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Manejo da Via Aérea 
 
Monitoria da disciplina Medicina de Urgência: Trauma Clínico e Cirúrgico - UFRN Página 1 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CURSO DE MEDICINA 
MONITORIA DA DISCIPLINA MEDICINA DE URGÊNCIA: 
 TRAUMA CLÍNICO E CIRÚRGICO 
ROTEIRO DE ATIVIDADE PRÁTICA 
 
Manejo básico das vias aéreas 
A grande maioria dos casos de trauma necessitam apenas de manejo básico das vias aéreas, a 
equipe de atendimento precisa estar treinada quanto ao reconhecimento da necessidade de 
estabelecimento de uma via aérea definitiva. 
Em 90% dos casos o manejo básico da Via Aérea é suficiente para garantir a estabilidade do 
paciente, nos outros 10% se faz necessário o estabelecimento de uma via aérea definitiva, seja pela 
Intubação Orotraqueal ou pela Via Aérea Cirúrgica. 
As causas de ventilação inadequada podem ser: Intrínsecas (Hemorragia Intracraniana), 
extrínsecas (Medicamentos e outras drogas) e por obstrução da Via Aérea. 
Causas obstrutivas de ventilação inadequada/Conduta: 
 Queda da língua; (Cânula Faríngea ou de Guedel) 
 Perda do tônus muscular do palato mole; (Cânula Faríngea ou de Guedel) 
 Presença de corpo estranho; (Identificação e remoção) 
 Tecidos lesados; (Cânula Faríngea ou de Guedel) 
 Sangue e secreções; (Aspiração) 
Indícios de Obstrução da Via aérea: 
 Esforço respiratório importante; 
 Produção de ruídos (Roncos, estridor, bolhoso); 
 Sinais de má perfusão periférica; 
OBS1: A obstrução completa pode cursar de forma silenciosa, devido à ausência de passagem de ar. 
Manobras para preservação da Via Aérea: Inclinação da cabeça-elevação do Queixo e Elevação da 
Mandíbula; 
 Inclinação da cabeça-elevação do Queixo(Head-tilt Chin-lift): Aplicação de pressão descendente 
na fronte do paciente, inclinando sua cabeça e o levantamento da mandíbula com os dedos 
indicador e médio, elevando o queixo. (Não pode ser realizada na suspeita de lesão cervical.) 
 Elevação da mandíbula(Jaw-thrust): O profissional localizado à cabeceira da cama, coloca a 
palma das duas mãos na região parieto-occiptal da cabeça do paciente e agarra os ângulos da 
mandíbula com os dedos indicador e dedos longos, em seguida desloca a mandíbula 
anteriormente. 
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Sequência Rápida de Intubação: (RSI – Rapid Sequence of Intubation) 
Conceito: RSI é a primeira abordagem para garantir uma via aérea definitiva em uma situação 
de emergência, consistindo na administração simultânea de um potente agente indutor com uma dose 
paralisante de bloqueador neuromuscular(NMBA – Neuromuscular Blocking Agente). Quando aplicado 
por profissional treinado e em paciente bem selecionado aumenta a taxa de sucesso da intubação para 
98% e reduz a taxa de complicações. 
Acesso a Via Aérea: 
A Sociedade Americana de Anestesiologia Define: 
 Via Aérea Difícil: Existência de Fatores clínicos que compliquem a ventilação oferecida por 
máscara ou intubação feitas por profissional treinado; 
 Ventilação Difícil: Inabilidade de um anestesista treinado manter a saturação de oxigênio 
(SaO2)>90% sob uso de máscara de ventilação com Fração Inspirada de Oxigênio(FiO2) de 100%. 
 Intubação Difícil: Necessidade de mais de 3 tentativas de intubação ou uma tentativa com 
duração > 10 minutos. 
A avaliação da via aérea para predizer possíveis complicações com a máscara facial ou a intubação é 
um componente essencial na avaliação do paciente que será submetido à cirurgia eletiva. Infelizmente, 
a utilidade dos métodos de avaliação da via aérea não vem sendo adequadamente avali ados no 
paciente que necessita ser submetido a uma intubação urgente. 
Avaliação da Via Aérea Difícil 
Fatores que Interferem no manejo da via aérea 
Localização Anatômica Obstáculo Localização Anatômica Obstáculo 
Face Alterações Faciais Via Aérea Alta Via área Reativa 
 Presença de pêlos Doença restritiva 
 Edêntulos (sem dentes) Tórax-Abdomen Ascite 
Via Aérea Alta Abcesso Obesidade 
 Hematoma Hemoperitôneo 
 Neoplasia Sd Compartimental 
abdominal Epiglotite 
 
Fig. 1: Classificação de 
Mallanpati. Usada na avaliação 
pré-operatória eletiva. 
Mallanpati Classe>2 indica maior 
probabilidade de intubação 
difícil necessitando de técnicas 
específicas de intubação. 
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 A Classificação de Mallanpati é realizada com a protusão espontânea da língua, no paciente 
crítico é necessário fazer uso do laringoscópio, o que de certa forma desvirtua a técnica de classificação. 
Outros Fatores que predizem uma intubação difícil: 
 Abertura da boca <3 cm; 
 Mobilidade cervical <35° na extensão 
atlantooccpital; 
 Distância Tiromentual <7 cm; 
 Dentes incisivos apresentando grande 
comprimento; 
 Pescoço curto; 
 Mandíbula retraída; 
 Palato curvo. 
Farmacologia avançada para o manejo da Via Aérea: 
Drogas pré-indutoras: Modular o estímulo na via aérea que normalmente deflagra uma intensa 
resposta simpática resultando em hipertensão e taquicardia (Resposta pressora), esta resposta pode ser 
muito danosa ao paciente crítico, podendo causar lesões cardíacas e cerebrais além de mascarar 
hipotensão relativa e vasodilatação, tal processo também pode resultar em hipotensão pós-intubação. 
Broncoespasmo também pode resultar da manipulação da Via Aérea. 
Drogas Indutoras: Facilitam a intubação devido ao fato de causarem sedação rápida do 
paciente. 
NMBA: São utilizados para facilitar a laringoscopia e a intubação, pois causam relaxamento 
profundo dos músculos esqueléticos. 
Drogas pré-indutoras Drogas Indutoras NMBA 
Fentanil Etomidato Succinilcolina 
Lidocaina Propofol Rocuronio (Alta dose) 
Rocuronio (Dose desfaciculante) Tiopental 
 Cetamine 
 
Sequência Padrão de RSI: 6 Ps 
1. Preparação; 
2. Pré-Oxigenação; 
3. Pré-medicação; 
4. Paralisia; 
5. Passagem do Tubo Endotraqueal; 
6. Cuidados Pós-Intubação; 
Preparação: Avaliação do Paciente quanto a Via Aérea difícil + Preparo do Material; 
Pré-Oxigenação: Ministrar Oxigênio a 100% por 3 minutos; 
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Pré-medicação: Uso de drogas para prover sedação e analgesia, e atenuar as respostas fisiológicas a 
laringoscopia e Intubação; 
Paralisia: Uso de NMBA; 
Passagem do Tubo: Colocação do Tubo Endotraqueal sobre visualização direta das cordas vocais; 
Cuidados Pós-Intubação: Confirmar a localização correta do tubo e verificar se há adequada oxigenação 
e ventilação do paciente. 
Anatomia: 
 
Intubação Orotraqueal (IOT) 
Procedimento: 
Indicações: 
A Intubação Orotraqueal é indicada em qualquer situação que requer o controle definitivo da Via Aérea. 
 Pacientes submetidos à anestesia geral; 
 Paciente crítico por doença multissistêmica ou injúria; 
 Parada cardiorespiratória; 
 Falha em proteger a Via Aérea de aspiração; 
 Oxigenação ou ventilação inadequada; 
 Obstrução existente ou previsível (Aspiração de chamas). 
 Escala de coma de Glasgow <9. 
Contra-indicações: 
 Paciente com transecção parcial de traquéia, pois a IOT pode causar transecção completa de 
traquéia; 
 Injúria instável de coluna cervical é contra-indicação relativa, IOT em estabilização em linha da 
coluna cervical se faz obrigatória neste caso; 
 
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Material: 
 Luvas; 
 Tubo endotraqueal; 
 Seringa de 10ml; 
 Estetoscópio; 
 Laringoscópiocom lâminas apropriadas; 
o Macintosh, lâmina curva, ponta da lâmina deve ser encaixada na valécula, elevando a 
base da língua e consequentemente a epiglote; 
o Miller, lâmina reta, deve elevar diretamente a epiglote; 
 Tubos endotraqueais de 7.0, 7.5 e 8.0 mm (Adequados para a maioria dos pacientes adultos); 
 Fármacos necessários para a pré-medicação e paralisia; 
 Lidocaína gel para lubrificação dos tubos; 
 Fio guia; 
Fases do procedimento: 
Preparação: Verificar se todo o equipamento se encontra disponível, funcionando e a equipe preparada 
para a realização do procedimento. 
 Inflar balão do tubo endotraqueal(Testar sua funcionalidade); 
 Colocar o guia dentro do tudo endotraqueal, mantendo a curva original do tubo e não 
permitindo que o guia ultrapasse a ponta do tubo; 
 Verificar se o aspirador de secreções está preparado para uso e disponível; 
 Obter acesso Venoso e monitorar o paciente(Caso a situação permita); 
 Caso não exista contra-indicação, posicionar o paciente em extensão da cabeça e flexão do 
pescoço (Colocar apoio na região cervical posterior); 
Pré-Oxigenação: Usar uma máscara de oxigênio sem sistema de recirculação de ar ou um sistema de 
bolsa-válvula-máscara com capacidade de oferecer FiO2 de 100% por 3 minutos. 
OBS2: Retirar próteses dentárias do paciente depois da pré-oxigenação, pois a remoção das mesmas 
causa dificuldade de adequação da máscara à face do mesmo. 
OBS3: A manobra de Sellick (Pressão sobre a cartilagem cricóide) é usada para diminuir o risco de 
aspiração e deve ser realizada quando existir algum tipo de rebaixamento do nível de consciência, seja 
em decorrência da situação clínica do paciente ou devido ao uso de sedação. Também pode melhorar a 
visualização da glote em casos onde a via aérea se torne distorcida. 
Pré-medicação: Uso de drogas para prover sedação e analgesia, e atenuar as respostas fisiológicas a 
laringoscopia e Intubação; (Ver texto especifíco) 
Paralisia: Uso de NMBA; 
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Passagem do tubo: Posicionado na cabeceira da cama, com o laringoscópio em sua mão 
esquerda(mesmo que seja destro), abra a boca do paciente com a mão direita, insira a lâmina do 
laringoscópio a direita da língua do paciente e desvie a língua para a esquerda. Localize a epiglote. Se 
estiver usando uma lâmina curva, posicione a ponta da lâmina na valécula epiglótica, que localiza-se 
entre a base da língua e a epiglote. Se estiver usando uma lâmina reta posicione sua ponta posterior a 
epiglote. Com a ponta da lâmina corretamente posicionada, eleve o laringoscópio para frente e para 
cima, num ângulo de 45°, para expor as cordas vocais (Ver imagens do tópico anatomia), cuidado para 
não apoiar o laringoscópio na dentição do paciente, pois este pode causar danos à dentição ou a tecidos 
moles. Sob visão direta das cordas vocais, introduza o tubo endotraqueal utilizando a mão direita, passe 
o tubo entre as cordas vocais até que o balão desaparecer na traquéia. Remova a lâmina e introduza o 
balão por mais 3 ou 4 cm após as cordas vocais. Infle o balão com a menor pressão que seja suficiente 
para evitar o escape de ar nas ventilações, altas pressões podem resultar em complicações como 
traqueomalácia. Até se ter a certeza de que o tubo endotraqueal está posicionado na traquéia é 
necessário que um assistente permaneça realizando a manobra de Sellick. 
 Cuidados Pós-Intubação: A ponta do tubo endotraqueal deve permanecer 3 a 7 cm acima da Carina, 
uma regra prática é alinhar a marca de 22cm do tubo com os dentes incisivos, na maioria dos adultos. 
Usar o detector de dióxido de carbono para detectar a presença de troca gasosa. Realizar ausculta da 
região epigástrica, hemitórax esquerdo e hemitórax direito na linha hemiaxilar, a fim de não encontrar 
ruídos sincrônicos as ventilações no primeiro sítio e presenças destes de forma simétrica em ambos os 
hemitóraxes, caso aja diferença da asculta descrita, pensar em intubação esofágea ou intubação seletiva 
de brônquio fonte. Após confirmar a posição correta do tubo, proceder à fixação do mesmo. Realizar 
radiografia de tórax para confirmar a posição final do tubo. 
Monitor: Juliano José 
jjsmed2009@yahoo.com.br 
 
Referências: 
1. REYNOLDS SF; HEFFNER J. Airway Management of the Critically Ill Patiente: Rapid-Sequence 
Intubation. Chest 2005, 127; 1397-1412. 
2. WALZ JM; ZAYARUZNY M; HEARD SO; Airway Management in Critical Illness. Chest 2007. 131; 
608-620. 
3. KABRHEL C; et al. Videos In Clinical Medicine: Orotracheal Intubation. New England Journal of 
Medicine 2007, 356; 17. 
4. MURPHY MF; HUNG OR; LAW JA. Tracheal Intubation: Tricks of theTrade. Emerg Med Clin N Am 
2008. 26; 1001-1014. 
5. TOBIAS B. UptodateV.19.1: Basic airway management in adults. Acessado em 01 de maio de 
2011.

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