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Acórdão - 0100900-60.2012.5.17.0005 - 23/05/2013 (Ac. 3732/2013) 24/05/2013 13:31 ACÓRDÃO - TRT 17ª Região - 0100900-60.2012.5.17.0005 RECURSO ORDINÁRIO Recorrente: GALVAO ENGENHARIA S/A Recorridos: ANDERSON JOSE SILVERIO GOMES ATIVA SERVICOS REPRESENTACAO E CONSULTORIA LTDA - ME Origem: 5ª VARA DO TRABALHO DE VITÓRIA - ES Relator: DESEMBARGADOR LINO FARIA PETELINKAR COMPETÊNCIA: 2ª TURMA EMENTA RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. De acordo com o dispõe no item IV da Súmula 331 do C. TST, o tomador de serviços responde subsidiariamente pelos débitos trabalhistas do empregador. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de RECURSO ORDINÁRIO, sendo partes as acima citadas. RELATÓRIO Trata-se de recurso ordinário interposto pela segunda reclamada, em face da sentença de fls. 126-139, da lavra do MMº. Juiz Cássio Ariel Moro, que declarou a revelia da primeira reclamada, rejeitou a preliminar de ilegitimidade passiva da segunda ré, condenou a segunda reclamada subsidiariamente, declarou o vínculo de emprego com a primeira ré, condenou ao pagamento das verbas rescisórias, multa do art. 467 e 477 da CLT, FGTS e multa de 40%. Além disso, concedeu ao autor os benefícios da gratuidade de justiça. Recurso ordinário da segunda reclamada, às fls. 140-145, requerendo a reforma da sentença no tocante a contradita da testemunha, responsabilidade subsidiária e limitação da responsabilidade subsidiária. Comprovante de recolhimento de custas, à fl. 145, e de depósito recursal, à fl. 144-v. Contrarrazões do reclamante, às fls. 150-161, pugnando pela improcedência do recurso da ré. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO 2.1 CONHECIMENTO A recorrente, legítima titular do interesse afirmado na pretensão de que foi sucumbente, interpôs recurso adequado, dentro do prazo legal de oito dias. Regular a representação. Recolhidas as custas processuais e o depósito recursal. Assim, porque preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso ordinário. 2.2. MÉRITO 2.2.1. PRELIMINAR. CONTRADITA TESTEMUNHAL. TROCA DE FAVORES. INEXISTÊNCIA. Alega a segunda reclamada que, em audiência, contraditou a testemunha do autor, tendo em vista ela possuir ação, com idêntico pedido, em face das mesmas partes. A r. sentença rejeitou a contradita. Em razões recursais, pugna a ré pela declaração da suspeição da testemunha, e a consequente desconsideração de seu depoimento. À análise. Para se configurar a suspeição da testemunha contraditada deve estar evidenciado seu intento de favorecer ou prejudicar uma das partes, fato que não restou demonstrado nos autos. O simples fato de pleitear parcela idêntica à postulada pelo autor nesta ação não a torna suspeita, até porque é plenamente compreensível que empregados submetidos a condições de trabalho parecidas tenham as mesmas parcelas a pleitear. O caso amolda-se perfeitamente à Súmula 357 do C. TST: “TESTEMUNHA. AÇÃO CONTRA A MESMA RECLAMADA. SUSPEIÇÃO. Não torna suspeita a testemunha o simples fato de estar litigando ou de ter litigado contra o mesmo empregador.” Desse modo, merece ser mantida a rejeição à contradita à testemunha do autor apresentada pela recorrente, devendo o valor de seu depoimento ser sopesado com os demais elementos dos autos. Rejeita-se a preliminar. 2.2.2. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. Pugna a segunda reclamada pela reforma da sentença que a condenou a arcar com os créditos trabalhistas de forma subsidiária. À análise. Na exordial, afirmou o reclamante que foi contratado pela primeira reclamada, em 01-02-2012, na função de Eletricista Montador, sendo dispensado em 01-02-2012. Alegou ainda que, embora contratado pela primeira reclamada, prestava serviço para a segunda ré, em decorrência de contrato de prestação de serviços de montagem e manutenção elétrica entre as reclamadas. Por fim, afirmou que embora dispensado imotivadamente, as reclamadas não efetuaram o pagamento das verbas rescisórias, além de não ter dado baixa em sua CTPS, razão pela qual pugnou pela condenação das rés, sendo a segunda de forma subsidiária. Em contestação, a segunda reclamada afirmou que o reclamante nunca foi seu empregado, não recebendo qualquer salário desta ou estando a ela subordinado. Sustentou ainda que o autor jamais prestou serviços, quer direta ou indiretamente, a ela. A r. sentença condenou a segunda reclamada a responder subsidiariamente pelos créditos deferidos ao autor. Em razões recursais, requer a segunda reclamada a reforma da sentença. À análise. Muito embora o autor tenha sido contratado pela primeira reclamada, prestou serviços para a segunda. A testemunha do autor, única ouvida nos autos, afirmou que: “trabalhou para a primeira ré de julho a setembro de 2011; que trabalhou com o autor; que trabalhava para a Galvão, tomadora dos serviços, durante todo o período”. Desse modo, verifica-se que o obreiro, através da empresa prestadora de serviço, estava vinculado a segunda ré. Partindo dessa premissa, tenho me manifestado reiteradas vezes no sentido de que a teor do que dispõe o item IV do Enunciado 331 do C. TST e, aplicando analogicamente o art. 16 da Lei 6.019/74, que estabelece a responsabilidade do tomador de serviços com a empresa intermediadora da mão-de-obra, o tomador de serviços responde subsidiariamente pelos débitos trabalhistas do empregador. Essa responsabilidade justifica-se porque tendo o tomador dos serviços agido com culpa in eligendo e in vigilando, deve responder pela falta de idoneidade da prestadora de serviços, eis que tinha o dever de manter constante vigilância quanto ao cumprimento das obrigações trabalhistas em relação ao ora reclamante. Além disso, a responsabilidade subsidiária do tomador se coaduna com o princípio do risco empresarial expressamente ressaltado pelo art. 927 do CC. Ora, detendo a empresa o risco pela sua atividade-fim, é indubitável que também deve responder pelos débitos decorrentes de relações trabalhistas que, embora assumidas por outrem, delas se utilize para a consecução de seus fins. A liberdade na contratação e a livre iniciativa devem estar sempre em consonância com valores sociais do trabalho insculpidos no art. 1º, IV, da CF/88, do que não se pode furtar a segunda reclamada, sob pena de estar agindo com abuso de direito, ou seja, utilizando-se do direito de contratar com o intuito de burlar a legislação trabalhista, o que não pode ser tolerado. Portanto, restando demonstrado que a segunda reclamada se valeu da força de trabalho do obreiro, deve responder subsidiariamente pelos créditos deferidos na presente demanda. Nega-se provimento. 2.2.3. DELIMITAÇÃO DO PERÍODO DA RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. Pugna a segunda reclamada pela delimitação do período da responsabilidade subsidiária. Alega que a testemunha do autor afirmou que somente trabalhou no período compreendido entre julho e setembro de 2011. À análise. A testemunha do autor, única ouvida nos autos, afirmou que: “trabalhou para a primeira ré de julho a setembro de 2011; que trabalhou com o autor; que trabalhava para a Galvão, tomadora dos serviços, durante todo o período”. Embora a testemunha do autor somente tenha prestado serviço à ré no período de julho a setembro de 2011, entende-se que seu depoimento tem o condão de comprovar que o autor prestou serviço durante todo o período pleiteado. Isso porque, tendo o autor comprovado a prestação de serviço, seria ônus da reclamada, do qual não se desincumbiu, comprovar qual o período figurou como tomadora de serviço, principalmente em razão de ter afirmado que o reclamante jamais lhe prestou serviço. Desse modo, desconstituindo o autor a alegação da ré de que ele jamais lhe prestou serviço, é ônus da reclamada comprovar qual foi o período trabalhado, o qual, reafirma-se, não se desincumbiu. Nega-se provimento. CONCLUSÃO A C O R D A M os Magistrados do Tribunal Regional do Trabalho da 17ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso, rejeitar a preliminar arguída e, no mérito, negar-lhe provimento.Participaram da Sessão de Julgamento do dia 23.05.2013: Des. Wanda Lúcia Costa Leite França Decuzzi (Presidente); Des. Lino Faria Petelinkar e o Desembargador Carlos Henrique Bezerra Leite. Procuradora Carolina de Pra Camporez Buarque. DESEMBARGADOR LINO FARIA PETELINKAR Relator Análise do acórdão Em razão da problemática proposta pelo acórdão de nº. 0100900-60.2012.5.17.0005, datado de vinte e três de maio de dois mil e treze (23/05/2013), de recorrente GALVÃO ENGENHARIA S/A e recorridos ANDERSON JOSÉ SILVERIO GOMES e ATIVA SERVIÇOS REPRESENTACÃO E CONSULTORIA LTDA – ME, originada da 5ª Vara do Trabalho da cidade de Vitória no Espírito Santo, relatado pelo DESEMBARGADOR LINO FARIA PETELINKAR, faz-se por discussão de recurso ordinário interposto pela Ativa Serviços Representação e Consultoria Ltda – ME, da lavra do MMº. Juiz Cássio Ariel Moro, que declarou à revelia de Anderson José Silverio Gomes, rejeitou a preliminar de ilegitimidade passiva da segunda ré, condenou a segunda reclamada subsidiariamente, declarou o vínculo de emprego com a primeira ré, condenou ao pagamento das verbas rescisórias, multa do art. 467 e 477 da CLT, FGTS e multa de 40%. Além disso, concedeu ao autor os benefícios da gratuidade de justiça. Muito se há a respeito da discordância entre o tomador dos serviços e o empregador “original” ou principal na relação trabalhista. Isso o é assim pelo crescimento do modos econômicos de nossa atual sociedade globalizada. Pela ampla necessidade de implementação de serviços, seja por longo período ou por instantes momentâneos. Nestas circunstancialidades, acresce a terceirização de serviços, cujo propósito inclui o estímulo ao desenvolvimento econômico empresarial, uma vez que seu manejo de forma adequada permite que a atenção negocial se volte tão somente para a atividade preponderantemente desempenhada, deixando ao encargo do empregador prestador de serviços a concretização daquela atividade meio. Esta é então a ideia praticada e fortemente compreendida. Para melhor abreviar as intencionalidades de deslealdade e práticas abusivas pelo empregador, o Tribunal Superior do Trabalho enunciou a súmula 331, regulando quanto aos aspectos que pesam sobre a temática, razões estas pelas inúmeras possibilidades de terceirização fraudulenta, onde a delegação da execução de serviços à empresa estranha via contrato de prestação de serviços visa tão somente resguardar a empresa tomadora de serviços dos ônus da contratação direta de mão de obra, não abrindo mão dos bônus advindo. Em razão disto e de mais infinitas condições, o Poder Judiciário veem trabalhando arduamente pelo fim das fraudes e das atitudes que prejudicam a parte trabalhadora. Cabe ressalvar que, a terceirização não é uma constante ilegal ou puramente fraudulenta, não, sua aplicação é aceitável no Direito Trabalhista e vista com bons olhos, a problemática é o modo como se utiliza de tais recursos para a prática de algum ato prejudicante as partes envolvidas, que se compreende complexo. Assim sendo, é viabilizado ao tomador de serviço fazer uso de mão-de-obra prestada por trabalhador cuja relação empregatícia se dá empresa estranha, fato este que lhe é bastante conveniente ante a diminuição dos custos (já que a tomadora, a princípio, não se compromete com o pagamento de encargos trabalhistas) e melhora na qualidade dos produtos ou serviço, principiando por sua atividade fim. Quanto a isso, para não aprofundar as entrelinhas do tema, o que preceitua relevante nesta breve análise é a súmula 331, IV do TST que assim assevera: “O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde que hajam participado da relação processual e constem também do título executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de 21.06.1993). (Alterado pela Res. 96/2000, DJ 18.09.2000)”. Interessante observar que este inciso detivera sua redação modificada recentemente, dando maior seguridade ao empregado que presta serviços por terceirização. Falamos em responsabilidade subsidiária quando presente um requisito simplório e primordial, a existência na relação de terceirização fraudulenta ou de terceirização ilícita, o que também se detém comum na vivência trabalhista, bastando que haja algum inadimplemento das obrigações por parte do empregador. Assim o sendo, em razão da análise da súmula 331 neste caso preposto e concretamente, a responsabilização subsidiária pelas verbas trabalhistas não quitadas pela empresa prestadora de serviços ao seu empregado e cujo labor teve como beneficiário a empresa tomadora de serviços, será atribuído a esta, ainda que inexistentes a subordinação e a pessoalidade, devendo, ser observado o pagamento de valores referentes ao período em que foi beneficiada por aquela mão-de-obra especifica em questão. Deve cobrir sim o tomador de serviços pelas responsabilizações com o empregado, seja pelo fator do pagamento ou de qualquer outra verba, arcando com os ditos do empregador originário ou principal, em respeito a denominada visão principiológica “culpa in elegendo” e “culpa in vigilando”. A jurisprudência, amplamente vem entendendo deste modo, no qual acreditamos ser o mais correto e seguro para o empregado. O que muito se questiona e se é utilizado como argumento em Tribunais é justamente a falta ou a omissão de uma lei que trate especificadamente do tema, servindo este de pressuposto nos tribunais em contradito a aplicação da súmula, mas, esta não demonstra ser uma visão plausível nem mesmo honrosa, pois, aquele que decide por vias próprias a contratação de qualquer serviço, deverá sim ser responsabilizado. A legislação por ser referente a um meio social totalmente diferente deste nosso atual, deixou de asseverar sobre o tema, mas o mesmo fora solucionado e abreviado pela súmula em razão. Mas, nem mesmo seria um problema tamanhamente para os tribunais em decisão, pois, compreendendo ser o contrato de trabalho um contrato em espécie, detém este de princípio fundado pelo CCB, por esta razão podemos destacar a utilização do art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, ao qual assevera que: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito”, ou até mesmo a via da CLT em seu art. 8º: “ As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normais gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público”. Ainda podemos destacar quanto a omissão da CLT, um dos princípios mais pautados e acrescidos, qual seja a função social dos contratos e a pura dignidade da pessoa humana. É importante ressaltar que, há a possibilidade de exclusão da responsabilidade subsidiária, e esta albergada pelo próprio Tribunal Superior do Trabalho, caso o tomador de serviços apresente-se como mero dono da obra, como no caso da contratação de serviço de empreitada, ressalvando-se as empresas que tenham como objetivo social a construção civil; no que tange ser longe do caso em questão. Portanto, em breves linhas analisamos o caso em si, pontuando as ressalvas e os pontos tidos como fracos da súmula 331 em seu inciso IV que retraí sobre a responsabilização subsidiária nos casos pertinentes a terceirização ilícita ou fraudulenta. É visível que nosso entendimento seja de pura assertiva a decisão do Tribunal Recursal. Referência Bibliográfica MARTINS, Sergio Pinto. Comentários às Súmulas do TST. 3ª Ed., São Paulo: Ed. Atlas S.A, 2007. SILVA, Homero Batista da. RESPONSABILIDADE PATRIMONIALDO PROCESSO DO TRABALHO. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho. 3ª Ed., São Paulo: LTr, 2011. Centro Universitário Salesiano de São Paulo U. E. Lorena Thiago José de Souza Oliveira Vinícius Amorim Trabalho de Direito do Trabalho I: Análise de acórdão e discussão crítica Junho de 2013 Centro Universitário Salesiano de São Paulo U. E. Lorena Thiago José de Souza Oliveira Vinícius Amorim Trabalho de Direito do Trabalho I: Análise de acórdão e discussão crítica Trabalho apresentado como exigência para obtenção de acréscimo de um ponto (1,0) na avaliação semestral da disciplina de Direito do Trabalho I ministrada pela Profª Drª Grasiele Nascimento do Centro Univeritário Salesiano de São Paulo – Campus Lorena. Junho de 2013
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