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Shopology Shopology é a ciência que estuda o comportamento e a atitude das pes-soas enquanto consumidores. Mais precisamente, avalia os processos que transformam consumidores em shoppers e analisa, em profundi-dade, os processos de conversão de shopper a comprador. Shopper é uma palavra do vocabulário comum da língua inglesa, sem tradução para o português, e signifi ca um consumidor envolvido num proces- so de compra – Ele é mais que um consumidor, no sentido geral da palavra, mas ainda não é um com- prador, no sentido estrito da ação. O CONSUMIDOR NO PONTO-DE-VENDA SH GYPL Todos nós somos consumidores. Mas nem todos os consumidores são shoppers de todos os produtos, serviços e marcas oferecidas no mercado. Bem como, definitiva- mente, não freqüentamos todos os pontos-de-vendas disponíveis em nosso caminho, ou mesmo, ao nos- so alcance. Atualmente, para com- preender os processos de escolha e os estímulos que determinam as preferências dos shoppers por produtos, serviços e marcas, tem- se que incluir, obrigatoriamente, onde, como e quando cada shopper disparará o processo de compras para satisfazer suas necessidades e desejos de consumo. Como consumidores, nossas neces- sidades e desejos vêm sofrendo rápidas e constantes transfor- mações, principalmente neste século, caracterizado por uma so- ciedade consumista e globalizada. Há muito tempo, ir às compras deixou de ser uma ação básica de suprimentos e evoluiu para uma atividade lúdica e de entreteni- mento na escala das necessidades e atividades humanas, através da qual também são aliviadas ansie- dades, frustrações, inseguranças e compulsões. José Augusto P. Domingues 75 MARÇO/ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M 65% O SEXO FEMININO É A MAIORIA DOS SHOPPERS DE PRODUTOS DE CONSUMO. tanto. Na shopology, entender espe- cifi camente quem é o consumidor e o perfi l do shopper é fator chave de sucesso. Parodiando o poeta portu- guês – “Segmentar é preciso”. É preciso, também, estar familia- rizado com outras tendências como a evolução tecnológica, o aumento da longevidade humana, o público jovem, a inclusão social das classes menos favorecidas e o crescimento econômico de regiões e países emergentes, principalmente o bloco conhecido como BRIC (Brasil, Rús- sia, Índia e China). O radar do consumo aponta para o chamado dinheiro novo. Estudos demonstram que os gastos com produtos e serviços estão se tor- nando cada vez mais discricionários e imediatos – “Eu quero... eu pre- ciso... tem de ser do meu jeito... e tem de ser agora...”. Cada con- sumidor e cada shopper têm uma escala própria de valores para cada unidade monetária e cada unidade O poder feminino e o novo papel da mulher na sociedade modifi ca- ram, e continuam alterando pro- fundamente, o papel masculino e a própria constituição tradicional da família, impactando fortemente no comportamento de compra de todos: homens, mulheres, crianças e jovens. Em todo o mundo, cerca de 65% dos shoppers de produtos de consumo são mulheres. E mulhe- res exigem soluções diferentes em relação aos homens no que se refere a produtos, serviços, marcas e am- bientes de vendas. Agora, papai também vai às com- pras, mesmo que ainda não esteja tão bem treinado como a mamãe e não se sinta tão à vontade para PONTOS-DE-VENDAS REAIS E VIRTUAIS PROLIFERAM, ESTIMU- LANDO A INTERAÇÃO COM PRODUTOS, SERVIÇOS E MARCAS, O QUE TORNA TUDO E TODOS CONCORRENTES ENTRE SI. Shopology de tempo a ser despendida em seus itens de consumo, seja uma barra de cereal, um televisor de plasma, um automóvel, um apartamento, uma viagem, um banco ou uma operadora de celular. É fácil constatar que a oferta de produtos e serviços é praticamente infi nita, se comparada com a renda e a capacidade de compra, individual e familiar, das pessoas. Pontos-de- vendas reais e virtuais proliferam, es- timulando a interação com produtos, serviços e marcas, o que torna tudo e todos concorrentes entre si nesta disputa pela preferência e pela renda dos consumidores e dos shoppers. Vender passou a ser um processo ainda mais complexo e competitivo, em que não basta apenas oferecer produtos de qualidade, marcas fortes e reconhecidas. Como bem defi niu o antropólogo do varejo e criador do conceito de Experiên- cia de Compra, Paco Underhill – “nesse novo mercado, indústria e varejo pre- cisam caminhar de mãos dadas para conquistar a confi ança e a preferência dos consumidores e shoppers, seja para vender computadores, jogos eletrônicos, alimentos, bebidas, roupas e acessórios, produtos fi - nanceiros, turismo, entretenimento e até mesmo uma vida virtual pa- ralela numa tela de computador (my second life)”. Junto com as idéias de Paco Underhill nasceu uma ciência para estudar o comportamento de compra dos con- sumidores e shoppers. Desde então, avaliar os processos de interação com produtos, marcas e ambientes de ven- das e aplicar estes conhecimentos no dia-a-dia têm impactado diretamente no bottom line das empresas. Em seu livro Why we buy – The science of shopping, lançado em 1999, também editado no Brasil com o título “Vamos às compras”, Paco Underhill descreve uma série de descobertas que mudaram a vida de indústrias e varejos em boa parte do planeta. Questões como: onde começa a experiência de compra dos consumidores? – esta pergunta feita para o pessoal do McDonald’s terá uma resposta simples e direta: a 300 metros de distância, em qualquer direção, antes da porta de entrada do estacionamento e da loja – É para isto que serve o “big M” e tudo mais. A seguir, algumas de suas descobertas, que vêm fazendo com que empresas de todo o mundo reavaliem o modo de interagir com os consumidores: Avaliar, minuciosamente, o fl uxo e as trilhas percorridas pelos shoppers “ZONA DE DESCOMPRESSÃO” – espaço morto, do ponto de vista de percepção do consumidor, entre a porta e o momento em que o shopper conscientemente se conecta com a loja. EFEITO “BUTT BRUSH” – todo ser humano tem uma bolha invisível que envolve e protege seu corpo, portanto corredores estreitos ou com grande fl uxo de pessoas atrapalham a interação dos shoppers com os produtos. Sempre que alguém esbarra ou penetra nessa bolha atrapalha o processo de compra, sendo que 30 centímetros para lá ou para cá podem fazer grande diferença. “ESTACIONAMENTOS DE MARIDOS” – lugares mais tranqüilos onde os maridos possam se sentar e descontrair enquanto as esposas continuam fazendo compras. Paco Underhill recomenda estacionamento de cinco, quinze e trinta minutos, dependendo do tipo de loja. “O PREDOMÍNIO DA DIREITA” – ao circular num ponto-de-venda, intuitivamente os shoppers pre- ferem o lado direito, não só pelo fato de a maioria das pessoas serem destras, mas porque desde pequenos somos educados a cumprir certas regras no trânsito. Estes hábitos e regras de comportamento têm conseqüências no comportamento de compra que nos leva a prestar atenção em um produto que fi ca à direita mais do que um que fi ca à esquerda. “ÍNDICE DE CONVERSÃO” – indicador que mede o percentual de shoppers que se conver- tem em compradores numa determinada loja, seção, categoria de produtos ou mesmo uma marca. Mensurar os índices de atração e de conversão implica em determinar, por exemplo, de cada cem con- sumidores que estão expostos a um determinado estímulo em um ponto-de-venda, quantos olham para o estímulo, quantos param, quantos interagem e quantos compram. O índice de conversão defi ne o foco da estratégia e das táticas a serem incrementadas no ponto-de-vendas. Estes estímulos variam de uma vitrine, produto, embalagem, marca, display, comunicação, atendente e muitas outras possibilidades. 76 R E V I S TA D A E S P M – MARÇO/ABRIL DE 2007 José Augusto P. Domingues 77 MARÇO/ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M no interior de uma loja trarão conhe- cimentos sufi cientes para melhorar muito o desempenho de um ponto- de-venda, desde o layout até o aten- dimento, passando pela arquitetura, ambientação, mix de produtos, equi- pamentos, planogramas, sinalização, material de comunicação, operação e promoção. Uma revolução em termos de trade marketing. Todos esses novos conhecimentos e a forma como esses dados são captura- dos nos pontos-de-vendas, através de câmeras de vídeo, observação dirigida, compras acompanhadas e entrevistas individuais com consumidores e shop- pers, remetem para a importância da ética deste trabalho. Freqüentemente, profi ssionais de pesquisa são indaga- dos sobre questões ligadas à invasão de privacidade e da própria ética. A resposta será sempre clara e direta: profi ssionais da shopology devem res- peitar os códigos e procedimento da ICC/ESOMAR (Organização Internacio- nal Auto-reguladora para Pesquisas em Marketing e Ciências Sociais) e não devem direcionar seus projetos para avaliação do comportamento e atitudes individuais das pessoas. Em vez disso, devem focar seus estudos para o conhecimento do coletivo e correlacioná-los com perfis e segmentos de consumidores e shop- pers. Ou seja, gerar insights para profi ssionais de comunicação, mar- keting, vendas e operação ligados à industria, varejo e serviços. Uma outra grande utilidade destes indicadores é a possibilidade de para- metrização e avaliação da qualidade dos processos criativos – poder com- parar o resultado da solução “A” versus a solução “B”, na visão do próprio consumidor ou shopper. Esta realidade foi fundamental na criação do con- ceito muito utilizado atualmente pelas redes de varejo, as Flagship Stores – lojas próprias da marca, onde são introduzidas e avaliadas as evoluções e melhorias criadas para a loja. Só quando um patamar superior de desempenho é atingido nestas lojas é que as modifi cações propostas são introduzidas nas demais lojas da rede. A Shopology, que parecia ser um campo de conhecimento específi co e restrito, tem demonstrado ser um campo de trabalho abrangente, científi co e estratégico. Deve ser desempenha da por profissionais com formação acadêmica sólida e abrangente e, ao mesmo tempo, por profi ssionais com criatividade, grande interesse e muita curiosidade para a investigação mercadológica. Como diz Paco Underhill – “Esta é uma profi ssão para quem gosta de trabalhar nos fi nais de semana, quando as lojas estão cheias, de vestir roupas comuns para não ser notado e usar sapatos com sola de borracha, para andar muito pelos corredores”. ESPM A EXPERIÊNCIA DE COM- PRA DOS CONSUMI- DORES DO MCDONALD’S COMEÇA PELO “BIG M” A 300 METROS DE DIS- TÂNCIA DO ESTACIONA- MENTO DA LOJA. Fo to : d iv ul ga çã o JOSÉ AUGUSTO P. DOMINGUES Professor da ESPM
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