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Defeitos do negocio jurídico1

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Defeitos do Negócio Jurídico
Introdução
O pressuposto do negócio jurídico é a declaração de vontade do agente em conformidade com a norma legal, visando a produção de efeitos do negócio jurídico. Então o elemento especifico é a emissão de vontade. Se não existir vontade o negócio jurídico não se constitui. A vontade deve estar em consonância com o íntimo e verdadeiro querer do agente e submissa ao ordenamento jurídico. 
Para que ocorra o resultado do negócio jurídico, é necessário verificar as circunstancias que a envolveram, pois pode ter ocorrido uma declaração de vontade que não traduza a verdadeira atitude volitiva do agente. Desta forma não é negado a existência do negócio jurídico, pois a vontade se manifestou, porém se recusa seus efeitos. Houve negócio jurídico, porem defeituoso. 
Segundo o Código Civil Brasileiro de 2002, há defeito no negócio jurídico, quando este contém deficiência nos elementos constitutivos capazes de permitir sua anulação, seja por erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra os credores (Art. 138 a 165)
Defeitos do negocio jurídico são divididos entre vícios de consentimento: manifestação de vontade não correspondente com o íntimo desejo do agente, impedindo que se externe o verdadeiro desejo, criando uma divergência, um conflito entre a vontade manifestada e a real intenção de quem a exteriorizou. Ou vícios sociais: defeitos que afetam o ato jurídico por torna-lo desconforme ao Direito, ou seja, a vontade é perfeita, mas os efeitos são nefastos á sociedade.
Vícios de consentimento são: erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão;
Vícios sociais: fraude contra os credores.
Erro ou Ignorância 
Erro é a ideia falsa da realidade. Ignorância é o desconhecimento da realidade. Nos dois casos, o agente é levado a praticar o ato ou a realizar o negócio que celebraria por certo, ou que praticaria em circunstâncias diversas, se estivesse devidamente esclarecido.
O que caracteriza o erro é o fato de ser espontâneo, ou seja, ninguém induz o declarante ao erro, o sujeito acha que é uma coisa, que na verdade é outra. Isso ocorre, pois o agente faz uma interpretação incorreta sobre o fato, o seu consentimento é inspirado em um sentimento secreto e errado e em sua íntima convicção.
Erro substancial ou essencial (vide. Art.139, I,II,III, CC/02)
É o que recai sobre circunstâncias e aspectos relevantes do negócio. Há de ser a causa determinante, ou seja, se conhecida a realidade o negócio não seria celebrado. 
Exemplo: Um colecionador, pretende adquirir uma estátua de marfim e compra por engano, uma peça feita em material sintético. 
O erro substancial pode ser: 
Erro sobre a natureza do negócio (error in negotio) - É aquele em que uma das partes manifesta a sua vontade, pretendendo e supondo celebrar determinado negócio jurídico, e, na verdade, realiza outro diferente. Exemplo: Quer alugar e escreve vender; pessoa empresta uma coisa e a outra entende que houve doação.
Erro sobre o objeto principal da declaração (error in corpore) - É o que incide sobre a identidade do objeto. A manifestação de vontade recai sobre objeto diverso. Exemplo: Pessoa que adquire um quadro de um aprendiz, supondo tratar-se de tela de um pintor famoso. 
Erro sobre algumas das qualidades a ele essenciais do objeto principal (error in substantia ou error in qualitate) – Ocorre quando o motivo determinante do negócio é a suposição de que o objeto possui determinada qualidade que, posteriormente, verifica-se inexistir. Exemplo: Pessoa que compra relógio dourado, mas apenas folheado a ouro, como se fosse de ouro maciço.
Erro quanto à identidade ou à qualidade da pessoa a quem se refere a declaração de vontade (error in persona) – É o erro que diz respeito as qualidades essenciais ou identidade de determinada pessoa. Exemplo: Testador que deixa beneficio patrimonial para alguém imaginando ser seu filho, quando se trata de prole de outrem. 
Erro de direito (error juris) – É o falso conhecimento, ignorância ou interpretação errônea da norma jurídica aplicável a uma situação concreta e não implicando recusa à aplicação da lei. Exemplo: Pessoa que contrata a importação de determinada mercadoria ignorando existir lei que proíba tal importação.
Erro acidental
Se refere a circunstâncias de somenos importância e que não acarretam efetivo prejuízo, ou seja, qualidades secundarias do objeto ou pessoa. Se conhecida a realidade, mesmo assim o negocio seria realizado. Exemplo: Erro quanto á identidade ou á qualidade da pessoa.
Erro Escusável
O erro escusável é aquele que é justificável, que pode ser cometido por pessoa sensata, de atenção e inteligência mediana, tendo como princípio geral o homem médio. 
Erro Real
O erro, para invalidar o negócio, deve ser também real, isto é efetivo, causador de prejuízo concreto para o interessado. Exemplo: O ano de fabricação do veículo adquirido (2005, em vez de 2009) é substancial e real, porque, se o adquirente tivesse conhecimento da realidade, não o teria comprado. Tendo-o adquirido, sofreu grande prejuízo. 
Erro obstativo ou impróprio 
É o de relevância exacerbada (intensa), que apresenta uma profunda divergência entre as partes, impedindo que o negócio jurídico venha a se formar. 
O falso motivo nos negócios jurídicos
(Vide. Art.140, CC/02) Exemplo: aluga um imóvel para instalar um restaurante, pressupondo que em frente terá uma escola, quando na verdade isto não ocorre).
Transmissão errônea da vontade
(Vide. Art.141, CC/02) Exemplo: telégrafo, rádio, TV, fone, mensageiro (quem transmitiu errado pode vir a responder por perdas e danos.)
Dolo 
Dolo é o artificio ou expediente astucioso, empregado para induzir alguém a pratica de um ato que o prejudica, e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro. Consiste em sugestões ou manobras maliciosamente levadas a efeito por uma parte, a fim de conseguir da outra uma emissão de vontade que lhe traga proveito, ou a terceiro.
O dolo difere do erro porque este é espontâneo, no sentido de que a vítima se engana sozinha, enquanto o dolo é provocado intencionalmente pela outra parte ou por terceiro, fazendo com que aquela também se equivoque.
Espécies de Dolo
Dolo principal (dolus causam dans contractui) e Dolo Acidental (dolus incidens) — Dolo principal é aquele que diz respeito à essência do objeto, constitui vício do consentimento e torna o ato anulável, já que o negócio não se realizaria se a vítima tivesse conhecimento do artifício malicioso empregado; 
O dolo acidental é aquele que não influi diretamente na realização do ato, porém leva a vítima a realizar o negócio em condições mais onerosas ou menos vantajosas, não afetando a sua declaração de vontade, já que o ato teria se realizado independentemente dos desvios astuciosos. 
Tanto no dolo essencial quanto no dolo acidental o intuito é de enganar.
Dolo Bônus e Dolo Malus – Dolo Bônus: É aquele geralmente empregado no comércio informal e até mesmo no formal. Consiste em exageros nas vantagens e boas qualidades da mercadoria oferecida pelo comerciante, sendo que tal categoria não induz anulabilidade do negócio jurídico. 
Dolo malus - É o dolo que prejudica efetivamente a vítima, capaz de viciar sua vontade, tornando o negócio anulável. É um artifício fraudulento que consegue enganar até mesmo as pessoas mais cautelosas e instruídas. 
Dolo Positivo ou Comissivo e Dolo Negativo ou Omissivo - O dolo positivo ou comissivo é aquele em que o agente age maliciosamente e leva a pessoa que está declarando a vontade a fazer algo que não queria através de uma ação. 
O dolo negativo ou omissivo é aquele em que o agente maliciosamente leva a pessoa que está declarando a vontade a fazer algo que não queria através de uma omissão. (Vide.Art.147, CC/02)
Dolo de Terceiro - O dolo pode ser proveniente do outro contratante ou de terceiro, estranho ao negócio. (Vide. Art. 148, CC/02).Se o beneficiado pelo dolo de terceiro não adverte a outra parte, está tacitamente aderindo ao expediente astucioso, tornando-se cúmplice.
Dolo do Representante- O representante de uma das partes não pode ser considerado terceiro, pois age como se fosse o próprio representado. Quando atua no limite de seus poderes, considera-se o ato praticado pelo próprio representado. (Vide. Art.149, CC/02)
Dolo Bilateral — É o dolo em que se ambas as partes têm culpa, uma vez que cada qual quis obter vantagem em prejuízo da outra, nenhuma delas pode invocar o dolo para anular o negócio, ou reclamar indenização. (Vide. Art.150, CC/02)
Dolo de aproveitamento – Configura-se quando alguém se aproveita da situação de premente necessidade ou da inexperiência do outro contratante para obter lucro exagerado, manifestamente desproporcional à natureza do negócio (Vide. Art.157, CC/02).
Coação 
Coação é toda ameaça ou pressão injusta exercida sobre um indivíduo para forçá-lo, contra a sua vontade, a praticar um ato ou realizar um negócio. O que a caracteriza é o emprego da violência psicológica para viciar a vontade.
Coação Absoluta (vis absoluta) e Coação Relativa
A coação absoluta (vis absoluta) representa a violência física e não há vontade. O ato se consegue por meio de violência física, com o emprego de força material e, sendo assim, não há de se falar em consentimento, já que a pessoa que está sendo coagida (coacto) não tem escolha. A coação relativa (vis compulsiva) representa a violência moral ou psíquica, desde que venha incutir temor justificável de dano grave na vítima e configura o vício da vontade. A distinção entre as duas espécies de violência se dá em relação às consequências. Na vis absoluta, o ato jurídico é nulo, por faltar o consentimento que é um elemento essencial; Na vis compulsiva, o ato jurídico é anulável, pois mesmo sem liberdade, a vítima declara a sua vontade, optando pelos efeitos do negócio ou os danos da ameaça.
Requisitos da Coação (Vide. Art. 151, CC/02)
Gravidade
Seriedade
Atualidade
Nexo causal entre a coação e o ato extorquido
Ato injusto
Coação por Terceiros
Estado de Perigo (Vide. Art.156, CC/02)
Situação de extrema necessidade que conduz uma pessoa a celebrar negócio jurídico em que assume obrigação desproporcional e excessiva.
Exemplo: Depósito em dinheiro ou prestação de garantia exigidos por hospitais e clínicas, a título de calção, para que o paciente possa ser atendido em situação emergencial
Elementos que caracterizam o estado de perigo
Existência de grave dano
Que o dano seja atual (ou iminente)
Que o perigo seja a causa determinante da declaração
O conhecimento do perigo pela outra parte
A existência de obrigação onerosa excessivamente
Intenção do declarante de salvar-se a si ou a pessoa de sua família ou a terceiro.
Lesão (Vide. Art.157, CC/02)
Lesão é, o prejuízo resultante da enorme desproporção existente entre as prestações de um contrato, no momento de sua celebração, determinada pela premente necessidade ou inexperiência de uma das partes. Não se contenta o dispositivo com qualquer desproporção: há de ser manifesta.
Exemplo: O caso de um devedor insolvente que, para obter meios de quitar seus débitos, vende seus bens a preços irrisórios ou abaixo do preço de mercado. 
Características da lesão 
A desproporção manifesta entre as prestações recíprocas, capaz de proporcionar lucro exagerado e incompatível com a normal comutatividade do contrato. Trata-se de um elemento objetivo. 
A deficiência das condições psicológicas do contratante presentes no momento da declaração negocial, consistente em inexperiência, ou premente necessidade. Trata-se de um elemento subjetivo. 
O nexo causal entre a deficiência da formação da vontade e a conclusão do contrato lesivo. 
Elementos da lesão
Ordem Objetiva – É a manifesta desproporção ente as prestações. Consiste em ofensa à comutatividade dos contratos, pois não há equivalência entre prestações, uma das partes irá experimentar um empobrecimento desproporcional. (Vide. Art.157, § 1º)
Índole Subjetiva – Deve haver uma deficiência, desequilíbrio psicológico de uma das partes proveniente de inexperiência para o negocio ou de sua premente necessidade econômica.

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