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Penal Especial RogerioSanches IntensivoII 2009

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Direito Penal – Intensivo II – 1º Semestre 2009.
Prof. Rogério Sanches.
DIREITO PENAL
VI – PARTE ESPECIAL
CRIMES CONTRA A VIDA 
1. HOMICÍDIO 
1.1 Conceito 
Segundo Nelson Hungria, é o tipo central de crimes contra à vida e é o ponto culminante na orografia (ponto mais alto da montanha) dos crimes. É o crime por excelência. 
O art. 121, caput, do CP traz o homicídio doloso simples; o § 1º traz o doloso privilegiado; o § 2 traz o homicídio doloso qualificado; o § 3º traz o homicídio culposo; o § 4º traz majorantes; o § 5º traz o perdão judicial. O homicídio preterdoloso está previsto no art. 129, § 3º, CP, não sendo de competência do júri. A doutrina critica por não estar previsto no art. 121.
1.3 Homicídio Simples (art. 121, caput, CP)
É crime que só traz elementos objetivos. Para a doutrina causalista, este é o tipo normal. O anormal é o que traz elementos subjetivos e normativos.
“Art 121. Matar alguém: 
        Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
(...)”
1.3.1 Sujeito Ativo
É crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. 
OBS:
A doutrina questiona se irmãos xifópagos (unido pelo apêndice xifóide) podem praticar homicídio comum. Se for possível a separação cirúrgica, pode-se separar. Mas, a cirurgia não é obrigatória. 
1ª Corrente (Euclides da Silveira): o irmão que praticou o delito deve ser absolvido. Isso porque, deve-se evitar o recolhimento prisional do irmão inocente.
2ª Corrente: o irmão que praticou o delito deve ser condenado, porém só cumprir a pena se um dia o irmão inocente praticar crime. Deve-se evitar ofensa ao princípio da personalidade da pena. 
1.3.2 Sujeito Passivo
Pode ser vítima qualquer pessoa, ou seja, o ser humano (ser vivo nascido de mulher). 
Para César Roberto Bitencourt, quanto ao irmão xifópago (com coração único): (a) se o agente queria a morte de apenas um deles: há homicídio doloso do irmão que pretendia matar e homicídio com dolo de segundo grau, em concurso formal impróprio (porque há desígnios autônomos).
Quando a vítima for o Presidente da República: (a) haverá homicídio (art. 121, CP): se não houver motivação política, sendo o crime de competência do tribunal do júri; (b) haverá o crime do art. 29, L. 7.170/83: quando houver motivação política, sendo de competência do juiz singular, porque é crime contra a segurança nacional.
1.3.3 Conduta Punível
Pune-se a conduta de tirar a vida de alguém. Essa vida se refere a vida extra-uterina. 
	Vida Intra-uterina
	Vida Extra-uterina
	
Aborto
	
a) Homicídio
b) Infanticídio 
1.3.3.1 Início do Parto
A linha que divide os delitos de aborto e homicídio/infanticídio é o início do parto. 
A doutrina discute sobre o momento de início do parto:
1ª Corrente: o início do parto se dá com o completo e total desprendimento do feto das entranhas materna. Só a partir daí há homicídio.
2ª Corrente: o início do parto se dá desde as dores típicas do parto. Qualquer atividade a partir daí, configura homicídio.
3ª Corrente: o início do parto se dá com dilatação do colo do útero. Em tese, tem prevalecido essa corrente.
Mas, há casos em que não há dilatação, tendo a mulher que fazer cesariana. Por isso, não há corrente prevalente.
1.3.3.2 Eutanásia e Vida Viável 
Na eutanásia antecipa-se a morte de uma vida que parece inviável. Há homicídio mesmo que se trate de vida inviável. Ex: eutanásia.
1.3.4 Forma Livre
O homicídio é crime de execução livre, podendo ser praticado por ação ou omissão, por meios diretos ou indiretos.
1.3.5 Elemento Subjetivo
O homicídio é punido a título de dolo direto ou eventual, não exigindo motivos especiais (que pode configurar privilegio ou qualificadora).
1.3.6 Consumação
O homicídio se consuma com a morte.
Segundo a L. 9.434/97, a morte equivale a cessação da atividade encefálica. 
1.3.7 Tentativa
Admite-se a tentativa de homicídio, pois se trata de delito plurissubsistente (que permite o fracionamento da execução da conduta em vários atos), mesmo no dolo eventual porque querer ou aceitar denotam vontade (corrente majoritária).
	OBS:
Crime Hediondo e Homicídio Simples
O homicídio simples poderá ser considerado hediondo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por uma só pessoa do grupo (art. 1º, I, L. 8.072/90 – Lei dos Crimes Hediondos). Ex: chacina (matança generalizada). Chamado de homicídio condicionado (Mirabete), porque há uma condição necessária para o homicídio se tornar hediondo.
A doutrina discute sobre o número mínimo de integrantes do grupo:
1ª Corrente: grupo não se confunde com par (composto por duas pessoas), nem com bando (composto por quatro pessoas). Exige-se 3 pessoas para a formação de um grupo.
2ª Corrente: o grupo não se confunde com par. Por uma questão de segurança, o grupo se equipara ao bando, compondo-se de quatro pessoas.
1.4 Homicídio Privilegiado (art. 121, § 1º, CP)
“(...)
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
(...)”
1.4.1 Hipóteses de Privilegiadoras
São causas de diminuição de pena.
1.4.1.1 Praticar o crime impelido por motivo de relevante valor social
Significa matar para atender interesse da coletividade. Ex: matar o traidor da pátria; matar perigoso bandido que aterroriza a comunidade. Exige-se relevante valor social.
1.4.1.2 Praticar o crime impelido por motivo de relevante valor moral
Significa matar para atender interesse particular, porém, ligado aos sentimentos de compaixão, misericórdia ou piedade. A exposição de motivos do CP dá como exemplo desse homicídio a eutanásia. Exige-se relevante valor moral.
1.4.1.3 Homicídio Emocional
São requisitos do homicídio emocional:
A) Domínio de violenta emoção
O domínio não se confunde coma mera influencia de violenta emoção, que é mera circunstância atenuante. A diferença está relacionado ao grau: na mera influencia o domínio é mais absorvente (art. 65, CP).
B) Reação Imediata
A imediatidade da reação está relacionada a reação sem intervalo. A jurisprudência considera imediata qualquer reação durante o domínio da violenta emoção. Assim, coincidem os dois requisitos.
C) Injusta Provocação da Vítima
Não significa crime, bastando ato injusto. Ex: é conduta injusta da vítima o adultério (embora não seja crime). A injusta provocação pode ser dirigida contra terceiros. O agente não precisa ter sido a pessoa provocada. Ex: matar o estuprador da filha. 
1.4.2 Comunicação do Privilégio 
O privilegio se comunica a co-autores e partícipes?
Primeiramente, deve-se definir se as privilegiadoras são circunstâncias ou elementares. Após, deve-se decidir se elas são subjetivas ou objetivas. 
As circunstâncias são dados que agregados ao tipo penal influenciam na pena. As elementares são dados que agregados ao tipo penal influenciam na tipificação. A violência na subtração é um dado elementar. 
O privilegio é uma circunstância (e não uma elementar). Nos termos do art. 30 do CP, as circunstâncias só são comunicáveis quando objetivas. 
As circunstâncias subjetivas são aquelas relacionadas ao estado anímico do agente, motivo do crime ou condição pessoal do sujeito. As circunstâncias objetivas são aquelas relacionadas ao meio/modo de execução.
Todas as circunstâncias privilegiadoras do art. 121, § 1º, CP são objetivas. Portanto, são incomunicáveis.
“Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”
1.4.3 Natureza Jurídica do Privilégio 
Prevalece que é direito subjetivo do réu (preenchidos os requisitos, deve ser concedido), sendo discricionário apenas o quantum de diminuição (que pode variar de 1/6 a 1/3).1.5 Homicídio Qualificado (art. 121, § 2º, CP)
O homicídio qualificado é sempre crime hediondo.
1.5.1 Hipóteses de Homicídio Qualificado
1.5.1.1 Motivo Torpe
“(...)
§ 2° Se o homicídio é cometido: 
        I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;      
Natureza Subjetiva
É de natureza subjetiva. O motivo torpe significa motivo vil, ignóbil, repugnante e abjeto. É o homicídio mediante ganância. Quase sempre a torpeza está ligada à ganância. O legislador já deu um exemplo no próprio dispositivo: praticado mediante paga ou promessa de recompensa. É o chamado homicídio mercenário ou por mandato remunerado. Nesse caso, o legislador estabeleceu artifício de interpretação analógica, começando com exemplos e encerrando de forma genérica, permitindo que o juiz encontre outros casos.
Regra: Crime Monossubjetivo
O crime é monossubjetivo é o crime que pode ser praticado por uma ou mais pessoas. É a regra. O crime plurissubjetivo só pode ser praticado por pluralidade de agentes. O homicídio é crime monossubjetivo. Mas, há uma exceção: o homicídio mercenário é plurissubjetivo, pois só pode ser praticado por pluralidade de agentes. Necessariamente, deve haver o mandante e o executor.
Agentes Responsáveis pela Qualificadora 
Prevalece na jurisprudência que se trata de elementar subjetiva comunicável (STJ). Logo, respondem pela qualificadora o executor (sicário) e o mandante. 
Mas, para a doutrina moderna, trata-se de circunstância subjetiva incomunicável, respondendo apenas o executor pela qualificadora. Ex: o pai que contrata matador para matar estuprador da filha não agiu com ganância.
Promessa de Recompensa
Prevalece que a paga ou recompensa só podem ser de natureza econômica para configurar o homicídio mercenário. Não podem ser de natureza sexual. Mas, matar por motivo sexual é torpe do mesmo jeito, caindo no encerramento genérico.
Ciúme e Vingança 
O ciúme e a vingança podem configurar motivo torpe ou não, dependendo do que os motivou. 
1.5.1.2 Motivo Fútil
É de natureza subjetiva.
“(...)
   II - por motivo futil; 
(...)”
Conceito de Fútil
O motivo fútil é aquele em que o móvel do crime apresenta real desproporção entre o delito e sua causa moral. É a pequeneza do motivo. Não se confunde com motivo injusto. Injusto todo o crime é. A injustiça é própria de qualquer delito. 
Ausência de Motivos
1ª Corrente (prevalece na jurisprudência) Se o motivo fútil qualifica o crime, com mais razão qualifica o crime sem motivo.
2ª Corrente: motivo fútil não se confunde com a ausência de motivos. Não se admite a extensão da qualificadora para quem mata sem motivo, sob pena de analogia in mallan partem (analogia incriminadora). É a prevalente.
1.5.1.3 Meio Cruel
É de natureza objetiva.
“(...)        III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
(...)”
Interpretação analógica 
O legislador também se utilizou de técnica de interpretação analógica.
Homicídio com Emprego de Veneno 
É o chamado venefício. Será o único estudado aqui.
Conceito de Veneno
Segundo Magalhães Noronha, o veneno é a substancia biológica ou química, animal, mineral ou vegetal, capaz de perturbar ou destruir as funções vitais do organismo humano. Ex: ministrar açúcar para diabético.
Desconhecimento da Vítima
Só existe a qualificadora do veneno se ministrado insidiosamente, isto é, sem conhecimento da vítima. Obrigar a vítima a tomar veneno pode significar outra qualificadora.
19.03.09
1.5.1.4 Modo Surpresa
É de natureza objetiva.
“(...)
        IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; 
(...)”
O expediente utilizado pelo legislador foi a interpretação analógica, tendo em vista a impossibilidade de previsão de todas as maneiras que dificultam ou tornam impossível a defesa do ofendido.
A premeditação não gera necessariamente essa qualificadora. Assim, a premeditação, por si só, não qualifica o homicídio. 
A idade da vítima (tenra ou avançada), por si só, não gera essa qualificadora, pois constitui característica da vítima, e não recurso procurado pelo agente. Ex: matar idoso não induz essa qualificadora.
1.5.1.5 Fim Especial
É de natureza subjetiva. 
“(...)
        V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: 
(...)”
É o homicídio qualificado pela conexão. Há duas espécies de conexão:
a) Conexão teleológica: é aquela em que o agente prática o crime de homicídio para assegurar crime futuro. Ex: matar segurança da Gisele Bintchen para estuprá-la. O crime futuro deve ter sido praticado pelo próprio homicida ou pode ser para assegurar crime futuro praticado por terceira pessoa. Não precisa reunir no homicida a autoria dos crimes futuros. Para a incidência da qualificadora, basta matar com essa finalidade, dispensando-se a ocorrência do crime futuro. Ocorrendo o crime futuro, haverá cúmulo material de crimes. Ex: homicídio qualificado e estupro.
b) Conexão consequencial: é aquela em que o agente prática o crime para assegurar a impunidade, a ocultação ou vantagem de crime pretérito. Ex: matar gerente do banco que o reconheceu como ladrão da instituição financeira. O crime pretérito deve ter sido praticado pelo próprio homicida ou pode ser para assegurar crime pretérito praticado por terceira pessoa. Não precisa reunir no homicida a autoria dos crimes pretéritos.
	OBS:
A conexão ocasional é aquela em que o agente pratica homicídio por ocasião de outro crime. Não existe nexo finalístico. Esta conexão não qualifica o homicídio.
O cometimento do crime de homicídio para assegurar contravenção penal não gera esta qualificadora, mas pode gerar a do motivo torpe ou a do fútil.
	OBS:
“Homicídio Duplamente/Triplamente Qualificado”
Não há homicídio duplamente/triplamente qualificado, mas sim homicídio qualificado por duas ou mais circunstâncias.
1ª Corrente (STF): uma das circunstâncias será considerada como qualificadora, as demais serão consideradas como circunstâncias judiciais desfavoráveis para fins de cálculo da pena.
2ª Corrente: uma das circunstâncias será considerada como qualificadora, mas as demais servirão como agravante.
Homicídio Qualificado Privilegiado
É possível homicídio qualificado privilegiado quando a qualificadora for de natureza objetiva. Nos demais casos, há incompatibilidade.
PRIVILÉGIOS
(ART.121, § 1º,CP)
QUALIFICADORAS 
(ART.121, § 2º,CP)
Motivo valor social (subjetiva)
Motivo torpe (subjetiva)
Motivo valor moral (subjetiva)
Motivo fútil (subjetiva)
Emoção (subjetiva)
Meio cruel (objetiva)
Modo surpresa (objetiva)
Fim especial (subjetiva)
Quando a qualificadora for subjetiva, deverá prevalecer a qualificadora subjetiva sobre o privilegio subjetivo. Isso porque: (a) é reconhecido em primeiro lugar; (b) há maior beneficio para o réu.
A doutrina e jurisprudência discutem sobre a possibilidade de o homicídio qualificado privilegiado ser hediondo ou não: 
1ª Corrente: é hediondo, pois a L. 8.072/90 não excepciona essa figura criminosa. 
2ª Corrente (majoritária no STF/STJ): não é hediondo, pois o privilégio, preponderando sobre a qualificadora, retira este caráter do crime. Esta corrente trabalha com analogia in bonam partem com o art. 67 do CP.
“Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”
O art. 67 estabelece que no concurso entre agravante e atenuante prevalece a de natureza subjetiva. Da mesma forma, por analogia, noconcurso entre qualificadora e privilegio prevalece a de natureza subjetiva (privilegio).
1.6 Homicídio Culposo
“(...)
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
     Pena - detenção, de um a três anos. 
(...)”
1.6.1 Conceito
Ocorre quando o agente, com manifesta imprudência, negligencia ou imperícia, deixa de empregar a atenção ou diligência de que era capaz, provocando, com sua conduta, o resultado morte, previsto (culpa consciente) ou previsível (culpa inconsciente), porém, jamais querido ou aceito (exclusão do dolo direto/eventual).
1.6.2 Concorrência de Culpa da Vítima
A culpa concorrente da vítima não isenta o agente de pena, atenua sua responsabilidade (art. 59, CP). 
“Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”
	OBS:
Homicídio Culposo no CTB
A morte involuntária (homicídio culposo) é punida do art. 121, § 3, CP com pena de 1 a 3 anos, admitindo a suspensão condicional do processo. Adota-se o rito sumário.
Mas, a mesma morte involuntária praticada na direção de veiculo automotor é prevista no art. 302 do CTB com pena de 2 a 4 anos, não admitindo a suspensão condicional do processo. Adota-se o rito ordinário.
“Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
        Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
        Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de um terço à metade, se o agente:
        I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
        II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;
        III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente;
        IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.
        V - (Revogado pela Lei nº 11.705, de 2008)”
Logo, há dois crimes com resultados idênticos. O desvalor do resultado é idêntico. Por isso, há quem defenda a inconstitucionalidade da pena do homicídio culposo no CTB, porque há o tratamento de duas situações iguais de forma desigual (minoritária).
Mas quando se lembra que o desvalor da conduta é diferente. Esse desvalor justifica a diferença de penas. Isso porque, a conduta negligente no transito gera muito mais perigo do que a conduta negligente nas demais situações.
1.7 Homicídio Majorado
Esse dispositivo deve ser dividido em duas partes. A primeira parte traz majorantes exclusivas do homicídio culposo. A segunda parte traz majorantes exclusivas do homicídio doloso (privilegiado, simples ou qualificado).
“(...)
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
(...)”
1.7.1 Majorantes do Homicídio Culposo
1.7.1.1 Inobservância de regra técnica, de profissão, arte ou oficio.
Essa majorante não se confunda com a imperícia. Na imperícia, o agente não domina a técnica. Nessa majorante, o agente domina a técnica, apenas não a observa. é um caso de erro profissional. Ex: médico que costura paciente, mas deixa objetos dentro da vítima.
1.7.1.2 Omissão de Socorro
Ocorre quando o homicida omite socorro. Não se aplica o art. 135 do CP, evitando o bis in idem. 
“Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
        Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.”
Para incidir o aumento, é indispensável: (a) vítima viva (com vida). Se ela já estava morta, não há o que socorrer; (b) condições do agente socorrer a vítima sem risco pessoal.
O STF (HC 84.380/MG) decidiu que se o autor do crime, apesar de reunir condições para socorrer a vítima, não o faz, acreditando ser inútil sua ajuda em face da gravidade da lesão provocada, não escapa do aumento de pena.
1.7.1.3 Agente não procura diminuir as consequências do seu ato
Nesse caso, há redundância, porque também ocorre a omissão de socorro.
1.7.1.4 Fuga para evitar o flagrante
Isso demonstra insensibilidade moral do agente, ausência de escrúpulo do agente e prejudica a investigação. Para Rogério Sanches, isso significa obrigar o agente a produzir prova contra si mesmo.
1.7.2 Majorantes do Homicídio Doloso
1.7.2.1 Crime praticado contra pessoa menor de 14 anos
Para incidência do aumento de pena, deve-se verificar a idade da vítima no momento da conduta.
1.7.2.2 Crime praticado contra pessoa maior de 60 anos
1.8 Perdão Judicial
1.8.1 Conceito
É o instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática de um fato típico e antijurídico por um sujeito comprovadamente culpado, deixa de lhe aplicar a pena nas hipóteses taxativamente previstas em lei, levando em consideração determinadas circunstâncias que concorrem para o evento. Significa a perda do interesse de punir.
1.8.2 Diferença entre Perdão do Ofendido e Perdão Judicial
Ambos são causas extintivas da punibilidade. Mas, no perdão do ofendido é bilateral, precisando ser aceito. Já o perdão judicial é unilateral, não cabendo recusa da vítima.
1.8.3 Circunstância e Ônus da Prova
O juiz perdoa levando em consideração determinadas circunstâncias, que são quaisquer circunstâncias que concorrem para o crime demonstrando que a pena é desnecessária, mesmo que o agente não conheça a vítima. Ex: quando homicida ficou tretraplégico em razão do evento.
Essa circunstância deve ser demonstrada pela defesa. Logo, não se aplica o in dúbio pro reo.
1.8.4 Natureza Jurídica da Sentença Concessiva de Perdão Judicial
1ª Corrente: tem natureza de sentença condenatória. A sentença interrompe a prescrição; (b) Serve como título executivo. Para Capez há uma terceira repercussão prática: o perdão judicial pressupõe o devido processo legal. Isso significa que não cabe perdão judicial na fase de inquérito. 
2ª Corrente (majoritária – sum. 18, STJ): tem natureza de sentença declaratória extintiva da punibilidade. Consequências praticas: (a) não interrompe a prescrição. (b) não serve como título executivo. Para Capez há uma terceira repercussão prática: cabe na fase extrajudicial. Isso significa que o juiz pode perdoar na fase de inquérito. 
“Sum. 18. A sentença concessiva do perdão judicial e declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.”
Mas, o perdão judicial impõe reconhecimento de culpa, dependendo sempre de processo judicial. Representaria o reconhecimento de culpa sumariamente. Conforme o art. 397, CP, é impossível o julgamento antecipado da lide pro reo Art. 397, CPP. Nesse caso, não se admite a aplicação do perdão judicial, porque exige-se o fim da investigação criminal.
A súmula 18 do STJ está errada. O CP adotou a 1ª Corrente (art. 120, CP).
“Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial (apesar de condenatória) não será considerada para efeitos de reincidência.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)O art. 120 do CP só faz sentido quando se interpretar que a sentença “apesar de condenatória” não será considerada para fins de reincidência.
1.8.5 Perdão Judicial no Homicídio Culposo do CTB
O art. 300 do CTB trazia o perdão judicial. Mas esse dispositivo foi vetado. Mas, analisando-se as razões do veto, permite-se a aplicação, por analogia, do perdão judicial. Isso porque, o veto não foi em razão do conteúdo, mas sim porque desnecessária a previsão, tendo em vista já haver previsão no art. 121, § 5, do CP.
“(....)
        § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)”
2. PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO 
2.1 Previsão Legal
“Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
        Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. 
(...)”
2.2 Conceito de Suicídio 
O suicídio é a eliminação voluntária e direta da própria vida. Segundo Nelson Hungria, é indispensável a intenção de eliminação voluntária e direta da própria vida. 
O suicídio não é crime. Mas, prevalece que configura ilícito civil, embora esse entendimento seja questionável.
2.3 Sujeito Ativo
O suicídio é crime comum, não exigindo qualidade ou condição especial do agente. Qualquer pessoa pode induzir ou instigar alguém a suicidar-se. 
Admite-se a participação da participação do crime do art. 122 do CP. Ex: se “A” induz “B” a auxiliar “C” a praticar suicídio. “B” praticou o art. 122 do CP; enquanto “A” é participe do art. 122 do CP, concorrendo por crime principal de “B”.
2.4 Sujeito Passivo
Pode ser qualquer pessoa capaz, uma vez que o suicídio é a eliminação voluntária. 
Mas, apenas quem tem condições de discernimento tem condições de induzir ao suicídio. O induzimento de incapaz, não indica voluntariedade, configurando o crime de homicídio.
O sujeito passivo deve ser pessoa determinada. Não existe induzimento de pessoas indeterminadas. Assim, se a vítima for indeterminada, configura fato atípico. Não configura apologia ao crime, porque suicídio não é crime.
2.5 Conduta Punível 
São três comportamentos indicativos da participação:
2.5.1 Induzir 
Significa fazer nascer a vontade e a ideia mórbida. Chamada de participação moral.
2.5.2 Instigar
O agente reforça ideia já existente. Chamada de participação moral.
2.5.3 Auxiliar
Significa prestar assistência material. Ex: prestar arma, veneno etc. Chamada de participação material.
A doutrina discute se é possível auxílio por omissão. Trata-se de crime de ação múltipla (plurinuclear). 1ª Corrente: a expressão “prestar-lhe auxílio” indica que só admite conduta comissiva. Assim, só seria possível auxilio por ação. 2ª Corrente (majoritária): é possível auxilio por omissão desde que o omitente tenha o dever jurídico de evitar o resultado (omissão imprópria).
	OBS:
Cooperação Secundária 
O auxilio deve ser sempre acessório, isto é, cooperação secundária. Quando o auxilio intervém nos atos executórios, o agente colaborador responderá por homicídio.
Arrependimento e Omissão 
Responde por homicídio (e não pelo art. 122 do CP) aquele que depois de auxiliar a vítima não a socorre diante do seu arrependimento. 
Constrangimento Ilegal
O art. 146, § 3º, II, CP diz que não configura constrangimento ilegal a coação exercida para impedir o suicídio.
2.6 Elemento Subjetivo 
O tipo é punido a título de dolo. Não se tipificou a conduta culposa. A doutrina discute sobre a conduta da pessoa negligentemente que contribuiu para o suicídio de alguém: 1ª Corrente: a cooperação culposa deve ser punida a título de homicídio culposo; 2ª Corrente (majoritária): o fato pode configurar no máximo, omissão de socorro, a depender do caso. Caso contrário, o fato será atípico.
2.7 Consumação e Tentativa
“(...)
        Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. 
(...)”
	DOUTRINA CLÁSSICA
	DOUTRINA MODERNA
(Prevalente) 
	CÉSAR ROBERTO BITENCOURT
	
No momento de induzimento, auxílio, instigação, o crime está consumado, embora a punibilidade dependa da morte (pena de 2 a 6 anos) ou da lesão grave (pena de 1 a 3 anos) 
	
No momento de induzimento, auxílio, instigação, não há consumação do ato. São atos executórios. Para consumação, depende-se da ocorrência dos resultados naturalísticos morte/lesão grave.
	
No momento de induzimento, auxílio, instigação, não há consumação do ato.
O crime se consuma com a morte. 
	
Os resultados condicionam à punibilidade. Logo, a natureza jurídica do resultado é de condição objetiva de punibilidade.
	
O resultado é marco da consumação.
	
	
Situações:
a) Induz e pessoa morre: o agente responderá pelo art. 122 consumado e punível (pena de 2 a 6 anos). 
b) Induz e pessoa sofre lesão grave: o agente responderá pelo art. 122 consumado e punível (pena de 1 a 3 anos). 
c) Induz e pessoa não morre e não sofre lesão grave: estará configurado o art. 122 consumado, mas não punível.
	
Situações:
a) Induz e pessoa morre: o agente responderá pelo art. 122 consumado e punível (pena de 2 a 6 anos).
b) Induz e pessoa sofre lesão grave: o agente responderá pelo art. 122 consumado e punível (pena de 1 a 3 anos). 
c) Induz e pessoa não morre e não sofre lesão grave: haverá fato atípico.
	
Situações:
a) Induz e pessoa morre: o agente responderá pelo art. 122 consumado e punível.
b) Induz e pessoa sofre lesão grave: o agente responderá pelo art. 122 tentado.
c) Induz e pessoa não morre e não sofre lesão grave: haverá fato atípico.
	
Observação:
Não admite tentativa
	
Observação:
Não admite tentativa
Assim, é exemplo de crime plurissubsistente (conduta pode ser fracionada) material (depende de resultado naturalístico), que não admite tentativa.
	
Observação:
Admite tentativa que ocorrer lesão grave, haverá apenas tentativa punida de maneira sui generis, porque o legislador já reduziu a pena, não havendo aplicação do art. 14 do CP.
	
Equívoco da Corrente: 
Não se trata de condição objetiva de punibilidade (porque é algo alcançado pelo dolo/finalidade do agente). A condição objetiva de punibilidade é exterior ao dolo do agente. Assim, na verdade, trata-se de resultado naturalístico.
	
	
Equívoco de Cesar
César confunde o resultado com a consumação. O crime não é o suicídio, mas a participação em suicídio. A consumação e tentativa são da participação. 
2.8 Duelo Americano, Roleta Russa, Ambicídio
2.8.1 Duelo Americano
O duelo americano ocorre quando, havendo duas armas estando apenas uma carregada, na cada um atira na sua própria cabeça. Aquele que sobreviver responderá pelo art. 122 do CP. 
2.8.2 Roleta Russa
Na roleta russa, só há uma arma. No tambor dessa arma, só há um projétil. Cada um dos participantes da “brincadeira” roleta a arma e atira na sua própria cabeça. Aquele que sobreviver responderá por participação em suicídio.
2.8.3 Ambicídio 
É o conhecido “Pacto de Morte”.
Exemplo: “A” e “B” decidem morrer juntos, asfixiados numa sala fechada, tendo “B” aberto a torneira de gás. Cada participante responderá pela conduta, de acordo com as seguintes situações:
1ª Situação: “A” morre asfixiada e “B” sobrevive, que responderá por homicídio quando praticar atos executórios. Ex: ligar a torneira de gás da sala. 
2ª Situação: “B” morre e “A” sobrevive, respondendo por participação em suicídio.
3ª Situação: “A” e “B” sobrevivem. “B” responderá por homicídio tentado. Se “B” sofreu lesão grave, “A” responderá pelo art. 122 (pena de 1 a 3 anos). Mas,se “B” não sofreu lesão grave, o fato será atípico para “A”.
30.03.09
2.9 Causas de Aumento de Pena (art. 122, § único, CP)
“(...)
Parágrafo único - A pena é duplicada:
        Aumento de pena
        I - se o crime é praticado por motivo egoístico; 
        II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.”
Prevalece que se trata de causa de aumento de pena (majorante, e não de uma qualificadora), motivo pelo qual a pena é duplicada na terceira fase. As hipóteses de causa de aumento:
2.9.1 Motivo egoístico
O agente participa de suicídio para atender interesses pessoais. Ex: participar de suicídio de alguém, sabendo que será o herdeiro, movido por ganância.
 
“(...)
Parágrafo único - A pena é duplicada:
        I - se o crime é praticado por motivo egoístico; 
2.9.2 Vítima menor
“(...)
        II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.”
A lei não explica o que significa menor. Mas, a doutrina conceitua o menor como sendo aquele que tem idade inferior a 18 anos (incompletos). Para parte da doutrina, a vítima será incapaz até 14 anos. Nesse caso, a vítima é considerada incapaz. Utilizou-se a presunção de violência do estupro (art. 224, “a”, CP) para definir o limite mínimo de idade. Isso porque, se a vítima não maior de 14 anos é incapaz de consentir no ato sexual, o que dirá no consentimento de um ato que irá ceifar sua vida. Essa presunção representa analogia maléfica (in mallan partem).
“Art. 224 - Presume-se a violência, se a vítima: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
        a) não é maior de catorze anos;
        b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância;
        c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência.”
Mas, para Mirabete e Nelson Hungria, a vítima é menor até ser considerada incapaz conforme análise do juiz no caso em concreto. 
2.9.2.1 Situações:
a) Participar de suicídio de vítima maior de 18 anos, capaz: o agente praticou o crime de participação em suicídio simples (art.122, CP)
b) maior de 18 anos, incapaz: o agente praticou crime de homicídio (art. 121, CP)
c) menor de 18 anos, não incapaz (ex: 16 anos): o agente praticou o crime de participação em suicídio majorado (art. 122, § único, II, CP)
d) menor de 18 anos, incapaz: o agente praticou o crime de homicídio (art. 121, CP)
e) menor de 18 anos (ex: 13 anos): o agente praticou: 1ª Corrente: com fundamento no art. 224, “a”, é considerada presumidamente incapaz, motivo pelo qual o agente praticou o delito de homicídio (art. 121, CP); 2ª Corrente: depende do caso concreto: (a) se não incapaz,o agente praticou o crime de participação (art. 122, § único); (b) se incapaz, o a gente praticou o crime de homicídio (art. 121, CP).
	OBS:
O agente deve ter conhecimento da condição etária da vítima, para se evitar a responsabilidade objetiva.
2.9.3 Vítima tiver diminuída a capacidade de resistência 
“(...)
        II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.”
3. INFANTICÍDIO (art. 123, CP)
Trata-se do homicídio praticado pela própria mãe em face do filho.
“Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
        Pena - detenção, de dois a seis anos.” 
3.1 Conflito Aparente de Normas entre Infanticídio e Homicídio 
O princípio norteador da solução do conflito é o da especialidade. Ambos os delitos punem “matar alguém”. Mas, o art. 123 do CP tem todos os elementos do art. 121 do CP e mais alguns, chamados de especializantes. Por isso, a doutrina chama o infanticídio de homicídio especial (homicídio privilegiado).
O homicídio exige sujeito ativo e passivo próprio praticado numa condição de tempo cronológica e em certa condição psíquica.
3.2 Sujeito Ativo
O sujeito ativo é próprio, só podendo ser a parturiente (sob influencia do estado puerperal).
3.2.1 Concurso de Agentes
1ª Corrente (Nelson Hungria): não se admite concurso de agentes, pois o estado puerperal é elementar personalíssima incomunicável. Assim, aquele que concorrer com a parturiente responderá por homicídio.
2ª Corrente (majoritária): admite-se concurso de agentes, pois o estado puerperal é uma elementar subjetiva comunicável nos termos do art. 30 do CP. Nelson Hungria passou a adotar esta corrente nas últimas edições do seu livro, porque o art. 30 do CP não previu elementares personalíssimas.
3.2.2 Situações de Concurso de Agentes
A) A parturiente e o médico matam o neonato: os agentes praticam suicídio em co-autoria. Assim, são co-autores de infanticídio.
B) A parturiente mata e o médico auxilia a matar o neonato: a mãe praticou o crime de infanticídio e o médico praticou o art. 123 do CP na condição de participe.
C) O médico mata e a parturiente instiga: tecnicamente, o médico responderá por homicídio e a parturiente por homicídio na condição de participe. Mas, há uma incoerência. Para evitar a incoerência: 1ª Corrente (majoritária): ambos respondem pelo art. 123 do CP. 2ª Corrente: o médico responderá por homicídio (art. 121, CP), enquanto a parturiente responderá por suicídio (art. 123, CP), criando uma exceção pluralista a teoria monista.
3.3 Sujeito Passivo 
O sujeito passivo é próprio, só podendo ser o próprio filho nascente ou neonato. 
	OBS:
Trata-se de crime bipróprio, porque é próprio no sujeito passivo e ativo.
Se a mãe matar por engano o filho de outra, sob influencia do estado puerperal, responderá por infanticídio, pois se consideram as qualidades da vítima virtual, e não da vítima real (art. 20, § 3, CP – aberratio ictus). 
Mas, se o filho já estivesse morto, a mãe não responderá por crime impossível, mas sim por infanticídio. Isso porque, o art. 20, § 3, do CP considera situação hipotética. 
“(...)
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
(...)”
	OBS:
Diferença entre Infanticídio e Abandono de Recém Nascido (art. 134, CP)
“Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:
        Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
        § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
        Pena - detenção, de um a três anos.
        § 2º - Se resulta a morte:
        Pena - detenção, de dois a seis anos.”
Infanticídio
Abandono de Recém Nascido
(art. 134, CP)
A mãe age com dolo de dano
A mãe age com dolo de perigo.
A intenção é matar.
A intenção é abandonar para ocultar desonra própria.
Morte dolosa
Morte preterdolosa
A competência é do Tribunal do Júri.
A competência é da justiça comum.
3.4 Condição Cronológica
Exige condição de tempo (cronológica) e condição psíquica. 
3.5 Requisitos do Crime
3.5.1 Verbo: matar
O crime é de execução livre, podendo ser praticado por ação ou omissão, por meios diretos ou indiretos. 
3.5.2 Circunstância temporal
O crime deve ser praticado durante ou logo após o parto. Se for antes do parto, o crime praticado será de aborto. Se muito depois do parto, o crime será o de homicídio. A expressão “logo após o parto” é delimitada pela jurisprudência como aquele momento enquanto perdurar o estado puerperal.
3.5.3 Condição Psíquica 
A condição é: “sob a influência do estado puerperal”.
	OBS:
Conceito de Estado Puerperal
O estado puerperal é o estado que envolve a parturiente durante a expulsão da criança do ventre materno. Trata-se de um desequilíbrio fisiopsicológico oriundo do parto.
Conceito de Puerpério 
É o período que se estende do início do parto até a volta da mulher às condições pré-gravidez.Não basta que a gestante esteja envolvida pelo estado puerperal. É preciso que haja uma relação de causa e efeito entre o estado puerperal e o crime, pois nem sempre referido estado gera a vontade mórbida.
O estado puerperal pode configurar uma semi-imputabilidade. O juiz pode impor Medida de Segurança. Assim, dependendo do grau do desequilíbrio fisiopsicológico, a parturiente poderá ser tratada como doente mental, o que permite a aplicação de medida de segurança.
3.6 Elemento Subjetivo
O infanticídio só é punido a título de dolo. Não há modalidade culposa. Se a parturiente negligentemente, sob influencia do estado puerperal, sufoca o filho, a doutrina diverge quanto à responsabilidade da agente: 
1ª Corrente: fato atípico, pois o estado puerperal inviabiliza a comparação da sua diligência com a do homem médio. 
2ª Corrente (majoritária): o estado puerperal não retira da parturiente o poder de discernimento e previsibilidade, persistindo o dever de cuidado objetivo. Por isso, responderá por homicídio culposo. 
3.7 Consumação 
O crime se consuma com a morte do neonato ou recém-nascido.
4. ABORTAMENTO (art. 124, CP)
        “Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
        Pena - detenção, de um a três anos.” 
4.1 Distinção entre Aborto e Abortamento
Para uma 1ª Corrente, aborto e abortamento são termos sinônimos.
Para uma 2ª Corrente: abortamento é a conduta, enquanto o aborto é o resultado.
4.2 Conceito de Aborto
É a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção.
4.2.1 Gravidez 
A gravidez abrange a natural ou a artificial (inseminação artificial).
O art. 4, item 1, da Convenção Americana de Direitos Humanos prevê que: 
“Art. 4º. Toda a pessoa tem direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção.” 
A fecundação é o encontro do espermatozóide com o óvulo, que será depositado no útero (nidação). A concepção se dá com a fecundação ou com a nidação? Prevalece que a gravidez com a nidação. Se fosse com a fecundação, a pílula seria abortiva.
	OBS:
Contravenção Penal (art. 20, L. Cont. Penal)
Não confundir com apologia ao crime.
4.3 Classificação de Aborto 
4.3.1 Aborto Natural
É a interrupção espontânea da gravidez, normalmente causada por problemas de saúde da gestante ou má formação do feto. Trata-se de um indiferente penal.
4.3.2 Aborto Acidental
É aquele decorrente de quedas e traumatismos (acidentes) em geral. Trata-se de um indiferente penal. 
4.3.3 Aborto Criminoso (art. 124/127, CP)
“Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
        Pena - detenção, de um a três anos.”
 
“Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
        Pena - reclusão, de três a dez anos. 
        Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
        Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
“Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas      causas, lhe sobrevém a morte.”
4.3.4 Aborto Legal ou Permitido (art. 128, CP) 
“Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
        Aborto necessário
        I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
        Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
        II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.”
4.3.5 Aborto Miserável ou Econômico-social
É aquele praticado por razões de miséria (incapacidade financeira de sustentar a vida futura). Configura crime.
4.3.6 Abortamento honoris causa
Realizado para interromper e ocultar gravidez adulterina. Configura crime.
4.3.7 Abortamento Eugênico ou Eugenésico
Praticado para evitar o nascimento de feto com vida extra-uterina inviável. A anencefalia é uma espécie de abortamento eugenésico.
4.4 Aborto Criminoso
4.4.1 Pune a gestante praticando aborto ou a gestante consentindo que outro lhe o provoque (art. 124, CP)
“Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
        Pena - detenção, de um a três anos.” 
4.4.1.1 Sujeito Ativo
Não se trata de crime comum, pois exige qualidade especial do agente. A doutrina discute se é crime próprio ou de mão própria: 
1ª Corrente (César Roberto Bitencourt – parece a prevalente), trata-se de crime de mão própria, não admitindo. O provocador responde pelo art. 126 e a gestante pelo art.124. Nesse sentido, o co-autor tem crime próprio. 
2ª Corrente (Luis Regis Prado): esta-se diante de uma exceção pluralista a Teoria Monista, isto, é há co-autores respondendo por tipos diversos, que não perdem a qualidade de co-autores.
	Crime Comum
	- Não exige qualidade especial do agente
- Admite: (a) co-autoria e
 (b) participação 	 
	Crime Próprio 
	- Exige qualidade especial do agente
- Admite: (a) co-autoria e
 (b) participação
	Crime de mão própria 
	- Exige qualidade especial do agente
- Só admite participação.
4.4.1.2 Sujeito Passivo
1ª Corrente: a vítima é o estado. O feto não é vítima, porque o feto só é sujeito de direitos para a o direito civil. A gravidez de gêmeos configura crime único.
2ª Corrente: a vítima é o feto, pois a Convenção Americana diz que o sujeito é sujeito de direitos desde a concepção. O reflexo pratico está na gravidez de gêmeos. Há concurso formal impróprio (com desígnios autônomos) de delitos, havendo soma das penas.
 4.4.1.3 Condutas puníveis 
A) Provocar Aborto
B) Consentir que outrem provoque aborto
4.4.1.4 Elemento Subjetivo 
O crime é punido a título de dolo. A gestante pode praticar o crime a título de dolo eventual? Nelson Hungria dá o exemplo da gestante suicida que não morre, mas interrompe a gravidez. Responderá pelo crime aborto a título de dolo eventual.
4.4.1.5 Consumação
Consuma-se o crime do art. 124 do CP com a morte do feto (todas as etapas da vida intra-uterina, desde o momento da nidação) pouco importando se esta ocorre dentro ou fora do ventre materno, desde que decorrente das manobras abortivas. 
Mas, se a mãe expelir o feto com vida e matá-lo, praticará homicídio em razão da renovação da execução. Nesse caso, a tentativa de aborto ficará absorvida pelo homicídio por proteger o mesmo bem jurídico.
4.4.1.6 Tentativa 
A tentativa é admitida quando, praticada a manobra abortiva, não conseguir a agente obter o resultado.
4.4.2 Pune provocador sem autorização da gestante (art. 125, CP)
“Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
        Pena - reclusão, de três a dez anos.” 
É a forma mais grave de abortamento. É o único abortamento inafiançável.
4.4.2.1 Sujeito Ativo
É crime comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa.
4.4.2.2 Sujeito Passivo
Trata-se de crime de dupla subjetividade passiva, pois há duas vítimas: o feto e a gestante. 
4.4.2.3 Conduta Punível 
Pune-se a conduta de provocar aborto sem o consentimento da gestante.pode-se estar diante de um: (a) dissenso real: não consentimento; (b) dissenso presumido: para menor de 14 anos, alienada mental ou quando consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência (art. 126, § único, CP) 
“(...)
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.”4.4.2.4 Elemento Subjetivo 
O crime é punido somente a título de dolo. Não há modalidade culposa. Mas, nas hipóteses de dissenso presumido, o agente deve saber que a vítima não é maior de 14 anos, que a vítima é alienada mental etc., para evitar a responsabilidade objetiva. Caso contrário, responderá pelo art. 126 do CP.
	OBS:
Concurso Formal Impróprio de Aborto e Homicídio 
Aquele que mata mulher grávida responde pelos crimes de homicídio e de aborto em concurso formal impróprio (se tiver desígnios autônomos). 
4.4.2.5 Consumação 
Consuma-se com a interrupção da gravidez e destruição do produto do crime, ou seja, com a morte do feto.
4.4.2.6 Tentativa
Admite-se a tentativa
4.4.2.7 Situações:
A) O namorado convence a namorada a procurar a abortadeira. Nesse caso, a gestante consentiu que outrem provocasse aborto, praticando o crime do art. 124 do CP. A abortadeira (provocador) prática o crime do art. 126 do CP. O namorado responderá como partícipe do crime do art. 124 do CP, uma vez que assessorou a namorada.
B) O namorado paga a abortadeira para interromper a gravidez com o consentimento da namorada. Nesse caso, a gestante responderá pelo art. 124 do CP. O provocador responderá pelo art. 126 do CP. Conforme a jurisprudência, o namorado responderá como participe do art. 126 do CP, por ter auxiliado o provocador (com o pagamento).
4.4.3 Pune o provocador com o consentimento da gestante (art. 126, CP)
“Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.”
4.4.3.1 Sujeito Ativo
O crime é comum, pois qualquer pessoa pode praticar esse crime (sujeito ativo comum).
4.4.3.2 Sujeito Passivo
O sujeito passivo é o feto.
4.4.3.3 Conduta Punível 
Interromper a gravidez criminosamente com consentimento válido da gestante. Mas, se durante as manobras abortivas a gestante se arrepende, o agente prosseguindo responderá pelo art. 125 do CP. 
Também responderá pelo art. 125 se a gestante não for maior de 14 anos, ou é alienada ou débil mental (art. 126, § único, CP). Nessas hipóteses, a lei desconsidera o consentimento da mãe.
4.4.3.4 Elemento Subjetivo 
O crime é punido a título de dolo.
4.4.3.5 Consumação 
Consuma-se com a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção.
4.4.3.6 Tentativa
Admite-se a tentativa.
4.4 Qualificadora (art. 127, CP)
“Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.”
O art. 127 do CP diz que “as penas cominadas nos dois artigos anteriores”. Significa que a qualificadora do art. 127 do CP aplica-se apenas nos art. 125 e art. 126 do CP, que prevê as condutas do provocador (e não da gestante). Isso porque, o direito penal não pune a autolesão.
4.4.1 Resultado Lesão Grave ou Morte
Esta-se diante de um preterdolo, isto é, dolo no aborto e culpa na lesão ou morte. Nesse caso, o agente não responderá em concurso de crimes.
A interrupção da gravidez é dispensável para que se configure a qualificadora.
O médico que, em razão das manobras abortivas, mata a gestante, porém, não consegue interromper a gravidez, responderá pelo crime de: 
1ª Corrente: aborto qualificado consumado, pois: (a) trata-se de crime preterdoloso, não admitindo tentativa; (b) adota o mesmo espírito da sum. 610 do STF, sendo assim: há crime de aborto consumado quando a morte se consuma ainda que não se interrompa a gravidez.
2ª Corrente (majoritária): aborto qualificado tentado. Nesse caso, admite-se a tentativa em crime preterdoloso. Entende-se que se o que ficou frustrado for a parte dolosa do crime preterdoloso, admite-se a tentativa. Nesse sentido, apenas quanto à parte culposa do crime preterdoloso não se admite tentativa.
 
4.5 Aborto Legal ou Permitido (art. 128, CP)
“Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
        Aborto necessário
        I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
        Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
        II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.”
4.5.1 Espécies de Aborto Legal
Há duas espécies: a) aborto necessário ou terapêutico (art. 128, I, CP); (b) aborto sentimental ou humanitário ou ético (art. 128, II, CP).
4.5.2 Natureza jurídica 
Esses abortos não são punidos. Isso porque, são formas especiais de exclusão da ilicitude. São descriminantes especiais. Mas, para os adeptos da tipicidade conglobante, são causas de atipicidade (atipia). Não são causas de extinção da punibilidade, embora o dispositivo legal refira que “não se pune”.
4.5.3 Abortamento Necessário (art. 128, I, CP)
4.5.3.1 Requisitos
A) Praticado por médico 
Se for praticado por enfermeiro ou farmacêutico, não se aplica o art. 128 do CP, mas sim o art. 24 do CP (estado de necessidade de terceiro). 
B) Para salvar a vida da gestante
Significa necessidade da vida em risco, não bastando estar em risco a saúde.
C) Inevitabilidade do comportamento abortivo (do aborto)
Significa que não há outro meio de salvar a vida da gestante.
	OBS:
Não se exige consentimento da gestante. O médico deve interromper a gravidez mesmo contra a vontade dela. A lei não exige a autorização judicial. Logo, dispensa-se a autorização judicial, bastando resguarda-se de laudos sobre o risco de vida da gestante.
4.5.4 Abortamento Sentimental (art. 128, II, CP)
4.5.4.1 Requisitos
A) Praticado por médico 
Se for praticado por enfermeiro ou farmacêutico, não se aplica o art. 128 do CP, respondendo pelo crime de abortamento. Nesse caso, não há estado de necessidade de terceiro.
B) Gravidez resultante de estupro
Prevalece que o estupro pode ser com violência real ou presumida. Mas, quem não admita no estupro presumido. Se a gravidez resultar de atentado violento ao pudor, prevalece a aplicação do art. 128, II, do CP por analogia in bonan partem.
C) Consentimento da gestante ou de representante legal (quando incapaz)
	OBS:
Não exige Boletim de Ocorrência. Porém, o STF recentemente o exigiu. Para a doutrina, o estupro não precisa se materializar em BO, podendo o médico se resguardar de outra forma.
Dispensa-se a autorização judicial.
16.04.09
4.6 Abortamento do Feto Anencefálico 
4.6.1 Conceito de Anencéfalo 
A anencéfalo, isto é, embrião, feto ou recém nascido, que, por má formação congênita, não possui uma parte do sistema nervoso central, ou melhor, faltam-lhe os hemisférios cerebrais e tem uma parcela do tronco encefálico.
A doutrina e a jurisprudência discutem se o feto anencefálico tem vida viável.
4.6.2 Aborto de Feto Anencefálico e Crime
	LEI
	DOUTRINA
	JURISPRUDÊNCIA
	
O aborto de feto anencefálico é crime, pois não está permitido por lei. Assim, de lege lata é crime.
	
O abortamento de feto anencefálico pode configurar hipótese de exclusão da culpabilidade da gestante. Seria caso de inexigibilidade de conduta diversa (César Roberto Bitencourt).
	
O abortamento de feto anencefálico é admitido, desde que:
a) haja uma anomalia que inviabilize a vida extrauterina. 
B) anomalia comprovada em perícia medica.
c) prova do dano psicológico da gestante.
	
A exposição de motivos do CP considera crime.
OBS:
é argumento simplista.
	
O feto anencefálico não tem atividade cerebral, portanto, não tem vida intrauterina. Assim, não morre juridicamente.
	
O STF (ADPF 54) autorizou, liminarmente, o abortamento de feto anencefálico(embora o pleno tenha cassado a liminar em parte), pelo seguinte argumento: diante de uma deformação irreversível do feto, há de se lançar mão dos avanços médicos e tecnológicos, postos à disposição da humanidade, não para simples inserção no dia a dia, de sentimentos mórbidos, mas, justamente, para fazê-los cessar.
	
Existe projeto de lei, tramitando no Congresso, autorizando (de lege ferenda).
	
Obrigar uma mulher a gestação de um feto anencefálico fere o princípio da dignidade da pessoa humana.
	
OBS:
O argumento do STF não é argumento jurídico.
5. CRIME DE LESÃO CORPORAL
5.1 Tipos de Lesão
O crime de lesão corporal está dividido da seguinte forma no CP (art. 129, caput):
A) Lesão dolosa leve (art. 129, caput)
B) Lesão dolosa (ou preterdolosa) grave (art.129, § 1º)
C) Lesão dolosa (ou preterdolosa) gravíssima (art. 129, § 2º)
D) Lesão preterdolosa (seguida de morte: homicídio preterdoloso – art. 129, § 3º)
E) Lesão culposa (art. 129, § 6º)
F) Lesão no ambiente doméstico e familiar (art.129, §§ 9º, 10 e 11)
5.2 Bem Jurídico Tutelado
É a incolumidade pessoal do individuo. Significa que o legislador protege a saúde corporal, fisiológica e a mental. Isso está na exposição de motivos, item 42, do CP.
5.3 Sujeito Ativo
O crime de lesão corporal é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. O CP não exige condição especial do agente. Mas, parte da doutrina (minoritária) sustenta que nos §§ 9, 10 e 11 (violência no âmbito familiar) há crime próprio, porque se exige uma relação especial entre os sujeitos (vítima e agente).
“(...)
        § 9o  Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
        § 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
        § 11.  Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006)”
Se o sujeito ativo for policial militar, haverá a prática de crime de abuso de autoridade em concurso com lesão corporal (posição majoritária). Nesse caso, um crime não absorve o outro por se tratarem de crimes diversos. Quanto à competência: (a) a justiça militar só julgará o crime militar (lesão corporal); (b) o crime de abuso de autoridade será julgado pela justiça comum (sum. 172, STJ).
“Sum. 172. Compete à justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.”
	OBS:
Autor Mediato
Apesar de o direito penal não punir a auto-lesão, a pessoa que convence incapaz a praticar lesão corporal no próprio corpo realiza o delito de lesão corporal na condição de autor mediato.
A vítima se esquiva de agressão do agente, mas escorrega e sofre lesão de natureza grave. Nesse caso, o agente responderá por lesão consumada. Isso porque, a queda com a fratura é uma concausa relativamente independente superveniente que não, por si só, produziu o resultado, conforme interpretação a contrario sensu do art. 13, § 1º, CP.
“Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
        Superveniência de causa independente (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
        § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
(...)”
5.4 Sujeito Passivo
Em regra, o sujeito passivo é comum. Mas, em duas hipóteses será próprio. O legislador exige qualidade especial da vítima: quando a vítima for mulher gestante (art. 129, § 1º, IV e art. 129, § 2º, V, CP).
“(...)
        § 1º Se resulta: 
(...)
        IV - aceleração de parto: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
        § 2° Se resulta: 
(...)
        V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
(...)”
Quanto à violência doméstica familiar, o sujeito passivo pode ser homem ou mulher. O CP penal protege todos os sexos, embora as medidas protetivas da Lei Mª da Penha são limitadas à vítima mulher.
5.5 Conduta punível 
A conduta punível é a de ofender a incolumidade pessoal de alguém (saúde corporal, fisiológica e mental).
O crime pode ser praticado por ação ou omissão.
	OBS:
Haverá o crime se o sujeito ativo: (a) causa a enfermidade (lesão); (b) agrava enfermidade já existente.
5.5.1 Corte de Cabelo
A jurisprudência diverge em relação à configuração do crime praticado pela conduta de cortar o cabelo de alguém contra a sua vontade: 
1ª Corrente: constitui crime de lesão corporal, desde que a ação provoque uma alteração desfavorável no aspecto exterior do individuo, considerando os padrões sociais médios. 
2ª Corrente: configura o crime de injúria real.
As duas estão corretas, pois tudo depende da vontade do agente. Se o agente agiu para humilhar a vítima, haverá injuria real. Mas, se agiu para ofender a incolumidade pessoal, cometeu lesão corporal.
5.5.2 Pluralidade de Ferimentos
A pluralidade de ferimentos, no mesmo contexto fático, não implica pluralidade de crimes. Não desnatura a unidade do crime. A pluralidade será considerada na fixação da pena pelo juiz.
5.5.3 Disponibilidade da Incolumidade
A incolumidade pessoal é bem disponível ou indisponível? 
Para a doutrina tradicional, a incolumidade pessoal é um bem indisponível. Nesse sentido, a pessoa que coloca piercing de umbigo ou faz tatuagem com autorização (consentimento) da pessoa significaria ofensa à incolumidade pessoal. 
Para a doutrina moderna (César Roberto Bitencourt), a incolumidade pessoal é um bem relativamente disponível. Será disponível, desde que: (a) lesão seja leve; (b) não contrarie a moral e os bons costumes. Nesse sentido, o consentimento do ofendido exclui a ilicitude.
A doutrina moderna hoje tem amparo legal (art. 88, L. 9.099/95). Isso porque, a lesão corporal se tornou ação penal condicionada à representação.
“Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.”
5.6 Elemento Subjetivo do Tipo
A lesão pode ser punida a título de dolo, culpa ou preterdolo. 
5.7 Intervenção médica na Intervenção Geral do Delito
Como interpretar a intervenção médica na Teoria Geral do Delito? O médico não responde por lesão corporal:
1ª Corrente (Bento de Faria): não há tipicidade
2ª Corrente (Francisco de Assis Toledo): não há dolo caracterizador do delito. O médico intervém para curar enfermidade já existente.
3ª Corrente: descriminante do exercício regular de direito (ou estado de necessidade de terceiro). 
4ª Corrente: se a lesão for leve, haverá consentimento do ofendido como causa supralegal da exclusão da ilicitude.
5ª Corrente (LFG e Roxin): pela Teoria da Imputação Objetiva, não criação ou incremento de risco proibido. Assim, o médico não cria nem incrementa risco proibido. 
6ª Corrente (Zaffaroni): pela tipicidade conglobante, o comportamento do médico é um ato normativo.
5.8 Consumação 
O crime de lesão de corporal se consuma com a efetiva ofensa a incolumidade pessoal de alguém, dispensada a dor.
	OBS:
Dor da Vítima 
A dor da vítima é dispensável, podendo ser considerada pelo juiz na aplicação da pena. Existe lesão corporalsem dor. Ex: desmaio decorrente da lesão.
5.9 Tentativa
É admitida a tentativa na lesão dolosa. Mas, não se admite na preterdolosa e na culposa.
5.10 Lesão Corporal Dolosa Leve (art. 129, caput, CP)
“Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
        Pena - detenção, de três meses a um ano.
(...)”
5.10.1 Conceito de Lesão Leve
O seu conceito se extrai por exclusão. Será leve a lesão que não for grave, gravíssima ou seguida de morte. Não se confunde com a insignificância.
É crime de menor potencial ofensivo cuja ação penal depende de representação da vítima (art. 88, L. 9.099/95).
5.10.2 Aplicação do Princípio da Insignificância 
Para Pierangele, admite-se a aplicação do princípio da insignificância na lesão dolosa. Ex: beliscão, arranhão etc.
5.11 Lesão Corporal Dolosa (ou Preterdolosa) Grave (art. 129, § 1º, CP)
        § 1º Se resulta: 
        I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; 
        II - perigo de vida; 
        III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
        IV - aceleração de parto: 
        Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
São hipóteses de qualificadora:
5.11.1 Incapacidade para Ocupação Habitual
A lesão que resulta incapacidade das atividades habituais por mais de 30 dias.
A) Conceito de Ocupação Habitual 
É qualquer atividade corporal rotineira, não necessariamente ligada a trabalho ou ocupação lucrativa, devendo ser licita ainda que imoral. 
Nesse sentido:
a) A atividade da prostituta pode ser considerada ocupação habitual, porque se trata de atividade licita, ainda que imoral. 
b) O bebe de 6 meses também pode ser vítima dessa lesão corporal de natureza grave quando não puder mamar por mais de 30 dias, por exemplo.
A simples vergonha de praticar a ocupação habitual não qualifica o crime. Ex: mulher espancada que por vergonha não sair de casa por mais de 30 dias não se submete a qualificadora. 
B) Constatação de Mais de 30 dias de Incapacitação 
No momento da lesão, a vítima deve se submeter a duas perícias: (a) uma para análise da existência da incapacidade habitual; (b) outra perícia (laudo complementar) para análise do prazo (mais de 30 dias), conforme art. 168, § 2º, CPP.
Esse prazo é penal, porque serve para a classificação do delito. Por isso, para seu cálculo, conta-se o dia do crime:
Ex: 	- data da lesão: 10/01/09
 		- 1ª perícia: 10/01/09
		- 2ª perícia: 10/02/09
5.11.2 Perigo de Vida
        II - perigo de vida; 
A) Conceito de Perigo de Vida
É a probabilidade séria, concreta e imediata do êxito letal, devidamente comprovada por perícia. Significa a existência de perigo concreto (não abstrato). Assim, não basta a região da lesão para se presumir perigo de vida, exigindo-se perícia que informa que a lesão concreta causou perigo de vida.
B) Lesão Preterdolosa
Trata-se de lesão corporal de natureza grave necessariamente preterdolosa, porque o agente age com dolo na lesão e culpa no perigo de vida. Por outro lado, se assumir o risco da morte, o agente responderá por homicídio tentado.
5.11.3 Debilidade Permanente de Membro
        III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
A) Conceito de Debilidade 
A debilidade é enfraquecimento/ diminuição da capacidade funcional. Não há perda do membro ou sentido, mas redução.
De acordo com a jurisprudência, a existência de prótese não descaracteriza a qualificadora, ainda que ela faça desaparecer a debilidade.
B) Conceito de Debilidade Permanente
A debilidade permanente não significa perpértua, mas sim recuperação incerta e por tempo indeterminado.
Para a lesão ser grave, a debilidade deve ser permanente. A perda de um dente pode configurar lesão grave, dependendo de perícia. Será lesão grave quando a sua perda representar debilidade na mastigação, por exemplo. Da mesma forma, nem sempre a perda de um dedo traz debilidade permanente. 
5.11.4 Aceleração de Parto
        IV - aceleração de parto: 
A) Resultado da Conduta: aceleração de parto
O resultado da conduta deve ser a aceleração de parto. Se ocorrer aborto, a lesão será gravíssima. O agente não quer, nem assume o rico do aborto.
B) Conhecimento da Gravidez pelo Agente
Para a incidência da qualificadora, o agente deve ter conhecimento de que a vítima é gestante, para evitar a responsabilidade penal objetiva. A conduta pode ser preterdolosa, para o agente pode agir com dolo na lesão, havendo culpa na antecipação do parto.
5.12 Lesão Corporal Dolosa (ou Preterdolosa) “Gravíssima” 
5.12.1 Nomenclatura
O legislador utiliza a expressão lesão grave como gênero das espécies previstas nos §§ 1º e 2º do art. 129 do CP. A doutrina é que denomina a espécie prevista no § 2º de lesão gravíssima. Há uma lei que adotou a expressão da doutrina: a Lei de Tortura (art. 1º, § 3º, L. 9.455 /97).
5.12.2 Hipóteses 
        § 2° Se resulta: 
        I - Incapacidade permanente para o trabalho; 
        II - enfermidade incuravel; 
        III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; 
        IV - deformidade permanente; 
        V - aborto: 
        Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
(...)”
5.12.3 Incapacidade Permanente para o Trabalho
        I - Incapacidade permanente para o trabalho; 
A incapacidade deve ser para qualquer profissão ou para aquela exercida pela vítima antes da lesão? 
1ª Corrente (majoritária): a qualificadora só incide quando a vítima ficar incapacitada para e toda e qualquer espécie de trabalho. Para Sanches, esse entendimento torna esse dispositivo inaplicável.
2ª Corrente: para a incidência da qualificadora, basta ficar incapacitado para o trabalho anteriormente exercido.
5.12.4 Enfermidade Incurável 
        II - enfermidade incuravel; 
É a transmissão intencional de uma doença para a qual não existe cura para o estágio atual da medicina. Essa doença não pode ter natureza letal. A transmissão intencional de vírus da AIDS é tentativa de homicídio (STJ: HC 9378/RS).
5.12.5 Perda ou Inutilização de Membro, Sentido ou Função
     III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; 
A perda ou inutilização não significa redução, mas sim a inexistência de capacidade funcional. A perda pode se dar pela amputação ou pela mutilação. Na inutilização, ocorre a função inoperante. Tratando-se de órgãos duplos, para a lesão ser gravíssima, deve atingir ambos. Ex: a perda de um testículo implica lesão grave, pois representa redução da capacidade reprodutora, e não a sua perda. 
De acordo com a jurisprudência, se em razão da lesão a vítima decorrer a impotência para gerar vida (generandi) ou a impotência instrumental (coeundi), haverá lesão gravíssima. Ex: médico que faz laqueadura sem conhecimento da vítima. 
5.12.6 Deformidade Permanente
        IV - deformidade permanente; 
A) Conceito de Deformidade Permanente
Consiste no dano estético, aparente, considerável, irreparável pela própria força da natureza e capaz de provocar impressão vexatória. A impressão vexatória significa o desconforto para quem olha e a humilhação para quem ostenta.
B) Perícia 
A deformidade deve ser detectada mediante perícia. De acordo com a doutrina (Nelson Hungria), a idade, o sexo e a condição social da vítima podem influenciar na configuração ou não de deformidade (lesão gravíssima). 
No Brasil, não importa o local da lesão para a configuração da lesão gravíssima. Não se limita às lesões no rosto. A lesão pode ser em qualquer parte do corpo, desde que seja capaz de provocar impressão vexatória.
C) Vitriolagem
Significa lesão corporal gravíssima que provoca deformidade permanente fruto de ácido. 
 
5.12.7 Aborto
        V - aborto: 
Essa qualificadora é necessariamente preterdolosa ou preterintencional. O agente age com dolo na lesão e culpa no aborto.Se assumir o risco pelo aborto, responderá pelo crime de aborto. Para evitar a responsabilidade penal objetiva, é imprescindível que o agente soubesse ou pudesse saber que a vítima era gestante. 
	OBS:
Duas Qualificadoras Concomitantes
É possível que de uma mesma lesão resultem qualificadoras dos §§ 1º e 2º concomitantemente. Nesse caso, o juiz deverá utilizar a mais grave como qualificadora e a menos grave (§ 1º) será considerada para a fixação da pena-base. Assim, a lesão será qualificada uma só vez.
23.04.09
5.13 Lesão Corporal Preterdolosa Seguida de Morte
 “(...)
        § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo: 
        Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
“(...)”
5.13.1 Prova da Culpa na Morte
A lesão é de natureza dolosa e a morte de natureza culposa. O § 3º é crime preterdoloso, uma vez que “o agente não quis o resultado” (eliminado o dolo direto) “nem assumiu o risco de produzi-lo” (eliminado o dolo eventual). Para a identificação da culpa deve-se combinar o art. 129, § 3º, CP com o art. 19 do CP, que exige pelo menos culpa para evitar a responsabilidade penal objetiva do réu. 
“Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”
5.13.2 Requisitos 
A) Conduta Dolosa visando ofender a incolumidade pessoal do individuo 
B) Resultado morte (mais grave) culposo
Se o resultado morte for proveniente de caso fortuito ou força maior, o agente só responderá por lesão corporal, sob pena de responsabilidade penal objetiva.
C) Nexo causal entre conduta e resultado
Ex: lutador que chuta árbitro que bate a cabeça no chão e morre em razão da presença de um prego, responderá por lesão corporal apenas.
Outro exemplo: se o agente dá um soco (lesão), que resulta na morte da vítima, responderá por morte culposa (art. 129, § 3º, CP). Mas, se o agente dá um empurrão (vias de fato – art. 21, L. Contravenções Penais), que resulta na morte da vítima, responderá por homicídio culposo (pena de 1 a 3 anos), ficando absorvida a contravenção.
5.14 Causas de Diminuição de Pena (art. 129, § 4º, CP)
“(...)
        § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
(...)”
Trata-se de lesão corporal privilegiada.
Essa diminuição de pena se aplica a todas as figuras criminosas antecedentes: lesão leve, grave, gravíssima e seguida de morte)
Trata-se de direito subjetivo do acusado, preenchidos os requisitos o juiz deve reduzir a pena. A discricionariedade do juiz diz respeito ao quantum da redução.
5.15 Substituição de Pena (art. 129, § 5º, CP)
“(...)
        § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: 
        I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; 
        II - se as lesões são recíprocas. 
(...)”
5.15.1 Aplicação da Substituição 
Tem aplicação exclusiva a lesão dolosa leve.
5.1.5.2 Requisitos
A) Lesão dolosa leve
B) Lesão privilegiada ou recíproca 
Os incisos I e II são alternativos (não cumulativos), bastando a presença de um deles com a lesão leve para que o juiz aplique a substituição da pena. 
	OBS:
Esse dispositivo está em desuso, resolvendo-se tudo em transação penal.
5.16 Lesão culposa (art. 129, § 6º)
“(...)
§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
        Pena - detenção, de dois meses a um ano. 
(...)”
5.16.1 Observações 
Segue a sistemática do homicídio culposo, com diferença em relação à existência de lesão (e não morte).
Quando a lesão é dolosa, a sua gravidade (leve, grave ou gravíssima) interfere no tipo penal. No caso da lesão culposa, a gravidade não interfere no tipo, mas o juiz deverá considerá-la na fixação da pena-base.
5.16.2 Lesão Culposa na Direção de Veículo Automotor
Se a lesão culposa ocorrer na direção de veículo automotor, configura-se o crime do art. 303 do CTB. Há uma especializante: na direção de veículo automotor. 
“Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
        Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do parágrafo único do artigo anterior.”
5.16.3 Pena da Lesão no CTB
No CTB, a pena prevista é de 6 meses a 2 anos; enquanto, no CP, a pena é de 2 meses a 1 ano. A doutrina discute sobre a inconstitucionalidade do art. 303 do CTB, tendo em vista a desproporcionalidade das penas.
A questão analisada somente sob a ótica do desvalor do resultado, não há motivo para aplicação de penas diversas para a lesão culposa no transito ou fora dele. Nesse sentido, seria inconstitucional.
Mas, o crime não é apenas resultado, pois envolve conduta e resultado. Assim, abrange o desvalor do resultado e o desvalor da conduta. A conduta negligente no transito é potencialmente mais lesiva do que a realizada for dele. Isso justificaria a aplicação de penas diversas.
5.17 Causa de Aumento de Pena (art. 129, § 7, CP)
“(...)
        § 7º - Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses do art. 121, § 4º. (Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990)
(...)”
Estudar art. 121 § 4, CP.
5.18 Perdão Judicial (art. 129, § 8,CP)
(...)”
        § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990)
(...)”
Significa que cabe perdão judicial na lesão culposa (não abrange a lesão preterdolosa).
5.19 Lesão Corporal Dolosa no Ambiente Domestico, Familiar ou de Intimidade (art. 129, § 9º, CP)
“(...)
        § 9o  Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
5.19.1 Qualificadora
Trata-se de uma qualificadora da lesão dolosa leve (art. 129, caput, CP). Essa qualificadora, embora mantenha a mesma pena mínima, deixa de ser de menor potencial ofensivo (tendo em vista a pena máxima de 3 anos).
 
5.19.2 Sujeito Ativo 
Para a doutrina majoritária, é crime comum. 
Mas, para Rogério Sanches, o crime é próprio, pois exige uma relação entre os sujeitos. 
5.19.3 Sujeito Passivo
A) Crime Comum
Para a doutrina majoritária, é crime comum. Mas, para Rogério Sanches, é crime próprio, porque o crime exige uma relação entre os sujeitos. Logo, o crime seria bi-próprio: exigindo qualidade do sujeito passivo e ativo (Rogério Sanches).
B) Vítima Homem ou Mulher 
O homem ou a mulher podem ser vítimas do § 9º do art. 129 do CP. Se a vítima for homem, aplica-se o art. 129, § 9º, CP. Se for mulher, aplica-se o art. 129, § 9º, CP e os institutos protetivos da L. Mª da Penha (L. 11.340/06).
C) Grupos de Vitimas 
A lesão poderia ser praticada contra: 
a) Ascendente, descendente ou irmão. Esse é o primeiro grupo de vitimas. Algumas observações são relevantes: (a) Não importa se esse parentesco é natural ou civil; (b) Dispensa a coabitação.
b) Cônjuge ou companheiro, ainda que separados de fato. É o segundo grupo de vitimas.
c) Pessoa com que o agente convive ou tenha convivido. Para a doutrina majoritária, este seria o terceiro grupo de vítima. Ex: república de estudantes, amante. 
Mas, para Guilherme de Souza Nucci, não

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