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Taciano Fontes Filho 2022.1 Pediatria C ic lo C lín ic o SOBRE O MATERIAL Resumos feitos com muita dedicação por um interno de medicina, ligante da Liga de Reumatologia (LAR), ex-ligante da Liga de Farmacologia (LAFAM) e ex-Monitor de Semiologia II. O seguinte material foi produzido utilizando informações colhidas das principais referências utilizadas pelos professores de cada disciplina do respectivo período, foram acrescidos também ensinamentos transmitidos em sala de aula. Espero que esses resumos possam lhe ajudar tanto quanto me ajudaram. Caso encontre alguma informação errada ou desatualizada, peço que repasse ao colega e perdão pelo erro. Taciano Fontes Filho, aluno da MED XII UNIFIP Obrigado pela confiança, bons estudos e Deus te abençoe! Puericultura e Semiologia da Criança Crescimento e Desenvolvimento Alimentação Infantil Principais Parasitoses Intestinais Constipação Intestinal Diarreia Aguda e Desidratação Diarreia Crônica ou Funcional Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV) Principais Doenças do Aparelho Respiratório Superior Principais Doenças do Aparelho Respiratório Inferior Crises Epilépticas na Infância Traumatismo Cranioencefálico na Infância Infecção do Trato Urinário Viroses Exantemáticas Doença do Refluxo Gastroesofágico Nefropatias do Trato Urinário Desnutrição e Distúrbios Carenciais Obesidade Exógena Dores Frequentes na Prática Pediátrica 03 07 10 13 16 18 22 25 28 32 38 41 45 49 55 61 66 72 74 SUMÁRIO REFERÊNCIAS MEDGRUPO, Medcurso 2020. SBP. Tratado de Pediatria. Editora Manole, 4ª edição, 2017; Informações extras de artigos, aulas e materiais avulsos Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 A puericultura tem como base a consulta médica periódica e sistemática, cujo foco é a prevenção e a educação em saúde, sendo fundamental o vínculo do pediatra com a criança e a família. O atendimento ambulatorial de puericultura é destinado à criança saudável, para a prevenção, e não para o tratamento de doenças. Caso a criança esteja doente, deve-se tratar no momento a doença atual e agendar um outro momento para a puericultura quando estiver bem. Nessas consultas, o pediatra tem que estar habilitado a avaliar e monitorar: Estado nutricional da criança pelos indicadores clínicos definidos pelo MS; História alimentar; Curva de crescimento pelos parâmetros antropométricos adotados pelo MS; Estado vacinal segundo o calendário oficial de vacinas do MS; Desenvolvimento neuropsicomotor; Desempenho escolar e cuidados dispensados pela escola; Padrão de atividades físicas diárias conforme parâmetros recomendados pelo MS; Capacidade visual; Condições do meio ambiente conforme roteiro do Ministério da Saúde. Cuidados domiciliares dispensados à criança; Desenvolvimento da sexualidade; Sono, quantitativa e qualitativamente; Função auditiva; Saúde bucal; Exposição à mídia. Antecedentes Com relação à gestação: Duração da gestação (se o RN foi pré-termo; termo; ou pós-termo); Importante fazer a correção da IG em bebês prematuros (indicado fazer até os 2 anos de idade): 40 – IG ao nascimento = duração cronológica e a idade corrigida. Intercorrências (diabetes melito gestacional, infecções (p. ex. no trato urinário); Via do parto (natural ou cesariano); Exames complementares realizados pela mãe (sorologias maternas gestacionais para toxoplasmose, hepatites B e C, HTLV, HIV I e II, citomegalovírus, sífilis, rubéola, doença de Chagas; se foi constatada alguma alteração do feto no ultrassom gestacional); Suplementação de ômega 3, vitamina D, ferro e ácido fólico durante a gestação. Tipo sanguíneo materno ABO-Rh. Com relação ao bebê: Se ocorreu alguma intercorrência no parto (aspiração de mecônio, trabalho de parto prolongado); Qual a condição do RN ao nascimento (verificar boletim de Apgar, se houve choro logo após o nascimento e cianose prolongada); se foram necessárias manobras de reanimação neonatal, se foi necessário oxigênio, passagem por UTI neonatal. APGAR: faz a avaliação no 1° e no 5° minuto de vida, com pontuação de 0 a 10. Atenção: Apgar 2500g; Baixo Peso: 1501-2500g; Muito Baixo Peso: 1001-1500g; Extremo Baixo Peso: 90%). Importante investigar os motivos, por exemplo: GIG é comum em mulheres com diabetes gestacional, e PIG em gestantes tabagistas. Doenças diagnosticadas até o momento, como alergias, e sobre os medicamentos em uso. Triagem Neonatal: teste do coraçãozinho; teste da orelhinha; teste da linguinha; teste do olhinho e teste do pezinho. Se houve a suplementação de vitamina K (via IM) logo após o parto; Com relação à família: Identificar doenças (alérgicas, adquiridas e infectocontagiosas) familiares nos parentes de primeiro e segundo graus. Questionar sobre casos de síndromes clínicas na família e doenças raras ou que sejam frequentes entre os familiares. Imunizações/vacinação: Verificar caderneta de saúde da criança. O recém-nascido deve ter recebido BCG e primeira dose da vacina anti-hepatite B no primeiro dia de vida. Alimentação Verificar se o RN está em aleitamento materno exclusivo (AME), o qual é indicado até o 6° mês de vida. Após 6 meses, pode ser iniciado a introdução de outros alimentos, sendo a amamentação presente até os 2 anos de idade. Vantagens do AME: Diminuição da mortalidade infantil e proteção contra incidência e gravidade causas infecciosas, principalmente. Proteção contra a síndrome de morte súbita do lactente, diabetes insulinadependente, doença de Crohn, colite ulcerativa, linfoma, doenças alérgicas e outras doenças crônicas do aparelho digestivo. Melhor desenvolvimento cognitivo. Aceleração da involução uterina, diminuindo o sangramento pós-parto. Proteção da mãe contra câncer de mama e ovário; aumento do tempo de amenorreia e aumento do intervalo de tempo entre as gestações. Deve ser completo, realizado com o lactente sem roupa, a criança com roupas íntimas e o adolescente sempre na presença dos pais de forma crânio-caudal (se possível). A medida rotineira da pressão arterial está indicada a partir dos 3 anos de idade. Avaliação Antropométrica Peso: Os bebês até dois anos ou até 16 kg deverão ser pesados na posição deitada ou sentados na balança mecânica pediátrica. Quando maiores de 2 anos e 16kg, faz em pé na balança convencional. Em geral, é dito que a criança dobra o peso de nascimento aos 4-5 meses, triplica aos 12 meses e quadruplica com 2-2 anos e seis meses. Estatura/Altura: Até os dois anos o comprimento deverá ser medido com a criança na posição deitada, colocando-se a régua horizontal em contato com o vértice da cabeça e com a sola dos pés posicionados a um ângulo de 90°. Após os dois anos, a estatura é medida com a criança na posição de pé, sobre a régua vertical. O comprimento médio das crianças ao nascimento é de 50 cm. No primeiro semestre de vida cresce 15 cm e no segundo semestre 10 cm; ao final do primeiro ano a criança cresce 25 cm, ou seja, cerca de 50% do seu comprimento ao nascimento. Perímetro Cefálico Os vírus influenza, VSR e adenovírus podem cursar com sintomas gerais, como febre e mialgias. A ocorrência desses sintomas é incomum é causada por rinovírus. A duração média do resfriado comum é de uma semana, e apenas 10% dos casos mantêm clínica por duas semanas. Tratamento A terapia deve ser dirigida para as queixas e os sintomas apresentados. Antitérmicos: Paracetamol: 200 mg/ml, na dose de 1 gota/kg/dose 6/6 horas. Dipirona: 500 mg/ml, na dose de 1 gota/2 kg/dose 6/6 horas. Ibuprofeno: 50 mg/ml, 2 gotas/kg/dose, 8/8h. Instilação de soluções salinas isotônicas nas narinas e uma boa hidratação são medidas úteis para fluidificar as secreções. OBS: O Ministério da Saúde não recomenda o uso de anti-histamínicos e descongestionantes nasais de administração tópica e/ou oral para crianças menores de dois anos. Os pais devem ser orientados quanto aos sinais de gravidade (retorno da febre, dor intensa, muito vômito, criança muito prostrada, etc), retornando para reavaliação dentro de 48h. Visão Geral É uma das doenças mais frequentes na criança, principalmente menores de 2 anos. Acontece devido à presença de líquido preenchendo a cavidade da orelha média, sob pressão. É a principal complicação do resfriado comum. Etiologia Os agentes etiológicos frequentemente identificados nos casos de otite média aguda são: S. pneumoniae, H. influenzae não tipável e Moraxella catarrhalis.d Muitos vírus, especialmente o rinovírus e o VSR, são comumente encontrados nos exsudatos da orelha média, algumas vezes em associação com bactérias. Manifestações Clínicas Geralmente, em maiores de dois anos, a suspeita clínica é fundamentada na queixa da dor de ouvido (otalgia) pela própria criança, associada a febre, astenia, inapetência e hipoacusia flutuante. Em crianças menores de 2 anos, podem apresentar sinais indiretos de otalgia, como: levar a mão até o Principais Doenças do Aparelho Respiratório Superior Rinofaringites Virais Otite Média Aguda 28 Taciano Fontes Filho ouvido, irritabilidade, choro intenso, dificuldade para dormir. Otorreia, fluida ou purulenta, pode ocorrer em um terço dos casos, e neste caso o diagnóstico torna- se evidente. É comum ser encontrada a mastoidite como complicação. Otoscopia Sinais de efusão: São sinais de que existe líquido acumulado na orelha média; Alteração de cor da membrana timpânica: branca, amarela, âmbar ou azul. Opacificação não provocada por cicatriz; Mobilidade reduzida ou ausente. Sinais de inflamação: Principalmente abaulamento e eritema; Abaulamento moderado a grave da membrana timpânica; ou Abaulamento leve da membrana timpânica + otalgia aguda (12 semanas). Etiologia A sinusite é uma inflamação dos seios da face, que acomete principalmente as crianças maiores, pois apresentam o processo de pneumatização dos seios da face completo. Aos 4 anos: dos seios maxilares; Aos 5 anos: dos seios esfenoidais; Aos 7-8 anos: dos seios frontais. Os agentes que mais comumente causam rinossinusite bacteriana aguda são o S. pneumoniae, o H. influenzae não tipável e a M. catarrhalis. Na sinusite subaguda prolongada e na sinusite crônica, os micro-organismos isolados são o Staphylococcus coagulase negativo, o S. aureus, o Streptococcus alfa-hemolítico e os anaeróbios. Manifestações Clínicas As manifestações mais comuns são tosse, que persiste por mais de 10 dias, e secreção nasal. Também pode manifestar-se pela presença de descarga nasal purulenta e febre alta por mais três dias consecutivos. Os sintomas da sinusite de origem viral e bacteriana são bem semelhantes, mas o quadro que se arrasta por mais de 10 dias, geralmente com piora e gravidade do caso, pode-se pensar em comprometimento bacteriano dos seios paranasais. Avaliação Complementar: em adolescentes e adultos, o exame radiológico é rotineiramente necessário. Pode ser avaliado o espessamento mucoso (> 4mm), opacificação do seio; nível hidroaéreo. Tratamento Recomenda-se o tratamento antimicrobiano das rinossinusites agudas da infância para evitar complicações supurativas, embora se saiba que 50- 60% delas se resolveriam espontaneamente, sem a necessidade de antibioticoterapia. A escolha inicial poderá ser feita com amoxicilina 45-50 mg/kg/dia ou, para pacientes alérgicos a penicilina, cefuroxima, cefpodoxima, cefixima ou levofloxacina para crianças maiores. Indica-se amoxicilina-clavulanato 80-90 mg/kg/dia para crianças febre e poliadenopatia usualmente se encontram presentes. Adenovírus: Mialgia, cefaleia, febre, dor de garganta, exsudatos amigdaliana, eritema de toda orofaringe e conjuntivite (febre faringoconjuntival) são notados. Coxsackie A: Pequenas úlceras e vesículas no palato mole e pilares da amígdala (herpangina), dor abdominal e anorexia. Também causador da Síndrome mão-pé-boca. Herpes Simples: é possível observar ulcerações associado a gengivoestomatite. Além de febre, adenopatia cervical dolorosa, dificuldade para se alimentar. A conduta terapêutica consiste em higienização, o uso do aciclovir não é indicado. Mononucleose Infecciosa (Epstein-Barr): Adenopatia cervical, febre, linfadenopatia cervical e esplenomegalia são encontradas e sugerem a presença desta infecção viral. Exantema pode ocorrer após uso incorreto de ampicilina. O exsudato amigdaliano é bem parecido com o da faringite estreptocócica. Diagnóstico O diagnóstico é clínico, mas pode ter auxilio do leucograma: linfocitose indica origem viral, enquanto que a neutrofilia indica processo bacteriano. Tratamento Faringomigdalites virais: Não necessita de terapia especifica, realizando um tratamento de suporte com uso de antitérmicos, anti-inflamatórios e hidratação. A exceção acontece na faringite por herpes- simplex em pacientes imunossuprimidos, para os quais o aciclovir parenteral deve ser prescrito. Faringoamigdalite Estreptocócica: Penicilina Benzatina, dose única, IM, de 600.000 UI (crianças com peso 20kg ou 27kg). Amoxicilina 50 mg/kg/dia, dez dias. Faringoamigdalites Virais e Bacterianas 30 Taciano Fontes Filho Eritromicina ou Azitromicina também são opções. Analgésicos e anti-inflamatórios podem ser usados para alivio da dor e febre. Se iniciada dentro dos primeiros nove dias após início da faringite, o uso de antibióticos é capaz de prevenir o surgimento de febre reumática. OBS: Complicações supurativas e não supurativas da faringoamigdalite estreptocócica: Supurativas Não Supurativas Abcesso periamigdaliano Abcesso retrofaríngeo Mastoidite Abcesso de linfonodos cervicais Febre reumática Glomerulonefrite Coréia de Sydenham Síndrome do choque tóxico estreptocócico Artrite reativa Transtorno neuropsiquiátrico auto-imune pediátrico Manifestações Clínicas Cerca de 90% das crianças são assintomáticas ou oligossintomáticas para o covid-19, devido à: Presença de outros vírus simultâneos na mucosa dos pulmões e vias aéreas pode limitar o crescimento do SARS-CoV 2 por meio de interações diretas entre vírus e competição. Imunidade cruzada por outras infecções pela família coronavírus. Diferença imunológicas entre adultos e crianças. Apresentar menor expressão dos receptores da ECA, um dos mecanismos de adesão do vírus na célula hospedeira. Os sintomas mais comuns encontrados são: febre, garganta inflamada, coriza, dor de cabeça, diarreia, etc. As crianças sintomáticas graves são geralmente aquelas que apresentam comorbidades importantes: cardiopatias, asma, alterações renais, etc. Tratamento Não há até o momento um tratamento específico, sendo indicado o tratamento sintomático, com uso de analgésicos/antitérmicos (dipirona, paracetamol, ibuprofeno), lavagem nasal, hidratação e repouso. Atenção: Resposta inflamatória multissistêmica em pediatria associada ao Covid-19 É um quadro pós infeccioso que ocorre cerca de 30- 45 dias após o contato com o vírus. Caracterizado por resposta inflamatória intensa, acometendo principalmente o trato gastrointestinal e sistema cardiovascular. Sendo presente choque refratário a volume, febre alta, dor abdominal, vômitos e diarreias, rash, conjuntivite não purulenta e linfadenopatia. O seu tratamento é feito com suporte de UTI, hidratação, droga vasoativa, imunoglobulina e corticosteroide. Manifestações Clínicas Se diferencia do resfriado comum pela presença de sintomas sistêmicos. São comuns serem encontrados: febre, cefaleia, tosse, obstrução nasal, mialgia, bronquiolite e pneumonia. Geralmente é um quadro mais abrupto, mas em pacientes com comorbidades (asma, cardiopatia, prematuros, etc) podem levar a complicações graves. Tratamento Faz o tratamento sintomático com antitérmicos/analgésicos, descongestionantes nasais, hidratação e repouso. Em casos graves pode ser feito o uso de antivirais, como o Oseltamivir (Tamiflu). Covid-19 Influenza (Síndrome Gripal) 31 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 Fisiopatologia A asma inicia com o contato com o antígeno, o qual é capturado e levado pelas células apresentadoras de antígeno para ativação dos linfócitos TH2. Os linfócitos TH2 por sua vez, estimulam a liberação de interleucinas imunomoduladoras e recrutamento de mastócitos, macrófagos, eosinófilos e neutrófilos. Por consequência disso, acontece a lesão direta do epitélio, aumento da permeabilidade vascular, alteração da função mucociliar e contração do músculo liso da via aérea. Sendo assim, as manifestações são desencadeadas pela limitação do fluxo aéreo decorrente de broncoconstrição, edema, acúmulo de muco e infiltrado inflamatório com celularidade variável da parede brônquica. Quadro Clínico A crise asmática geralmente inicia-se com episódios de tosse seca recorrente, podendo evoluir para sibilância, taquidispneia, uso de musculatura acessória, queda de saturação de oxigênio, irritabilidade e eventualmente silêncio respiratório, alteração do estado de consciência e óbito. As manifestações costumam ser desencadeadas por fatores como infecções respiratórias virais, exercícios físicos, exposição a alérgenos e irritantes, como cigarro e poluição atmosférica, além de drogas como AAS e betabloqueadores. OBS: Asma Atópica É o principal tipo de asma, desencadeada por alérgeno. Nesses pacientes, é comum encontrar marcha atópica, que consiste em: dermatite atópica, rinite alérgica e alergia alimentar. Diagnóstico O diagnóstico é clínico, sendo importante fazer uma anamnese e um exame físico bem feitos. Importante questionar se o paciente fez uso de broncodilatador e se houve resposta com o uso do mesmo. Em crianças, a espirometria (> 6 anos), a medida da hiper-responsividade brônquica (HRB) e exames que medem inflamação auxiliam o diagnóstico de asma. Para o diagnóstico alérgico, pode ser solicitado os Testes de Puntura e a dosagem da IgE sérica. Diante dessas dificuldades e à necessidade de um diagnóstico precoce da asma, foi desenvolvido o Índice Preditivo da Asma (IPA): Também pode ser necessário fazer um diagnóstico diferencial com bronquiolite viral aguda, laringomalácia, síndromes aspirativas, fibrose cística, compressões extrínsecas, como tuberculose ganglionar e malformações congênitas pulmonares. OBS: Lactente Sibilante: ≥ 3 episódios de sibilância em 1 ano, nos 2 primeiros anos de vida. Sibilância contínua por 30 dias Dos 2 aos 6 anos: sibilante recorrente OBS: Atentar para FR da criança: mg/kg/dia, com dose máxima de 40 mg) por 3 a 5 dias. Manejo da crise na emergência Broncodilatadores inalados de curta ação (beta2- agonista): Salbutamol ou fenoterol acoplado a espaçador com máscara facial ou bocal. Utiliza-se a dose de 4 a 8 jatos (100 mcg/jato) a cada 20 minutos, por 3x na primeira hora. Para pacientes com crise mais grave, necessitando oxigênio em máscara facial por 6 a 8 L/min, prefere-se o uso de beta2-agonista em solução para nebulização. Solução de salbutamol ou fenoterol a 0,05% na dose de 0,1 a 0,15 mg/kg/dose, equivalente a uma gota para cada 2 a 3 kg, na dose máxima de 20 gotas. Corticosteroide: deve ser iniciado diante de resposta parcial ao broncodilatador na primeira hora ou em pacientes de risco para exarcebação grave. Prednisolona ou prednisona, VO, na dose de 1 a 2 mg/kg/dia por 3 a 5 dias, com máximo de 40 mg. Metilprednisolona, EV, na dose de 1 mg/kg, a cada 6 horas, no primeiro dia de tratamento, em paciente impossibilitado do uso por VO. Outras medicações: são utilizados quando não há resposta ao tratamento de primeira hora ou quando há risco de vida. Brometo de ipatrópio: dose de 160 mcg (2 jatos de 80 mcg) ou 250 a 500 mcg por dose (20 a 40 gotas), no nebulizador, a cada 20 minutos na primeira hora do tratamento. Sulfato de Magnésio: dose de 25 a 75 mg/kg/dose, com dose máxima de 2 g. Deve ser aplicado via EV, em dose única, lenta (em 20 minutos), diluído em soro fisiológico. Manejo da intercrise da asma As diretrizes atuais recomendam o uso de corticosteroides inalatórios diariamente, como tratamento preferencial para crianças com asma persistente leve, moderada e grave. De acordo com a fase da doença deve-se avaliar a dosagem da medicação, além da possibilidade de associar com antileucotrienos (Montelucaste - MLK) ou beta agonistas de longa ação – Laba (formoterol). MLK: sachês com 4mg ou cps com 4, 5 e 10 mg, 1x ao dia. Formoterol (>12 anos): pó seco ou aerossol 12 mcg de 12/12 horas. Níveis de Controle da Asma 33 Taciano Fontes Filho Fisiopatologia Caracterizado pela inflamação dos bronquíolos por decorrência da infecção pelo vírus sincicial respiratório. A resposta imunológica primária consiste de infiltração tecidual produzida pela migração de leucócitos polimorfonucleares e macrófagos depois da liberação de mediadores químicos procedentes das células epiteliais agredidas. Essas células liberam mais mediadores, que aumentam a permeabilidade endotelial, a camada epitelial e o transporte de íons, gerando inflamação com migração celular adicional e edema. O conteúdo luminal aumentado por secreções e detritos é responsável, em parte, pela obstrução das vias aéreas, produzindo limitações no fluxo de ar, assim como atelectasias e consequente desequilíbrio da ventilação-perfusão. Quadro Clínico A transmissão ocorre normalmente por contato direto ou próximo a secreções contaminadas, que podem envolver gotículas ou fômites. O período de incubação é de 2 a 8 dias, com uma média de 4 a 6 dias. Os sintomas e sinais comumente encontrados em portadores da BVA são: febre; tosse, geralmente seca, associada à sibilância; taquipneia; tiragens (subcostal, intercostal e supraclaviculares); crepitações inspiratórias disseminadas por todos os campos pulmonares. Diagnóstico Considerando que o diagnóstico da BVA deve ser estabelecido dentro de bases clínicas, é importante ter uma visão detalhada dos principais fatores a se considerar. Importante saber que a BVA é a infecção de trato respiratório inferior mais comum em crianças pequenas (60/min >2 meses: >50/min > 60/min >70/min Tiragem Leve Moderada Grave Batimentos de asa do nariz / gemência Ausente Ausente Presente Sat 02 >92% 88-92% 90-92%, sendo sempre considerada em pacientes hospitalizados. OBS: Em off-label uso de broncodilatadores e corticosteroides pode ser considerado. Prevenção A imunoglobulina endovenosa específica (IGEV- VSR) e o anticorpo monoclonal humanizado para VSR (palivizumabe) têm se mostrado efetivos na prevenção da infecção pelo VSR em populações de risco. São indicados principalmente em prematuros, cardiopatas, portadores de doenças pulmonares crônicas, doenças neuromusculares e imunodeprimidos. Visão Geral A coqueluche é causada por uma infecção do epitélio ciliado do trato respiratório por uma bactéria, a Bordetella pertussis. É transmitido por meio de gotículas ou fômites contaminados (5 dias após o contagio até 3 semanas após o início da tosse paroxística). Quadro Clínico Tem um período de incubação que varia de 7 a 21 dias, quando surgem a tosse e outros sintomas que são semelhantes aos sintomas de resfriado comum. → Fase Catarral (1-2 semanas) Bronquiolite Viral Aguda Coqueluche 34 Taciano Fontes Filho Ocasionalmente, febre baixa a moderada pode ser referida. Em um período de 7 a 10 dias após o início dos sintomas, o paciente apresenta a tosse paroxística, que pode persistir por várias semanas. → Fase Paroxística (2 a 6 semanas) O acesso de tosse é súbito, as tossidas são rápidas, curtas, em uma única expiração e seguidas por uma inspiração profunda que dá origem ao “guincho” característico, e/ou vômito pós-tosse. Após tratamento, o paciente apresenta melhora progressiva, mas a tosse não melhora rápido, podendo se prolongar por mais 1 ou 2 meses. → Fase de Convalescença (2 a 6 semanas) Complicações Respiratórias: broncopneumonia; atelectasia; ativação de tuberculose; pneumotórax e enfisema; ruptura diafragmática. Neurológicas: hemorragias cerebrais; convulsão; encefalopatia aguda. Outras: epistaxes; hemorragia conjuntival; edema de face; hérnias. Diagnóstico É principalmente clínico, mas alguns exames complementares podem ser solicitados: Leucograma: leucocitose com linfocitose. Cultura PCR: colher nos primeiros 7-10 dias Sorologia: IgG, IgM e IgA anti-toxina pertussis. Raio-X: inespecífico. Tratamento Azitromicina (1ª escolha): para crianças e adultos, administra-se, apenas no primeiro dia, a dose única de 10 mg/kg/dia e 500 mg/dia, respectivamente. Do segundo ao quinto dia, a dose é reduzida para 5 mg nas crianças e 250 mg nos adultos. Claritromicina: dose de 15 mg/kg/dia a cada 12 horas na criança; no adulto, 1 g/dia a cada 12 horas, por 7 dias. É uma alternativa para crianças cardiopatas. Sulfametoxazol-trimetoprima: dose de 40 mg e 8 mg/kg/dia, em duas tomadas durante 14 dias. Usada em casos de contraindicação ao uso de macrolídeos. Profilaxia Isolamento; Vacinação: DTP e PENTA (2, 4, 6 meses, reforço com 15 meses e 4 anos). Quimioprofilaxia: é realizada com Azitromicina por 5 dias, de acordo com os seguintes critérios: Comunicantes 7 anos, que tiveram contato próximo com um caso suspeito ou com um comunicante vulnerável no mesmo domicilio, no período de até 21 dias. Introdução A maioria das crianças tem de 4 a 6 infecções respiratórias agudas (IRA) por ano, principalmente nas áreas urbanas. Os principais fatores de risco para pneumonia adquirida na comunidade (PAC) são: desnutrição, baixa idade, comorbidades e gravidade da doença, que podem concorrer para o óbito. Outros fatores, como baixo peso ao nascer, permanência em creche, episódios prévios de sibilos e pneumonia, ausência de aleitamento materno, vacinação incompleta, variáveis socioeconômicas e variáveis ambientais, também contribuem para a morbidade e a mortalidade. Etiologia Vários estudos apontam os vírus como os principais agentes de PAC em crianças até 5 anos em países desenvolvidos. Os mais frequentes são: vírus sincicial respiratório (VSR), vírus influenza, parainfluenza, adenovírus, rinovírus e coronavírus. Os agentes bacterianos, por outro lado, são os principais responsáveis pela maior gravidade e mortalidade por PAC na infância. Os principais agentes são: Streptococcus pneumoniae e Staphylococcus aureus. Quadro Clínico Os principais sinais e sintomas da PAC são febre, tosse, taquipneia e dispneia, de intensidades variáveis. Pneumonias Comunitárias 35 Taciano Fontes Filho Sintomas gripais são comuns, bem como otite média. Algumas crianças apresentam dor abdominal, principalmente quando há envolvimento dos lobos pulmonares inferiores. A sibilância ocorre com maior frequência nas crianças com infecções virais ou por Mycoplasma pneumoniae ou Chlamydia pneumoniae. Sinais de alerta: Crianças 2 anos: tiragem subcostal, estridor em repouso, recusa de líquidos, convulsão, alteração do sensório e vômito de tudo que lhe é oferecido. Diagnóstico O diagnóstico de PAC é eminentemente clínico: Viral: sintomas de VAI, sintomas gerais, febre baixa. Pneumococo: sintomas de VAS, sintomas gerais, febre alta, dificuldade respiratória, dor abdominal, tosse. Estafilocócica: sintomas de VAS, progressão rápida, febre alta, dificuldade respiratória, toxemia, sintomas gastrointestinais. M. pneumoniae ou C. pneumoniae: início gradual, febre, dor de garganta, rouquidão, tosse. Os métodos invasivos, como broncoscopia, lavado broncoalveolar e biópsias pulmonares, seriam indicados em situações excepcionais, quando a evolução da PAC for desfavorável. A cultura do escarro tem pouca utilidade prática, por não diferenciar infecção de colonização. PAC bacteriana: Leucograma: leucocitose com neutrofilia Proteína C reativa (PCR) ≥ 40-100mg Hemocultura: indicada apenas em PAC grave, sendo importante para o conhecimento do padrão de resistência/sensibilidade aos antimicrobianos. Sorologias (IgM e IgG): são úteis no diagnóstico das infecções por Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia trachomatis e Chlamydia pneumoniae. Na pneumonia estafilocócica é observado a ausência de resposta à penicilina. Raio X: consolidação alveolar, pneumatoceles, derrames pleurais e abscessos. PAC viral: Leucograma: leucocitose com linfocitose. Sorologia Raio-X: infiltrado intersticial. Tratamento Virais: Sintomático Oxigênio Antivirais: Ribavirina e Oseltamivir Pneumococo: Ambulatorial: Penicilina Procaína: 50.000 UI/kg, EV, 12/12h. Amoxicilina: 50 mg/kg, VO, 12/12h Hospitalar: Penicilina cristalina: 200.000 UI/kg, EV, de 6/6h, por 10 a 14 dias. Ampicilina: 150 mg/kg, EV, de 6/6h. Estafilocócica: Oxacilina 200 mg/kg, EV, de 6/6h; OU Cefalotina Clindamicina Vancomicina M. pneumoniae e C. pneumoniae: Azitromicina: Claritromicina Indicação de internação 36 Taciano Fontes Filho 37 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 Definição: Crise Epiléptica x Convulsão Crise epiléptica é uma manifestação clínica resultante de descargas neuronais excessivas, paroxística e síncronas de um grupo de neurônios corticais. Convulsão relaciona-se a manifestações motoras da crise epiléptica, caracterizadas por contrações musculares anormais e excessivas. Tipos de Crises Epilépticas Focal: originam-se em redes neuronais limitadas a um hemisfério. Generalizada: podem ser corticais ou subcorticais, nascem em um determinado local e rapidamente se propagam, envolvendo redes neurais bilaterais, podendo ser simétricas ou assimétricas. Simples: quando não há perda de consciência. Complexa: quando tem perda da consciência. Causas de Crises Epilépticas Infecciosas: meningite, sepse, encefalite, abcesso, infecções congênita. Neurológicas: encefalopatia, hipoxico-isquêmica, kernicterus, HIC, malformações, síndromes neurocutâneas (por ex. neurofibromatose), quadros epilépticos específicos. Drogas: altas doses de predinisolona e penicilinas, anfetaminas, uso de cocaína, retirada de anticonvulsivantes. Metabólicas: hipoglicemia, hipocalcemia, hipomagnesemia, hiponatremia, hipernatreima, hipofosfatemia, erros inatos do metabolismo. Endócrinas: hipo e hipertireoidismo. Hiperpirexia: crise febril. Introdução É definida como “uma crise epiléptica que ocorre entre 6 meses e 6 anos de idade, associada à doença febril, não causada por uma infecção do sistema nervoso central (SNC), ou, que se encaixam nos critérios de outra crise sintomática aguda. A CF ocorre geralmente nas primeiras 24 horas do episódio febril, no período de ascensão rápida da temperatura. A curta duração da febre antes da CF e a baixa temperatura são associadas a um aumento do risco de recorrência. As CF são classificadas em simples e complexas: Simples: tem apresentação generalizada, duração inferior a 15 minutos e não recorre em menos de 24 horas, com exame neurológico pós-ictal normal. Complexa: tem duração superior a 15 minutos e/ou apresenta uma ou mais recorrências nas primeiras 24 horas, podendo iniciar-se como focal e/ ou apresentar exame neurológico pós- ictal alterado. Epidemiologia e Genética Estima-se que 2 a 5% das crianças menores de 5 anos apresentarão pelo menos um episódio de CF. O primeiro episódio de CF ocorre, em 90% dos casos, entre 6 meses e 3 anos de idade. Estudos referem a ocorrência de crises epilépticas em 7% dos familiares em geral e em 7% dos pais e 12% de irmãos de crianças com CF. A incidência de CF varia também de acordo com a região geográfica. Em certos países da Ásia, há uma elevada frequência de CF. Diagnóstico O diagnóstico de CF na infância é essencialmente clínico, tornando fundamentais a anamnese detalhada e o exame físico minucioso, com o objetivo de afastar intoxicações exógenas, trauma, focos infecciosos e avaliar as características da crise e a história familiar. O exame do líquido cefalorraquidiano, diante de uma primeira convulsão febril, está indicado nas seguintes condições: Crises Focais; Estado pós-ictal prolongado; Estados hipercoaguláveis (p. ex. síndrome nefrótica); Doenças hemorrágicas (p. ex. hemofilias, plaquetopenia ou disfunção plaquetária). Tratamento A maioria das crianças já chega ao pronto-socorro no período pós-ictal. No momento da admissão no setor do pronto- socorro, deve-se posicionar e desobstruir as vias aéreas, a temperatura deve ser imediatamente aferida, sendo indicado controle da febre por meios físicos (compressas frias) e antitérmicos. Além disso, também deve ser feito a oferta de oxigênio, monitorização da FC, saturação e glicemia capilar. Nas situações em que há recorrência da CF, pode- se recomendar o uso de benzodiazepínicos, durante o episódio febril. Diazepam: EV, sem diluição, 0,2 a 0,3mg/kg/dose; OU, VR 0,3 a 0,5 mg/kg, infundido por meio de um cateter. Midazolam: EV, sem diluição, 0,15 a 0,3 mg/kg/dose; OU, VN em gotejamento com seringa de insulina, 0,15 a 0,3 mg/kg/dose. Lorazepam, EV ou IM. OBS: Aplicar até 3 doses, com intervalo de 5 minutos. O tratamento de segunda linha consiste em: Fenitoína: 50mg/ml; dose de ataque: 15 a 20mg/kg, com infusão de 1mg/kg/min; dose de manutenção: 5 a 10mg/kg/dia, em 2 ou 3 doses. Fenobarbital: 100mg/ml e 200mg/ml; dose de ataque: 10 a 20 mg/kg com infusão de 1mg/kg/min; dose de manutenção: 5mg/kg/dia, em 2 doses. Introdução Caracterizada por “uma crise epiléptica única ou por crises epilépticas subintrantes e sem recuperação da consciência entre os eventos com duração igual ou superior a 30 minutos”. Uma forma mais grave de EME é denominada EME refratário, sendo definido por diferentes autores como: EME sem controle clínico e/ou eletrográfico após administra- ção de dois fármacos antiepilépticos; ou EME sem controle clínico e/ou eletrográfico após a adminis- tração de três fármacos antiepilépticos; ou EME com duração superior a 1 hora; ou EME com duração superior a 2 horas. Classificação Seu início pode estar localizado em um circuito restrito de neurônios (formas focais) ou em amplas áreas de ambos os hemisférios cerebrais (formas generalizadas). EME generalizado: Convulsivo: tônico-clônico (grande mal); clônico; tônico; mioclônico. Não Convulsivo: ausência típica; ausência atípica; atônico. EME Focal (parcial): parcial simples/EME de aura contínua; epilepsia parcial contínua de Kojevnikov; psicomotor (parcial completo); hemiconvulsivo com hemiparesia. Causas As etiologias do EME são extremamente variáveis, já que qualquer doença neurológica aguda, subaguda ou crônica pode, teoricamente, evoluir com crises convulsivas prolongadas e, consequentemente, EME. Causas sintomáticas agudas: Traumatismo crânio-encefálico; Tumores cerebrais; Hipóxia cerebral recente; AVE isquêmico ou hemorrágico; Meningites bacteriana; Encefalites virais; Intoxicações exógenas; Abstinência a drogas; Distúrbios metabólicos agudos; EME febril; Fármacos: destacando-se esmolol, cefalosporinas endovenosas, penicilinas, quinolonas, metronidazol, imipenem, sulfonamidas, aminofilina, teofilina, terbutalina, nitroprussiato de sódio, digoxina, cimetidina, ciclofosfamida e clorpromazina. Estado de Mal Epiléptico (EME) 39 Taciano Fontes Filho Causas sintomáticas crônicas ou remotas: Pacientes epilépticos ou com lesões cerebrais estruturais pré-vias: seja por descompensação das crises, seja por interrupção dos fármacos antiepilépticos. Crianças sem histórico de epilepsia, mas com lesões corticais e/ou cortico-subcorticais. Fisiopatologia No EME não convulsivo com crises de ausência (típica ou atípica), o fenômeno ictal tem início com a liberação de neurotransmissores predominantemente inibitórios, sobretudo o GABA-B, na fenda sináptica. No EME convulsivo no início do fenômeno ictal, há um aumento consistente de neurotransmissores excitatórios, levando a uma alta descarga adrenérgica, hiperglicemia, taquicardia e hipertensão. Por consequência disso, acontece um alto consumo de glicose e oxigênio, caracterizando um quadro de hipoxemia e acidemia. Nas crises demoradas, pode ocorrer depleção da glicose, acidemia acentuada, hipotensão, hipertermia, rabdomiólise, hiperpotassemia, lesão neurológica, lesão renal e mioglobinúria. Tratamento Os benzodiazepínicos (diazepam ou midazolam) são fármacos antiepilépticos ideais para controle agudo de crises. Entretanto, seu efeito fugaz torna necessária a administração de uma droga de segunda linha com efeito antiepiléptico mais duradouro, devendo-se infundir fenitoína. Caso haja falha do controle clínico/e ou eletrográfico está indicado o uso de infusão contínua de propofol (iniciando com dose de ataque de 2 mg/kg/dose e seguindo com manutenção de 2 a 10 mg/kg/hora) ou lidocaína (iniciando com dose de ataque de 1 a 2 mg/kg/dose e ma- nutenção de 6 mg/kg/hora - nas crianças- e 1,5 a 3,5 mg/kg/ hora - nos adolescentes). 40 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 Possíveis Causas Os mecanismos de TCE mais frequentes na infância são colisões automobilísticas, atropelamentos, acidentes de bicicleta e quedas de altura. O TCE intencional, por abuso ou maus-tratos, também é muito frequente na infância, podendo ocorrer pela chamada “síndrome do bebê sacudido”, por lesões causadas por impacto direto e compressão ou por lesões penetrantes. Classificação das Lesões As lesões primárias são decorrentes diretamente do mecanismo do trauma, podendo ocorrer por contato ou forças inerciais. Como consequência, as crianças apresentam lesões encefálicas difusas, geralmente sangramentos e edema. A lesão secundária é a cascata de reações fisiológicas e bioquímicas que ocorre após o trauma primário, podendo levar à perda da autorregulação encefálica e ao surgimento ou agravamento do inchaço cerebral difuso. As causas mais frequentes são: hipoxemia; hipo ou hipercapnia; hipotensão arterial; hipertensão intracraniana (HIC); crises convulsivas; hipertermia; distúrbios hidroeletrolíticos e metabólicos (principalmente de sódio e glicose). Principais Lesões do TCE: Lesões do Traumatismo Cranioencefálico (TCE) Lesões Trumáticas Lesões do couro cabeludo Fraturas Lesões Intracranianas Contusão Cerebral Hematoma epidural Hematoma Subdural Hematoma intraparenquimatoso Lesão axonal difusa Lesão microvascular difusa Perda neuronal seletiva Isquemia hipoxêmica O atendimento inicial independe do diagnóstico específico da lesão intracraniana e baseia-se em uma abordagem sistematizada com princípios aceitos internacionalmente. Para isso, aplicamos o protocolo ABCDE do trauma: A: controle das vias aéreas e coluna cervical; B: Respiração e ventilação; C: Circulação com controle de hemorragia; D: Exame neurológico sumário; E: Exposição com controle de hipotermia. Vias Aéreas com controle da coluna cervical (A) A hipoxemia (apneia, cianose ou oximetria abaixo de 90%) deve ser evitada e prontamente corrigida, visto que causa dano neuronal, agrava o edema e a HIC por vasodilatação e aumenta a mortalidade de vítimas de TCE. Pacientes em coma perdem o tônus da musculatura faríngea e os reflexos de proteção das vias aéreas, aumentando o risco de obstrução e asfixia por queda da língua e aspiração de sangue, secreções e conteúdo gástrico O médico deve manter as vias aéreas pérvias, inicialmente com técnicas manuais e, em seguida, com entubação traqueal ou ventilação bolsa- máscara, quando o tempo previsto para transporte é curto. Pacientes em coma mantidos com ventilação bolsa-máscara devem receber compressão da cartilagem cricoide para minimizar a distensão gástrica e a regurgitação até serem entubados. Ventilação (B) A hipoventilação secundária à depressão do SNC causa hipercapnia e vasodilatação cerebral. Isso pode gerar ou agravar a HIC, o que compromete o fluxo sanguíneo encefálico, podendo causar dano neuronal permanente, herniações e morte. Em contrapartida, a hiperventilação inadvertida causa hipocapnia e vasconstrição cerebral. Só sendo recomendada nos casos de HIC evidente ou sinais de herniação cerebral iminente. O médico deve manter níveis de pressão arterial de CO2 nos limites inferiores da normalidade, em torno de 35 mmHg. Isso pode ser atingido com frequência respiratória de 20 para adolescentes e para crianças, e 25 para lactentes (menores de um ano). Circulação com controle da hemorragia (C) O encéfalo pode perder sua capacidade de autorregulação e não ser capaz de manter fluxo Traumatismo Cranioencefálico (TCE) na Infância Introdução Atendimento Inicial 41 Taciano Fontes Filho sanguíneo em episódios mesmo moderados de hipotensão. Deve ser tratada agressivamente buscando valores de PAS entre os percentis 5 e 50 para a idade, calculados: P5 = (idade × 2) + 70 e P50 = (idade × 2) + 90. A procura de fontes extracranianas de sangramento deve ser imediatamente instituída na vigência de hipotensão. Déficit Neurológico (D) Consiste na determinação do estado de consciência, preferencialmente por meio da escala de coma de Glasgow (ECG): OBS: na atualização de 2018, foi acrescentado o critério de Reatividade Pupilar, no qual, quando inexistente despontua 2 pontos (-2), se for unilateral um ponto (-1) e bilateral não despontua (0). Classifica-se o trauma em leve (entre 13 e 15), moderado (9 a 12) e grave (3 a 8). O objetivo é detectar sinais de HIC, herniações encefálicas e convulsões. A definição de coma (≤ 8) inclui ausência de abertura ocular, de verbalização e da capacidade de atender a comando verbal simples. Alguns fatores são motivo de erro durante a determinação do ECG: hipóxia, hipotensão arterial, sedativos, bloqueadores neuromusculares, uso de álcool e de outras drogas que podem alterar o estado de consciência. Esses dados devem constar no prontuário e devem ser reavaliados quando obtiver a reversão do quadro. OBS: em crianças circuncisão no sexo masculino; Disfunção miccional; Uropatia obstrutiva; Instrumentação uretral; Fontes de irritação externa (como o uso de roupas apertadas ou oxiuríase); Constipação: por comportamento retentivo, acaba retendo a urina junto com as fezes. Anomalias anatômicas (adesão de lábios); Bexiga neurogênica; Atividade sexual; Gravidez. Etiologia As bactérias mais comumente envolvidas são Gram-negativas, da família das enterobactérias. As principais bactérias identificadas são: Escherichia coli (75-90%), Klebsiella, Proteus, Pseudomonas e Enterobacter spp. As cepas de E. coli contém as fimbrias P, estruturas filamentosas que têm capacidade de se fixar no epitélio, aumentando sua adesão. Também podem apresentar o antígeno capsular K, conferindo maior proteção contra a lise do sistema complemento e contra a fagocitose. Algumas dessas bactérias podem apresentar: Hemolisina: são enzimas citotóxicas capazes de lesar as células tubulares; Aerobactina: relacionada a capacidade da bactéria capturar o ferro para seu metabolismo. Via Ascendente As bactérias colonizam o períneo e conseguem alcançar a bexiga ascendendo pela uretra. As papilas renais são dotadas de mecanismos antirrefluxo, que impedem o retorno da urina oriunda da pelve renal, mas, em algumas regiões, o refluxo intrarrenal pode se estabelecer. Caso isso aconteça, teremos o desenvolvimento de uma resposta inflamatória e imunológica. Via Hematogênica A bactéria vai pelo sangue, encontra o epitélio do sistema urinário, fixa-se e se prolifera, causando a infecção urinária Recém-nascidos Sinais/sintomas específicos do trato urinário não são comuns. O recém-nascido pode exibir um quadro de sepse ou toxemia, caracterizado por alterações da temperatura (hipo/hipertermia), ganho ponderal insuficiente, sucção débil, vômitos, diarreia, distensão abdominal, irritabilidade, hipoatividade, moteamento da pele, palidez, cianose e icterícia prolongada. Durante a avaliação do RN com suspeita de ITU, sempre avaliar se há relato de USG morfológica durante a gestação, com descrição de anomalias renais ou de tubo neural. Lactentes Também apresentam um quadro clínico inespecífico na vigência de ITU. Infecção do Trato Urinário (ITU) Introdução Etiologia e Fisiopatologia Quadro Clínico 45 Taciano Fontes Filho Pode haver manifestações como ganho ponderoestatural insuficiente, febre, hiporexia, recusa alimentar, náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal e eventualmemte, choro às micções e alterações de odor urinário. OBS: pielonefrite é a infecção bacteriana grave que mais comumente provoca febre sem sinais de localização em crianças abaixo de dois anos. Pré-escolares e escolares Os sintomas de ITU podem se tornar localizatórios. Queixas como polaciúria, disúria, estrangúria, urgência, enurese, dor lombar, febre, calafrios, náuseas e vômitos combinam-se em diferentes composições para nos fazer suspeitar de uma infecção alta (pielonefrite) ou baixa (cistite). Ao exame físico, a punho-percussão da região lombar dolorosa (sinal de Giordano) sugere o acometimento do parênquima renal. Adolescentes Os sintomas de polaciúria, disúria e dor em baixo ventre são as manifestações mais comuns. Pode haver também hematúria. Quando há pielonefrite, observa-se febre, calafrio e/ou dor nos flancos. Clínico Além da sintomatologia relatada na anamnese, o exame físico deve ser completo, incluindo: Crescimento ponderoestatural e o desenvolvimento neuropsicomotor; A percussão lombar (punho-percussão) pode evidenciar forte reação dolorosa (Giordano positivo); A palpação abdominal das lojas renais pode demonstrar aumento do volume renal (hidronefrose). A persistência de bexiga palpável após a micção sugere processo obstrutivo ou disfunção do trato urinário inferior. É importante a observação do jato urinário para avaliar a continuidade, o volume e a força de expulsão. Esse achado sugere obstrução baixa. Exame da genitália externa; Laboratorial Obtenção de amostra: nas crianças com controle esfincteriano, deve ser obtida uma amostra de jato médio. Recomenda-se que antes do exame seja feita a higiene local apenas com água e sabão. Porém, nas crianças sem controle, torna-se necessário um outro meio para a coleta de uma amostra: Punção Suprapúbica: está especialmente indicada nos casos em que a coleta por via natural suscita dúvidas (diarreia aguda, dermatite perineal, vulvovaginites e balanopostites); Padrão Ouro! Cateterismo vesical: assim como a punção, é um método bastante empregado e recomendado. Saco Coletor: quando empregado, alguns cuidados devem ser seguidos, devido ao risco de contaminação. A higiene deve ser feita de forma apropriada e o adesivo deve estar bem adaptado ao contorno da genitália. Além disso, o saco deve ser trocado a cada 30 minutos, até que a amostra de urina seja obtida. Urocultura: para confirmação diagnóstica é necessária que seja identificada uma bacteriúria significativa. A interpretação dos resultados deve ser feita de forma criteriosa e de acordo com o método de coleta: Punção suprapúbica: Crescimento bacteriano em qualquer número (exceto 2 a 3 × 10³ UFC/ml de estafilococo coagulase-negativo). Cateterismo vesical: Entre 1.000 e 50.000 UFC/ml de um patógeno urinário único. Jato Médio/Saco coletor: Mais de 10⁵ UFC/ml de um patógeno urinário único. EAS (urinálise, Urina Tipo 1, Urina rotina): É importante que a amostra seja rapidamente analisada (em até uma hora após obtenção, se mantida em temperatura ambiente, ou até quatro horas após, se mantida sob refrigeração). Várias alterações podem ser encontradas: Piúria: caracterizada pela presença de cinco ou mais piócitos por campo microscópico de grande aumento (400 vezes) ou mais de 10.000 piócitos/ml. Sugere o diagnóstico de ITU, embora a sua ausência não o afaste. Nitrito positivo: sugere a presença de bactérias Gram-negativas na urina, capazes de converter o nitrato urinário em nitrito. Tem maior Diagnóstico 46 Taciano Fontes Filho especificidade para o diagnóstico de ITU, mas menor sensibilidade. Outras alterações: a baixa Densidade Urinária (DU) pode indicar um distúrbio da concentração urinária; o pH alcalino pode estar relacionado com uma infecção pelo Proteus; a albuminúria transitória pode ocorrer na fase febril do processo ou em casos de pielonefrite; a hematúria microscópica é um achado frequente nos quadros de cistite. Bacterioscopia: Uma gota de urina não centrifugada é colocada em lâmina e corada pelo método de Gram. O achado de uma ou mais bactérias por este método se correlaciona fortemente com bacteriúria significativa na urinocultura. Outros exames: Hemograma, PCR, Pr OBS: Bacteriúria Assintomática O quadro se caracteriza pela presença de três urinoculturas consecutivas com bacteriúria significativa em um período de três dias a duas semanas, podendo ser transitória ou persistente, e é mais comum no sexo feminino. O tratamento não é recomendado, salvo em gestantes e indivíduos que serão submetidos a alguns procedimentos urológicos. Sintomático Analgésicos e antitérmicos na presença de dor e/ou febre. Erradicador Infecção Urinária Febril: Drogas de uso oral: Cefuroxime: 30 mg/kg/dia, 12/12h; Cefaclor: 40 mg/kg/dia, 8/8h; Drogas parenterais: Cefuroxime: 150 mg/kg/dia, 8/8h; Gentamicina: 5-7,5 mg/kg/dia, 1x ao dia; Amicacina: 15 mg/kg/dia, 1x ao dia; Cefotaxime: 150-200 mg/kg/dia, 8/8h; Piperacilina/Tezobactam: 300 mg/kg/dia, 6/6 ou 8/8h; Infecção Urinária Afebril: Nitrofurantoina: 5-7 mg/kg/dia, VO, 6/6h; Cefalexina: 50 mg/kg/dia, VO, 6/6 ou 8/8h; Sulfametoxazol + Trimetoprima: 8-12 mg trimetoprima/kg/dia, VO, 12/12h, OBS: Em Recém-nascidos o tratamento é o mesmo para sepse: ampicilina + amicacina. Em caso de resistência, a amicacina pode ser substituído pela gentamicina. OBS: A internação está indicada para os lactentes mais jovens com pielonefrite (a SPB indica a internação para os menores de três meses); para as crianças desidratadas, com vômitos ou incapazes de ingerir líquidos; e para as crianças com sinais de sepse. Profilático Recomendações pela SBP: Durante a investigação do trato urinário após um primeiro episódio de ITU; Quando há diagnóstico de anomalias obstrutivas do trato urinário enquanto se aguarda a correção cirúrgica; Na presença de refluxo vesicoureteral de graus III a V; Nas crianças que apresentem recidivas frequentes da ITU, mesmo com estudo morfofuncional do trato urinário dentro da normalidade; nesses casos, deve ser utilizada por um período de 6 a 12 meses, podendo, quando necessário, prolongar-se o tempo de uso. Medicações: Nitrofurantoína: 1 a 2mg/kg/dia, VO, dose única diária; Sulfametoxazol/trimetoprim: 1 a 2 mg de trimetoprim, VO, dose única diária; Cefalosporina de 1ª geração (Cefalexina): 1/4 dose de tratamento, VO, dose única diária. Os principais objetivos da avaliação morfofuncional do trato urinário são: detectar condições predisponentes da infecção e das recidivas, avaliar a presença de lesão renal e estabelecer conduta que possa prevenir o surgimento da lesão renal ou o seu agravamento, visando ao melhor prognóstico para o paciente. Ultrassonografia É o exame de escolha para o início da investigação. Inclui avaliação do volume e tamanho renal, espessura e características do parênquima renal, diâmetro anteroposterior (AP) da pelve, diferenciação corticomedular, etc., e também a espessura da parede vesical, resíduo pré e pós- miccional, morfologia dos ureteres. Também demonstra o crescimento do parênquima renal, as anomalias de posição e localização renais, a presença de hidronefrose, cálculos e abscesso renal. Tratamento Avaliação Morfofuncional do Trato Urinário 47 Taciano Fontes Filho Uretrocistografia miccional (UCM) A UCM é o método utilizado para identificação e classificação do grau do refluxo vesicoureteral. O exame consiste na cateterização da bexiga e injeção de contraste, objetivando mapear se há refluxo para ureteres e pelve renal. Só pode ser realizado após o término do tratamento e recomenda-se a antibioticoprofilaxia para sua realização. Cintilografia Estática: O DMSA é injetado na circulação e captado pelas células tubulares proximais renais, sendo excretado muito lentamente. A leitura desta captação possibilita a aquisição de imagem em ambos os rins, identificando locais de ausência de captação que correspondem a áreas não funcionantes (cicatrizes renais). Dinâmica: O DTPA é injetado na circulação e possui como característica a não captação pelas células tubulares, com livre filtração pelo glomérulo e eliminação na urina. Permite a avaliação da capacidade de filtração renal, podendo ser indicado na investigação de uropatias obstrutivas. Urografia Excretora (UE) Tem indicação restrita a situações especiais como algumas malformações complexas com possibilidade de abordagem cirúrgicas. Apresenta como desvantagens a elevada carga de irradiação e os riscos associados com o uso de contrastes iodados. Estudo urodinâmico Consiste na avaliação urológica da função vesical para estudar a capacidade, a pressão vesical, a atividade do detrusor e da musculatura do assoalho pélvico durante o enchimento e o ato miccional. São reservados para crianças com suspeita de algumas disfunções miccionais e bexiga neurogênica. 48 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 São moléstias infecciosas nas quais a erupção cutânea é a característica dominante. A análise do tipo da lesão, dos sinais e dos sintomas concomitantes e a epidemiologia, algumas vezes, permitem inferir o diagnóstico etiológico, sem a necessidade de exames laboratoriais complementares. Embora a maioria dos exantemas virais sejam originária de doenças autolimitadas e benignas, algumas podem ser expressões de moléstias mais graves, como a meningococcemia, por exemplo. Mecanismo de agressão à pele Os micro-organismos podem causar erupção cutânea por: Invasão e multiplicação direta na própria pele, por exemplo, na infecção pelo vírus da varicela- zóster e do herpes simples; Ação de toxinas, como na escarlatina e nas infecções estafilocócicas; Ação imunoalérgica com expressão na pele, mecanismo mais frequente nas viroses exantemáticas; Dano vascular, podendo causar obstrução e necrose da pele, como na meningococcemia ou na febre purpúrica brasileira. Caracterização das lesões (ver adiante) Mácula: é uma lesão plana, não palpável; Pápula: são lesões pequenas perceptíveis ao tato que, quando maiores, são chamadas de nódulos; Máculo-papular: composto tanto por mácula como por pápula, sendo a lesão mais comum; Vesículas: são pequenas lesões que contêm líquido e, quando maiores, são chamadas de bolhas; Pústulas: quando o líquido é purulento; Placas: são lesões planas, mas elevadas, perceptíveis ao tato e grandes. Purpúrica: lesão de cor eritematosa, que desaparece com a vitropressão por decorrência de extravasamento de sangue. Podem ser pequenas, petequiais, ou maiores, equimóticas. Morbiliformes: quando existem áreas de pele sã entre as lesões e escarlatiniformes, quando o acometimento é difuso. Crosta: resíduo espesso e endurado, decorrente do ressecamento de conteúdo seroso ou líquido exposto da lesão. É encontrado na fase final da varicela. Visão Geral É causado pelo paramixovírus, transmitido por via aérea, por meio de aerossol. É contagioso a partir de 2 dias antes do início pródromo até 4 dias após o aparecimento de exantema, período o qual deve ser feito o isolamento e uso de máscara. Quadro clínico Viroses Exantemáticas Introdução Sarampo 49 Taciano Fontes Filho O seu tempo de incubação dura cerca de 8 a 12 dias. Inicia com pródromos, que duram de 3 a 4 dias, com febre elevada, tosse (seca e intensa), olhos hiperemiados (fotofobia), orofaringe hiperemiada (manchas de Koplik), cefaleia, mal-estar e prostração intensa. As manchas de Koplik são branco-azuladas, que aparecem 1 ou 2 dias antes do exantema e desaparecem 2 ou 3 dias depois. O exantema (máculopapular eritematoso mobiliforme), inicia-se atrás do pavilhão auricular, disseminando-se rapidamente para o pescoço, face, tronco e membros. Nesta fase acontece uma piora clínica. O exantema começa a esmaecer em torno do terceiro ou quarto dia, na mesma sequência que apareceu, deixando manchas acastanhadas. Na fase final, acontece a descamação da pele, principalmente nas mãos e pés. Complicações O número de complicações é grande, podendo-se citar, entre elas: laringite, às vezes muito acentuada, traqueobronquite, pneumonite intersticial, ceratoconjuntivite, miocardite, adenite mesentérica, diarreia com perda importante de proteína e panencefalite esclerosante subaguda. Complicações bacterianas: Otite Média Aguda (OMA) é a principal complicação bacteriana. Também podem suceder sinusite, pneumonia bacteriana, púrpura trombocitopênica, encefalomielite, reativação de tuberculose pela imunodepressão. Suspeitar de complicações, quando febre após o 4º dia de exantema. Diagnóstico Laboratorial A partir do 6º dia de exantema: pesquisa de IgM. Fase inicial e 2 a 3 semanas após: dosagem de anticorpos de hemaglutinação, neutralização, fixação de complemento. Prevenção A vacina contra o sarampo está presente na PNI, na tríplice viral (12 meses) e na tetra viral (15 meses). A dose de reforço é dada após 12 anos. Cuidados com os Contactantes Aplicar a vacina contra o sarampo até 72 horas após o contágio; após esse período, até 6 dias, aplicar a imunoglobulina humana normal (0,25 mL/kg em crianças normais e 0,5 mL/kg em imunodeprimidos). Tratamento Faz uso do tratamento de suporte, com antitérmicos, hidratação e repouso. A suplementação de vitamina A pode ser necessário, visto que a sua hipovitaminose pode complicar os casos de sarampo. Visão Geral É causada pelo togavírus, sendo transmitido por via aérea, por meio de perdigotos. O seu tempo de contágio gira em torno de poucos dias antes até 5 a 7 dias depois da erupção, período o qual deve ser feito o isolamento. Quadro Clínico O seu tempo de incubação dura cerca de 14 a 21 dias. Principalmente em crianças não se observa pródromo, mas em adolescentes e em adultos podem aparecer sintomas gerais brandos antecedendo 1 a 2 dias o exantema. O exantema (máculopapular róseo) se inicia na face, espalhando-se rapidamente para o pescoço e o tronco e atingindo os membros já em 24 horas, com duração de até 3 dias. O sinal de Forscheimer é um achado marcante, composto por lesões petequiais no palato mole. Rubéola 50 Taciano Fontes Filho Assim como a adenomegalia (na regiões retroauricular, pós occipital e cervical posterior) que pode anteceder em até 7 dias o exantema. Complicações As complicações na criança são raras, citando- -se a púrpura trombocitopênica, a encefalite e, em mulheres, a artralgia. Na síndrome da rubéola congênita, pode acarretar para o bebê: catarata, surdez e cardiopatia. Diagnóstico Laboratorial Isolamento do vírus do material de nasofaringe ou da urina. Pesquisa de IgM e de IgG no soro. Prevenção É realizada com a vacina de vírus vivo e atenuado, que é aplicada após os 12 meses de idade. Tratamento Faz a conduta expectante, pois é autolimitada. Visão Geral É causada pelo herpes-vírus humano 6 (HVH6) e 7 (HVH7), transmitido provavelmente por perdigotos. É contagiosa durante a fase de viremia, sobretudo no período febril. Não é necessário isolamento. Quadro Clínico O início da doença é súbito, com febre alta e contínua (a criança fica extremamente irritada e anorética), que dura cerca de 3 a 4 dias. Linfonodomegalia cervical é achado muito frequente, assim como a hiperemia de cavum. Após a cessação da febre, aparece o exantema, também de modo súbito, constituído por lesões maculopapulares rosadas que se iniciam no tronco e se disseminam para a cabeça e as extremidades. Dura cerca de 2 a 3 dias. OBS: acomete, virtualmente, apenas as crianças entre 6 meses e 6 anos de idade, predominando nas menores de 2 anos. Diagnóstico Laboratorial Presença do HVH6 e HVH7 no sangue. Presença de anticorpos. Tratamento Faz a conduta expectante, pois é autolimitada. Visão Geral É causado pelo parvovírus humano B19, transmitido por via aérea, por perdigotos. Não é necessário isolamento, pois o seu tempo de contagio é desconhecido. Quadro Clínico O tempo de incubação dura de 4 a 14 dias. Em geral, não há pródromos, mas quando ocorre tem sinais à IVAS. O primeiro sinal costuma ser o exantema, que se inicia na face como maculopápulas, dando aspecto de “cara esbofeteada” (placa vermelho-rubra). Depois de 1 a 4 dias, o exantema evolui, acometendo os membros inferiores e inferiores. Com duração de até 10 dias. Recorrência das lesões, mesmo após 1 a 2 semanas do desaparecimento, é descrita, decorrente da ausência de repouso, quando a criança brinca, fica no sol. Complicações A mais grave é a morte fetal, quando o vírus acomete mulheres grávidas. Pode ser acompanhada de artralgias e de artrite. Crise aplásica transitória: afetam os precursores eritróides, com uma parada transitória de eritropoiese. Os pacientes apresentam anemia, que pode ser profunda em pessoas com hemoglobinopatias. Diagnóstico laboratorial Sorologia para parvovírus humano B19. Tratamento Faz a conduta expectante, pois é autolimitada. Visão Geral Roséola infantil ou Exantema Súbito Eritema Infeccioso Varicela 51 Taciano Fontes Filho Causado pelo vírus varicela-zéster, do grupo herpes, transmitido por aerossol, contágio direto e pela transmissão vertical. O seu tempo de contágio vai do 10º dia após o contato até a formação de crostas de todas as lesões. Sem importante ter o isolamento tanto respiratório como por contato. Quadro Clínico O tempo de incubação dura de 10 a 21 dias. Principalmente em crianças, o exantema é o primeiro sinal da doença, mas, eventualmente, podem-se notar febre baixa e mal-estar, os quais são mais proeminentes em adolescentes e em adultos. A erupção inicia-se em surto, por 3 a 5 dias, na face, como máculas eritematosas que rapidamente se tornam pápulas, vesículas, pústulas e, finalmente, crostas, estas permanecem por 5 a 7 dias e depois caem. O envolvimento do couro cabeludo e das mucosas orais e genitais é frequente. Complicações Dentre elas, podem-se citar: Infecções bacterianas secundárias; Pneumonia; Encefalite; Manifestações Hemorrágicas: decorre por trombocitopenia ou, raramente, de uma coagulopatia de consumo. Varicela e gravidez: o feto pode sofrer as consequências, das quais as mais frequentes são focomelia, coriorretinite, meningoencefalite, lesões cicatriciais na pele, além de morte fetal e aborto. Síndrome de Reye: degeneração aguda do fígado acompanhada de encefalopatia hipertensiva grave. Está associada ao uso de AAS. Diagnóstico laboratorial Na fase de vesícula, o exame do líquido da lesão pela microscopia eletrônica fornece o diagnóstico imediato. Anticorpos podem ser detectados pelo teste de imunofluorescência indireta (IFI). Tratamento De suporte: Antitérmico; Permanganato de potássio dissolvido em água para lavar as lesões e evitar contaminação; Anti-histamínico; Se houver complicação bacteriana secundária: Cefalexina ou cefadroxila. Em caso de internação: Cefalotina ou oxacilina. Aciclovir: há indicação nos pacientes com imunodepressão ou que apresentem risco de doença grave com acometimento visceral. Seu uso é feito em maiores de 12 anos e geralmente quando é o segundo caso na família. Prevenção A 1ª dose é feita no 15º mês de vida junto com a tríplice viral, formando a tetraviral. Cuidado com o contactante: a imunoglobulina humana antivírus varicela-zóster (VZIG), deve ser aplicada na dose de 125 U para cada 10kg em 48 horas após a exposição. Deve ser indicada em: Imunodeprimidos sem infecção prévia; Mãe com catapora dentro de 5 dias antes ou 2 dias depois o parto; Prematuros ≤ 28 semanas. OBS: Com 28 semanas, aplica se a mãe não tiver tido varicela. Herpes Zóster (“Cobreiro”) Consiste em erupção papulovesiculosa dolorosa, localizada, geralmente unilateral e restrita ao dermátomo. Acontece quando ocorre a reativação do vírus herpes-zoster, que estava em estado de latência na raiz dorsal dos gânglios sensoriais, geralmente por imunossupressão. Quadro Clínico: O período pródromo é caracterizado por prurido e pode ou não ter dor intensa (mais comum em adolescentes e adultos). A fase de exantema consiste no agrupamento de vesículas sobre base eritematosa que seguem um dermátomo. O tratamento é feito com aciclovir e corticoide, principalmente pelo risco de neuralgia pós- herpética. 52 Taciano Fontes Filho Visão Geral Causada pelo enterovírus Coxsackie A (sorotipo 16), transmitido via fecal-oral e secreções respiratórias. Apresentando tempo de contágio variável. Quadro Clínico O tempo de incubação é de 3 a 6 dias. Após um período prodrômico de febre baixa, irritabilidade e anorexia, aparecem lesões vesiculares na boca, que rapidamente se rompem, transformando-se em úlceras dolorosas de tamanhos variáveis. As lesões nas extremidades são constituídas por papulovesículas de 3 a 7 mm de diâmetro; acometem, principalmente, dedos, dorso e palma das mãos e planta dos pés. Em lactentes, é frequente ocorrer acometimento perineal. Tratamento De suporte, com uso de antitérmicos/analgésicos para febre e dor e anti-histamínicos para o prurido. Caso se complique e desenvolva uma infecção bacteriana secundária pode ser feito o uso de antibióticoterapia. Em crianças maiores pode-se usar um enxaguante bucal que contenha clorexidina, para o higiene bucal. Herpangina Também acontece pelo vírus Coxsackie A, mas não apresenta exantema. É caracterizada pela presença de úlceras no palato mole, associada à febre alta, dor de garganta e desconforto abdominal. O seu tratamento é feito com o uso de analgésicos e alimentos frios. É autolimitada, com resolução de 7 a 10 dias, mas é importante se atentar às complicações. Visão Geral É uma doença bacteriana causada pelo Streptococcus pyogenes, o qual libera a toxina eritrogênica que leva ao exantema escarlatiniforme. Quadro Clínico As lesões torna a pele com característica de lixa ou “pele de galinha”, com presença do sinal de Pastia (linhas pigmentadas em superfícies flexoras) e finalmente descamação laminar. Geralmente é secundária à infecções na tonsila palatina (faringoamigalite estreptocócica), caracterizada por placas nas amigdalas, petéquias no palato, língua framboesiforme, palidez perioral (sinal de Filatov), etc. Diagnóstico O diagnóstico é clínico, mas pode ser auxiliado pela leucocitose com neutrofilia no hemograma. Tratamento O tratamento é feito com penicilina benzatina ou amoxicilina. Em caso de alergia, pode ser feito uso de Azitromicina, Claritromicina ou clindamicina. Síndrome Mão-Pé-Boca Diagnóstico Diferencial: Escarlatina 53 Taciano Fontes Filho 54 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 Refluxo Gastroesofágico Fisiológico – RGE (Regurgitação Infantil) Refluxo Gastroesofágico (RGE) é a passagem do conteúdo gástrico para o esôfago, com ou sem regurgitação e/ou vômito. Regurgitação: expulsão involuntária e sem esforço do conteúdo gástrico através da boca. Não é acompanhada por náuseas, esforço abdominal ou reflexo emético. Vômito: Expulsão do conteúdo gástrico, acompanhado por contração dos músculos abdominais, rebaixamento do diafragma e abertura da cárdia. Pode ser precedido e/ou acompanhado por náuseas, palidez, sudorese e sialorréia. Pode ser considerado normal, fisiológico, aquele que ocorre várias vezes ao dia em lactentes, crianças, adolescentes e adultos, quando ocasiona poucos ou nenhum sintoma. Os episódios de RGE fisiológico ocorrem com duração menor que 3 minutos, principalmente no período pós-prandial. Os critérios para diagnóstico consistem na presença de todos os caracteres a seguir em lactentes saudáveis entre 3 semanas e 12 meses de idade: Duas ou mais regurgitações por dia por 3 semanas ou mais; Ausência de ânsia de vômito, hematêmese, aspiração, apneia, desenvolvimento ponderoestatural inadequado, dificuldades de deglutição ou para se alimentar e postura inadequada. Em geral, as regurgitações tornam-se mais evidentes por volta do 2º até o 4º mês de vida, com pico de incidência entre o 4º e o 5º mês. Apesar da elevada frequência, apresenta resolução espontânea entre 12 e 24 meses de idade. As regurgitações do lactente, em geral, não são acompanhadas de desaceleração do ganho ponderal. Podem ser acompanhadas de algum grau de desconforto até eructação, entretanto, não determinam índices de choro elevados. Para esse tipo de apresentação clínica os lactentes com regurgitação não necessitam de investigação complementar. Como a regurgitação infantil é problema passageiro, os principais objetivos do tratamento são amenizar os sintomas, tranquilizar os familiares quanto à sua benignidade e à evolução natural para a cura. O alívio desses incômodos pode ser alcançado colocando-se a criança em posição supina por 30 minutos após a alimentação, espessando-se a dieta com cereais ou uso de fórmulas AR e oferecendo-a em pequenos volumes. Doença do Refluxo Gastroesofágico: Visão Geral Quando o RGE causa sintomas ou complicações, que se associam à morbidade importante, pode representar uma doença (doença do refluxo Gastroesofágico – DRGE). A etiopatogenia da DRGE é multifatorial e envolve vários mecanismos intrínsecos ou não, sendo alterações no relaxamento transitório do esfíncter esofagiano inferior (RTEEI) o principal. O RTEEI ocorre fisiologicamente após uma deglutição, sendo um reflexo normal após distensão do estômago, através de estímulos vagais. Alterações em vários mecanismos anti-RGE (anatômicos ou não) permitem que os episódios de RGE ocasionem a DRGE, entre os quais: Depuração insuficiente e tamponamento do ácido pela salivação; Esvaziamento gástrico retardado; Anormalidades na cicatrização epitelial do esôfago; Diminuição dos reflexos neurais de proteção do trato digestivo e sistema respiratório. A distensão gástrica ou acomodação inadequada do fundo gástrico também aumentam a ocorrência dos RTEEI. O sono, pela redução da salivação, do tônus do EEI e deglutição, bem como a postura deitada nas crianças pequenas podem ser fatores agravantes que aumentam igualmente o número dos RTEEI. Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) Considerações Iniciais Etiopatogenia 55 Taciano Fontes Filho Os sintomas da DRGE variam de acordo com a idade do paciente e com a presença de complicações ou de comorbidades. As manifestações podem ser decorrentes do: Refluxo (regurgitações e vômitos): são as manifestações clínicas mais comuns da DRGE em lactentes, sendo, em geral, pós-prandiais. O diagnóstico diferencial deve ser realizado, especialmente, com a alergia à proteína do leite de vaca e com as anomalias anatômicas congênitas, como a estenose hipertrófica de piloro e a má rotação intestinal. Complicações esofágicas (esofagite, estenose esofágica e esôfago de Barrett): pode manifestar-se por dor epigástrica, dor precordial, queimação retroesternal, choro excessivo, irritabilidade, sono agitado, hematêmese, melena, sangue oculto positivo nas fezes, anemia, disfagia, odinofagia, recusa alimentar e, consequentemente, desnutrição. Extra-esofágicas da DRGE: Respiratórias: pode ainda estar associada com rouquidão, estridor intermitente, laringite, tosse, broncoespasmo, pneumonia, apneia obstrutiva com hipoxemia e bradicardia. Otorrinolaringológicas: Várias manifestações otorrinolaringológicas, como sinusite, laringite e otite média, são descritas associadas à DRGE e poderiam ser potencializadas pelo RGE. Neurocomportamentais: são os distúrbios do sono, a irritabilidade e a síndrome de Sandifer, que se caracteriza por postura anormal da cabeça, com torcicolo, em crianças neurologicamente normais, na presença de esofagite de refluxo Alterações Orais: são descritas halitose e as erosões dentárias. Alguns estudos relatam erosões do esmalte na superfície lingual dos dentes, enquanto outros não encontraram essa correlação. Lactentes Nos lactentes, o RGE é comum e, na maioria das vezes, fisiológico. Nos lactentes portadores de DRGE, a irritabilidade e a recusa alimentar podem ser correspondentes (PC): É uma medida confiável do crescimento do cérebro. O PC é medido passando uma fita métrica do ponto mais elevado do occipital até o sulco supraorbitário. A média do PC ao nascimento é de 35 cm. Até o 1° ano há um aumento de 12cm, a partir do 2° ano há um aumento de 2cm/ano e pré-escolar até 18 anos aumenta 5 cm. IMC: é feito pelo cálculo do peso (kg) dividido pela altura (m) ao quadrado (M/A2). Deve-se preencher no gráfico presente na caderneta, de acordo com o sexo e com a idade do RN. Ectoscopia Avaliar a cor da pele - clara, ictérica, cianótica -, seu turgor, ocorrência de descamação, manchas Exame Físico 4 Taciano Fontes Filho (mongólicas, eritema tóxico, etc), equimoses, hematomas e lesões cortocontusas, que podem ocorrer no momento do parto. Na boca, avaliar os lábios, anatomia da língua e freio lingual, gengivas e a conformação do palato: se em ogiva, fenda palatina, se há fissura labiopalatal etc., analisar a dentição. Observar a posição dos mamilos (podem estar afastados na linha média). Visualizar a região genital (ver adiante). Observar região sacral em busca de fóveas, fossetas, tufos capilares, proeminências (mielomeningocele), manchas (mongólicas). Observar palma das mãos em busca de linha palmar transversa contínua e formato da planta do pé (pé plano). Avaliar posição dos pés em relação aos tornozelos (pés tortos congênitos). Avaliar membros, com especial atenção aos dedos das mãos (quirodáctilos) e dos pés (pododáctilos) em busca de polidactilias, sindactilias, dedos mais curtos ou mais longos que o habitual. Aparelho Cardiovascular Ausculta atenciosa de todo o tórax. Observar se ocorrem sopros cardíacos e avaliar sua intensidade. Observar visualmente o ictus cordis e palpá-lo para identificação de frêmitos de origem cardíaca. Contar frequência cardíaca e avaliar o ritmo. Palpar pulsos femorais. É importante estar atento também a cianoses, edemas, tamanho do fígado e reflexos hepatojugulares. Aparelho respiratório Durante a inspeção, procurar sinais de esforço respiratório (avaliar se há tiragem subcostal, intercostal e fúrcula; observar se ocorrem cianose, batimento de aletas nasais e balancim toracoabdominal - assincronia entre o movimento do tórax e do abdome no ciclo respiratório). Avaliar frêmito torácico. Ausculta do tórax para avaliação do murmúrio vesicular. Observar se há ruídos adventícios (sibilos, estertores). Contar a frequência respiratória do RN em 1 min. Abdome Avaliar a forma do abdome (globoso, plano, escavado), tensão (abdome intensamente flácido, com pele enrugada e vísceras abdominais palpáveis como na síndrome de prune belly), ocorrência de visceromegalias, massas palpáveis e hérnias. A ausculta, observar os ruídos hidroaéreos. A percussão, avaliar o timpanismo. Genitália Na genitália masculina: Avaliar a fimose fisiológica. Procurar testículos na bolsa escrotal e na região inguinal. A fim de identificar criptorquidia e hidrocele (geralmente absorve sozinha com 1 ano). Verificar se há exposição da glande e, havendo, observar se há epispadia ou hipospadia (o meato uretral externo localizado na face dorsal do pênis ou na face ventral do pênis, respectivamente). Na genitália feminina: Verificar se há sinequia (aderência) de pequenos lábios, hipertrofia de lábios vulvares, de clitóris (comuns na hiperplasia congênita de suprarrenal). Casos de anormalidades da diferenciação sexual devem ser identificados. Caso a genitália seja ambígua, não se deve dizer o sexo do RN até que se faça uma melhor avaliação e se tenha tal certeza. Membros Pesquisa dos sinais de Ortolani e Barlow para identificação de luxação congênita do quadril. Manobra de Barlow: Seguram-se as pernas gentilmente, com as coxas em adução, e o examinador aplica uma força no sentido posterior. É positiva se o quadril é deslocável (luxável). Monobra de Ortolani: é o reverso da de Barlow, realizando a abdução do quadril enquanto move anteriormente. É positiva quando a cabeça do 5 Taciano Fontes Filho fêmur luxada retoma ao acetábulo, com um "clunk" palpável quando o quadril é abduzido. Observar o formato dos membros, se há edema, hipoplasia, alterações nos dedos dos pés ou das mãos, se há alguma alteração observada durante a palpação de clavículas (crepitação, por fratura, que pode ocorrer no parto). Pesquisa de reflexos e sinais neurológicos: buscar identificar hipertonias, hipotonias, movimentos anormais e reflexos tendinosos e cutaneoplantar. Avaliar igualmente reflexos primitivos (Moro, marcha, busca, sucção e preensão palmar e plantar). 6 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 O crescimento é o processo de aumento da massa corporal; é a expressão macroscópica da hiperplasia e hipertrofia celulares. O seu estudo inclui a avaliação de peso e altura da criança ao longo do tempo. Fatores extrínsecos como alimentação adequada, estímulos biopsicossociais e atividade física, assim como fatores intrínsecos (genética, sistema neuroendócrino), vão apresentar influências profundas e marcantes tanto no crescimento quanto no desenvolvimento de uma criança. Diversas doenças, sejam elas de natureza carencial (desnutrição, violência física, psicológica, sexual, negligência), genéticas (cromossomopatias, mutações variadas), neoplásicas, infecciosas, inflamatórias, podem influenciar negativamente o crescimento e/ou o desenvolvimento. O Acompanhamento Pediátrico As consultas pediátricas deverão ocorrer com a seguinte periodicidade: primeira semana de vida, 1 mês, 2 meses, 4 meses, 6 meses, 9 meses, 12 meses, 18 meses e 24 meses. Após os 2 anos de vida, as consultas da puericultura poderão ser feitas anualmente, preferencialmente próximas ao mês de aniversário. É importante que em todas as consultas o pediatra observe: Crescimento: peso, altura e perímetro cefálico (até 2 anos); Desenvolvimento neuropsicomotor: conduta motora grosseira e fina, conduta adaptativa, conduta de linguagem e conduta pessoa-social; Alimentação Vacinas; Prevenção de acidentes; Identificação de problemas e riscos para a saúde. A primeira fase de crescimento intenso, que se estende da vida intrauterina até os dois anos de idade, é determinada pela nutrição e fatores ambientais da criança. Intra-útero: 1,2-1,5 cm/semana. (Fase de maior desenvolvimento humano) Dos dois anos de idade até a puberdade, temos uma fase de crescimento regular, relativamente homogêneo. O potencial genético e o hormônio do crescimento são os principais determinantes dessa fase. Quando chega a puberdade, outra fase de crescimento rápido se instala. Os hormônios sexuais e o hormônio de crescimento são responsáveis pelo aumento da velocidade de crescimento. Peso Os bebês até dois anos ou até 16 kg deverão ser pesados na posição deitada ou sentados na balança mecânica pediátrica. Já as crianças maiores de dois anos e os adultos são pesados na balança tipo plataforma; Crescimento padrão do peso de RNs: Ao nascimento: a média é de 3,4kg, com perda de 10% nos primeiros dias de vida; 1° trimestre: 700 g/mês; 2° trimestre: 600 g/mês; 3° trimestre: 500 g/mês; 4° trimestre: 400 g/mês; Pré-escolar: 2kg/ano; Escolar: 3-3,5 kg/ano. Crescimento e Desenvolvimento Introdução Tipos de Crescimento Avaliação do Crescimento 7 Taciano Fontes Filho Estatura Até os dois anos deverá ser medido com a criança na posição deitada, através da régua horizontal. Após os dois anos, a estatura é medida com a criança na posição de pé, com a régua vertical. Crescimento padrão da estatura de RNs: Ao nascimento: não verbais da queimação retroesternal. Muitas vezes, é difícil diferenciar entre os sintomas da DRGE e da alergia alimentar ou da cólica infantil, pois ambos podem se manifestar por choro e irritabilidade. Regurgitações e vômitos recorrentes associados a baixo ganho ponderal também são comuns, bem como arqueamento do tronco, cianose/apneia. Sintomas extra-esofágicos também podem estar presentes. Nas crianças que não são amamentadas, os consensos aconselham tentar um teste terapêutico com fórmulas hidrolisadas ou de aminoácidos, antes de tratar a DRGE. Crianças Maiores Como nos adultos, a evolução para a cronicidade ocorre com maior frequência. Pode haver períodos de remissão e de recidiva durante anos, o que justifica a maior prevalência e a maior gravidade das complicações esofágicas da Quadro Clínico 56 Taciano Fontes Filho DRGE nessa faixa etária, quando comparadas às dos lactentes. As suas manifestações digestivas são bem semelhantes às dos adultos, sendo frequente: náusea matinal, epigastralgia, plenitude pós- prandial, eructação excessiva, pirose e vômitos. Sintomas extra-esofágicos também podem estar presentes. Grupos de Risco para DRGE Crianças que apresentam doenças subjacentes estão sob maior risco de apresentar DRGE crônica e mais grave. Podendo apresentar maior probabilidade de necessitar de tratamento por mais tempo e até por toda a vida. Condições associadas à DRGE crônico e/ou de difícil controle: Atresia de esôfago; Hérnia hiatal ou diafragmática; Pneumopatias, Fibrose Cística, Transplante de pulmão; Doenças neurológicas; Obesidade; Predisposição genética; Prematuridade; Quimioterapia. Sinais de alarme nas crianças com regurgitações ou vômitos: O diagnóstico de DRGE é basicamente clínico. Apesar da ampla gama de exames diagnósticos disponíveis, nenhum deles é considerado padrão- ouro e nenhum é fidedigno em todas as formas de DRGE. Seriografia (Radiografia contrastada de esôfago, estômago e duodeno – RxEED) Seu papel é fazer a avaliação anatômica do trato digestório alto, Não deve ser usado para diagnosticar ou assessorar a gravidade da DRGE, mas deve ser indicado quando há disfagia, vômitos biliosos ou suspeita de volvo, obstrução, estenose, membrana. pHmetria esofágica Avalia o paciente em condições mais fisiológicas e por longos períodos, quantifica o RGE e correlaciona os episódios de refluxo com os sinais e sintomas. A sua principal limitação é não detectar episódios de refluxo não ácidos ou fracamente ácidos. As principais indicações são: Avaliação de sintomas atípicos ou extradigestivos da DRGE; Pesquisa de RGE oculto; Avaliação da resposta ao tratamento clínico em pacientes portadores de esôfago de Barrett ou de DRGE de difícil controle; Avaliação pré e pós-operatória do paciente com DRGE. Impedanciometria esofágica intraluminal Detecta o movimento retrógrado de fluidos, sólidos e ar no esôfago, para qualquer nível, em qualquer quantidade, independentemente do pH, ou seja, das características físicas ou químicas, pois mede as alterações de resistência elétrica e é realizado com múltiplos canais. Atualmente, ela é utilizada em conjunto com a monitoração do pH, chamada pH- impedanciometria ou pH-MII (multichannel intraluminal impedance). Diagnóstico 57 Taciano Fontes Filho Ultrassonografia Esofagogástrica Não é recomendada para avaliação clínica de rotina da DRGE, no lactente e nem na criança maior, de acordo com as recomendações do consenso. Tem papel importante no diagnóstico diferencial com a estenose hipertrófica de piloro. Endoscopia digestiva alta com biópsia Permite a avaliação macroscópica da mucosa esofágica e a coleta de material para estudo histopatológico, possibilitando o diagnóstico das complicações esofágicas da DRGE (esofagite, estenose péptica ou esôfago de Barrett). Atualmente, não se valoriza a esofagite de refluxo apenas histológica ou microscópica. Só se considera esofagite endoscópica quando há lesões na macroscópica (erosões ou úlceras). Tem papel fundamental no diagnóstico diferencial com outras doenças pépticas e não pépticas, capazes de produzir sintomas semelhantes aos da DRGE. Deve-se também considerar que a ausência de esofagite à endoscopia não exclui a DRGE, pois alguns pacientes apresentam a doença do refluxo endoscópico-negativa (NERD – non-erosive reflux disease). Teste terapêutico empírico com supressão ácida As crianças maiores e os adolescentes, com sintomas típicos de DRGE, sem sinais de alerta, podem ser submetidos. Os sintomas típicos são: azia, dor epigástrica em queimação, tosse crônica (principalmente relacionada à alimentação), náuseas e regurgitações, dor torácica e dispepsia. É realizado com fármacos inibidores da bomba de prótons (IBP), durante 4 semanas, podendo estender esse tempo para até 12 semanas, se houver melhora clínica. Pode ser feito em crianças maiores e adolescentes, pois a sintomatologia é mais específica. OBS: consultar posologias adiante. Lactentes normais, com sintomas de RGE, devem ser tratados, inicialmente, com medidas conservadoras (orientações de dieta e posição) e avaliados para alergia à proteína do leite de vaca. O uso de IBP pode ser considerado para crianças maiores. Mas, em lactentes deve ser reservado quando existe uma doença induzida pelo ácido documentada, como esofagite erosiva. Os agentes procinéticos, antiácidos, citoprotetores e antagonistas de H2, ainda não possuem indicação segura na DRGE. Tratamento não medicamentoso (Conservador) Orientações dietéticas: Em adolescentes, as refeições volumosas e altamente calóricas devem ser evitadas; Alimentos gordurosos devem ser evitados, pois retardam o esvaziamento gástrico; Alimentos como chocolates, refrigerantes, chá, café, cuscuz não são aconselháveis. Indica-se comer algumas horas antes de dormir; Fórmulas AR (antirregurgitação e não anti-RGE) podem diminuir a regurgitação visível. Orientações posturais: Lactentes normais ou para os portadores de DRGE: posição supina para dormir. Para os adolescentes, assim como para os adultos: decúbito lateral esquerdo, com a cabeceira elevada. Orientações gerais: Não usar roupas apertadas; Sugerir a troca das fraldas antes das mamadas; Evitar o uso de fármacos que exacerbam o RGE; Orientar infusões lentas, nas crianças com sondas nasogástricas; Evitar o tabagismo (ativo ou passivo). Tratamento Medicamentoso Inibidores da bomba de prótons: Mantém o pH gástrico acima de 4 por períodos mais longos e inibe a secreção ácida provocada pela alimentação, características não apresentadas pelos bloqueadores H2 (ver adiante). A sua potente supressão ácida acarreta diminuição do volume intragástrico nas 24 horas, o que facilita o esvaziamento gástrico e diminui o volume do refluxo. O efeito do IBP não diminui com seu uso crônico (não apresenta taquifilaxia). Os IBP devem ser usados antes da primeira refeição e protegidos do ácido gástrico pela cobertura entérica. Podem causar quatro tipos de efeitos colaterais nas crianças: reações idiossincráticas (cefaleia, diarreia e náuseas), interações com outras drogas, hipergastrinemia e hipocloridria induzidas por droga. Após uso prolongado, deve-se diminuir gradativamente a dose do IBP. Em alguns pacientes, a descontinuação abrupta do tratamento com IBP pode ocasionar um efeito Tratamento 58 Taciano Fontes Filho rebote na produção de ácido, requerendo mais IBP. Omeprazol: 10, 20 e 30 mg (cp). > 1 ano até 20 kg: 10 mg/dia; > 1 ano maior que 20 kg: 20-40 mg/dia. Usar até 8 semanas. Pantoprazol: 20, 40 mg (cp). > 5 anos 15-40kg: 20 mg/dia; > 5 anos maior que 40 kg: 40 mg/dia. Usar até 8 semanas. Esomeprazol: 20, 40mg (cp). > 12 anos: 20-40 mg/dia. Usar até 8 semanas. OBS: dependendo da situação clínica pode-se estender até 12 semanas. Não fazer uso em crianças menores e lactentes, devido sintomas atípicos. Agentes procinéticos: Aumentam o tônus do EEI e melhoram a depuração esofágica e o esvaziamento gástrico. Entretanto, não é eficaz em diminuir a frequência dos relaxamentos transitórios do EEI. Não são eficazes em induzir a cicatrização das lesões esofágicas e não apresentam efeito anti- RGE comprovado, mas sim antirregurgitação. Além disso, os potenciais efeitos colaterais (principalmente neurológicos extrapiramidais) dessas medicações são mais importantes do que os benefícios por eles alcançados, no tratamento da DRGE. É aconselhados que não use no tratamento de DRGE em lactentes. Metoclopramida (Plasil): 6 anos: 0,5-1 mg/kg/dia, 3-4x ao dia. Bromoprida: 0,5-1 mg, VO ou IV de 8/8h. Domperidona: 12 anos: 10 mg, VO, de 8/8h, antes das refeições. Antiácidos e Citoprotetores: Antiácidos e alginatos são utilizados para neutralizar o ácido, azia e dispepsia, e contêm bicarbonato de sódio ou de potássio, magnésio, alumínio ou sais de cálcio. O sucralfato, considerado citoprotetor, pode também ser usado na tentativa de proteger a mucosa gástrica e melhorar os sintomas. Não há estudos adequados para verificar a real ação desses medicamentos em pediatria na DRGE. Antiácido com magnésio ou alumínio: 12 anos: 5-10 ml (100mg/ml) ou 10-20 ml (50mg/ml) até 4x ao dia após alimentação. Sucralfato: suspenção oral (200mg/ml) e cp mastigável 1g. 6 anos: 1g VO, 6/6h. Antagonistas do receptor H2 da histamina: Diminuem a acidez gástrica, por inibirem os receptores H2 de histamina nas células parietais gástricas. O pH gástrico começa a aumentar dentro de 30 minutos, o que possibilita seu uso como sintomático, para alívio rápido dos sintomas. A eficácia dos bloqueadores H2 na cicatrização das lesões erosivas é maior nos casos leves e moderados. Não possui recomendação para o DRGE, sendo usado off-label. É mais indicado na esofagite erosiva, estenose péptica, esôfago de Barret e pacientes que necessitam de bloqueio de secreção efetivo. Como efeitos colaterais, alguns lactentes podem apresentar cefaleia, sonolência, ato de bater a cabeça e outros. A taquifilaxia, ou diminuição da resposta, é um problema para o seu uso crônico. Ranitidina: 2-4 mg/kg de 12/12h, em jejum. OBS: DESDE 2021 ESTÁ FORA DO MERCADO. 59 Taciano Fontes Filho 60 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 Introdução A Glomerulonefrite Difusa Aguda Pós- Estreptocócica (GNDA), caracteriza-se fundamentalmente por processo inflamatório de origem imunológica que acomete todos os glomérulos de ambos os rins. É considerada, juntamente com a febre reumática, sequela tardia e não supurativa de estreptococcia. É a mais comum das glomerulopatias da infância. Etiologia Em geral, a doença manifesta-se após infecção por estreptococos beta-hemolíticos do grupo A (EBHGA) e, ocasionalmente, pelo grupo C ou G7. Entre as cepas mais frequentes pós-faringites, destacam-se os sorotipos M 1, 3, 4, 12, 18, 25 e 49, e pós-impetigo, M 2, 49, 55, 57 e 60. Fisiopatogenia e Fisiopatologia A fisiopatogenia da GNDA não está totalmente definida. É provável a existência de um antígeno estreptocócico capaz de desencadear um processo imunológico que levaria à produção de anticorpos e, consequentemente, à formação de imunocomplexos nos glomérulos, isto é, formação de imunocomplexos in situ. Em termos fisiopatológicos, o processo inflamatório que ocorre nos capilares glomerulares determina perda da sua integridade e, consequentemente, a passagem de elementos que normalmente não são filtrados: hemácias, leucócitos e proteínas. Esse intenso processo inflamatório endocapilar glomerular reduz a luz desses capilares, causando diminuição do ritmo de filtração glomerular (RFG) pela redução do coeficiente de ultrafiltração, com consequente retenção de alguns compostos (creatinina, ureia, potássio, entre outros) que pode determinar lesão renal aguda. Quadro Clínico Os sintomas clínicos clássicos – edema, hipertensão e hematúria – manifestam-se 10 a 20 dias (no máximo 6 semanas) após a infecção estreptocócica de vias aéreas superiores ou de pele. Na maior parte dos casos, o estado geral da criança está pouco comprometido e as queixas são vagas, como indisposição, inapetência, cefaleia e edema periorbital. Na evolução natural dos casos não complicados, observa-se, em média de 7 a 15 dias após o início da doença, desaparecimento do edema, acompanhado por aumento da diurese e, 2 a 3 dias após, normalização dos níveis tensionais. Ao redor da 3ª ou 4ª semana após o início da sintomatologia, ocorre o restabelecimento clínico geral da criança. Complicações Congestão Circulatória: Caracteriza-se por sinais clínicos de hipervolemia, como taquicardia, dispneia, tosse, estertores subcrepitantes em bases pulmonares e hepatomegalia. Pode ser agravada por hipertensão e levar a insuficiência cardíaca congestiva e edema agudo de pulmão. Encefalopatia Hipertensiva: Deve-se essencialmente à hipertensão e apresenta quadro clínico variável, podendo ocorrer cefaleia, vômitos, alterações visuais (diplopia ou amaurose transitória), irritabilidade, agitação, sonolência, crise convulsiva ou coma. Insuficiência Renal Aguda (IRA): Estabelece-se oligoanúria intensa, retenção de escórias proteicas no plasma e distúrbios hidreletrolíticos graves, com tendência à hiperpotassemia. Exames Complementares Sumário de Urina: densidade urinária conservada ou aumentada; proteinúria (> 50 mg/kg/ dia); hematúria (cilindros hemáticos); leucocitária. Dosagem do complemento sérico: Seus valores encontram-se diminuídos em 95 a 98% dos casos. A normalização de seus níveis ocorre em 4 a 8 semanas e é um marcador importante de prognóstico e diagnóstico diferencial. Se a elevação for significativa, podem traduzir doença renal prévia ou glomerulonefrite rapidamente progressiva. Histologia: o achado mais característico é a presença de depósitos subepiteliais de tamanho variável chamados de corcovas (humps). São indicadores de biópsia renal: Anúria ou oligúria por mais de 72h; Proteinúria por mais de 4 semanas; Nefropatias do Trato Urinário Síndrome Nefrítica 61 Taciano Fontes Filho Azotemia (↑ ureia/creatinina) acentuada ou prolongada; HAS ou hematúria por mais de 6 semanas; C3 baixo por mais de 8 semanas. Observações: O hemograma e a pesquisa de ASLO/ASO ou Anti- Dnase B não devem ser solicitados de rotina, pois não mudam a conduta ou prognóstico. Também não há necessidade de solicitar perfil lipídico, albumina, C4 e CH50 de rotina. Dosagem de albumina deve ser solicitada, quando há proteinúria nefrótica, a fim de afastar síndrome nefrótica com componente nefrítico. É importante que os percentis de pressão arterial de cada paciente sejam anotados no prontuário. Tratamento Na maioria dos casos é feito o acompanhamento ambulatorial. Entretanto, em casos de complicações (oligúria intensa, insuficiência cardíaca e encefalopatia hipertensiva) deve ser indicado a internação do paciente. Repouso: relativo no leito, ditado pela própria criança; Dieta hipossódica: restrição protéica apenas para pacientes com suspeita de IRA; Restrição hídrica: 20ml/kg/dia ou 300 a 400ml/m2/dia. Quando houver regressão do edema, devem-se acrescentar as perdas do dia anterior. Indicada sempre que houver edema, hipertensão arterial sistêmica (HAS) e oligúria; Cuidados: aferir peso diário em jejum, controle de curva de pressão arterial (PA) de 6/6h, medição da diurese das 24h, além de vigiar sinais de piora; Antibioticoterapia: Não alteram o curso da doença, mas erradicam a cepa nefritogênica. Penicilina benzatina IM dose de 600.000UI se peso 20kg, em dose única. Eritromicina 40mg/kg/dia VO 6/6h por 8 a 10 dias é a alternativa quando há alergia a penicilina; Diuréticos: A furosemida é a de escolha em casos de congestão cardiocirculatória importante, HAS sintomática, oligoanúria ou quando, apesar da dieta, a pressão arterial não cede. Dose de 1- 4mg/kg/dia via oral ou endovenosa; Anti-hipertensivos: Deve ser utilizado quando houver desaparecimento da oligúria e do edema e persistir com PA elevada ou, ainda, nos casos de HAS sintomática. Anlodipina: 0,1 a 0,2mg/kg/dia, 1 vez ao dia, dose máxima de 10mg/dia; Hidralazina 0,2 a 0,5mg/kg/dose, via endovenosa ou intramuscular, de cada 4 ou 6h; Nifedipina, via oral, na dose de 0,10 a 0,25mg/kg/dose, a cada 3 ou 4h, ou 1 a 3mg/kg/dia VO a cada 6-12h. São sempre indicados nos casos de encefalopatia hipertensiva. Porém, em situações de emergência, indica-se o nitroprussiato de sódio 0,5 a 8 mcg/kg/min, EV, em ambiente de unidade de terapia intensiva. Evolução e Prognóstico O primeiro sinal de melhora é o aumento da diurese com consequente diminuição do edema (em 10 dias) e a normalização dos níveis da pressão arterial (12-13 dias). A hematúria macroscópica desaparece entre a 1ª e a 2ª semana, enquanto a microscópica pode permanecer até 18 meses, sem indicar um mau prognóstico. A proteinúria nefrótica desaparece em até 4 semanas, e proteinúria discreta pode persistir por alguns meses. O prognóstico da GNDA é bom, embora 5% dos pacientes possam evoluir para cronicidade. Critérios de cura: Clínico: regressão do edema, normalização da PA e desaparecimento da hematúria. Laboratorial: normalização da proteinúria, complemento e da hematúria microscópica. Introdução É definida como uma desordem da barreira de filtração glomerular (membrana basal glomerular), que aumenta sua permeabilidade. Caracteriza-se essencialmente pela presença de proteinúria maciça de caráter nefrótico (≥ 50 mg/kg/dia ou ≥ 40 mg/m2/hora; relação proteína/creatinina > 2 em mg/mg) e hipoalbuminemia (≤ 2,5 g/dL), enquanto o quadro completo inclui edema, hiperlipidemia e lipidúria. Uma criança saudável perde cerca de até 150 mg/dia; ou relação proteinúria/creatinina até 0,5 em crianças 2 anos. Etiologia A grande maioria dos casos de SN apresenta mecanismos etiofisiopatogênicos relacionados com fatores genéticos, disfunção podocitária (podocidopatia), disfunção imunológica ou a presença de fatores circulantes Primária ou idiopática: presente em 90% em menores de 6 anos, ocasionada principalmente por lesões mínimas. Secundária: Síndrome Nefrótica 62 Taciano Fontes Filho Colagenoses e vasculites: Lúpus eritematoso sistêmico, Artrite reumatóide, Poliartrite nodosa; Infecções: Sífilis, SIDA, Malária, Hepatite B, Citomegalovírus, Esquistossomose; Drogas: mercuriais, antiinflamatório, penicilamina, heroina; Processos alérgicos: Toxinas e alérgenos alimentares, picada de insetos, doença do soro; Malignidades e outras: Leucemia, Linfoma, Mieloma múltiplo, Púrpura de Henoch- Schölein, Diabetes mellitus, Anemia falciforme, insuficiência cardíaca congestiva, amiloidose, púrpura anafilactóide. Congênita: primeiro ano de vida (precoce nos 1º 3m e tardia entre 3m-1a). Quadro Clínico Edema: geralmente é intenso, mole, frio, depressível, sujeito à ação da gravidade, em geral insidioso, podendo evoluir para anasarca e apresentando diversos mecanismos em sua patogênese, sendo frequentemente incitado por quadro virais. Dor abdominal: Atribuída ao edema de parede intestinal, devendo sempre ser descartado episódios de peritonite e abdome agudo; Palidez cutânea: Intensa desproporcional ao grau de anemia; Náuseas quando persistentes podem levar à desnutrição; Diarréia: Devido ao edema de mucosa intestinal; Elevada suscetibilidade à infecção: diminuição da síntese de IgG, perda do fator B e de gamaglobulina. Tendência para infecção por germes encapsulado: broncopneumonia, sinusopatias, celulite, peritonite e septicemias. Geralmente as infecções desencadeiam recaídas da síndrome nefrótica. Maior incidência de fenômenos tromboembólicos: aumento de fibrinogênio e tromboxano A2 e diminuição da antitrombina III. Levam à hipercoagulabilidade. Pele: Seca e friável com tendência a formação de estrias Cabelo: Escassos, finos e quebradiços por causa da desnutrição Outros: Anorexia, hepatomegalia, oligúria (na fase de edema, é mais intenso). Complicações Hipovolemia: avaliar uso de albumina 0,5- 1g/kg/dose Caso taquicardia, achados de vasoconstrição periférica, oligúria e dor abdominal; Infecção: não é recomendado uso de antibiótico profilático, mas início precoce do mesmo nos quadros infecciosos (diminuição da mortalidade na Síndrome Nefrótica); Injúria Renal Aguda: geralmente secundária a hipovolemia acentuada, podendo evoluir para necrose tubular aguda e necessidade de diálise; Hipercoagulabilidade: ainda não é preconizado uso de anticoagulação profilática. Recomendado deambulação regular, meias de compressão, evitar hemoconcentração (devido a hipovolemia). Exames Complementares Sumário de urina: Proteinúria +++ ou traços fortes, hematúria microscópica (20% dos pacientes), cilindrúria (cilindros hialinos). Proteinúria: considera-se a proteinúria nefrótica acima de 50 mg/kg/dia ou 40 mg/m²/hora. Em amostra isolada de urina, valores da relação proteína/creatinina > 2 são compatíveis com proteinúria nefrótica. Eletroforese de proteínas plasmáticas: diminuição da albumina ( cautelosa de furosemida e albumina (edemas graves refratários); Corticoterapia: A maioria dos pacientes com SN (80 a 90%) responde à corticoterapia inicial, obtendo-se remissão completa. Antes de iniciar corticoterapia deve-se afastar a possibilidade de tuberculose e estrongiloidíase. Corticossensível: Negativação da proteinúria nas primeiras 4 semanas de tratamento; Corticossensivel tardio: Negativação da proteinúria após esquema continuo, seguido de pulsoterapia com metilpredsisolona (3 pulsos) e mais um semana de corticóide continuo. Corticorresistente: persistência da proteinúria após 4 semanas de esquema continuo e não resposta aos 3 pulsos com metilprednisolona. OBS: ver esquema adiante. Além disso, Ivermectina ou Nitazoxanida podem ser necessários em caso de infecção por Estrongiloidíase. As estatinas não são recomendadas em caso de hipercolesterolemia. São contraindicadas para menores de 10 anos. Evolução A resposta aos corticosteróides e a frequência das recidivas após a terapia inicial são fatores prognósticos de evolução. Estima se que, com o passar dos anos, os períodos de atividade diminuam de frequência; aos 5 anos de doença, 50 a 70% não apresentarão recidivas; e, aos 10 anos, 85% estarão livres de novas descompensações. A mortalidade após a introdução dos corticosteroides e antibióticos diminuiu de 67% para 0,7%. Avanços no suporte clínico e nutricional, além de novos imunossupressores, também contribuíram para esse fato. A principal causa de óbito eram os processos infecciosos, os quais continuam sendo o grande risco na SN, pois desencadeiam e mantêm as crises, criando um círculo vicioso. Introdução É a neoplasia maligna genitourinária mais comum na infância (86% dos casos), apresentando o pico de incidência ocorre entre dois e três anos de idade. Quadro Clínico O tumor de Wilms se manifesta como massa abdominal assintomática, palpada pelos familiares em 90% dos casos. Hematúria macroscópica ocorre em 25% dos casos. Dor abdominal é descrita em 30% Hipertensão arterial em 60% dos pacientes. Diagnóstico A ultrassonografia abdominal é o exame inicial, que confirma a presença de massa renal, mas é a tomografia computadorizada que fornece informações mais precisas para o diagnóstico e estadiamento deste tumor, bem como a presença de extensão vascular. A tomografia de tórax é necessária para a detecção de metástases pulmonares. O diagnóstico diferencial inclui neuroblastoma, que acomete crianças na mesma faixa etária. Tratamento A “Société Internationale d’Oncologie Pediatrique” (SIOP) preconiza a quimioterapia pré e pós- operatória, com radioterapia em casos mais avançados. Enquanto o “Children’s Oncology Group” (COG) advoga para os tumores unilaterais a abordagem cirúrgica inicial e a seguir quimioterapia. Nefroblastoma (Tumor de Wilms) 64 Taciano Fontes Filho 65 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 Introdução Entende-se como desnutrição o estado de deficiência ou excesso tanto de macronutrientes quanto de micronutrientes causa desequilíbrio entre o suprimento de energia, de nutrientes e a demanda do organismo, alterando a garantia na manutenção, no crescimento e nas funções metabólicas. A DEP pode ser classificada como: Primária: quando não há outra doença associada (relacionada à insegurança alimentar). Secundária: quando há doença relacionada (geralmente por baixa ou inadequada ingestão alimentar; por alteração na absorção ou por necessidades nutricionais aumentadas e/ou perdas aumentadas de nutrientes). Por ex., DEP associada a cardiopatias congênitas, doença celíaca ou síndrome da imunodeficiência adquirida. Com relação à forma clínica, o tempo e a gravidade contribuem para a definição e a classificação da desnutrição: Fisiopatologia A escassez de nutrientes, na DEP moderada e grave, favorece hipoglicemia, lipólise, glicólise, glicogenólise e neoglicogênese, secundárias às alterações nos eixos da insulina, com diminuição da produção e aumento da resistência periférica pela ação dos hormônios contrarreguladores (hormônio de crescimento, epinefrina e corticosteroides). Além disso, há redução no metabolismo com alterações na via tireoidiana de aproveitamento de iodo e conversão hormonal (formas ativas), a fim de reduzir o gasto de O2 e conservar energia. A redução na oferta de fosfatos energéticos promove alterações nas bombas iônicas de membrana celular, cursando com sódio corporal elevado e hiponatremia, hipopotassemia, hipercalcemia e maior tendência a edema intracelular. Ajustado à época de aparecimento e ao grau da DEP, alterações morfofuncionais do sistema nervoso central (SNC) são esperadas, com mudanças no processo de mielinização do SNC, nas atividades mitóticas dendríticas, produção de neurotransmissores e no amadurecimento da retina. De forma marcante, as alterações gastrointestinais envolvem insuficiência pancreática, crescimento bacteriano, atrofia das vilosidades intestinais, com redução da capacidade absortiva do organismo, e comprometimento na produção das dissacaridases, com ênfase na lactase. Quadro clínico A criança com DEP leve/moderada apresenta déficit ponderal com atraso no crescimento e desenvolvimento e susceptibilidade a infecções. A desnutrição grave deve ser diferenciada em duas formas clínicas: Kwashiorkor: Acomete crianças > 2 anos, com acesso a comida pobre em nutrientes, caracteriza- se por: Alterações de pele: lesões hipercrômicas, hipocrômicas ou descamativas; Acometimento de cabelos: textura, coloração, facilidade de soltar do couro cabeludo; Hepatomegalia (esteatose); Ascite, face de lua, edema de membros inferiores e/ou anasarca; Apatia. Desnutrição e Distúrbios Carenciais Desnutrição Energético-Proteica (DEP) 66 Taciano Fontes Filho Marasmo: Acomete crianças a mãe ou cuidador da criança e preparar para a alta. Dá prosseguimento à correção hidroeletrolítica e da deficiência de micronutrientes (agora com administração de ferro); 3ª Fase (Acompanhamento): Pode ser realizado em hospitais-dia ou ambulatórios e tem por objetivo prosseguir na orientação, monitoração do crescimento (vigilância dos índices peso por estatura e estatura por idade) e desenvolvimento da criança, especialmente da relação estatura/idade e intensificação do trabalho da equipe multiprofissional. OBS: Síndrome de Realimentação: Aumento rápido de ingestão de nutrientes pode causar uma mudança de um estado catabólico para um estado anabólico, o que pode levar a um surto na secreção de insulina, hipoglicemia aguda e o transporte de eletrólitos extracelular para as células. Este fluxo de eletrólitos pode levar a concentrações perigosamente baixas de potássio, magnésio e fosfato no sangue, o que pode resultar em letargia, convulsões, fraqueza muscular, comprometimento da função cardíaca e insuficiência respiratória. Introdução Desempenha papel fundamental na homeostasia do cálcio e metabolismo ósseo. Os principais sítios de ação da vitamina D são: Intestino delgado: aumenta a absorção intestinal de cálcio e fósforo; Ossos: promove a formação do osso endocondral, estimula a proliferação e diferenciação dos condrócitos e a mineralização da matriz óssea; Rins: aumenta a reabsorção tubular renal de cálcio. Metabolismo da Vitamina D: Hipovitaminose D 67 Taciano Fontes Filho O ergocalciferol ou vitamina D2 é a forma proveniente das plantas e fungos onde é formada pela irradiação do ergosterol, e absorvido da dieta. O colecalciferol ou vitamina D3 é a proveniente de fontes animais (ex: peixes gordurosos, vísceras) e também sintetizada na pele pela ação fotoquímica dos raios ultravioleta B, ao converter o 7-deidrocolesterol em pré-vitamina D3 e depois em colecalciferol. Em seguida, o colecalciferol e ergocalciferol são transportados para o fígado pela proteína ligadora da vitamina D (DBP), ou transcalciferrina, onde são hidroxilados no carbono 25 para formar calcidiol (25-OH- vitamina D2 e 25-OH-vitamina D3) que é a forma de depósito da vitamina D. Na etapa seguinte, o calcidiol é transportado pela DBP para os rins onde ocorre nova hidroxilação pela ação da enzima 1-alfa- hidroxilase, formando o calcitriol (1,25-OH- vitamina D), que é a forma metabolicamente ativa da vitamina D. Fontes de Vitamina D: Aproximadamente 90% são provenientes da síntese cutânea após exposição solar e menos de 10% são obtidos de fontes alimentares. Etiologia Diminuição da transferência materno-fetal: Gestantes com Hipovitaminose D; Prematuridade. Diminuição da síntese cutânea: Exposição solar inadequada; Pele escura; Protetor solar; Roupas que cubram quase todo o corpo; Poluição atmosférica; Latitude. Diminuição da ingesta: Aleitamento materno; Lactentes que ingerem menos de 1 litro/dia de fórmula láctea fortificada com vitamina D; Dieta pobre em vitamina D; Dieta vegetariana. Diminuição da absorção intestinal: Doença celíaca; Doença inflamatória intestinal; Fibrose cística; Síndrome do intestino curto; Cirurgia bariátrica. Diminuição da síntese: Hepatopatia crônica; Nefropatia crônica. Sequestro da vitamina D no tecido adiposo: Obesidade; Mecanismos variados: diminuição da absorção/aumento da degradação: Medicamentos: anticonvulsivantes (ex: fenobarbital, fenitoína, carbamazepina, oxcarbazepina, primidona), corticosteroides, antifúngicos azólicos (ex: cetoconazol), antirretrovirais, colestiramina, orlistat, Rifampicina. Quadro Clínico A depender de sua gravidade e duração, a hipovitaminose D pode ser assintomática ou se manifestar como atraso do crescimento, atraso do desenvolvimento, irritabilidade, dores ósseas e, quando grave e prolongada, causar raquitismo em crianças e osteomalácia em adolescentes e adultos. Se a hipovitaminose D evoluir para raquitismo, ocorrerão alterações como: atraso do crescimento e desenvolvimento motor, atraso da erupção dentária, irritabilidade, sudorese, alterações dentárias, fronte olímpica, atraso no fechamento das fontanelas, crânio tabes, rosário raquítico, alargamento de punhos e tornozelos, sulco de Harrison e deformidade de membros inferiores (geno varo, geno valgo). Quadro Laboratorial Principalmente na forma grave e prolongada, pode ser encontrado hipofosfatemia, hipocalcemia, hiperfosfatasemia e acentuação do PTH (hiperparatiroidismo secundário). Diagnóstico 68 Taciano Fontes Filho Dosagem da 25-OH-vitamina D: os valores de referência para o ponto de corte de Hipovitaminose D ainda não é bem definido: Bioquímica complementar: se o nível da 25-OH- vitamina D for inferior a 20ng/mL, deve-se investigar a possibilidade de raquitismo solicitando-se a dosagem de: cálcio, fósforo, magnésio, fosfatase alcalina, proteínas totais e frações e PTH. Estudo Radiológico: O estudo radiológico (RX de mãos e punhos ou joelhos - em AP; e de tórax - em PA e P) deve ser solicitado nas crianças em que os achados clínicos e laboratoriais sugiram raquitismo. Nesse caso, ele mostra: Alargamento das metáfises com perda de seus contornos, principalmente em punhos e tornozelos; Alargamento das junções costo-condrais; Fraturas em “galho verde”; Geno varo ou geno valgo; Deformidades torácicas. OBS: Triagem: é feita para os seguintes grupos de risco: insuficiente exposição à luz solar, síndromes de má absorção intestinal, hepatopatia, nefropatia e uso de determinados medicamentos. Tratamento Suplementação de Vitamina D: O tratamento deve ser feito com a reposição de colecalciferol que é um metabólito mais ativo do que o ergocalciferol ou vitamina D2. O uso da 1,25-OH-Vitamina D (calcitriol) é indicado apenas em situações excepcionais como: hipoparatireoidismo, insuficiência renal crônica, raquitismo dependente da vitamina D tipo 1 ou tipo 2, ou em casos de síndromes de má absorção intestinal grave. O tratamento em menores de 1 ano: epitelial, sistema imune, transcrição genética e função reprodutiva. A vitamina A é um composto da subclasse dos retinoides, encontrado na alimentação em duas formas: Carotenoides (fontes vegetais): cenoura, brócolis, batata-doce, espinafre, abóbora, melão persa, couve, azeite de dendê, manga, goiaba, mamão, entre outros vegetais de coloração amarelo-alaranjada ou folhas verde-escuras. Retinóis (origem animal): fígado, peixes, ostras, óleo de fígado de peixe, gema de ovos, manteiga e margarinas, além do leite materno. A deficiência da vitamina A é a principal causa de cegueira adquirida em crianças, além de estar relacionada à maior vulnerabilidade para doenças infecciosas, como diarreia, infecções respiratórias, sarampo, estrongiloidíase e giardíase, determinando grande impacto na morbimortalidade em menores de 5 anos. No Brasil, consideram-se áreas de deficiência de vitamina A: o Vale do Jequitinhonha, o semiárido nordestino e o Vale do Ribeira. Quadro Clínico Clinicamente, a deficiência de vitamina A manifesta-se pelas alterações da visão, anemia, predisposição a infecções, inapetência e alteração do paladar por queratinização das papilas gustativas, alteração do crescimento, deformidades ósseas, xerodermia, queratinização de mucosas dos tratos respiratório, digestório e geniturinário e hiperqueratose folicular. Chama-se xeroftalmia (“olho seco”) a série de eventos clínicos sucessivos que ocorre nos olhos, resultando em cegueira noturna ou nictalopia, xerose conjuntival, mancha de Bitot, xerose corneana (fase ainda reversível). Os sinais cutâneos não são específicos da deficiência (hiperqueratose folicular ou frinoderma, xerose cutânea ou xerodermia). Crianças em hipovitaminose A apresentam predisposição a desenvolverem estrongiloidíase e giardíase. Diagnóstico Exames complementares podem ser úteis, como a citologia da impressão conjuntival (prova do CICO), a avaliação funcional do comprometimento da visão (prova de adaptação rápida ao escuro e tempo de restauração da visão), a dosagem da concentração de retinol, da proteína carreadora do retinol e da relação proteína carreadora do retinol e transtirretina. A avaliação do estado corpóreo de vitamina A deve ser feito pela dosagem do retinol sérico. Deficiencia grave 50 mcg/dl Tratamento Prevenção “Vitamina A MAIS”: Programa Nacional de Suplementação de Vit A, do Ministério da Saúde: 6 a 11 meses: 100.000 UI dose única; 12 a 59 meses: 200.000 UI uma dose de 6/6 meses; Puerpério no pós-parto imediato antes da alta hospitalar: 200.000 UI dose única na puérpera. Hipovitaminose A 70 Taciano Fontes Filho 71 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 A obesidade exógena é um distúrbio do metabolismo energético, que acarreta acúmulo excessivo de gordura corporal. Etiologia: Primária ou Exógena (Multifatorial): presente em 95% dos casos. Está associada a fatores genéticos, ambientais e comportamentais. O paciente costuma apresentar: IMC elevado; estatura elevada (↑ IGF1); TSH elevado. Secundária: causada por distúrbios endócrinos, tumores do SNC, síndromes genéticas. O paciente costuma apresentar: IMC elevado; crescimento reduzido/baixa estatura; atraso puberal; hipotireoidismo. Acentuação da lordose e aumento da inclinação anterior da pelve, por causa do deslocamento do centro de gravidade pela protrusão do abdome. Processos degenerativos, com dores articulares importantes, devido ao impacto provocado pelo excesso de peso nas articulações dos quadris, joelhos e tornozelos. Alterações de pele: estrias, infecções fúngicas e/ou bacterianas nas regiões de dobras (maior umidade e atrito). A ancatose nigricans (hiperpigmentação da pele) nas axilas e pescoço pode ser detectada em obesidade com hiperinsulinemismo. Alterações do metabolismo da glicose: a resistência insulínica, hiperinsulinemia e intolerância à glicose, que podem culminar com o diabete melito tipo 2. Exame Valores de Referência Interpretação Glicemia jejum (de 8 horas) 126 mg/dl Diabetes mellitus Dislipidemias: aumento dos níveis de triglicérides (TG), na diminuição da fração HDL-colesterol (HDL- c) e composição anormal do LDL-colesterol (LDL-c) (maior proporção de partículas pequenas e densas, que são mais aterogênicas). Hipertensão: Alguns mecanismos estão envolvidos no aumento dos níveis pressóricos na obesidade, como a resistência insulínica, a hiperatividade do sistema nervoso simpático, as alterações vasculares estruturais e funcionais e a ação de proteínas do sistema renina-angiotensina secretadas pelo tecido adiposo. Adiposidade central (abdominal), com depósitos viscerais de gordura: o predomínio de receptores beta-adrenérgicos nessa região explica a elevada atividade lipolítica, com grande produção de ácidos graxos livres. Doença gordurosa do fígado não alcoólica: o aumento de TG e ácidos graxos livres circulantes contribui para o acúmulo de gordura no fígado, desencadeando a esteatose hepática, que tem possibilidade de progredir para esteato-hepatite e cirrose hepática. Distúrbios respiratórios: em razão da deposição de gordura na faringe e nas estruturas perifaringeanas, e também pela restrição na expansibilidade da caixa torácica. A apneia obstrutiva do sono caracteriza-se por episódios repetidos de pausas respiratórias durante o sono e múltiplos despertares. Síndrome dos ovários policísticos (SOP): são relacionadas ao hiperandrogenismo (hirsutismo, acne, irregularidades menstruais) e à resistência insulínica (obesidade central, acantose nigricans). Com os dados de peso e estatura, calcula-se o IMC= Peso (kg)/Estatura2 (m). Obesidade Exógena Introdução Quadro Clínico Diagnóstico 72 Taciano Fontes Filho A circunferência abdominal (CA) é medida com uma fita inextensível, no ponto médio entre a borda inferior da última costela e a borda superior da crista ilíaca. Valores elevados da CA, a partir do percentil 90, em crianças e adolescentes, são associados a alterações metabólicas e ao maior risco cardiovascular. As pregas cutâneas (tricipital e subescapular), que fornecem indiretamente a quantidade de gordura corporal, também podem ser mensuradas por meio de plicômetro. Absorciometria por dupla emissão de feixes de raio X ou DXA (dual-energy X-ray absorptiometry): detecta a quantidade de massa magra e de massa gorda e fornece a distribuição anatômica da gordura corpora. Obesidade pode ser diagnosticada na presença de cintura abdominal > p90 mais ou menos dois dos seguintes achados: Hipertrigliceridemia: > 150 mg/dl Baixo HDL-c: 130 mmHg e PAD > 85 mmHg. Intolerância à glicose: Glicemia jejum > 100 mg/dl ou presença de diabetes mellitus tipo 2. A abordagem multidisciplinar é considerada a maneira mais adequada para o tratamento da obesidade. A equipe de atendimento deve ser formada por pediatra, nutricionista, psicólogo e educador físico. A reeducação alimentar, deve ser feita de forma gradativa. É importante que seja de forma individualizada, de acordo com a idade, o desenvolvimento puberal e a presença de comorbidades. A qualidade da dieta também necessita ser observada, corrigindo-se a ingestão inadequada, principalmente de micronutrientes. É importante que haja redução do consumo de gorduras saturadas, trans, colesterol e de carboidratos e aumento do consumo de fibras solúveis. São várias as vantagens da atividade física: mudanças na composição corporal, modificações no perfil lipídico; diminuição da resistência insulínica; diminuição da pressão arterial (exercícios leves e moderados); contribuição para a melhora dos estados de ansiedade, depressão e baixa autoestima. O programa de exercícios tem que ser desenvolvido de maneira gradativa, priorizando as atividades aeróbicas e de baixo impacto para as articulações, realizadas regularmente. As atividades sedentárias (p.ex., horas gastas com TV, computador, videogame) devem ser reduzidas para 2 h/dia. O psicólogo desempenha papel importante na equipe, fortalecendo e mobilizando o paciente para suportar o tratamento, que em geral é lento e com muitos insucessos. As intervenções farmacológicas não são recomendadas para crianças com elevação isolada de TG, a menos que seja muito acentuada (TG > 400 mg/dL), em razão do elevado risco de pancreatite. Nas crianças obesas hipertensas, a redução da quantidade de sódio na dieta é importante para a normalização dos níveis pressóricos. Durante o acompanhamento, deve ser feito alguns exames subsidiários: Dosagem de TG, colesterol total e frações, glicemia e insulinemia de jejum, AST, ALT, gama-GT, US hepático e avaliação da composição corporal, que pode ser realizada por DXA. O grau de resistência insulínica pode ser determinado pelo HOMA-IR. Além disso, deve-se avaliar adequadamente a pressão arterial e detectar possíveis complicações existentes, como problemas posturais, ortopédicos, dermatológicos e respiratórios. Tratamento 73 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 As dores recorrentes na infância serem de origem funcional em cerca de 90% dos casos, ou seja, não se identifica uma condição patológica subjacente, seja anatômica, infecciosa, inflamatória, metabólica ou neoplásica. Alterações na frequência e intensidade do choro, mudanças na mímica e expressão corporal habitual, alterações de comportamento e sono, podem ser suas principais formas de manifestação. São características fundamentais das dores recorrentes funcionais (DRF): Períodos geralmente assintomáticos entre as crises dolorosas; Quadro clinico crônico não progressivo; Crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor preservados; Normalidade do exame físico e exames complementares. Introdução O diagnóstico é predominantemente clínico, sendo importante fazer uma anamnese completa: deve ser feito as perguntas semiológicas da dor, bem como etilismo, investigar hábitos de vida, ansiedade, etc. O exame clínico neurológico deve ser minucioso para que possam ser detectados sinais de alguma doença sistêmica ou do sistema nervoso. Em muitas ocasiões, a avaliação neuro- oftalmológica se faz necessária, especialmente se considerar a hipertensão intracraniana e o glaucoma. Quando há suspeita de comprometimento orgânico, tornam-se necessários os exames por imagem e os laboratoriais. As causas mais frequentes da cefaléia aguda são: Doenças infecciosas; Hemorragia intracraniana; Trauma craniano; Processos inflamatórios. Migrânea ou Enxaqueca Classificada como uma das cefaléias primárias é causa importante de dor aguda com manifestação recorrente. Clínica: A infância, a dor é frequentemente bilateral, com característica pulsátil. Irritabilidade, apatia, anorexia, náuseas e vômitos podem acompanhar o quadro álgico. A migranea sem aura é a cefaléia recorrente mais comum na infância. A aura é um complexo de sintomas neurológicos completamente reversíveis, como hemianopsia, parestesias ou disfasia, cuja duração não ultrapassa 1 hora e cuja freqüência em crianças e adolescentes e de cerca de 5 a 10%. Vários são os fatores desencadeantes da migrânea, como: Certos alimentos (queijos, chocolate, embutidos, frituras, cítricos, shoyu); Bebidas (vinho tinto, destilados); Odores (perfumes, combustível, desinfetantes, tintas); Alteração do ritmo de sono e estresse. Diagnóstico: É clinico, não sendo necessário solicitar exames complementares. Critérios da ICHD-3 para o diagnóstico de enxaqueca Enxaqueca sem aura A. Pelo menos 5 ataques atendendo aos critérios de B a D. B. Duração do ataque de dor de cabeça de 2 a 72 horas para crianças menores de 18 anos (não tratada ou tratada sem sucesso) C. A dor de cabeça tem pelo menos 2 das 4 características a seguir: 1. Localização unilateral ou bilateral em crianças de três meses) com padrão contínuo ou intermitente. Dor abdominal orgânica (DAO): quando associada a uma causa anatômica, inflamatória ou dano tecidual. Dor abdominal funcional (DAF): dor abdominal que ocorre na ausência de uma causa anatômica, inflamatória ou dano tecidual. Fisiopatologia Nas DGIFs que cursam com dor, o mecanismo responsável pela percepção dolorosa é complexo, multifatorial e ainda não está totalmente esclarecido. Existem, entretanto, cada vez mais evidências do envolvimento do eixo cérebro- intestino: Hiperalgesia visceral; Distúrbios na motilidade do TGI; Predisposição genética; Perfil psicológico: depressão, ansiedade e baixa autoestima; Eventos ambientais estressantes: desordens familiares, hospitalização, “bullying” e abuso infantil. Doenças infecciosas, principalmente gastroenterites. Diagnóstico O primeiro passo no processo de investigação é o diagnóstico diferencial dos quadros de etiologia orgânica (DAO) daqueles funcionais. O quadro funcional habitualmente é de localização periumbilical ou epigástrica, raramente com irradiação. Os episódios de dor podem durar minutos a horas, intercalados por períodos de bem-estar. Ocorrem caracteristicamente durante o dia e podem ser de Dor abdominal crônica (DAC) 75 Taciano Fontes Filho intensidade suficiente para levar ao choro e interromper as atividades habituais. Sintomas neurovegetativos como palidez, sudorese, náuseas e vômitos podem ocorrer. Dor que acorda o paciente à noite deve alertar para uma possível causa orgânica, assim como a dor que interrompe as atividades prazerosas. A avaliação do crescimento ponderoestatural deve ser feita, devendo ser normal. Avaliação laboratorial básica: hemograma, sumário de urina, exame parasitológico de fezes, amilase, lipase, VHS, PCR. Dependendo da clínica, pode ser feito a investigação para intolerância à lactose, doença celíaca, dispepsia, síndrome do intestino irritável, constipação, bem como disfunções tiroidianas. Conduta Assegurar o paciente e à família quanto à benignidade do quadro, associado a uma boa relação médico-paciente pode ser muito útil na abordagem de crianças com DGIFs. Abordagens dietéticas: existem estudos que avaliam impacto dos alimentos enquanto gatilhos para os quadros álgicos e sugerem um papel dos carboidratos fermentáveis não absorvíveis (FODMAPs), da sensibilidade ao glúten não celíaca e de aditivos alimentares. FODMAPs: oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos fermentáveis e polióis. Estes carboidratos incluem: frutose, lactose, sorbitol, fruto-oligossacarídeos, gluco- -oligossacarídeos e manitol. Terapia farmacológica: Probióticos; Antidepressivos: diminui o trânsito intestinal, tratando a depressão (enquanto comorbidade), melhorando o sono e induzindo analgesia. IBPs e antagonistas dos receptores H2: dispepsia funcional. Na enxaqueca abdominal o tratamento medicamentoso profilático pode ser realizado com ciproheptadina, amitriptilina, propranolol, pizotifeno e flunarizina. Suporte Psicológico: suporte familiar, terapia cognitivo comportamental (TCC) e psicoterapia. Praticas comportamentais: exercício físico, relaxamento e condicionamento operante. Objetivam amenizar a tensão muscular e/ou comportamentos restritivos. Introdução Na realidade, não existe relação com nenhuma fase do crescimento físico, mas este termo foi consagrado pelo uso e ainda é utilizado nos dias atuais, servindo para diferenciá-la de uma série de outras condições que causam dor em crianças. A causa não é conhecida, mas existem várias teorias que tentam explicá-la. Diagnóstico Clínico Local da dor: geralmente bilateral, afetando as coxas, panturrilhas, canelas e parte posterior dos joelhos. Horário da dor: No fim da tarde ou durante a noite, podendo acordar a criança; A Dor não está presente pela manhã; Pode haver dias ou semanas sem dor; Não se relaciona com a atividade física. Gravidade da dor: A dor melhora com massagens e/ou analgésicos. A gravidade não aumenta com o passar do tempo. Exame Físico: não há achados anormais. Diagnóstico Diferencial Crianças com história atípica de dor do crescimento ou com alterações ao exame físico deverão ser melhor investigadas com perguntas buscando sinais e sintomas compatíveis com outras causas de dor, exames de laboratório ou de imagem. Exames de Laboratório: Anemia, leucocitose e trombocitose (hemograma completo), aumento das provas de atividade inflamatória (VHS, PCR) indicam inflamação ou infecção. Exames de Imagem: Radiografias: são úteis para investigar neoplasias, infecções, fraturas e várias causas de dores mecânicas. Ressonância magnética: poderá mostrar uma lesão não detectada na radiografia simples como a doença de Legg-Perthes-Calvé, a fase inicial da osteomielite e neoplasias. Cintilografia óssea ou ressonância magnética de corpo total podem ser necessárias em casos de doença óssea difusa como a osteomieleite crônica multifocal e metástases de câncer. Conduta Massagens e repouso podem ajudar. Uso de analgésicos pode ser feito. Dor do Crescimento 76 Taciano Fontes Filho 2022.1 a média é de 50cm; 1° ano: 25 cm/ano (15cm no 1° semestre e 10 cm no 2°); 2° ano: 12 cm/ano; 2-6 anos: 6-7 cm/ano; 6 anos-puberdade: 5 cm/ano. OBS: Através do raio-x de mão e punho esquerdos (Métodos de Greulish-Pyle) conseguimos estimar a idade óssea. O fim do crescimento ósseo é marcado pelo fechamento das epífises. Fórmula do alvo genético: OBS: Pode variar ± 8,5cm. Perímetro Cefálico (PC) É uma medida que representa o crescimento do cérebro, sendo útil para identificação de desvios do desenvolvimento neurológico nos primeiros meses de vida. A medida deve acompanhada pelo menos até os 2 anos de idade. O crescimento cefálico permite o fechamento das fontanelas: as posteriores em 2-3 meses e as anteriores em até 18 meses. Crescimento padrão do PC de RNs: Ao nascimento: a média é de 35 cm; 1° trimestre: 2cm/mês; 2° trimestre: 1 cm/mês; 3° e 4° trimestres: 0,5 cm/mês; 1° ano: aumento de 12 cm, com PC médio de 47 cm; 2° ano: 2 cm/ano; Pré-escolar até os 18 anos: 5 cm. Início da Puberdade A adrenarca é o resultado da estimulação do eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal. Os hormônios adrenais (DHEA) são responsáveis pela modificação dos odores corporais, aumento da oleosidade da pele, pilificação axilar e pubiana. A gonadarca é o resultado da ativação do eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal. No sexo feminino, os estrogênios irão provocar desenvolvimento das mamas, aumento dos grandes e pequenos lábios, aumento e redistribuição da gordura corporal, crescimento do útero e estrogenização do epitélio vaginal. Já no sexo masculino, iremos observar aumento dos testículos e do pênis, desenvolvimento dos pelos faciais, aumento da cartilagem cricoide (causando mudança de voz) e modificação na distribuição da gordura corporal. Os esteroides gonadais estimulam a secreção de GH e IGF-1, os quais agem sobre a cartilagem de crescimento proporcionando o alongamento ósseo. Estágios de Tanner Sexo Masculino: a puberdade fisiológica tem início entre 9 e 14 anos. Sexo Feminino: a puberdade fisiológica tem início entre 8 e 13 anos, a telarca geralmente ocorre nesse período. A menarca acontece 2-2,5 anos depois, nos estágios M3 e M4 de Tanner. Maturação Sexual 8 Taciano Fontes Filho Conduta adaptativa Compreende as reações da criança frente aos estímulos apresentados, e que dependem da interação da sua capacidade motora, sensorial, de coordenação e cognitiva para adequada exploração e aprendizagem. Conduta Motora Fina: compreende as habilidades cada vez mais precisas e específicas com o uso da mão e dedos, garantindo-lhe a exploração cada vez mais delicada do objeto. Grosseira: compreende as habilidades motoras gerais, como sustentar cabeça, tronco, sentar-se, rolar, engatinhar, andar, pular e assim por diante. Conduta de linguagem Refere-se à capacidade de compreender e exprimir sensações e pensamentos. Inclui as reações de comunicação não verbal e verbal. Conduta pessoal-social Refere-se às reações da criança frente às outras pessoas e frente às situações de vida diária (alimentação, sono, higiene, vestimenta, controle esficteriano). Transtorno do Espectro Autismo (TEA): Escala M-CHAT: (PESQUISAR ESCALA) 0 a 2 – Risco baixo: Com essa pontuação não é preciso aprofundar a investigação. Recomenda-se repetir o teste em crianças com menos de 2 anos. 3 a 7 – Risco moderado: o médico segue para a Entrevista de Seguimento, para reunir mais informações sobre os sinais de autismo. 8 a 20 – Risco alto: os pais devem procurar um especialista para confirmar o diagnóstico. Desenvolvimento Neuropsicomotor Reflexos Primitivos 9 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 Características Gerais O leite materno é considerado um alimento perfeito, pois além de possuir proteínas, lipídios, carboidratos, minerais e vitaminas, contém 88% de água. O aleitamento materno deve ser iniciado imediatamente após o nascimento, de preferência ainda na sala de parto. Frequência O esvaziamento gástrico do recém-nascido varia de uma a quatro horas ao longo do dia. Por isso, o leite materno deve ser oferecido em livre demanda, ou seja, quando a criança quiser. As duas mamas são oferecidas em todas as mamadas. Como a criança suga mais vigorosamente a primeira mama, acaba por não esvaziar completamente a segunda, dessa forma, na próxima mamada essa mama que não foi completamente esvaziada deve ser oferecida em primeiro lugar. Informações que traduzem boa amamentação: período de sono de 2 a 4 horas entre as mamadas, troca frequente de fraldas e a baixa perda de peso ao final da 1° e ganho de peso ao final da 2° semana. Técnicas de Amamentação e Pega O rosto do bebê deve estar de frente para a mama, com nariz a altura do mamilo; corpo do bebê próximo ao da mãe com cabeça e tronco alinhados. A pega é eficaz quando a boca do bebê fica bem aberta com o lábio inferior virado para fora e o queixo tocando a mama, observando mais aréola visível acima da boca do bebê. Sinais de má técnica de amamentação: bochechas do bebê encovadas, ruídos da língua, mama parecendo estar esticada ou deformada, dor excessiva. Impossibilidade de amamentação A complementação da nutrição do lactente será realizada preferencialmente pela administração de fórmulas infantis (APTAMIL, NAN, NESTOGENO, MILUPA, ENFAMIL, etc), produzidas a partir do leite de vaca ou proteína de soja. São chamadas de fórmulas de partida aquelas para crianças de até seis meses, e de fórmulas de seguimento aquelas para crianças de 6 a 12 meses. As crianças que recebem fórmulas infantis em substituição ao leite materno devem receber apenas as fórmulas até seis meses e a introdução da alimentação complementar acontece apenas após essa idade, de modo semelhante ao recomendado para as crianças amamentadas com leite materno. O leite de vaca não é recomendado, mas devido ao seu baixo custo chega a ser uma opção para as famílias de baixa renda. Não é indicado para menores que 4 meses, para este público deve ser diluído em água. OBS: o leite de vaca possui mais Ferro que o materno, mas a sua absorção é baixa, havendo uma biodisponibilidade maior de ferro no leite materno. O leite de cabra tem composição semelhante ao de vaca, mas possui baixas concentrações de vitamina D, ferro e ácido fólico, com maior suscetibilidade dos lactentes desenvolverem anemia megaloblástica. Problemas relacionados com a amamentação Dor e traumas mamilares: A dor mamilar é comum na primeira semana de pós-parto. Após este período, se intensa e persistente, pode estar sendo provocada por trauma (fissuras, bolhas, equimoses), candidíase ou síndrome de Raynaud. Ingurgitamento mamário: Durante a apojadura entre o terceiro e o quinto dia após o parto, pode acontecer de forma fisiológica. Mas, é patológico quando o leite não é drenado de forma eficiente, há aumento da vascularização local com congestão e há obstrução linfática. Mastite: é o processo inflamatório da mama causada por estase do leite e infecção, sendo Staphylococcus aureus, estreptococos e E. coli os principais agentes infecciosos. Galactocele: cistos presentes em meio ao tecido mamário, onde há grande produção de leite. Abscesso mamário: Pode ser complicação da mastite ou resultar de seu tratamento ineficiente. Caracteriza-se por intensa dor, formação de Alimentação Infantil Aleitamento Materno 10 Taciano Fontes Filho nódulo palpável e flutuante de pus e febre. É causado pelo S. aureus na maioria dos casos. Candidíase: Infecção dos mamilos causada pela Candida albicans, com sintomas de dor e sensação de prurido, acompanhados de hiperemia e com fina descamação da pele. Síndrome de Raynaud: Ocorre por isquemia intermitente do mamilo, devido compressão do mamilo, trauma ou exposição ao frio. Os sintomas são palidez, dor, queimação que podem durar de minutos até horas. Pouco leite: Muitas vezes, fatores como depressão puerperal, técnica inadequada de amamentação e afecções mamárias podem levar de fato a uma redução da produção láctea. A ingesta de líquido (pelo menos 3L diário) somada com uma alimentação saudável auxilia na estimulação da produção do leite. Contraindicações relacionadas à nutriz É contraindicado para mães portadoras de: HIV; HTLV-1 e 2; Criança portadora de Galactosemia; Hanseníase Virchowiana; Fase aguda da doença de Chagas ou com lesões sangrantes na pele do mamilo; Sarampo até 4 dias de isolamento. Lembrando que não é transmitida pelo leite e sim por secreções respiratórias; Herpes simples com lesões localizadas na mama; Varicela na fase contagiante; O citomegalovírus passa através do leite, mas não é contraindicado, pois é assintomático em bebês a termo. Introdução da Alimentação Complementar 0-6 meses: somente leite materno, sempre que a criança quiser. Aos 6 meses: manter leite materno; oferecer 3 refeições ao dia (almoço ou jantar e dois lanches) de frutas amassadas. 7-8 meses: manter leite materno; oferecer almoço, jantar e dois lanches de frutas menos amassadas ou picadas. 9-12 meses: manter leite materno; oferecer almoço, jantar e dois lanches de frutas por dia, com pequenos pedaços de alimentos no prato. 1-2 anos: manter leite materno; café da manhã, almoço, jantar e dois lanches de frutas por dia. Deve-se oferecer a comida da família. OBS: Atualmente, sucos não são recomendados para crianças menores que 1 ano, sendo estimulados consumo de frutas. As fibras das frutas são desprezadas ao serem coados; Pode dificultar a aceitação de água pura; Comer frutas estimula a mastigação. Dez Passos Para Uma Alimentação Saudável (MS) 1° Passo: Dar somente leite materno até os seis meses. 2° Passo: A partir dos seis meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais. 3° Passo: Após os seis meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas, legumes) três vezes ao dia se a criança receber leite materno. 4° Passo: A alimentação complementar deve ser oferecida de acordo com os horários de refeição da família, em intervalos regulares e de forma a respeitar o apetite da criança. 5° Passo: A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida com colher; começar com consistência pastosa (papas e purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família. 6° Passo: Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é uma alimentação colorida. 7° Passo: Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições. 8° Passo: Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação. 9° Passo: Cuidar da higiene no preparo e no manuseio dos alimentos; garantir o armazenamento e a conservação adequados. 10° Passo: Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação. Ferro A suplementação de ferro medicamentoso para lactentes tem o intuito de prevenir a deficiência de ferro e a anemia ferropriva. Crianças entre 6 e 24 meses devem fazer suplementação de 1mg/kg/dia. Esquema Alimentar Suplementação 11 Taciano Fontes Filho OBS: crianças que não estão em AME, inicia-se a partir do 4º mês. Bem como, as que apresentam pelo menos 3 fatores de risco (pesquisar cartilha da SBP). Crianças pré-termo ou nascidas com menos de 2.500 g: Até 1500g a partir do 30° dia de vida: 2 mg/kg/dia durante um ano. Após este prazo, 1 mg/kg/dia por mais um ano. Entre 1000-1500g após 30° dia de vida: 3 mg/kg/dia durante um ano. Posteriormente, 1 mg/kg/dia por mais um ano. 1 ano), em: Crianças em aleitamento materno exclusivo, iniciando logo após o nascimento. Para os prematuros, a suplementação deve ser iniciada quando o peso for superior a 1.500 gramas e houver tolerância à ingestão oral; Crianças em uso de fórmula láctea fortificada com vitamina D que inferem um volume menor que 1000ml/dia; Crianças e adolescentes que não ingerem pelo menos 600 UI de vitamina D/dia na dieta; Crianças e adolescentes que não se expõem ao sol regularmente; Suplementar vitamina D, com 600-1.800 UI/dia, nos seguintes grupos de risco: Gestação e Lactação; Dieta estritamente vegetariana; Obesidade; Hepatopatia crônica; Nefropatia crônica; Má absorção intestinal (doença celíaca, doença de Crohn, fibrose cística, cirurgia bariátrica); Hiperparatireoidismo; Uso de medicamentos: anticonvulsivantes (fenobarbital, fenitoína, carbamazepina, oxcarbazepina) corticoides, antifúngicos azólicos (ex.: cetoconazol), antirretrovirais, colestiramina, orlistat, rifampicina. Vitamina K O recém-nascido deve receber ao nascimento vitamina K1 (IM), como forma de prevenir sangramentos resultantes da carência dos fatores de coagulação, dependentes de vitamina K (II, VII, IX e X). Vitamina A É realizada através de megadoses: 6-11 meses: 1 megadose de 100.000 UI; 12-59 meses: 1 megadose de 200.000 UI a cada 6 meses. 12 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 Helmintos Nemaltemintos: Ascaris lumbricoides (ascaridíse); Ancilostoma duodenale (ancilostomíase); Strongyloides stercoralis (estrongiloidíase); Enterobius vermiculares (enterobíase ou oxiuríse); Trichuris trichiura (trichiuríase ou tricocefalíase). Platelmintos: Taenia saginata e Taenia solium (teníase e cisticercose); Protozoários Entamoeba histolytica e Entamoeba dispar (amebíase); Giardia lamblia (giardíase). Quimioterapia preventiva Albendazol: 400mg dose única (200mg em 12-24 meses) Mebendazol: 500mg, dose única. Classificação: Alto risco: 2x ao ano; Médio risco: 1x ao ano; Baixo risco: individualizado; Patogenia e Manifestações Clínicas Larvas: sua principal ação é no pulmão: pneumonite larvária, com febre, tosse, expectoração, dispneia, eosinofilia periférica moderada ou intensa (síndrome de Löeffler – duração de uma ou duas semanas). No parênquima hepático causa necrose local e fibrose. Vermes Adultos: no intestino o quadro é assintomático, ou há sintomas inespecíficos. Mas em infestação média ou maciça tem efeitos graves: Ação Espoliadora: desnutrição, baixa estatura, subdesenvolvimento comprometido, pelo consumo de macro e micronutrientes. Sub-oclusão ou obstrução intestinal: O paciente, em geral desnutrido, apresenta cólicas, distensão abdominal, anorexia, vômitos biliosos, desidratação e às vezes diarreia no início do quadro. É comum a eliminação de lombrigas pela boca, narinas ou ânus. Migração do áscaris: apendicite, pancreatite, colestase, abcesso hepático, asfixia. Diagnóstico Microscopia direta, exame parasitológico de fezes (método de concentração ou método da avaliação quantitativa). Tratamento 1° Linha: Albendazol: 400 mg (200 mg em 1 ano 100 mg, VO, 1x/dia por 3 dias. 2° Linha: Ivermectina: 150-200 mcg/kg, VO, dose única. Pamoato de Pirantel: 11 mg/kg (máximo 1g), VO, 1x/dia por 3 dias. Nitazoxanida: 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg), 2x/dia por 3 dias Patogenia e Manifestações Clínicas Dermatite Larvária: prurido, eritema, edema, erupção papulovesicular durante até duas semanas. Parasitismo intestinal: na fase aguda pode ocorrer dor epigástrica, náuseas, vômitos, anorexia ou bulemia, flatulência ou diarreia; na fase crônica, que é a mais complicada e pode demorar vários anos para se estabelecer, pode ocorrer anemia hipocrômica e microcítica. Por ter um ciclo pulmonar (ciclo de Loss), pode apresentar sinais e sintomas da síndrome de Löeffler. Diagnóstico Exame parasitológico de fezes; método de cultura de larvas. Também a endoscopia digestiva alta e biópsias de duodeno pode ser o exame de confirmação. Tratamento 1° Linha: Albendazol: 400 mg, VO, dose única (200 mg em lipossolúveis (A, D, E, K), vitamina B12, ferro, xilose e lactose. Diagnóstico Exame parasitológico de fezes (cistos) ELISA e imunofluorescência direta (IFD) nas fezes. Tratamento Metronidazol: 2g ou 30mg/kg, dose única. Albendazol: 400mg/dia, 5 dias. Tinidazol: ≥3 anos 50mg/kg, dose única. Secnidazol: 30 mg/kg, dose única. Nitazoxanida: ≥1 ano 7,5mg/kg /dose, 2x/dia por 3 dias. Cisticercose Amebíase Giardíase 15 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 Na prática, pode ser definida como a eliminação de fezes endurecidas com dor, dificuldade ou esforço ou a ocorrência de comportamento de retenção, aumento no intervalo entre as evacuações (menos que três evacuações por semana) e incontinência fecal secundária à retenção de fezes (fecaloma). Podem ocorrer, também, dor abdominal crônica e laivos de sangue na superfície das fezes em consequência de fissura anal. Em geral, o diagnóstico é clínico e estabelecido de acordo com o critério de Roma III: Inicialmente, é fundamental que se defina se existe ou não impactação fecal (fecaloma), que em geral está presente em pacientes com incontinência fecal por retenção. Nesses pacientes, deve-se pesquisar massa fecal na palpação abdominal, em especial na região do hipogástrio e do colo sigmoide. O toque retal (evitar em crianças) pode revelar a presença de grande quantidade de fezes endurecidas. A radiografia simples de abdome pode contribuir para a caracterização de impactação fecal. Causas de constipação intestinal crônica em pediatria: A falta de resposta ou a recorrência indica a necessidade de exames subsidiários: pesquisa de doença celíaca pela sorologia, testes de função tireoidiana, dosagem de cálcio, exame de urina e urocultura. Sinais e sintomas de alarme em paciente com constipação intestinal: Constipação Intestinal Definição Diagnóstico 16 Taciano Fontes Filho Considerações Iniciais Quando houver fecaloma ou impactação fecal, o esvaziamento do reto e do colo (desimpactação) constitui a primeira e imprescindível etapa. Se completa com cerca de 5-6 dias. O tratamento de manutenção deve ser iniciado quando se obtém plena desimpactação, ou seja, eliminação de fezes amolecidas sem dor ou dificuldade e redução expressiva na frequência da incontinência fecal por retenção. Deve ser feito com pelo menos 3 meses. Tratamento não farmacológico Aproveitar o reflexo gastrocólico e tentar evacuar uma vez ao dia, após uma das refeições principais. Medidas promotoras da saúde em geral: aumento na ingestão de fibra alimentar e fluidos, estimular a prática de atividade física. Tratamento Medicamentoso Para Desimpactação: dura até no máximo 6 dias. Polietilenoglicol 3350 e 4000 (Peglax): 1,0 a 1,5 g/kg/dia, via oral, máximo por 6 dias. Enema fosfatado: 2,5 mL/kg/dia, dose máxima de 133 mL/dose, via retal, por até 6 dias. Não usar antes dos 2 anos de idade. De Manutenção: deve se estender por pelo menos 3 meses, sendo retirado progressivamente. Lactulose: 1 a 3 mL/kg/dia, via oral. Leite de Magnésia (hidróxido de magnésio): 1 a 3 mL/kg/dia, via oral. Polietilenoglicol 3350 e 4000: 0,2 a 0,8 g/kg/dia, via oral. Óleo Mineral: 1 a 3 mL/kg/dia, via oral. Não usar em lactentes e portadores de neuropatias. Tratamento 17 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 Definição É a eliminação anormal de fezes amolecidas ou líquidas com uma frequência ≥ 3 vezes por dia e duração de até 14 dias. Também é possível caracterizarmos o evento pela identificação de volume fecal superior a 10 ml/kg/dia, em crianças, ou mais do que 200 g/dia, em adultos. Entretanto, neonatos e lactentes, em aleitamento materno exclusivo, podem apresentar esse padrão de evacuação sem que seja considerado diarreia aguda. OBS: Diarreia persistente: > 14 dias; Disenteria: fezes com presença de sangue e leucócitos. Ocorrerá diarreia sempre que houver quebra de equilíbrio entre absorção e secreção de solutos no trato gastrointestinal. Os mecanismos envolvidos caracterizam a diarreia como osmótica, secretiva, inflamatória ou motora. Osmótica Com a destruição dos enterócitos pelos vírus e a reposição por células imaturas, há diminuição da atividade enzimática, reduzindo a absorção dos carboidratos, com ênfase na lactose. Os açúcares não absorvidos aumentam a pressão osmótica na luz intestinal, o que determina a maior passagem de água e eletrólitos para o espaço intraluminal para manter o equilíbrio osmótico. Caracterizada pela eliminação de fezes líquidas e volumosas, amareladas, com caráter explosivo e com grande perda hidreletrolítica. É predominante em quadros virais (rotavírus), bem como pelo uso de laxantes, deficiência de lactase e má absorção de glicose-galactose. Secretora Caracteriza-se por perda de grande volume de água e de eletrólitos, por ação de enterotoxinas que estimulam os mediadores da secreção, a AMPc, GMPc e o cálcio (Ca2+), levando à diminuição da absorção de água e íons e à secreção ativa pela criptas. Possui maior volume fecal e a desidratação ocorre rapidamente. São exemplos: ETEC e o Vibrio cholerae. Invasiva (inflamatória) É causada por patógenos que invadem a mucosa do intestino delgado ou grosso, ocasionando resposta inflamatória local ou sistêmica. A lesão da célula epitelial do intestino impede a absorção de nutrientes, e produz substâncias (bradicinina e histamina) que estimulam a secreção de eletrólitos para o lúmen intestinal. Pode ter aparecimento de sangue e leucócitos nas fezes (disenteria). São exemplos: Salmonella, Shigella, amebíase, Yersinia, Campylobacter. Motora Aumento da motilidade: Há diminuição do tempo de trânsito intestinal por aceleração da peristalse. As fezes têm aspecto normal. São exemplos: síndrome do intestino irritável e o hipertireoidismo. Diminuição da motilidade: Há defeito na unidade neuromuscular, com estase e supercrescimento bacteriano. São exemplos: pseudo-obstrução intestinal e a síndrome da alça cega. Diminuição da área de superfície: há diminuição da capacidade intestinal de absorção de água, eletrólitos e nutrientes de uma forma geral. O aspecto das fezes é aquoso. São exemplos: síndrome do intestino curto e doença celíaca. O termo gastroenterite aguda denota quase sempre uma causa infecciosa para a diarreia, que pode ser provocada por vírus, bactérias ou protozoários, transmitidos por via fecal-oral. Nos países desenvolvidos, os principais agentes causadores de diarreia aguda são os vírus; enquanto que nos países em desenvolvimento, são o rotavírus e as bactérias. Rotavírus Quadro Clínico: Causa uma diarreia osmótica que manifesta-se após um período de incubação inferior a 48 horas (pode variar entre um e sete dias), com febre baixa e vômitos seguidos de Diarreia Aguda e Desidratação Introdução Mecanismos Etiopatogênicos Etiologia 18 Taciano Fontes Filho diarreia aquosa, que persiste por até cinco ou sete dias. Os vômitos e a febre geralmente cessam no segundo dia de doença. Diagnóstico: ELISA de amostras fecais é o mais indicado. Tratamento: os principais objetivos são a prevenção e o tratamento da desidratação e, secundariamente, a manutenção do estado nutricional. Bactérias As infecções bacterianas podem levar ao estabelecimento de um quadro de diarreia por vários mecanismos, como sumarizado no quadro 1 (ver adiante). É eminentemente clínico, deve constar na anamnese: duração da diarreia, características das fezes, número de evacuações diarreicas por dia, vômitos (número de episódios/dia), febre, diurese (volume, cor e tempo decorrido da última micção), uso de medicamentos, sede, apetite, tipo e quantidade de líquidos e alimentos oferecidos após o início da diarreia, doenças prévias, estado geral, presença de queixas relacionadas a outros sistemas, viagem recente, contato com pessoas com diarreia e ingestão de alimentos suspeitos, além do uso prévio recente de antibióticos. É importante lembrar que a diarreia, principalmente no lactente, pode acompanhar quadros de pneumonia, otite média, infecção do trato urinário, meningite e septicemia bactéria. Deve-se classificar o estado de hidratação do paciente, conforme no quadro 2 (ver adiante). Exames Complementares Hemograma: sua indicação é restrita, sendo reservado para os casos suspeitos de disseminação do processo infeccioso (sepse); Bioquímica: dosagem sérica de potássio, sódio, cloro, creatinina, ureia e glicose, devem ser solicitadas nos casos com distúrbio hidreletrolítico grave e impacto na função renal. Gasometria arterial: solicitada na suspeita clínica de acidose metabólica (perda de bicarbonato pelas fezes, má perfusão tecidual e renal). Parasitológico de Fezes: pesquisa de giárdia lamblia. Não é rotineiramente indicado. ELISA: pesquisa de rotavírus nas fezes. Coprocultura: padrão ouro para diagnóstico de Shigella. pH das fezes: valores inferiores a 5,6 indicam participação de componente osmótico. Sangue e leucócitos nas fezes: sugerem invasão do epitélio intestinal. Substâncias redutoras maiores de 0,5%: são encontradas na diarreia osmótica. Dosagem de eletrólitos fecais: A osmolaridade fecal é de 290 mOsm/L. Ela pode ser medida diretamente ou calculada através da fórmula: OF: (Na + K) x 2. Plano A (Criança sem desidratação) Dar líquidos adicionais Crianças em aleitamento materno exclusivo (AME) devem ser amamentadas por mais tempo e com maior frequência. Também podem receber solução de reidratação oral (SRO); Crianças que não estejam em AME devem receber a SRO, líquidos caseiros, como soro caseiro ou água. A quantidade de líquidos extras pode ser calculada da seguinte forma: menores de um ano: 50-100 ml após cada evacuação; maiores de um ano: 100-200 ml após cada evacuação. OBS: Nesta fase, o SRO é de 45%, apenas para prevenir a desidratação. Continuar a alimentação. Alertar para sinais de perigo e quando retornar ao serviço de saúde. Além de tudo isso, é indicado o uso de zinco durante dez dias, que melhora o epitélio intestinal inflamado durante a diarreia e fortalece o sistema imunitário da criança. Plano B (Criança com desidratação leve) Consiste na administração de SRO na unidade de saúde, por um período de quatro horas ou até que a criança esteja hidratada. O cálculo do volume é feito da seguinte maneira: 75 x peso (kg). Obs: alguns manuais do MS orienta o uso de 50-100ml/kg. Se a criança vomitar, aguardar dez minutos e depois continuar, porém mais lentamente. Se for persistente, use ondansetrona. Após quatro horas, avaliar a criança, reclassificá- la e tratá-la de acordo. Caso a criança não esteja aceitando a SRO ou pareça estar piorando, a avaliação deve ser feita mais precocemente. Diagnóstico Tratamento (Ministério da Saúde) 19 Taciano Fontes Filho Se não estiver dando certo por via oral, pode ser administrado por via sonda nasogástrica. Caso esta não seja possível, faz pelo soro (via EV). Nesta fase o SRO é de 90%, pois atua combatendo a desidratação. Plano C (Criança com desidratação grave) Se houver possibilidade de iniciar logo a hidratação venosa, prescrever como abaixo: Menores de 5 anos: SF 0,9% ou Ringer lactato, 20 ml/kg EV, a cada 30 minutos; Em RN ou cardiopatas usa-se 10ml/kg. Maiores de 5 anos: SF 0,9% ou Ringer lactato, 30 ml/kg EV, em 30 minutos; e 70 ml/kg em 2 horas e 30 minutos. Avaliar a criança a cada 30 minutos. Se não houver melhora, aumentar a velocidade do gotejamento. SRO: iniciar tão logo a criança conseguir beber, no volume de 5 ml/kg/h. Reclassificar a desidratação e retomar o tratamento (plano A, B ou C). Hidratação venosa (fase de manutenção), enquanto a transferência é aguardada: SF 0,9% + SG 5%: relação 1:1, volume de 4 ml/kg/h. 20kg: 1500ml +20ml/kg de peso que exceder 20kg; A administração de SRO por Sonda Nasogástrica (SNG) pode ser uma opção para a equipe de saúde que tenha treinamento para tal e naqueles locais onde a hidratação venosa não possa ser iniciada imediatamente ou nos próximos 30 minutos. Orientações Gerais Assim que a criança estiver hidratada, iniciar alimentação. Manter aleitamento materno, mesmo com a criança em desidratação leve e moderada. Sucos com elevado teor de frutose, sacarose e sorbitol devem ser evitados devido alta osmoralidade: pode agravar as perdas diarreicas. Óleo vegetal: aumenta a densidade calórica dos alimentos e evita desnutrição. Manejo medicamentoso Para dor e febre: dipirona ou paracetamol. Antiemético: ondansetrona. Não faz uso de antidiarreicos. Mas a Racecadrotila (1,5mg/kg, 3x ao dia; contraindicado em idade; Ausência de déficit ponderoestatural (se a taxa calórica for adequada). Mecanismos e características evacuatórias Osmótico: causa hiperemia perianal, distensão abdominal, flatulência e diarreia. Motor: existe um maior número de contrações, com redução no tempo do quilo no intestino (fezes esverdeadas), comprometimento da digestão de fibras complexas (fezes com restos alimentares). É comum na diarreia funcional do lactente e na Síndrome do Intestino Irritado. Inflamatório: pode ter inflamação da mucosa intestinal, sangue e muco, várias evacuações com urgência. Secretor: diarreia aquosa e grande volume, sem melhora com jejum. Pode ter relação com hormônios de tumores neuroendócrinos ou infecciosa. Enteropatia Ambiental Distúrbio da estrutura intestinal que afeta principalmente crianças em ambientes com recursos limitados, causada por constante contaminação fecal-oral com inflamação intestinal. Prevenção (Wash-OMS): água segura para beber, abastecimento adequado de água, práticas adequadas de higiene, lavagem das mãos com água e sabão, eliminação e tratamento adequado dos excretas. Principais causas de diarreia crônica: Diagnóstico Clínico Aparecimento na idade de 6 a 60 meses (5 anos). Sintomas persistentes ou recorrentes. Frequência de evacuações aumentada em relação ao padrão normal para a idade, com fezes de consistência diminuída. Primeira evacuação do dia mais consistente, volumosa, seguida de outras mais amolecidas, geralmente matinais ou após refeições. A criança habitualmente não evacua dormindo. Aspecto das fezes variável, às vezes de cor clara ou colorida, com cheiro forte ou sem cheiro, com restos alimentares. Podem conter muco e “areia” (grânulos de amido não digerido). Diarreia Crônica ou Funcional Introdução Etiologia Diagnóstico 22 Taciano Fontes Filho Ao exame, a criança está bem nutrida, saudável e ativa, podendo apresentar apenas “assaduras” e dor abdominal. Desenvolvimento, crescimento e ganho de peso são normais, a não ser quando se instituem dietas hipocalóricas hipoproteicas. A alimentação dessas crianças contém, habitualmente, excesso de líquidos e sucos, pelo medo de desidratação, e falta de gorduras. As calorias são fornecidas, quase que na totalidade, por carboidratos. Pode-se instalar após diarreia aguda infecciosa ou outra infecção viral e acompanhar períodos de estresse. Cólicas mais intensas no lactente e constipação podem ocorrer antes do início dos sinais e sintomas característicos. Diagnóstico Laboratorial Em crianças com manifestações clínicas características, é possível complementar o diagnóstico com uns poucos exames: pH fecal Substâncias Redutoras Pesquisa de glóbulos de gordura por exame direto com Sudan III Leucocitose hemácias nas fezes e/ou sangue oculto Parasitológico de fezes Se for encontrada uma quantidade > glóbulos de gordura neutra por campo de grande aumento, suspeita-se de insuficiência pancreática. Quando leucócitos e hemácias são encontrados em grande número e destaca-se a presença de sangue oculto nas fezes, pode ser que o paciente seja portador de enterite ou colite. Não devem ser encontrados parasitas no exame de fezes de rotina e na pesquisa de Crystosporidium. Se houver história recente de uso de antibiótico, deve-se solicitar a pesquisa de Clostridium difficile nas fezes. Diagnóstico Diferencial Nas crianças com bom estado nutricional, poucas doenças podem ser consideradas. Intolerância a dissacarídeos (lactose e sacarose), deve ser confirmada com boa anamnese, com teste do H2 expirado ou com dietas de exclusão do açúcar suspeito. Investigar Giardia e Cryptosporidium. Proctite e proctocolite por alergia alimentar. São doenças causadas pelo leite de vaca ou outros alimentos em menores de 1 ano de idade, pouco alteram o estado geral da criança, mas são bem mais raras do que a diarreia funcional. Exames laboratoriais para afastar causas orgânicas da diarreia: Hemograma; Provas Inflamatórias: VHS e PCR; Sorologia Doença Celíaca: IgA e IgA anti- transglutaminase tecidual; Função da Tireoide: TSH e T4L; Bioquímica: albumina; Exames coprológicos: pH fecal, substâncias redutoras, Sudam III, Calpotectina fecal e sangue oculto das fezes. OBS: Sinais de Alerta para doença orgânica em crianças com suspeita de diarreia funcional Perda de peso ou desaceleração do crescimento linear, ausência de modificações restritivas da dieta. Vômitos recorrentes. Despertar à noite para evacuar ou em decorrência da dor abdominal. Sangue nas fezes. Sintomas sistêmicos: febre e alterações articulares. Massas abdominais. Lesões perianais. História familiar de doença inflamatória intestinal. Fat (gordura) Os alimentos com predomínio de gorduras retardam o esvaziamento gástrico, quando comparados com refeição com excesso relativo de carboidratos. Possuem efeitos opostos. As gorduras inibem o “freio ileal”, impedindo temporariamente a passagem do conteúdo intestinal para as porções distais, favorecendo a digestão e a absorção. É possível melhorar o quadro com acréscimo de gorduras na dieta (35-45% da ingestão calórica diária), no início do tratamento. Fibras Ajudam na absorção de água. Absorvem, também, ácidos graxos e sais biliares que, ao chegarem ao cólon por motilidade pós- prandial inadequada, estimulam a secreção, levando ao aparecimento de fezes mais amolecidas e esverdeadas. O aumento de fibras na alimentação da criança, que geralmente as rejeita, deve ser feito do modo mais atraente possível. Tratamento (5F’s) 23 Taciano Fontes Filho Para facilitar a adesão, pode-se ter como conduta orientar o seu uso para toda a família. Quando não se consegue a adesão, usa-se, temporariamente, fibras medicamentosas. Fibras são, também, frequentemente retiradas erroneamente da alimentação pelos pais e pelos médicos, por considerarem o aparecimento de alimentos não digeridos nas fezes sinônimo de má absorção. Fluidos Crianças normais já têm maior movimento de líquidos no intestino. Isso faz suas evacuações serem mais frequentes e as fezes, mais amolecidas do que em adultos. A alimentação infantil é muito rica em líquidos (mamadeiras, sucos, sopas) e os pais de crianças com fezes amolecidas são encorajados a usá-los em maior quantidade pelo medo de desidratação e em substituição ao leite, intensificando a diarreia. Quando uma grande quantidade de sucos de frutas é oferecida, aumenta-se o problema. Os sucos devem ser substituídos por água pura, que só será ingerida em caso de sede, não por prazer. Em crianças maiores, tentar substituir as mamadeiras pelo copo. Frutas As frutas em pedaços colaboram para o teor de fibra na dieta. Nos sucos, há eliminação dessas fibras. Os sucos podem contribuir com sintomas na diarreia funcional por ingestão exagerada, por conterem sorbitol ou por concentrações inadequadas de frutose e glicose. Concentrações de frutose maiores do que as de glicose exercem efeito mais intenso. Fármacos Devem ser reservados para situações de exceção na síndrome benigna. Diagnóstico É clínico e baseado no exame físico detalhado normal, na curva de peso e no crescimento linear adequados, na ausência de restrição dietética prévia e sinais de alerta negativos. A doença celíaca é o principal diagnóstico diferencial da SII. Quadro Clínico As crianças e/ou adolescentes portadores de SII costumam referir dor ou desconforto abdominal, também expresso como flatulência ou sensação de distensão abdominal, que varia com o horário e as alterações no padrão de evacuação. Devem-se investigar sinais de alerta para a doença orgânica: Intervenções Dietéticas De forma geral, corrigir erros alimentares, reduzindo o excesso de ingestão de frutose (sucos de fruta), de sorbitol (chicletes e doces industrializados) e de lactose, assim como adequando o teor de fibras da dieta, tem potencialmente efeito benéfico em pacientes com SII. Medicamentos Antidepressivos tricíclicos como a amitriptilina e os receptadores da serotonina (sertralina, paroxetina, citalopram) diminuem os sintomas em um subgrupo pequeno de crianças e adolescentes com SII e podem ser utilizados naqueles que não respondem a medidas dietéticas e terapia Terapia Comportamental O modelo de tratamento biopsicossocial inclui terapia cognitivo-comportamental (TCC), educação e terapia familiar, técnicas de relaxamento, distração e hipnoterapia. Síndrome do Intestino Irritável 24 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 A reação adversa ao alimento consiste em resposta clínica anormal, desencadeada pela ingestão desse alimento, sendo classificada em intolerância ou alergia. (ver adiante) As reações de intolerância são decorrentes das propriedades inerentes dos alimentos (componentes farmacologicamente ativos) ou das características dos hospedeiros (distúrbios metabólicos, reações idiossincrásicas ou psicológicas) A alergia alimentar (AA) é decorrente de mecanismos imunológicos (IgE, não IgE mediados e mistos). Os alérgenos alimentares mais comuns são o leite de vaca, a soja, a clara do ovo, o trigo, o amendoim, as nozes, os peixes e os frutos do mar. A APLV é a alergia alimentar mais comum da infância, com incidência de 2 a 3% no primeiro ano de vida. Proctite e Proctocolite Acometem especialmente RN e lactentes nos primeiros 3 meses de vida, estando 50% deles em uso de leite materno exclusivo. Apresentam, em geral, enterorragia, com estado geral satisfatório e ganho de peso adequado. O sangramento, na maioria das vezes, é de pequena monta, sendo referida apenas a presença de rajas de sangue nas fezes ou diarreia com muco e sangue. O lactente pode apresentar cólica, irritabilidade e choro excessivo. Enteropatia induzida por proteínas alimentares Ocorre mais frequentemente nos primeiros meses de vida, após o desmame e o início das fórmulas com leite de vaca ou soja. As manifestações clínicas podem se tornar evidentes em dias, semanas ou até mais de 1 mês após a introdução do alimento, pois consistem em reação tardia, mediada por células. É um quadro de má absorção, de início insidioso, que pode se apresentar com diarreia crônica (fezes aquosas e ácidas), eritema perianal, distensão abdominal, vômitos, anemia, perda de peso e insuficiência do crescimento. De modo semelhante à doença celíaca, pode cursar com esteatorreia, enteropatia perdedora de proteínas, edema e variáveis graus de desnutrição. Se houver associação com colite, o paciente pode apresentar fezes com muco e sangue (enterorragia). Síndrome da enterocolite induzida por proteína alimentar (FPIES) Constitui uma hipersensibilidade gastrointestinal a alimentos, considerada a mais grave das hipersensibilidades alimentares gastrointestinais não mediadas por IgE. A FPIES caracteriza-se pela presença de náuseas, vômitos intratáveis, hipotonia, palidez, apatia e diarreia com muco e sangue. Em geral, os sintomas iniciam-se 1 a 3 horas após a ingestão da proteína, podendo haver desidratação, acidose metabólica e choque hipovolêmico. O diagnóstico preciso da APLV ainda é um desafio, uma vez que muitos sintomas da APLV são inespecíficos, e os testes diagnósticos ainda têm muitas limitações. Suspeição diagnóstica Recomenda-se a eliminação de alimentos contendo a proteína do leite de vaca da dieta por 2 a 4 semanas. Como a resposta clínica favorável pode ser apenas uma coincidência, é necessária a confirmação diagnóstica por meio de teste de exames complementares e/ou desafio oral. Testes diagnósticos A pesquisa de anticorpos IgE específicos para o leite de vaca pode ser solicitada. O teste de puntura ou prick test avalia a presença de IgE específica in vivo. A aplicabilidade clínica do prick test é maior para atestar que não existe alergia IgE mediada, se o resultado for negativo, do que para confirmar a sua presença, pois um resultado positivo está associado a reações clínicas verdadeiras em apenas 50% dos casos. Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV) Introdução Manifestações Clínicas Diagnóstico 25 Taciano Fontes Filho De modo similar ao prick test, a IgE sérica específica detecta meramente a presença do anticorpo (sensibilização) e não indica, necessariamente, que a ingestão do alimento resulte em reações clínicas. Os testes in vitro, são: radioallergosorbent test (RAST®), pelo ImmunoCAP® (CAP- -FEIA) e pelo UniCAP®. Teste de provocação oral Se a dieta de eliminação tem sucesso, o TPO está indicado, para confirmação do diagnóstico. O TPO consiste em oferecer alimentos em doses crescentes e intervalos regulares, sob supervisão médica, para detecção de possíveis reações clínicas. Nos casos de reações graves, com história de anafilaxia grave e presença de anticorpo IgE específico para o alimento causal, o teste pode ser contraindicado ou, se realizado, deve ser em ambiente hospitalar, com recursos para tratamento de possíveis situações de emergência. Os pacientes portadores de APLV devem ser submetidos ao teste de desencadeamento oral, em intervalos de 6 a 12 meses, para determinar se desenvolveram tolerância. Baseia-se na exclusão das proteínas do leite de vaca da dieta, devendo-se também evitar a inalação e o contato com a pele, e manter as necessidades nutricionais do paciente Para os RN e lactentes em aleitamento materno, recomenda- -se a dieta de restrição para a mãe nutriz. Para aqueles que estão em uso de fórmulas infantis, deve-se avaliar a melhor opção, conforme a idade e o quadro clínico do paciente. Para o tratamento da APLV podem ser indicadas: fórmula de soja, as formulas extensamente hidrolisadas (FeH) ou as fórmulas de aminoácidos (FAA). Tratamento 26 Taciano Fontes Filho 27 Taciano Fontes Filho TACIANO FONTES FILHO PEDIATRIA – 2022.1 Visão Geral Também conhecido como resfriado comum, é a desordem infecciosa mais comum da infância, de natureza benigna e autolimitada. As crianças pequenas possuem a média de quatro a oito episódios de resfriados comuns por ano. Etiologia e Transmissão Os rinovírus são agentes típicos de vias aéreas superiores, causando bronquite e pneumonia apenas raramente. Outros vírus são agentes clássicos das infecções de vias aéreas inferiores, por exemplo: coronavírus, pneumonia viral (VSR, influenza A e B), bronquiolite (VSR, parainfluenza, adenovírus e metapneumovírus). São transmitidos sob a forma de gotículas e partículas maiores, que são levados ao meio ambiente através de tosse e coriza de crianças afetadas e, principalmente, por contato com mãos e objetos (fômites) que contenham secreções contaminadas. Manifestações Clínicas O período de incubação costuma ser de um a três dias. Inicia-se com uma sensação de garganta “arranhando”, de duração máxima de três dias, evolui com espirros, obstrução nasal e rinorreia. A tosse surge em 30% dos casos, observada principalmente durante o sono, devido ao gotejamento pós-nasal. A coriza é abundante, sendo clara nos primeiros três dias, mas frequentemente se torna purulenta nos últimos dias. Esta modificação na cor da secreção reflete a descamação epitelial e a presença de polimorfonucleares, não sendo interpretada como infecção bacteriana secundária.