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Estatuto_do_Desarmamento

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Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
 Página 1 
 
ESTATUTO DO DESARMAMENTO – Lei 10.823/03 
 
 Inicialmente é necessário observar que não há coerência na jurisprudência quanto a referida 
lei. E isso se dá diante da confusão legislativa também existente. 
 
1. Evolução Legislativa: 
 
Até 1997 as condutas envolvendo armas de fogo eram consideradas meras contravenções 
penais. 
Com o advento da lei 9.437/199, as contravenções dessa natureza foram transformadas em 
crimes. Sucede que, posteriormente, tal lei fora revogada pelo atual estatuto do desarmamento: Lei 
10.823/06 que manteve as condutas envolvendo armas de fogo como crimes. 
A diferença é a seguinte. A lei 9.537/97 concentrava no art. 10 os crimes de posse, porte, 
disparo, comércio ilegal, etc. de arma de fogo. Essa concentração dizia respeito a delitos de diferente 
gravidade que tinham as mesmas penas. Daí que o art. 10 violava o princípio da proporcionalidade e 
violava o princípio da individualização da pena, lembrando que o Princípio da Individualização da 
pena já ocorre no Poder Legislativo, quando da cominação de penas. 
O Estatuto do Desarmamento prevê os crimes nos artigos 12 a 18: posse, porte, disparo, 
comércio ilegal, tráfico internacional, etc. E aqui se têm crimes diferentes com penas diferentes, de 
acordo com a gravidade da conduta. Diante disso, houve correção da distorção da lei anterior, 
atendendo aos princípios da proporcionalidade e individualização da pena. 
 
2. Competência: 
 
O Estatuto do Desarmamento prevê o Sinarm – Sistema nacional de Armas de Fogo. Esse 
Sinarm é uma entidade da União. Diante disso, o controle de armas no Brasil é um controle federal. 
Em razão disso, logo que entrou em vigor o Estatuto do Desarmamento, setores da 
Jurisprudência passaram a decidir que a competência para julgar os crimes do Estatuto do 
Desarmamento era da Justiça Federal. Ex. TJ RJ e TJ SC. 
Sucede que essa tese não foi admitida pelo STJ, que decidiu que a competência para julgar os 
crimes do Estatuto do Desarmamento, em regra, é da Justiça Comum Estadual, salvo se houver 
interesse da União. 
A exceção diz respeito ao crime de tráfico internacional de armas que é delito, genuinamente, 
de competência da Justiça Federal. 
O entendimento do STJ se deu considerando que, o que fixa a competência é o bem jurídico 
violado e o bem jurídico violado é a segurança pública que se trata de bem da coletividade e não da 
União. 
Diante disso, o controle federal de armas de fogo gera apenas um interesse genérico e 
indireto da União, não sendo capaz de atrair a competência para a Justiça Federal. É a mesma ideia 
dos crimes ambientais. 
Duas observações merecem destaque: 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
 Página 2 
 
2.1. Porte ilegal praticado por militar em área sujeita à administração militar: 
 
A competência é da Justiça Comum federal ou estadual. Não se trata de crime com 
competência da Justiça Militar, por não se tratar de crime militar. STJ, CC 112.314/MS (julgado em 
22.09.2010). 
 
2.2. Competência para determinar o local da entrega de arma apreendida em processo findo: 
 
Nessa hipótese, a competência é do Juiz do Processo e não do comando do exército. Ou seja, 
cabe ao Juiz do processo determinar em qual unidade do exército, a arma será entregue para 
destruição. Nesse sentido, STJ, Conflito de atribuições 191/BA (julgado em 10.03.2002), entre outros 
inúmeros julgados em que houve a mesma decisão. 
 
3. Bens jurídicos tutelados no Estatuto do Desarmamento: 
 
O objeto jurídico imediato da lei é a segurança coletiva – incolumidade pública. 
Os bens jurídicos mediatos são: 
 Incolumidade pessoal 
 Segurança individual 
 Patrimônio 
 Liberdade 
 Outros direitos fundamentais. 
 
Essa ideia de objetos jurídicos mediato e imediato foi retirada de dois julgados: STF, HC 
96.072/RJ e STJ, HC 156.736/SP. Em ambos julgados são indicados como bem jurídicos no Estatuto do 
desarmamento tais bens jurídicos. Vários outros julgados existem nesse sentido também. 
 
4. Natureza dos Crimes do Estatuto do Desarmamento: 
 
Os crimes do estatuto do desarmamento são crimes de perigo abstrato, segundo 
entendimento pacífico no STJ e STF. Isso quer dizer que, a ofensividade da conduta é presumida na 
lei. Em razão dessa classificação em crimes de perigo abstrato e de perigo concreto reflete no ônus da 
prova no processo penal. 
Nos crimes de perigo abstrato, basta a acusação provar a realização da conduta, não sendo 
necessário provar que essa conduta tenha causado perigo direto, real e efetivo a alguém. Já nos 
crimes de perigo concreto, a acusação tem que provar a realização da conduta e a situação de efetivo 
perigo gerada. 
 
5. Art. 12 – Posse irregular de arma de fogo de uso permitido: 
 
Posse irregular de arma de fogo de uso permitido 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
 Página 3 
 
 Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com 
determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de 
trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: 
 Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
 
5.1. Sujeito ativo: 
 
Para a maioria se trata de crime comum. Minoria entende que o crime é próprio pois somente 
pode ser praticado pelo titular da residência ou do local de trabalho. 
 
5.2. Sujeito passivo: 
 
É a coletividade uma vez que o bem jurídico protegido é a segurança pública. Trata-se de 
crime vago, ou seja, que não possui vítima determinada. 
 
5.3. Condutas puníveis: 
 
As condutas são: possuir e manter sob a guarda. Ambas as condutas são idênticas. A lei está se 
autorepetindo. Diante disso, a expressão manter sob sua guarda é necessária, uma vez que manter 
sob sua guarda já implica posse. 
 
5.4. Objeto material: 
 
Apesar do nome do crime falar em posse irregular de arma de fogo de uso permitido, o objeto 
material do crime é: 
 Arma de fogo 
 Acessório: tem previsão no art. 3º, II do Dec. 3.665/00: “Art. 3º. Para os efeitos desse 
regulamento e sua adequada aplicação, são adotadas as seguintes definições: II – acessório de 
arma: artefato que, acoplado a uma arma, possibilita a melhoria do desempenho do atirador, 
a modificação de um efeito secundário do tiro ou a modificação do aspecto visual da arma” 
É pois, qualquer objeto que, acoplado à arma, melhora seu funcionamento e precisão. Ex. 
Silenciador, mira laiser. Atente-se que partes da arma não são acessórios, assim como o coldre 
(suporte na cintura em que se coloca a arma). 
 Munição 
 
São objetos de uso permitido. Tratando-se se objetos de uso proibido, a posse configura o 
delito do art. 16 do Estatuto do Desarmamento. 
 
5.5. Elemento especial do Tipo penal: 
 
O elemento espacial do tipo está na expressão: “no interior de sua residência ou dependência 
desta ou no local de trabalho” 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
 Página 4 
 
Atente-se que, só há posse se a conduta ocorrer nesses dois locais. Em qualquer outro local 
tem-se o porte. 
 
Posse Porte 
A posse ocorre na residência ou dependência da 
residência do infrator ou no local de trabalho do 
infrator do qual ele seja o proprietário ou o 
responsável legal. 
Ex. infrator tem guardada arma no quarto de sua 
casa; dono de restaurante e garçom trabalham 
com armas de fogo na gaveta. No que tange ao 
proprietário do restaurante se trata de posse. Já 
quanto ao garçom, é porte. 
O porte ocorre nas demais situações, ou seja, em 
qualquer outro local. 
Ex. o agente coloca a arma na cintura e sai para 
passear com cachorro; 
 
 Essa distinção entre posse e porte é constantemente feita pelo STF, devendo sempreatentar 
para isso. 
 
5.6. Elemento normativo do tipo: 
 
O elemento normativo do tipo é “em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. 
Tem-se pois que a posse legal é fato atípico. 
 
Posse Legal Posse Ilegal 
 Dá-se quando a arma estiver registrada na 
Polícia Federal, ou seja, a polícia federal expede 
registro de propriedade da arma, após 
autorização do SINARM – art. 5º, caput e §1º do 
E.D.: 
 Art. 5o O certificado de Registro de Arma de Fogo, 
com validade em todo o território nacional, autoriza o seu 
proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no 
interior de sua residência ou domicílio, ou dependência 
desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja 
ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou 
empresa. (Redação dada pela Lei nº 10.884, de 2004) 
 § 1o O certificado de registro de arma de fogo será 
expedido pela Polícia Federal e será precedido de 
autorização do Sinarm. 
 A posse ilegal dá-se quando a arma não 
possui qualquer registro ou a arma possui 
registro estadual que não possui validade de 
acordo com o Estatuto do Desarmamento. 
 Desde a entrada em vigor do Estatuto do 
Desarmamento, foram sendo concedidos prazos 
para a regularização da posse ilegal. 
 O primeiro prazo foi dado pelo próprio estatuto do 
desarmamento, que entrou em vigor no dia 
23.12.2003 e esse prazo valia para armas permitidas e 
restritas. 
 Depois, esse prazo inicial foi prorrogado pela Lei 
11.191/05, que converteu a MP 235/05. Essa lei 
estendeu o prazo para regularização até 23.10.2005 e 
valia para armas permitidas e restritas. 
 Esse prazo foi novamente estendido pela lei 
11.796/08, que converteu a MP 417/08, estendendo o 
prazo até 31.12.2008, mas esse prazo foi estendido 
apenas para armas permitidas, não mais para armas 
proibidas (restritas) 
 Houve nova extensão de prazo até 31.12.2009, pela lei 
11.922/09, referindo-se apenas às armas de uso 
permitido. 
 A partir de 1º de janeiro de 2010, não houve mais 
prorrogação. 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
 Página 5 
 
 Daí que, entre 23.12.2003 a 31.12.2009 houve descriminalização temporária (abolitio criminis 
temporária, atipicidade momentânea ou vacatio legis especial ou indireta). Diante disso, nesse 
período, a posse ilegal de arma de fogo de uso permitido deixou, temporariamente, de ser crime. 
 A partir de 1º de janeiro de 2010, a posse ilegal de arma de fogo de uso permitido passou a ser 
crime. Porém, é necessário observar o previsto no art. 32 do Estatuto do Desarmamento: 
Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo, e, 
presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse 
irregular da referida arma. 
 Atente-se que a entrega espontânea da arma é causa de extinção da punibilidade do agente 
em relação à posse irregular da referida arma. 
 Aqui devem ser feitas observações sobre essa abolitio criminis momentânea: 
 
5.6.1. Aplicação aos crimes cometidos na vigência da Lei 9.437: 
 
De acordo com o STF, não haverá tal aplicação. De acordo com o STF, como se trata de 
abolitio criminis temporária não há retroação da norma. STF, HC 98.180/SC e HC 90.995/SP. 
O STJ, na Ação Penal 394/RN, julgada em 15.03.2006, a corte especial decidiu que sim, ou seja, 
que cabe aplicar a aboltio criminis temporária deveria retroagir para alcançar os crimes praticados na 
vigência da Lei 9.437. 
Após essa decisão, a 5ª Turma do STJ passou a decidir que não seria cabível, afirmando que a 
aboltio criminis dessa lei não retroage. Nesse sentido, o HC 103.029, julgado em 03.02.2009. 
Agora, a 5ª Turma volta entender que é cabível a aplicação, nos termos do HC 133.231, 
julgado em 13.10.2009. 
 
5.6.2. Aplicação a posse de arma de uso restrito: 
 
Para a 5ª Turma do STJ, aplica-se aos crimes cometidos até 23.10.05, não se aplicando se o 
crime foi praticado após essa data. Nesse sentido, o Resp. 1.179.276/GO, julgado em 02.09.2010. 
Já para a 6ª Turma do STJ, aplica-se a abolitio criminis independentemente da data do crime. 
Nesse sentido, HC 147.692/RJ, julgado em 04.03.2010. 
No STF não há decisões. 
A tendência é prevalecer a decisão da 5ª Turma em concursos públicos uma vez que, 90% dos 
julgados envolvendo Estatuto do Desarmamento são provenientes da 5ª Turma. 
 
5.6.3. Aplicação a posse de arma com numeração raspada: 
 
De acordo com a 5ª Turma do STJ, aplica-se aos crimes cometidos até 23.10.2005 e não se 
aplica aos crimes cometidos a partir de 24.10.2005. Isso porque, arma raspada é igual a arma proibida 
(equivale à arma de uso restrito) e não tem como ser regularizada. 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
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Tendo em mente a 6ª Turma, entende que se aplica independentemente da data do crime 
uma vez que até 31.12.2009 o possuidor da arma tinha a opção de regularizá-la, o que inclui a arma 
raspada. Nesse sentido, HC 147.692/SP. 
Para o STF, a abolitio criminis temporária não se aplica a posse de arma com numeração 
raspada considerando que não há como regularizar a arma. Nesse sentido, HC 94.261/SP (STF). 
 
5.6.4. Não aplicação aos crimes de porte de arma, dos arts. 14 e 16 do Estatuto: 
 
Não se aplica tal atipicidade em relação aos crimes relativos ao porte de arma. Esse é o 
entendimento pacífico da jurisprudência. 
 
5.7. Elemento subjetivo do tipo: 
 
O elemento subjetivo do tipo é o dolo. 
 
5.8. Consumação e tentativa: 
 
O crime consuma-se no momento em que o agente ingressa na posse ilegal da arma. 
Trata-se de crime permanente: possuir ou manter sob guarda. É também crime de mera 
conduta. A tentativa não é possível. 
 
6. Art. 13, caput – Omissão de Cautela: 
 
 Omissão de cautela 
 Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora 
de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: 
 Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. 
 
6.1. Sujeito ativo: 
 
O sujeito ativo é somente o proprietário ou possuidor da arma. Trata-se de crime próprio. 
 
6.2. Sujeito passivo: 
 
É o menor de 18 anos e o doente mental, tratando-se crime próprio também. 
Em razão disso, tem-se aqui um crime bi-próprio. 
 Sucede que, além do menor e do doente mental, a coletividade também figura como sujeito 
passivo do delito. A coletividade é apontada pela doutrina como sujeito passivo primário. 
Obs.: 
 Há o crime ainda que o menor de 18 anos tenha adquirido a capacidade civil absoluta. A lei 
não se interessa pela capacidade civil, mas sim a idade da vítima. 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
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 Não é necessária relação de parentesco entre o sujeito ativo e passivo, ou qualquer outra 
relação. Ex. pai deixa a arma próxima de filho de 12 anos, que pega a arma; amigo do pai 
que deixa a arma próxima da criança de 11 anos que a pega. 
 A lei somente se refere ao doente mental, nada falando a respeito do portador de 
necessidades especiais. Isso porque a lei busca proteger aquele que não teria condições de 
saber dos perigos de uma arma. 
 
6.3. Conduta punível: 
 
É “deixar de observar as cautelas legais”. Essa conduta significa a quebra do dever de cuidado 
objetivo. 
 
6.4. Objeto material: 
 
É a arma de fogo, seja ela de uso permitido ou de uso restrito. O tipo penal não especifica a 
espécie de arma. A espécie de arma será considerada na dosagem da pena. 
É necessário atentar que o tipo penal não menciona “acessório e munição” e se o objeto for 
acessório e munição não há o crime do art. 13. 
 
6.5. Consumação e tentativa: 
 
A consumaçãodá-se com o apoderamento da arma pelo menor ou doente mental, o que é 
pacífico na doutrina. 
 Mas aqui se indaga se o crime é formal ou material. O crime consuma-se com o 
apoderamento da arma e quanto a isso não há divergência. Já quanto ao fato de ser formal ou 
material, há divergência: 
1ª Corrente: o crime é material. É o entendimento de Fernando Capez. Segundo ele, o apoderamento 
já é o resultado naturalístico. 
2ª Corrente: é encampada por Nucci, que afirma que o crime é formal ou de consumação antecipada. 
Segundo ele, o crime se consuma com o apoderamento, mas o resultado naturalístico é a ofensa à 
vida ou a integridade física da vítima. 
 Adotando-se essa segunda corrente, podemos concluir que o art. 13 é uma exceção de crime 
culposo sem resultado naturalístico. (A outra exceção está na lei de drogas – Prescrever 
culposamente drogas, ainda que o destinatário não a utilize). 
 No que tange à tentativa, temos que referido delito não admite tentativa. Isso porque se trata 
de crime omissivo puro e culposo. 
 
7. Art. 13, p. ún. – Omissão de Comunicação: 
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte 
de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
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formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) 
horas depois de ocorrido o fato. 
 
7.1. Sujeito ativo: 
 
O sujeito ativo é somente o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e 
transporte de valores. 
 
7.2. Sujeitos passivos: 
 
São sujeitos passivo a coletividade e o Estado. O Estado é sujeito passivo pois a falta de 
comunicação prejudica o controle de armas. 
 
7.3. Conduta punível: 
 
A conduta punível é deixar de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal 
perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição. 
A lei estabelece um duplo dever de comunicação e, portanto, prevalece que qualquer das 
comunicações configura o crime. Esse é o entendimento majoritário. 
 Outros porém, entendem que basta uma única comunicação uma vez que o agente não pode 
ser responsabilizado pela desorganização do Estado e a falta de integração entre seus órgãos. Assim, 
para essa parte da doutrina, uma única comunicação é suficiente para não ocorrência do crime. 
 
7.4. Objeto material: 
 
É arma de fogo, acessório ou munição, permitidos ou proibidos. A espécie de arma, munição 
ou acessórios será considerada na fixação da pena. 
 
7.5. Elemento subjetivo: 
 
Trata-se de crime doloso, segundo entendimento amplamente majoritário. Isso porque, 
somente há crime culposo se expressamente previsto em lei e a lei não está prevendo que seja esse 
um crime culposo. 
 O elemento subjetivo é o dolo e somente haverá o crime se houver a omissão dolosa na 
comunicação. Tratando-se de omissão culposa, não se tem crime. 
 
7.6. Consumação e tentativa: 
 
O crime somente se consuma após 24 horas da ocorrência do fato. A comunicação deve 
ocorrer em até 24 horas. Somente após esse prazo que configura o crime. Daí que esse crime é 
denominado crime a prazo. 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
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Obs.: A doutrina diz que esse crime se consuma após 24horas da ciência do fato, e não do 
fato em si, sob pena de responsabilidade penal objetiva. Isso porque não poderia o agente 
comunicar o fato antes de sua ciência. 
A tentativa, de acordo com a doutrina, não é admissível uma vez que esse se trata de crime de 
mera conduta e crime omissivo puro ou próprio. 
 
7.7. Concurso de crimes: 
 
É possível o concurso desse crime com os crimes de porte e posse ilegal de armas. 
 
8. Art. 14 – Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido: 
 
 Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido 
 Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, 
emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem 
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: 
 Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em 
nome do agente. (Vide Adin 3.112-1) 
 
8.1. Sujeito ativo: 
 
É qualquer pessoa, tratando-se de crime comum. 
 
8.2. Sujeito passivo: 
 
É a coletividade. Trata-se de crime vago. 
 
8.3. Conduta punível: 
 
Trata-se de crime de conduta múltipla ou variada (tipo misto alternativo), possuindo vários 
núcleos verbais. Apesar do nome “porte ilegal de arma de fogo” o crime não é apenas de porte. 
São treze condutas e a prática de várias condutas no mesmo contexto fático configura crime 
único. 
 
8.4. Objeto material: 
 
É arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido. O objeto material é idêntico ao do 
crime do art. 12. 
 
8.5. Elemento subjetivo: 
 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
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É o dolo. 
 
8.6. Consumação e tentativa: 
 
O crime se consuma com a mera prática de qualquer das condutas do núcleo do tipo, 
atentando-se que em alguns verbos, o crime é permanente: ex. ter em depósito, guardar, ocultar. 
A tentativa é possível em alguns verbos. Ex. tentar adquirir, emprestar. 
 
8.7. Questões específicas sobre o delito: 
 
8.7.1. Exame pericial: 
 
A 2ª Turma do STF e a 5ª Turma do STJ entendem que o exame pericial da arma é dispensável, 
desde que existam outros elementos de prova nos autos comprovando a prática do crime. Nesse 
sentido, STF, HC 100.860/RS, julgado em 17.08.2010; STJ, 5ª Turma, HC 107.112/MG de 02.03.2010. 
Esse entendimento se dá considerando que o crime é de perigo abstrato. 
Por outro lado, a 1ª Turma do STF entendia que o laudo era indispensável (HC 97.209/SC, 
julgado em 16.03.2010). Posteriormente, passou a entender que o laudo é dispensável, desde que 
haja outros elementos para provar nos autos (HC 100.008/RS, julgado em 18.05.2010), restando 
vencido o Min. Marco Aurélio nesse julgamento. 
 
8.7.2. Arma desmuniciada: 
 
Indaga-se se é crime ou não. 
De acordo com a 1ª Turma do STF e a 5ª Turma do STJ, arma desmuniciada é sempre crime. 
Há presunção absoluta de perigo, ou seja, se trata de crime de perigo abstrato. STF, HC 96.072/RJ, 
julgado em 16.03.2010. 
A 1ªTurma diz expressamente que o porte de arma é crime de perigo abstrato o que conduz 
ao fato de que haverá crime, pouco importando se se trata ou não de arma municiada. Nesse sentido, 
também STJ, HC 168.365/RJ, julgado em 03.09.2010. 
Tendo em base a 2ª Turma do STF, temos que é crime se a arma tiver condições de pronto 
municiamento. Lado outro, não será crime se não houver condições de pronto municiamento. Nesse 
sentido, HC 97.811/SP, julgado em 09.06.09 e HC 91.196/SP, julgado em 20.10.2009 (a ementa desse 
julgado fala de laudo, mas na verdade, o que os ministros decidiram foi saber se a arma desmuniciada 
e sem condições de pronto municiamento era crime ou não. 
 
8.7.3. Munição desarmada: 
 
De acordo com a 5ª Turma do STJ trata-se de crime por dois motivos. Primeiro porque o tipo 
penal prevê a munição como objeto material. Outro motivo é que se trata de crime de perigo 
abstrato, cujo perigo é presumido na lei. Acerca da matéria, HC 95.604/PB, julgado em 15.04.2010. 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
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A 2ª Turma do STF não decidiu sobre a matéria, estando o HC 90.070/SC pendente de 
julgamento em que se discute a matéria. Por enquanto, a situação é a seguinte: os Min. Eros Grau e 
Joaquim Barbosaentenderam que é crime, por ser crime de perigo abstrato (inf. 457 e 470). O Min. 
Peluso decidiu que o porte somente de munição não é crime, o que pode ser visto no inf. 583 do STF. 
Após o voto do Min. Peluso, pediu vista a Min. Ellen Gracie. 
Diante disso, o que é válido é o entendimento do STJ. 
 
8.7.4. Arma desmontada: 
 
Essa matéria é discutida na doutrina. 
 Diz a doutrina que, se a arma tiver condições de pronta montagem e armamento, é crime. Já 
se arma não estiver em condições de pronta montagem não é crime. 
 
8.7.5. Arma quebrada: 
 
Diz a doutrina que, se for arma absolutamente inapta para disparar, tem-se crime impossível 
por absoluta impropriedade do objeto. 
Tratando-se de arma relativamente inapta para disparar, trata-se de crime (arma às vezes 
dispara, outras não). Nesse sentido, Fernando Capez. 
 
8.7.6. Princípio da insignificância: 
 
O STJ decidiu que não se aplica o Princípio da insignificância ao porte ilegal de arma ou 
munição. STJ, HC 120.903/SP, de 23.02.2010. 
Atente-se que, para o reconhecimento do princípio da insignificância, o STF e o STJ vêm 
exigindo quatro requisitos: 
 Mínima ofensividade da conduta 
 Nenhuma periculosidade social da ação 
 Reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento 
 Inexpressividade da lesão jurídica provocada. 
 
8.7.7. Porte de arma e homicídio: 
 
Sobre essa matéria, duas correntes merecem destaque: 
1ª Corrente: haverá sempre concurso de crimes uma vez que os crimes têm momentos consumativos 
diferentes e objetividades jurídicas distintas. São sempre considerados crimes autônomos. Nesse 
sentido é o entendimento do TJSP. 
2ª Corrente: se o porte foi praticado exclusivamente para a execução do homicídio, fica absorvido 
pelo homicídio. Já se o agente porta ilegalmente a arma e eventualmente comete o homicídio com 
ela, há concurso material de crimes. Essa é a corrente majoritária. 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
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Ex. infrator é agredido em um bar, vai até sua casa, pega a arma, volta e mata o agressor  o crime 
de porte fica absorvido pelo homicídio. 
 Se o indivíduo vai todos os dias ao bar, portando ilegalmente a arma e em determinado dia, se 
desentende e mata alguém  nessa hipótese houve concurso material de porte ilegal + homicídio. 
 
8.7.8. Posse ou porte simultâneo de duas ou mais armas: 
 
Nessa hipótese, tratando-se de armas da mesma espécie, ou seja, todas permitidas ou todas 
proibidas, há duas correntes: 
1ª Corrente: haverá tantos crimes quantas forem as armas. 
2ª Corrente: há crime único pois a situação de perigo gerada é uma só. O número de armas será 
considerado na dosagem da pena. Essa segunda corrente é amplamente majoritária. 
 
 No caso em que as armas são de espécies diferentes – uma permitida e uma proibida – haverá 
concurso de crimes: artigos 12 + 14 ou 12 + 16 ou 14 + 16. Isso é o que acaba de decidir o STJ no HC 
161.876 julgado em 12.08.2010 (houve reconhecimento de concurso entre os arts. 12 e 16). 
 
9. Análise do art. 15 – Disparo de arma de fogo 
 
Disparo de arma de fogo 
 Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em 
direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: 
 Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. (Vide Adin 3.112-1) 
 
9.1. Sujeito ativo: 
 
Trata-se de crime comum, podendo o crime ser praticado por qualquer pessoa. 
 
9.2. Sujeito passivo: 
 
O sujeito passivo é a coletividade 
 
9.3. Condutas puníveis: 
 
É disparar arma de fogo ou acionar munição. 
O tipo penal pune o disparo e o acionamento de munição sem disparo. 
Ex. infrator aciona a munição (efetua o movimento do disparo) e esta falha (picota). 
 
9.4. Elemento espacial do tipo penal: 
 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
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O elemento espacial do tipo penal está na expressão “em lugar habitado ou em suas 
adjacências, em via pública ou em direção a ela” 
 Se o disparo não ocorrer em via pública ou em direção a ela; ou em local habitado não é 
crime. 
 O crime de disparo de arma de fogo é crime de perigo abstrato, o que significa dizer que o 
disparo deve ocorrer nesses lugares, mas não precisa gerar perigo concreto, real e efetivo a ninguém. 
 Ex. o agente às 4 horas da manhã em uma rua vazia, efetua o disparo. 
 A quantidade de disparos será considerada na dosagem da pena, o que quer dizer que a 
quantidade de disparos não gera mutiplicidade de crimes. 
 
 
 
9.5. Elemento subjetivo: 
 
O elemento subjetivo é o dolo, o que quer dizer que o disparo culposo é atípico. 
 
9.6. Consumação e tentativa: 
 
A consumação dá-se com o mero disparo ou acionamento da munição, observando-se que a 
tentativa é perfeitamente possível, embora de difícil configuração prática. Ex. o infrator é desarmado 
quando vai efetuar o disparo. 
 O disparo de arma de fogo é crime subsidiário, ou seja, somente se aplica desde que essa 
conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime. 
 De acordo com a letra da lei o art. 15 não se aplica se o disparo tenha por finalidade a prática 
de crime menos grave ou mais grave. Isso porque o art. 15 não diz que seja necessário a prática do 
crime mais grave. Apenas há menção afirmando que deva ser outro crime. 
 Diz a doutrina que o crime menos grave não pode absorver o crime mais grave, ou seja, o 
crime mais grave não pode absorver crime menos grave. Em face disso, a doutrina diz que se for 
disparo com a finalidade de cometer homicídio, o disparo fica absorvido. 
 Na hipótese em que o disparo tenha finalidade de lesão grave, gravíssima ou se ocorrer lesão 
seguida de morte, o disparo é absorvido. Já se for disparo e crime de lesão leve, a lesão não pode 
absorver o disparo, havendo dois entendimentos na doutrina: 
1ª Corrente: o agente responde apenas pelo disparo, que é o crime mais grave 
2ª Corrente: o agente responde pelo disparo + a lesão leve. 
 Não há, atente-se entendimento majoritário vez que a questão é abordada apenas por Capez 
e Nucci, mas o fato de que a lesão leve não poder absorver o disparo é pacífico. 
 
*Crime de disparo + art. 132, CP: Na hipótese em que há o disparo e o delito do art. 132 
(perigo para vida ou a saúde de outrem), temos que o disparo é crime subsidiário, assim como o é o 
art. 132 do CP. Nessa situação, o disparo é o crime mais grave e a questão é solucionada da seguinte 
forma: o crime do art. 132 não pode absorver o crime de disparo pois é menos grave que aquele. 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
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Daí que será o agente responsável pelo disparo ou por ambos os crimes, de acordo com a 
doutrina, não podendo haver a absorção do crime de disparo pelo de perigo. 
 
*Porte ilegal de arma permitida (art.14) + Disparo: o porte ilegal de arma permitida tem a 
mesma pena do crime de disparo: daí que, ou o agente responde apenas pelo disparo, ou por ambos 
os crimes, de acordo com a doutrina. 
 
*Porte de arma proibida + disparo: o crime de porte de arma proibida é mais grave e aqui 
prevalece que o agente responderá apenas pelo crime de porte ilegal de arma proibida, que absorve 
o disparo. 
 
10. Análise do art. 16 – Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito: 
 
 Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito 
 Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que 
gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de 
uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: 
 Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, emulta. 
 Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: 
 I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; 
 II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou 
restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz; 
 III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com 
determinação legal ou regulamentar; 
 IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de 
identificação raspado, suprimido ou adulterado; 
 V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança 
ou adolescente; e 
 VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo. 
 
 Aqui, o mesmo dispositivo pune tanto a posse como o porte de arma de uso restrito e em 
razão disso, alguns entendem que esse artigo ofende o princípio da proporcionalidade uma vez que 
trata de condutas de gravidades diferentes, com a mesma pena. 
 Nesse ponto, é necessário aplicar todas as informações ditas quanto aos crimes de posse 
(art. 12) e porte (art. 14) com apenas uma diferença, que é o objeto material. Nos artigos 12 e 14, o 
objeto material é arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido. Já no art. 16, os objetos 
são: ARMAS DE FOGO, ACESSÓRIOS OU MUNIÇÃO DE USO RESTRITO OU PROIBIDO. 
 Assim, temos que: 
 
 Arma, acessório, munição permitida: a posse configura o crime do art. 12 e o porte, o crime 
do art. 14. 
 Arma, acessório, munição de uso proibido ou restrito: a posse ou o porte configuram o 
delito do art. 16. 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
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Nos termos do art. 3º, XVIII do Dec. 3665/05; arma de uso restrito: é arma que só pode ser utilizada 
pelas Forças armadas, por algumas instituições de segurança e por pessoas físicas e jurídicas 
habilitadas devidamente autorizados pelo Exercito e de acordo com legislação específica. 
Segundo o art. 3º, LXXX: Arma de uso proibido: a antiga designação de uso proibido é dada aos 
produtos controlados pelo Exercito designados como “de uso restrito” 
Trata-se pois de norma penal em branco heterogênea. 
 
10.1. Conduta punível: 
 
Trata-se de tipo misto alternativo, ou seja, a prática de várias condutas, no mesmo contexto 
fático, configura crime único. 
 
10.2. Parágrafo único do art. 16: 
 
 Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: 
 I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; 
 II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou 
restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz; 
 III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com 
determinação legal ou regulamentar; 
 IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de 
identificação raspado, suprimido ou adulterado; 
 V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança 
ou adolescente; e 
 VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo. 
 
O art. 16, caput somente tem como objeto material, arma de fogo, acessório ou munição de 
uso proibido ou restrito, mas o p. único tem como objeto material tanto arma de fogo, acessório ou 
munição de uso permitido como de uso proibido/restrito, tratando-se de tipo penal autônomo em 
relação ao caput e isso é pacífico na doutrina e jurisprudência. 
Nesse sentido, STJ, Resp. 918.867/RS. 
 
O Inciso I pune aquele que faz a supressão ou alteração da marca, numeração ou sinal 
identificador da arma de fogo ou artefato, sendo que “artefato” é sinônimo de acessório. 
O inciso IV pune aquele que porta, possui, etc... a arma de fogo já raspada ou adulterada, 
atentando-se que o inciso IV não menciona “artefato”. 
Ex. A raspa a numeração da arma e vende para B que utiliza  A responde pelo art. 16, p. 
único, I e B pelo inciso IV. 
Obs.: se o autor de ambas as condutas for a mesma pessoa, haverá crime único. 
 
O inciso II exige uma finalidade específica que é tornar a arma de fogo equivalente a arma de 
uso proibido ou restrito. Ex. alterar cano de arma de calibre permitido para proibido. 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
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Aqui está a prova de que p. único se aplica também para as armas de uso permitido pois 
somente se pode transformar arma de uso permitido em arma de uso proibido ou restrito. Outra 
finalidade específica é modificar as características da arma para induzir em erro autoridade policial, 
perito ou juiz. O inciso II prevalece sobre o crime de fraude processual do art. 347 do CP. 
É necessário observar ainda que se a finalidade for induzir em erro o MP, por exemplo, em 
investigação conduzida pelo membro do MP, o fato é atípico. Isso porque o tipo penal não menciona 
MP. Esse crime se consuma com a simples modificação, ainda que a finalidade não seja alcançada. A 
tentativa é perfeitamente possível. 
 
O inciso III pune a posse, detenção ou emprego de artefato explosivo ou incendiário, sem 
autorização. Aqui não se tem mero artefato, mas sim artefato explosivo ou incendiário. Ex. bomba 
caseira, granada. 
Atente-se que esse inciso III derrogou o art. 253 do CP, na parte em que trata de artefato 
explosivo ou incendiário. 
 
 No que tange ao inciso V é necessário observar que sua redação é idêntica à do art. 242 do 
ECA, o que faz crer que o art. 242 do ECA fora derrogado (revogação parcial), vez que, de acordo com 
a doutrina, o art. 242 do ECA continua aplicável no que se refere às armas brancas, sejam próprias 
(criado com a finalidade de arma – ex. soco inglês) ou impróprias (objeto que possa ser utilizado 
como arma – ex. faca de cozinha). 
 Assim, entregar dolosamente revólver a uma criança se enquadra no inciso V do Estatuto do 
Desarmamento. Já entregar uma faca de cozinha ou soco inglês é crime do art. 242 do ECA. 
 
 Relativamente ao inciso VI, é necessário indagar se aquisição de arma de fogo raspada implica 
em receptação. E a resposta é positiva, desde que a arma seja produto de crime. Ex. agente sabe que 
a arma raspada é produto de crime e começa a portá-la. Haverá a prática dos dois crimes, em 
concurso material. Isso porque possuem objetividades jurídicas distintas e momentos consumativos 
diferentes. Isso foi o que decidiu o STJ no Ag. Reg. no Resp. 908.826/RS. O porte ilegal não absorve a 
receptação e, além disso, há concurso material entre os crimes. 
 
11. Análise do art. 17 – Comércio ilegal de arma de fogo: 
 
Comércio ilegal de arma de fogo 
 Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, 
adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade 
comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal 
ou regulamentar: 
 Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
 Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de 
prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência. 
 
11.1. Sujeito ativo do crime: 
Direito Penal IV - Estatuto do DesarmamentoPágina 17 
 
 
O sujeito ativo somente pode ser comerciante ou industrial de arma de fogo, acessório ou 
munição legal ou clandestino. 
O crime é próprio quanto ao sujeito passivo. 
Se o indivíduo vende arma ilegal na lojas de arma de um shopping ou no fundo de sua casa, 
ambos respondem pelo art. 17 do Estatuto. 
 
11.2. Sujeito passivo: 
 
O sujeito passivo do crime é a coletividade. 
 
11.3. Conduta punível: 
 
Esse crime é de conduta múltipla ou variada – tipo misto alternativo. Daí que, prevendo 
diversos núcleos verbais a prática de vários deles em um mesmo contexto fático configura crime 
único. 
 
11.4. Objeto material: 
 
O objeto material do crime é arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido ou de uso 
proibido. 
 Ex. comercializar ilegalmente revolver 38 e metralhadora é o mesmo crime. Sucede que, se for 
arma de fogo de uso proibido ou restrito, a pena é aumentada da metade, nos termos do art. 19 do 
Estatuto. 
 
11.5. Consumação e tentativa: 
 
A consumação se dá com a prática de qualquer das condutas do tipo penal. 
 A tentativa é possível. Ex. tentar adquirir ilegalmente uma arma de fogo na condição de 
comerciante de arma de fogo. 
 Indaga-se aqui se esse crime seria habitual ou não. E resposta é negativa. Esse crime não é 
habitual e uma única conduta configura o delito. Ex. comerciante da loja de armas vende 200 armas 
legalmente e uma arma ilegalmente. 
 Obs.: comerciante de restaurante vende sua arma a um cliente do restaurante: o crime foi o 
do art. 14, se for arma permitida, ou o crime do art. 16, se for arma restrita. 
 
12. Análise do art. 18: 
 
Tráfico internacional de arma de fogo 
 Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, 
acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente: 
 Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
Direito Penal IV - Estatuto do Desarmamento 
 
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12.1. Condutas puníveis: 
 
Nas condutas de importar ou exportar, o crime é material e se consuma com a efetiva entrada 
ou saída do objeto do país. 
A tentativa é perfeitamente possível. Nas condutas de importar e exportar, o art. 18 prevalece 
sobre o crime de contrabando do art. 334 do CP. 
Nas condutas de favorecer a entrada ou saída, o crime é formal ou de consumação 
antecipada, ou seja, o crime se consuma com o simples favorecimento, ainda que o favorecido não 
consiga entrar ou sair do país com o objeto. 
A tentativa é possível. 
Nas condutas de favorecer a entrada e favorecer a saída, há absorção do art. 318 do CP. O 
crime do art. 318 do CP é crime funcional (praticado por funcionário público, praticado contra AP). Já 
o crime do art. 18 do Estatuto do Desarmamento não é crime funcional, o que significa dizer que, se 
um funcionário público facilita a entrada ou saída de armas do Brasil, ele responde pelo art. 18 do 
Estatuto do Desarmamento. 
O art. 18 do Estatuto do desarmamento é crime comum, podendo der praticado por qualquer 
pessoa. O elemento subjetivo é o dolo, a competência para julgamento é da Justiça Federal. 
O STJ já decidiu que não é possível a aplicação do princípio da insignificância em tráfico de 
armas e munições. Isso foi decidido no HC 45.099/AC. 
 
Obs.: A venda de arma de fogo configura qual crime? Depende. Se for uma venda entre não 
comerciantes: 
a) Art. 14 – permitida 
b) Art. 16 – proibida 
Já se a venda for por comerciante de armas, o comerciante pratica o art. 14, enquanto o 
comprador pratica ou o art. 14 ou o art. 16. 
Tratando-se de venda internacional, tanto o vendedor como o comprador respondem pelo 
art. 18 do Estatuto do Desarmamento. 
 
13. Fiança e liberdade provisória; 
 
O p. ún. do art. 14, do art. 15 afirmavam que seria inafiançável o delito. 
O art. 20 afirma que os artigos 16, 17 e 18 falam do não cabimento de liberdade provisória. 
Mas tais dispositivos foram declarados inconstitucionais nos termos da ADI 
Os parágrafos relativos ao art. 14 e 15, em razão da aplicação do princípio da razoabilidade. Já 
o art. 20, o fundamento foi o estado de inocência.

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