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Pensamento Urbanístico Maria Elaine Kohlsdorf

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Universidade de Brasília / Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Programa de Pós-
Graduação 
 
 
ENSAIO SOBRE O PENSAMENTO URBANÍSTICO 
 
MARIA ELAINE KOHLSDORF 
Brasília, outubro de 1996 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 As idéias que estão sob as práticas urbanísticas inquietam não apenas os 
estudiosos e os agentes gestores das cidades, mas também seus habitantes. Criadores 
e executores de planos, projetos e demais decisões que dirigem cotidianamente os 
rumos dos processos urbanos raríssimas vezes explicitam o pensamento que os 
fizeram optar por certas alternativas, e descartar outras. Quais foram seus conceitos de 
cidade, de sua estrutura e de suas funções, de problemas urbanos, de eficácia, de 
desenvolvimento, de qualidade de vida e, principalmente, do que seja felicidade para os 
cidadãos que fazem, das cidades, fenômenos vitais, e não entidades abstratas? Tudo 
indica, porém, que os principais interessados - os usuários - pouco reivindicam essas 
explicações, induzidos pela intelligentzia urbanista ao hábito de acreditar em seus 
discursos e, sobretudo, a se acostumarem aos lugares que ela lhes prepara. Como os 
 
 
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habitantes de A Cidade e as Estrelas, de Arthur Clarcke (cf. Holanda, 1996), as pessoas 
acabam por adaptar-se ao que os urbanistas lhes oferecem, assimilando deformações e 
esquecendo que elas e os espaços em que vivem não foram desenhados juntos. 
 Entretanto, as idéias dos autores estão implícitas em planos, projetos e demais 
decisões, assim como se expressam na configuração dos espaços urbanos 
construídos. Isto permite colocar-se em evidência o pensamento dos responsáveis 
pelas ações de planificação, com objetivos além dos voltados a operações intelectuais 
diletantes. Por um lado, a revelação das visões de mundo dos planificadores é condição 
de exercício do direito da dúvida, peça-chave de qualquer processo transparente de 
tomada de decisões, onde as cartas devem ser sempre colocadas sobre a mesa. Por 
outro lado, revela coerências e contradições, entre discursos técnicos ou intelectuais, e 
as correspondentes medidas projetuais, estas formuladas supostamente ao encontro do 
conteúdo discursivo. E, finalmente, se os referidos esclarecimentos vencerem os limites 
dos círculos eruditos, poderão cumprir sua finalidade maior de suprir o conjunto da 
sociedade de informações necessárias às exigências que, em contexto democrático, 
lhes compete encaminhar aos agentes gestores. Em outras palavras, a revelação das 
idéias subjacentes às decisões urbanísticas significa a legitimação do próprio processo 
de planificação. 
 Este é o alcance evidente das obras que tomamos para base do presente ensaio. A 
leitura realizada por Françoise Choay de textos, projetos e lugares permitiu que 
organizasse com precisão as principais vertentes filosóficas incidentes na teoria e na 
prática de organização territorial entre o sec. XIX e a década de sessenta, associando 
os principais atributos de seus ideários às características de seus paradigmas 
urbanísticos. A parte mais substantiva desse trabalho encontramos em seu livro 
L’Urbanisme - utopies et réalités, publicado em Paris em 1965 (Ed. Du Seuil) e, no 
Brasil, em 1980 (Ed. Perspectiva), cuja edição utilizamos para remissão bibliográfica. A 
esclarecedora contribuição desta autora estende-se por duas outras obras, que não 
comparecem aqui com a mesma ênfase da primeira, mas que nos foram igualmente 
preciosas: The Modern City: planning in the 19 th century (New York: Ed. Braziller, 1969) 
e La Règle et le Modèle (Paris: Ed. Du Seuil, 1980). 
 Dos anos sessenta são também outras duas referências fundamentais, por meio de 
Leonardo Benevolo (Le Origini dell ‘ Urbanistica Moderna, que utilizamos em edição 
argentina de 1967, Ed. Tekne) e de Leonard Reissman (The Urban Process: cities in 
industrial societies, usada em edição espanhola de 1970, Ed. G.Gilli). A obra de Ervin 
Gallantay, New Towns: antiquity to the present (Ed. Braziller, 1975) completa o conjunto 
básico que permitiu a construção deste ensaio. 
 Outros autores, porém, influiram sobremaneira na formação do estudo que ora 
trazemos sobre o pensamento urbanístico. Patrick Geddes e Lewis Munford são 
patriarcas da abordagem crítica, contextualizada e histórica da cidade, das ações e das 
idéias sobre ela, atitudes que reencontramos, no Brasil, nos professores Florestan 
Fernandes, Paul Singer e Francisco de Oliveira. É decisivo o papel de Bill Hillier para a 
arquitetura da cidade, em seu estabelecimento como disciplina cujo objeto é o espaço 
socialmente utilizado. A seu lado nesse trajeto, estão vários professores da 
Universidade de Brasília, especialmente Frederico de Holanda, Gunter Kohlsdorf e 
Paulo Bicca. 
 Existe em todos eles, ao procurarem revelar as características do pensamento 
subjacente às realizações teóricas e práticas da planificação urbana, a condição do 
olhar histórico, que não se limita ao passado mas sabe que ele é indispensável para 
que explique o presente. Com esta intenção, dividimos as considerações que se 
seguem por períodos articulados a atitudes tomadas frente à questão urbana. 
 
 
 
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2. A PRÁTICA URBANÍSTICA PRÉ REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
 
 A história do pensamento urbanístico antes da Revolução Industrial ressente-se de 
sistematização, pois a literatura especializada pouco se dedica ao exame da intenção 
subjacente aos planos e projetos urbanos nesse período. As obras mais divulgadas 
tratam da cidade geralmente como produto e processo de produção, quando não se 
limitam a descrevê-la superficialmente. Em Benevolo (1967) e Choay (1980) 
encontramos referências a antigos teóricos do Urbanismo (Hipódamo, Thales de Mileto, 
Vitruvio) e aos pensadores renascentistas (Palladio, Alberti, Filarete), todos 
considerados realizadores de uma prática propositiva sobre a cidade a partir de 
modelos ou padrões que às vezes se explicitam (por ex., Vitruvio) mas que não podem 
ser tidos como frutos de reflexão sistematizada. Por isso, fala-se em prática urbanística 
e nunca em teoria urbanística para qualificar o urbanismo anterior ao final do sec. XVIII, 
denominado artes urbanas. Assim, são práticas urbanísticas a confecção das Leyes de 
los Reynos de las Indias, das Ordenações Manuelinas, do lay-out chinês da dinastia 
Chou, das regras indianas do Silpasastra, das ordonances e da arte romana do 
Castrametatio. 
 Por outro lado, não há consenso quanto à definição de urbanismo nem quanto ao 
papel do espaço na estruturação social. Neste caso, as posições dividem-se entre o 
determinismo ambiental e o reflexismo sociológico, havendo poucos autores que 
consideram o espaço como instância equânime às demais estruturas analíticas da 
sociedade. Este último enfoque é recente (cf. Hillier, 1972, 1976, 1984; Holanda & 
Kohlsdorf, 1995; Kohlsdorf, G. 1995; Holanda, 1996 e Kohlsdorf, M.E.,1996) e observa o 
pensamento urbanístico por meio de sua expressão no espaço da cidade, ao mesmo 
tempo que alarga o conceito de projeto e permite análise de qualquer assentamento 
humano. Bacon (1965) e Gallantay (1977), porém, limitam-se a considerar cidades 
planejadas strictu sensu, demonstrando que o urbanismo é uma prática milenar; este 
último autor realiza uma taxonomia coerente e útil para um panorama do pensamento 
urbanístico antes da Revolução Industrial. 
 
 A CLASSIFICAÇÃO DE GALLANTAY 
 
 Gallantay restringe-se à história das cidades-novas, definidas como “comunidades 
planejadas conscientemente, criadas como resposta a objetivos claramente 
colocados”(ibid. p.15); as características que ele estabelece para classificá-las 
espandem, porém, o universo considerado: 
- data de nascimento identificável (destinação do sítio ou inauguração). 
- plano prévio à alteração do sítio físico. 
- raramente emergem deum núcleo preexistente. 
- baseadas em estimativas de crescimento. 
- podem ser uma extensão de cidade (new town in town) ou cidades inteiras construídas 
em regiões virgens, próximas ou distantes de cidades existentes. 
- definidas por base econômica específica: no período pré industrial, como expansão 
mercantilista; na revolução industrial, é o lugar da industrialização e, na época pós-
industrialização, têm função de descentralização. 
 As cidades novas originaram-se entre os séculos XIX e XIV a.C., simultaneamente 
em várias regiões do planeta e classificam-se em quatro tipos, a partir de sua função 
econômica. Estes tipos ocorrem ao longo da história urbana, mas os consideraremos 
até o final do séc. XVIII, quando se passa à fase urbanística. Os tipos restringem-se aos 
dois primeiros (novas-capitais e cidades-colônias), pois as cidades-industriais e as de 
 
 
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descentralização são posteriores à data considerada. Na verdade, as cidades-
industriais possuem ancestrais construídos para explorar recursos naturais ou serem 
pólos de desenvolvimento, como foram os acampamentos de obra do antigo Egito entre 
o sec. XIX a.C. e XIII a.C. (Kahum e El Amarna, por ex.), as habitações populares de 
Veneza no sec. XV e, no sec. XVIII, Chaux e o assentamento junto à fábrica-fortaleza 
de Jekateringburg. 
 
a. Novas-Capitais 
 
 As novas-capitais surgem a partir de um novo Estado ou necessidade de 
transferência de governo por questões de defesa, reorientação de migrações ou outras 
razões políticas; além disso, podem ser justificadas por prestígio, estratégia ou magia. 
Sua configuração privilegia os edifícios públicos e os lugares cívico-cerimoniais, como 
estruturas simbólicas que garantem a monumentalidade do conjunto por meio de vias 
com geometria simples, relacionadas monumentalmente aos edifícios públicos, os quais 
alinham-se evocando procissões ao longo de grandes artérias de capitais que, não raro, 
são consideradas sagradas. 
 Gallantay afirma que nas novas-capitais há sempre pouca sensibilidade ao 
atendimento de questões sociais, pois são lugares de consolidação do poder das 
classes dominantes; tais cidades enfatizam segregação de grupos, muito embora 
atraiam populações pobres pelas possibilidades de emprego terciário e de sub-emprego 
e, as mais abastadas, pela chance de entrar para os grupos poderosos. O processo de 
projeto, produção e gestão de seu espaço foi sempre centralizado, ainda que 
configurado segundo duas alternativas de planta: 
- a malha ortogonal, com forte hierarquização do sistema viário por meio de diferentes 
dimensões das vias ou de muros; são exemplos capitais na Mesopotâmia, Oriente 
Médio e China e as cidades helenísticas. 
- a malha em mandala, ou seja, em círculo perfeito e com localização segregada de 
atividades; são exemplos as cidades persas e islâmicas, de sentido religioso e, séculos 
mais tarde, os planos urbanos da Europa barroca. 
 Pode-se identificar três vertentes de construção das novas-capitais, nascidas na 
antigüidade mas cuja influência veio até nossos dias. A primeira é a ausência de planos 
globais, como no antigo Egito; a segunda, na China, é o modelo rígido da dinastia Chou, 
com segregação por meio de retângulos concêntricos murados e que influenciou 
cidades japonesas e coreanas; e a terceira, na India, são as regras urbanísticas do 
Silpasastra, nunca praticadas e substituídas por um modelo Chou flexibilizado. 
 As primeiras novas-capitais remontam ao séc. XV a.C. e pertencem às antigas 
civilizações do Oriente Médio e Ásia; nos quinze séculos antes da Era Cristã houve 
construções institucionalmente planejadas de capitais no Egito (Akhetaten), 
Mesopotâmia, Pérsia, China, Índia, Mundo Islâmico e Macedônia (Alexandria). 
 Há escassos registros de novas-capitais nos primeiros tempos da Era Cristã. 
Apenas entre os séculos VIII e XIV tem-se notícia da fundação de algumas cidades com 
estes fins, no oriente (Japão, Corea e a transferência de Pequim, no sec. XIII). Em tais 
casos, a correspondente configuração do espaço não se alterou em relação às 
alternativas da antiguidade, que permaneceram por vários séculos nos projetos 
urbanísticos. 
 As novas-capitais da Europa surgiram a partir do sec. XV, quando certas regiões 
passavam do Renascimento para a Época Barroca e a profissão de arquiteto assumia 
feições afastadas da construção e concentradas no projeto. Gallantay remete a este 
período a primeira noção de planejamento urbano explicitamente estatal, quando o 
 
 
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príncipe Vespaziano Gonzaga referiu-se aos planos urbanísticos como “uma arte 
governamental”. Mas a maioria das novas-capitais desta época não saem dos projetos 
(é o tempo áureo das cidades ideais, como a Sforzinda de Filarete) ou são cidades-
residência (como Charleville, Richilieu, Versalhes, Karlsruhe). A Europa assimilou a 
planta circular nas cidades ideais e, nas outras, os quadriláteros organizados 
simetricamente; em ambas, o zoneamento funcional é rígido e há grandes distâncias 
entre os edifícios principais. As ordonances e as cidades-residência são 
morfologicamente clássicas: simetrias, uniformidade, harmonia, cuidadosos efeitos 
perspectivos de campo amplo e, sempre, jardins; nelas, o palácio é um foco geométrico 
de convergência de três avenidas que se encontram em ângulos agudos e iguais. 
 Paralelamente, construiam-se no oriente novas-capitais, como Fafpur-Skri na India e 
Isfahan na Pérsia. 
 Ao final do período considerado, o surto de criação de novas-capitais na Europa 
estendeu-se aos Estados Unidos (Washington), impondo-se a maneira francesa de 
compor o espaço urbano a partir dos princípios clássicos das cidades-residência 
(modelos de São Petersburgo e Karlsruhe, ambas no sec. XVIII). 
 
b. Cidades-Colônia 
 
 Este tipo de cidade-nova surge de políticas de colonização interna ou no 
estrangeiro, objetivando explorar recursos naturais ou humanos, ou ainda conseguir 
equilíbrio demográfico, desconcentrando e reconcentrando contingentes populacionais. 
Gallantay classifica as cidades-colônia em quatro tipos: 
- agro-militares, com objetivo de assegurar a posse de certo território; localizam-se em 
geral em fronteiras. 
- entrepostos, que visam manter as comunicações; são quase sempre portos. 
- centros regionais, com função de entreposto, administração ou centro de serviço; são 
cidades continentais. 
- cidades mineiras e industriais, que respondem, por vezes, a estratégias de pólos de 
desenvolvimento. 
 O princípio morfológico das cidades-colônia é a malha reticulada ortogonal, 
originada dos padrões agrícolas de irrigação ou da ordem das fileiras militares (a arte 
do Castrametatio romano). Este sistema geométrico é bastante flexível, pois compõe-se 
de segmentos retos ortogonais com dimensões variáveis, e tanto assume a forma mais 
redundante (o xadrez, com segmentos do mesmo tamanho), quanto admite várias 
composições (segmentos com dimensões repetidas ou diferenciadas, como no sistema 
hipodâmico). 
 A fundação deste tipo de cidades começou no Extremo Oriente, entre o sec. XI e II 
a.C., quando houve uma intensa colonização da China. Inicialmente, seu projeto seguia 
os princípios da dinastia Chou e, mais tarde, mudou para o sistema de Meng-Tse, 
correspondente à idéia de hierarquia social de Confúcio. Então, à divisão da terra em 
quadrados idênticos envolvidos por quadriláteros concêntricos e murados, e às vias 
paralelas aos pontos cardeais do sistema Chou, acrescentou-se uma outra divisão 
mínima da terra conforme a casta social e uma rigorosa prefixação de tetos 
populacionais. Esta última característica será retomada pelos romanos. 
 Divulga-se, porém, que a cidade-colônia mais antiga é Zernaki-Tepe (Assíria, sec. 
VII a.C.). Até o final da Antiguidade há vários exemplos delas na Europa, como as 
colôniasgregas no sul da Itália e Sicília (sec. VII e VI a.C.) e as colônias macedônicas 
(sec. IV e III a.C., sendo Dura-Europos a mais conhecida). 
 
 
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 Os romanos fundaram colônias a partir do sec. I a.C. (como Timgad), mas 
intensificaram este processo durante a República, primeiro na Itália e Península Ibérica 
e, depois, na Austria, Inglaterra, Alemanha e África. A origem de seu sistema 
urbanístico é o castrum, acampamento militar que legou também a prática do ritual de 
fundação da cidade. O sistema morfológico romano caracteriza-se pelo traçado 
reticulado ortogonal e regular, hierarquizado pelo cruzamento dos eixos Cardo (sentido 
norte-sul) e Decumanus (leste-oeste), este acessando a Porta Praetoria; certos 
equipamentos sociais são sempre privilegiados na estrutura urbana, como os 
aquedutos, banhos, forum, teatro e o estádio. As cidades-colônia romanas tiveram 
previsão de tetos demográficos, mas cresceram, nesse período, por meio de subúrbios 
contínuos. 
 O restante da Europa colonizou-se apenas a partir do sec. IX, ao redor de mosteiros 
que eram verdadeiras unidades produtivas (como Saint Gaal) e organizando-se em 
malhas ortogonais flexibilizadas. Dois séculos mais tarde, invasões como a dos mouros 
incentivaram a colonização interna da Europa a ponto de dobrar seu número de cidades 
em cem anos, com vilas agro-militares, colônias de cruzadas e colônias a partir da 
expansão do poder feudal ou da Igreja. Algumas são bastides, unidades produtoras 
para exportação, como o vinho do sul da França; outras são empórios ou fortalezas. 
Essas cidades obedeceram aos mesmos princípios urbanísticos: a malha reticulada e 
regular deforma-se para se adaptar ao relevo e no centro há uma expressiva praça, 
onde se localiza a igreja ou o mercado. Registram-se, porém, algumas plantas de 
padrão estrelado. 
 As pestes e epidemias medievais fizeram com que a colonização diminuísse na 
Europa até o sec. XVI, quando se fundam novamente cidades-colônia, então 
fortificadas, e surge a profissão de planejador de fortificações, sinônimo de planejador 
de cidades. É desta época o início da colonização da Sibéria, mas o foco desloca-se 
para a recém descoberta América. 
 A literatura consultada não menciona as cidades portuguesas de além mar, talvez 
diante do exemplar planejamento imposto pela Espanha na ocupação de suas colônias. 
As Leyes de los Reynos de las Indias, editadas por Felipe II, garantiram àquele país por 
três séculos o território latino-americano e a destruição das culturas pré-colombianas. 
As rígidas diretrizes urbanísticas partem do catrametatio romano no que se refere a 
ritual de fundação antes do início da construção, malha em retícula ortogonal e 
estabelecimento de bases populacionais (no caso, mínimo de 300 hab.), mas 
estabelece leis para escolha do sítio (plano, junto à foz de rios etc.) e detalhes 
urbanísticos. Dentre os últimos, destaca-se a praça central, cercada de 8 quadras 
parceladas em 4 lotes, de cujo total reservam-se 2 para edifícios públicos; a Plaza 
Mayor, central ou junto ao porto, é o core da colônia latino americana e imensa, 
diminuindo a percepção dos edifícios. Para as cidades-colônia destinadas a serem 
capitais (caso de Lima e Buenos Aires, por exemplo) previam-se traçados mais 
generosos e imponentes, mas sempre mantendo-se uma cidade de base celular que, ao 
contrário das “unidades” do urbanismo territorialista, é aberta, graças à malha reticulada 
que possibilita diversas ligações entre instâncias locais e globais, mas cujo crescimento 
é regulado por áreas de expansão urbana contidas por cinturões verdes e, estes, por 
fazendas. 
 O sec. XVII chegou à Europa com novo impulso colonizador, fundando-se cidades 
ali (Mannheim, Gotemburgo e colônias na Irlanda) e em outros continentes (como 
Djacarta, Nova York, Recife, Capetown e Curaçao, pela Holanda). A Suécia realizou um 
programa de colonização do Báltico à Finlândia e criaram-se vários refúgios para 
protestantes (Freundenstadt, Hanau). As malhas das cidades-colônia barrocas são 
radiais e limitadas por muralhas estreladas. 
 
 
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 É neste século que se inicia a colonização da América do Norte, na Nova Inglaterra, 
destacando-se o plano de Filadelfia. As plantas das cidades-colônia americanas são 
retículas ortogonais regulares, às vezes rompidas por diagonais, com amplo espaço 
central (the common) e com baixa estimativa demográfica (de 250 a 300 habitantes). 
Mas, no século seguinte, a intensificação da colonização gerou o Land Ordinance of the 
Continental Congress para ocupar os territórios do noroeste segundo similaridades com 
as regras romanas. 
 
3. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O NASCIMENTO DAS VERTENTES DO 
 PENSAMENTO URBANÍSTICO 
 
 A maioria dos autores reconhece a Revolução Industrial como marco de origem do 
pensamento urbanístico, isto é, de uma abordagem reflexiva e crítica da cidade com 
vistas a preparar transformações por meio de projetos (Choay, 1969, 1980; Benevolo, 
1967; Reissmann, 1970; Kohlsdorf, 1985; Del Rio, 1990). Trazendo intensa urbanização 
da Europa a partir do final do sec. XVIII, a industrialização estimulou não apenas a 
reflexão sobre a questão urbana, mas o surgimento da nova profissão de urbanista, 
correspondente à também nova ordem social. Esse profissional surgiu em função de 
problemas definidos pela sociedade industrial emergente e necessitada de cidades 
preparadas para garantir um modo de produção apoiado na indústria e, esta, no meio 
urbano. 
 Entretanto, a leitura da cidade sob o impacto da industrialização foi, quase sempre, 
mascarada por posturas idealistas (“o paradigma do equilíbrio”, cf. Farret, 1985); à 
exceção de Marx e Engels, a lógica da nova ordem social não foi entendida, mas 
interpretada como uma desordem por três das quatro vertentes do pensamento 
urbanístico, as quais permanecem na teoria e na prática sobre a cidade até nossos 
dias. Por isso, o avanço científico não correspondeu aos recursos investidos nem à 
considerável produção urbanística dos dois últimos séculos, mas a aparente desordem 
foi um desafio à proposição de “novas ordens”, isto é, ao controle pelo projeto. 
 Os paradigmas subjacentes às duas correntes filosóficas que dominam a discussão 
da cidade a partir da Revolução Industrial opõem, além de olhares, atitudes e 
procedimentos. O progressismo contempla o futuro com otimismo mas é descritivo, 
mesmo sob pretensão científica e aval acadêmico, abrindo caminho aos métodos 
quantitativos. O culturalismo nostálgico do passado é, no entanto, polêmico, crítico, 
normativo e político. Nas demais alternativas ou existe uma simbiose dessas tendências 
(no naturalismo ou anti-urbanismo) ou uma via de explicação da questão urbana a partir 
de outros procedimentos (em Marx e Engels). 
 
a. Progressismo 
 
 Para esta vertente, a Revolução Industrial foi o prenúncio de um novo tempo 
socialmente positivo. Em sua visão idealista, situações conflituosas como a realidade 
urbana européia do sec. XIX eram desequilíbrios doentios que poderiam ser 
regenerados pela indústria, pela técnica e pela ciência, considerados “remédios” para 
cidades “doentes”. Isto implicava, porém, recusar o passado, fonte dos problemas 
urbanos, e assumir a modernidade como sinônimo de desenvolvimento. As 
características do progressismo podem ser sintetizadas da seguinte maneira (cf. Choay 
e Kohlsdorf , op. cit): 
- sua concepção do ser humano é de um indivíduo-tipo, capaz de tipificar também as 
necessidades sociais, os lugares da cidade e a estrutura urbana; 
 
 
8
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- a ciência e a técnica são racionalismos que resolvem os problemas da relação entre o 
ser humano e a natureza, a qual é passível de solução por meio da eficácia e da 
modernidade; 
- a era industrial é um corte na História e a cidade e seu espaço são conceitos 
universais e atemporais.O progressismo caracteriza a cidade a partir das noções de eficácia, produtividade e 
ordem; ela é o lugar da produção e da reprodução da força de trabalho e, por isso, as 
demais funções separam-se do cotidiano (como é o caso da cultura e do lazer, que se 
cerimonializam). Seu modelo de cidade destaca os atributos a seguir: 
 
1º.) Em função de seu papel utilitário e para que seja rentável, a cidade deve ser 
classificada, originando categorizações as quais se refletem em um espaço taylorizado: 
 - com separação rígida de atividades limitadas e tipificadas, onde cada função tem 
papel específico; 
 - formado por unidades morfológicas segregadas e especializadas que são células 
auto-suficientes; 
 - onde há interiorização da maior quantidade de atividades urbanas; 
 - onde a transição entre instâncias públicas e privadas é o mais indireta possível. 
 - onde a circulação é fundamental e separada do conjunto construído, por ter apenas 
função econômica de circulação de bens e, jamais, de interação social e cultural. 
2º.) Em função da busca de salubridade, a cidade deve ser arejada, o que origina um 
espaço descontínuo: 
 - pela predominância de espaços abertos sobre os fechados; 
 - pelas numerosas barreiras físicas, espaços cegos e eixos pouco integrados que 
restringem as possibilidades de aglomeração nas áreas livres públicas; 
 - pela abundância de áreas verdes, recriando-se uma natureza controlada, porque 
excessivamente ordenada; 
 - pela negação da urbanidade por aproximação à configuração dispersa do espaço 
rural. 
3º.) Em função do controle social que embasa a lógica progressista, a cidade deve ser 
também controlável, assim como seu espaço: 
 - por meio da rigidez de organização morfológica, onde se nega o tempo, o 
movimento e a metamorfose inerentes a qualquer espaço socialmente utilizado; 
 - por meio de barreiras físicas na estrutura urbana, que garantam segregações; 
 - por meio de células ou unidades monofuncionais que permitam territórios bem 
delimitados; 
 - por meio da rigidez de um quadro predeterminado, como é entendido o projeto 
urbanístico, imposto por um sistema constrangedor e repressivo, ainda que se 
apresente como autoritarismo ora sob discurso democrático, ora como socialismo de 
Estado, ora ainda como um sistema de valores comunitários ascéticos. 
4º.) Em função de um modelo estético tão importante quanto o conceito de utilidade, a 
cidade deve ser ordenada e formal mas um espetáculo cotidiano, expresso em seu 
espaço: 
 - organizado segundo a geometria racionalista e com exclusividade da lógica 
cartesiana, por meio de parcimônia de elementos e relações compositivas e sob 
austeridade que elimina ornamentos; 
 - organizado por predominância do fundo sobre a figura, com a conseqüente 
separação entre volumes, grandes distâncias e longas perspectivas; 
 - organizado por oposição ao pitoresco, por um classicismo de geometria elementar. 
 5º.) Em função de que a produção do espaço abraça a indústria, a técnica e a ciência, 
a cidade deve ter a perfeição das máquinas e, para tal, seu espaço: 
 
 
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 - ter construção serieficada, para o que concorrem a tipificação de atividades e sua 
segregação em zonas; 
 - expressar a importância da habitação como necessária à reprodução da força de 
trabalho, sendo a mesma massificada e celular, tanto em soluções individuais quanto 
em coletivas. 
 Este quadro sucinto mostra que, ao negar agressivamente o passado, o 
progressismo nega também o tempo e, com ele o movimento e a mudança. Esta 
vertente é, portanto, contraditória, pois se propunha ser mudança mas ofereceu um 
quadro de vida rígido, o qual se expressa em modelos de espaço rigorosos, 
padronizados e funcionalmente eficientes. O urbanista é considerado “médico” , 
“padre”ou “pai”, pois detém a verdade e é conhecedor do homem-tipo e de suas 
necessidades-tipo, sendo por isso capaz de organizar a cidade como um ambiente de 
equilíbrio, paz e felicidade para que seus habitantes produzam mais e melhor. 
 “Nada é mais contraditório... Cada coisa ocupa o seu lugar, bem alinhada em ordem 
e hierarquia.”. 
 (Le Corbusier, apud. Choay, 1980) 
 
b. Culturalismo 
 
 O culturalismo observou a Revolução Industrial com pessimismo, acreditando que a 
industrialização desintegrou a unidade orgânica que as cidades tiveram durante sua 
história. Por isso, seu idealismo manifestou-se não aceitando o presente desequilibrado 
e procurando voltar ao passado, considerado uma situação positiva para a realização 
da vida social na cidade. A essa nostalgia corresponde uma estratégia de reconquista 
das qualidades urbanas do passado por meio da imitação das formas dos antigos 
espaços, em especial das regras de configuração medievais. As características do 
culturalismo podem ser sintetizadas da seguinte maneira (cf. Choay e Kohlsdof , op. cit): 
- sua concepção do ser humano é de um indivíduo único mas também grupal; portanto, 
o ponto de partida não é o indivíduo mas o grupo e o conjunto da cidade, onde cada 
elemento é insubstituível porque não é típico; 
- a vontade de recriar um passado morto impulsionou a crítica aos demais pensamentos 
urbanísticos e o desenvolvimento dos estudos de História, Arqueologia e Arte para a 
formulação de seu modelo de cidade; 
- sua visão é inicialmente crítica e politizada, mas torna-se, com o tempo, 
exclusivamente estética. 
 O culturalismo caracteriza a cidade a partir da noção de cultura, onde a arte é o 
principal elemento de integração social. A bela totalidade perdida do Romantismo, o 
organiscismo do passado e a reificação do tempo compõem um pensamento de 
oposição à cidade industrial porque ela estaria a ponto de se degenerar. Seu modelo de 
cidade destaca os atributos a seguir: 
 
1º.) Em função de seu papel cultural, a cidade deve satisfazer necessidades espirituais 
como interação social, beleza e felicidade, e seu espaço: 
 - possibilitar que as funções de lazer e cultura se integrem no cotidiano dos 
indivíduos pela fácil acessibilidade dos lugares destinados às mesmas; 
 - aproximar as atividades urbanas, evitando-se o zoneamento monofuncional de uso 
do solo; 
 - configurar-se por unidades morfológicas tradicionais e articuladas, como ruas e 
praças; 
 - estruturar-se por circulação integrada ao conjunto construído, pois a rua é elemento 
fundamental de interação social e cultural. 
 
 
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2º.) Em função da busca de um clima caracteristicamente urbano, a cidade deve ser 
estimulante, confortável e favorável à intensificação e à multiplicação das relações 
interpessoais, o que origina um espaço contínuo: 
 - pela predominância de espaços fechados sobre os abertos; 
 - pelas características fechadas e íntimas das áreas livres públicas, tratadas como 
espaços internos edilícios (salas, recintos, vestíbulos, corredores); 
 - pela ausência de áreas verdes no centro da cidade, mas presentes e bem cuidadas 
nos quarteirões residenciais; 
 - pelo respeito às características de relevo, cujos contornos devem ser seguidos, bem 
como aos ventos dominantes, ainda que respeitando o conforto dos usuários. 
3º.) Em função do coletivismo e democracia que embasa a lógica progressista, a cidade 
deve ser um processo dinâmico, assim como seu espaço: 
 - por meio da flexibilidade de organização morfológica, onde as formas sugerem 
movimento e organicidade, que devem corresponder às características comunitárias 
dos espaços socialmente utilizados; 
 - por meio da relevância das áreas livres públicas, especialmente de ruas e praças, 
que são simultaneamente lugares de circulação e permanência; 
 - por meio de um espaço concentrado, recortado na continuidade de um fundo 
edificado; 
 - por uma geração do projeto urbanístico a partir de análises morfológicas de cidades 
medievais,onde se busca entender o relacionamento dos elementos formadores das 
totalidades. 
4º.) Em função da relevância da estética, a cidade deve ser bela no cotidiano de seus 
cidadãos, expressando-se em um espaço: 
 - organizado por diversidade e originalidade, por meio de relações variadas entre 
elementos e relações compositivas e inspirado na configuração da cidade medieval; 
 - organizado por predominância de figura sobre o fundo, com a conseqüente 
aproximação entre volumes, as pequenas distâncias e as perspectivas curtas; 
 - organizado por oposição ao clássico, pelo pitoresco da geometria orgânica. 
 5º.) Em função da opção pela produção artesanal do espaço, não é o rendimento da 
cidade que conta, mas o desenvolvimento harmônico dos indivíduos e, para tal, seu 
espaço deve: 
 - ter construção particularizada, sem protótipos nem padronizações, para que cada 
edifício expresse sua individualidade; 
 - destacar os edifícios comunitários e culturais, que assumem papel de temas-
destaque complexos e suntuosos; as habitações são temas-base simples porém 
identificadas com as características de seus ocupantes; 
 - ser estimulante, caloroso e original, pois cada cidade ocupa o espaço de maneira 
particular e diferenciada. 
 Nesta vertente, o urbanista faz a arte de construir cidades mas, oferecendo modelos 
fechados, não permite a temporalidade criadora e desconsidera a imprevisibilidade das 
sociedades. A ênfase nos estudos históricos não consegue resgatar a originalidade do 
tempo presente e, porisso, o método culturalista não é científico, mas fuga de uma 
atualidade não aceita. Criado sob o testemunho da história, o culturalismo fecha-se à 
historicidade. Por outro lado, opõe a seu discurso democrático a repressão para mudar 
as regras da sociedade industrial e é maltusiano no controle demográfico. 
 “Somente estudando as obras de nossos predecessores poderemos reformar a 
organização banal de nossas grandes cidades.” (Camillo Sitte, apud. Choay, 1980). 
 
c. Anti-urbanismo e Naturalismo 
 
 
 
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 Pertencendo à mesma corrente de pensamento urbanístico, o anti-urbanismo e o 
naturalismo foram menos divulgados do que as vertentes anteriores mas guardaram 
com elas a semelhança de interpretação ideológica da realidade, ao invés de ir 
cientificamente a seu encontro. Negaram a cidade industrial do século XIX como 
responsável pelo afastamento do indivíduo da natureza, em um tipo de nostalgia que 
não conduziu propriamente a um modelo urbano alternativo, mas à proposta de 
restabelecer uma relação direta e fundamental com a terra, promovendo o reencontro 
do homem com o meio natural. A espacialização dessas idéias cristalizou-se somente 
no sec. XX, na proposta de Frank Lloyd Wright para Broadacre-City. 
 Ao contrário dos progressistas e culturalistas, em sua maioria intelectuais socialistas 
e muitas vezes militantes, os anti-urbanistas eram despolitizados e geralmente adeptos 
de uma concepção metafísica da natureza. Isso não impediu que formulassem um 
discurso ético, centrado em uma concepção individualista de democracia como única 
via de reconquista da relação harmônica dos seres humanos com a natureza. Tal 
postura conduziu à recusa do controle e da repressão, refletindo-se na ambigüidade de 
seus paradigmas morfológicos. 
 Assim, o espaço naturalista é uma simbiose entre as características urbanas 
progressistas e culturalistas. As atividades organizam-se de maneira dispersa, isoladas 
por distâncias de escala rural e são dimensionadas como unidades reduzidas; as 
habitações são sempre individuais e providas de uma área privada cultivável, evocando 
uma organização celular e segregada. Na verdade, trata-se de um espaço anti-urbano, 
onde prevalecem as características naturais do sítio, às quais se submete a arquitetura. 
 O anti-urbanismo representa uma contribuição importante dos Estados Unidos à 
discussão da cidade e do urbanismo, deslocando seu eixo da Europa para a América. 
As idéias defendidas por Thomas Jefferson, Emerson, Thoreau, Henry Adam e Louis 
Sullivan prepararam a obra de Frank Lloyd Wright no século XX, formulando um modelo 
demasiadamente utópico para ser concretizado, mas suficientemente forte para marcar 
o pensamento de todo um grupo de sociólogos e planejadores americanos. 
 
d. A crítica marxista 
 
 O pensamento de Marx e Engels é considerado por Choay (1980) como a única 
vertente urbanística de caráter científico. Sua crítica a padrões foi coerente a ponto de 
não apresentar nenhum modelo de organização efetivamente territorial; substituem, 
portanto, a noção de modelo pela de ação transformadora. Isto porque, sendo a cidade 
“o lugar da História” (cf. Engels, apud. Choay, op.cit.), seu espaço seria decorrência de 
um nicho maior do que ela própria e só poderia transformar-se mediante alterações 
ocorridas em instâncias mais amplas. Em outras palavras, o espaço era, para eles, uma 
projeção social e suas características não poderiam ser tomadas como essenciais; logo, 
seria inútil planejar futuras organizações morfológicas da cidade sem previsão de 
alterações das relações de dominação das classes sociais. 
 Por tais motivos, Choay (ibid.) qualifica essa vertente como pragmática e 
indeterminista, mas as soluções propostas são extremamente precisas a nível sócio-
econômico. Na verdade, a ausência de modelos urbanísticos deve ser entendida a partir 
do enfoque disciplinar realizado: o marxismo do sec. XIX observou a cidade como 
objeto social, econômico e político centrado, portanto, no fato social das relações de 
produção, onde o espaço físico não passa de um epifenômeno. 
 A partir de uma sólida base sociológica, econômica e histórica, esses autores 
colocaram a cidade industrial inserida em seu contexto temporal e estrutural, 
demonstrando que suas contradições dele provinham. Marx e Engels consideravam a 
realidade um processo nem equilibrado nem harmônico, mas um campo de conflitos 
 
 
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entre interesses de grupos sociais; por isso, essa vertente entendeu que a cidade 
industrial não era uma desordem, mas uma nova ordem correspondente a um novo 
tempo na história da humanidade. Desta forma, estabeleceu-se um outro paradigma no 
pensamento urbanístico - o paradigma do conflito - que se opôs ao paradigma do 
equilíbrio subjacente ao progressismo, culturalismo e anti-urbanismo. 
 A crítica marxista frutificou, por um lado, configurando a face moderna das Ciências 
Sociais, para as quais estabeleceu métodos de abordagem, auxiliou na demarcação 
dos respectivos objetos e concedeu lugar de destaque na Academia. Por outro lado, 
embasou a prática urbanística na União Soviética logo após a Revolução de 1917 e, 
nos demais países do Leste Socialista Europeu, logo após a segunda guerra mundial; 
os princípios morfológicos adotados possuem, nestes casos, forte influência 
progressista, por vezes flexibilizada pela intenção de reaproximar a cidade do meio 
rural. 
 
4. DUAS ÉPOCAS EM DUAS VERTENTES: UTOPISTAS E URBANISTAS 
 
 As vertentes do pensamento urbanístico assumiram feições correspondentes às 
diferentes atitudes frente à questão urbana, consideradas por Reissmann (1970) 
geradoras de dois produtos distintos: as reflexões teóricas e os planos ou projetos. 
Nesses produtos expressam-se progressismo, culturalismo, anti-urbanismo e a crítica 
marxista, ainda que guardando gradações quanto à intensidade de sua adesão às 
referidas idéias. 
 
a. Utopistas ou pré-urbanistas 
 
 Choay (1980) classifica os utopistas como pré urbanistas porque desenvolveram os 
pensamentos que iriam embasar a prática urbanista, não realizaram projetos 
construídos e nos legaram produtos discursivos. Não se pode considerá-los “teóricos” 
em função da carência de atributos como confirmação de hipóteses ou sistema 
descritivo lógico emsua obra, mas denominá-los “utópicos” encampa as controvérsias 
deste conceito, entre o caráter passivo de projeção de desejos estabelecido por Marx, e 
a concepção ativa de Mannheim, onde a utopia opõe-se ao status quo social com idéias 
transformadoras dele. A origem do termo situa-se em Aristóteles, que fala de Eutopia 
(lugar agradável) e Thomas More, que sintetiza “lugar agradável” com “sem lugar” em 
Otopia (cf. Choay, 1980 e Chauí, 1984). 
 Os utopistas marcaram uma importante passagem no pensamento da era pré-
industrial ao da era industrial; ainda que não tenham realizado investigação com testes, 
assumiram uma atitude de relexão sistematizada. A eles importavam conceituações e 
não, diretamente, as soluções. 
 A abordagem do espaço urbano deu-se, nessa fase, multidisciplinarmente, reunindo 
médicos, sanitaristas, filósofos, escritores, arquitetos e, inclusive, empresários (como 
Owen), que conceberam global e politicamente a cidade, onde o espaço seria mera 
conseqüência do processo social, sem interação explícita com suas demais instâncias. 
Por isso, as utopias urbanísticas de então pressupunham transformações sociais 
prévias e preparavam o espaço para uma sociedade virtual, quase sempre gerada por 
mudanças radicais. Tal atitude é considerada por Choay (1980) aderente ao imaginário 
e afastada da realidade concreta, mas é coerente à ausência de pesquisa; os utopistas 
realizaram conhecimento de adesão a idéias e, não, conhecimento científico (Demo, 
1987; Kohlsdorf, 1996). Suas abordagens podem ser classificadas em quatro grupos, 
 
 
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com diferentes contribuições a mudanças de atitude, que se tornarão possíveis apenas 
recentemente: 
1º.) Descritiva: há ordenamento dos fatos observados de maneira quantitativa, 
evocando a sociologia clássica (Adna Ferrin Weber). 
2º.) Polêmica: a observação dos fatos é crítica e normativa, mas considera os 
problemas urbanos como “patologias”, especialmente nas grandes cidades; 
malthusianismo (Fourrier, Considérant, Ruskin, Morris). 
3º.) Humanista: há denúncia da miséria física e moral do habitat proletário, originando 
as comissões inglesas para normas e códigos de posturas (Owen, Richardson). 
4º.) Pensadores políticos: há informações amplas e precisas e vinculação das 
condições do proletariado ao modelo político e sócio-econômico adotado, gerando tanto 
o método sociólogico (Engels, Marx) quanto desvios idealistas (Arnold, Fourier, Carlyle). 
 
b. Urbanistas 
 
 Embora seja corrente o uso desta expressão para designar o profissional do projeto 
ou planejamento de cidades, para Choay (1969, 1980) seu sentido restringe-se a certas 
atitudes em relação à questão urbana, que podem, ainda hoje, serem encontradas em 
diversos casos: 
1ª.) Ao contrário do enfoque multidisciplinar dos utopistas, o urbanismo é unidisciplinar, 
especializado e limitado ao espaço físico da cidade, reunindo de início apenas 
arquitetos e, mais tarde, também engenheiros. 
2ª.) Os urbanistas têm pretensões explicitamente científicas, no sentido de uma ciência 
positivista (descritiva, classificatória e quantitativa). 
3ª.) O urbanismo é despolitizado, contrapondo-se ao engajamento dos utopistas, mas é 
difícil ignorar opção ideológica em Le Corbusier, o papel de Gropius na Bauhaus e a 
militância socialista de Morris e Howard. 
4ª.) Os urbanistas são práticos, pois sempre executam planos e projetos que, 
freqüentemente, são construídos, sejam frações urbanas, bairros ou cidades-novas. 
 A ausência de pesquisa permanece no pensamento e na prática dos urbanistas, 
substituída pela ideologia das três vertentes mencionadas, ainda que os modelos 
urbanos sejam, por vezes, ambíguos, como é o caso das new towns inglesas. A 
expressão dessas vertentes no urbanismo é, porém, bastante marcada por dois pólos 
que ambientam as discussões neste último século: o determinismo ambiental e o 
“reflexismo” sociológico. As vertentes não são mais manifestos, mas testes dos 
respectivos ideários, os quais se radicalizam. 
 O progressismo está na base da origem francesa do urbanismo; tornou-se a 
corrente dominante na Europa, polemizou com os culturalistas ingleses, austríacos e 
alemães e difundiu-se nas Américas e no norte da África. Afirmou-se a partir da 
Primeira Guerra Mundial por meio do movimento racionalista na arquitetura que, 
influenciado pelo cubismo, posicionou-se contra o Art Nouveau e a decoração e a favor 
das formas puras, da otimização tecnológica e da industrialização. Este foi o momento 
da primeira geração de arquitetos racionalistas, como Tony Garnier e Bénoit-Lévy. A 
segunda geração racionalista internacionalizou-se e fundamentou os Congrèsses 
Internationaux d’Architecture Moderne (CIAM), cujo mais conhecido criou a Carta de 
Atenas, em 1933; marcou o urbanismo progressista, com Le Corbusier e Walter 
Gropius, pela união ente a arquitetura e o urbanismo e pelo international style, ao 
mesmo tempo que os construtivistas russos e Oud, Rietvelt e Van Eesteren, nos Países 
Baixos, realizavam a transição para o planejamento urbano. A terceira geração 
racionalista surgiu na segunda metade do século XX, na “tecnotopia” e no “futurismo”, 
 
 
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os quais são versões tecnológicas avançadas do progressismo a partir do precursor 
Hénard, seguido por Maymont, Fitzgibbon, Xenakis, Min-Pei etc. 
 O urbanismo culturalista restringiu-se à Inglaterra, mas a influência de Camillo Sitte 
é sensível no modelo urbanístico de Alemanha e Austria, divulgado por Karl Henrici, 
Theodor Fisher e O. Lasne, e convertido no alvo preferido dos progressistas. Suas 
realizações limitam-se às primeiras cidades novas inglesas, principalmente com 
Howard, Parker, Unwin e Louis de Soisson; alguns bairros no pós-guerra, cidades 
turísticas no Mediterrâneo e a influência sobre Henry Wright e Clarence Stein, nos 
Estados Unidos. 
 Os urbanistas expuseram suas idéias à crítica construindo cidades inteiras, 
reformas urbanas, novos bairros e conjuntos habitacionais demandados por guerras, 
revoluções, cataclismas e a intensa urbanização do século XX. Ocupam todas as 
classes de Gallantay (1977) e a grande maioria provém do urbanismo progressista. 
 
b.1 Novas-capitais 
 
 São inúmeras as capitais construídas a partir da metade do sec. XIX segundo as 
atitudes do urbanismo progressista. A India construiu quatro capitais: Madalay seguiu 
ainda o modelo chinês da dinastia Chou, depois vieram Burma, Nova Deli e a conhecida 
Chandigarh de Le Corbusier. Brasília insere-se plenamente nessa categoria, na medida 
em que a integração multidisciplinar foi muito precária e que seus traços urbanísticos 
são nitidamente progressistas. 
 
b.2 Cidades-colônia 
 
 A colonização por meio de cidades-novas foi intensa a partir do sec. XIX. Os 
franceses criaram 600 cidades-colônia na Argélia e na Tunísia em menos de cem anos, 
com inspiração progressista nos planos derivados do castrum romano. Colônias 
britânicas como Adelaide, Port Said e Kartum foram projetadas com mais flexibilidade, 
pois à retícula ortogonal característica das cidades-colônia foram adicionados jardins 
públicos e subúrbios de tradição culturalista. No fascismo, o centro da Itália colonizou-
se com cinco cidades e foram fundadas outras na Líbia, todas sob os princípios 
racionalistas incorporados com grandiloqüência cerimonial. 
 A União Soviética teve um primeiro período de colonização urbanística na Sibéria 
(fins do sec. XIX) e um segundo a partir de 1929, integrando um programa de 
redistribuição populacional do plano agro-industrial. Assim como a experiência 
holandesa, tratam-se de atitudes de transição para o planejamento urbano e regional, 
onde se adotam princípios progressistas de organização do espaço. 
 
 b.3 Cidades-industriais 
 
 As primeiras cidades-industriais foram as vilas operárias construídas, no sec XIX, 
juntoàs fábricas a partir do pensamento progressista de Owen, Fourier e Godin e da 
prática de Owen em New Lanark. Suas idéias ficaram nas vilas operárias americanas, 
como as cidades-moinho da Nova Inglaterra e as exemplares Lowell, Pullman e Gary, 
mas a tradição das malhas reticuladas ortogonais flexibilizou-se a ponto de torná-las 
híbridos entre culturalismo e progressismo. 
 Ao iniciar-se o sec. XX, a Cité Industrielle de Tony Garnier anunciou os CIAMs, a 
Carta de Atenas e a cidade funcionalista, delineando um modelo urbanístico 
progressista para as cidades soviéticas e algumas cidades-industriais alemãs. A maioria 
destas últimas, porém, tinham também atributos culturalistas, como por exemplo os 
 
 
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jardins públicos inseridos na malha de castrum romano, contribuição do período nazista 
resgatando o romantismo folclórico germânico; é o caso de Salzgitter. 
 
b.4 Cidades de descentralização 
 
 Este tipo de cidade surge em contraposição ao gigantismo metropolitano, avaliado 
negativamente pela ótica maltusiana das vertentes idealistas; divide-se basicamente em 
quatro propostas para superar a deseconomia gerada pela cidade grande: 
desenvolvimento urbano em regiões alternativas, cidades-satélites (com certa 
dependência e próximas à metrópole), new towns (independentes mas formando redes) 
e cidades-gêmeas ou paralelas (cf. Gallantay, ibid.). 
 A descentralização inicia-se, no sec. XIX, pela suburbanização de Paris (Le Vesinet, 
1856) e de cidades americanas (Riverside, Illinois), segundo configurações de 
tendência culturalista, como ruas curvilíneas, jardins privados e volumes diversificados. 
A contraposição progressista foi a Ciudad Lineal de Soria y Mata, às bordas de Madrid. 
Tais experiências vão formando um modelo de suburbanização e satelitização ao longo 
dos corredores de transporte de massa que será retomado pela Ideologia do Planning. 
 As new towns possuem diferentes versões. As primeiras garden cities foram 
culturalistas (Letchworth, Welwin), mas o projeto da Ville Radieuse de Le Corbusier 
influenciou as demais com traços progressistas de altas densidades, verticalismo, 
separação entre veículos e pedestres, setorização de atividades, edifícios isolados 
entre si e a substituição da rua pela via. Nos Estados Unidos, tornaram-se as greenbelt-
towns, cidades pequenas (7 000 hab) inspiradas no modelo de Radburn (Stein & Wright, 
1928), a primeira cidade-jardim americana, cujas características culturalistas foram 
flexibilizadas. 
 
5. A IDEOLOGIA DO PLANNING 
 
 O pré-urbanismo e o urbanismo contribuíram ao estabelecimento do pensamento 
urbanístico por iniciarem uma sistematização de conceitos, exercitarem uma prática 
refletida e incentivarem a discussão sobre o espaço. Mas o caráter idealista de suas 
principais vertentes comprometeu a fixação de conceitos e a pesquisa não se 
desenvolveu, permanecendo as representações ideologizadas da realidade na base de 
suas afirmações. 
 As atitudes do urbanismo foram criticadas a partir de sua própria prática, desde as 
primeiras décadas deste século; são considerados precursores do planejamento urbano 
Patrick Geddes e os planos desenvolvidos na União Soviética logo após a revolução 
comunista de 1917. Ao final da década de 1930, os trabalhos de Lewis Munford 
introduziram as principais posturas do planejamento urbano, em contraposição ao 
urbanismo: 
- contato direto com a realidade, mesmo nos estudos teóricos, os quais devem objetivar 
abastecer a prática; 
- conceito de tempo e história como criações permanentes e contínuas; 
- necessidade de controle dos processos urbanos, que são o ponto crítico das relações 
humanas atualmente. 
 O epicentro do planejamento urbano localizou-se nos países anglo-saxônicos, onde 
os modelos progressistas se haviam materializado mais intensamente; pode-se 
caracterizá-lo pelos seguintes paradigmas: 
 
 
 
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1º.) Definição do contexto urbano a partir de uma realidade histórica: contra a ruptura 
temporal do progressismo e o historicismo nostálgico do culturalismo, propôs-se 
considerar a cidade como uma etapa do processo histórico ligada à era pré-industrial e 
ao futuro. Ela seria definida pelo momento presente, o qual é irreversível e produto de 
transformações do passado. Conseqüentemente, negou-se a tipificação dos atributos 
humanos e urbanos e conceituou-se modelo como uma representação conscientemente 
simplificada da realidade. 
2º.) Visão processual da questão urbana: a idéia de continuidade histórica conduziu a 
uma visão da cidade como processo e não mais como fenômeno rígido. Isto permitiu a 
crítica à idolatria do progresso e a reavaliação da cidade pré-industrial, revelando sua 
melhor adaptação cultural do que as metrópoles industriais. 
3º.) Reintegração da questão urbana no seu contexto global: contra a especialização do 
Urbanismo, propôs-se considerar o papel da cidade na nova organização social imposta 
pela Revolução Industrial. 
4º.) Definição do contexto urbano a partir de seus diversos aspectos: ao invés de 
domínio exclusivo de arquitetos e engenheiros, propôs-se que a cidade fosse objeto 
multidisciplinar. 
 
 A abordagem da cidade passou a se caracterizar pelo planning, entendido como 
conhecimento racional que objetiva a tomada de decisões para conduzir os processos 
urbanos em direção a certas metas previamente estabelecidas. Em que pesem os 
avanços desse enfoque, existe clara influência de posturas racionalistas, principalmente 
por meio da teoria de sistemas, transformada de instrumento analítico em teoria 
explicativa. A noção sistêmica introduziu a meta do equilíbrio e da estabilidade, 
necessárias à reprodução do status quo; malgrado um discurso apoiado na 
problematização de situações presentes, esta é considerada uma ruptura da harmonia, 
o que demonstra a permanência da idéia de desordem e controle subjacente às 
vertentes idealistas dos utopistas e do Urbanismo. Este fato torna o planejamento 
urbano uma nova versão progressista: a ideologia do planning, consagrada após a 
Segunda Guerra Mundial, é a ferramenta de reorganização do capitalismo internacional, 
cujo equilíbrio deve controlar. 
 O planejamento urbano permitiu, porém, significativos avanços do conhecimento 
sobre a cidade em diversas áreas acadêmicas, notadamente nas ciências humanas. 
Por outro lado, deu-se uma clara retração da Arquitetura, cuja contribuição milenar de 
prática projetual ressentiu-se da ausência de tradição de pesquisa. 
Contemporaneamente a Geddes, registrou-se o nascimento da Sociologia Urbana, que 
passou por diversas correntes interpretativas até os dias atuais (Ecologia Urbana de 
Park, Escola de Chicago de Burgess, Mc Kenzie e Wirth, Néo-ecologia de Hawley, 
Comportamentalismo de Duncan & Schnore, Empiristas-quantitativos, Teóricos da 
cidade, como Durkheim, Max Weber e Simmel-Davies). A abordagem econômica da 
cidade remonta a Adam Smith e Ricardo, mas consolidou-se a partir da Escola de 
Chicago por meio de diversas correntes nos vários grupos das teorias 
macroeconômicas regionais (neoclássicas, keynesianas e teoria de Vernon), nas teorias 
microeconômicas de localização (Walras & Pareto, Alfred Weber, Alonso, Lösch & 
Chistaller, Perroux) e, mais recentemente, em resgates da teoria marxista (Lipietz, 
Grenelle, Juillard, Lojkine). Na Geografia, a definição da questão urbana evoluiu de 
observações estritamente físicas e descritivas (Mombeig), passou pela teoria do lugar 
central (Tricart, Rochefort), pelos métodos quantitativos (Cole, Gauthier, Brian Berry), 
pelo formalismo (Boudeville, Rodwin, Friedman) e chegou à transdisciplinaridade de 
Milton Santos. Semelhantemente, entraram em cena a Antropologia e a História, e 
disciplinas localizadas nas demais Ciências do Homem (como a Lingüística), da Vida 
 
 
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(sobretudo Ecologia), da Terra (Geologia,Hidrologia) e Exatas, como a Física, a 
Informática e a Matemática (cf. Reissmann, 1970; Kohlsdorf, 1979 e Choay, 1980). 
 Entretanto, a institucionalização da atividade de planejamento logo lançou mão do 
conhecimento acadêmico para exercício do poder constituído, conduzindo ao abandono 
do campo efetivamente especulativo para enfatizar estudos diretamente aplicáveis ao 
controle político dos processos sociais. Tais características retornaram às 
universidades, que começaram s abandonar sua condição de produtoras de 
conhecimento para se tornarem centros instrumentais. 
 A reorganização funcional das equipes encarregadas das ações de planejamento 
urbano deu uma nova face à produção urbanística, que passou a condicionar-se a uma 
série de análises multidisciplinares. Tradições acadêmicas distintas ainda não 
superadas fizeram, porém, do planejamento urbano um processo heterogêneo, que 
abriga em suas fases analíticas ciências de tradição descritiva (Geologia, Pedologia, 
Ecologia etc.) e explicativa (como Sociologia, Economia e Geografia), ambas 
assessoradas por istrumental quantitativo geralmente mais avançado que as teorias 
explicativas; resume suas etapas propositivas à presença da Arquitetura e encontra-se 
com as Ciências Sociais Aplicadas (Direito, Administração) para formular as estruturas 
normativas e gerenciais necessárias a sua implementação. Porém, as características 
espaciais da cidade multidisciplinarmente planejada pouco diferem daquelas praticadas 
no Urbanismo; trabalha-se com modelos e repetem-se os padrões progressistas, 
vertente que se revela adeqüada à base de sistemas institucionais concentrados no 
Estado, seja na versão fiel prescrita pela Carta de Atenas, seja flexibilizada por 
influências culturalistas na Inglaterra, Alemanha e Austria. 
 A prática de planejamento urbano concentrou-se mais na reorganização e 
ampliação das estruturas existentes do que na criação de novas cidades; na 
classificação de Gallantay (ibid.), as novas-capitais e as cidades-colônia são minoria em 
relação às cidades-industriais e às cidades de desconcentração. 
 
a.1 Novas-capitais 
 
 A segunda metade do século XX não assistiu a uma produção significativa de 
novas-capitais em termos quantitativos, mas a construção de Brasília e Islamabad, 
projetada pelo escritório grego Doxiadis com forte hierarquização funcional, instigaram 
discussões sobre as relações de custo-benefício sociais envolvidas. Foram ambas 
mencionadas como produtos urbanísticos, mas a nova-capital indiana foi fruto de 
planejamento regional. 
 
a.2 Cidades-colônias 
 
 O nascimento do Estado de Israel motivou o planejamento de cerca de trinta 
cidades-colônias em doze anos, a partir de um programa integrado de colonização e 
desenvolvimento da nação. As primeiras destas cidades possuem traços culturalistas e 
foram inspiradas no ideário de Howard para as New Towns, mas a médio prazo 
passaram a assumir os princípios racionalistas. 
 
a.3 Cidades-industriais 
 
 O pioneirismo da União Soviética em planejamento urbano escolheu esse tipo de 
cidade-nova para expressar-se. A partir de 1928, começaram a ser preparadas e 
implementadas ações contínuas de planejamento da ocupação territorial, integrando 
 
 
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programas para os aspectos sociais, econômicos, institucionais e físico-espaciais; 
essas ações vêm acompanhadas da criação de 630 cidades-industriais em 31 anos. 
 A partir do final da Segunda Guerra Mundial, o esvaziamento demográfico e os 
problemas econômicos enfrentados pelo Leste Europeu levaram Polônia, Hungria, 
Tchecoeslováquia e Alemanha Oriental a criarem as “cidades-socialistas”, tipo que, 
entretanto, não passou de cidades-dormitório de centros industriais maiores. 
 Há ainda alguns exemplos isolados de criação de cidades-industriais em outros 
países, a partir de programas internacionais de ajuda financeira empreendidos pelos 
Estados Unidos, Alemanha e União Soviética. É o caso da India, do Iran (Ariashar) e da 
Venezuela (Ciudad Guayana, com assessoria do MIT-Harvard). 
 As cidades-industriais do século atual possuem sempre configuração racionalista. 
 
a.4 Cidades de desconcentração 
 
 É neste tipo de cidade-nova que se expressa melhor a Ideologia do Planning. A 
extrema concentração urbana, solicitada pela industrialização, nos países europeus e 
nos Estados Unidos, tornou-se problemática, uma vez consolidada a nova maneira de 
produzir, pois a passagem para economias de monopólio denunciou prejuízos ao 
sistema causados pela superaglomeração. A Inglaterra, leito deste processo, é também 
o berço das atitudes planejadas de desconcentração, com o programa das New Towns, 
um dos exemplos mais claros de planejamento territorial integrado. Originado na 
Garden City Association fundada por Howard no final do século passado, este programa 
consolidou-se apenas na década de quarenta como sistema de redirecionamento da 
ocupação por meio da ciação e acompanhamento de cidades-novas autosuficientes e 
contidas, organizadas em rede equilibrada pelo transporte de massa. Estes propósitos 
mudaram ao longo de três décadas e diversas gerações de new towns (cf. Gallantay, 
ibid.): 
- até 1950, construíram-se 14 new towns, a partir da cidade-jardim de Howard 
(Stevenage, Harlow); a principal crítica é quanto ao alto custo da infraestrutura e à 
padronização empobrecedora do modelo culturalista. 
- entre 1950 e 1960, o modelo procurou urbanidade por maior acessibilidade ao centro 
urbano, o qual passou a dominar a estrutura das cidades; pelo aumento densitário e 
pela integração entre habitação e local de trabalho. Entretanto, essas metas foram 
contrariadas pela separação entre veículos e pedestres e a interiorização das atividades 
centrais em megaestruturas arquitetônicas (Runcorn, Hook, Cumbernauld). 
- a partir de 1960, as new towns incorporaram o modelo progressista, e suas estruturas 
passaram a ser geradas pelo uso intensivo do transporte individual, dispersando-se seu 
centro em vários pontos focais (Milton Keynes). 
 A desconcentração na Escandinávia retomou em 1949 o pioneirismo sueco que, no 
sec. XVII, havia criado uma Comissão de Planejamento. A nova experiência programou 
cidades-satélites junto a Estocolmo e à linha rápida de transporte de massa, optando 
por moderação na auto-suficiência daquelas em relação à capital e, mais uma vez, pelo 
modelo progressista de estrutura celular, baseado em unidades de vizinhança. Com 
menor intensidade no programa e no modelo morfológico, a Finlândia também criou 
cidades-satélites junto a Helsinke (por ex., Tapíola). 
 Na década de sessenta, o Japão construiu cidades de desconcentração (Senri, 
Senboki) a partir do plano regional para a Grande Tóquio, associando os modelos 
programáticos das new towns e das cidades-satélites escandinavas. 
 A experiência soviética neste tipo de cidades-novas expressou-se como uma fase 
do Plano Descentralizador de Moscou (1935) que, em 1960, atingira a saturação de 5 
milhões de habitantes. Mesmo mantendo os traços progressistas na organização 
 
 
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morfológica, o programa de desconcentração soviético diferiu do britânico e do 
escandinavo, pois criava uma só unidade administrativa para a cidade e sua área 
metropolitana e propunha três tipos de assentamentos periféricos, segundo o tipo e a 
intensidade da oferta de empregos (de subúrbios-dormitórios a cidades auto-
suficientes). 
 Também na década de sessenta passou-se a planejar a desconcentração de Paris, 
talvez um dos casos de maior centralização do século atual. A estratégia das ville-
nouvelles francesas propôs uma série de etapas, desde os conjuntos habitacionais nos 
subúrbios, passando por Zonas para Urbanização Prioritária (ZUP, como Creteuil e 
Toulouse-le-Mirail) e Plano de Organização Geral da Região Parisiense (as “metrópoles 
deequilíbrio”, com a satelitização de Rouen, Lille, Lyon e Marseille) e diversos planos 
de cidades-satélites com funções específicas (Evry, Marne-la-Valée, Cergy-Pontoise). 
 Os Estados Unidos apresentaram poucas e tardias cidades-novas, talvez por seu 
território ser ocupado equilibradamente. A partir da década de cinqüenta, as grandes 
cidades desconcentraram-se por meio de um planejamento pragmático de subúrbios 
realizado pela iniciativa privada, em estruturas de baixas densidades, grandes 
distâncias vencidas por transporte individual e atomização de pontos focais 
interiorizados. A oferta de empregos nessas cidades concentra-se no setor terciário e 
elas são funcionalmente especializadas em centros de pesquisa, lazer, consumo 
eficiente, turismo etc. 
 
6. TENDÊNCIAS 
 
 A Ideologia do Planning pode ser considerada principalmente prática e estratégia 
políticas, comprometedora dos objetivos do pensamento urbanístico acadêmico. Mas 
sua crítica partiu da própria Academia, que passou a instrumentar os incipientes 
movimentos sociais urbanos e organizações de grupos da sociedade civil após o 
término da Segunda Guerra Mundial. Por localizar-se em época muito recente, não 
existem sistematizações consagradas e as colocações que se seguem são, mais do 
que as anteriores, hipotéticas. 
 Da literatura consultada podemos extrair duas tendências significativas até o 
momento: a Crítica Humanista (Choay, 1980; Kohlsdorf, 1979, 1985; Correa, s/d) e o 
Desenho Urbano (Del Rio, 1990; Kohlsdorf, ibid.), ambas configurando um paradigma 
psico-comportamental para o pensamento urbanístico (cf. Farret, 1985.). 
 As contradições do Urbanismo e da Ideologia do Planning foram inicialmente 
levantadas por disciplinas menos engajadas nos mesmos, como é o caso da Psicologia, 
da Filosofia, da Lingüística e de certas correntes da Sociologia, da Economia, da 
Antropologia e da Geografia. Na raiz dessas contestações encontram-se os trabalhos 
de Patrick Geddes e Lewis Munford, de impressionante contemporaneidade, e as 
inúmeras experiências progressistas, notadamente os conjuntos habitacionais ingleses, 
as prisões e os hospícios, considerados fábricas de neuroses e perversões. Críticas e 
estudos evoluiram de uma postura fortemente determinista e comportamentalista, nos 
anos cinqüenta e sessenta, para outras mais relativistas, como o probabilismo, o 
estruturalismo e variedades marxistas, pragmáticas e fenomenológicas. 
 Numerosos ensaios a partir dos anos cinqüenta colocaram o problema dos agentes 
de programação e gestão urbanas e dos correspondentes projetos físico-espaciais, 
encaminhando uma abordagem da cidade por meio das relações entre ela e seus 
usuários, observando seja o comportamento social gerado nesta relação, sejam as 
dimensões psico-sociais da mesma. 
 
 
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 A crítica psico-comportamental considerou os métodos do Urbanismo e do 
Planejamento Urbano empiristas, instrumentais e idealistas, apoiados no tecnocratismo 
que se incorporou ao positivismo na era industrial. Tal adesão fez com que ambos 
construissem seu objeto em bases falsas, separado do sujeito e qualificado por uma 
harmonia ora sistêmica, ora orgânica que desconsidera a natureza conflituosa das 
sociedades de classes. Não admira que nenhuma das três vertentes de modelagem 
urbanística conseguisse compreender a questão urbana e realizar uma prática 
cientificamente embasada. Para esta crítica, a disciplinaridade no Urbanismo e no 
Planejamento Urbano implicou perdas da identidade daquelas centradas no espaço 
físico e desvios teóricos nas Ciências Sociais, por sua instrumentalização. 
 Em contrapartida, esse paradigma propõe uma aproximação entre sujeito e objeto 
da questão urbana a ponto de deslocar o centro de atenção para a relação entre 
ambos. A abordagem urbanística relacional solicita a maior quantidade possível de 
disciplinas, as quais passam a procurar diversas dinâmicas (multidisciplinar, 
interdisciplinar, transdisciplinar etc.). Esta atitude veio acompanhada de certas 
contribuições metodológicas aos impasses criticados: antropólogos, ecólogos e 
psicólogos trouxeram a observação in vivo dos fenômenos, sem desprezo de suas 
componentes empíricas, sensoriais e emocionais; historiadores, filósofos e sociólogos 
recolocaram a cidade como unidade espaço-temporal e processual; a reunião de 
psicólogos, geógrafos, antropólogos, arquitetos e educadores mostrou componentes 
cognitivas, afetivas e estéticas necessárias às ações sobre a cidade. 
 Neste paradigma, o Desenho Urbano compromete-se com a procura de uma nova 
atitude de abordagem do espaço da cidade, que não incida nos equívocos das 
vertentes e da prática do Urbanismo, as quais permaneceram sob o Planejamento 
Urbano no que se refere a seus aspectos físico-espaciais. Foi motivada pelos impasses 
da produção urbanística, que mostraram o despreparo das áreas com responsabilidade 
de projeto à escala urbana em relação às demais envolvidas nos processos de 
planificação. Esta nova atitude assume tanto a disciplinaridade do espaço urbano 
quanto sua inserção interdisciplinar, isto é, seu abastecimento por outras disciplinas, 
além de interagir no encontro com as demais áreas de conhecimento e prática sobre a 
cidade, multidisciplinarmente (cf. Del Rio, 1990; Kohlsdorf, 1996). Isto significa procurar 
procedimentos adeqüados ao espaço da cidade como objeto disciplinar específico, 
teórico e de prática projetual. 
 A expressão Desenho Urbano deriva do inglês “Urban Design” que, na verdade, 
corresponde preferentemente a projeto urbanístico na língua portuguesa. Costuma-se 
datar sua origem no final dos anos quarenta, junto com a crítica humanista, ou na 
década de sessenta, conforme Del Rio (ibid.), que aponta cinco razões para considerar 
este marco: 
1ª.) as ondas de protesto social que ocorrem nessa época contra as intervenções do 
planning centralizado nas cidades, seja em termos de renovações de áreas urbanas ou 
de criação de conjuntos habitacionais; 
2ª.) o despertar das sociedades européia e norte-americana para outros valores que os 
progressistas, como a tradição, a produção vernácula, a consciência do patrimônio 
histórico, as culturas alternativas e a crítica à sociedade de consumo; 
3ª.) a ampliação da democracia na gestão urbana, por meio do planejamento 
participativo e advocatício; 
4ª.) a crítica ao Movimento de Arquitetura Moderna, realizado tanto pelos usuários 
quanto pelos arquitetos, técnicos e cientistas sociais; 
5ª.) as dificuldades econômicas e políticas do planejamento urbano em implementar 
suas propostas. 
 
 
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 Entretanto, em certos países europeus a tradição de projeto urbanístico 
permaneceu durante a era do planning ; nestes, geralmente os princípios progressistas 
foram relativizados por alguma influência culturalista. Foi o caso da Inglaterra, onde o 
pensamento de Willian Morris e John Ruskin, assim como a experiência de Howard e 
Unwin foram suficientemente fortes para fazerem-se sentir no programa das New 
Towns. Assim também aconteceu na Alemanha e na Austria, apesar do ostracismo da 
obra de Camillo Sitte pelos racionalistas durante várias décadas. Estes dois exemplos 
ilustram situações de planejamento urbano e regional que não descartaram atitudes de 
projeto do espaço da cidade. 
 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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Outros materiais