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Direito de Alimentos 1. - Direito à Alimentação 1.1. - Introdução A todo indivíduo é assegurado o direito à vida. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 1º, III estatuiu o princípio da preservação da dignidade humana, daí ter os alimentos a natureza de direito de personalidade, que por sua vez tutelam a inviolabilidade do direito à vida e integridade física. Com isso, o direito a alimentos passou a ter força de direito fundamental. É o instrumento capaz de assegurar uma vida digna àqueles que não têm como se manter. Assim, a obrigação alimentar está intrinsecamente ligada ao direito à vida. 1.2. - Conceituação Alimentos, segundo o mestre Yussef Said Cahali (2007, p.16), são as "prestações devidas, feitas para quem as recebe possa subsistir, isto é, manter sua existência, realizar o direito à vida, tanto física (sustento do corpo) como intelectual e moral (cultivo e educação do espírito, do ser racional)". Estas prestações, devidas por força de lei, podem ser fornecidas em dinheiro ou em espécie (art. 1701 CC), de modo a atender às necessidades essenciais de quem os recebe. Juridicamente, alimentos têm conotação muito mais ampla do que na linguagem vulgar, significam prestações periódicas destinadas ao sustento de alguém. No Direito de Família, o termo sustento, conforme lição de Silvio Rodrigues (2007, p. 374), abrange também o vestuário, a habitação, assistência médica, enfim, todo o necessário para atender às necessidades da vida, e, em se tratando de menor, compreende também o que for preciso para sua educação e instrução. 1.3. - Origem Segundo Venosa (2003, p.372), "não há precisão histórica para definir quando a noção alimentícia passou a ser conhecida". Contudo, é cediço que a obrigação alimentar teve sua origem em Roma. Naquela época era tida como “officium pietatis” (Rodrigues: 2007, p.375). Ou seja, prestar alimentos era um ato de caridade, uma obrigação moral de assistência entre parentes. Nos dias de hoje, o direito a alimentos tem suporte tanto no princípio da dignidade da pessoa humana, conforme visto acima, quanto na solidariedade familiar, dispostos nos artigos 226, 227, 229 e 230 da Constituição de 1988. Estes dispositivos constitucionais ressaltam a finalidade dos alimentos, qual seja a manutenção da vida de quem deles necessitam. Assim, Arnaldo Wald leciona: A finalidade dos alimentos é assegurar a vida, substituindo assistência da família à solidariedade social que une os membros da sociedade, pois as pessoas necessitadas, que não tenham parentes, ficam, em tese, sustentadas pelo Estado, Daí a sua importância para o ordenamento jurídico, vez que as regras que o disciplinam serem de ordem pública e, portanto, inarredáveis por convenção das partes. (2004, p. 44). Dessarte, a prestação alimentícia, devida por força de lei, tem um fim essencial: o de satisfazer a necessidade alimentar de uma pessoa que não pode prover por si só, a sua subsistência. 1.4. - Classificação No que tange a natureza ou a extensão, a doutrina classifica os alimentos em: Alimentos naturais ou necessários - são aqueles indispensáveis à sobrevivência humana, por exemplo, alimentação, os tratamentos de saúde, o vestuário, a habitação. Nota-se que os alimentos naturais, também chamados de alimentos indispensáveis pelo Código Civil, estão previstos no § 2º do artigo 1.694, dispondo que, se a situação de necessidade resultar da culpa de quem os pleiteia, este perceberá apenas o necessário à sua sobrevivência, não levando em conta o status social do credor nem as possibilidades do prestador. Antes da EC 66/10 havia outra situação em que também era aplicável os alimentos indispensáveis, qual seja, aquela que se afigura na hipótese de separação judicial culposa. Nesta, o cônjuge declarado culpado e que não tinha aptidão para o trabalho e nem parentes em condição de prestar-lhe alimentos (art.1.704 parágrafo único), poderia exigir do cônjuge inocente os alimentos indispensáveis à sua sobrevivência. Alimentos civis ou côngruos - são aqueles que abragem outras necessidades do alimentando, de modo a assegurar-lhe a mantença de sua condição social, e em caso de menores, a educação. Estes alimentos encontram-se previstos no caput do artigo 1.694 do Código Civil. Senão vejamos: Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. 1.5. - Causa Jurídica Quanto à causa jurídica da obrigação, os alimentos podem decorrer da vontade humana, do ato ilícito ou de uma norma legal. Alimentos Voluntários - aqueles que derivam de uma declaração de vontade inter vivos. Neste caso, a pessoa que não tinha o dever legal de prestar alimentos, por meio de contrato, se obriga a prestá-los voluntariamente. Esta modalidade de alimentos é regulada pelo direito das obrigações. Alimentos testamentários - originários de causa “mortis”, se materializam por meio de disposição testamentária, em forma de legado, conforme previsão do artigo 1.920 do Código Civil. Esta espécie pertence ao direito das sucessões. Alimentos indenizatórios - são aqueles que têm origem no dever de ressarcimento do dano “ex delicto”. Ou seja, a obrigação surge da prática de um ato ilícito, no qual o agente é compelido, por força da lei - (Art. 948 CC), a prestar alimentos à vítima de seu ato. Esta modalidade de prestação alimentar é também regulada pelo direito das obrigações. Alimentos Legítimos - são aqueles em que a obrigação decorre de uma obrigação legal. Podem resultar do vínculo sanguíneo “juris sanguinis”, do vínculo de parentesco, ou do dever de mútua assistência (casamento ou da união estável). São esses alimentos, que interessam ao Direito de Família, sendo, portanto, mister o seu estudo. 1.6. - Alimentos definitivos provisórios e “Ad Litem” Os alimentos podem ser provisórios, provisionais ou “ad litem” e definitivos, levando-se em conta sua finalidade. Os provisórios e os provisionais são aqueles que antecedem ou incidem em uma ação de divórcio, nulidade ou anulação de casamento, ou ainda, de alimentos propriamente dita. Sua finalidade é assegurar recursos para propor a ação e prover o sustento do credor até o provimento final. Os alimentos provisionais são medidas cautelares previstas nos artigos 1.706 do Código Civil, e 852 a 854 do CPC, são estabelecidos por ocasião da separação de corpos que antecede à ação de divórcio, anulação ou nulidade do casamento, e devidos durante o processo até a partilha dos bens do casal, daí chamá-los também de “ad litem”. Vale lembrar que a ação principal deve ser proposta em até 30 dias, sob pena de caducar a medida cautelar. Já os alimentos provisórios estão previstos no artigo 4º da Lei 5.478/68 - Lei de Alimentos, sua concessão depende de prova pré-constituída do parentesco ou da obrigação alimentar sendo requeridos e fixados no inicio da ação de alimentos. Senão vejamos: Art. 4º. Ao despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita. Vale ressaltar, que os alimentos gravídicos, guardam semelhança com os alimentos provisórios. Findo o processo, se contemplado o alimentário, os alimentos provisionais ou provisórios são convertidos em definitivos e será instituída a pensão alimentícia periódica. Apesar de serem denominados definitivos, estão sempre sujeitos à revisão, postonão transitar em julgado a sentença que decreta ou homologa alimentos, bastando que se comprove a alteração no binômio necessidade/possibilidade. Os alimentos podem ser classificados também quanto ao momento da concessão, neste sentido, Venosa (2003, p.377) ensina: "Quanto ao tempo em que são concedidos, os alimentos podem ser futuros ou pretéritos. Futuros são aqueles a serem pagos após a propositura da ação; pretéritos, os que antecedem a ação". A legislação brasileira não admite a prestação de alimentos pretéritos, ou seja, antes do ajuizamento da ação, pois há o entendimento de que se o credor não os reclamou antes, é que deles não precisava. 2. - Direito à Alimentos - Módulo II 2.1. - Sujeitos da Obrigação Alimentar Os cônjuges, os companheiros e os parentes são os sujeitos da obrigação alimentar e, por determinação do artigo 1.694 do Código Civil, podem reclamar, entre si, os alimentos de que necessitam. O rol apresentado é taxativo e restringe o encargo até o segundo grau de parentesco. Ou seja, a obrigação não ultrapassa a pessoa dos irmãos, sendo eles germanos ou unilaterais. Na linha reta, no entanto, não há limites. Decorrendo a obrigação do parentesco, em primeiro lugar, são chamados a prestar alimentos os parentes em linha reta, de forma que a obrigação recaia nos mais próximos em grau, uns na falta dos outros. Desta forma, se determinada pessoa de idade avançada ou vítima de moléstia grave não puder prover a sua mantença, "com o suor de seu rosto", deve exigi-los de seu pai, avô, bisavô, etc. Esgotada a linha ascendente, deve buscar na linha descendente a satisfação da obrigação. Ou seja, exigi-los de seus filhos netos, bisnetos, etc. Em não havendo parentes em linha reta em condições de prestar alimentos, deve-se reclamá-los dos irmãos. Anote-se que apesar de a sucessão legitima contemplar os colaterais até o quarto grau, o legislador limitou ao segundo grau a obrigação de prestar alimentos. Porém, a doutrina mais abalizada entende que esta limitação não condiz com a natureza do instituto, qual seja prover a assistência de um ente familiar que se encontre em estado de necessidade alimentar. Assim, em atendimento ao princípio da razoabilidade, a interpretação do artigo 1.694 do Código Civil deve ser extensiva, de forma a compatibilizá-lo com o conceito de família. Ou seja, tanto a obrigação alimentar quanto o direito a alimentos deve albergar todos os parentes. Neste sentido, Maria Berenice Dias, em sua obra Obrigação alimentar de tios, sobrinhos e primos, pondera que a lei não excluiu os demais parentes da obrigação alimentar: Simplesmente não viu o legislador necessidade de qualquer detalhamento sobre a obrigação dos parentes de terceiro e quarto grau, o que, às claras, não significa que os tenha dispensado do dever alimentar. Os encargos alimentares seguem os preceitos gerais. Na falta dos parentes mais próximos são chamados os mais remotos, começando pelos ascendentes, seguidos dos descendentes. Portanto, na falta de pais, avós e irmãos, a obrigação passa aos tios, tios-avós, depois aos sobrinhos, sobrinhos- netos e, finalmente, aos primos. E, continua a magistrada, "se esta não fosse a intenção do legislador, o art. 1.694 simplesmente diria: Podem os parentes, até o segundo grau, (...) pedir alimentos uns aos outros". Isto posto, os graus de parentesco não devem servir apenas para contemplar com a herança, mas também para instituir a obrigação de socorrer o parente necessitado de alimentos. No entanto, há julgados que excluem os tios do rol dos sujeitos da obrigação alimentar: STJ - Terceira Turma. ALIMENTOS. SOBRINHOS. A Turma decidiu que as tias dos menores representados pela mãe na ação de alimentos não são obrigadas a pagar alimentos aos sobrinhos após a separação dos pais. No caso dos autos, a mãe não trabalha e o pai, com problemas de alcoolismo, cumpre apenas parcialmente o débito alimentar (equivalente a um salário mínimo mensal).(...) REsp 1.032.846-RS. Insta destacar, que em se tratando de filhos menores a necessidade é presumida, trata-se de presunção “juris tantum”, tendo em vista que incumbe aos pais o dever de sustento da prole, no exercício do poder familiar. 2.2. - Requisitos da obrigação Alimentar No direito de família, o direito a alimentos demanda a ocorrência de certos requisitos que autorizam a sua concessão ou reconhecimento, desde que haja vínculo jurídico entre o credor e o devedor. Caio Mário (2007, p. 497) preleciona que "são requisitos do direito a alimentos a necessidade, a possibilidade, a proporcionalidade e a reciprocidade". Com relação a necessidade, este é o primeiro requisito: deve o credor demonstrar a sua hipossuficiência em manter-se e a possibilidade do parente devedor. É que a necessidade do credor encontra limites na possibilidade do devedor. 2.3. - Binômio Necessidade x Possibilidade A pretensão que resulte em obrigação de prestar alimentos deve se pautar no binômio: necessidade versus possibilidade. O artigo 1.694, § 1º do Código Civil, dispõe que os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. Já o artigo 1.695 do mesmo diploma legal reforça a idéia de equilíbrio econômico que deve haver entre credor e prestador de alimentos, ao preceituar em quais circunstâncias o necessitado pode pleitear e, em quais limites se fixam os alimentos, para quem os deve, verbis: Art. 1.695 - São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, a própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento. Estes dispositivos legais ressaltam o caráter assistencial do instituto, bem como a restrição de seus sujeitos. Ou seja, só pode reclamar alimentos, aquele que se encontrar em real desamparo seja por enfermidade, idade avançada, menoridade, ou mesmo por falta de trabalho. Em contrapartida, caberá ao reclamado se precaver de que a verba a ser paga não ponha em risco o seu próprio sustento. Todavia, deve-se coibir a utilização do instituto dos alimentos como um instrumento facilitador de locupletamento ou de incentivo ao ócio. Pois, em regra, o individuo adulto deve manter-se pelo seu próprio trabalho. A questão de proporcionalidade da prestação deverá ser equacionada no caso concreto, quando da fixação dos alimentos. Rodrigues (2007, p. 382) leciona que: "se enormes são as necessidades do alimentário, mas escassos os recursos do alimentante, reduzida será a pensão; por outro lado, se se trata de pessoa de amplos recursos, maior será a contribuição alimentícia". Em outras palavras, a pessoa que necessita de alimentos tem de atender aos pressupostos que lhe autorizam a pretensão. Ou seja, o credor tem de estar incapacitado de prover por si só o seu sustento, cabendo ao devedor compor a dívida de forma a prover os alimentos pedidos sem o desfalque do necessário ao seu sustento. Em regra, os alimentos são estabelecidos em sua forma mais abrangente, alimentos civis, de modo a proporcionar ao credor a continuidade de sua condição social. Porém, conforme já exposto acima, se a situação de necessidade resultar de culpa do credor, a lei determina que sejam fixados os alimentos apenas no necessário à sua subsistência. A reciprocidade Com relação à reciprocidade, tanto a Constituição de 1.988 (art. 229), quanto o Código Civil (art.1.696) determinam que o direito a prestação de alimentos seja recíproco. Portanto, aquele que hoje é credor de alimentos poderá num futuro incerto, ser devedor, se as circunstâncias assim o exigirem.2.4. - Características dos Alimentos Direito Personalíssimo O vinculo existente entre o alimentante e o alimentário é pessoal intuito personae, ensina Rodrigues Júnior (2006). Portanto, a obrigação alimentar constitui-se apenas entre o alimentante e o alimentado e o "vínculo jurídico existente entre eles", portanto, é direito personalíssimo. Desta característica decorrem outras que lhe são intrínsecas, Irrenunciabilidade, Impenhorabilidade, Incompensabilidade, necessibilidade e irrepetibilidade. O artigo 1.707 do CC traz em sua redação algumas das características do instituto dos alimentos que lhe servem de escudo contra qualquer tentativa de desvio de sua finalidade, verbis: Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora. Neste dispositivo, o legislador visa coibir qualquer forma de disposição do direito, quer pelo credor, quer pelo devedor, ou ainda, por terceiros. Assim, o titular do direito não pode transferir, ceder ou compensar seus créditos alimentícios. Ao tratar da irrenunciabilidade, Arnaldo Wald (2.004, p. 45), preleciona que "o caráter imperativo das normas sobre alimentos tem como corolários serem estes irrenunciáveis, como o próprio direito à vida". Os alimentos têm a finalidade precípua de manutenção da vida de quem deles necessita. Contudo, é facultado ao titular do direito solicitar ou não do devedor a prestação alimentícia. Logo, o credor pode não exercer o seu direito, mas por determinação legal, lhe é vedado renunciá-lo. Entretanto, existem posições jurisprudenciais divergentes quanto à admissão ou não da renúncia, em relação aos cônjuges. Neste aspecto, Yussef Cahali (2007) pronuncia que o Supremo Tribunal Federal, em virtude da jurisprudência da época, acabou por editar a Súmula 379, nestes termos: "No acordo de desquite não se admite renúncia aos alimentos que poderão ser pleiteados ulteriormente, verificados os pressupostos legais". A citada Súmula do STF inadmitia a renúncia. Já o STJ, depois da Constituição de 1988, se posicionou em sentido contrário, admitindo a renuncia ao direito a alimentos entre os cônjuges. Tendo em vista que o Código Civil, ao tratar da matéria não excluiu os cônjuges, companheiros e parentes do rol de vedação, conclui-se, portanto, que os alimentos são irrenunciáveis em quaisquer circunstâncias. Quanto à impenhorabilidade é óbvio que, por ter a finalidade de preservar a vida, o crédito alimentar não pode ser também objeto de penhora. Contudo, conforme Rodrigues Júnior (2006, p. 49), "admite-se a penhora sobre os valores decorrentes de prestações vencidas e não pagas que tenham perdido o caráter de sobrevivência", pois se transformaram em crédito comum, podendo assim, ser disponibilizados pelo credor os bens adquiridos com a verba alimentar. Quanto à irrepetibilidade aquele que pagou alimentos não pode cobrá-los de volta. Se finda a necessidade do credor de alimentos, não pode o devedor repetir o dispêndio com alimentos, pois, a obrigação não é suscetível de reembolso. Porém, conforme assinala Venosa (2003, p.379), "toda afirmação peremptória em direito é perigosa: nos casos patológicos, com pagamentos feitos com evidente erro quanto à pessoa, por exemplo, é evidente que o solvens terá direito à restituição". Destarte, os pagamentos efetuados por quem não tinha o dever de prestar alimentos podem ser objeto de ação de ressarcimento em face de quem o era. Assim, entende também Maria Helena Diniz (2008, p. 573), "quem fornecer alimentos na crença de que os devia, poderá exigir a devolução de seu valor ao terceiro, que era o verdadeiro devedor da prestação". Ao tratar da incompensabilidade, Rodrigues (2007, p. 376), assim ensina: "a prestação alimentícia visa socorrer o alimentário, ela não se compensa com dívida que este último, porventura tenha para com o alimentante". Portanto, caso o credor de alimentos possua alguma dívida com o devedor, não poderá, a verba alimentar, ser objeto de compensação desse débito. 3. - Alimentos - Módulo III 3.1. - Outras Características dos Alimentos A obrigação de prestar alimentos é divisível, pois é possível à vários parentes paguem à um só alimentário. A quota correspondente de cada coobrigado deve ser estabelecida proporcionalmente à respectiva capacidade econômica. Vejamos o artigo 1.696 do Código Civil: Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros. Portanto, numa ação de alimentos, o titular do direito deve acionar todos os parentes obrigados, sob pena de ser pensionado apenas pelo alimentante chamado a prestar, e, no valor que tocar a quota-parte deste. A Revisibilidade. A lei permite a revisão da pensão, com possibilidade de exoneração, redução ou majoração do encargo, conforme o caso. Assim, em havendo mudança na situação financeira de uma das partes da relação jurídica que resulte em alimentos, deve a parte prejudicada promover a Ação Revisional de Alimentos, pautando-se no binômio: necessidade/possibilidade. Neste sentido, dispõe o art. 1.699 do Código Civil, verbis: Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo. De igual sorte, o parente que for chamado a prestar alimentos e não tiver em condições de suportar sozinho o encargo, deve chamar, em juízo, os outros parentes para que se efetue o rateio dos valores devidos. Vale lembrar que nos termos do artigo 15 da Lei 5478/68 - Lei que rege a Ação de Alimentos - a sentença judicial que fixa alimentos não transita em julgado. No entanto, o entendimento doutrinário é de que tal redação padece de técnica legislativa, vez que a sentença que decide sobre alimentos tem sua eficácia limitada no tempo, pois trata de relação jurídica continuativa, podendo, portanto, ser reexaminada sempre que sobrevier alteração no estado de fato ou de direito que motivaram o decisum. Logo, não havendo modificação na situação dos sujeitos da obrigação alimentar (alteração no binômio necessidade/possibilidade), permanece a sentença imutável, escudada pela coisa julgada, só podendo ser objeto de revisão quando se verificar desequilíbrio entre as partes. A Imprescritibilidade. Não prescreve o direito à alimentos. A qualquer momento em que se fizerem necessários, os alimentos podem ser pedidos pelo seu titular e, se presentes os seus pressupostos legais (necessidade, possibilidade e vínculo jurídico entre o alimentante e o alimentado), deve ser satisfeita a pretensão do credor alimentar. Entretanto, o artigo 206, § 2º do Código Civil dispõe que a pretensão alimentar prescreve em dois anos, contado a partir do vencimento da prestação. Neste caso, o que prescreve são as prestações vencidas e não cobradas pelo credor. É o direito de acionar o devedor pelo inadimplemento das prestações que prescreve, tendo em vista a finalidade dos alimentos ser a satisfação de uma necessidade urgente e atual. A Transmissibilidade. Objeto de controvérsias, a transmissibilidade de obrigação alimentar, é assunto polêmico desde a entrada em vigor da Lei 6.515 de 26 de setembro de 1977. Naquela época vigia o Código de 1.916, que em seu art. 402, vedava a transmissão da obrigação alimentar em obediência à característica dos alimentos de ser direito personalíssimo (a relação restrita entrealimentante e ao alimentado). Assim, faltando um dos componentes da relação (credor ou devedor), extinguia-se a obrigação. Esse era o entendimento dominante da doutrina e da jurisprudência. Acontece que com a entrada em vigor da Lei 6.515/77, seu art. 23, permitiu, em relação aos cônjuges, a transmissibilidade da obrigação alimentar aos herdeiros do devedor, observando o disposto no artigo 1.796 do então Código Civil. Vejamos a jurisprudência da época: ALIMENTOS - MORTE DE ALIMENTANTE -DEVER DO ESPÓLIO - "Alimentos - Morte do alimentante - Obrigatoriedade transmitida ao espólio até conclusão do inventário - Exegese do artigo 23 da Lei n.6515/77. Admite-se a transmissibilidade da obrigação alimentar ao espólio do alimentante ate a conclusão do respectivo inventário. (2º.TAC - Ap.c/Rev.449.665 – 6ª Câmara- Rel.Juiz Paulo Hungria - j.10.04.1996) AASP 1971/2. A partir daí alternaram-se os entendimentos sobre a possibilidade ou não da transmissão da obrigação alimentar. Após intensas discussões, a doutrina e a jurisprudência majoritária firmaram-se no sentido de que intransmissível era a obrigação alimentar entre parentes (com fulcro no art. 402 do Código de 1916), enquanto transmissível era a obrigação entre cônjuges (art. 23 da Lei 6.515/77). Isso porque o parente beneficiário dos alimentos certamente seria também herdeiro do autor da herança e, sendo assim, poderia também pleitear alimentos diretamente aos demais herdeiros, por direito próprio, haja vista possuir parentesco com estes. Com relação ao art. 1.700 do atual Código Civil, apreendeu-se não se tratar de mera reprodução do art. 23 da Lei do Divórcio, vez que consagrou a regra da transmissibilidade da obrigação alimentar aos herdeiros do devedor, e estendeu aos parentes o alcance do encargo. Porém, o referido artigo não impõe limites à transmissão, deixando a cargo da doutrina e jurisprudência limitá-la às forças da herança. Diante disso, conclui-se estar consagrada a transmissibilidade da obrigação alimentar em nosso ordenamento jurídico. Porém, caberá à doutrina e à jurisprudência indicar seus limites e orientar os operadores do direito bem como os demais entes da sociedade no sentido de que, em se tratando de alimentos, deve-se pautar o princípio da dignidade da pessoa humana. É que, como já dito alhures: a realização do direito a alimentos é condição necessária a uma vida digna. Código Civil - Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694. 3.2. - Extinção dos Alimentos Os alimentos se extinguem quando são afastados ou se tornam inexistentes seus requisitos e pressupostos. O Código Civil dispõe em seus artigos arts. 1.699 e 1.708 quais a circunstâncias que ensejam a extinção da obrigação alimentar, verbis: Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo (grifamos). Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor, cessa o dever de prestar alimentos. Parágrafo único. Com relação ao credor cessa, também, o direito a alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao devedor. Também se extingue a obrigação alimentar com a morte do alimentário, pois há ruptura do vínculo jurídico ensejador da obrigação. Outro critério de extinção da obrigação alimentar é o advento da maioridade do credor. Contudo, persistindo o déficit alimentar do credor estende-se a obrigação. O fundamento que dá azo a continuidade da prestação não é mais o poder familiar (art. 1.566, IV do CC), pois este se encerra quando o filho atinge a 18 anos, e sim, o esculpido no art. 1.694 do CC que autoriza aos parentes em estado de necessidade a pedir alimentos entre si. Mais adiante voltaremos a tratar dos alimentos aos filhos maiores. 3.3. - Formas de fornecimento da prestação alimentícia Ao devedor de alimentos é facultado, por disposição do art. 1.701 do Código Civil, escolher a forma de fornecimento de alimentos: pode ser in natura, ou seja, é o alimentante quem se encarrega diretamente pelo sustento do alimentado concedendo-lhe alimento, moradia e educação. Esta modalidade, conforme Venosa (2003, p.377) é pouca praticada, haja vista, nas ações de alimentos as partes estarem desgastadas e preferirem não compartilhar o mesmo teto. A prestação alimentícia poderá ser também estipulada em dinheiro, em parcelas periódicas, em geral, pagas mensalmente. Todavia, deve-se ter sempre em mente que é o juiz quem deverá impor a melhor forma de prestar os alimentos, ao analisar o caso concreto. Cumpre salientar, que não é permitida ao alimentante a possibilidade de efetuar pagamento de todos os meses em uma só oportunidade, tampouco semestral ou anual. Tal vedação tem origem na natureza assistencial da obrigação. Pois, se o alimentado percebe todo o montante da obrigação, que se estenderia por vários anos, em uma única oportunidade e, por negligência ou descontrole, gasta rapidamente a quantia, de certo se verá outra vez em situação de necessidade, o que lhe dará direito a pleitear novos alimentos em face do alimentante. 3.4. - Prestação alimentícia aos filhos menores A prestação de alimentos aos filhos menores ou incapazes, é um dos deveres dos pais, e decorre do próprio direito natural. Neste sentido, ensina Cahali (2007, p. 361) que: Todos os esforços dos pais devem ser orientados no sentido de fazer do filho por ele gerado um ser em condições de viver por si mesmo, de desenvolver-se e sobreviver sem o auxílio de terceiros, tornando à sua vez capaz de ter filhos, em condições de criá-los. O artigo 229 da Constituição Federal de 1.988 trouxe o preceito que orientou o artigo 22 da Lei 8.069 de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente: "Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais". No que tange a obrigação de alimentar dos pais para com os filhos, a lei trata de duas formas distintas: uma no âmbito do poder familiar, regido pelo artigo 1.566, IV (sustento, guarda e educação dos filhos menores); e outra fora do pálio do poder familiar, mais ampla, de caráter geral e vinculada à relação de parentesco em linha reta (artigo 1696, CC), (CAHALI: 2007). Vejamos o Código Civil: 1.566. São deveres de ambos os cônjuges(...) IV - sustento, guarda e educação dos filhos; Maria Berenice Dias (2007, p.468) ensina que "entre sustento e alimentos há considerável diferença". A obrigação de sustento é obrigação de fazer, ou seja, é a obrigação decorrente do poder familiar que os pais têm de criar, assistir e educar os filhos menores. Por outro lado a obrigação de alimentos é obrigação de dar, ou seja, os pais têm obrigação de fornecer subsídios necessários à mantença dos filhos, geralmente representado pela prestação de certa quantia em dinheiro. Para Rizzardo (2004, p. 753), "o dever de prestar alimentos integra o dever de assistência que compete aos pais. (...) E, para o melhor desempenho desta importante função é que vem instituído o poder familiar". A denominação "poder familiar", disposta no Capitulo V do Subtítulo II, Título I do Livro IV do Código Civil, deriva do antigo "pátrio poder" do Código de 1.916. Esta mudança de denominação deve-se à equiparação constitucional disposta no artigo 226 da Constituição de 1.988, que estendeu à mãe os mesmos poderes e deveres dantes privativosdo pai. O instituto em apreço representa o "complexo de direitos e deveres quanto à pessoa e bens do filho, exercidos pelos pais na mais estrita colaboração, e em igualdade de condições." A doutrina entende que a denominação poder familiar não é condizente com as especificidades do instituto. Neste sentido, Fiúza (2006, p. 985), enfatiza que "talvez a melhor denominação fosse "poder Parental" por indicar o conjunto de poderes-deveres dos pais sobre os filhos". Neste sentido, Fiúza (2006, p. 985), enfatiza que "talvez a melhor denominação fosse "poder Parental" por indicar o conjunto de poderes-deveres dos pais sobre os filhos". Este "poder-dever" se estende para além dos da autoridade na criação e na educação dos filhos, pois cabe também aos pais a administração dos bens dos filhos, a imposição de certa conduta e ampla assistência de ordem alimentar e educacional. Na verdade, este poder não se limita à prestação de alimentos ou ao sustento os filhos menores, ele abarca também todo o amparo corporal, espiritual, moral, afetiva, de modo a prepará-los para enfrentarem a vida sozinhos. O descumprimento do dever alimentar determina, além de outras conseqüências, a suspensão do poder familiar, como determina o art. 1.637 do Código Civil, in verbis: Art. 1637. Se o pai, ou a mãe, abusar do seu poder, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha. Se os pais abusarem de seu poder ou se ferirem a legislação vigente, causando desamparo, abandono e sofrimento aos filhos, a pena é mais grave, podendo culminar na perda do poder familiar, desde que requerida pelo outro genitor, parente ou pelo representante do Ministério Público. É o que dispõe o 1.638, inc. lI, do Código Civil: "Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou mãe que (...) II - que o deixar o filho em abandono". Note-se que nesta situação, segundo Rizzardo: A suspensão ou perda não desobriga, por via de conseqüência, do dever de prestar alimentos. Do contrário, o progenitor faltoso restaria beneficiado ou favorecido, pois livres de um dos principais encargos em relação aos filhos, recaindo toda responsabilidade no outro cônjuge ou progenitor. (2004, p. 755). Sendo assim, deve ter sempre em mente que a perda do poder familiar é uma sanção e não um prêmio àquele que falta com as suas obrigações parentais. Lado outro, não justifica a não prestação dos alimentos pelos pais sob a alegação de falta de condições financeiras. Por mais pobres que eles sejam, devem contribuir com alguma parcela para o sustento dos filhos, pois o dever de sustentá-lo sobrepõe-se ao direito de terem os pais o suficiente para si. Outro ponto importante é que se o filho, embora menor, esteja desenvolvendo alguma atividade que lhe traga renda, suspende-se ou deixa de ser exercido o dever de prestar alimentos. É o que entende Rizzardo (2004, p. 755): Tendo ele desenvoltura física para o trabalho, e de fato auferindo salário ou renda de modo suficiente para se manter, não permanece a obrigação da prestação alimentícia. Comum é tal situação na separação dos pais, ou mesmo na persistência do casamento, quando os filhos se liberam e se tornam auto-suficientes economicamente. Nesta situação, no entanto, entram as regras que disciplinam a prestação alimentícia entre parentes, reclamando-se a satisfação dos requisitos da necessidade do filho e da possibilidade dos progenitores. 4. - Alimentos - Módulo IV 4.1. - Prestação alimentícia a filhos maiores Ao contrário do que ocorrem com os filhos menores, os filhos maiores e os demais parentes não dependem de proteção em todos os sentidos, esta se resume, substancialmente, a uma prestação material para a subsistência. Com relação a eles não é mais o poder familiar que determina a obrigação e, sim, a relação de parentesco conforme determinam os artigos 1694 e 1.710 do Código Civil. Rizzardo entende que: (...)"no tocante aos filhos maiores, a rigor, com a aquisição da capacidade civil cessa a obrigação de prestar alimentos, não se fazendo necessária a manifestação judicial. A extinção ocorre com o simples ato de alcançar a maioridade". (2004, p.761). Opostamente, a jurisprudência já entende que a exoneração da obrigação não é automática em relação ao filho que chegou à maioridade. O devedor tem de ajuizar ação de exoneração de alimentos em face do filho e, a este, é garantido o contraditório. Senão vejamos: TERCEIRA TURMA - STJ - Data do Julgamento - 10/10/2006 Ementa HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. ALIMENTOS. "A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consolidou-se no sentido de que a maioridade dos filhos não acarreta a exoneração automática da obrigação de prestar alimentos. Ordem denegada". Quanto à obrigatoriedade do contraditório nas ações de exoneração, temos: A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) aprovou a Súmula n. 358: "O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos." Portanto, alcançando os filhos a maioridade, deve cessar para os pais a obrigação alimentar decorrente do poder familiar. Entretanto, podem ocorrer situações especiais, como por exemplo: doença do filho, prolongamento dos estudos, desemprego, etc., que implicam numa necessidade de se prolongar a obrigação alimentar para além dos limites temporais. Nestes casos, a obrigação decorre do parentesco, do dever de assistência esculpido no artigo 1.694 do Código Civil, ficando a cargo do credor justificar a sua absoluta incapacidade de se sustentar. 4.2. - Alimentos na Separação e no Divórcio A obrigação alimentar no casamento decorre do dever de "mutua assistência", disposta no artigo 1.566, III do Código Civil. Logo, em caso de divórcio cabe à parte mais necessitada pedir alimentos à mais abastada. Isso vale tanto para a mulher quanto para o marido, consoante a equivalência jurídica recíproca a ambos (art.226, §5º da CR). Vale lembrar que em havendo culpa de um dos consortes ou na dissolução da sociedade conjugal ou na situação em que resultar a necessidade do credor, não tendo este, parentes em condições de socorrê-lo, caberá ao alimentante/inocente prover apenas os alimentos indispensáveis a subsistência do alimentado/culpado. 4.3. - Alimentos na União Estável Reconhecida constitucionalmente como entidade familiar (art. 226, § 3º CR), a união estável guarda pontos de similitude com o casamento. No que tange aos alimentos na união estável, muitos foram os debates acerca da concessão ou não de pensão alimentícia quando da ruptura do enlace amoroso. Entretanto, seguindo a evolução e a tendência das famílias modernas, adveio a Lei 8.971/94, que já no seu artigo 1º, autorizou os companheiros necessitados e não casados a se valerem da Lei 5.478/68 - Lei de Alimentos - para buscar a fixação de pensão alimentícia. Já a Lei 9.278/96 no artigo 2º, II - veio como complemento à Lei 8.971/94, reforçando o direito dos companheiros à assistência material recíproca. Na mesma esteira, o STF reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo, ao julgar a ADI 4277 e a ADPF 132 em maio de 2.011. Tal reconhecimento trouxe para a seara do Direito de Família as questões relacionadas aos casais homossexuais. Assim sendo, em se tratando de alimentos na dissolução da união estável hétero ou homossexual, aparte que deles vier a necessitar, deverá demonstrar os mesmos requisitos de concessão de pensão alimentícia, quais sejam: necessidade/possibilidade, a relação de dependência econômica experimentada durante a união estável e a impossibilidade de prover o próprio sustento. 4.4. - Ação de Alimentos A obrigação alimentar tem o caráter de ser obrigação judicialmente exigível. Assim, a ação de alimentos é a medida essencial para garantir a manutenção da vida. Tal ação se processa por Três ritos diferentes: o especial (leis 5.478/68 e 11.804/08), o ordinário (CPC 274) e o cautelar (CPC 852 a 854). Vejamos: Art. 852 - É lícito pedir alimentos provisionais: I - nas ações de desquite e de anulação de casamento, desde que estejam separados os cônjuges; II - nas ações de alimentos, desde o despacho da petição inicial; III - nos demais casos expressos em lei. Parágrafo único - No caso previsto no nº I deste artigo, a prestação alimentícia devida ao requerente abrange, além do que necessitar para sustento, habitação e vestuário, as despesas para custear a demanda. Art. 853 - Ainda que a causa principal penda de julgamento no tribunal, processar-se-á no primeiro grau de jurisdição o pedido de alimentos provisionais. Art. 854 - Na petição inicial, exporá o requerente as suas necessidades e as possibilidades do alimentante. Parágrafo único - O requerente poderá pedir que o juiz, ao despachar a petição inicial e sem audiência do requerido, lhe arbitre desde logo uma mensalidade para mantença. O rito especial requer que o vínculo obrigacional esteja perfeitamente definido, isto é, o autor tem de provar ser titular do direito, demonstrando a relação parental ou a obrigação alimentar de modo a não deixar incertezas quanto à sua condição de dependência alimentar em relação ao devedor. Neste caso, o juiz deve desde logo fixar alimentos provisórios, a não ser que o credor deixe expresso que deles não necessita. Havendo dúvidas ou discussões quanto à certeza do direito a alimentos, deve-se processar a ação pelo rito ordinário, pois este é o procedimento correto para se buscar o acertamento do direito. Consequentemente, uma vez não evidenciado o direito a alimentos, não caberia no rito ordinário a fixação de alimentos provisórios. Com relação ao procedimento cautelar, os artigos 852 a 854 do CPC, tratam da concessão dos alimentos provisionais nos casos de separação judicial ou anulação do casamento, desde que os cônjuges estejam separados de fato. Nestes casos, a concessão dos alimentos provisórios requer os pressupostos que autorizam o procedimento cautelar, quais sejam o fumus boni iuris e o periculum in mora. Vale lembrar que depois da promulgação da EC 66/10 não mais subsiste no direito pátrio a separação judicial e a administrativa, logo, a leitura dos dispositivos legais que tratam dessa matéria deve ser feita com precaução. 5. - Alimentos - Módulo V 5.1. - A petição Inicial Tendo em vista a necessidade de celeridade processual nas ações que versem sobre a concessão de alimentos, a Lei 5478/68 em seu artigo 1º caput, dispõe que: A ação de alimentos é de rito especial, independente de prévia distribuição e de anterior concessão do benefício de gratuidade. Assim, pode o autor ou se dirigir diretamente ao juiz e postular sua pretensão (que após, nomeará advogado), ou constituir ele mesmo advogado para que ajuíze a ação. Ao elaborar a peça de ingresso deve-se atentar para os requisitos expressos nos artigos 282 e 283 do CPC. Para obter maior celeridade e efetividade na ação alimentar, necessário se faz que o credor forneça ao juízo informações sobre devedor tais como: o endereço atualizado quem ira pagar a pensão; a renda mensal do alimentante; endereço do local de trabalho do devedor; dentre outras. 5.2. - A Execução de Alimentos. Prisão do Devedor Com relação à execução da obrigação alimentar, esta será tratada de forma mais aprofundada em outro curso no Jurisway. No entanto, trazemos à colação breves considerações sobre as formas de estimular o adimplemento. Conforme já visto acima, a obrigação alimentar tem a finalidade precípua de manutenção da vida. Portanto, faz-se necessário o rápido adimplemento da obrigação pelo devedor. Ocorre, que em muitos casos o adimplemento não é espontâneo por parte do alimentante, forçando ao alimentado buscar nas vias judiciais a garantia de sua sobrevivência. Após as mudanças introduzidas no CPC pela Lei 11.232/05, a execução de título judicial deixou de ser operada em um processo autônomo, passando a ser, após a prolação da sentença, apenas mais uma etapa do processo de conhecimento, qual seja: o cumprimento da sentença. Para atender a necessidade urgente do credor o CPC dispõe de procedimentos diferenciados para viabilizar a "execução" dos alimentos. Assim, para as prestações que vencerão no curso da ação deve-se utilizar do desconto em folha de pagamento do devedor, expropriação de alugueres ou de outros rendimentos do devedor (art.734). Para as prestações já vencidas existem duas outras formas: prisão do devedor para até três meses de atraso; e penhora de bens para aquelas prestações que se encontram em atraso por mais de três meses. A doutrina majoritária entende que com relação às prestações em atraso por mais de três meses não cabe o pedido de prisão civil do devedor (art. 733 do CPC), posto tais prestações terem perdido o seu caráter alimentar. Pressupõe-se que se o credor deixou ocorrer a mora por mais de três meses sem tomar providencias imediatas para reclamar o seu crédito, é que deles não precisava. Assim, estas prestações passariam a ser tratada como dívida comum do devedor para com o credor, o que permite inclusive a penhora de bens para satisfação do crédito (art. 732 do CPC). Vejamos a Sumula 309 do STJ: "O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é a que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo." Quanto à duração da prisão por inadimplemento, há uma antinomia entre o caput do art. 19 da lei 5478/68 que prevê prazo máximo de sessenta dias e o parágrafo primeiro do Art. 733 do CPC que prevê de um a três meses. Sem adentrarmos nos critérios para soluções das antinomias, o entendimento predominante na doutrina e na jurisprudência é que em se tratando de prisão civil por inadimplência voluntária e inescusável do alimentante, deve se optar pelo menor prazo previsto em lei - até 60 (sessenta) dias (art.19 da L.A), e não de 01 (um) a 03 (três) meses (art.733 do CPC), por se tratar de lei especial, e ser menos gravoso ao devedor, conforme art. 620 do CPC. 5.3. - Considerações Finais Este trabalho com base na doutrina e na jurisprudência abordou, de forma sucinta, a importância do instituto dos alimentos no direito pátrio. Inicialmente verificou-se que os alimentos em direito de família abarca o necessário ao sustento de quem deles necessita. Sem dúvida, cuida-se de instituto básico no direito de família. Neste contexto, a legislação brasileira identifica como sujeitos da obrigação alimentar os parentes, os companheiros e os cônjuges atribuindo-lhes a responsabilidade recíproca de prestar, uns aos outros, o necessário para a sua manutenção, pautando-se no binômio: necessidade /possibilidade. Considerado matéria de ordem pública, o instituto recebe tutela especial por parte do estado que, por sua vez, disponibiliza mecanismos coercitivos capazes compelir o devedor a adimplir tal obrigação, conferindo-lhe a efetividade desejada. Referências Bibliográficas BRASIL. Constituição Federal de 1988.BRASIL Código Civil. Lei n° 3.071 de 1° de janeiro de 1916. BRASIL. Código Civil. Lei n° 10406, de 10 de janeiro de 2002. BRASIL. Lei n° 6.515 de 26 de dezembro de 1977. Lei do Divórcio. BRASIL. Lei 8.069 de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. BRASIL. Lei 9.278, de 10 de maio de 1996. Regula o § 3° do art. 226 da Constituição Federal, dispondo sobre a convivência duradoura e contínua de um homem e uma mulher. BRASIL. Lei 11.232, de 22 de dezembro de 2.005. Altera a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, para estabelecer a fase de cumprimento das sentenças no processo de conhecimento e revogar dispositivos relativos à execução fundada em título judicial, e dá outras providências. BRASIL. Lei 11.804 de 5 de novembro de 2.008. Disciplina o direito a alimentos gravídicos e a forma como ele será exercido e dá outras providências CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. DIAS, Maria Berenice. Obrigação alimentar de tios, sobrinhos e primos. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 583, 10 fev. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp? id=6291>. Acesso em: document.write(capturado()); 28 maio 2008. ____, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4 ed. 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