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Serviço Público Federal Ministério da educação Universidade Federal de Sergipe Campus Universitário “Professor Antônio Garcia Filho” Graduação em Medicina Sanni Silvino Parente Revisão: Síndrome Metabólica DEFINIÇÃO A síndrome metabólica é conhecida como uma entidade que envolve fatores de risco cardiovascular, como obesidade central, HAS, DM, dislipidemia e comportamento de risco. Estudos demostram algumas condições frequentemente associadas à SM: SOP, alcanthosis nigricans, doença hepática gordurosa não-alcoolica (DHGNA), microalbuminúria, estados pró- trombóticos, estados pró-inflamatórios, disfunção endotelial e hiperuricinemia. No Brasil é utilizado, como critério diagnóstico, o NCEP-ATP III, presente na I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica: Basta preencher 3 desses critérios para concluir o diagnóstico de SM. Recomenda-se, para os parâmetros de HAS, TGs e DM, que o uso de medicamentos para controlar os níveis desses é considerado positivo para cada um. Recomenda-se a medida da circunferência abdominal no ponto médio entre espinha ilíaca anterossuperior e rebordo costal inferior. Considerando as diferenças dos padrões corporais existentes no mundo, para mulheres com CA > 80com e homens >94cm já está indicado avaliações mais frequentes e atenção aos fatores de risco. Nas mais atuais diretrizes da ADA utiliza-se como critério para diagnóstico de DM a glicemia de jejum acima de 100mg/dl. Logo, essa mudança possivelmente afeta os critérios para SM. COMPLICAÇÕES Doença Cardiovascular: a SM é aterogênica devido à hipertrigliceridemia e baixos níveis de HLD associados ao aumento de LDL. Evidências demostram o dobro do risco para eventos cardíacos e 1,5x na mortalidade por outras causas. Indivíduos obesos e com SM tem, notadamente, mais risco CV que em comparação a obesos que não tem SM. Sempre utilizar o Score de Framinghan nesses pacientes. DM2: Discute-se que o estado de intolerância à glicose na SM causa danos como a doença DM estabelecida e, portanto, deve ser tratada como tal. DHGNA: Pode haver discreto aumento nas enzimas hepáticas; A SM cursa com maior risco da esteatose evoluir para esteto-hepatite e, a partir disso, para cirrose hepática. Alterações em eixos endócrinos: A SM assemelha-se a Síndrome de Cushing. o Eixo corticotrófico: relacionado com estado de hipercotisolismo subclínico; Relação direta entre volume adrenal e gordura visceral; A ação do cortisol nos receptores periféricos de insulina podem agravar a resistência insulínica. A maior conversão de cortisona em cortisol, pela 11B-HSD1, leva a um ciclo vicioso contribuindo para o aumento da gordura visceral; Aumento: CRF; ACTH; CORTISOL; Atividade 11B- HDS1. o Hiperatividade do SNS: mecanismo compensatório na tentativa de estabilizar o peso do corpo pelo aumento da termogênese. Esse estado leva a vasoconstrição periférica e retenção de líquidos, reduzindo o fluxo sanguíneo para a musculatura esquelética, ocasionando RI. o Eixo somatotrófico: O discreto aumento dos níveis de IGF-1 livre relaciona-se com maior incidência de câncer, SOP, aumento do volume adrenal e hiperplasia prostática, além do crescimento normal. Os baixos níveis de GH contribuem para aumentar o depósito de tecido adiposo e dos AGLs e inibir a produção de IGFBP pelo fígado. Aumento: Somatostatina e IGF-livre; Diminuição: GH; IFG-1; IGFBP. o Eixo gonadotrófico masculino: Pode se relacionar à disfunção erétil. Aumento: atividade aromatase. Diminuição: pulsos LH; SHBG; testosterona total e livre. o Eixo gonadotrófico feminino: Hiperandrogenismo secundário à ação da hiperinsulinemia nos ovários. Aumento: atividade aromatase; GnRH; LH; andrógenos; Diminuição: SHBG. PATOGENIA Existem dois tipos de adipócitos no nosso corpo e, primariamente, a SM está associada a uma desproporção na distribuição desses dois tipos de adipócitos: Grandes: presentes no TAV; menor capacidade de armazenamento de AGL; é circundado por macrófagos produtores de citocinas inflamatórias (TNF-alfa e IL-6). Pequenos: presentes no TCSC; maior capacidade de lipólise com maior armazenamento de AGL (principalmente na forma de TGs) e pouca produção de citocinas. A resistência insulínica é entendida como causadora dos distúrbios endócrinos e metabólicos que cursam na SM. Primariamente a RI leva à lipólise de adipócitos viscerais, que causam o aumento de AGL circulantes no sangue. Esses AGL’s, no fígado, levam à resistência insulínica hepática, que inicia um processo inflamatório, aumento da gliconeogênese hepática, levando a hiperglicemia e produção excessiva de VLDL e colesterol, com superprodução de TGs e baixa de HDL. Os AGL’s também atuam no músculo, inibindo o transporte de glicose medido por insulina, com o aumento de gordura no músculo. Além disso, interleucinas (TNF-alfa e IL-6) podem inibir a ativação do receptor de insulina, levando à resistência insulínica no músculo. Outro fator que corrobora com a gênese desse quadro sindrômico, são as adipocinas específicas. A resistina está associada à TAV, pressão arterial sistólica, hipertrigliceridemia e HDL baixo. A adiponectina tem relação inversa com o peso corporal, TAV, PA, hipertrigliceridemia, inflamação e RI. Esta última aumenta a oxidação de gordura no músculo e isto sugere que os baixos níveis dela diminuiriam a oxidação de lipídios, levando ao acúmulo nas células musculares. DIAGNÓSTICO CLÍNICO E AVALIAÇÃO LABORATORIAL História clínica: Buscar indícios de complicações da SM e fatores de risco. Bem como uso de medicações e história pregressa ou familiar de diabetes gestacional ou outras afecções relacionadas. Exame físico: o Medida da circunferência abdominal; o Níveis de PA: 2 medidas com paciente sentado, após 5m de repouso por consulta; o Peso e estatura para cálculo do IMC; o Exame de pele; o Exame cardiovascular; o Exame do pé diabético. Laboratoriais: o Glicemia de jejum; o HDL e TGs; Exames adicionais: o Colesterol total; o LDL: Apesar de não fazer parte dos critérios diagnósticos, frequentemente encontra-se elevado, constatando potencial aterosclerótico maior; o Creatinina; o Ácido úrico; o Microalbuminúria; o PCR; o TOTG; o O Eletrocardiograma; PREVENÇÃO PRIMÁRIA Avaliar predisposição genética, incentivar a alimentação adequada (baseia-se na dieta DASH ou dieta do mediterrâneo), atividade física (30m, durante 3 ou 4 vexes/semana; exercícios aeróbicos ou de fortalecimento muscular de leve e moderada intensidade). Além disso, deve-se avaliar o consumo de álcool e tabaco, orientar e incentivar abolição de hábitos lesivos. A preocupação é maior em países como o Brasil nos dias atuais devido ao crescente aumento de casos de obesidade, HAS e DM em crianças em idade escolar, acrescentado a isso, têm-se a constante preocupação em relação aos hábitos alimentares contemporâneos. TRATAMENTO NÃO-MEDICAMENTOSO Devem ser feitas recomendações de alimentação, exercícios físicos, hábitos de vida saudáveis em geral, diminuição de situações estressantes cotidianas e avaliação continuada dos parâmetros e fatores de risco cardiovascular, bem como prevenir complicações. RELACIONADO A ALIMENTAÇÃO O plano alimentar deve ser individualizado e prever reduçãode 5 a 10% de peso. O plano será pautado em cálculos de valor calórico total (VCT) e gasto energético total (GET). Em obesos, a dieta deve ser hipocalórica, com redução de 500 a 1000kcal do GET, com perdas ponderais entre 0,5 a 1kg/semana. Vale ressaltar que a dieta nunca poderá ser inferior a 800kcal. Recomenda-se a realização de 5 refeições diárias, três principais e dois lanches com intervalos regulares entre ela. As metas devem ser: Manutenção do balanço energético e do peso saudável (não incentivar dietas radicais ou perdas consideráveis de massa ponderal em pouco tempo, o que denunciaria hábitos não- saudáveis); Reduzir a ingestão de gorduras, incentivar a mudança para gorduras insaturadas e diminuir o consumo de gorduras trans; Aumentar a ingesta de frutas, hortaliças, leguminosas e cereais integrais; Redução da ingestão de açúcar livre e sal. Carboidratos Recomendado uso de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas. Não se encontra evidencias da recomendação de dietas com baixo índice glicêmico. Fibras Consumo de 20 a 30g/dia. Como hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas. Importante fonte de minerais, vitaminas e outros nutrientes. Gorduras Em situações como hipertigliceridemia ou baixo de HDL, aconselha aumentar a quantidade de gorduras monoinsaturadas, diminuindo a ingestão de carboidratos. Cotas de gordura inferiores a 15% do VTC pode diminuir o HDL e aumentar os níveis de glicose, insulina e TGs. Deve ser estimulado o consumo de peixe entre 2 a 3 vezes por semana, devido ao ômega-3. Vitaminas e Minerais Consumo de 2 a 4 porções de frutas (pelo menos 1 rica em vitamina C) e de 3 a 5 porções de hortaliças cozidas. Alimentos integrais devem ser preteridos. Sal de Cozinha Limitado a 6d/dia. Evitar alimentos processados e saleiros de mesa. RELACIONADO A ATIVIDADE FÍSICA É comprovado que baixo condicionamento cardiorrespiratório, pouca força muscular e sedentarismo aumentam a prevalência de SM em 3 a 4 vezes. O exercício físico proporciona uma melhora de quase todos os fatores de risco, bem como funciona como um incentivo a adução de outros hábitos benéficos, como a reeducação alimentar e o abandono do álcool, tabaco e outras drogas. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DA HAS Recomenda-se iniciar o tratamento quando níveis pressórico a partir de 140/90 mmHg ou 130/85mmHg na presença de DM. Como meta, a redução para cifras inferiores a 130/85mmHg em não diabéticos, sendo inferiores a 130/80mmHg em diabéticos. Para pacientes com proteinúria maior que 1g/24h, recomenda-se alcançar níveis inferiores a 120/75mmHg. Diuréticos É recomendado o uso de tiazídicos devido à excreção do sódio. Altas doses implicam em mais efeitos adversos, não em melhor controle. Frequente associação com IECA e BRA, minimizando a hipocalemia. IECA Recomendados para uso em diabéticos pois retardam o declínio da função renal quando nefropatia presente e redução da incidência de DM2 em geral. BRA Reconhecidos pelos efeitos nefro e cardioprotetores em DM2, bem como associação com menor incidência da doença. ANTAGONISTA DOS CANAIS DE CÁLCIO Confere efeito cardioprotetor, porém em menor grau comparado ao IECA. BETABLOQUEADORES Primeira opção quando tem-se doença coronariana. Entretanto, podem induzir efeitos metabólicos não desejáveis como aumento do peso, intolerância à glicose e aumento do risco para DM2. INIBIDORES ADRENÉRGICOS Escolhas notadamente de segunda linha, com melhores resultados quando em associação. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DA DM Vale ressaltar que ainda não há estudos comprovatórios sobre a redução da mortalidade na SM com a utilização de antidiabéticos, entretanto, essa terapêutica é importante para reduzir consequências da DM e RI. Antidiabéticos orais são indicados para reduzir a glicemia de jejum a níveis menores que 110mg/dl e pós-sobrecarga a <140mg/dl. Quando, ao iniciar o tratamento, a glicemia de jejum se encontra inferior a 150mg/dl, recomenda-se a utilização de medicamentos que não promovam aumento na secreção de insulina: metformina, rosiglitazona, pioglitasona e arcabose. Glicemia de jejum entre 150 e 270mg/dl indicam, em constatação de insulino-resistência (SM), uso de drogas anti-hiperglicemiantes, que melhoram a atuação da insulina endógena, proporcionando melhor controle metabólico e evitando, dessa forma, ganho ponderal excessivo. Quando o paciente encontra-se em um quadro de perda de peso e hiperglicemia, indica-se uso de secretagogos: sulfoniuréias e glinidas. Ao quadro de glicose de jejum normal e hemoglobina glicada elevada, utiliza-se drogas que atuem na glicemia pós-prandial: arcabose ou glinidas. Por fim, quando a insulino-resistência já está estabelecida, necessita-se entrar com insulinoterapia. Segue abaixo diagrama demostrando as associações mais indicadas para cada fase: 1) Obesidade com insuino-resistência: não aumentar a secreção de insulina; 2) Diminuição na secreção de insulina: secretagogo; 3) Progressão da perda de secreção de insulina: agentes orais + insulina de depósito (NPH) antes de dormir; 4) Insulinopenia: 2 aplicações de NPH TRATAMENTO DA DISLIPIDEMIA Pretende-se alcançar, com o tratamento, níveis de HDL >45 e TGs <150mg/dl. Salvo quando na presença de DM, que o HDL deve estar >45mg/dl. Estatinas Primeira escolha; redução da mortalidade cardiovascular. Diminuição do CT, LDL e TGS e aumento dos níveis de HDL. A doença hepática é contra-indicação absoluta. Melhores quando utilizadas em hipertrigliceridemias <150mg/dl. Fibratos Redução importante de TGs, menos acentuada de LDL e aumento do HDL. Usadas em SM com TGs >500mg/dl. As contra-indicações são doença hepática grave e insuficiência renal. Niacina Reduz TGs e LDL e é uma das drogas mais eficientes em aumentar HDL. TRATAMENTO DA OBESIDADE Medicamentoso: Sibutraminas e orlistat Obesidade (IMC>30kg/m³) ou excesso de peso (IMC entre 25 e 30kg/m³) acompanhado de comorbidades, desde que não tenha perdido 1% do peso por mês após 1 a 3 meses do tratamento não-medicamentoso. Cirúrgico Obesos mórbidos (IMC>40kg/m³) ou obesos com IMC>35 kg/m³ desde que apresente comorbidades clínicas importantes.
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