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FACULDADE MATER DEI 1 Analise o seguinte caso hipotético e responda as questões formuladas: “Apolinário Quaresma ajuizou ação indenizatória em face de João dos Anzóis, alegando ter sido agredido por este na noite de 01/04/2013, na oportunidade em que se encontraram na residência do autor. Em sua contestação, João dos Anzóis alegou que embora tenha ido à casa do autor no dia 01/04/2013, esta visita ocorreu no período da tarde. Alegou, ainda, que durante a noite esteve no ambulatório do Hospital Municipal, onde recebeu atendimento do enfermeiro do local, pois sofreu um ferimento na barriga enquanto trabalhava em casa. Durante a instrução do processo, restou devidamente comprovado, por meio de prova testemunhal, que João dos Anzóis esteve na casa de Apolinário Quaresma, não se sabendo, contudo, o horário em que o réu foi embora. Além disso, o autor comprovou por meio de laudo médico que efetivamente sofreu lesões por instrumento contundente. Da mesma forma, a prova documental trazida aos autos comprova que João dos Anzóis recebeu atendimento do enfermeiro Fulano de Tal no Ambulatório do Hospital Municipal, no dia 01/04/2013. Porém, não consta nos documentos o horário em que ocorreu esse atendimento. Após encerrada a instrução, tendo sido produzidas todas as provas requeridas pelas partes, o juiz permanece com dúvidas acerca da autoria das lesões (se realmente teria sido o réu o causador).” Diante desse cenário (aparente incompletude da prova coligida aos autos), poderia o magistrado, reputando importante a oitiva do enfermeiro Fulano de Tal a fim de verificar o horário do atendimento feito ao réu, determinar de ofício a produção dessa prova (oitiva do enfermeiro)? Se as partes não requereram a oitiva do enfermeiro, pode o juiz determiná-la de ofício? Possui o juiz da causa poderes instrutórios (ordenar a realização de diligências não requeridas pelas partes)? Analise as questões considerando o contido no Código de Processo Civil, bem como os princípios dispositivos e da imparcialidade do juiz. Cite, no mínimo, duas fontes de pesquisa. FACULDADE MATER DEI 2 Primeiramente, conforme expresso nos Artigos 332 e 342 do Código de Processo Civil: Art. 342. O juiz pode, de ofício, em qualquer estado do processo, determinar o comparecimento pessoal das partes, a fim de interrogá-las sobre os fatos da causa. Art. 332. Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa. Juntamente, o art. 130 do CPC é específico ao dispor sobre o poder-dever do juiz de ir à busca da prova, ou seja, em busca da verdade. Art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias. Tal dispositivo dá ao julgador ampla liberdade na produção de provas, sem fazer qualquer distinção entre ações que versam sobre direitos disponíveis ou não. Ou seja, o juiz tem liberdade para determinar a produção de provas. Isso significa que o magistrado pode, quando considerar necessário, determinar de ofício a produção de provas. O princípio dispositivo, que rege o processo civil é apontado como um dos principais obstáculos aos poderes instrutórios do juiz.1 O princípio dispositivo encontra-se consagrado na própria Exposição de Motivos do Código de Processo Civil vigente, refletindo a vertente do pensamento jurídico ocidental, que propende a reservar às partes o papel principal nessa área, o que induz, em tese, ao afastamento de qualquer interferência do juiz. 1 Discordando dessa característica do princípio dispositivo: BARBOSA MOREIRA, José Carlos, Temas de direito processual: quarta série, cit., p. 35-40. FACULDADE MATER DEI 3 A primeira constatação é a de que o modelo dispositivo, na sua singular concepção, não possui nenhuma relação com os poderes instrutórios do juiz, sendo fenômenos distintos que se prestam a finalidades diversas, podendo ambos conviver harmoniosamente no processo, já que os atos das partes não interferem na atividade do juiz, e nem vice-versa.2 Na verdade, os atos de disposição das partes devem ser reconhecidos, garantidos, e estimulados pelo juiz, da mesma forma que o comando do processo pelo magistrado deve ser respeitado, exigido e interpretado como meio de assegurar a regularidade, o equilíbrio e a efetividade da relação jurídica processual. São condutas, pois, que se complementam, e não se excluem. Respeitados os princípios da imparcialidade e da isonomia entre as partes, o juiz não deve ficar adstrito ao acervo probatório apresentado, podendo de ofício requisitar a produção de provas satisfatória a busca da verdade real, dada à relevância da sua atuação para a solução das controvérsias. Confirma, tal constatação os dizeres de Antônio Carlos Marcato: “A visão publicista deste exige um juiz comprometido com a efetivação do direito material. Isto é, o juiz pode, a qualquer momento e de ofício determinar sejam produzidas provas necessárias a seu convencimento. Trata-se de atitude não apenas admitida pelo ordenamento, mas também desejada por quem concebe o processo como instrumento efetivo de acesso à ordem jurídica justa.”3 O magistrado pode (e deve) participar ativamente da produção da prova, sobretudo quando se encontrar em estado de perplexidade, 2 Com o mesmo entendimento: TARUFFO, Michele, Investigación judicial y producción de prueba por lãs partes, cit., p. 7. 3 MARCATO, Antonio Carlos. Código de Processo Civil Interpretado. São Paulo: Atlas, 2004. p. 363. FACULDADE MATER DEI 4 com dificuldade para formar seu convencimento com base na prova exclusivamente produzida pelas partes do embate processual.4 Assim, em sequência a atividade das partes, não tendo o juiz formado sua convicção para julgar o caso com as provas integrantes dos autos é-lhe permitido determinar de ofício a instrução probatória com tal objetivo, conforme estabelece o artigo 130 do CPC. A Lei nº 9.099/95, que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, outorga ao magistrado uma carga significativa de poderes para o exercício da jurisdição, mais intensos que os tradicionalmente exercidos pelos outros juízes, mantendo a liberdade de instrução do magistrado prevista do Código de Processo Civil (CPC) e ampliando a sua liberdade de interpretação para decidir a causa. 4 MONTENEGRO FILHO, Misael. Código de Processo Civil comentado e interpretado. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 187. FACULDADE MATER DEI 5 REFERÊNCIAS: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869.htm www.abdpc.org.brabdpcartigosPODERES%20INSTRUTORIOS%20DO%20JUIZ%20E %20A%20BUSCA%20DA%20VERDADE%20REAL%20- %20Roberta%20Fussieger%20Bri%C3%A3o.pdf www.ccje.ufes.brdireitoposstrictosensumestradoLinksdissertacaotriciaxavier.pdf www.conjur.com.br2012-set-04eduardo-cerqueira-possivel-producao-provas-instancia- recursalimprimir=1 www.portaldeperiodicos.idp.edu.brindex.phpcadernovirtualarticleviewFile821563 www.jfdf.jus.brjuizadosEspeciaisFederaisBruno_Largura_Juiz_nos_Juizados_Especiais.pdf
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