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TEORIA DO PROCESSO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL Lóren Formiga de Pinto Ferreira Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 Processo penal: fontes, função e princípios fundamentais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Determinar a função do processo penal e suas características. � Analisar as fontes do processo penal. � Identificar os princípios fundamentais que regem o processo penal. Introdução O Direito Processual Penal ou processo penal é a área do Direito que possibilita colocar em prática as disposições do Direito Penal Material, servindo como instrumento para a aplicação deste. Neste capítulo, você vai ler sobre o conceito de processo penal, seu objeto, sua finalidade, suas características e os princípios fundamentais que o regem, incluindo os considerados como direitos e garantias consti- tucionais, os quais deverão, sempre, ser respeitados, visto que a República Federativa do Brasil se constitui em um Estado Democrático de Direito. Esses princípios norteiam a criação, a interpretação e a aplicação das normas relacionadas a esse tipo de processo. Além disso, você também conhecerá as fontes do processo penal, que são os meios de expressão ou os locais de onde surgem os princípios e as regras deste ramo do Direito. Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 Processo penal: conceito, objeto, fins e características De acordo com os ensinamentos de Chiovenda (1969), o processo tratado de forma geral, independentemente do ramo do Direito ao qual se aplica, visa, exclusivamente, a aplicação prática da vontade do direito. Dessa forma, ele não contribui para a criação das normas, do Direito Subjetivo nem da obrigação preexistente a este, já que essas são atividades típicas do chamado Direito Material ou Objetivo. Partindo-se dessa premissa e sabendo que cabe ao Direito Penal (material) definir as infrações penais e cominar as penas a elas correspondentes, de forma a impor limites ao poder punitivo do Estado, surge a necessidade de um instrumento ou caminho para se chegar às sanções previstas. Para isto foi criado o Direito Processual Penal: para colocar em prática as determinações do Direito Penal. Por isso, ele pode ser conceituado como: “[...] um conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do Direito Penal, bem como as atividades persecutórias da Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e respectivos auxiliares” (TÁVORA; ALENCAR, 2012, p. 34). De acordo com a Constituição Federal (art. 144, § 4º), a função de polícia judiciária incumbe à Polícia Civil. Então, o processo penal dará efetividade ao estabelecido anteriormente pelo Direito Penal, dispondo de que forma, por quais meios e por intermédio de quais órgãos do Estado (mais especificamente do Judiciário, que é o poder competente para a aplicação da lei ao caso concreto) será aplicada a pena. Embora o Estado tenha o direito de punir, esse direito não é absoluto. É necessário que sejam respeitados os direitos e as garantias constitucionais do investigado e do réu, os quais estão previstos na Constituição Federal. Você saberá a respeito deles na seção referente aos princípios do processo penal. Processo penal: fontes, função e princípios fundamentais2 Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 Cabe ressaltarmos que, no processo penal, diferentemente do que ocorre no processo civil, o conflito entre as partes é irrelevante, pois o bem jurídico em discussão é indisponível. Nos casos concretos, temos, de um lado, o Estado, com a pretensão de fazer valer o Direito Penal Material, aplicando a pena prevista nessa legislação a uma situação real; de outro lado, temos a liberdade do acusado, que só pode ter a restrição a tal direito e garantia constitucional após o devido processo legal. Então, pelo exposto, podemos perceber que, tratando-se de processo penal, a lide, que surge do conflito de interesses qualificado pela pretensão resistida, não é uma condição essencial para o surgimento e para o desenvolvimento do processo. Por isso, o objeto do processo penal não é a lide, mas a pretensão processual acusatória. Quanto aos fins do Direito Processual Penal, podemos identificá-los sob duas perspectivas distintas: a mediata, que tem como finalidade a manutenção da paz social obtida por intermédio da solução do conflito, e a imediata, que tem como fins a aplicação e a concretização do Direito Penal ou da pretensão punitiva do Estado. O Direito Processual Penal possui três características: � Autonomia — não existe hierarquia entre ele e o Direito Penal Material. O Direito Processual Penal possui seus próprios princípios e regras, sendo um ramo autônomo da ciência do Direito. � Instrumentalidade — é o caminho ou o instrumento para a aplicação do Direito Penal. � Normatividade — é uma disciplina normativa que possui seu próprio código (Código de Processo Penal — Decreto-Lei nº. 3.689, de 3 de outubro de 1941). O Direito Processual Penal não é subordinado ao Direito Penal. Assim, não há hierarquia entre eles. O primeiro é o instrumento para a aplicação do segundo. Fontes do processo penal Falar em fontes do Direito Processual Penal significa abordar a origem desse ramo do Direito, ou seja, o local de onde ele provém. 3Processo penal: fontes, função e princípios fundamentais Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 As fontes do processo penal podem ser classificadas, inicialmente, em: � fontes de produção ou materiais; � fontes formais ou de cognição. Fontes de produção ou materiais As fontes de produção ou materiais são aquelas que criam o Direito ou elaboram a norma, então, essa fonte é o Estado. No ordenamento jurídico brasileiro, quem detém a competência para legislar sobre o Direito Processual Penal é a União, conforme o art. 22, I, da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Porém, é importante lembrarmos que esse mesmo artigo, no parágrafo único, traz como exceção a essa regra a possibilidade de atribuição, aos Estados-membros, por intermédio de lei complementar federal, da competência para legislarem sobre Direito Processual Penal, com relação a questões específicas de interesse local, de acordo com o art. 22, parágrafo único, da Constituição Federal. Tramita no Congresso Nacional a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº. 47, de 2012, de autoria de 14 Assembleias Legislativas dos Estados e da Câmara Legislativa do Distrito Federal, com vistas a modificar o texto da Constituição Federal para ampliar a competência legislativa estadual. Nessa proposta, entre outras questões, consta a retirada da competência privativa da União para legislar sobre Direito Processual (art. 22, I, da Constituição Federal), inclusive Penal. A ideia é incluir o Direito Processual entre as matérias de competência concorrente/concomitante da União, dos Estados e do Distrito Federal (alteração do art. 24, IX, da Constituição Federal). Saiba mais acessando o link abaixo: https://goo.gl/skbrqL Também é importante destacarmos a competência da União (do Presi- dente da República referendado pelo Congresso Nacional) para celebrar tratados e convenções internacionais, que, de acordo com o art. 1º, I, do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941), são fontes criadoras de normas processuais penais. Processo penal: fontes, função e princípios fundamentais4 Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 Com relação ao Direito Penitenciário — que é aquele que cuida de como se proporcionará a execução das sentenças criminais, regidas pelo direito da execução penal, e dos procedimentos —, o art. 24, I e XI, da Constituição Federal determina que a competência para legislar é concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal (BRASIL, 1988). O mesmo art. 24, X, dispõe que a União, os Estados e o Distrito Federal possuem competência concorrente para legislar sobre a criação, o funciona- mentoe o processo do Juizado Especial Criminal. Ainda sobre a competência para legislar em matéria processual penal, é importante lembrarmos que, de acordo com o art. 84, XII, da Constituição Federal, o Presidente da República pode legislar, via decreto, sobre o indulto, sendo-lhe vedado, no entanto, por medida provisória, legislar acerca de Direito Penal e Processual Penal, conforme o art. 62, I, b, da Carta Magna (BRASIL, 1988). Fontes formais ou de cognição As fontes formais ou de cognição são aquelas que revelam o Direito ou a norma. Elas se dividem em: � imediatas ou diretas — são as leis e os tratados internacionais dos quais a República Federativa do Brasil seja parte, conforme o art. 5º, §§ 2º e 3º, e o art. 22, I, da Constituição Federal (BRASIL, 1988); Os tratados e as convenções internacionais que versam sobre direitos humanos e que forem aprovados, em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos de votação, por dois quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais, nos termos do art. 5º, § 3º, da Constituição Federal. Para saber mais a res- peito dos tratados internacionais sobre direitos humanos, acesse o link abaixo ou o código ao lado: https://goo.gl/aCs3L5 5Processo penal: fontes, função e princípios fundamentais Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 � mediatas, indiretas ou supletivas — são os costumes e os princípios gerais do Direito. O costume é o que se chama de praxe forense, isto é, são regras de conduta praticadas de modo geral, constante e uniforme- mente, com a convicção de obrigatoriedade jurídica; esse é, exatamente, o elemento que diferencia o costume do mero hábito. Os costumes podem ser classificados da seguinte forma: � secundum legem — ratificam e sedimentam as formas de aplicação da lei; � praeter legem — preenchem as lacunas existentes na lei; � contra legem — contrariam a lei e levam à sua inaplicabilidade pelo desuso. Devemos lembrar que apenas a lei tem o poder de revogar a lei. Então, embora o costume possa ser contrário à lei (contra legem), ele não possui o condão de revogá-la. De acordo com Paiva (2013, p. 52): [...] os princípios gerais são as regras que, embora não estejam escritas, ser- vem como mandamentos que informam e dão apoio ao direito, utilizados como base para a criação e integração das normas jurídicas, respaldados pelo ideal de justiça. Princípios fundamentais do processo penal O processo penal, como todas as áreas do Direito, deve respeitar a Consti- tuição Federal, que é a norma máxima do nosso ordenamento jurídico. Ela ocupa o vértice de todo o sistema normativo. Portanto, as suas normas são hierarquicamente superiores às dos outros ramos do Direito. Como uma das finalidades da Constituição Federal é limitar o poder do Estado, o processo, seguindo as determinações da Carta Magna, deve ser sinônimo de garantia aos imputados contra arbitrariedades estatais. Ele, inclu- sive, é uma das garantias previstas na Constituição Federal de 1988. Então, os princípios que norteiam o processo penal são de extrema importância, sendo que muitos deles encontram-se expressamente previstos no Texto Constitucional. A seguir, serão tratados os principais princípios constitucionais e infra- constitucionais que regem o Direito Processual Penal. Dependendo do autor que se consulte, a lista de princípios pode ser menor ou maior. Aqui trataremos os mais importantes. Processo penal: fontes, função e princípios fundamentais6 Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 Princípio da presunção de inocência ou da não culpabilidade O art. 5º, LVII, da Constituição Federal determina que “[...] ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” (BRASIL, 1988, documento on-line). Esse princípio informa que, enquanto não houver uma sentença penal condenatória para a qual tenham se esgotados todos os tipos de recurso, o cidadão deverá ser considerado inocente e deverá ser tratado como tal. Em decorrência desse princípio, em regra, o cidadão responderia ao pro- cesso penal em liberdade, e qualquer prisão cautelar só seria a ele imposta em caráter excepcional e desde que existisse fundamento para tal. Dessa forma, por intermédio desse princípio, resultavam duas regras fundamentais: � probatória ou de juízo, que determina que o ônus da prova cabe à acusação; � de tratamento, que dispõe que ninguém pode ser considerado culpado senão após o trânsito em julgado de sentença condenatória, o que im- pede qualquer antecipação de juízo condenatório ou de culpabilidade. Ocorre que, na ocasião do julgamento do habeas corpus nº. 126.292/2016, o Supremo Tribunal Federal (STF) firmou entendimento no sentido de que “[...] a possibilidade de início da execução da pena condenatória após a con- firmação da sentença em segundo grau não ofende o princípio constitucional da presunção da inocência” (BRASIL, 2016, documento on-line). Portanto, neste momento, o entendimento era de que não seria necessário esgotar todas as vias (tribunais) recursais, bastando o seu esgotamento em segundo grau. Nesse julgamento, o relator, ministro Teori Zavascki, afirmou que “[...] a manutenção da sentença penal pela segunda instância encerra a análise de fatos e provas que assentaram a culpa do condenado, o que autoriza o início da execução da pena” (BRASIL, 2016, documento on-line). Ocorre que em 2019, nos julgamentos das ADCs 43, 44 e 54, sendo relator o ministro Marco Aurélio, o Supremo Tribunal Federal - STF regressou à interpretação existente anteriormente, afirmando que o cumprimento da pena só pode ter início com depois de esgotadas todas as vias recursais possíveis. Sendo preso o acusado caso esteja presente os requisitos para a prisão pre- ventiva, com decisão fundamentada pelo magistrado. 7Processo penal: fontes, função e princípios fundamentais Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 Veja os links a seguir com noticias sobre julgamentos que envolveram o tema da prisão em segunda instância: https://goo.gl/Nfqd98 https://encurtador.com.br/deuAK Princípio da imparcialidade do juiz Tratando-se de um Estado Democrático de Direito, como é o caso do Brasil, o juiz deve conduzir o processo com isenção, sem vínculos subjetivos, de forma a atuar com imparcialidade e honestidade, até porque, no momento em que o Estado chamou para si a tarefa de administrar a justiça, proibindo que o cidadão faça justiça pelas próprias mãos, exige-se do órgão julgador um desinteresse pela questão, ou seja, que ele não beneficie nenhuma das partes. Esse princípio é decorrência direta da Constituição Federal de 1988, a qual veda o juízo ou tribunal de exceção (aquele criado de forma temporária para atuar em um caso específico ou alguns casos específicos), em seu art. 5º, XXXVII, e também cuida que o processo, assim como a sentença, seja conduzido pela autoridade competente (magistrado escolhido por critérios objetivos), de acordo com o seu art. 5º, LIII (BRASIL, 1988). Princípio do contraditório O princípio do contraditório está previsto no art. 5º, LV, da Constituição Federal, que dispõe: “[...] aos litigantes, em processo judicial ou admi- nistrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (BRASIL, 1988, documento on-line). Assim, pela previsão constitucional, deve ser dada às partes a oportunidade de influenciar no convencimento do juiz, participando e se manifestando ativamente a respeito dos atos processuais. Cada uma das partes tem o direito de produzir prova, de alegar, de tomar conhecimento das provas produzidas pela outra parte, de impugná-las, de se manifestar, entre outros. Processo penal: fontes, função e princípios fundamentais8 Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 Cabe lembrarmos que não se exige contraditório no inquérito policial, porque ele é mero procedimento administrativo de caráterinformativo, não sendo parte do processo penal. Princípio da ampla defesa De acordo com o art. 5º, LV, da Constituição Federal, deve ser assegurada a ampla possibilidade de defesa, podendo fazer uso de todos os meios e recursos disponíveis. É, também, dever do Estado “[...] prestar assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”, conforme a previsão do art. 5º, LXXIV, da Carta Magna (BRASIL, 1988, documento on-line). O STF consagra na Súmula nº. 523, ao tratar da defesa técnica, que no “[...] processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só anulará se houver prova de prejuízo para o réu” (BRASIL, 2013, documento on-line). Princípio da verdade real No processo penal, segundo Capez (2001), o juiz deve investigar como os fatos ocorreram na realidade, não se conformando com a verdade formal que consta nos autos. Por isso, o art. 156, II, do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941) permite que o juiz determine, de ofício, no curso da instrução ou antes de proferir a sentença, a realização das diligências que entender necessárias à solução do caso concreto. Esse princípio admite exceções (BRASIL, 1941), a saber: � a impossibilidade de leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 dias úteis, dando-se ciência à outra parte, conforme o art. 479 do Código de Processo Penal; � a impossibilidade de provas objetivas por meios ilícitos, de acordo com o art. 5º, LVI, da Constituição Federal e o art. 157 do Código de Processo Penal; 9Processo penal: fontes, função e princípios fundamentais Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 � os limites para depor de pessoas que, em razão da função, ofício ou profissão, devam guardar segredo, conforme o art. 207 do Código de Processo Penal; � a recusa de depor de parentes do acusado, de acordo com o art. 206 do Código de Processo Penal; � as restrições à prova, existentes no juízo cível, aplicáveis ao penal, quanto ao estado das pessoas, de acordo com o art. 155, parágrafo único, do Código de Processo Penal. Ao tratarem a respeito das provas ilícitas, a Constituição Federal de 1988, no seu art. 5º, LVI, e o Código de Processo Penal, em seu art. 157, impuseram limites ao alcance da verdade real, em respeito à dignidade da pessoa humana, princípio previsto no art. 1º, III, da Constituição Federal. Devido a esse princípio, no processo penal, nem à confissão do acusado é atribuído valor absoluto, tendo esse tipo de prova valor relativo, devendo ser contraposta aos demais elementos probatórios existentes no processo. Princípio da publicidade O princípio da publicidade decorre da previsão do art. 5º, LX, da Constituição Federal, segundo o qual “[...] a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem” (BRASIL, 1988, documento on-line). Os atos processuais são públicos, até porque a Constituição Federal, em seu art. 37, contempla o princípio da publicidade como um dos norteadores da Administração Pública. Então, em respeito à exigência de publicidade dos atos administrativos, os atos processuais são abertos à comunidade (BRASIL, 1988). Percebemos, então, que a publicidade dos atos processuais é a regra, porém, em casos excepcionais, esse princípio será mitigado, passando a valer o chamado princípio da publicidade restrita, que é decorrente do princípio do contraditório, segundo o qual as partes devem ser informadas a respeito dos atos processuais, sendo que apenas estas e seus procuradores terão acesso aos autos, conforme a previsão do art. 93, IX, da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Isso porque a Constituição Federal, no art. 5º, X, também garante a invio- labilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas e porque o cumprimento do interesse público é a finalidade maior da Admi- nistração Pública (BRASIL, 1988). Processo penal: fontes, função e princípios fundamentais10 Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 Nesse sentido, o Código de Processo Penal, no art. 792, § 1º, prevê o sigilo se da publicidade do ato puder ocorrer escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem (BRASIL, 1941). Princípio do juiz natural O princípio do juiz natural garante o direito de ser processado por magistrado competente, conforme o art. 5º, LIII, da Constituição Federal, e a proibição à criação de juízos ou tribunais de exceção, prevista no art. 5º, XXXVII, da Constituição (BRASIL, 1988). Em outras palavras, esse princípio impede a criação casuística de tribunais depois da ocorrência do fato para apreciar um caso específico. Princípio do promotor natural É vedada a designação de forma arbitrária, pela chefia do Ministério Público, de promotor para patrocinar um caso específico, isto é, o promotor natural deve ser, sempre, aquele previamente determinado pela lei (NUCCI, 2012). A abrangência desse princípio é limitada ao processo criminal, não se aplicando, portanto, ao inquérito policial. O STF não reconhece esse princípio, mas a doutrina majoritária, sim. Entre os autores que o aplicam, encontram-se (TÁVORA; ALENCAR, 2012): � Nestor Távora; � Rosmar Alencar; � Paulo Rangel; � Marcelo Navarro Ribeiro; � Eugenio Pacelli de Oliveira; � Sérgio Demoro Hamilton; � Nelson Nery Junior. Princípio do defensor natural O princípio do defensor natural é aplicado por analogia ao princípio do juiz natural, da mesma forma que o princípio do promotor natural. Significa a vedação de nomeação de defensor público diverso daquele que tem atribuição legal para atuar na causa. Da mesma forma como o princípio do promotor natural, o STF não reconhece o princípio do defensor natural, contrariando o entendimento doutrinário majoritário. 11Processo penal: fontes, função e princípios fundamentais Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 Princípio do devido processo legal O art. 5º, LIV, da Constituição Federal (BRASIL, 1988, documento on-line) assegura que: “[...] ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” e isso quer dizer que ninguém pode sofrer o cerceamento de sua liberdade ou dos bens de sua propriedade se não for de acordo com as determinações estabelecidas em lei. Então, no processo penal, devem ser cumpridas rigorosamente as previsões legais, não podendo haver qualquer tipo de supressão ou desvirtuamento de atos essenciais. Com relação à aplicação da sanção penal, é necessário que a pena pretendida seja submetida ao crivo do Poder Judiciário, pois, conforme já dizia Rui Barbosa (apud RANGEL, 2012, p. 4), “[..] não há pena sem processo, nem processo senão pela Justiça”. Mas não é só. A pretensão punitiva deve perfazer-se dentro de um procedimento regular, perante a autoridade competente, tendo por base as provas validamente colhidas, respeitando-se os princípios do contraditório e da ampla defesa. Princípio do favor rei ou favor réu Em caso de dúvida, a decisão deverá ser em favor do acusado (in dubio pro reo), ou seja, na ponderação entre o direito de punir do Estado e o status libertatis do imputado, este último deve prevalecer. Nesse sentido, o art. 386, VII, do Código de Processo Penal prevê como hipótese de absolvição do réu a ausência de provas suficientes a contribuir com a imputação formulada pela acusação (BRASIL, 1941). Princípio da economia processual No processo penal, devemos buscar a maior efetividade com a produção da menor quantidade de atos possível. Então, a Constituição Federal, com vistas a evitar ou reduzir a morosidade processual, determinou, no art. 5º, LXXVIII, que: “[...] a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável tramitação do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação” (BRASIL, 1988, documento on-line). A Lei nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995 (dos Juizados Especiais),em seu art. 62, também contemplou este princípio, além dos princípios da celeridade e da informalidade, como forma de imprimir a rápida solução dos conflitos (BRASIL, 1995). Processo penal: fontes, função e princípios fundamentais12 Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 Princípio da duração razoável do processo penal A Constituição Federal, sem seu art. 5º, LXXVIII, dispõe que: “[...] a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação” (BRASIL, 1988, documento on-line). Dessa forma, a justiça não pode ser tardia. Princípio da inexigibilidade de autoincriminação ou da autodefesa Ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo. A ideia desse princípio é a de limitação do poder punitivo do Estado. A inexigibilidade de autoincriminação tem relação com o princípio da presunção de inocência e com o direito ao silêncio, o qual é assegurado pela Constituição Federal, em seu art. 5º, LXII: “[...] o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado” (BRASIL, 1988, documento on-line). Como resultados do direito ao silêncio, tem-se: � o direito de não colaborar com a investigação ou com a instrução criminal; � o direito de não realizar declaração contra si mesmo; � o direito de não confessar; � o direito de não falar a verdade. Os Tribunais Superiores têm se posicionado pela tipicidade da conduta daquele que se atribui identidade falsa perante autoridade policial com o intento de ocultar maus antecedentes. 13Processo penal: fontes, função e princípios fundamentais Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: . Acesso em: 3 maio 2018. BRASIL. Decreto-Lei nº. 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. 1941. Disponível em: . Acesso em: 3 maio 2018. BRASIL. Lei nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. 1995. Disponível em: . Acesso em: 3 maio 2018. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 523. No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu. DJe, out. 2013. Disponível em: . Acesso em: 3 maio 2018. BRASIL. Superior Tribunal Federal. Habeas Corpus 126.292 SP. Relator: Ministro Teori Zavascki. DJe, 17 fev. 2016. Disponível em: . Acesso em: 3 maio 2018. CAPEZ, F. Curso de processo penal. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. CHIOVENDA, G. Instituições de Direito Processual Civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1969. v. 1. NUCCI, G. de S. 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Revista Consultor Jurídico, mar. 2015. Disponível em: . Acesso em: 3 maio 2018. 15Processo penal: fontes, função e princípios fundamentais Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 Conteúdo: Identificação interna do documento M51FLT4999-ALW9OK1 5LV art144§4