existentes na sociedade. As classes dominantes exploravam as classes menos favorecidas, obtendo assim ganhos econômicos. Por isso, elas desejavam manter o poder, enquanto as classes que realmente produziam a riqueza, não usufruindo dela, desejavam mudar a situação. Segundo a visão marxista, tudo que aconteceu na história da humanidade foi motivado, direta ou indiretamente, pelo dinheiro ou busca de privilégios de um grupo minoritário sobre os demais, majoritários sozinhos. 
O ensino da História mediado pela concepção histórico-social possibilita ao aluno situar e entender a sociedade na época atual, apreendendo o seu movimento, a sua historicidade (colocar em perspectiva temporal e espacial as ações humanas que podem ser desprendidas da análise dos documentos). Relacionando com questões do presente, professores e alunos procuram entender o passado e outras realidades em espaços diferentes sob a luz da crítica da nossa sociedade. Só quando entendemos criticamente a sociedade burguesa, isto é, quando a entendemos como história, é que podemos compreender as sociedades anteriores, o passado. Questão para reflexão: Como a poesia de Bertolt Brecht, “Perguntas de um trabalhador que lê”, confirma os princípios da História marxista?
Síntese da aula: 
Compreendeu a importância do Positivismo como corrente de pensamento que norteou o referencial teórico tanto da Geografia quanto da História no séc. XIX; 
Analisou a forma como a Geografia e a História eram entendidas e ensinadas sob a égide do Positivismo; 
Aprendeu os principais postulados do Marxismo; 
Relacionou a forma de ensino e aprendizagem de hoje da Geografia e da História com os fundamentos marxistas.

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