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IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 Estratégias de Logística Reversa e Marketing: Estudo Exploratório em Indústria Moveleira Nadia Kassouf Pizzinatto Earl Teixeira Ferraz Andrea Kassouf Pizzinatto Antonio Carlos Giuliani Osvaldo Elias Farah Resumo Estratégias de Logística Reversa correspondem à gestão da devolução de produtos às organizações de origem, por estarem obsoletos, danificados ou por não funcionarem. São destinados ao descarte, à reparação ou ao reaproveitamento, pois a responsabilidade para com o cliente não termina com a entrega da mercadoria adquirida. Apóiam-se em Estratégias de Marketing de Pós Venda, associadas à gestão das reclamações e questões conflituosas que surgem no processo de comercialização, para contribuir na busca de um padrão de qualidade na execução das atividades industriais. Exigem também o respeito ao meio ambiente, pelo não desperdício de matéria prima, principalmente em setores como o de extração da madeira. Este trabalho analisa as Estratégias da Logística Reversa e de Marketing a serem utilizadas conjuntamente na satisfação das expectativas dos clientes das organizações, especificamente na indústria moveleira, utilizando como estudo de caso a Indústria de Móveis Movelar Ltda, a qual, apesar de ser considerada a segunda melhor empresa para trabalhar, vinha enfrentando alguns problemas quanto ao aumento da demanda de assistência técnica. A metodologia envolveu investigação exploratória, com o levantamento de dados quantitativos para dimensionamento e estudo do problema na organização, a entrevista com executivos informados, e o confronto com o referencial teórico. Como resultados, a empresa passou a utilizar efetivamente a Logística Reversa, interagindo-a com as estratégias vinculadas aos objetivos do marketing, também focados na satisfação do cliente. Como resultados, foi obtido um retorno satisfatório trazendo benefícios para todos os envolvidos, diminuindo os custos para a organização via redução dos percentuais de assistência técnica e o prazo de entrega para os clientes, mostrando que é não somente viável como muito recomendável utilizar conjuntamente os princípios da Logística Reversa e do Marketing focado no cliente, no setor da indústria moveleira. Palavras-Chave: Logística Reversa, Gestão da Cadeia Logística, Marketing. 1.INTRODUÇÃO A preocupação com a satisfação dos clientes é uma realidade do mundo atual, num cenário em que a concorrência está a um toque de um teclado de computador, dado o processo de globalização, que vem integrando o mundo em um sistema econômico único, surgido segundo Comas (1998, p.45), “com o início do capitalismo e intensificado na última década” e trazendo, como conseqüência, o surgimento de novos produtos e serviços, a diminuição do ciclo de vida dos produtos, o crescimento do número de fornecedores e locais de fornecimento, o aumento das distâncias a serem percorridas e a complexidade operacional, envolvendo legislação, cultura e modais de transporte, o desaparecimento das relações tradicionais entre produtores e vendedores IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 e o crescimento dos grupos de pressão.. Tudo isso refletindo, segundo Fleury et al. (2000, p.28) em maiores custos e aumento da complexidade logística. Todas estas transformações tornaram os compradores cada vez mais exigentes, demandando serviços melhores com altos níveis de eficiência no tocante à qualidade não só de produtos quanto de serviços, tais como o cumprimento de prazos de entrega acordados entre comprador e vendedor. Assim, a pressão surge por parte do consumidor quando - após estar de posse do produto e fazer uso do mesmo- verificar se ele realmente atende às suas necessidades. Quando isso não ocorre, o cliente tende a procurar o fornecedor para reclamar, exigir devoluções, reembolsos, trocas. Neste ponto, pelo menos duas áreas da gestão empresarial atuam com o foco na satisfação das expectativas do cliente: marketing e logística, pois, recolher mercadorias com defeitos significa que a empresa se preocupa com seus clientes e muito mais: significa que está buscando minimizar problemas que surjam no pós-venda. A logística, nessa situação, assume a nomenclatura de logística reversa, um termo bastante genérico. O procedimento da logística reversa diz respeito ao fluxo de materiais que voltam à empresa por algum motivo (devoluções de clientes, retorno de embalagens, retorno de produtos e/ou materiais para atender à legislação), já que, no caso de insatisfação do consumidor com os produtos adquiridos, a mercadoria deve ser recolhida e retornar à empresa que a produziu. Já o marketing, na situação descrita, é acionado na assistência pós-venda. Esta é uma ação reativa de tentar reter os clientes existentes, ao invés de agir proativamente no sentido de construir relacionamentos, como recomenda Kotler(2000). Entretanto, denota, de qualquer forma, preocupação com o cliente, o que poderia sugerir ser a empresa ao mesmo tempo market-driving nomenclatura sugerida por Kumar, Scheer, Kotler, (2000) para as estratégias orientadas para o mercado de forma proativa e market-driven, isto é, com posturas reativas em relação ao cliente. Os problemas de logística reversa advindos de devoluções são sintomas de problemas com clientes, contribuindo para seu afastamento, constituindo, portanto, preocupação para os profissionais da área de marketing. Administração de devoluções (que é chamada de logística reversa por Lambert et al.) envolve o retorno dos produtos à empresa vendedora por motivo de defeito, excesso, recebimento de itens incorretos ou outras razões, fatos que com certeza não são bons sintomas de que os clientes queiram continuar com a empresa . Confirmando, Kotler (2000, p.69) recomenda que “..as empresas devem dar uma maior atenção ao seu índice de abandono de clientes, ou seja, definir e calcular seu índice de retenção”, buscando sempre verificar como está a satisfação dos clientes, com relação aos seus produtos; nesse processo, identificar “as causas dos problemas com clientes”. Este trabalho enfoca as relações entre a Logística Reversa e o Marketing, atuando com o foco comum no atendimento às expectativas do cliente externo. Em outras palavras, o objetivo geral deste trabalho é estudar as estratégias e instrumentos da logística reversa e do marketing passíveis de serem utilizados conjuntamente na satisfação das expectativas dos clientes, em especial no pós-venda do marketing industrial bem como, propor sistemáticas de ação conjunta das duas áreas da administração. Para tanto, toma por estudo de caso a Indústria de Móveis Movelar Ltda, localizada em Linhares- ES, como forma de integração teórico-prática. 2. REFERENCIAL TEÓRICO: LOGÍSTICA REVERSA E MARKETING A Logística, palavra que vem do francês logistique , para Lima (2002, p. 46), é mais IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 um termo de origem militar aplicado ao mundo dos negócios, que, em sua origem, referia- se ao planejamento e execução de projetos, armazenamento, transporte, distribuição, manutenção e reparação de veículos e de armamentos. Christopher (1997, p.2) a define como o processo de gerenciar estrategicamente a aquisição, movimentação e armazenagem de materiais, peças e produtos acabados (e o fluxo de informações correlatas) através da organização e seus canais de marketing, de modo a poder maximizar as lucratividades presentes e futuras através do atendimento dos preços a baixo custo. Os administradores começam a perceber e a compreender a importância dalogística no fluxo de materiais, com relação ao tempo de estoque na produção e na distribuição, reconhecendo que devem coordenar suprimentos, produção, embalagem, transporte, comercialização e finanças de forma integrada para melhor controlar cada fase do sistema. Assim, cresce o interesse pela administração logística, que tem várias razões explicativas como: o rápido crescimento dos custos com relação ao serviço de transportes e o armazenamento; desenvolvimento de técnicas matemáticas e do equipamento de computação; qualidade na administração de materiais e na distribuição física; mudanças de mercado e de canais de distribuição, a propensão dos varejistas e dos atacadistas para transferir as responsabilidades dos estoques para os fabricantes. O processo de fazer chegar mercadorias é tradicionalmente conhecido como Distribuição Física e começa na fábrica. Os gerentes escolhem um conjunto de depósitos (pontos de estocagem) e transportadores que fornecerão as mercadorias aos destinos finais no prazo desejado e ao menor custo total.A idéia da Distribuição Física expandiu-se para o conceito mais amplo de Gerenciamento da Cadeia de Suprimento.O gerenciamento da cadeia de suprimentos diz respeito ao gerenciamento do fluxo de materiais, informações e fundos através de toda a cadeia de suprimentos, desde os fornecedores dos produtos de componentes, passando pelos montadores finais, distribuidores (atacadistas e varejistas) e chegando por fim ao consumidor final (JOHNSON & PYKE, 1999). O gerenciamento da cadeia de suprimentos começa antes da distribuição física: tenta suprir os insumos corretos (matérias-primas, componentes e bens de capital), converte-os eficientemente em produtos acabados e os despacha a seus destinos finais. Uma perspectiva ainda mais ampla engloba o estudo de como os próprios fornecedores da empresa obtêm seus insumos desde as matérias-primas. Infelizmente, a ótica da cadeia de suprimento vê os mercados apenas como pontos de destino. A empresa seria mais eficaz se considerasse as exigências de seu mercado-alvo em primeiro lugar, e a partir desse ponto projetasse a cadeia de suprimento, em um processo retroativo. Essa é a visão da Logística, dentre cujas funções, Ballou (1995, p. 70) destaca: o transporte, a manutenção de estoques e o processamento de pedidos. Logística e Marketing tem algo em comum: direcionam o foco das ações para o cliente. Pode-se fazer esta afirmativa ao comparar os dois conceitos. Para Bowersox et al. (1996, p.15-16, o “processo logístico é visto como um sistema que liga a empresa ao consumidor e seus fornecedores”. Desta forma, para o autor, a definição de Logística está relacionada ao processo de planejamento, implementação e controle eficiente e eficaz do fluxo e armazenagem de materiais, serviços e informações desde o ponto de origem até o ponto de uso / consumo de forma a atender às necessidades do cliente. Marketing , segundo a AMA (American Marketing Association) é “uma função organizacional e um conjunto de processos para criar, comunicar e entregar valor para o consumidor e gerenciar o relacionamento com ele objetivando gerar benefícios para a organização e seus stakeholders (indivíduos e grupos que podem influenciar decisões de marketing e ser influenciados por elas, como acionistas, empregados, consumidores, parceiros, etc”. Gronroos (1994) questiona os tradicionais 4P´s (Produto, Preço, Promoção, Ponto de venda ) como a teoria universal do marketing e sugere um novo paradigma, direcionando suas IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 atividades de acordo com as necessidades e desejos dos consumidores em mercados-alvo escolhidos”. Quatro funções básicas, que constituem os objetivos da Logística Convencional- colocar os produtos desejados pelo mercado no local certo, na hora certa, na quantidade certa e a preços competitivos- concretizam a filosofia do Marketing. Parodiando Ballou, (1995), o bem que satisfaz as necessidades do consumidor (produto certo), é criado no processo produtivo, situado pelo comércio nos estoques até ser requerido (o tempo certo) e transportado até o lugar em que seja necessário (lugar certo), onde é vendido à pessoa à qual é útil, a um preço competitivo. Por isso, o prestígio da Logística– pela missão de integrar a cadeia de abastecimento e aumentar a eficiência de todos os processos – só tende a crescer. Segundo Ballou (1995, p.18) devido ao fato de que o marketing tem que atender aos requisitos da demanda gerada, deve garantir que o bem chegue às mãos do cliente, possibilitando a disponibilidade de produto, a pronta entrega e o atendimento correto dos pedidos (nível de serviço), o que é possível somente com uma distribuição física eficaz, que pode, por sua vez, contribuir ao aumento da demanda. Já o procedimento da Logística Reversa diz respeito ao fluxo de materiais que voltam à empresa por algum motivo (devoluções de clientes, retorno de embalagens, retorno de produtos e/ou materiais para atender à legislação), já que, no caso de insatisfação do consumidor com os produtos adquiridos, a mercadoria deve ser recolhida e retornar à empresa que a produziu. Em seu sentido mais amplo, significa todas as operações relacionadas com a reutilização de produtos e materiais. Para Arima & Battaglia (2003, p.36) o termo "reverso" aplicado à Logística tem sido muito utilizado em referência “à movimentação de materiais no sentido inverso ao da cadeia de suprimentos, sendo a fase intermediária de um grande processo que nasce nas fontes de materiais utilizados na fabricação de produtos até as diversas formas possíveis para seu descarte ou reaproveitamento”.Refere-se, assim, a todas as atividades logísticas de coletar, desmontar e processar produtos e/ou materiais e peças usadas a fim de assegurar uma recuperação sustentável (amigável ao meio ambiente) (REVLOG, s.d.). A ação de promover o retorno das devoluções recai no conceito de Logística Reversa pode ser definida, de acordo com Log&Mam (2002, p.102), como “a maximização do valor dos ativos que estão sendo subtraídos do fluxo tradicional”.Segundo o autor,o Reverse Logistics Executive Council (RLEC) vai além, definindo-o como “o processo de movimentação de produtos de seu típico destino final para um outro local, para fins de elevar o valor ora indisponível, ou para a adequada disposição dos produtos.” Ballou, (1993),comparando a Logística Reversa com a convencional, afirma que o grande desafio desta última é reduzir o hiato entre a produção e a demanda, de forma que os consumidores tenham bens e serviços quando, onde e na condição física que desejarem, enquanto a Logística Reversa é voltada às operações de assistência técnica (ASTEC), e apresenta um desafio diverso: além de planejar a necessidade de material e disponibilizar a mercadoria fisicamente, necessita que todos os componentes necessários à realização dos serviços estejam disponíveis, tais como os materiais e peças de reposição e o profissional devidamente qualificado para a tarefa, munido do ferramental adequado. Implica ainda na eventual necessidade de retorno de peças defeituosas para reparo, o que deve ocorrer em qualquer parte do território abrangido pelo contrato, dentro dos prazos contratuais, mantendo-se o mesmo padrão de atendimento, constante em todos os pontos da rede, independente das dificuldades de acesso à região. Embora as questões relativas à qualidade, preço, prazo de entrega e pagamento sejam relevantes, o atendimento às reclamações também se configura como um aspecto significativo para as empresas. Nos casos em que as mercadorias comercializadas apresentem defeitos ou avarias decorrentes de transporte, montagem ou uso inadequado, a empresa fornecedora deve promover sua substituição e IX ENGEMA - ENCONTRONACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 posterior recolhimento. No entanto, pelo fato da mercadoria ter sido recolhida pelo consumidor intermediário e estar em seus depósitos ocasionando custos e conseqüentemente reclamações quanto à solução do problema, deve-se planejar maneiras eficientes para que ela retorne sem que acarrete maiores custos. Comparando-as por outra perspectiva, na Logística Convencional, há uma busca incessante pelo menor custo total, critério básico para tomada de decisão, enquanto na Logística voltada às Operações de Assistência Técnica, embora continue existindo a busca pela otimização dos serviços e pela obtenção do menor custo total, o fator determinante é o cumprimento do nível de serviço pactuado entre cliente e prestador de serviço. Tanto a Logística Convencional quanto a Reversa dependem de um bom Sistema de Informações, tão importante para o planejamento e controle logísticos que, segundo Kokkinaki, A. I.; Dekker, R., (2000) as organizações estão tendo todo cuidado com o processo de sua manutenção. O maior problema apontado por Caldwell (1999) é a falta de sistemas informatizados que permitam a integração da logística reversa ao fluxo normal de distribuição. Por esta razão, muitas empresas desenvolvem sistemas proprietários ou terceirizam este setor para firmas especializadas, mais capacitadas a lidar com o processo. As informações são o ponto de partida para se conhecer as necessidades da empresa, tanto em relação a seus processos internos, quanto aos dos funcionários e clientes e também são a base para implementação da Logística Reversa. Por exemplo, as operações de manuseio e armazenagem utilizam os fluxos de informação sobre entradas, saídas e localização de mercadorias procedentes da operação de gerenciamento de estoques. Mas, considerando a amplitude da logística, as informações também são a base para implementação da logística reversa, num conjunto de ações que visam efetivar o retorno das devoluções da maneira mais eficiente possível, pois a responsabilidade da empresa não acaba no processo de venda, mas continua até que o cliente esteja plenamente satisfeito. Um foco específico da logística reversa é que, quando extrapola a característica de seu mercado ou de seu valor histórico, indica problemas. Leite (2002), recomenda que ter um bom controle sobre os números do nível de devoluções e tomar medidas corretivas a tempo é de fundamental importância para a fidelização de clientes. Uma situação complexa é a da mercadoria que esteve em poder do consumidor intermediário e posteriormente com o consumidor final, podendo estar existindo insatisfação nas duas instâncias. A empresa que a forneceu deve então procurar solucionar o mais rápido possível o impasse para que essas situações não venham a inviabilizar vendas futuras, estabelecendo uma estratégia que busque o produto no local que ele esteja, promovendo o reparo necessário ou a troca imediata. O papel da Logística Reversa na estratégia empresarial e de informações é que definirá o tipo de sistema de informações gerenciais que será desenvolvido. O maior problema, segundo Rogers & Tibben-Lembke, (1999).é a falta de sistemas prontos e a necessidade de se desenvolver sistemas próprios A importância das informações na logística é assumida pelo Conselho Americano de Administração Logística - CAAL (2004), ao defini-la como: “o processo de planejamento, implementação e controle da movimentação e armazenagem eficazes de matérias primas, estoque em processo, produtos terminados e informações desde o ponto de origem até o ponto de consumo com o propósito de satisfazer os requerimentos dos clientes”. Esse ponto de vista é reforçado por Ballou (1995, p. 58) , ao definir a Logística empresarial como sendo: “todas as atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos desde o ponto de aquisição da matéria prima até o ponto de consumo final, assim como dos fluxos de informação que colocam os produtos em movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço adequados aos clientes a um custo razoável”. Comparando-se posicionamentos sobre logística empresarial do CAAL (2004) e Ballou IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 (1995), novamente percebe-se que possuem o mesmo pensamento, ou seja, visam o foco no cliente; como se pode depreender da análise das duas definições, Ballou (1995) referenda a finalidade de todas as atividades da logística previstas pelo CAAL (2004), ou seja, nas duas definições se fala no cliente, apenas acrescentando a preocupação com o custo do procedimento para as organizações. Para confirmar, transcreve-se, a seguir, os trechos das definições citadas que convergem para o cliente: “... com o propósito de satisfazer os requerimentos dos clientes.” (CAAL, 2004); “... com o propósito de providenciar níveis de serviço adequados aos clientes a um custo razoável.” (BALLOU, 1995). É preciso também considerar os elementos que participam da atividade de distribuição física como transportes, manuseio das cargas e armazenagem, assim como os custos associados a eles, pois a otimização do resultado final das atividades da logística exige a consideração de todos os elementos da empresa enquanto sistema, a fim de melhorar aqueles que se possam constituir gargalos operacionais, constituindo fator de impedimento no fluxo contínuo das operações e do cumprimento de prazos e acordos com os clientes. O elemento mais factível de receber melhorias é o transporte, dado que é uma atividade de custo elevado, levando em conta os investimentos de capital e os custos operacionais, sendo responsável pela maior parte dos custos logísticos da empresa. Sua utilização mais eficiente pode resultar em economias no custo final do produto. Ao se definir pelos materiais a serem utilizados, ainda na fase inicial de P&D dos produtos, a possível reciclagem deve ser considerada. O estabelecimento de postos de coleta permite aos produtos retornarem aos pontos de origem ou a locais de descarte apropriados. O sistema de Logística Reversa pode ser ou não o mesmo utilizado na Logística normal. Para Krikke (1998) o normal é que dois sistemas distintos sejam planejados, devido às divergências inerentes aos dois processos comentadas anteriormente. De acordo com Valentine apud Lima (2002, p.46), desde 1985 a Logística é empregada como o processo de planejamento, operação e controle do fluxo de informações e produtos/serviços da fonte até o consumidor final, tendo sempre em vista a satisfação do cliente.Este conceito de logística revela que a maximização dos recursos disponíveis é possível desde que se procure adequar cada situação às necessidades, minimizando os custos com armazenagem e distribuição. A movimentação das matérias-primas, peças, componentes, produção em processo ou produtos finais para a etapa posterior do processo produtivo ou sua aproximação física para o consumidor final é a função primária do transporte. Durante o período de tempo em que ocorre o processo de transporte, as cargas encontram-se inacessíveis, sendo denominadas como estoque em trânsito. Este é um fato importante a ser considerado nas estratégias de Just in Time (JIT) e Efficient Consumer Response (ECR), pois tem uma influência direta nas quantidades dos estoques mínimos a serem mantidos pelo cliente. A Logística Reversa preocupa-se também com os retornos, quando de uma não-conformidade ou mesmo de um defeito, além da destinação do produto no pós-uso, se para uma reciclagem ou um aterro. Nesse sentido, há que se buscar apoio ao longo de toda a cadeia, a começar pelos fornecedores de matérias-primas.Mas os esforços em desenvolvimento e melhorias nos processos de logística reversa, na opinião de Leite (2002), podem produzir também retornos consideráveis, que justificam os investimentos realizados. Log&Mam (2002, p.104). Oferecer uma entrega consistente no prazo também pode ajudar a minimizar as devoluções, já que quando uma cadeia de abastecimento não é confiável, os clientes podem encomendar em excesso para garantir que recebam o produto que precisam e depois devolvem o excesso em estoque. Outro item determinante do sucesso operacional das operações de retorno são IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 os sistemas que gerenciam o transporte das devoluções, pois é exatamente o elevado custo de transporte dos itens retornados que geralmente motiva a empresa a se lançar na organização competitiva da logística reversa. Também é elevado o custo de armazenamento das mercadorias avariadas, por isso a empresa deve cuidar de resgatá-las o mais breve possível.De acordo com Nazário (2000, p.126) desde os primórdios, o transporte de mercadorias tem sido utilizado para disponibilizar produtos onde existe demanda potencial, dentro do prazo adequado às necessidades do comprador. Mesmo com o avanço de tecnologias que permitem a troca de informações em tempo real, o transporte continua sendo fundamental para que seja atingido o objetivo logístico, que é o produto certo, na quantidade certa, na hora certa, no lugar certo ao menor custo possível. Considerando que o transporte utilizado na entrega de mercadorias já representa um custo, o percurso inverso acarreta um custo adicional, mas não deve ser encarado como uma despesa e sim, deve-se analisar a relação custo-benefício. A Figura 1 demonstra os processos logísticos direto( convencional) e reverso para que seja possível compreender o fluxo de materiais até o consumidor final e o seu retorno quando necessário. Este último,segundo Lacerda (2002) gera materiais reaproveitados que retornam ao processo tradicional de suprimento, produção e distribuição. FIGURA 1 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DOS PROCESSOS LOGÍSTICOS DIRETO E REVERSO Fonte: Lacerda (2002, p.47) No objetivo de obter bons resultados em termos de estratégia de logística reversa, segundo Arima & Battaglia (2003, p.37), diversos requisitos técnicos deverão ser preenchidos pelos sistemas como: a)gerenciar a recepção dos pré-avisos de expedição para o transporte dos artigos; b)tratar as informações relativas às autorizações de retorno de materiais em interface com o sistema instalado na empresa; c)permitir a permanente atualização dos sistemas a partir dos dados gerados; d) identificar diferentes encomendas com instruções especiais de itinerários; e) tratar os códigos de justificação dos retornos, caracterizando situação de débito ou crédito do cliente em cada operação; IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 f)gerenciar número de série e de revisão dos artigos retornados; g) gerenciar os sistemas de etiquetas e de códigos de barras dos artigos retornados; h)consolidar estoques para otimizar espaços destinados aos artigos retornados; i)classificar os produtos retornados por tipo de produção e/ou por data de recepção. A Logística Reversa não funciona unicamente para mercadorias com defeito, mas também para empresas que tem de recolher vasilhames como no caso dos fabricantes de bebida. Também pode trazer benefícios para as empresas que trabalham com embalagens e produtos que poluem o meio ambiente como no caso das latas de alumínio e das pilhas e baterias, casos em que o recolhimento dessas embalagens e produtos pode representar para o mercado sua responsabilidade ambiental. No atual contexto de negócios é bom para a imagem organizacional esse tipo de atuação.Além disso, a reciclagem de embalagens pode minimizar custos e até mesmo se transformar em elemento de rentabilidade. Percebe-se,pois, que o conceito de Logística Reversa é algo bem amplo que pode contribuir com diferentes etapas da cadeira produtiva. Importante a lembrança de Lacerda (2002, p.47) , de que por trás do conceito de Logística Reversa está um conceito mais amplo, o do “ciclo de vida”: a vida de um produto, do ponto de vista logístico, não termina com sua entrega ao cliente. Produtos se tornam obsoletos, danificados, ou não funcionam e devem retornar ao seu ponto de origem para serem adequadamente descartados, reparados ou reaproveitados 3. INDÚSTRIA DE MÓVEIS MOVELAR: O CASO EM ESTUDO Apresentam-se neste item: a empresa selecionada como Estudo de Caso, a Metodologia utilizada e os Resultados da Pesquisa 3.1 Indústria de Móveis Movelar: O Caso Em Estudo Neste tópico, apresenta-se o histórico da Empresa Indústria de Móveis Movelar Ltda, localizada em Linhares, município do Espírito Santo, que iniciou suas atividades na década de 60 sob o registro de CIMAM - Comércio e Indústria de Materiais e Móveis Ltda., sendo inicialmente era uma empresa de pequeno porte administrada pela família Rigoni. Embora sendo uma empresa familiar, a Movelar, com mais de 35 anos de experiência, pratica uma administração profissional: tem seu Parque Industrial da Movelar equipado com a mais avançada em tecnologia do mobiliário: máquinas importadas garantem padrão de qualidade aos produtos, bem como um rigoroso controle de qualidade avalia tanto a matéria-prima e o processo de fabricação quanto a entrega dos produtos e a assistência técnica prestada a todos os clientes.Assim, a Movelar combinou inovação tecnológica com reconhecida qualidade em seus produtos e serviços: as unidades de produção da empresa fabricam produtos de acordo com as tendências mundiais de design, tecnologia e qualidade. Atualmente instalada em uma área de 300.000 m2, sendo 50.000 m2 de área construída, tem cerca de 980 funcionários aos quais oferece uma política de recursos humanos voltada para o aprimoramento e capacitação profissional, com destaque para a qualidade de vida nos locais de trabalho. A empresa tem como estratégia principal o crescimento e o fortalecimento de seus negócios na fabricação e comercialização de móveis de madeira e derivados, através da busca constante pela qualidade de seus produtos e serviços, preservação do meio ambiente e da saúde e segurança de seus talentos, adotando como Valores: satisfazer às necessidades dos clientes; estimular o crescimento e a IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 valorização de seus talentos; buscar a melhoria contínua do desempenho de seus processos de trabalho e da eficácia de seus sistemas de gerenciamento, com foco na qualidade, no meio ambiente e na segurança e saúde ocupacional; prevenir defeitos, poluição, acidentes e incidentes; atender, como ponto de partida para qualquer melhoria, aos requisitos legais aplicáveis à qualidade, ao meio ambiente e à segurança e saúde ocupacional, bem como a outros compromissos assumidos nestes campos. A Movelar pratica estes Valores pelo estabelecimento e da análise crítica sistemática de objetivos e metas, em base anual: o investimento em qualidade é garantido por equipamentos de ponta, essenciais numa produção rigidamente controlada, mas a Movelar entende que seu principal diferencial está nos profissionais talentosos que mantém em sua indústria. Por isso, investe no seu corpo social, com ações voltadas à : a)Saúde - tais como Ginástica Laboral feita diariamente antes da jornada de trabalho, que melhora a qualidade de vida e previne doençasno trabalho e equipe médica que garante o pronto atendimento a todos; b) Segurança- mantendo o Comitê de Ergonomia, composto pela área médica e gerentes, verifica e ajusta as máquinas ao homem); c)Incentivo à Formação- assumindo 50% das mensalidades dos cursos universitários de seus trabalhadores; conforme a necessidade do cargo, o colaborador é beneficiado com um curso de língua estrangeira, sem qualquer custo para o mesmo. Ainda neste quesito, são mantidos convênios com faculdades e universidades visando dar oportunidades a novos empreendedores, através dos programas de estágio existentes; d) Lazer-A Movelar mantém área de lazer para funcionários e seus familiares, com piscina, campo de futebol, playground, campo de bocha e churrasqueira. Mantém contrato com quatro empresas no sistema de terceirização, produzindo com exclusividade para a empresa e gerando mais de 400 empregos diretos, nas áreas de fabricação de móveis para quarto. A empresa possui uma estrutura moderna composta da parte administrativa, produção, lazer, refeitório, show-room, entre outros departamentos. Fabrica móveis como roupeiros, cômodas, camas e criados e produtos para linha infantil, utilizando lâminas de madeira com alto padrão de brilho e acabamento, bem como eucalipto como opção de madeira reflorestada, sendo certificada pela ISO 14001. Também foi certificada com a ISO 9001, o que ocorreu em 2002, dando maior impulso à exportação, que representa 10% do faturamento da empresa. Os demais 90% do faturamento são gerados pelo sistema de vendas, que tem o apoio de 40 (quarenta ) consultores, atuando em todo o País. Os Consultores visitam cerca de 5.000 pontos de venda pelo país (entre matriz e filiais) de seus mais de 4000 clientes. No ano de 2004 foram treinados cerca de 8.000 vendedores em todo o Brasil a fim de oferecer as melhores informações sobre os produtos aos consumidores.Devido à extensão do país, a equipe de vendas está localizada em regiões específicas: São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre e Rondônia, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Pará, Amapá, Roraima, Tocantins e Amazonas. O transporte é realizado por quatro transportadoras que atuam tanto na entrega como no recolhimento das mercadorias. A empresa conta ainda com 295 motoristas autônomos cadastrados. Ela foi uma das primeiras empresas do setor de móveis a obter as duas certificações citadas. Após a implantação, periodicamente, a própria empresa faz uma análise crítica para garantir o bom andamento do Sistema Integrado de Gestão da Qualidade e Meio Ambiente. Mas há semestralmente uma auditoria , para que a Certificação IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 Internacional seja renovada. As certificações obtidas pela Movelar foram homologadas pela UKAS (United Kingdon Accreditation System), depois de recomendadas pela SGS.ICS Certificadora Ltda. Em 2001 e 2002, a Movelar recebeu da Revista Exame o privilégio de estar entre as 100 Melhores empresas do Brasil para se trabalhar, obtendo a 5ª colocação. Apesar de todo o exposto, a empresa vivencia problemas vinculados à logística reversa e ao marketing: o recebimento das devoluções na Movelar está sob a responsabilidade do setor de Assistência Técnica – ASTEC- área à qual, por meio de um serviço de telemarketing, os clientes informam sobre a existência de peças que apresentam avarias. Acredita-se que utilizando os princípios da logística reversa a Indústria de Móveis Movelar Ltda poderá solucionar problemas relativos ao recolhimento das mercadorias defeituosas devolvidas pelos clientes, 3.2 Metodologia do Estudo Foi realizado um Estudo Exploratório, tomando por Estudo de Caso a Indústria de Móveis Movelar. O estudo de caso é uma fonte de informações que pode ser utilizada tanto em pesquisas quantitativas quanto em pesquisas qualitativas, seja na primeira etapa de seu desenvolvimento, em estudos exploratórios, seja na elaboração de estudos descritivos. Segundo Malhotra (2001, p.155) a pesquisa qualitativa proporciona melhor visão e compreensão do contexto do problema, enquanto a pesquisa quantitativa procura quantificar os dados e aplica alguma forma da análise estatística.. Como estratégia de pesquisa, Roesch (1999, p.156) orienta que o estudo de caso pode ser utilizado de modo exploratório (visando levantar questões e hipótese para futuros estudos, por meio de dados qualitativos), descritivo (buscando associações entre variáveis, normalmente com evidência de caráter quantitativo).Yin (2001) destaca que método do estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que busca examinar um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto. Mattar (1996) aponta como uma das fontes de informação no Estudo Exploratório, o levantamento de experiências. Assim, numa decisão conjunta dos pesquisadores com a Área Comercial da empresa em estudo, foram selecionados 10 consultores entre os 40, responsáveis pelo atendimento aos grandes magazines (grandes lojas). tomando por critério de seleção o volume de vendas que realizavam e conseqüentemente o volume de ASTEC (Assistência Técnica) que geravam. Outra fonte de informações sugerida por Malhotra (2001), são os dados secundários: como tais, foram investigados os registros de devoluções de dois anos,(2004 e 2005) investigando em quais produtos mais ocorria a necessidade da Logística Reversa, e por quais motivos. Por fim, os dados foram analisados na forma gráfica e proposto novo Sistema de Gestão de devoluções, com vistas ao melhor atendimento ao cliente da empresa. 3.3 Resultados da pesquisa realizada 3.3.1 Diagnóstico do Problema e o Sistema de Gestão da Logística Reversa usado A pesquisa em dados secundários revelou que a empresa investia cerca de 1,6% a 1,8% do seu faturamento em assistência técnica, pois a empresa considera esse setor um diferencial e acredita que esse tipo de investimento retorna em vendas. A expedição diária era de 405 toneladas. Salienta-se que 90% das avarias eram ocasionadas por diferenças no padrão de cor, peças arranhadas, peças avariadas, produtos embalados incompletos, transporte dos produtos, montagem. O recebimento das devoluções na Movelar está sob a IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 responsabilidade do setor de Assistência Técnica – ASTEC- área à qual, por meio de um serviço de telemarketing, os clientes informam sobre a existência de peças que apresentam avarias. Os pedidos de assistência eram repassados à empresa via fax pelos consultores, endereçados à ASTEC ou solicitados via e-mail e dessa forma, nem sempre eram confiáveis, pois nem sempre os fax´s recebidos eram legíveis, o que gerava um custo maior com ligações telefônicas e perda do tempo de trabalho, além da grande circulação de e- mail´s. O recolhimento das mercadorias ocorria após o cliente ligar para a empresa informando sobre os problemas e neste momento era feito o agendamento para posterior atendimento da reclamação. As peças refugadas eram queimadas gerando vapor. Em média eram devolvidas 20 toneladas / mês sendo que deste montante nem todas apresentam problemas decorrentes de falhas no processo de produção, existiam avarias causadas no transporte e também na montagem. A empresa somente recolhia as peças se as mesmas estivessem embaladas, pois essa prática evitava o agravamento dos problemas. No momento da chegada das peças à empresa as mesmas passavam por um processo de avaliação.Nesse momento era possível reconhecer qual o tipo de problema ocorrido e o que o causou. As peças que tinham condições de serem reaproveitadas eram enviadas para o setor de produção. Quando se tratava de um móvel inteiro, a empresa tinha como prática doar para instituições filantrópicas ou vendê-las para os funcionários que pagava um preço menor. As peças devolvidas ficavam em local específico visando o melhor controle do processo de devolução.. Depois de processadas as informações sobre as devoluções era feito um processo inverso visando atender ao cliente com uma nova peça. A empresa mantinha um estoque para reposição .. A Figura 2 apresenta os setores envolvidos no processo de Logística Reversa praticado. Figura 2 – Os setores envolvidos no processo de Logística Reversa Fonte : elaborada pelos autores, a partir da pesquisa de campo. Outro ponto levantado foi a relação entre a participação, na ASTEC dos produtos, em função da classe à qual se destinavam: o Quadro 1 mostra que os produtos que mais geram ASTEC são os destinados às classes C e D; um dos motivos implícitos está o fato de serem produtos com os maiores percentuais de venda, totalizando 75% do faturamento. GERÊNCIA LOGÍSTICA COORDENAÇÃO CONTROLE FISCAL / AGENDAMENTO/ RECOLHIMENTO DEVOLUÇÃO TELEMARKETING CONFERÊNCIA E LIBERAÇÃO / PEDIDOS (OPERACIONAL) DEVOLUÇÃO (OPERACIONAL) EMBALAGEM E DESPACHO IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 QUADRO 1-RELAÇÃO ENTRE COMPOSTO DE PRODUTOS (MIX) E ASTEC, POR CLASSE SOCIAL CLASSE SOCIAL % DO COMPOSTO DE PRODUTOS /CLASSE SOCIAL % DE DEVOLUÇÕES E ASTEC/ CLASSE SOCIAL B 25% 20% C 25% C 50% 80% TOTAL 100% 100% A Figura 3 identifica os motivos com maior incidência na geração de ASTEC da Movelar: o maior índice de problemas é gerado pela montagem ( 48,5%),seguido do transporte:15%. 5,6% 6,4% 9,8% 4,7% 15,0% 48,5% 10,0% Diferença no padrão de cor Peças arranhadas Peças avariadas Embalagens incompletas Transporte Montagem Outros Figura 3: Motivos de Solicitação de ASTEC na Movelar Fonte : Dados secundários da empresa 3.3.2 O Sistema Proposto de Logística Reversa Para elaboração de uma proposta que reduzisse o crescente número de pedidos de assistências técnicas, foi solicitado ao setor de logística juntamente com os setores de marketing, administrativo de vendas e assistência técnica através dos dados gerados pelo sistema existente na empresa – MICROSIGA AP7, a realização de um estudo no qual fossem apresentadas alternativas para que esse percentual fosse reduzido. A pesquisa realizada mostrou que o setor de marketing é responsável pelo acompanhamento dos índices de satisfação dos clientes, através de telemarketing. Ao setor administrativo de vendas, além de outros serviços, cabe programar as entregas dos pedidos de ASTEC, procurando atender da melhor forma possível os clientes. A proposta apresentada sugeria que essa programação fosse feita com base nas informações passadas pelo setor de assistência técnica. Os pedidos chegariam à assistência através do sistema da seguinte forma: cada consultor possuiria uma senha para acessar o sistema de onde quer que estivesse e assim, repassaria os pedidos de ASTEC, conforme modelo demonstrado na Figura 4. Ao receber esses pedidos, a assistência faria uma seleção, obedecendo as datas de entrega e repassaria essa seleção ao administrativo de vendas. Após concluída esta proposta, a mesma IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 foi apresentada à Diretoria da empresa pelo Gerente de Logística, demonstrando os pontos positivos da Logística Reversa e como a mesma poderia contribuir para empresa. A Diretoria aderiu à alternativa proposta e coube ao gerente de logística a sua implantação na empresa. Para implantação do programa, o gerente de logística solicitou treinamento para todos os consultores e demais colaboradores envolvidos com ASTEC, informando sobre as mudanças que aconteceriam, a importância do programa e solicitando o comprometimento e a colaboração de todos para sua eficácia. Uma das medidas adotadas pela empresa foi a implantação de cotas para Consultores, ou seja, cada Consultor passou a ter um limite de gastos com assistência técnica. Ficou estabelecido que cada um poderia utilizar até 1% do seu faturamento para atender assistências técnicas, o que não acontecia anteriormente, já que cada um gastava aleatoriamente, pois não havia controle para este tipo de gasto. Para garantir que os Consultores cumprissem as suas cotas de ASTEC, não ultrapassando o percentual determinado (1%), estabeleceu-se ainda que o Consultor que ultrapassasse este limite, seria obrigado a arcar com 30% do excedente. FIGURA 4 – MODELO DO FORMULÁRIO UTILIZADO PELOS CONSULTORES PARA SOLICITAÇÃO DE PEDIDOS DE ASTEC Fonte: Indústria de Móveis Movelar Ltda – ASTEC A Movelar conseguiu reduzir o índice de reclamações de clientes, a partir da implementação de um projeto que envolveu treinamento a todos os transportadores autônomos, transportadores e funcionários responsáveis pelo carregamento. O conceito de Logística Integrada, hoje existente na empresa, levou 18 meses para ser implantado, e ao final desse período conseguiu-se unir cinco setores essenciais à logística: administração de vendas, expedição, assistência técnica, PPCP (planejamento, programação e controle de produção) e suprimentos.A interface entre esses setores realmente tem efeito, pois da IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 administração de vendas, a logística recebe informações importantes como andamento de pedidos, condições de pagamento e prazo, entre outros itens. A empresa promove reuniões semanais que visam determinar a programação da fábrica relativa à produção, o que exige uma programação das áreas de PPCP e suprimentos sobre a necessidade de insumos e matérias-primas para o volume de pedidos a ser executado. Com vistas a determinar uma incidência menor de avarias nas mercadorias foi necessário melhorar o controle de qualidade (defeito zero), melhorar a distribuição;informar aos lojistas os cuidados sobre o transporte e armazenamento das mercadorias para evitar os problemas; treinar os montadores. (existem equipes de treinamento em todas as regiões do Brasil com kits e fitas de montagem). Com a implantação do novo sistema proposto, ou seja, a implantação da Logística Reversa, a empresa obteve um considerável retorno com relação aos custos de assistência técnica, os quais sempre foram elevados. Com o sistema, há uma conscientização com relação a qualidade na fabricação dos produtos, para que não haja perdas, retrabalhos, desperdícios, já que tudo isso gera custo à empresa. Há um aumento no reaproveitamento de materiais, preocupação ainda maior com os retornos, quando de uma não-conformidade ou mesmo de um defeito, contribuindo assim com a melhoria em vários setores da empresa.Cada setor busca seja nas atividades desenvolvidas, parcerias com fornecedores, matérias-primas de qualidade ou embalagens apropriadas, etc., alguma forma, para realmente haver uma redução de custos e, conseqüentemente, uma valorização ainda maior dos produtos oferecidos.Para demonstrar os resultados que a empresa obteve com essas implantações, basta comparar os percentuais de ASTEC obtidos pelos 10 maiores Consultores no período de janeiro a agosto/2004 com janeiro a agosto/2005, demonstrados na Figura 5: é possível observar umaconsiderável redução nos gastos de assistência técnica, de 2004 para 2005, em todos os meses. Em 2004, no período analisado, a empresa tinha um gasto de 0,50% a 1,16% do faturamento com ASTEC com os 10 maiores Consultores. E em 2005, no mesmo período, esse percentual passou a ser de 0,44% a 0,82% sobre o faturamento. 0,50% 0,47% 0,50% 0,44% 0,94% 0,72% 0,71% 0,48% 0,83% 0,63% 1,16% 0,82% 1,03% 0,70% 1,13% 0,72% 0,00% 0,20% 0,40% 0,60% 0,80% 1,00% 1,20% Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto 2004 2005 FIGURA 5– COMPARATIVO DE REDUÇÃO DE ASTEC DOS 10 MAIORES CONSULTORES (2004/2005) Fonte: Indústria de Móveis Movelar Ltda - ASTEC IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 4.Considerações Finais A Logística é uma das áreas de maior importância para as empresas, mas não pode se limitar mais ao simples processo de aquisição de matéria-prima e entrega dos pedidos aos clientes, devendo ter suas atividades estendidas à necessidade de direcionar os esforços da empresa para a satisfação dos clientes, tão importante para o sucesso de qualquer organização no longo prazo, uma vez que os clientes procuram adquirir produtos e serviços das organizações que atendam às suas necessidades e desejos. (GRAEML & CSILLAG, 2003). Cabe ao marketing a tarefa de encantar os clientes, não apenas suprindo suas necessidades, mas também surpreendendo-os para superar suas expectativas em relação a elas. Isso dá sustentação competitiva para a empresa, na medida em que contribui para a fidelização dos clientes. A empresa utilizada como estudo de caso, contava com um bom conceito junto ao mercado, servindo ao cliente com móveis de qualidade, mas vinha enfrentando alguns problemas quanto ao aumento da demanda de assistência técnica.Com o objetivo de poder atender cada vez melhor a essa massa de consumidores, a empresa passou a dar maior valor à logística reversa: até então só cuidava do transporte, mas teve que se amoldar ao novo sistema implantado. Com a implantação da Logística Reversa, a empresa obteve um considerável retorno com relação aos custos de assistência técnica, os quais sempre foram elevados, atendendo assim, a um dos principais objetivos deste estudo. Com a criação de cotas para Consultores, ou seja, cada Consultor passou a ter um limite de gastos com assistência técnica, onde ficou estabelecido que cada um poderá utilizar até 1% do seu faturamento para atender aos casos de assistência técnica, foi possível ainda reduzir o prazo de entrega da assistência técnica. Anteriormente, levava-se 30 (trinta) dias para que os pedidos fossem atendidos e após a implantação do sistema de Logística Reversa, esse período passou a variar de 15 (quinze) a 20 (vinte) dias. Apesar dessa conquista, a empresa ainda buscou chegar a um percentual ainda menor com relação aos gastos de assistência técnica. Todo esse resultado, não seria possível sem a parceria dos setores de expedição e assistência técnica com o setor de marketing, já que um tem a função de buscar o cliente e o outro, a de atendê-lo da melhor forma possível. Concluindo com as palavras do Kotler (1999, p.35) “...em mercados altamente competitivos, todos os departamentos têm de se concentrar na conquista da preferência do cliente.” Estudos futuros estão sendo planejados pela própria organização para dar continuidade ao sistema implantado: a empresa tem como objetivo elaborar um estudo juntamente ao consumidor final sobre os benefícios que o mesmo trouxe. O setor de marketing ficará responsável pela realização de uma pesquisa ou providenciar a contratação de uma empresa especializada, para obter tais informações. Este foi exatamente o objetivo buscado neste trabalho: mostrar que, na gestão empresarial, a Logística Reversa pode e deve ter os mesmos objetivos que o Marketing , ou seja, o foco no cliente. Especificamente na indústria moveleira, ações concretas foram tomadas com essa finalidade, trazendo benefícios para todos os envolvidos, diminuindo os custos para a organização e o prazo de entrega para os clientes, mostrando que, em suma, é muito recomendável utilizar a Logística Reversa e o Marketing focado no cliente no setor da indústria moveleira. Referências Bibliográficas AMERICAN MARKETING ASSOCIATION. Marketing Dictionary. Disponível em <http://www.ama.org>. Acesso em 31/10/2004. IX ENGEMA - ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE CURITIBA, 19 a 21 de novembro de 2007 ARIMA, S. & BATTAGLIA, A. Da terra para a terra, uma visão do ciclo total. Tecnologística. setembro. São Paulo: Publicare, 2003. BALLOU, R. H. Logística Empresarial. São Paulo: Atlas, 1993. BALLOU, R. H., Logística empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição física. São Paulo: Atlas, 1995. BOWERSOX, D. J.; E. 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