Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Recapitulação das primeiras aulas 1. O QUE É CURRÍCULO? Em sentido amplo o currículo escolar ab r a n ge to d as as ex pe r i ên c i as es co l a re s . É a totalidade das experiências de aprendizagem planejadas e patrocinadas pela escola . São todas as experiências dos alunos, que são aceitas pela escola como responsabilidade própria. São todas as atividades através das quais o aluno aprende. Em sentido restrito currículo escolar é o conjunto de matérias a serem ministradas em determinado curso ou grau de ensino. Neste sentido, o currículo abrange dois outros conceitos importantes: o de plano de estudos e o de programa de ensino. Plano de estudos é a lista de matérias que devem ser ensinadas em cada grau ou ano escolar, com indicação do tempo de cada uma, expressa geralmente em horas e semanas. Programa de ensino é a "relação dos conteúdos correspondentes a cada matéria do plano de estudos, em geral, e em cada ano ou grau, com indicação dos objetivos, dos rendimentos desejados e das atividades sugeridas ao professor para melhor desenvolvimento do programa e outras instruções metodológicas" . De forma ampla ou restrita, o currículo escolar abrange as atividades desenvolvidas dentro da escola. E, segundo César Coll, as atividades educativas escolares correspondem à ideia de que existem certos aspectos do crescimento pessoal, considerados importantes no âmbito da cultura do grupo, que não poderão ser realizados satisfatoriamente ou que não ocorrerão de f o r m a a l g u m a , a m e n o s q u e s e j a f o r n e c i d a u m a a j u d a e s p e c í f i c a , q u e s e j a m e x e r c i d a s atividades de ensino especialmente pensadas para esse fim. São atividades que correspondem a uma finalidade e são executadas de acordo com um plano de ação determinado, isto é, estão a serviço de um projeto educacional. A primeira função do currículo, sua razão de ser, é a de explicitar o projeto - as intenções e o plano de ação - que preside as atividades educativas escolares. Enquanto projeto, o currículo é um guia para os encarregados de seu desenvolvimento, um instrumento útil para orientar a prática pedagógica, uma ajuda para o prof essor. Por esta função, não pode limitar-se a enunciar uma série de intenções, princípios e orientações gerais que, por excessivamente distantes da realidade das salas de aula, sejam de escassa ou nula ajuda para os professores. O currículo deve levar em conta as condições reais nas quais o projeto vai ser realizado, situando-se justamente entre as intenções, princípios e orientações gerais e a prática pedagógica. É função do currículo evitar o hiato entre os dois extremos; disso dependem, em grande parte, sua utilidade e eficácia como instrumento para orientar a ação dos professores. O currículo, entretanto, não deve suplantar a iniciativa e a responsabilidade dos p r o f es s o r es , co nve r t en d o - os em m er o s in s t rum e n t os de ex e c u ção d e u m p l a no p r év i a e minuciosamente estabelecido. Por ser um projeto, o currículo não pode contemplar os múltiplos fatores presentes em cada uma das situações particulares nas quais será executado (...). Em resumo, entendemos o currículo como o projeto que preside as atividades educativas e s co l a r es , d e f i n e su a s i n t en çõ es e p ro p or c i o na gu i as d e açõ es ad equ adas e ú t e i s p a r a o s p r o f e s s o r e s , q u e s ão d i r e t am en t e r esp o ns áv e i s p o r s u a ex e c u ção . P a r a i s s o , o cu r r í c u l o proporciona informações concretas sobre que ensinar, quando ensinar, como ensinar e que, como e quando avaliar" (Psicologia e currículo, São Paulo, Ática, 1996, p. 43-5). Dentre outras possíveis, podemos extrair do texto de César Coll seis ideias importantes: I - O currículo é um projeto. Não se trata de algo pronto e acabado, mas de algo a ser construído permanentemente no dia-a-dia da escola, com a participação ativa de todos os interessados na atividade educacional, particularmente daqueles que atuam diretamente no e s t ab e l ec im en to es co l a r , co mo ed u ca do r es e edu cand o s , mas t am b ém d os m em bro s d a comunidade em que se situa a escola. II - O currículo situa-se entre as intenções, princípios e orientações gerais e a prática pedagógica. Mais do que apenas evitar a distância e o hiato entre esses dois pólos do processo educacional - as intenções e as práticas - o currículo deve estabelecer uma vinculação coerente entre eles, deve constituir um eficaz instrumento que favoreça a realização das intenções,p r i n c í p i o s e o r i e n t a ç õ e s n u m a a ç ã o p r á t i c a e f e t i v a c o m v i s t a s a o d e s e n v o l v i m e n t o d o s educandos. III - O currículo é abrangente, não compreende apenas as matérias ou os conteúdos do conhecimento, mas também sua organização e seqüência adequadas, bem como os métodos que permitem um melhor desenvolvimento dos mesmos e o próprio processo de avaliação,incluindo questões como o que, como e quando avaliar. IV - O currículo é um guia, um instrumento útil para orientar a prática pedagógica, uma ajuda para o professor. Por isso mesmo, na medida em que atrapalhar o processo de ensino- aprendizagem, deverá ser imediatamente modificado. O professor precisa estar atento, por exemplo, à extensão do conteúdo - se excessivamente extenso deve ser reduzido para facilitar a efetiva aprendizagem do mesmo; ao método com que o mesmo é ensinado - um método pode ser eficaz em alguns casos e ineficaz em outros; à eficácia do processo de avaliação no sentido de não prejudicar mas favorecer o desenvolvimento contínuo dos alunos; e assim por diante. V - Para que cumpra tais funções, o currículo deve levar em conta as reais condições nas quais vai se concretizar: as condições do professor, as condições dos alunos, as condições do a m b i en te e s co l a r , a s co n d içõ es da co m u ni d ad e , a s c a rac t e r í s t i c a s d os m at e r i a i s d id á t i co s disponíveis, etc. VI - O currículo não substitui o professor, mas é um instrumento a seu serviço. Cabe ao professor orientar e dirigir o processo de ensino-aprendizagem, inclusive modificando o próprio currículo de acordo com as aptidões, os interesses e as características culturais dos educandos. BASE COMUM E PARTE DIVERSIFICADA De acordo com o artigo 26 da lei nº. 9394/96, "os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela". BASE NACIONAL COMUM O que a lei nº 5692/71 chamou de núcleo comum a atual lei denomina base nacional comum. Na verdade, o sentido das duas expressões é praticamente o mesmo. Trata-se de um conjunto de matérias consideradas obrigatórias para todos os estabelecimentos de ensino f u n d am ent a l e p a r a t od os os a lun os d os m esm os . São aq u e l es e s t ud os q u e o l eg i s l ado r c o n s i d e r a n e c e s s á r i o s p a r a d a r a o e d u c a n d o u m a f o r m a ç ã o g e r a l s ó l i d a e a b r a n g e n t e , indispensável à compreensão da sociedade em que vive, à participação efetiva na vida social e ao prosseguimento dos estudos nos níveis ulteriores. E quais são esses conteúdos que constituem a base nacional comum? No parágrafo 1º do artigo 26, a lei estabelece que "os currículos (...) devem abranger,obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa, o conhecimento do mundo físico e naturale da realidade social e política, especialmente do Brasil". T a l d i s p o s i t i v o , n a p r á t i c a , s u g e r e c o m o b a s e n a c i o n a l c o m u m a s c i n c o m a t é r i a s t r ad i c io n a lm en t e co ns id e r ad as como n eces sá r i a s e ob r i ga t ó r i as p a r a a f o rm ação ge r a l d o cidadão, que são as mesmas do anterior núcleo comum, embora sem a sua organização em áreas de conhecimento: l-Língua Portuguesa, incluindo a literatura nacional; II – Matemática III - Ciências, destinadas ao estudo do mundo físico e natural; IV - História, especialmente do Brasil; V - Geografia, também especialmente do Brasil. Cumpre ressaltar que as duas últimas se destinam, conforme a lei, ao conhecimento da realidade social e política. Portanto, tanto a História quanto a Geografia devem priorizar os aspectos sociais e políticos da sociedade, especialmente da sociedade brasileira. Trata-se de mudar uma abordagem dessas matérias bastante arraigada em nosso sistema educacional, qual seja a de privilegiar a História e a Geografia universais, dos outros países, principalmente dos Estados Unidos e da Europa, isto é, dos países ricos, em detrimento do que nos interessa mais de perto, a História e a Geografia do nosso país. A lei dedica um parágrafo especial (art. 26, § 4~) ao ensino da História do Brasil, que deverá "levar em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia". Trata -se de um dispositivo importante, principalmente se levarmos em conta que, frequentemente, a nossa história tem sido estudada como a história do conquistador europeu, supostamente um povo superior, que aqui veio para trazer a "civilização". Na verdade, todos sabemos, e é preciso que a escola, de uma vez por todas, também incorpore essa realidade, o povo brasileiro resulta da combinação de três matrizes principais: a indígena, a européia e a africana, que precisam ter i gu a l t r a t am en t o p o r pa r t e d a e s co l a . Al ém d i s so , t amb ém n ão se d ev e es qu ece r a ma t r i z asiática, já que o Brasil, de modo especial mais recentemente, recebeu grande contingente de imigrantes desse continente. Será o currículo escolar uma estrada coerente que leva ao desenvolvimento global da personalidade do educando ou um emaranhado de caminhos estranhos, em que geralmente acriança se perde? Entretanto, a base nacional comum vai além das cinco matérias citadas, incluindo mais quatro: VI - O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. Claro que todas as matérias, em maior ou menor grau, promovem o desenvolvimento cultural dos alunos (art.26, § 2º). O legislador indica quais as que considera fundamentais e obrigatórias e, entre estas, e s t á a a r t e . M as n ão ex i s t e "a a r t e " ; o qu e h á s ão "a r t e s " , com o a p in tu r a , a mú s i ca , a escultura, o teatro, o cinema, etc. E o ensino da "arte" não se dá em abstrato, e sim por meio de uma determinada arte, e esta está na dependência direta das aptidões dos alunos. Não há, portanto, por que obrigar todos os alunos a estudar música ou cinema; e, em música, não tem cabimento obrigar todos a estudar flauta, por exemplo. A lei dispõe que devem ser formadas turmas especiais, independentemente da série em que se encontram os alunos, cada uma delas dedicada ao estudo e à prática de uma determinada arte (art. 24, IV). V I I - A ed u cação f í s i c a , i n t eg r ad a à p r op os t a p ed ag ó g i ca da e s co la , é co mp on en t e curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos (art. 26, § 3º). Temos aqui quatro determinações especiais, que devem ser levadas em conta pelo estabelecimento escolar: 1º a educação física deve estar integrada à proposta pedagógica da escola. Portanto, a escola deve ter uma proposta p ed agó g ica e s p ec í f i c a , não n ecess a r i am en t e i gua l à d e ou t ra s e s co l a s , e e s t a p r op os t a pedagógica deve ser global, incluindo todos os conteúdos curriculares, entre os quais está a ed u cação f í s i c a ; 2 º a ed ucação f í s i c a d ev e a ju s t a r - se à s f a ix a s e t á r i as do s a lu no s , com exercícios próprios para cada idade; 3º a educação física deve ajustar-se às condições da população escolar, incluindo, por exemplo, a possibilidade de que cada grupo de alunos se d ed iq u e a ex e r c í c i os d i fe r en t es , d e a co rd o com s eus in t e r es s es e ap t i dõ es ; 4 º n os cu rs os noturnos a educação física é facultativa, o que constitui um avanço, pois, na legislação anterior, para ser dispensado da educação física o estudante precisava apresentar atestado de trabalho. VIII - Língua estrangeira moderna, incluída pela lei na parte diversificada, mas obrigatória, a p a rt i r da qu in ta sér i e , e cu j a es co lh a f i c a r á a c a r go da co mu ni dad e es co l a r , d en t ro d a s possibilidades da instituição (art. 26, § 5º). Sendo obrigatória a partir da quinta série, nada impede que o estudo de língua estrangeira seja incluído nas séries anteriores, mesmo porque tal estudo será tanto mais eficiente quanto mais cedo começar. Mas há que levar em conta as reais possibilidades da instituição, pois de nada adianta incluir o seu estudo se a escola não tem condições de oferecê-lo de forma eficaz, o que produzirá até aversão dos alunos pela língua.Outro ponto importante é a escolha da língua pela comunidade escolar, e não apenas pela direção da escola ou, mesmo, pelo conjunto dos professores. O mais indicado seria a oferta de diversas línguas estrangeiras modernas, para que cada aluno possa optar pelo estudo daquela que for mais do seu agrado ou atender mais aos seus interesses. IX - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis, em caráter: confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável, ministrado por professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas; ou i n t e r c o n f e s s i o n a l , r e s u l t a n t e d e a c o r d o e n t r e a s d i v e r s a s e n t i d a d e s r e l i g i o s a s , q u e s e responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa (art. 33). Atendendo principalmente às pressões da Igreja católica, dominante no Brasil, o ensino religioso das escolas públicas constitui matéria de todas as Constituições, a partir de 1934. Por outro lado, atendendo a pressões daqueles que são contrários a que se ensine religião na escola pública, esse mesmo ensino sempre teve um caráter facultativo para os alunos. O avanço, no caso da atual lei, é que o ensino religioso pode ser interconfessional, isto é, não se estuda uma determinada religião, mas o fenômeno religioso ou a religiosidade comum a todas as confissões religiosas. Observação importante: Nas séries iniciais do ensino fundamental, as matérias devem ser desenvolvidas predominantemente sob a forma de atividades. PARTE DIVERSIFICADA Como vimos, a base nacional comum do currículo será complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionaise locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela (art. 26). É preciso considerar que, com oito matérias obrigatórias nacionalmente, excluído o ensino religioso, facultativo para os alunos, sobra pouco espaço para a parte diversificada do currículo.Supondo-se que o sistema de ensino inclua mais duas matérias, e o estabelecimento escolar, outras duas, serão mais quatro matérias obrigatórias para os alu nos, perfazendo um total de d o z e m a t é r i a s , n ú m e r o q u e t a l v e z s e j a e x c e s s i v o , p r i n c i p a l m e n t e n o c a s o d o e n s i n o fundamental. Parece interessante que se possa reduzir a base nacional comum, em benefício da parte diversificada, que talvez contribua mais para a formação dos alunos, já que esta deve estar de acordo com as características próprias do ambiente social em que se situa a escola. De acordo com o dispositivo acima, pressupõe-se que o sistema de ensino deva incluir no currículo matérias de interesse regional, ficando para o estabelecimento escolar a inclusão de conteúdos de interesse local. A i n d a e m r e l a ç ã o a o s c o n t e ú d o s c u r r i c u l a r e s d a e d u c a ç ã o b á s i c a , a l e i ( a r t . 2 7 ) estabelece as seguintes diretrizes: I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática" II - consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada estabelecimento; III - orientação para o trabalho; IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não-formais. Tais diretrizes dizem respeito, naturalmente, a todos os conteúdos curriculares, ou seja,devem constituir preocupação permanente da escola em todas as suas atividades. Não haverá uma matéria de orientação para o trabalho, outra que trate dos direitos e deveres dos cidadãos,uma terceira que difunda os valores fundamentais ao interesse social, e assim por diante. Em todas as matérias tais assuntos devem ser discutidos e fazer parte do trabalho escolar. As condições de escolaridade dos alunos, em cada estabelecimento, por exemplo, devem ser a base sobre a qual prosseguirá o processo de escolarização, a partir da qual cada aluno poderá adquirir novos conhecimentos, incorporar novos valores, aprender o respeito ao bem comum e à ordem democrática, realizar suas aptidões, modificar suas atitudes, enfim, desenvolver-se plenamente. Fonte: www.educador.brasilescola.com
Compartilhar