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Teoria geral: abertura da sucessão. 
Primeiramente, é importante destacar que a sucessão pode ocorrer em vida (inter 
vivos) ou após a morte (mortis causa). Em termos gerais, a sucessão envolve a 
transferência de algo de uma pessoa para outra. 
Por exemplo, quando alguém compra uma casa, o comprador sucede o 
vendedor. Da mesma forma, um possuidor pode suceder outro possuidor 
anterior, e essa sucessão pode ser somada para fins de usucapião. Até 
mesmo no contexto empresarial, uma empresa pode suceder outra 
através de uma incorporação. 
No entanto, o foco do direito das sucessões está na segunda situação mencionada, 
ou seja, na sucessão que é desencadeada por um evento específico, futuro e 
certo quanto à ocorrência, mas incerto quanto ao momento: a morte. 
Nesse contexto, surge o conceito de 1) herança e 2) herdeiros. 
A herança se refere ao conjunto de bens patrimoniais, incluindo direitos e 
obrigações do falecido, que são transmitidos aos seus sucessores como uma 
universalidade de direitos, sendo assim indivisível. 
Herança: conjunto de bens patrimoniais (direitos e obrigações), 
entendidos enquanto universalidade de direitos, logo, indivisível. 
De acordo com o artigo 80, inciso II, a herança é tratada como bem imóvel, mesmo 
que todos os bens que compõem o patrimônio hereditário sejam móveis. 
Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais: 
(...) 
II - o direito à sucessão aberta. 
O artigo 1.791 estabelece que a herança é considerada indivisível. Portanto, a 
herança é caracterizada por ser tanto imóvel quanto indivisível. 
Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários 
sejam os herdeiros. 
A herança representa a porção transferível do patrimônio, visto que certos 
elementos patrimoniais se extinguem com a morte, como por exemplo, os direitos 
a alimentos que o falecido eventualmente recebia. 
 
Por outro lado, a qualidade de herdeiro não pode ser transmitida a terceiros. 
O termo "de cujus," frequentemente utilizado para se referir à pessoa falecida, é o 
autor da herança, pois é responsável por transmitir direitos e obrigações aos 
sobreviventes. 
A transmissão da herança acontece automaticamente a todos os herdeiros, de 
acordo com o princípio da saisine, conforme estabelecido no artigo 1.784 do Código 
Civil de 2002. 
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos 
herdeiros legítimos e testamentários. 
A comprovação do falecimento requer o atestado de óbito, normalmente regulado 
pelos artigos 77 e seguintes da Lei 6.015/1973, conhecida como Lei de Registros 
Públicos. Em circunstâncias excepcionais, a morte pode ser estabelecida por meio 
da presunção de morte ou ausência. No entanto, somente após a morte do 
indivíduo é que se torna viável considerar quaisquer efeitos relacionados à herança. 
REITERO: somente após a morte do indivíduo é que se torna viável 
considerar quaisquer efeitos relacionados à herança. 
A "abertura da sucessão" é sinônimo de morte; quando alguém falece em uma 
determinada data, a sucessão se inicia nesse exato momento. 
É importante não confundir a abertura da sucessão com a abertura do 
inventário, pois raramente os procedimentos de inventário são iniciados 
no mesmo dia do óbito. 
O tribunal competente para tratar dos procedimentos ligados à transferência 
patrimonial é o do último domicílio do falecido, de acordo com o artigo 1.785 do 
Código Civil de 2002. 
Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido. 
Caso o falecido não tivesse um domicílio fixo, o parágrafo único do artigo 48 do 
Código de Processo Civil de 2015 estabelece que o inventário será aberto no tribunal 
do local onde estão situados os bens imóveis (ou em qualquer um deles, caso haja 
imóveis em mais de um local), ou, na ausência de imóveis, em qualquer local onde 
se encontre algum bem do espólio. 
 
Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente 
para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de 
disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha 
extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o 
óbito tenha ocorrido no estrangeiro. 
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é 
competente: 
I - o foro de situação dos bens imóveis; 
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; 
III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do 
espólio. 
Do mesmo modo, seja a sucessão decorrente de disposição legal ou de vontade 
expressa (testamento), a legislação em vigor no momento de sua abertura, ou 
seja, no momento do óbito, é aquela que irá regular tanto a sucessão quanto a 
legitimidade para receber a herança, como estipulado no artigo 1.787 do Código 
Civil de 2002. 
Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente 
ao tempo da abertura daquela. 
Por consequência, se alguém faleceu em 2001, a sucessão será regida pelo Código 
Civil de 1916, mesmo que o processo de inventário seja iniciado nos dias de hoje. 
Em resumo, se o óbito ocorreu antes de 11/01/2003, data na qual entrou em vigor 
o Código Civil de 2002, será aplicado o Código Civil de 1916; se o falecimento 
aconteceu a partir dessa data, o Código Civil de 2002 será aplicado, 
independentemente da data de nascimento do indivíduo ou da data de abertura do 
inventário. 
 
Herança: disposições gerais, administração, aceitação e renúncia. 
Disposições gerais. 
A sucessão ocorre de acordo com a lei ou a vontade expressa do falecido (artigo 
1.786). 
 
Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade. 
Isso implica que a herança será distribuída conforme a legislação, exceto se houver 
disposições contrárias no testamento deixado pelo falecido. O que não estiver 
contemplado no testamento, ou se o testamento for inválido, é regulado pelas leis 
(artigo 1.788). 
Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos 
herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem 
compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o 
testamento caducar, ou for julgado nulo. 
Caso alguém faleça sem deixar testamento, a herança passa aos herdeiros legítimos 
(artigo 1.788). 
No entanto, o direito brasileiro contém uma norma que limita a capacidade do 
falecido de regular livremente sua herança por meio da vontade, com o intuito de 
proteger os herdeiros necessários. Conforme o artigo 1.789, se houver herdeiros 
necessários, sejam eles forçados ou reservatórios, o testador só poderá dispor 
da metade da herança. 
Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor 
da metade da herança. 
Essa metade pertencente aos herdeiros necessários é conhecida como "legítima" 
(artigo 1.846). 
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade 
dos bens da herança, constituindo a legítima. 
Em outras palavras, se alguém possuir um patrimônio de 100, ele só terá a liberdade 
de dispor de 50, sendo os outros 50 obrigatoriamente destinados de acordo com a 
lei. 
Além disso, conforme previsto no artigo 1.849, um herdeiro necessário que receba 
uma parte disponível da herança ou um legado (ou seja, um item específico do 
montante da herança) não perde o direito à sua parte legítima. 
Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte 
disponível, ou algum legado, não perderá o direito à legítima. 
 
Por exemplo, se um pai falece com um patrimônio de 100 e deixa dois filhos, 50 
podem ser destinados livremente a quem ele desejar, mas os outros 50 pertencem 
necessariamente aos filhos. Isso significa que cada filho receberá certamente 25. O 
pai também poderia deixar os 50 livres para um dos filhos, que herda 75, enquanto 
o outro fica com os 25 remanescentes. 
Entretanto, a determinação dos valores da herança disponível e indisponível 
apresenta umacomplexidade, uma vez que o patrimônio de uma pessoa 
frequentemente flutua ao longo do tempo, podendo aumentar ou diminuir. 
Em algumas ocasiões, as variações patrimoniais podem ser substanciais. Para 
solucionar essa questão, o artigo 1.847 estabelece que o cálculo da legítima é 
realizado com base no valor dos bens existentes no momento da abertura da 
sucessão, após dedução das dívidas e despesas do funeral, e também incluindo 
o valor dos bens sujeitos a colação. 
Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na 
abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, 
adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação. 
Consequentemente, o valor da herança testada não é determinado pelo 
patrimônio do falecido no momento em que fez o testamento, por exemplo, mas 
sim pelo valor do patrimônio no momento de seu falecimento. 
Isso significa que, se o testador deixou uma casa avaliada em 100 para um sobrinho 
quando possuía um patrimônio total de 500, mas ao falecer seu patrimônio total era 
apenas 100, o valor testado excede o valor que poderia ser efetivamente disposto. 
Nesse caso, o falecido ultrapassou a parte legítima. 
Quanto à situação em que um pai falece deixando um patrimônio de 100 e dívidas 
de 500, você não seria responsável por pagar 400 aos credores. As dívidas são 
herdadas até o limite do patrimônio recebido na herança (intra vires hereditatis). Ou 
seja, se o falecido possuía 100 de patrimônio e 50 de dívida, você receberia apenas 
50; se as dívidas fossem de 100, você não receberia nada; e se as dívidas fossem 
de 200, você também não receberia nada, mas também não teria que pagar. 
Essa regra é definida no artigo 1.792, que estipula que o herdeiro não é responsável 
por obrigações que ultrapassem a capacidade da herança. 
 
Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da 
herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver 
inventário que a escuse, demostrando o valor dos bens herdados. 
Administração. 
No caso de uma herança a ser transmitida aos herdeiros, como é gerenciada até ser 
distribuída entre eles, considerando que, por ser uma universalidade de direito, a 
herança é indivisível? 
A herança, como uma universalidade (conforme o artigo 1.791), é concedida como 
uma entidade unitária, resultando no fato de que os direitos dos coerdeiros em 
relação à propriedade e posse da herança são indivisíveis. A terminologia adequada 
para descrever a situação de posse conjunta de várias pessoas é: condomínio. 
Consequentemente, no que diz respeito à propriedade e posse da herança, as regras 
aplicadas são as mesmas relacionadas ao condomínio (parágrafo único). 
Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários 
sejam os herdeiros. 
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à 
propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á 
pelas normas relativas ao condomínio. 
Nesse contexto, a situação reflete um tipo de condomínio eventual pro indiviso. 
Assim como no condomínio, onde um condômino pode alienar sua cota-parte, um 
herdeiro tem a possibilidade de negociar sua parte da herança, mesmo antes de a 
partilha ser concluída. No entanto, é importante tomar cuidado, pois não é 
permitido negociar a herança de uma pessoa ainda viva (conforme o artigo 
426), seja em que aspecto for (venda de bens, aceitação de negócios, renúncia de 
quinhão, etc.). 
Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. 
Vamos supor a seguinte situação: seu pai falece e deixa uma herança no valor de 200, 
distribuindo 100 para você e 100 para o seu primo através de um testamento. 
Posteriormente, o seu primo renuncia à herança, enquanto você já havia negociado 
"seus direitos hereditários" com terceiros. Qual é o desdobramento disso? 
 
Comparando com a dinâmica de um condomínio, onde um condômino poderia 
transferir sua parte a qualquer pessoa, é necessário lembrar da aula de Direito das 
Coisas: a transferência deveria ser primeiro oferecida aos coproprietários! Como 
isso se aplica na herança? A mesma regra é válida... Ou seja, a preferência, chamada 
de preempção, também é aplicada aos coerdeiros. O artigo 1.794 estabelece que um 
coerdeiro pode ceder sua parte a uma pessoa alheia à sucessão, mas somente se os 
outros coerdeiros não tiverem interesse nela. 
Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a 
pessoa estranha à sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por 
tanto. 
E se esse coerdeiro não oferecer a opção primeiro ao outro? A situação é semelhante 
ao condomínio: o coerdeiro que não foi informado da cessão tem o direito de, depois 
de depositar o valor, adquirir a parte cedida a um terceiro, caso ele faça o pedido 
dentro de 180 dias após a transferência (artigo 1.795). Isso é chamado de 
adjudicação compulsória do bem. 
No entanto, ao contrário do condomínio, se vários coerdeiros exercerem a 
preferência, o quinhão cedido será dividido entre eles na proporção de suas quotas 
hereditárias (parágrafo único). 
Dado que a herança é uma entidade indivisível, a cessão de direitos hereditários 
sobre um bem individual da herança é ineficaz (parágrafo 2º do artigo 1.793). Para 
vender qualquer bem específico do acervo hereditário, é necessário solicitar ao juiz 
a autorização para sua negociação (parágrafo 3º), antes do término do inventário. 
Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que 
disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública. 
§ 1 o Os direitos, conferidos ao herdeiro em conseqüência de substituição 
ou de direito de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita 
anteriormente. 
§ 2 o É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário 
sobre qualquer bem da herança considerado singularmente. 
§ 3 o Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão, 
por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, 
pendente a indivisibilidade. 
 
Note que a transmissão de um bem individual do acervo hereditário é válida, 
mas não eficaz. Por quê? Pois a herança é indivisível, e a alienação de um bem 
específico do acervo não é eficaz precisamente porque o bem ainda não foi 
individualizado. Quando isso acontecerá? Na partilha, momento em que a 
transferência do bem individual pode ser concretizada. 
Portanto, o adquirente de um veículo que faz parte do acervo hereditário não 
conseguirá realizar a transferência no órgão de trânsito até que a partilha seja 
finalizada. Caso o veículo não fique com o herdeiro na partilha, a transferência será 
ineficaz. Porém, se ele ficar com o veículo, aí sim a transferência se torna eficaz, 
permitindo ao terceiro completar a transferência junto à autoridade de trânsito. 
De acordo com o princípio da saisine, a herança é transmitida automaticamente aos 
herdeiros, mas dado seu caráter indivisível, quem a administra? O artigo 1.797 
define que até que o inventariante seja nomeado, a administração da herança é 
atribuída sucessivamente, em ordem, da seguinte forma: 
Art. 1.797. Até o compromisso do inventariante, a administração da 
herança caberá, sucessivamente: 
I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da 
abertura da sucessão; 
II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se 
houver mais de um nessas condições, ao mais velho; 
III - ao testamenteiro; 
IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos 
incisos antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo 
grave levado ao conhecimento do juiz. 
 
Aceitação e renúncia. 
Após a abertura da sucessão, os herdeiros são confrontados com duas opções: 
aceitar ou renunciar à herança. 
Caso optem por aceitar, a transmissão da herança para o herdeiro torna-se 
permanente a partir do momento da abertura da sucessão (conforme o artigo 1.804do Código Civil de 2002). 
 
Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão 
ao herdeiro, desde a abertura da sucessão. 
Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada quando o 
herdeiro renuncia à herança. 
Por outro lado, ao escolherem renunciar, a transmissão da herança é considerada 
como não tendo ocorrido (parágrafo único). 
Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao 
herdeiro, desde a abertura da sucessão. 
Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada quando o 
herdeiro renuncia à herança. 
Vale ressaltar que a aceitação é um requisito obrigatório, semelhante ao que ocorre 
em doações. 
Tanto a aceitação quanto a renúncia da herança representam atos irrevogáveis 
(artigo 1.812). 
Art. 1.812. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da 
herança. 
Se um herdeiro renunciar à herança e vier a falecer, seus descendentes não terão 
direito à parte da herança do avô, mesmo que tenham desejado essa herança no 
momento do falecimento do avô e até mesmo se tiverem expressado esse desejo ao 
pai. Isso se deve ao fato de que a renúncia é um ato estritamente pessoal e não 
pode ser delegada a terceiros. 
Como é efetuada a aceitação? Ela pode ocorrer de duas maneiras: (1) a aceitação 
expressa, quando realizada por meio de uma declaração por escrito (conforme o 
artigo 1.805). O documento pode ser tanto público quanto particular, não havendo 
distinção. 
Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por 
declaração escrita; quando tácita, há de resultar tão-somente de atos 
próprios da qualidade de herdeiro. 
§ 1 o Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o 
funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração 
e guarda provisória. 
 
§ 2 o Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, 
da herança, aos demais co-herdeiros. 
A aceitação também pode ser (2) tácita, surgindo a partir de ações próprias da 
condição de herdeiro. Entretanto, certos atos que são feitos por obrigação (como as 
responsabilidades ligadas ao funeral do falecido, as ações puramente 
conservadoras, ou aquelas relacionadas à administração e custódia temporária, 
como previsto no artigo 1.805, parágrafo 1º) não implicam em uma aceitação da 
herança. Além disso, a simples transferência gratuita da herança para os outros 
coerdeiros (parágrafo 2º) também não implica em aceitação. 
Imagine que meu tio e meu pai tenham renunciado à herança de meu avô. Outro tio 
não tenha se manifestado de nenhuma maneira, simplesmente não tomando 
nenhuma ação. Se esse tio optar por renunciar, eu me tornarei herdeiro, de acordo 
com o artigo 1.811; caso ele não renuncie, não terei direito a receber nada. 
Art. 1.811. Ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante. 
Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros da 
mesma classe renunciarem a herança, poderão os filhos vir à sucessão, 
por direito próprio, e por cabeça. 
Conforme o artigo 1.807, tenho o direito de solicitar ao juiz que interpela o herdeiro 
que permanece em silêncio. O juiz, nesse caso, determina um prazo de até 30 dias 
para que o herdeiro se manifeste; caso ele não o faça, presume-se que tenha 
aceitado. Isso caracteriza uma aceitação (3) presumida. 
Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a 
herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo 
razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, 
sob pena de se haver a herança por aceita. 
No que diz respeito à renúncia da herança, ela deve ser explicitamente 
registrada em um instrumento público ou por meio de um termo judicial, não 
sendo aceitas formas particulares ou declarações verbais (conforme o artigo 
1.806). 
Art. 1.806. A renúncia da herança deve constar expressamente de 
instrumento público ou termo judicial. 
Como a herança é considerada um bem imóvel, de acordo com o artigo 80, inciso II, 
do Código Civil de 2002, um herdeiro casado precisa obter a autorização do 
 
cônjuge para renunciar, a menos que estejam casados sob o regime de 
separação de bens (artigo 1.647, inciso II). 
Questões tributárias: no que diz respeito à renúncia, existem diferentes 
abordagens. Pode ser uma renúncia abdicativa, pura e simples, quando o 
sucessor renuncia em benefício dos coerdeiros de forma genérica. Já uma 
renúncia in favorem é transitiva, ocorrendo quando há um beneficiário 
específico. Em ambos os casos, o Imposto sobre Transmissão Causa 
Mortis e Doação (ITCMD) é aplicável, mas enquanto no primeiro caso o 
Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) não é aplicável, no 
segundo caso ele é, devido à natureza de "aceitação-doação" do ato. 
Há uma situação excepcional em que a renúncia não é admitida, sendo 
considerada ineficaz. Isso ocorre quando a renúncia prejudica os credores do 
herdeiro. Nesse caso, com a autorização do juiz, eles podem aceitar a renúncia em 
nome do herdeiro que renuncia (artigo 1.813), desde que estejam cientes da 
renúncia e se habilitem dentro de 30 dias. Depois de quitar as dívidas do herdeiro 
renunciante, a renúncia prevalece em relação ao valor restante, que é devolvido aos 
demais herdeiros. 
Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando 
à herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do 
renunciante. 
§ 1 o A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes 
ao conhecimento do fato. 
§ 2 o Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao 
remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros. 
Tanto a aceitação quanto a renúncia devem ser completas (in totum), não sendo 
aceitas aceitações parciais (sucessão fracionada, sob condição ou a termo - 
sucessão condicional ou a termo), como estipulado pelo artigo 1.808. 
Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob 
condição ou a termo. 
§ 1 o O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, 
renunciando a herança; ou, aceitando-a, repudiá-los. 
 
 
§ 2 o O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão 
hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar 
quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia. 
Se um herdeiro falece antes de declarar se aceita a herança, o poder de 
aceitação passa para seus herdeiros, a menos que a convocação esteja ligada 
a uma condição suspensiva ainda não cumprida (artigo 1.809). 
Art. 1.809. Falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o 
poder de aceitar passa-lhe aos herdeiros, a menos que se trate de vocação 
adstrita a uma condição suspensiva, ainda não verificada. 
Parágrafo único. Os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da 
aceitação, desde que concordem em receber a segunda herança, poderão 
aceitar ou renunciar a primeira. 
Dessa forma, se o seu avô falece, o poder de aceitar ou renunciar à herança fica com 
o seu pai. Se o seu pai falece depois, sem ter se pronunciado sobre a aceitação ou 
renúncia à herança do avô, você assume o poder de aceitar ou renunciar em seu 
lugar. 
Você pode aceitar a herança de seu pai (a segunda no tempo), o que lhe dá o direito 
de decidir se aceita ou renuncia à herança de seu avô (a primeira herança, 
cronologicamente falando). Isso acontece porque, ao aceitar a herança de seu pai, 
você se torna herdeiro dele e adquire o poder de, em sua representação, aceitar ou 
renunciar à herança de seu avô. 
No entanto, o inverso não é verdadeiro. Se você renunciar à herança de seu pai, você 
não pode aceitar a herança de seu avô. Isso ocorre porque, ao renunciar à herança 
de seu pai, você deixa de ser um herdeiro. 
Aceitando a herança, a transmissão é concretizada. Por outro lado, ao renunciar, a 
parte renunciada pelo herdeiro acresce à parte dos outros herdeiros da mesma 
classe. Caso o renunciante seja o único herdeironessa classe, essa parte é passada 
para os herdeiros da classe subsequente (artigo 1.810). Nesse contexto, é crucial 
entender o conceito de "classes". 
Art. 1.810. Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos 
outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se 
aos da subsequente. 
 
Imagine que seu pai faleça e você opte por renunciar à herança. Nesse caso, a 
herança passará para seus irmãos. Se você for o único herdeiro nessa classe (sendo 
assim, o herdeiro "único desta" classe), a herança será direcionada para a próxima 
classe, que seriam os ascendentes. Se você, por acaso, tiver filhos... 
Quando há apenas um herdeiro em uma classe e esse herdeiro renuncia, ou se todos 
os outros herdeiros da mesma classe renunciam à herança, os filhos desses 
herdeiros têm o direito de ingressar na sucessão, por mérito próprio e na proporção 
de cabeças (artigo 1.811). Portanto, se você é o único filho e renuncia à herança, seus 
dois filhos receberão metade cada um. 
Se você e todos os seus irmãos renunciarem à herança de seu pai, os netos irão 
herdar, mas novamente por cabeças. Se você tiver um filho, seu irmão tiver um filho 
e sua irmã tiver três filhos, a herança será dividida igualmente entre os cinco netos. 
Note que, nesse cenário, não é aplicado o direito de representação, uma vez que 
envolve renúncia. 
E se a situação envolver herdeiros de classes diferentes? Isso acontece, por exemplo, 
na sucessão de um falecido que era casado e tinha filhos. Filhos e cônjuge pertencem 
a classes distintas. De acordo com o Enunciado 575 da VI Jornada de Direito Civil, 
quando herdeiros de classes diferentes concorrem, a renúncia de qualquer um deles 
resulta na devolução da parte renunciada aos que pertencem à mesma classe 
sucessória. 
Portanto, se seu pai falece e você renuncia à herança, a parte renunciada não será 
atribuída apenas ao seu irmão ou ao cônjuge do falecido. Conforme o enunciado, o 
montante renunciado deve ser distribuído entre todos os herdeiros da mesma classe 
(descendentes e cônjuge ou companheiro, conforme a ordem estabelecida pelo 
artigo 1.829, inciso I), ou seja, tanto ao seu irmão quanto ao cônjuge. Não se aplicaria, 
portanto, o direito de acrescer somente ao seu irmão.

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