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APOSTILA COMPLETA - DIREITO CIVIL DAMASIO

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- 1 - 
Coordenadores: Marcelo T. Cometti 
Fernando F. Castellani 
Sumário 
 
TÍTULO I – PARTE GERAL 
 
 
CAPÍTULO I – PESSOAS NATURAIS ............................................................................ 3 
 
CAPÍTULO II – PESSOA JURÍDICA ............................................................................... 9 
 
CAPÍTULO III – FATO JURÍDICO .................................................................................. 15 
 
CAPÍTULO IV – DOMICÍLIO .......................................................................................... 25 
 
CAPÍTULO V – DOS BENS ............................................................................................. 27 
 
 
TÍTULO II – PARTE ESPECIAL 
 
 
CAPÍTULO I – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES .............................................................. 31 
 
CAPÍTULO II – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS .................................................. 49 
 
CAPÍTULO III – CONTRATOS EM ESPÉCIE ................................................................ 53 
 
CAPÍTULO IV – RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................................ 67 
 
 
TÍTULO III – DIREITO DAS COISAS 
 
 
CAPÍTULO I – POSSE ...................................................................................................... 71 
 
CAPÍTULO II – DIREITOS REAIS .................................................................................. 73 
 
CAPÍTULO III – PROPRIEDADE .................................................................................... 75 
 
CAPÍTULO IV – DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA ...................................... 79 
 
CAPÍTULO V – DIREITOS REAIS DE GARANTIA ..................................................... 83 
 
 
TÍTULO IV – DIREITO DE FAMÍLIA 
 
 
CAPÍTULO I – CASAMENTO ......................................................................................... 87 
 
CAPÍTULO II – PARENTESCO ....................................................................................... 97 
 
CAPÍTULO III – FILIAÇÃO ............................................................................................. 99 
 
CAPÍTULO IV – UNIÃO ESTÁVEL ............................................................................... 103 
 
 
CAPÍTULO V – ALIMENTOS ......................................................................................... 105 
 
 
 
Direito Civil 
BRUNNO PANDORI GIANCOLI 
 
 - 2 - 
 
CAPÍTULO VI – TUTELA E CURATELA ...................................................................... 107 
 
CAPÍTULO VII – DIREITO DAS SUCESSÕES .............................................................. 111 
 
 
 
 
 
 
 
 - 3 - 
Coordenadores: Marcelo T. Cometti 
Fernando F. Castellani 
TÍTULO I - PARTE GERAL 
 
 
CAPÍTULO I – PESSOAS NATURAIS 
 
 
1. Conceito de personalidade jurídica 
 
 A personalidade jurídica é um atributo essencial para ser sujeito de direito (art. 1º do CC). 
Para a teoria geral do direito civil a personalidade é uma aptidão genérica para titularizar 
direitos e contrair obrigações. 
 Todavia, a noção de aptidão, ou seja, qualidade para ser sujeito de direito, conceito 
aplicável tanto às pessoas físicas como às pessoas jurídicas não é o único sentido técnico de 
personalidade. Num sentido valorativo, a personalidade traduz o “conjunto de características e 
atributos da pessoa humana, considerada objeto de proteção privilegiada por parte do 
ordenamento, bem jurídico representado pela afirmação da dignidade humana” (Gustavo 
Tepedino, Heloisa Helena Barbosa, Maria Celina Bodin de Morais. Código Civil interpretado 
conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Revonar, 2004, p.04). 
 Resumindo os dois sentidos técnicos que envolvem o conceito de personalidade jurídica 
podemos afirmar que: a) ela significa a possibilidade de alguém ser titular de relações 
jurídicas, como forma de expressão da dignidade da pessoa humana e, b) objeto de tutela 
privilegiada pela ordem jurídica constitucional. 
 
2. Início da personalidade jurídica da pessoa natural 
 
 O início da personalidade é marcado pelo nascimento com vida, conforme dicção do art. 2º 
do CC. Clinicamente o nascimento é aferível pelo exame de docimasia hidrostática de Galeno. 
 Em consonância com o texto do art. 2º do CC, a doutrina majoritária defende que o Direito 
Civil positivo adotou a teoria natalista para o início da personalidade jurídica. Nessa linha, o 
nascituro, ente concebido, mas não nascido, não passa de uma potencialidade de direitos. 
 Em sentido contrário, por influência do Direito francês, surge a teoria concepcionista pela 
qual o nascituro adquiriria personalidade jurídica desde a concepção, sendo, assim, 
considerado pessoa. Aqui o nascimento não é condição para que a personalidade exista, mas 
para que se consolide. 
 
3. Proteção jurídica do nascituro 
 
 Nascituro é o ente já concebido, mas ainda não nascido. Deixando de lado as discussões 
teóricas sobre o início da personalidade jurídica, é certo que a segunda parte do art. 2º do CC 
expressamente “põe à salvo os seus direitos”. Assim, pode-se afirmar que na legislação em 
vigor o nascituro: 
a) É titular de direitos personalíssimos (como o direito à vida); 
b) Pode receber doação, conforme dispõe o art. 542 do CC: “A doação feita ao nascituro 
valerá, sendo aceita por seu representante legal”; 
c) Pode ser beneficiado por legado e herança (art. 1798 do CC); 
d) Pode ser-lhe nomeado curador para a defesa dos seus interesses (arts. 877 e 878 do 
CPC); 
e) O Código Penal tipifica o crime de aborto; 
 
Direito Civil 
BRUNNO PANDORI GIANCOLI 
 
 - 4 - 
f) Tem direito a alimentos. 
É bom lembrar que o enunciado 01, aprovado na Jornada de Direito Civil, promovida pelo 
CEJ (Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal), em 2002, afirmou que “a 
proteção que o Código Defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos 
de personalidade, tais como o nome, imagem e sepultura”. 
 
4. Capacidade de direito e capacidade de fato 
 
Por capacidade de direito, também conhecida como capacidade de gozo ou capacidade de 
aquisição, pode ser entendida como a medida da intensidade da personalidade. Todo ente com 
personalidade jurídica possui também capacidade de direito, tendo em vista que não se nega 
ao indivíduo a qualidade para ser sujeito de direito. Personalidade e capacidade jurídica são as 
duas faces de uma mesma moeda. 
A capacidade de direito não se confunde com a capacidade de fato, também chamada de 
capacidade de exercício. Este conceito se relaciona com as condições pessoais que 
determinado indivíduo reúne para exercer pessoalmente seus direitos. Ela nada mais é do que 
a habilidade para praticar de forma autônoma, ou seja, sem a interferência de terceiros na 
qualidade de representantes ou assistentes, seus direitos civis. Da capacidade de fato 
distingue-se a legitimidade (ou legitimação). Esta é uma forma específica de exercício de 
determinados atos da vida civil, ao contrário da capacidade, a qual se refere à aptidão para a 
prática em geral. 
A capacidade de fato, ao contrário da capacidade de direito possui estágios definidos no 
próprio Código Civil. Ele distingue duas modalidades de incapacidade, a saber: a 
incapacidade em absoluta e a relativa. Trata-se de um divisor quantitativo de compreensão do 
indivíduo. 
De acordo com o art. 3º do CC são considerados absolutamente incapazes: 
a) Os menores de 16 anos (art. 3º, I) – Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente 
(Lei no. 8069/90), até os 12 anos de idade incompletos considera-se a pessoa criança. 
Entretanto, os adolescentes até os 16 também são reputados absolutamente incapazes. 
b) Aqueles que sofrem de doençaou deficiência mental (art. 3º, II) – Trata-se de uma 
hipótese que o indivíduo é atormentado por uma patologia que o impede de praticar atos no 
comércio jurídico, tendo em vista o comprometimento do seu quadro cognitivo. Nesta 
hipótese a incapacidade deve ser reconhecida por meio da ação de interdição, prevista nos 
artigos 1.177 ao artigo 1186 do CPC. 
c) Os que por causa transitória não puderem exprimir sua vontade (art. 3º, III) – São 
elementos para a configuração dessa forma de incapacidade o caráter temporário e a 
impossibilidade total de expressão da vontade, os quais deverão ser verificados 
cumulativamente. (ex. coma). 
De acordo com o art. 4º do CC são considerados relativamente incapazes: 
a) Os maiores de 16 e menores de 18 anos (art. 4º, I); 
b) Os ébrios habituais e os viciados em tóxico (art. 4º, II); 
c) Os deficientes mentais que tenham o discernimento reduzido (art. 4º, II); 
d) Os excepcionais sem desenvolvimento mental completo (art. 4º, III) – A previsão da 
incapacidade relativa dos excepcionais tem como propósito proteger os atos praticados pelos 
agentes nessas situações, sem prejuízo de sua salutar inserção no meio social. 
e) Os pródigos (art. 4º, IV) – Esta modalidade de incapacidade deve ser decretada 
judicialmente por requisição do cônjuge ou familiar, já que o que se protege, com a 
incapacidade do pródigo, é exatamente o patrimônio da família, e não apenas o patrimônio do 
 
 - 5 - 
Coordenadores: Marcelo T. Cometti 
Fernando F. Castellani 
pródigo. De acordo com o art. 1782 do CC “a interdição do pródigo só o privará de, sem 
curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e 
praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração”. 
É bom lembrar que a senilidade não é causa de restrição da capacidade, ressalvada a 
hipótese de a senectude gerar um estado patológico, a exemplo da arteriosclerose. 
Sobre a capacidade dos índicos está será regulada pela Lei no. 6.001/73 (Estatuto do 
Índio), tendo em vista que o código civil remete a matéria para a legislação especial (art. 4º, 
parágrafo único). 
 
5. Emancipação 
 
Trata-se de um uma hipótese de antecipação da aquisição da capacidade civil plena antes 
da idade legal. Três são as formas de emancipação: 
a) Emancipação voluntária – É aquela concedida por ato unilateral dos pais em pleno 
exercício do poder parental, ou um deles na falta do outro. Trata-se de ato irrevogável, sob a 
forma de instrumento público, independentemente de homologação judicial, desde que o 
menor haja completado 16 anos (CC art. 5º, parágrafo único, I, primeira parte). Para surtir os 
efeitos legais a escritura pública de emancipação deverá ser registrada no Cartório de Registro 
das Pessoas Naturais (CC art. 9º., II). 
b) Emancipação judicial – Realiza-se mediante uma sentença judicial, na hipótese de um 
menor posto sob tutela. Antes da sentença o tutor será, necessariamente, ouvido pelo 
magistrado (Código Civil art. 5º, parágrafo único, I, segunda parte). Nesse caso, o juiz deverá 
comunicar a emancipação ao oficial de registro civil, de ofício, se não constar dos autos haver 
sido efetuado este em oito dias. 
c) Emancipação legal – Ocorre em razão de situações descritas na lei. O art. 5º do CC nos 
traz as seguintes situações: 
1- O Casamento; 
2- Exercício de emprego efetivo; 
3- Colação de grau em curso de ensino superior; 
4- Estabelecimento civil ou comercial, ou a existência de relação de emprego, desde que, 
em função deles, o menor tenha economia própria. A expressão economia própria deve ser 
entendida no sentido de caracterização de renda suficiente por meio do estabelecimento ou do 
emprego para a sobrevivência da pessoa, de acordo com o nível social em que está inserida. 
 
6. Extinção da personalidade jurídica da pessoa natural 
 
A morte é o momento no qual a personalidade se extingue. A morte deverá ser atestada por 
profissional de medicina, ressalvada a possibilidade de suas testemunhas o fazerem se faltar o 
especialista, sendo o fato levado a registro, nos termos dos arts. 77 e 78 da Lei no. 6.015/73 
(Lei de Registros Públicos), cuja prova se faz através da certidão extraída do assento de óbito. 
Não se admite no ordenamento pátrio a hipótese de morte civil ou qualquer outro modo de 
perda da personalidade sem vida. Todavia é possível cogitar de uma presunção de morte, 
conforme se depreende da leitura do art. 7º do CC. 
O referido dispositivo trata de duas hipóteses de morte presumida. A primeira trata da 
probabilidade extrema de morte daquele que se encontre em perigo de vida. (CC art. 7º, I). A 
segunda hipótese trata dos desaparecidos em campanha de guerra ou feito prisioneiro, caso 
não seja encontrado até 02 dois anos após o término da guerra (CC art. 7º, II). 
Direito Civil 
BRUNNO PANDORI GIANCOLI 
 
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Por força do estabelecido no art. 9º, IV, do CC a sentença declaratória de morte presumida 
deverá ser inscrita em registro público, de forma a dar publicidade ao acontecimento. 
Finalmente, o CC no art. 8º trata da hipótese de morte simultânea, conhecida também como 
comoriência. Cuida-se de uma presunção juris tantum, segundo a qual se determina a morte 
simultânea daqueles que falecem na mesma ocasião, podendo ser ilidida por prova que 
estabeleça a precedência da morte de um dos envolvidos. 
O interesse no tratamento do tema justifica-se pela implicância de tal fato na ordem de 
vocação no plano da sucessão, ou seja, na transmissão dos direitos entre os sucessores e 
sucedidos, enfim, quem tem a posição de herdeiro do outro. 
 
7. Ausência das pessoas naturais 
 
Ausente é aquele que desaparece de seu domicílio, sem que dele se tenha notícias. Assim, 
para caracterizar a ausência a não-presença do sujeito deve somar-se com a falta de notícias. 
A ausência é um processo no qual a proteção dos bens do desaparecido dá lugar à proteção 
dos interesses dos sucessores. Este processo tem três estágios, conforme a menor 
possibilidade de reaparecimento do ausente: 
a) Declaração da ausência e curadoria dos bens: 
Com o desaparecimento de uma pessoa, sem deixar notícias, nem representante ou 
procurador, surge uma massa de bens de bens sem que tenha alguém para administrá-la. 
Portanto, a requerimento dos interessados na administração (cônjuge, companheiro, parente 
sucessível) ou do Ministério Público, o Poder Judiciário reconhecerá tal circunstância, com a 
declaração de ausência, nomeando curador, que passará a gerir os negócios do ausente até o 
seu eventual retorno, mediante arrecadação de seus bens (art. 1160 do CPC). 
Na nomeação o juiz deverá fixar os poderes e obrigações do curador, as quais, sem linhas 
gerais, seguirão os princípios a respeito dos tutores e curadores (arts. 1728 e seguintes do 
CC). A nomeação não é discricionária, estabelecendo uma ordem legal estrita e sucessiva, a 
saber: 
1) o cônjuge (também o companheiro), se não tiver separado judicialmente, ou de fato por 
mais de dois anos antes da declaração de ausência; 
2) pais do ausente (genitores); 
3) descendente, preferindo os mais próximos aos mais remotos; 
4) Qualquer pessoa à escolha do magistrado. 
Atente-se que não caberá nomeação de curador se não houver bens para administrar. 
Por fim, observa-se que a curadoria dos bens do ausente não se confunde com a curadoria 
da herança jacente (arts. 1819 e seguintes do CC). 
b) Sucessão provisória: 
De acordo com o art. 26 do CC decorrido 01 ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, 
se ele deixou representante ou procurador, hipótese que se limita à previsão do art. 23 do 
mesmo diploma., em se passando 03 anos, poderão os interessados requerer que se abra 
provisoriamente a sucessão. 
Consideram-se interessados na abertura o cônjuge ou companheiro; os herdeiros 
presumidos, legítimos ou testamentários; os que tiveremsobre os bens do ausente direito 
pendente de sua morte; os credores de obrigações vencidas e não pagas. 
O sucessor provisório recebe os bens que caibam no seu quinhão, dando, em regra, 
garantia pignoratícia ou hipotecária de restituí-los (art. 30 do CC). Essa cautela de exigência 
de garantia é excepcionada, porém, em relação aos ascendentes, descendentes e o cônjuge, 
uma vez provada sua condição de herdeiro (art. 30, parágrafo 2º do CC). 
 
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Coordenadores: Marcelo T. Cometti 
Fernando F. Castellani 
A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeitos 180 após 
sua publicação e trânsito em julgado, de acordo com o art. 28 do Código Civil. Depois desse 
período proceder-se-á à abertura do testamento, caso existente, ou ao inventário e partilha dos 
bens, como se o ausente tivesse falecido. 
Na forma do art. 33, os herdeiros necessários empossados (art. 1845 do CC) terão direito 
subjetivo a todos os frutos e rendimentos dos bens que lhes couberem, o que não acontecerá 
com os demais sucessores, que deverão, necessariamente, capitalizar metade desses bens 
acessórios, com prestação anual de contas ao juiz competente. Porém, se a ausência foi 
voluntária e injustificada, o ausente perde direito ao montante acumulado em favor dos 
sucessores (art. 33, parágrafo único do CC), como forma de sanção ao comportamento 
negligente daquele. 
c) Sucessão definitiva: 
Decorridos 10 anos do trânsito em julgado da sentença que concedeu a abertura da 
sucessão provisória, ou quando o ausente completar 80 anos de idade, se de 05 datam suas 
últimas notícias, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e levantamento das 
cauções; ou quando houver certeza da morte do ausente (arts. 37 e 38 do CC). 
Mas a propriedade assim adquirida considera-se resolúvel. Se o ausente aparecer nos dez 
seguintes à abertura da sucessão definitiva, os bens serão entregues no estado em que se 
acharem, ou os que se sub-rogarem neles, os o preço de sua alienação. Porém, se o ausente 
regressar depois de passados os 10 anos nada recebe. Reversamente, se não regressar e 
nenhum herdeiro tiver promovido a sucessão definitiva, serão os bens arrecadados como 
vagos passando à propriedade do Município, do Distrito Federal ou da União. Seja qual for o 
caso os direitos de terceiros são respeitados, não se desfazendo as aquisições realizadas. 
 
 
 - 9 - 
Coordenadores: Marcelo T. Cometti 
Fernando F. Castellani 
CAPÍTULO II – PESSOA JURÍDICA 
 
 
1. Caracteres gerais da pessoa jurídica 
 
Por diversas razões, inclusive de natureza social e antropológica, o homem tende a 
agrupar-se, para garantir a subsistência e realizar seus propósitos. O grupo, assim, recebe do 
ordenamento personalidade jurídica, viabilizando a sua atuação autônoma e funcional, com 
vistas à realização de seus objetivos. 
Contudo, para a constituição ou o nascimento da pessoa jurídica é necessária a conjunção 
de três requisitos: 
a) Vontade humana criadora - È a vontade gregária que marca o surgimento das pessoas 
jurídicas, vontade eminentemente criadora que, para ser eficaz, deve emitir-se na 
conformidade do que prescreve o direito positivo. 
b) Observância das condições legais – É a lei que determina a forma a que obedece aquela 
declaração de vontade, franqueando aos indivíduos a adoção de instrumento particular ou 
exigindo o instrumento público. 
c) Liceidade de seu propósito - Por óbvio não é possível reconhecer validade a um ente que 
atue em descompasso com o ordenamento jurídico que possibilitou seu surgimento, daí 
porque a liceidade é imprescindível à vida da pessoa jurídica. 
 
2. Teorias sobre a natureza da pessoa jurídica 
 
Diversas são as teorias que tentam explicar a caracterização das pessoas jurídicas, as quais 
refletem a evolução deste instituto ao longo da história. As principais são: 
a) Teoria da ficção – Segundo essa concepção o direito concebe a pessoa jurídica como 
uma criação artificial, cuja existência, por isso mesmo, é simplesmente uma ficção. 
b) Teoria orgânica ou da realidade objetiva – Seus partidários entendem que a pessoa 
jurídica é uma realidade viva, análoga à pessoa física. Para esta teoria as pessoas jurídicas 
possuem tanto um corpus, que administra e mantém a entidade em contato com o mundo, 
como um animus, que é a idéia dominante, manifestada nas associações e nas sociedades pela 
vontade do grupo componente e nas fundações pela de seu criador. 
c) Teoria da realidade técnica – Esta teoria situa a pessoa jurídica como produto da técnica 
jurídica, rejeitando a tese ficcional para considerar os entes coletivos como uma realidade, que 
não seria objetiva, pois a personificação dos grupos se opera por construção jurídica, ou seja, 
o ato de atribuir personalidade não seria arbitrário, mas à vista de uma situação concentra. 
A melhor doutrina entende que a teoria da realidade técnica é a que melhor explica o 
tratamento dispensado à pessoa jurídica por nosso ordenamento. A análise do art. 45 do CC 
permite afirmar que a personificação da pessoa jurídica é, de fato, construção da técnica 
jurídica, podendo, inclusive, operar-se a suspensão legal de seus efeitos, por meio da 
desconsideração, em situações excepcionais admitidas por lei. 
 
3. Surgimento e início da personalidade da pessoa jurídica 
 
O surgimento da pessoa jurídica de direito privado se dá em dois estágios distintos. 
O primeiro ocorre com a exteriorização da manifestação de vontade que permite a criação 
e a elaboração do ato de constituição, independentemente de qualquer autorização estatal, 
com exceção dos casos especiais tratados no CC. O ato deverá ser escrito, podendo se revestir 
 
Direito Civil 
BRUNNO PANDORI GIANCOLI 
 
 - 10 - 
de forma pública ou particular, salvo nas hipóteses das fundações, que requerem instrumento 
público ou testamento. 
No caso de defeito no ato constitutivo, seja ele formal ou substancial, aos legítimos 
interessados cabe o direito potestativo de anular a constituição da pessoa jurídica. O prazo é 
decadencial, como destaca o próprio texto do parágrafo único do art. 45 do CC. 
Abre-se o segundo estágio em razão da adoção do sistema das disposições normativas, 
porquanto o art. 45 do CC exige o registro do ato de constituição. O registro tem natureza 
constitutiva, por ser atributivo de personalidade, diferentemente do registro civil de 
nascimento da pessoa natural, eminentemente declaratório da condição de pessoa, já adquirida 
no instante do nascimento com vida. 
O art. 46 do CC dispõe sobre os dados a serem anotados na inscrição. Este se refere: a) 
identificação da pessoa jurídica segundo a sua denominação e fins, local da sede, tempo de 
duração e fundo social, se houver; b) aos nomes e qualificações dos fundadores ou 
instituidores e dos diretores; c) às normas básicas de administração, incluindo a representação 
junto às esferas judicial e extrajudicial; d) ao esclarecimento se o ato constitutivo é passível de 
modificação no que concerne à administração e ao seu modo de atuar; e) à informação se os 
membros da pessoa jurídica respondem subsidiariamente pelas obrigações sociais; f) às 
condições gerais na hipótese de extinção, inclusive a destinação do patrimônio. 
A falta do registro implica no surgimento de entidades de fato ou irregulares, desprovida 
de personalidade, mas com capacidade para se obrigar perante terceiros. Na doutrina do 
direito comercial a sociedade de fato seria aquela que funciona sem que houvesse sido 
reduzido a termo o seu estatuto ou contrato social; a sociedade irregular, por sua vez, seria 
aquela organizada por escrito, mas sem a necessária inscrição dos atos constitutivos no 
registro peculiar. 
É preciso pôr em sinal a existência de outras entidades despersonalizadas, além das 
chamadas sociedades de fato ou irregulares: 
a) MassaFalida – Se refere ao acervo patrimonial que pertencia à empresa declarada 
judicialmente falida. É com a sentença declaratória de falência que surge a massa falida. 
b) Espólio – Este consiste no patrimônio deixado pelo de cujus e compreensivo do 
conjunto de direitos e obrigações. O fato jurídico que faz surgir é o evento morte e a sua 
extinção se opera com o fato jurídico da partilha de bens entre os herdeiros. Entre esses dois 
momentos – morte e partilha – impõe-se administração do acervo de direitos e obrigações, 
cuja titularidade é exercida pela figura do inventariante. 
c) Herança jacente e vacante – O CC no art. 1819 prevê a hipótese de alguém vir a falecer, 
deixando acervo de bens sem, todavia, testamento ou herdeiro legítimo notoriamente 
conhecido. A situação configura o instituto da herança jacente. Os bens permanecerão nesta 
condição até a sua entrega aos herdeiros que vierem a se habilitar ou à declaração de sua 
vacância. Ocorrendo esta, o patrimônio deverá ser incorporado aos bens da União, do Estado 
ou do Distrito Federal. 
d) Condomínio – Dá-se a figura do condomínio quando mais de uma pessoa possui a 
titularidade do domínio de um bem. O condomínio não chega a ser uma pessoa jurídica, em 
primeiro lugar pela desnecessidade, uma vez que a ordem jurídica o instrumentaliza com os 
recursos jurídicos suficientes à administração de seus interesses. Em segundo lugar, porque 
não há manifestação de vontade neste sentido, nem formalização desta, carecendo, pois, de 
affectio societatis. 
 
 
 
 
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Coordenadores: Marcelo T. Cometti 
Fernando F. Castellani 
4. Capacidade e representação da pessoa jurídica 
 
A capacidade da pessoa jurídica é, por sua própria natureza, especial. Considerando sua 
estrutura organizacional, moldada a partir da técnica jurídica, esse ente social não poderá, por 
óbvio, praticar todos os atos jurídicos admitidos para a pessoa natural. “O seu campo de 
atuação jurídica encontra-se delimitado no contrato social, nos estatutos ou na própria lei. Não 
deve, portanto, praticar atos ou celebrar negócios que extrapolem da sua finalidade social, sob 
pena de ineficácia” (Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. Novo Curso de Direito 
Civil. Vol I. São Paulo: Saraiva, 2004, p.208). 
Por se tratar de um ente cuja personificação é decorrência da técnica legal, sem existência 
biológica ou orgânica, a pessoa jurídica, dada a sua estrutura, exige órgãos de representação 
para poder atuar na órbita social. Em verdade, mais técnico seria falar em presentação da 
pessoa jurídica. Isto é, por não poder atuar por si mesma, a sociedade ou a associação age, 
faz-se presente, por meio das pessoas jurídicas que compõem os seus órgãos sociais e 
conselhos deliberativos. Essas pessoas praticam atos como se fosse o próprio ente social. 
 
5. Espécies de pessoas jurídicas de direito privado 
 
O art. 44 do CC prevê cinco espécies de pessoa jurídica de direito privado. São elas: 
a) Associações: 
São entidades formadas pela união de indivíduos com o propósito de realizarem fins não-
econômicos. Note-se que, pelo fato de não perseguir escopo lucrativo, a associação não está 
impedida de gerar renda, porém os seus membros não pretendem partilhar lucros ou 
dividendos, como ocorre entre os sócios nas sociedades civis e empresárias. A receita gerada 
deve ser revertida em benefício da própria associação visando à melhoria de sua atividade. 
O estatuto social das associações deverá observar para a sua validade os requisitos 
indicados no art. 54 do CC. Trata-se de um conteúdo mínimo que poderá ser, eventualmente, 
ampliado. 
A assembléia geral é o órgão máximo das associações. Ela possui poderes deliberativos e o 
art. 59 do CC estabeleceu-lhe competências absolutas: 1º) eleger os administradores; 2º) 
destituir os adminitradores; 3º) aprovar contas; e 4º) alterar o estatuto. 
A lei considerou intransmissível a qualidade de associado (art. 56 do CC). Todavia, 
havendo autorização estatutária, o titular de quota ou fração ideal do patrimônio poderá 
transmitir, por ato inter vivos ou mortis causa, os seus direitos a um terceiro (adquirente ou 
herdeiro), que passará à condição de associado. 
A exclusão do associado só ocorre ocorrendo justa causa, e na estrita forma do estatuto 
social (art. 57 do CC). Mesmo não cuidando o estatuto de elencar as condutas que entende 
passíveis de exclusão do associado, a assembléia geral, especialmente convocada, poderá 
apreciar a existência de motivos graves, e, em deliberação fundamentada e por maioria 
absoluta dos presentes, decidir pela aplicação da sanção. 
Ocorrendo a dissolução da associação, o patrimônio líquido, será destinado à entidade de 
fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à 
instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes. Na falta dessas, os 
bens remanescentes serão devolvidos à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União 
(art. 61, § 2º do CC). 
Por cláusula do estatuto ou, no silêncio deste, por deliberação dos associados, prevê o § 1º 
do art. 61, é permitido aos respectivos membros, antes da destinação do remanescente a 
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entidades congêneres, receber em restituição, em valor atualizado, as contribuições que 
houverem prestado ao patrimônio da entidade. 
b) Sociedades: 
São as entidades formadas pela união de pessoas que exercem atividade econômica e 
buscam o lucro como objetivo. Dependendo do tipo de atividade realizada, as sociedades 
podem ser simples ou empresárias. As formas societárias previstas no nosso ordenamento são: 
1) sociedade em nome coletivo; 
2) sociedade em comandita simples; 
3) sociedade limitada; 
4) sociedade anônima; 
e) sociedade em comandita por ações. 
c) Fundações: 
São entidades resultantes de uma afetação patrimonial, por testamento ou escritura pública, 
que faz o seu instituidor, especificando o fim para o qual se destina. Para a criação de uma 
fundação, há uma série ordenada de etapas que devem ser observadas, a saber: 
1) Afetação de bens livres por meio do ato de dotação patrimonial; 
2) Instituição por escritura pública ou testamento; 
3) Elaboração dos estatutos (Há duas formas de instituição da fundação: a direta, quando o 
próprio instituidor o faz, pessoalmente; ou a fiduciária, quando confia a terceiro a organização 
da entidade). 
4) Aprovação dos estatutos (É o órgão do Ministério Público que deverá aprovar os 
estatutos da fundação, com recurso ao juiz competente, em caso de divergência); 
5) Realização do registro civil. 
d) Partidos Políticos: 
São entidades com liberdade de criação, tendo autonomia para definir sua estrutura interna, 
organização e funcionamento, devendo seus estatutos estabelecer normas de fidelidade e 
disciplina partidária (art. 17 da CF). 
O § 3º do art. 44 do CC estabelece que os partidos políticos serão organizados e 
funcionarão conforme o disposto na Lei n. 9.096/95. 
e) Organizações religiosas: 
São entidades que muito se assemelham às associações. Contudo, o § 1º. Do art. 44 do CC 
garante-lhes liberdade de criação, organização, estruturação interna, sendo vedado ao poder 
público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos. 
O art. 44 do CC não é um rol taxativo. Outras espécies como as cooperativas e as entidades 
desportivas não foram previstas neste dispositivo 
 
6. Desconsideração da personalidade jurídica 
 
O art. 50 do CC prevê a desconsideração, a qual pode ser entendida como um mecanismo 
que pretende a supressão temporária da personalidade jurídica da sociedade, em caso de 
fraude, abuso, ou simples desvio de função, objetivando a satisfação do terceiro lesado junto 
ao patrimônio dos próprios sócios, que passam a ter responsabilidade pessoal pelo ilícito 
causado.Norma de teor semelhante existe também no CDC no art. 28. 
 
 
 
 
 
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7. Extinção da pessoa jurídica 
 
O fim da pessoa jurídica poderá ocorrer por causas diversas, mas em qualquer hipótese a 
personalidade subsistirá até que se ultime a liquidação e se proceda a anotação devida. A 
dissolução deverá ser averbada no registro respectivo e, uma vez encerrada a liquidação, 
seguir-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica. 
A dissolução das pessoas poderá ser: 
a) Convencional – A mesma liberdade que permitiu aos sócios a criação da pessoa jurídica 
pode levá-los à extinção desta. Para tanto devem ser observadas as normas previstas no 
estatuto ou contrato social. 
b) Administrativa – Ocorre quando a autorização para o funcionamento da pessoa jurídica 
é cancelada. 
c) Judicial – A iniciativa para a dissolução da pessoa jurídica, em primeiro lugar, é dos 
administradores, que dispõem do prazo de trinta dias contado da perda da autorização, ou de 
sócio que tenha exercitado o direito de pedi-la na forma da lei. 
d) Fato natural – Ocorrendo o fato jurídico morte dos membros de uma sociedade, e não 
prevendo o seu ato constitutivo o prosseguimento das atividades por intermédio dos herdeiros, 
o resultado será a extinção da pessoa jurídica. 
 
 
 
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CAPÍTULO III – FATO JURÍDICO 
 
 
1. Conceito de fato jurídico lato sensu 
 
Os acontecimentos, indistintamente considerados, que geram direitos subjetivos são 
chamados, em sentido amplo, de fatos jurídicos ou fatos jurígenos. “Fatos jurídicos são, 
portanto, aqueles fatos a que o direito atribui relevância jurídica, no sentido de mudar as 
relações anteriores a eles e de configurar novas situações, a que correspondem novas 
qualificações jurídicas” (LOTUFO, Renan; [coordenação Everaldo Augusti Cambler]. Curso 
Avançado de Direito Civil: Vol 1. São Paulo: RT, 2003, p. 199). 
O ordenamento atribui a um fato uma qualificação e uma disciplina, de tal sorte que 
ocorrendo concretamente o fato, ou historicamente, constitui o ponto de confluência entre a 
norma e o dever ser da realidade: é o modo pelo qual o ordenamento jurídico encontra real 
atuação. 
Assim, fato jurídico, em sentido amplo (lato sensu), seria todo o acontecimento natural ou 
humano capaz de criar, modificar, conservar ou extinguir relações jurídicas. 
 
2. Efeitos aquisitivos, modificativos, conservativos e extintivos do fato jurídico 
 
1) Aquisição de direitos – Ocorre quando se dá sua conjunção com seu titular. Assim, 
surge a propriedade quando o bem se subordina a um dominus. A aquisição de direitos tem 
sido analisada das seguintes formas: 
a) Originária ou derivada – de acordo com a existência ou não de uma relação jurídica 
anterior com o direito ou bem objeto da relação, sem interposição ou transferência de outra 
pessoa; 
b) Gratuita ou onerosa – de acordo com a existência ou não de uma contraprestação para a 
aquisição do direito; 
c) A título universal ou singular – se o adquirente substitui o sucedido na totalidade (ou em 
quota-parte) de seus direitos ou apenas de uma ou algumas coisas determinadas; 
d) Simples ou complexa – Se o fato gerador da relação jurídica se constituir em um único 
ato ou numa necessária simultaneidade ou sucessividade de fatos. 
A título de complementação, porém, é importante distinguir os direitos futuros, em relação 
à expectativa de direito, do direito eventual e do direito condicional. 
A expectativa de direito é mera possibilidade de sua aquisição, não estando amparada pela 
legislação em geral, uma vez que ainda não foi incorporada ao patrimônio jurídico da pessoa. 
Um exemplo é a fase de tratativas para celebração de um contrato, em que não há falar, ainda, 
de um direito adquirido, por si só, à realização da avença. 
O direito eventual, por sua vez, refere-se a situações em que o interesse do titular ainda não 
se encontra completo, pelo fato de não se terem realizado todos os elementos básicos exigidos 
pela norma jurídica. Como exemplo, podemos lembrar o direito à sucessão legítima, que, 
embora protegido pelo ordenamento jurídico, só se consolida com a morte do autor da 
herança. 
Por fim, o direito condicional é aquele que somente se perfaz se ocorrer determinado 
acontecimento futuro e incerto. 
2) Conservação de direitos – Atos praticados para o resguardo (defesa) de direitos, caso 
estes sejam ameaçados por quem quer que seja. Essas medidas, de caráter muitas vezes 
acautelatório, podem ser sistematizadas da seguinte forma: 
 
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a) Atos de conservação – Atos praticados pelo titular do direito para evitar o perecimento, 
turbação ou esbulho de seu direito. 
b) Atos de defesa do direito lesado – Tendo ocorrido a violação ao direito, o ajuizamento 
de ações cognitivas ou executivas, no exercício do direito constitucional de ação (art. 5º., 
XXXV, da CF). 
c) Atos de defesa preventiva – Antes mesmo da violação (mas diante da sua ameaça 
evidente) é possível o ajuizamento de procedimentos próprios para uma defesa preventiva, 
como é o caso do interdito proibitório. 
d) Ocorrida a violação, a ordem jurídica admite, sempre excepcionalmente, a prática de 
atos de autotutela, como, por exemplo, o desforço incontinenti (art. 1210, parágrafo 1º do 
CC). 
3) Extinção de direitos – Como tudo na vida, também os direitos podem extinguir-se, como 
é o caso do perecimento do objeto, o abandono, a decadência, etc. 
 
3. Fato jurídico em sentido estrito 
 
São todos os acontecimentos naturais que determinam efeitos na órbita jurídica. Os fatos 
jurídicos em sentido estrito subdividem-se em: 
a) Ordinários – São fatos da natureza de ocorrência comum, costumeira, cotidiana: o 
nascimento, a morte, o decurso do tempo. 
b) Extraordinários – São fatos inesperados, às vezes imprevisíveis: um terremoto, uma 
enchente, o caso fortuito e a força maior. 
 
4. Ato jurídico em sentido estrito 
 
O ato jurídico em sentido estrito, constitui simples manifestação de vontade, sem conteúdo 
negocial, que determina a produção de efeitos legalmente previstos. 
Neste tipo de ato, não existe propriamente um declaração de vontade manifestada com o 
propósito de atingir, dentro do campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos pretendidos 
pelo agente (como no negócio jurídico), mas sim um simples comportamento humano 
deflagrador de efeitos previamente estabelecidos por lei. É o que ocorre, por exemplo, no ato 
de fixação do domicílio. 
Note-se que o elemento caracterizador dessa categoria reside na circunstância de que o 
agente não goza de ampla liberdade de escolha na determinação dos efeitos resultantes de seu 
comportamento, como se dá no negócio jurídico (um contrato, por exemplo). 
 
5. Negócio jurídico 
 
O negócio jurídico é entendido pela corrente voluntarista (dominante no direito brasileiro, 
refletindo-se no art. 112 do C.C.) como uma “declaração de vontade dirigida à provocação de 
determinados efeitos jurídicos, ou, na definição do Código da Saxônia, a ação de vontade, que 
se dirige, de acordo com a lei, a constituir, modificar ou extinguir uma relação jurídica” 
(GOMES, Orlando. Introdução ao estudo do direito civil. 10ª. Rio de Janeiro: Forense, 1993, 
p. 280.). 
Com efeito, para apreender sistematicamente o tema faz-se mister analisá-lo sob os três 
planos em que o negócio jurídico pode ser visualizado: 
a) Plano de existência – Um negócio jurídico não surge do nada, exigindo-se, para tanto 
que seja considerado como tal, o atendimento a certos requisitos mínimos. Neste plano “não 
 
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se cogita de invalidade ou eficácia do fato jurídico,importa, apenas, a realidade da existência. 
Tudo, aqui, fica circunscrito a se saber se o suporte fático suficiente se compôs, dando ensejo 
à incidência” (MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico (Plano da Existência). 
São Paulo: Saraiva, 2000, p. 83.) 
b) Plano de validade – O C.C. no art. 104 enumera os pressupostos de validade do negócio 
jurídico: a) agente capaz; b) objeto lícito, possível, determinado ou determinável; c) forma 
prescrita ou não defesa em lei. 
Sobre o tema da capacidade o C.C., suprindo omissão da legislação civil anterior, trouxe à 
tona um capítulo inteiramente dedicado ao instituto da representação, com preceitos genéricos 
aplicáveis tanto à representação legal, quanto à voluntária. A representação, como forma de 
manifestação de vontade do representado através do representante deve produzir plenamente 
seus efeitos, na forma deduzida no art. 116 do C.C. Sobre o tema, ainda, vale observar a 
restrição legal sobre o autocontrato, ou seja, ao negócio jurídico consigo mesmo, como se vê 
do art. 117: 
“Art. 117 – Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o 
representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo. 
Parágrafo único – Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio 
realizado por aquele em quem os poderes houverem sido substabelecidos.” 
A licitude para a validade do negócio jurídico traduz a idéia de estar o objeto dentro do 
campo de permissibilidade normativa, o que significa dizer não ser proibido pelo direito e 
pela moral. Além do campo da licitude, o objeto deve, ainda, respeitar as leis naturais. Há que 
ser, portanto, fisicamente possível, uma vez que não se poderia reconhecer validade a um 
negócio que tivesse por objeto uma prestação naturalmente irrealizável, como, por exemplo, a 
alienação de um imóvel situado na lua. 
Deve, também, o objeto ser determinado ou, ao menos, determinável, sob pena de se 
prejudicar não apenas a validade, mas, em último plano, a própria executoriedade da avença. 
Todo objeto deve, pois, conter elementos mínimos de individualização que permitam 
caracterizá-lo. 
Por fim, para que o negócio jurídico, seja perfeitamente válido, deve revestir a forma 
adequada. Observa-se, com isso, que os negócios jurídicos, como regra geral, podem ser 
realizados de acordo com a conveniência da forma preferida pelas partes, por força da adoção 
no C.C. do princípio da liberdade da formas. 
Todavia, quando a norma legal impõe determinado revestimento para o ato, traduzindo em 
uma forma especial ou em uma indispensável solenidade, diz-se que o negócio é ad 
solemnitatem, a exemplo do testamento e dos contratos constitutivos ou translativos de 
direitos reais imóveis acima do valor consignado em lei, uma vez que a forma pública é 
indispensável para a validade do ato. 
Ao lado do negócio ad solemnitatem, figura outra importante categoria: a dos negócios ad 
probationem. Nesses, apesar de a forma não preponderar sobre o fundo, por não ser essencial, 
deverá, outrossim, ser observada, para efeito de prova do ato jurídico. Assim, a prova escrita é 
necessária, para efeitos probatórios, quando o valor do contrato exceder o décuplo do maior 
salário mínimo vigente no país, ao tempo que foi celebrado, nos termos do art. 401 do CPC. 
c) Plano de eficácia – Ainda que um negócio jurídico existente seja considerado válido, ou 
seja, perfeito para o sistema que o concebeu, isto não importa em produção imediata de 
efeitos, pois estes podem estar limitados por elementos acidentais de declaração. 
A lei civil dispõe sobre três tipos de elementos acidentais: 
1) Condição – Elemento voluntário que subordina o nascimento ou extinção do direito 
subjetivo a acontecimento futuro e incerto. A modalidade suspensiva provoca a aquisição do 
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direito, já a resolutiva, uma vez realizado o negócio, permite a extinção de seus efeitos na 
eventualidade de o fato previsto vir a acontecer. 
2) Termo – É o marco temporal que define o começo ou o fim dos efeitos jurídicos de um 
negócio jurídico. Pode ser legal ou convencional. O primeiro decorre da lei o segundo, de 
cláusula contratual. O termo se caracteriza pela futuridade e certeza. 
O termo pode ser suspensivo ou resolutivo. O primeiro, também denominado inicial (dies a 
quo) é o dia a partir de quando os efeitos de um negócio jurídico começam a produzir. Ele não 
instaura a relação jurídica, que já existe. Neste sentido é a regra do art. 131, a qual informa 
que o termo inicial suspende o exercício, não a aquisição do direito. O segundo corresponde 
ao dia em que cessam os efeitos do ato negocial. O C.C. por seu art. 1923, prevê a hipótese de 
legado a termo inicial ou suspensivo. 
A doutrina registra ainda o termo de graça, que é concedido pelo juiz no curso dos 
processos mediante dilação de prazo. 
3) Encargo ou modo – É a cláusula geradora de obrigação para a parte beneficiária em 
negócio jurídico gratuito e em favor do disponente, de terceiro ou do interesse público. É um 
peso atrelado a uma vantagem (uma restrição), e não uma prestação correspectiva 
sinalagmática. O encargo pode ser uma restrição no uso da coisa, ou pode ser uma obrigação 
imposta àquele que é beneficiário. 
 
6. Ato ilícito 
 
Trata-se de um ato voluntário e consciente do ser humano, que transgride um dever 
jurídico. Dizem alguns, simplificadamente e generalizando, que ilícito é tudo aquilo que é 
contrário ao direito, até porque se deve entender o direito como proteção do que é lícito. 
Honeste vivere, alterum non laedere, suum cuique tribuere (viver honestamente, não 
prejudicar outrem, atribuir-se o que é seu). 
A conseqüência do ato ilícito é a do surgimento do dever de reparar o dano causado, de 
estrutura obrigacional. 
Ao lado e muito próximo do ato ilícito existe a figura do abuso de direito. Analisando o art. 
187 do C.C., conclui-se não ser imprescindível para o reconhecimento do abuso que o agente 
tenha a intenção de prejudicar terceiro, bastando, segundo a dicção legal, que exceda 
manifestamente os limites impostos pela finalidade econômica ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes. Adotou-se, portanto, o critério finalístico para a identificação do abuso de 
direito. 
Finalmente, vale observar que o exercício regular do direito, a legítima defesa e o estado 
de necessidade são causas excludentes de ilicitude, previstas em nosso direito positivo (art. 
188 do CC). 
 
7. Defeitos do negócio jurídico 
 
Trata-se dos defeitos dos negócios jurídicos, que se classificam em vícios de 
consentimento –aqueles em que a vontade não é expressada de maneira absolutamente livre – 
e vícios sociais – em que a vontade manifestada não tem, na realidade, a intenção pura e de 
boa fé que enuncia. 
São vícios de consentimento: 
a) Erro ou ignorância – Trata-se de uma falsa percepção da realidade, ao passo que a 
ignorância é um estado de espírito negativo, o total desconhecimento do declarante a respeito 
 
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das circunstâncias do negócio. O erro, entretanto, só é considerado como causa de 
anulabilidade do negócio jurídico se for: a) essencial (substancial); e b) escusável (perdoável). 
b) Dolo – Trata-se de um artifício ou expediente astucioso, empregado para induzir alguém 
à prática de um ato jurídico que o prejudica, aproveitando ao autor do dolo ou a terceiro. 
Pode-se classificar o dolo em principal e acidental. O principal é quando a causa determinante 
do negócio. O acidental leva a distorções comportamentais que podem alterar o resultado final 
do negócio. A distinção tem relevo para fins que o principal enseja a anulação do negócio e o 
acidental só pode levar às perdas e danos. 
c) Coação – Trata-se da violência apta a influenciara vítima a realizar negócio jurídico que 
a sua vontade interna não deseja efetuar, daí a possibilidade de sua anulação. São dois tipos de 
coação: física (vis absoluta) e moral (vis compulsiva). Importante notar, que a doutrina 
entende que a vis absoluta neutraliza completamente a manifestação de vontade, tornando o 
negócio jurídico inexistente, e não simplesmente anulável. 
d) Lesão – Trata-se de um vício que permite a deformação da declaração de vontade por 
fatores pessoais do contratante, diante da inexperiência ou necessidade, exploradas 
indevidamente pelo locupletante. 
A lesão se compõe de dois requisitos: 1) objetivo ou material (desproporção das prestações 
avençadas); e 2) subjetivo, imaterial ou anímico (a premente necessidade, a inexperiência ou a 
leviandade da parte lesada e o dolo de aproveitamento da parte beneficiada). 
Suas características são: 1) a lesão só é admissível nos contratos comutativos; 2) a 
desproporção entre as prestações deve verificar-se no momento do contrato e não 
posteriormente; 3) a desproporção deve ser considerável. 
Não se confunde a lesão, todavia, com a aplicação da teoria da imprevisão. Esta última, 
decorrente do desenvolvimento teórico da cláusula rebus sic stantibus, é aplicável quando a 
ocorrência de acontecimentos novos, imprevisíveis pelas partes e a elas não-imputáveis, 
refletindo sobre a economia ou na execução do contrato, autorizarem a sua resolução ou 
revisão, para ajustá-lo às circunstâncias supervenientes. 
A lesão é vício que surge concomitantemente com o negócio; já a teoria da imprevisão, por 
sua vez, pressupõe negócio válido, que tem seu equilíbrio rompido pela superveniência de 
circunstância imprevista e imprevisível. 
e) Estado de perigo - Identifica-se como uma hipótese de inexigibilidade de conduta 
diversa, ante a iminência de dano por que passa o agente, a quem não resta outra alternativa 
senão praticar o ato. A expressão “meu reino por um cavalo”, da obra de Shakespeare, pode 
ser um exemplo para esse vício. 
São vícios sociais: 
a) Simulação – È uma declaração enganosa de vontade, visando produzir efeito do 
ostensivamente indicado. É um defeito que não vicia a vontade do declarante, uma vez que 
este se mancomuna de livre vontade para atingir fins espúrios, em detrimento da lei ou da 
própria sociedade. Importante observar que a simulação deixou de ser uma causa de 
anulabilidade e passou a figurar entre as hipóteses de nulidade do ato jurídico. 
b) Fraude contra credores – Consiste no ato de alienação ou oneração de bens, assim como 
de remissão de dívidas, praticado pelo devedor insolvente, ou à beira da insolvência, com o 
propósito de prejudicar credor preexistente, em virtude da diminuição experimentada pelo seu 
patrimônio. 
Dois elementos compõem a fraude, o primeiro de natureza subjetiva e o segundo objetiva. 
São eles, respectivamente, o consilium fraudis (o conluio fraudulento) e o eventus damni (o 
prejuízo causado ao credor). 
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A anulação do ato praticado em fraude contra credores dá-se por meio de uma ação 
revocatório, denominada ação pauliana. 
 
8. Invalidade do negócio jurídico 
 
A previsibilidade doutrinária e normativa da teoria das nulidades impede a proliferação de 
atos jurídicos ilegais ou portadores de vícios, a depender da natureza do interesse jurídico 
violado. Sendo assim, é possível afirmar que o reconhecimento desses estados são formas de 
proteção e defesa do ordenamento jurídico vigente. 
Dentro dessa perspectiva, é correto dizer-se que o ato nulo (nulidade absoluta), viola 
norma de ordem pública, de natureza cogente, e carrega em si vício considerado grave. Por 
sua vez, o ato anulável (nulidade relativa), contaminado de vício menos grave, decorre de 
infringência de norma jurídica protetora de interesses eminentemente privados. 
 
NULIDADE ABSOLUTA NULIDADE RELATIVA 
1- O ato nulo atinge interesse público 
superior. 
1- O ato anulável atinge interesses 
particulares, legalmente tutelados. 
2- Opera-se de pleno direito. 2- Não se opera de pleno direito. 
3- Não admite confirmação. 3- Admite confirmação expressa ou 
tácita. 
4- Pode ser argüida pelas partes, por 
terceiro interessado, pelo MP, ou, até 
mesmo, pronunciada pelo juiz. 
4- Somente pode ser argüida pelos 
legítimos interessados. 
5- A ação declaratória de nulidade é 
decidida por sentença de natureza 
declaratória. 
5- A ação anulatória é decidida por 
sentença de natureza desconstitutiva 
6- Pode ser reconhecida, segundo o CC, 
a qualquer tempo, não se sujeitando ao 
prazo prescricional ou decadencial. 
6- A anulabilidade somente pode ser 
argüida, pela via judicial, em prazos 
decadenciais de quatro (regra geral) ou dois 
(regra supletiva) anos, salvo norma 
específica em sentido contrário. 
 
9. Prescrição 
 
Direito subjetivo é o poder que o ordenamento jurídico reconhece a alguém de ter, fazer ou 
exigir de outrem determinado comportamento. É verdadeira permissão jurídica, ou ainda, é 
um poder concedido ao indivíduo para realizar seus interesses. Representa a estrutura da 
relação poder-dever, em que ao poder de uma das partes corresponde ao dever da outra. 
Da infração desse dever resulta, nas relações jurídicas patrimoniais, um dano para o titular 
do direito subjetivo. Nasce, então, para esse titular, o poder de exigir do devedor uma ação ou 
omissão, que permite a composição do dano verificado. A esse direito de exigir chama a 
doutrina de pretensão, por influência do direito alemão. 
A pretensão revela-se, portanto, como um poder de exigir de outrem uma ação ou omissão. 
É, para alguns, sinônimo de direito subjetivo, embora com conotação dinâmica, enquanto 
aquele é estático e, para outros, ainda, uma situação jurídica subjetiva. 
A pretensão que nasce no momento em que o credor pode exigir a prestação, e esta não é 
cumprida, causando lesão no direito subjetivo, pressupõe, assim, a existência de um crédito, 
com a qual não se confunde. 
 
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Embora a pretensão seja um conceito técnico jurídico aplicável às várias espécies de 
relações jurídicas, em tese, é nas obrigações que ele encontra a sua natural aplicação. A sua 
função mais importante é a de traduzir uma legitimação material para exigir uma prestação 
determinada, o que a relaciona intimamente com o direito processual civil. 
A prescrição é a perda da pretensão, em virtude da inércia de seu titular, no prazo previsto 
pela lei (art. 189 do C.C.). 
Pode-se dizer, pois, que a prescrição tem como requisitos: a) a violação do direito, com o 
nascimento da pretensão; b) a inércia do titular; c) o decurso do prazo fixado em lei. 
Importante observar que existem pretensões imprescritíveis, afirmando que a 
prescritibilidade é a regra e a imprescritibilidade a exceção. Assim, não prescrevem: 
a) as que protegem os direitos da personalidade; 
b) as que se prendem ao estado das pessoas (estado de filiação, a qualidade de cidadania, a 
condição conjugal); 
c) as de exercício facultativo (ou potestativo), em que não existe direito violado, como as 
destinadas a extinguir o condomínio, a de pedir meação no muro vizinho; 
d) as referentes a bens públicos de qualquer natureza, que são imprescritíveis; 
e) as que protegem o direito de propriedade, que é perpétuo (reivindicatória); 
f) as pretensões de reaver bens confiados à guarda de outrem, a título de depósito, penhor 
ou mandato; 
g) as destinadas a anular inscrição do nome empresarial feita com violação de lei ou do 
contrato (CC, art. 1.167). 
A pretensão e a exceção prescrevem no mesmo prazo (art. 189 e art. 190). 
O art. 191 não admite a renúncia prévia da prescrição, isto é, antes que se tenha 
consumado. Assim, dois são os requisitos para a validade da renúncia: 
a)que a prescrição já esteja consumada; 
b) que não prejudique terceiro. Terceiros eventualmente prejudicados são os credores, pois 
a renúncia à possibilidade de alegar a prescrição pode acarretar a diminuição do patrimônio 
do devedor. Em se tratando de ato jurídico, requer a capacidade do agente. 
Renunciar à prescrição consiste na possibilidade de o devedor de uma dívida prescrita, 
consumado o prazo prescricional e sem prejuízo a terceiro, abdicar do direito de alegar esta 
defesa indireta de mérito (a prescrição) em face de seu credor. 
A única conseqüência da tardia alegação da prescrição diz respeito aos ônus de 
sucumbência: são indevidos honorários advocatícios em favor do réu, se este deixou de alegar 
a prescrição de imediato, na oportunidade da contestação, deixando para fazê-lo somente em 
grau de apelação, nos termos do art. 22 do CPC. 
Diz o mencionado art. 193 que a prescrição pode ser alegada “pela parte a quem 
aproveita”. A argüição não se restringe, pois, ao prescribente, mas se estende a terceiros 
favorecidos por ela. 
Registre-se que os “relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus 
assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem 
oportunamente” (art. 195), regra também aplicável à decadência por força do art. 208 do CC. 
Finalmente, é permitida, também, a accessio praescriptionis, isto é, a soma do tempo 
corrido contra o credor ao que flui contra o seu sucessor (art. 196). O prazo, desse modo, não 
se inicia novamente. E com o principal prescrevem os direitos acessórios (art. 167 do CC/16), 
regra que deve ser acolhida pela doutrina e jurisprudência. 
O Código Civil agrupou as causas que suspendem e impedem a prescrição em uma mesma 
seção, entendendo que estão subordinadas a uma unidade fundamental. As mesmas causas ora 
impedem, ora suspendem a prescrição, dependendo do momento em que surgem. 
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Impedimento da prescrição é o obstáculo ao curso do respectivo prazo, antes do seu início. 
Constitui-se em um fato que não permite comece o prazo prescricional a correr. Assim, se o 
prazo ainda não começou a fluir, a causa ou obstáculo impede que comece. 
Se, entretanto, o obstáculo surge após o prazo ter iniciado, dá-se a suspensão. Desse modo, 
a suspensão é a cessação temporária do curso do prazo prescricional sem prejuízo do tempo já 
decorrido. Cessando as causas suspensivas, a prescrição continua a correr, aproveitando-se o 
tempo anteriormente decorrido. 
Interrupção da prescrição é o fato que impede o fluxo normal do prazo, inutilizando o já 
decorrido 
A interrupção depende, em regra, de um comportamento ativo do credor, diferentemente 
da suspensão, que decorre de certos fatos previstos na lei, como foi mencionada. Qualquer ato 
de exercício ou proteção ao direito interrompe a prescrição, extinguindo o tempo já decorrido, 
que volta a correr por inteiro, diversamente da suspensão da prescrição, cujo prazo volta a 
fluir somente pelo tempo restante. 
O efeito da interrupção da prescrição é, portanto, instantâneo: “A prescrição interrompida 
recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a 
interromper” (art. 202, parágrafo único). Sempre que possível a opção, ela se verificará pela 
maneira mais favorável ao devedor. 
O art. 202, caput, expressamente declara que a interrupção da prescrição “somente poderá 
ocorrer uma vez”. A restrição é benéfica, para não se eternizarem as interrupções da 
prescrição. 
São efeitos da interrupção da prescrição: 
1- Inutiliza-se todo o tempo prescricional decorrido, começando a correr novo prazo. 
2- O direito subjetivo atingido é beneficiado pela interrupção, dilatando-se o período para 
composição do dano; essa vantagem para o titular do direito subjetivo ofendido corresponde 
às desvantagens para o prescribente, que vê retardado o benefício que lhe poderia advir da 
prescrição; 
3- A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; igualmente, a 
interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica os demais co-
obrigados (art. 204 do CC). 
A interrupção por um dos credores solidários, aproveita aos outros; assim como a 
interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros (CC, art. 
204, § 1º). 
 
10. Decadência 
 
Existem direitos subjetivos que não fazem nascer pretensões, porque destituídos dos 
respectivos deveres. São direitos potestativos. 
O direito potestativo é o poder que o agente tem de influir na esfera jurídica de outrem, 
constituindo, modificando ou extinguindo uma situação subjetiva sem que esta possa fazer 
alguma coisa se não sujeitar-se. São direitos potestativos o do patrão dispensar o empregado, 
o do doador revogar a doação simples, o de aceitar ou não a proposta de contratar, o de aceitar 
ou não herança. 
O lado passivo da relação jurídica limita-se a sujeitar-se ao exercício de vontade da outra 
parte. E não havendo dever, não há o seu descumprimento, não há lesão. Consequentemente, 
não há pretensão. 
O tempo limita o exercício dos direitos potestativos pela inércia do respectivo titular, a 
qual recebe o nome de caducidade. Esta, em sentido amplo, significa extinção de direitos em 
 
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geral, e em sentido restrito, perda dos direitos potestativos quando toma o nome de 
decadência. Seu fundamento é o princípio da inadmissibilidade de conduta contraditória. 
A decadência traduz-se, portanto, em uma limitação que a lei estabelece para o exercício 
de um direito, extinguindo-o e pondo a termo ao estado de sujeição existente. Aplica-se às 
relações que contêm obrigações, sendo objeto de ação constitutiva. 
Na decadência, ainda, o prazo começa a correr no momento em que o direito nasce, 
surgindo, simultaneamente, direito e termo inicial do prazo, o que não ocorre na prescrição, 
em que este só corre da lesão do direito subjetivo. 
O que se tem em mira é, portanto, o exercício do direito potestativo, não a sua 
exigibilidade, própria da prescrição. 
O respectivo prazo é rigidamente fixado, sem possibilidade de interrupção ou suspensão, e 
também menor do que o da prescrição. 
A decadência é estabelecida em lei ou pela vontade das partes em negócio jurídico, desde 
que se trate de matéria de direito disponível e não haja fraude às regras legais. Enquanto a 
prescrição deve ser alegada pela parte interessada, a decadência não é “suscetível de oposição, 
como meio de defesa”. 
Sendo matéria de ordem pública, dispõe a lei (CC, art. 209) que é nula a renúncia à 
decadência fixada em lei, sendo de admitir-se, a contrario sensu, ser válida a renúncia à 
decadência estabelecida em negócio jurídico pelas partes. 
No caso de decadência legal, deve o juiz conhece-la de ofício (CC, art. 210). 
No caso de decadência convencional, o interessado, isto é, a parte a quem aproveita, pode 
alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação. 
Prescreve o art. 207 que salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência 
as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição. Em princípio, pois, os 
prazos decadenciais são fatais e peremptórios, pois não se suspendem, nem se interrompem. A 
inserção da expressão “salvo disposição em contrário” no aludido dispositivo tem a finalidade 
de definir que tal regra não é absoluta, bem como de esclarecer que não são revogados os 
casos de um eventual dispositivo especial. 
 
 
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CAPÍTULO IV – DOMICÍLIO 
 
1. Noção Geral 
 
A noção de domicílio desempenha papel relevante para o Direito. Segundo o art. 70. da 
LICC a “lei do país em que for domiciliada a pessoa determina as regras sobreo começo e o 
fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família”; é ainda o domicílio que 
determina o local onde a pessoa, habitualmente, terá de cumprir suas obrigações (art. 327 do 
C.C.) e ainda, onde será aberta a sucessão hereditária (art. 1785 do C.C.). 
Diante disso, conclui-se, que o domicílio importa em traduzir “o elemento de fixação 
espacial do indivíduo, o fato de localização para efeito das relações jurídicas, a indicação de 
um lugar onde o indivíduo está, deve estar ou presume-se que esteja, dispensando-se aos que 
tenham interesse em encontrá-lo o esforço e a incerteza de andarem à sua procura por 
caminhos instáveis” (Caio Mario da Silva Pereira. Instituições de Direito Civil – Introdução 
ao direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 373). 
 
2. Noção de residência e morada 
 
Não se confundem com o domicílio a morada e a residência. Todavia, a exata compreensão 
desses conceitos é fundamental para esclarece a matéria de maneira apropriada, tendo em 
vista que todas as situações descrevem um tipo de relação que uma pessoa natural estabelece 
com um lugar. 
a) Morada – É o lugar onde a pessoa se estabelece provisoriamente. Confunde-se com a 
noção de estadia que é a mais tênue relação de fato entre uma pessoa e um lugar tomada em 
consideração pela lei. Fala-se também, para caracterizar esta relação transitória de fato, em 
habitação. 
b) Residência – Trata-se de um lugar que pressupõe mais estabilidade. É o lugar onde a 
pessoa natural se estabelece habitualmente, ou seja, uma sede estável da pessoa. 
 
3. Aspectos gerais do domicílio da pessoa natural 
 
O domicílio é o lugar de exercício dos direitos e cumprimento das obrigações, no sentido 
da exigibilidade. Nos termos do art. 70 do CC o domicílio da pessoa natural é o lugar onde 
estabelece residência com ânimo definitivo, convertendo-o, em regra, em centro principal de 
seus negócios jurídicos ou de sua atividade profissional. 
O ordenamento jurídico brasileiro adota o conceito da pluralidade domiciliar, inclusive 
com uma técnica para destacar a pluralidade domiciliar residencial (art. 71 do CC) da 
pluralidade domiciliar profissional (art. 72 do CC). Em ambos os casos é mister a 
concorrência dos requisitos do ânimo (psíquico) e da residência (material). 
Para as pessoas que não tenham residência certa, ou seja, não possuam o requisito material 
do domicílio, elaborou-se a teoria do domicílio aparente ou ocasional, segundo a qual aquele 
que cria aparências de um domicílio em um lugar pode ser considerado pelo terceiro como 
tendo aí seu domicílio (ex. andarilhos, ciganos, profissionais de circo, etc.) A aplicação legal 
desta teoria encontra-se no art. 73 do CC e no art. 94, parágrafo 2º do CPC. 
A mudança de domicílio opera-se com a transferência da residência aliada à intenção 
manifesta de alterá-lo. A prova da intenção resulta do que declarar a pessoa às 
municipalidades do lugar que deixa, e para onde vai, ou se tais declarações não fizer, da 
 
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própria mudança, com as circunstâncias que a determinaram. Tal regra encontra assento no 
art. 74 do CC. Trata-se de norma jurídica imperfeita, uma vez que a falta de declaração não 
acarreta sanção alguma ao omitente. 
 
4. Aspectos gerais do domicílio da pessoa jurídica 
 
O domicílio da pessoa jurídica de direito privado é a sua sede, indicada em seu estatuto, 
contrato social ou ato constitutivo equivalente. É o seu domicílio especial. 
Se não houver essa fixação, a lei atua supletivamente, ao considerar como seu domicílio “o 
lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações”, ou, então, se possuir 
filiais em diversos lugares, “cada um deles será considerado domicílio para os atos nele 
praticados” (art. 75, IV e parágrafo 1º. do CC). Aliás, o Supremo Tribunal Federal já assentou 
entendimento no sentido de que “a pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no 
domicílio da agência, ou do estabelecimento, em que praticou o ato” (súmula 363). 
Se a administração ou diretoria da pessoa jurídica de direito privado tiver sede no 
estrangeiro, será considerado seu domicílio, no tocante às obrigações contraídas por qualquer 
de suas agências, “o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder” (art. 75, 
parágrafo 2º. do CC). 
 
5. Espécies de domicílio 
 
O domicílio poderá ser: 
a) Voluntário – Decorre do ato de livre vontade do sujeito, que fixa residência em um 
determinado local, com ânimo definitivo. Não sofre interferência legal este tipo de domicílio. 
b) De eleição ou especial – Decorre do ajuste entre as partes de um contrato. Vale destacar, 
porém, que este dispositivo somente pode ser invocado em relações jurídicas em que 
prevaleça o princípio da igualdade dos contratantes e de sua correspondente autonomia de 
vontade. Vale notar que na dinâmica do CDC considera-se ilegal a cláusula contratual que 
estabelece o foro de eleição em benefício do fornecedor, por violar o disposto no art. 51, IV, 
do CDC. 
c) Necessário ou legal – Decorre de mandamento da lei, em atenção à condição especial de 
determinadas pessoas. Suas hipóteses estão descritas no parágrafo único do art. 76 do CC, 
sendo elas: o do menor que terá o domicílio do seu representante legal; o servidor público 
cujo domicílio é o lugar em que exerce permanentemente suas funções; o militar que 
responderá civilmente no lugar onde serva, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do 
comando a que se encontra imediatamente subordinado; o do marítimo que é lugar onde o 
navio estiver matriculado; e, finalmente, o do preso que é o lugar onde estiver cumprindo 
pena. 
O agente diplomático, por sua vez, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade 
sem designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou 
no último ponto do território brasileiro onde o teve (art. 77 do CC). 
 
 
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CAPÍTULO V – DOS BENS 
 
1. Introdução 
 
Sob um prisma de técnica legislativa das expressões, é possível afirmar que a expressão 
“bem” utilizada pelo legislador na parte geral tem significado amplo e pode ser utilizada em 
diferentes acepções. Na parte especial, quando trata de propriedade e de seus desdobramentos, 
fala em coisa, deixando de utilizar-se do termo “bem”, como feito na parte geral. 
Já num enfoque dogmático, infelizmente a doutrina nem sempre está acorde sobre o 
conceito de bem correspondente ao de coisa, se é mais ou menos amplo do que esse. 
No sentido econômico, são considerados bens apenas as utilidades com valor pecuniário, 
excluídas aquelas que não podem merecer a qualificação patrimonial. 
Para efeitos jurídicos, pode-se considerar como bem a utilidade física material ou imaterial 
que pode servir de objeto de uma relação jurídica. 
Para explicar o conceito de bem, Orlando Gomes (ORLANDO GOMES, Introdução ao 
Direito Civil, 10ª. Ed., ão ao Direito Civil, 10ª. Ed., Rio de Janeiro, 1990, p. 207), exige a 
reunião de três qualidade: a) economicidade, ou seja, suscetíveis de avaliação econômica; 
permutabilidade, noutras palavras, a possibilidade de transito jurídico através de relação 
estabelecidas entre os seus titulares (posse e domínio), mediante uma individualização 
existencial criado por um critério econômico-social; e limitatividade, num sentido de raridade, 
escassez empregado por outros doutrinadores. 
Patrimônio 
Numa acepção clássica o patrimônio é a constituição econômica da pessoa natural ou 
jurídica, ou seja, um complexo de direitos e obrigações entrelaçados por relações jurídicas, as 
quais têm como objeto os bens, as coisas, os créditos, os débitos. Em síntese, a “representação 
econômica da pessoa”. 
Nesta idéia, está englobado o complexo de direitosreais e obrigacionais de uma pessoa, 
ficando de lado todos os outros que não têm valor pecuniário, nem podem ser cedidos, como 
os direitos de família e os direitos puros de personalidade. 
Modernamente a noção de patrimônio está ligada diretamente à personalidade do 
indivíduo, cunhando alguns autores a expressão “patrimônio moral” e também a teoria do 
patrimônio mínimo desenvolvida por Edson Fachin, a qual alicerça a noção de piso vital ou 
mínimo existencial, introduzida expressamente no ordenamento pátrio pela Lei 10.835/04 que 
trata da renda básica de cidadania. 
Tal renda básica de cidadania nada mais é do que uma projeção do patrimônio mínimo dos 
indivíduos, ou seja, bens de composição obrigatória em seu patrimônio para garantir 
alimentação, educação e a saúde como projeção concreta do fundamento da dignidade da 
pessoa humana. 
 
2. Classificação dos bens 
 
Os bens se classificam, pela própria lei, sob três aspectos: de acordo com sua titularidade, 
por meio de comparação com outros bens, ou através da consideração do bem isoladamente. 
1- bens considerados em si mesmos: 
a) Corpóreos são aqueles que têm existência física (material), perceptível pelos sentidos 
(móveis, imóveis); incorpóreos são aqueles que têm existência meramente abstrata, ideal, 
jurídica (p. ex. direitos autorais). 
 
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A importância da distinção reside no fato de haver diferença para a transmissão. Os bens 
materiais são transferidos por meio de contrato de compra e venda ou doação; os imateriais 
por cessão. Não existe a possibilidade de aquisição de bens incorpóreos por meio de 
usucapião. 
b) Imóveis (ou bens de raiz), segundo o art. 79 do CC são “o solo e tudo quanto se lhe 
incorporar natural ou artificialmente”. A doutrina esclarece que são aqueles que não se podem 
transportar sem alteração de sua essência, de sua substância. Móveis são, de acordo com o art. 
82, “os bens suscetíveis de movimento próprio (semoventes), ou de remoção por força alheia, 
sem alteração de sua substância ou da destinação econômico-social”. 
A importância da distinção entre bens móveis e imóveis é verificada em vários aspectos. 
1- Quanto à forma de alienação: é livre em relação aos móveis, mas em relação aos 
imóveis exige escritura pública para os bens de valor superior a 30 salários mínimos. 
2- Quanto à necessidade de autorização do cônjuge: Via de regra as negociações 
relacionadas aos bens imóveis exige anuência do cônjuge, sob pena de anulabilidade do ato 
(art. 1647, com a ressalva de que a autorização não será exigida se o regime de bens for de 
separação absoluta); quanto aos bens móveis a exigência não existe. 
3- Outro aspecto da distinção reside no tipo de direito real de garantia que poderá ser 
constituído sobre o bem: em regra, os bens móveis podem ser oferecidos em penhor, e em 
relação aos imóveis poderão ser objeto de hipoteca. 
Os imóveis podem ser: 
1- Por natureza: solo e tudo que nele se incorporar naturalmente (subsolo, árvores, espaço 
aéreo, etc.). 
2- por acessão física, industrial ou artificial: é tudo que o homem incorporar 
permanentemente ao solo (sementes, construções, edifícios). Nos termos do art. 81 não 
perdem o caráter de imóveis as edificações que, separadas do solo, mas conservando sua 
unidade, forem removidas para outro lugar (ex. casa de madeira) e os materiais 
provisoriamente separados de um prédio para nele reempregarem; 
3- Por acessão intelectual ou por destinação do proprietário. Ex. maquinários agrícolas, 
escada de emergência, ar-condicionado, armários embutidos). Pelo novo CC são chamados de 
pertenças (art. 93), que constituem uma categoria de bens acessórios. 
4- Por determinação legal: Por imperativo de segurança jurídica, a lei opta por tratar 
determinados bens como imóveis, embora não se pudesse falar, em razão de sua natureza, em 
bens móveis ou imóveis. De acordo com o art. 80, são considerados imóveis para efeitos 
legais: os direitos reais sobre imóveis e as ações que os assegurem e o direito à sucessão 
aberta. 
Os bens móveis, por sua vez, podem ser classificados em: 
1- Por sua própria natureza: são aqueles que podem ser transportados sem deterioração de 
sua substância, por força própria ou externa. 
2- Por antecipação: São aqueles bens que, embora ainda incorporados ao solo são 
destinados a ser destacados e convertidos em móveis. Exemplo: árvores destinadas a corte. 
3- Por determinação legal: Também há bens que são considerados móveis em razão da 
vontade do legislador, embora sejam bens incorpóreos. Trata-se das hipóteses previstas no art. 
83 do CC. 
c) Fungíveis são os bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, 
qualidade e quantidade. Infungíveis são os insubtituíveis. Os imóveis, em princípio, serão 
sempre considerados bens infungíveis. Porém, é possível que sejam tratados num determinado 
negócio como bens fungíveis. 
 
 
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d) Consumíveis são os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria 
substância, bem como aqueles que são destinados à alienação. Inconsumíveis são aqueles que 
admitem uso reiterado, sem destruição imediata de sua substância, ainda que haja 
possibilidade de sua destruição em decorrência do tempo. 
A importância desta classificação encontra-se no usufruto, que é um direito real de gozo ou 
fruição que só pode recair sobre bens inconsumíveis. Se, pó um acaso, o usufruto for 
instituído sobre bens consumíveis, será chamado de quase-usufruto ou usufruto impróprio. 
A presente classificação não se confunde com aquela que consta do art. 26 do CDC (bens 
duráveis e não duráveis) e que envolve tempo maior ou menor do consumo de determinado 
bem. 
e) divisíveis e indivisíveis 
f) Singulares são os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independente dos 
demais. Os bens singulares podem ser: simples, quando suas partes componentes encontram-
se ligadas naturalmente; compostos, quando seus elementos são unidos por ato humano. Os 
bens coletivos, universais, ou as universalidades, são, por sua vez, aqueles que são compostos 
por vários bens singulares, que, considerados em conjunto, formam um todo homogêneo. A 
universalidade pode ser de fato, que é a pluralidade de bens singulares com destinação 
unitária, ou de direito, que é o complexo de relações jurídicas de uma pessoa, dotadas de valor 
econômico e que por isso, a ordem jurídica atribui caráter unitário (espólio, patrimônio, massa 
falida). Etc. 
Bens reciprocamente considerados: 
De acordo com esta classificação os bens podem ser principais ou acessórios. O bem 
principal (art. 92) é aquele que existe por si mesmo, que tem existência própria (ex. o solo). 
Acessório é aqueles cuja existência supõe a do principal. 
Os bens acessórios podem ser de vários tipos: 
1- Frutos: São as utilidades que a coisa principal periodicamente produz e cuja percepção 
não diminui a sua substância. Costuma-se dizer que são as utilidades que nascem e renascem. 
2- Produtos: São as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhe a quantidade, e que 
não se renovam (pedras, metais, petróleo) 
3- Pertenças: São os bens móveis que são afetados de forma duradoura ao uso, serviço ou 
aformoseamento de outro bem, sem que sejam considerados suas partes integrantes (art. 93). 
4- Benfeitorias: São obras ou despesas realizadas pelo homem na estrutura da coisa 
principal, com o propósito de conservá-la (benfeitorias necessárias), melhorá-la (benfeitorias 
úteis) ou embelezá-la (benfeitorias voluptuárias). 
3- bens quanto à titularidade do domínio: 
A lei classifica os bens de acordo com sua titularidade, os quais podem ser públicos ou 
particulares. 
Existem três classes de bens públicos (art. 99): 
1- Os de uso comum do povo, tais como rios, mares,

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