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Da mora e do inadimplemento

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Da mora do devedor e do inadimplemento absoluto
Publicado por Fábio Vieira Figueiredo - 1 ano atrás
A mora, em linhas gerais, é o retardamento voluntário do cumprimento da obrigação, mas, também pode ocorrer quando o cumprimento é inadequado.
Temos que a mora e o inadimplemento absoluto são espécies do gênero inadimplemento, mas não se confundem.
Agostinho Alvim (Da Inexecução das obrigações e suas conseqüências. Pp. 37-122 – leitura indispensável) esclarece a distinção entre os dois institutos. Realça que, na doutrina corrente, assim se distingue a mora do inadimplemento absoluto:
“Há inadimplemento absoluto quando o devedor não mais pode cumprir a obrigação; há mora quando a possibilidade ainda persiste”.
Contudo, como realça o professor, parece que no mais das vezes incorremos em dois equívocos: o primeiro consiste em que, permanecendo o devedor em mora por muito tempo, tal situação leve a pensar em inadimplemento absoluto, o que implica formular o conceito errôneo de que o inadimplemento é a mora prolongada. O segundo refere-se ao fato de que, se conceituarmos a mora como o ânimo manifesto de não cumprir a obrigação, estaremos equiparando a mora ao inadimplemento absoluto e não teremos, portanto, qualquer distinção dos institutos.
O que distingue, assim, a mora do inadimplemento absoluto, é um critério de ordem econômica. O caráter específico da mora e do inadimplemento absoluto pode ser obtido a partir da resposta, em cada relação obrigacional, à seguinte pergunta: É possível, ainda, receber a prestação? Ou: A prestação ainda é útil ao credor?
Ora, a mora pressupõe possibilidade de execução ulterior, enquanto o inadimplemento absoluto pressupõe sua impossibilidade. A possibilidade de adimplemento deve ser examinada do ponto de vista do credor.
Assim, ocorre a mora enquanto ainda é possível ao credor receber a prestação, ao passo que se opera o inadimplemento absoluto quando o recebimento da prestação não é mais possível. Por exemplo: se Silvio contrata Maria para fazer os doces que serão servidos na festa de seu casamento e a entrega fica avençada para dois dias antes do evento, ainda que Maria não entregue na data aprazada, ainda assim, poderá fazê-lo até a data do casamento (posto estar em mora); passada essa data, haverá inadimplemento absoluto, eis que não haverá mais utilidade na entrega.
Há que se referir ainda que o inadimplemento absoluto poderá ser total ou parcial. Se no exemplo acima referido Maria entrega, antes da data do casamento, quantidade de doces inferior à contratada, opera-se inadimplemento absoluto parcial da obrigação. Perceba que na fração inadimplida não há mais como o credor ver satisfeito o seu interesse (inadimplemento absoluto), mas a fração paga representa um pagamento parcial e, portanto, temos um inadimplemento absoluto parcial.
O art. 394, CC, trata da mora do credor e da mora do devedor, posto que coloca em situação de mora: a) o devedor que não efetuar o pagamento e b) o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.
O art. 395, CC, determina que o devedor responde pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros e atualização dos valores monetários, segundo índices oficiais regularmente estabelecidos e honorários de advogado. No parágrafo único do mesmo artigo, evidencia-se a situação de inadimplemento absoluto nos casos em que a prestação, devido à mora do devedor, tornou-se inútil ao credor, podendo, portanto, a prestação ser rejeitada pelo credor com exigência de perdas e danos.
O principal efeito da mora, portanto, é tornar o devedor responsável pelos prejuízos que dela se originarem.
Como já visto, poderá acarretar a mora não só o descumprimento, mas a tentativa de cumprimento tardio ou em lugar ou modos não previstos entre as partes, pelo que o devedor responderá. E, ainda que o credor aceite receber a coisa, não se pode presumir que, por isso, renunciou aos efeitos da mora. Nesse caso, pode o credor aceitar receber a coisa e, ainda assim, será credor, perante o solvens, dos prejuízos que sofreu pela mora.
Somente se dá a mora do devedor se houver fato que lhe seja imputável (art. 396, CC). Desse modo, a culpa é elemento ínsito à mora solvendi (mora do devedor).
Sempre que aplicáveis, no caso concreto, as hipóteses de não-incidência da culpa, não haverá mora para o devedor, exceto se o caso fortuito ou a força maior se deram depois da mora já configurada (art. 399, CC). Vamos citar um exemplo: Se Silvio deve determinado cavalo a Marcos e tem data assinalada para a entrega, mas deixa de fazê-lo, ainda que posteriormente um raio caia na cabeça do cavalo e o leve a perecer, não poderá Silvio alegar a não-incidência de sua culpa, pois a hipótese de não-incidência se deu depois de constituída a mora.
Além disso, para eliminar os efeitos da mora, basta que o devedor proceda à oferta regular, que, por si só, acarreta a inversão das situações, salvo casos excepcionais. Em regra, portanto, com a oferta tem-se mora accipiendi (do credor) e não mais solvendi (do devedor).
Nesse sentido, ocorrendo a mora accipiendi, o devedor não mais responde pela conservação da coisa, salvo dolo de sua parte: fica o credor obrigado a ressarcir as despesas empregadas na conservação da coisa e sujeito a recebê-la pela estimativa mais favorável ao devedor (art. 400, CC). Por conseguinte, é óbvio que não estará em mora aquele que fez tudo que lhe competia para pagar e só não conseguiu realizar o pagamento em virtude da mora accipiendi (do obstáculo que o próprio credor veio a criar).

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