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1 DIREITO DO TRABALHO II - NORMAS GERAIS DE TUTELA DO TRABALHO NOTA DE AULA Nº 04 – FÉRIAS 1. CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA As férias constituem um período de descanso que deve ser concedido aos empregados de modo a evitar ou minimizar problemas de saúde decorrentes de cansaço excessivo. Existem estudos científicos comprovando que o período de férias é essencial para o restabelecimento das forças físicas e psíquicas do empregado. Por esse e outros motivos as férias apresentam natureza jurídica de norma de ordem pública absoluta, não podendo, assim, ser alteradas entre as partes e nem renunciado pelo empregado. É uma forma de interrupção do contrato de trabalho, em que o empregado deixa de trabalhar por 30 dias consecutivos, mas é remunerado nesse período. Entretanto, nesse período o empregado tem o dever de descansar, salvo se já estava obrigado por outro contrato de trabalho, não podendo procurar outros tipos de trabalho, por força do art. 138 da CLT. O Brasil foi um dos primeiros países do mundo a conceder férias a seus empregados, sendo precedido, apenas, pela Dinamarca (1821), França (1853) e pela Inglaterra (1872). Por aqui, as férias foram tratadas pela primeira vez em 21/12/1889, por um período de 15 dias e restrita apenas aos trabalhadores do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. No ano seguinte o direito as férias foi concedido aos operários diaristas e ferroviários. Somente com a Lei 4.982/25, que só foi regulamentada em 1933, é que o direito as férias foi estendido aos trabalhadores dos estabelecimentos comerciais, industriais e bancários. Por fim, a CLT (1943) estendeu a todos os empregados o benefício das férias. Em 1936, a Organização Internacional do Trabalho - OIT aprovou a Convenção 52, ratificada pelo Brasil dois anos depois, que previa a concessão de férias de seis dias úteis. Posteriormente, foram editadas diversas outras Convenções até se chegar a de número 132, de 1970, ratificada pelo Decreto 3.197/99. 2 A primeira Constituição a tratar das férias foi a de 1934, sendo que a Carta atual, além de prever o gozo de férias anuais remuneradas, acresceu o pagamento do adicional de 1/3 a mais do que o salário normal do empregado (art. 7º, XVII, da CF/88). 2. PERÍODO DE FÉRIAS E DURAÇÃO Em seu texto original a CLT estabelecia o período máximo de 15 dias úteis de férias. Posteriormente, a Lei 816/49, ampliou o período de férias para 20 dias úteis e, com o Decreto-Lei 1.535/77 fixou-se o período atual de 30 dias corridos (art. 132). Os empregados domésticos, durante muito tempo, e por força de legislação específica (Lei 5.859/72), gozavam de 20 dias úteis de férias, entretanto, com o advento da Lei 11.324/2006, o seu período de férias foi alterado para 30 dias corridos. É importante ressaltar que o art. 130 da CLT dispõe que o número de dias de férias que o empregado terá direito por ano, irá variar em função do número de faltas injustificadas que este teve, no curso do seu período aquisitivo. Sendo assim, é vedado descontar as faltas injustificadas ao serviço, do período de férias do empregado. Assim, o número de faltas injustificadas durante o período aquisitivo irá refletir na quantidade de dias de férias do empregado, pois se o mesmo tiver mais de 32 faltas no período aquisitivo perderá o direito às férias. Por outro lado o empregado que tiver até 5 faltas no período aquisitivo, terá direito ao período integral de férias; de 6 a 14 faltas injustificadas fará jus a 24 dias de férias; de 15 a 23 faltas injustificadas fará jus a 18 dias de férias; e de 24 a 32 faltas injustificadas fará jus a 12 dias de férias. Tudo conforme o quadro abaixo: NÚMERO DE FALTAS INJUSTIFICADAS NÚMERO DE DIAS DE FÉRIAS Até 5 dias de faltas 30 dias De 6 a 14 dias de faltas 24 dias De 15 a 23 dias de faltas 18 dias De 24 a 32 dias de faltas 12 dias Mais de 32 dias de faltas Perde o direito às férias A MP 2.164-41/2001 inseriu o art. 130-A na CLT que dispõe sobre a proporcionalidade de dias de férias para quem trabalha a tempo parcial. Assim, os empregados submetidos ao regime de trabalho de tempo parcial terão férias proporcionais, justamente porque trabalho menos tempo por dia. Os que tiverem mais de 7 faltas injustificadas no ano terão as férias reduzidas pela metade. 3 Assim, fará jus a 18 dias de férias, quem trabalhar em regime semanal superior a 22 e até 25 horas; 16 dias de férias, quem trabalhar em regime semanal superior a 20 e até 22 horas; 14 dias de férias, quem trabalhar em regime semanal superior a 15 e até 20 horas; 12 dias de férias, quem trabalhar em regime semanal superior a 10 e até 15 horas; 10 dias de férias, quem trabalhar em regime semanal superior a 5 e até 10 horas; e 8 dias de férias, para quem trabalha em regime semanal igual ou inferior a 5 horas. Tudo conforme o quadro abaixo: JORNADA SEMANAL DE TRABALHO NÚMERO DE DIAS DE FÉRIAS Superior a 22 e até 25 horas 18 dias Superior a 20 e até 22 horas 16 dias Superior a 15 e até 20 horas 14 dias Superior a 10 e até 15 horas 12 dias Superior a 5 e até 10 horas 10 dias Inferior a 5 horas 8 dias Mais de 32 dias de faltas Perde o direito às férias O art. 131 da CLT estabelece hipóteses em que não se considera a falta para efeito da concessão de férias. A 1ª hipótese delas refere-se as hipóteses do art. 473 da CLT. A 2ª hipótese diz respeito ao período correspondente à licença maternidade. A 3ª hipótese refere-se a acidente de trabalho ou enfermidade atestada pelo INSS, salvo quando tenha recebido da Previdência Social prestações por mais de 6 meses, mesmos descontínuos. As Súmulas 46 do TST e 198 do STF dispõem que as ausências decorrentes de acidente de trabalho não são consideradas para efeitos de duração de férias. A 4ª hipótese diz respeito às faltas já consideradas como justificadas pela empresa, ou seja, aquelas em que não houve desconto do salário. A 5ª hipótese relaciona-se às situações em que o empregado seja suspenso preventivamente para responder a inquérito para apuração de falta grave de empregado estável ou para prisão preventiva, quando não for pronunciado ou absolvido. A 6ª hipótese versa sobre os dias em que não tenha havido serviço por determinação do próprio empregador. 4 3. PERÍODO AQUISITIVO E CONCESSIVO DAS FÉRIAS Como já se sabe as férias visam preservar a saúde do trabalhador, permitindo o convívio familiar e social, sendo considerado um direito irrenunciável do empregado. Para que o empregado tenha direito a férias é necessário cumprir um PERÍODO AQUISITIVO, ou seja, a cada doze meses de vigência do contrato de trabalho do empregado é que haverá o direito às férias, que deverão ser gozadas nos próximos doze meses (PERÍODO CONCESSIVO). O aviso prévio indenizado ou trabalhado também compõe a contagem do período aquisitivo, uma vez que o mesmo deve ser integrado ao tempo de serviço. As férias adquiridas serão sempre devidas, mesmo em caso de despedida por justa causa. O empregado se no curso do período aquisitivo ocorrer umas das NÃO TERÁ DIREITO A FÉRIAS hipóteses abaixo: (i) deixar o emprego e não for readmitido dentro dos 60 dias após a sua saída; (ii) permanecer em gozo de licença, com percepção de salários, por mais de 30 dias; (iii) deixar de trabalhar com percepção de salário, por mais de 30 dias, devido a paralisação parcial ou total dos serviços da empresa; (iv) tiver percebido da Previdência prestações decorrentede acidente de trabalho ou auxílio doença, por afastamento superior a seis meses. O das férias corresponde aos 12 meses subseqüentes à data em que o PERÍODO CONCESSIVO empregado tenha adquirido o referido direito (período aquisitivo). É o empregador que fixa a data de concessão das férias de acordo com o seu interesse empresarial (art. 136 da CLT). As férias do empregado serão participadas por escrito, com antecedência mínima de 30 dias (art. 135/CLT) e o pagamento deverá ser feito até dois dias antes do início das férias (art. 145/CLT). O empregado que ficar doente durante o seu período de férias não tem direito a suspensão da mesma. 4. FRACIONAMENTO DO PERÍODO DAS FÉRIAS A regra geral é que as férias serão concedidas em um só período, podendo, em caráter excepcional, poderão ser gozadas em dois períodos, desde que um deles não seja inferior a 10 dias corridos. Tal regra só terá aplicabilidade para as hipóteses previstas nos incisos III e IV do art. 130 da CLT (direito a 18 e a 12 dias de férias, respectivamente) e em relação aos incisos I a IV do art. 130-A e parágrafo único do mesmo dispositivo da CLT (trabalho a tempo parcial). 5 Ressalte-se que a Convenção 132/70 da OIT, aprovada pelo Decreto Legislativo 47/1988 e ratificada pelo Decreto 3.197, de 5 de outubro de 1999, ao dispor sobre o fracionamento das férias, determina que seja observado o mínimo de 14 dias, para um dos períodos. Assim, para quem tem direito a 30 dias de férias, o fracionamento sempre resultará em um dos períodos com o mínimo de 15 dias. No entanto, para quem faz jus a 24 ou 18 dias de férias, o fracionamento de um dos períodos deve observar o mínimo de 14 dias, de acordo com o que prescreve a referida Convenção. Face ao exposto, verifica-se que não se deve aplicar o fracionamento de férias para as hipóteses previstas no inciso IV do art. 130 da CLT (12 dias de férias), nas hipótese dos incisos IV, V e VI do art. 130-A, da CLT (12, 10 e 8 dias de férias para quem cumpre trabalho a tempo parcial), bem como, na hipótese do parágrafo único do art. 130-A da CLT. Os maiores de 50 anos e os menores de 18 anos terão a concessão das férias em um só período (art. 134, § 2º da CLT). O empregado estudante que tenha menos de 18 anos terá direito a fazer coincidir suas férias com as escolares (art. 136, § 2º). Os membros da uma mesma família que trabalhem no mesmo estabelecimento, ou na mesma empresa terão direito de gozar suas férias em um mesmo período, desde que requeiram e não causem prejuízo ao serviço. 5. DIREITOS GERAIS SOBRE O PERÍODO FÉRIAS As férias deverão ser anotadas na CTPS do empregado que não poderá inicial o seu gozo sem apresentar ao empregador sua carteira, para devida anotação. A concessão das férias também será anotada no livro ou na ficha de registro de empregados. Os adicionais de horas extras, noturno, de insalubridade ou de periculosidade serão computados no salário para efeito do cálculo da remuneração das férias (art. 142, § 5º). Se o empregado paga salário em utilidade, como alimentação ou habitação, há necessidade de se apurar tal montante para efeito de pagamento de férias. O empregado tem a faculdade de , no converter 1/3 de suas férias em abono pecuniário valor da remuneração que lhe seria devida nos dias correspondentes (art. 143/CLT). O abono pecuniário, previsto no art. 143 da CLT, deve ser calculado sobre a remuneração das férias já acrescida de 1/3 do salário previsto, conforme dispõe o inciso XVII do art. 7º da CF/88, devendo ser requerido 15 dias antes do término do período aquisitivo. 6 Se houver concessão de férias coletivas, a conversão do abono de férias deverá ser objeto de acordo coletivo entre o empregador e o sindicato dos empregados. O empregado que exerce jornada a tempo parcial não poderá converter parte de suas férias em abono pecuniário (art. 143, § único da CLT) nem no caso de concessão de férias coletivas. Quando da cessação do contrato de trabalho as férias podem ser classificadas como , referente ao período aquisitivo já transcorrido e que férias vencidas férias proporcionais correspondem ao período aquisitivo em curso, que ainda não está completo. Haverá direito a férias em dobro se elas não forem concedidas no período apropriado. Se as férias forem pagas na rescisão contratual elas terão natureza indenizatória, pois não foram gozadas, sejam elas proporcionais ou não. De acordo com a Súmula 81/TST, os dias de férias gozados após o período legal de concessão deverão ser remunerados em dobro. Findo o contrato de trabalho, as férias adquiridas, mas ainda não gozadas, serão sempre devidas, na forma de indenização, com o acréscimo de 1/3 do salário, conforme dispõe a Súmula 328 do TST. Por outro lado, se o período concessivo já tiver sido encerrado quando da extinção contratual, as referidas férias indenizadas com o 1/3 do salário são devidas em dobro, na forma do art. 137, caput, da CLT. O pagamento dos valores relativos às férias não concedidas não corresponde à parcela salarial, mas sim à verba indenizatória, não incidindo FGTS, conforme a OJ 195 da SBDI-I/TST. Quando o empregado é , perde o direito às férias dispensado por justa causa proporcionais relativas ao período incompleto de férias. Porém, se houver o TST culpa recíproca entende que é devido metade das férias. (Súmula 14 do TST). De acordo com o que estabelece a Súmula 171/TST, salvo na hipótese de dispensa do empregado por justa causa, a extinção do contrato de trabalho sujeita o empregador ao pagamento da remuneração das férias proporcionais, ainda que incompleto o período aquisitivo de 12 meses. Quanto à dispensa sem justa causa e o término do contrato de trabalho por prazo certo, o art. 147 da CLT, expressamente assegura o direito às férias proporcionais, que também serão devidas no caso de despedida indireta (art. 483 da CLT). A atual redação da Súmula 171/TST manteve a exclusão do direito às férias proporcionais na hipótese de dispensa por justa causa, amparado pelo que dispõe o parágrafo único do art. 146 da CLT. Empregado tenha menos de um de empresa e não é demitido por justa causa tem direito a férias proporcionais. ano 7 O dispõe que se o contrato de trabalho cessar, após parágrafo único do art. 146 da CLT 12 meses de serviço, o empregado, desde que não tenha sido demitido por justa causa, terá direito à remuneração relativa ao período incompleto de férias. A não faz distinção quanto ao modo de cessação do Convenção nº 132/70 da OIT contrato de trabalho, se o mesmo decorreu de justa causa ou de pedido de demissão do empregado. O art. 11 da citada norma prevê o direito às férias proporcionais bastando apenas que o trabalhador cumpra o período aquisitivo. Assim, mesmo que o empregado peça demissão e tenha menos de um ano de casa ou seja dispensado com justa causa, terá direito a férias proporcionais indenizadas. A nova redação da Súmula 261 do TST dispõe que o empregado que se demite antes de completar 12 meses de serviço tem direito a férias proporcionais. Se já tem mais de um ano na empresa, mesmo pedindo demissão, também terá direito às férias proporcionais referentes ao período incompleto de férias. Quanto às férias vencidas, o empregado fará jus a elas, mesmo pedindo demissão ou sendo dispensado com justa causa. O cálculo das férias indenizadas será feito com base na remuneração devida ao empregado à época da reclamação, ouse for o caso, à da época da cessação do contrato de trabalho (Súmula 7/TST). As Súmula 10 do TST dispõe que é assegurado ao professor o pagamento dos salários no período de férias escolares. Se despedido sem justa causa, ao término do ano letivo ou no curso das férias, faz jus aos referidos salários. 6. FÉRIAS COLETIVAS As férias podem ser classificas em individuais e coletivas, estas previstas no art. 139 da CLT, podendo ser concedidas a todos os empregados de determinados setores da empresa; a todos os empregados de determinados estabelecimentos da empresa; e a todos os empregados da empresa. Quando se tratar de férias coletivas o empregador avisará ao órgão oficial do Ministério do Trabalho e Emprego e aos sindicatos representativos dos trabalhadores, com antecedência mínima de 15 dias, as datas de início e término do período de férias, precisando quais os estabelecimentos ou setores abrangidos pela medida (art. 139 da CLT). A LC 123/2006 dispensou as micro e pequenas empresas de informar ao MTE tal medida. 8 No caso de férias coletivas, os empregados contratados há menos de um ano gozarão férias proporcionais, iniciando-se, a partir daí, um novo período aquisitivo (art. 140 da CLT). Por outro lado, se as férias coletivas forem concedidas em período superior àquele que o empregado teria direito, os dias restantes devem ser considerados como licença remunerada, pois é o empregador quem dirige a atividade laboral, correndo os riscos naturais do empreendimento. No caso de férias coletivas ou da concessão de licença remunerada o terço de férias também será devido. Sempre que as férias forem concedidas após o período concessivo as mesmas deverão ser pagas em dobro (art. 137/CLT). REFERÊNCIAS CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 8ª ed., 2013. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTR, 12ª ed., 2013. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 8ª ed., 2014 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2014. MARTINEZ, Luciano. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 6ª ed. 2015. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2012. BONS ESTUDOS E NÃO SE ESQUEÇA DE COMPLEMENTAR OS SEUS ESTUDOS COM A LEITURA DO MATERIAL DISPONIBILIZADO E DA BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA! PROF. JOÃO LUÍS PRIÁTICO SAPUCAIA
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