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25. PODER FAMILIAR 25. PODER FAMILIAR 0 25. PODER FAMILIAR SUMÁRIO: 25.1 Visão histórica – 25.2 Tentativa conceitual – 25.3 Código Civil e Estatuto da Criança e do Adolescente – 25.4 Pais separados – 25.5 Exercício – 25.6 Usufruto e administração de bens – 25.7 Suspensão e extinção: 25.7.1 Suspensão; 25.7.2 Perda – 25.8 Lei da Palmada ou Lei Menino Bernardo – 25.9 Ação de suspensão e destituição – Leitura complementar. Referências legais: CF 205, 226 § 5.º, 227 e 229; CC 932 I, 1.489 II, 1.579, 1.589, 1.630 a 1.638 e 1.689 a 1.693; L 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA) 21 a 24, 155 a 163, 201 III e 249; CP 33 § 2.º c, 44, 92, II, e 244 a 247; L 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) 12; L 12.010/09 (Lei de Adoção); L 12.962/14; L 13.010/14; L 13.046/14; L 13.058/14; Instrução Normativa do CNJ 03/09; Provimento do CNJ 36/14. 25.1 Visão histórica A expressão “poder familiar” adotada pelo Código Civil corresponde ao antigo pátrio poder, termo que remonta ao direito romano: pater potestas – direito absoluto e ilimitado conferido ao chefe da organização familiar sobre a pessoa dos filhos.1 A conotação machista do vocábulo pátrio poder é flagrante, pois só menciona o poder do pai com relação aos filhos. Como se trata de um termo que guarda resquícios de uma sociedade patriarcal, o movimento feminista reagiu e o tratamento legal isonômico dos filhos impuseram a mudança. Daí: poder familiar. Como lembra Paulo Lôbo, as vicissitudes por que passou a família repercutiram no conteúdo do poder familiar. Quanto maiores foram a desigualdade, a hierarquização e a supressão de direitos entre os membros da família, tanto maior foi o pátrio poder e o poder marital.2 O Código Civil de 1916 assegurava o pátrio poder exclusivamente ao marido como cabeça do casal, chefe da sociedade conjugal. Na falta ou impedimento do pai é que a chefia da sociedade conjugal passava à mulher, que assumia o exercício do poder familiar com relação aos filhos. Tão perversa era a discriminação que, vindo a viúva a casar novamente, perdia o pátrio poder com relação aos filhos, independentemente da idade dos mesmos. Só quando enviuvava novamente é que recuperava o pátrio poder (CC/1916 393). O Estatuto da Mulher Casada (L 4.121/62), ao alterar o Código Civil de 1916, assegurou o pátrio poder a ambos os pais, que era exercido pelo marido com a colaboração da mulher. No caso de divergência entre os genitores, prevalecia a vontade do pai, podendo a mãe socorrer-se da justiça. A Constituição Federal (5.º I) concedeu tratamento isonômico ao homem e à mulher. Ao assegurar-lhes iguais direitos e deveres referentes à sociedade conjugal (CF 226 § 5.º), outorgou a ambos o desempenho do poder familiar com relação aos filhos comuns. O ECA, acompanhando a evolução das relações familiares, mudou substancialmente o instituto. Deixou de ter um sentido de dominação para se tornar sinônimo de proteção, com mais características de deveres e obrigações dos pais para com os filhos do que de direitos em relação a eles. Ainda que o Código Civil tenha eleito a expressão poder familiar para atender à igualdade entre o homem e a mulher, não agradou. Mantém ênfase no poder, somente deslocando-o do pai para a família. Critica Silvio Rodrigues: pecou gravemente ao se preocupar mais em retirar da expressão a palavra “pátrio” do que incluir o seu real conteúdo, que, antes de um poder, representa obrigação dos pais, e não da família, como o nome sugere.3 O poder familiar, sendo menos um poder e mais um dever, converteu-se em um múnus,4 e talvez se devesse falar em função familiar ou em dever familiar. A expressão que goza da simpatia da doutrina é autoridade parental. Melhor reflete a profunda mudança que resultou da consagração constitucional do princípio da proteção integral de crianças, adolescentes e jovens (CF 227). Destaca que o interesse dos pais está condicionado ao interesse do filho, de quem deve ser haurida a legitimidade que fundamenta a autoridade.5 Mas já surge movimento indicando como mais apropriado o termo responsabilidade parental. Não é somente com relação à expressão poder familiar que o Código Civil é criticado. Repete o que já não tinha nem sentido nem aplicabilidade na legislação pretérita, em face da ordem constitucional. Não disciplina as questões do poder familiar nos novos modelos de família e mantém o antiquado instituto que concede aos pais o usufruto dos bens dos filhos.6 25.2 Tentativa conceitual De objeto de poder, o filho passou a sujeito de direito. Essa inversão ensejou modificação no conteúdo do poder familiar, em face do interesse social que envolve. Não se trata do exercício de uma autoridade, mas de um encargo imposto por lei aos pais.7 O poder familiar é sempre trazido como exemplo da noção de poder-função ou direito-dever, consagradora da teoria funcionalista das normas de direito das famílias: poder que é exercido pelos genitores, mas que serve ao interesse do filho.8 Conforme Caio Mário da Silva Pereira, o Estado fixa limites de atuação aos titulares do poder familiar. A ideia predominante é de que a potestas deixou de ser uma prerrogativa do pai para se afirmar como a fixação jurídica do interesse dos filhos.9 A autonomia da família não é absoluta, sendo cabível – e vez por outra até salutar – a intervenção subsidiária do Estado. O grande desafio é encontrar o ponto de equilíbrio entre duas situações opostas: a supremacia do Estado nos domínios da família e a onipotência daqueles que assumem o poder de direção da família.10 A autoridade parental está impregnada de deveres não apenas no campo material, mas, principalmente, no campo existencial, devendo os pais satisfazer outras necessidades dos filhos, notadamente de índole afetiva.11 Para Waldyr Grisard, tentar definir poder familiar nada mais é do que tentar enfeixar o que compreende o conjunto de faculdades encomendadas aos pais, como instituição protetora da menoridade, com o fim de lograr o pleno desenvolvimento e a formação integral dos filhos, seja física, mental, moral, espiritual ou socialmente.12 O poder familiar é irrenunciável, intransferível, inalienável e imprescritível. Decorre tanto da paternidade natural como da filiação legal e da socioafetiva. As obrigações que dele fluem são personalíssimas. Como os pais não podem renunciar aos filhos, os encargos que derivam da paternidade também não podem ser transferidos ou alienados. Nula é a renúncia ao poder familiar, sendo possível somente delegar a terceiros o seu exercício, preferencialmente a um membro da família.13 É crime entregar filho a pessoa inidônea (CP 245). O princípio da proteção integral acabou por emprestar nova configuração ao poder familiar, tanto que o inadimplemento dos deveres a ele inerentes configura infração susceptível à pena de multa (ECA 249). Todos os filhos, de zero a 18 anos, estão sujeitos ao poder familiar, que é exercido pelos pais. Falecidos ou desconhecidos ambos os genitores, na contramão de tudo que vem sendo construído pela doutrina da proteção integral, os filhos ficam sob tutela (CC 1.728 I). Arcaico instituto com forte dose de inconstitucionalidade por afrontar a especial proteção que o Estado assegura, com absoluta prioridade, a crianças e adolescentes. O filho maior, mas incapaz, está sujeito à curatela, podendo o pai, a mãe ou ambos serem nomeados curadores (CC 1.775 § 1.º). O poder familiar é sempre compartilhado entre os genitores. No entanto, descuidou-se o legislador desses deveres em face dos filhos havidos fora do casamento.14 De forma absurda, condiciona a guarda do filho à concordância do cônjuge do genitor (CC 1.611). Com o único propósito de preservar a unidade familiar daquele que reconheceu um filho extramatrimonial, olvida-se a lei que deve obediência à Constituição, a qual consagra o princípio da prevalência do interesse de crianças e adolescentes. Assim,a regra é de se ter simplesmente por não escrita, por sua flagrante inconstitucionalidade. Falando em desrespeito à Constituição, injustificadamente a lei silenciou quanto às demais entidades familiares por ela tuteladas, explícita ou implicitamente.15 Nada diz, por exemplo, sobre famílias monoparentais e famílias homoparentais, entidades familiares que, constituídas com filhos sujeitos ao poder familiar, necessitam da atenção do legislador. 25.3 Código Civil e Estatuto da Criança e do Adolescente Não só o Código Civil (1.630 a 1.638), também o ECA trata do poder familiar, quando fala do direito à convivência familiar e comunitária (ECA 21 a 24) e da perda e suspensão do poder familiar (ECA 155 a 163). Ainda que o ECA seja anterior ao Código Civil, constitui-se em um microssistema. Dispondo de um centro de gravidade autônomo, suas regras têm prevalência. As codificações, pelo seu grau de generalidade, não possuem qualquer capacidade de influência normativa sobre os estatutos. Por isso, como lembra Paulo Lôbo, não se vislumbra contradição (cronológica ou de especialidade) entre o ECA e o Código Civil, não se podendo alvitrar sua derrogação, salvo quanto à denominação pátrio poder, substituída por poder familiar.16 O ECA (2.º) chama de criança quem tem 12 anos incompletos e de adolescente quem tem dos 12 aos 18 anos. O Código Civil reconhece como absolutamente incapazes os menores de 16 anos (CC 3.º I) e como relativamente incapazes quem tem entre 16 e 18 anos (CC 4.º I). Quanto à maioridade, harmonizam-se ambos os estatutos: aos 18 anos ocorre o fim da adolescência e o implemento da maioridade (CC 5.º e ECA 2.º). Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas do ECA (CF 228). O poder familiar é exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe na forma da legislação civil (ECA 21). A referência à lei civil é mera superfetação.17 Ainda que o estatuto menorista ressalte os deveres dos pais, o Código Civil (1.630) se limita a afirmar que os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores. O filho não reconhecido pelo pai fica sob a autoridade da mãe (CC 1.633). Regra, aliás, de todo inútil, pois, desconhecido o pai, é evidente que ele não pode concorrer no exercício do poder familiar.18 Se a mãe também for desconhecida, o Código Civil coloca o infante sob a autoridade de um tutor. O ECA (28) é mais abrangente, admitindo a colocação em família substituta mediante guarda, tutela ou adoção. 25.4 Pais separados Como os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher (CF 226 § 5.º), a autoridade parental cabe a ambos os genitores. Tanto a titularidade como o exercício do poder familiar se dividem igualmente entre os pais (CC 1.631). Durante o casamento (CC 1.566 IV) e na vigência da união estável (CC 1.724) ambos são detentores do poder familiar. E, rompido o vínculo de convívio, o poder familiar segue exercido pelos dois, independente de quem detém sua guarda. A unidade da família não se confunde com a convivência do casal, é um elo que se perpetua independentemente da relação dos genitores.19 O exercício do poder familiar não é inerente à convivência dos cônjuges ou companheiros. É plena a desvinculação legal da proteção conferida aos filhos à espécie de relação dos genitores.20 Todas as prerrogativas decorrentes do poder familiar persistem mesmo quando do divórcio, o que não modifica os direitos e deveres em relação aos filhos (CC 1.579). Também a dissolução da união estável não se reflete no exercício do poder familiar. Em caso de divergência, qualquer um dos pais pode socorrer-se da autoridade judiciária (CC 1.631 parágrafo único). Solvido o relacionamento dos pais, nada interfere no poder familiar com relação aos filhos (CC 1.632). Os filhos permanecem sob a guarda compartilhada dos genitores, ainda que não haja acordo entre ambos. O tempo de convívio deve ser dividido de forma equilibrada.21 Ainda assim persiste o dever de ambos de promoverem o sustento da prole. O genitor que tem melhor condição econômica deve prestar alimentos ao filho. Como o poder familiar é um complexo de direitos e deveres, a convivência dos pais não é requisito para a sua titularidade, competindo aos dois seu pleno exercício. Têm ambos o dever de dirigir a criação e a educação, conceder ou negar consentimento para casar, para viajar ao exterior, mudar de residência, bem como representá-lo e assisti-lo judicial ou extrajudicialmente (CC 1.634). Sempre que é exigida a concordância de ambos os genitores, não basta a manifestação isolada de apenas um, ainda que o filho esteja sob sua guarda. É necessário ou o suprimento judicial do consentimento, ou a suspensão ou a exclusão do poder familiar do outro genitor.22 A guarda unilateral a um dos genitores só é deferida quando o outro expressamente manifesta o desejo de não exercer a guarda (CC 1.584 § 2.º). No entanto, mantém o direito de convivência (CC 1.632). O exercício da guarda não retira e nem limita o poder familiar do genitor não guardião. Na falta ou impedimento de um dos pais, o outro exerce o poder familiar com exclusividade (CC 1.631). Quando é deferida a guarda a terceiros (CC 1.584 § 5.º), ou a criança é colocada em família substituta (ECA 28), ainda assim não se extingue o poder familiar. Os pais não se livram da obrigação alimentar. Nem quando ocorre a suspensão ou a extinção do poder familiar fica o genitor desobrigado de prestar alimentos ao filho. Se o genitor que detém a guarda unilateral ou compartilhada constituir nova família, não é afetado o princípio da incomunicabilidade do poder familiar. O casamento, ou a união estável de qualquer dos pais, não enseja a perda do poder familiar, não cabendo a interferência do novo cônjuge ou companheiro (CC 1.636). A lei põe a salvo qualquer espécie de ingerência do novo parceiro na relação entre pais e filhos. O princípio norteador dessa proibição é conformado ao princípio da prioridade absoluta da criança e do adolescente.23 O genitor e sua prole configuram uma família monoparental, pois o casamento ou a união estável do guardião não gera a transferência do poder familiar. Cada vez mais, em face do prestígio da filiação afetiva, a tendência é reconhecer direitos e deveres entre o filho do genitor e o seu novo companheiro. Tanto que é possível o enteado adotar o sobrenome do padrasto (LRP 57 § 8.º). Comprovada a filiação socioafetiva, estando o enteado sob a guarda do padrasto, possível sua inclusão como dependente no âmbito do direito previdenciário.24 Também pode haver a imposição de obrigação alimentar a favor do enteado, o que não exime o dever do pai de continuar provendo o sustento do filho assim como o direito de fiscalizar sua educação (CC 1.589). 25.5 Exercício Elenca o Código oito hipóteses de “competência”25 dos genitores quanto à pessoa dos filhos menores (CC 1.634): I – dirigir-lhes a criação e a educação; II – exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584; III – conceder-lhes ou negar- lhes consentimento para casarem; IV – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior; V – conceder-lhes ou negar- lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para outro Município; VI – nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; VII – representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo- lhes o consentimento; VIII – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; IX – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição. Nesse extenso rol não consta o que talvez seja o mais importante dever dos pais com relação aos filhos: o dever de lhesdar amor, afeto e carinho. A missão constitucional dos pais, pautada nos deveres de assistir, criar e educar os filhos menores, não se limita a encargos de natureza patrimonial. A essência existencial do poder familiar é a mais importante, que coloca em relevo a afetividade responsável que liga pais e filhos, propiciada pelo encontro, pelo desvelo, enfim, pela convivência familiar.26 Daí a tendência jurisprudencial em reconhecer a responsabilidade civil do genitor por abandono afetivo, em face do descumprimento do dever inerente à autoridade parental de conviver com o filho, gerando obrigação indenizatória por dano afetivo. A omissão dos genitores, deixando de garantir a sobrevivência dos filhos, como, por exemplo, deixando imotivadamente de pagar os alimentos, configura o delito de abandono material (CP 244). O elenco dos deveres inerentes ao poder familiar também não faz referência expressa aos deveres impostos aos pais pela Constituição (CF 227 e 229) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA 22). Assim, às obrigações e direitos previstos pela lei civil somam-se todos os outros que também são derivados do poder familiar. Como o ensino é reconhecido como um direito subjetivo público, é dever do Estado e da família promovê-lo e incentivá-lo (CF 205 e 208 § 1.º). Portanto, mais um dever é atribuído aos pais, qual seja o de manter os filhos na escola. O inadimplemento deste encargo, além de configurar o delito de abandono intelectual (CP 246), também constitui infração administrativa (ECA 249). Aliás, no dever de alimentos, de modo expresso está imposta a obrigação de atender às necessidades de educação (CC 1.694). A escola tem o dever de informar tanto ao pai quanto à mãe – vivam eles juntos ou separados – sobre a frequência e rendimento dos filhos.27 A omissão sujeita a escola ao pagamento de multa (CC 1.584 § 6.º). Inclina-se a jurisprudência em não apenar os genitores que não conseguem obrigar os filhos, já adolescentes, a frequentar a escola. Como é proibido castigar os filhos, pelo advento da chamada Lei da Palmada,28 não há como os pais cumprirem tal obrigação. Assim, em vez de punir o genitor, é dever do Estado intervir de forma mais efetiva, disponibilizando acompanhamento psicológico a quem se nega a estudar.29 Havendo negligência do genitor na constante atuação da educação e da formação escolar da prole, cabe ser invocada sua responsabilidade civil (CC 186), de modo a gerar obrigação indenizatória por danos pessoais ou materiais decorrentes de sua negligência.30 A possibilidade de submeter os filhos a serviços próprios de sua idade e condição é incompatível com o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (CF 1.º III). Trata-se de exploração da vulnerabilidade dos filhos menores, o que pode ser considerado abuso (CF 227 § 4.º). Pelos atos dos filhos, enquanto menores, são responsáveis os pais (CC 932 I). Trata-se de responsabilidade civil objetiva por ato de terceiro. Ainda que a referência legal seja aos pais que estiverem com os filhos em sua companhia, descabido não responsabilizar também o genitor não guardião. Não há como excluir a responsabilidade de um dos pais pelos atos praticados pelos filhos, pelo fato de estarem eles sob a guarda do outro genitor.31 Afinal, nem a guarda unilateral limita ou restringe o poder familiar (CC 1.634). A responsabilidade parental não decorre da guarda, mas do poder familiar, que é exercido por ambos. Dentre seus deveres encontra-se o de exercer a guarda unilateral ou compartilhada (CC 1.634 II). O fato de o filho estar sob a guarda unilateral de um não subtrai do outro o direito de convivência. Mesmo que o filho não esteja na sua companhia, está sob sua autoridade. Nem o divórcio dos pais modifica seus direitos e deveres com relação aos filhos (CC 1.579). Sequer as novas núpcias ou a constituição de união estável faz qualquer dos pais perder o poder familiar (CC 1.636). Assim, de todo descabido livrar a responsabilidade do genitor, pelo simples fato de o filho não estar na sua companhia. Ambos persistem no exercício do poder familiar, e entre os deveres dele decorrentes está o de responder pelos atos praticados pelo filho. Conceder interpretação literal a dispositivo que se encontra fora do livro do direito das famílias e divorciado de tudo que vem sendo construído para prestigiar a paternidade responsável é incentivar o desfazimento dos elos afetivos das relações familiares. Ao depois, a responsabilidade dos pais é objetiva (CC 933), o que lhes confere plena atuação aos princípios da paternidade responsável e do melhor interesse da criança e do adolescente, deixando clara a importância do papel que devem desempenhar no processo de educação e desenvolvimento da personalidade dos mesmos.32 Assim, o patrimônio de ambos os genitores, e não só o do guardião, deve responder pelos danos causados pelos filhos. 25.6 Usufruto e administração de bens Como os menores de idade não têm capacidade de gerir sua pessoa e bens, até os 16 anos são representados e, dos 16 aos 18 anos, são assistidos por seus genitores. Dentro da esfera patrimonial, o primeiro dever imposto aos pais, no exercício do poder familiar, é o de administrar os bens dos filhos.33 O Código Civil é absolutamente omisso no que se refere ao modo como eles devem proceder. Apesar disso, é certo que o desempenho da função se submete à regra geral do exercício do poder familiar, pelo que deve visar precipuamente ao interesse da prole.34 Dispõem os pais do usufruto legal dos bens dos filhos, partindo- se do pressuposto – para lá de equivocado – de que os rendimentos se compensam com as despesas de criação e de educação. Essa explicação não se harmoniza com a melhor e mais atual concepção do poder familiar. É preciso concordar com Denise Comel: não há falar em compensação econômica diante de função que tem origem no direito natural, configurando dever legal e de ordem pública, também irrenunciável, e que visa, sobretudo, ao interesse e benefício do filho.35 Concedendo a lei ao detentor do poder familiar o usufruto dos bens dos menores, a tendência da doutrina é entender que lhe pertencem os rendimentos que daí advêm.36 Porém, a melhor interpretação a fazer, relativamente ao usufruto legal dos pais sobre tais bens, é de que não podem eles se apropriar de todos os rendimentos dos filhos, senão na medida do que seja necessário para fazer frente às despesas comuns da família. E isso porque o usufruto é instituído no interesse do filho.37 Como se trata de direito concedido de forma conjunta a ambos os pais, estando um deles na posse exclusiva do bem pertencente ao filho, deve ao outro o valor correspondente à metade do preço da locação.38 Somente contra o detentor da guarda unilateral é prevista a obrigação de prestar contas ou informações ao não guardião (1.583 § 5.º). No entanto, o genitor que percebe verba alimentar, seja qual for o regime de convivência, tem o mesmo dever. A lei não prevê a obrigação dos pais de prestar contas ao filho da administração de seu patrimônio, até porque, sendo eles os administradores por mandato legal, os rendimentos lhes pertencem. Para Denise Comel, a imposição de tal encargo, embora de difícil realização na prática, parece mais jurídica, melhor atendendo ao interesse do filho.39 Em face do direito de usufruto é que recomenda a lei que não case quem não fez a partilha dos bens, quer em face da morte do cônjuge, quer quando do divórcio (CC 1.523 I e III). A quem desobedece tal determinação, é imposto o regime de separação de bens (CC 1.641 I). Além disso, confere a lei hipoteca legal aos filhos sobre os bens imóveis do genitor que vier a casar sem fazer o inventário do casal anterior (CC 1.489 II). Este ônus existe tanto quando do falecimento como quando do divórcio, sem que tenha se procedido à partilha de bens. Ainda que sejam os genitores os administradores e usufrutuários dos bens daprole, não podem alienar nem gravar de ônus real tal acervo, como também não podem contrair obrigações que ultrapassem a simples administração, salvo por necessidade ou evidente interesse do filho (CC 1.691). Em qualquer hipótese, devem os pais se socorrer do juiz, comprovando que a alienação, a permuta de bens, ou, ainda, a assunção de encargo de determinada monta, vem em proveito do filho. Deixando o detentor do poder familiar de buscar autorização judicial para realizar despesas de maior vulto, possível desconstituir as transações levadas a efeito. Além do filho, seus herdeiros ou seu representante legal (CC 1.691 parágrafo único), também o Ministério Público dispõem de legitimidade para buscar a anulação (ECA 201 VIII). Como houve infringência a dever decorrente do poder familiar, o genitor se sujeita a pena pecuniária (ECA 249). A condição de usufrutuário confere aos pais legitimidade para o uso das medidas legais para a preservação do patrimônio. Ainda que os bens não sejam seus, eles têm legitimidade ordinária para a demanda, podendo fazer uso das ações possessórias para defender a posse, da qual são titulares. Quando colidirem os interesses do pai e do filho (por exemplo, sendo ambos herdeiros em um inventário), deve ser nomeado curador especial (CC 1.692 e CPC 9.º I). Não é necessário que o conflito seja manifesto, bastando haver colisão de interesses.40 Vindo o genitor a arruinar os bens do filho, fica sujeito à suspensão do poder familiar (CC 1.637). São excluídos da administração parental (CC 1.693): I – os bens adquiridos pelo filho antes de ter sido reconhecido; II – os valores auferidos pelo filho maior de 16 anos no desempenho de atividade profissional e os bens que ele adquiriu com tais recursos; III – os bens recebidos em doação, sob a condição de não serem usufruídos pelos pais; e IV – os recebidos por herança, quando os pais forem excluídos da sucessão. Os valores recebidos e os bens adquiridos pelo filho maior de 16 anos são bens reservados, ou seja, o que perceber no desempenho de atividade laboral não se sujeita à administração do genitor. No entanto, como é possível, a partir dos 14 anos, o trabalho de aprendiz (CF 7.º XXXIII), atividade que é remunerada, descabido que reste o genitor como usufrutuário do salário percebido pelo filho. Atingindo o filho a maioridade, os bens lhe são entregues com seus acréscimos, não tendo ele direito de pedir que o genitor lhe preste contas. Em contrapartida, o pai também não pode exigir qualquer remuneração pelo trabalho desempenhado. 25.7 Suspensão e extinção O poder familiar é um dever dos pais a ser exercido no interesse do filho. O Estado moderno sente-se legitimado a entrar no recesso da família, a fim de defender os menores que aí vivem.41 Assim, reserva- se o direito de fiscalizar o adimplemento de tal encargo, podendo suspender e até excluir o poder familiar. Quando um ou ambos os genitores deixam de cumprir com os deveres decorrentes do poder familiar, mantendo comportamento que possa prejudicar o filho, o Estado deve intervir. É prioritário o dever de preservar a integridade física e psíquica de crianças e adolescentes, nem que para isso tenha o Poder Público de afastá-los do convívio de seus pais. A suspensão e a destituição do poder familiar constituem sanções aplicadas aos genitores por infração aos deveres que lhes são inerentes, ainda que não sirvam como pena ao pai faltoso.42 O intuito não é punitivo. Visa muito mais preservar o interesse dos filhos, afastando-os de influências nocivas. Em face das sequelas que a perda do poder familiar gera, deve somente ser decretada quando sua mantença coloca em perigo a segurança ou a dignidade do filho. Assim, havendo possibilidade de recomposição dos laços de afetividade, preferível somente a suspensão do poder familiar. A perda ou suspensão do poder familiar de um ou ambos os pais não retira do filho menor o direito de ser por eles alimentado. Entendimento em sentido contrário premiaria quem faltou com seus deveres.43 Tampouco a colocação da criança ou do adolescente em família substituta ou sob tutela afasta o encargo alimentar dos genitores. O ECA (267) expressamente revogou o Código de Menores (L 6.697/79). Mas Maria Paula Gouvêa Galhardo sustenta que persiste em vigor o seu art. 45, parágrafo único, que diz que a perda ou a suspensão do pátrio poder não exonera os pais do dever de sustentar os filhos. Mesmo não reproduzida no ECA, são normas que não conflitam, guardando consonância com o princípio da proteção integral.44 O encargo alimentar é uma obrigação unilateral, intransmissível, decorrente da condição de filho e independente do poder familiar.45 Nem mesmo quando o filho é adotado cessa o encargo alimentar, conforme vem sustentando a doutrina. A extinção do poder familiar não rompe o vínculo de parentesco. Porém, destituído o genitor do poder familiar, não dá para admitir que conserve o direito sucessório com relação ao filho. No entanto, o filho permanece com direito à herança do pai. Ainda que esta distinção não esteja na lei, atende a elementar regra de conteúdo ético.46 Declina a lei as causas de suspensão e de extinção do poder familiar, mas são elas apresentadas de forma genérica, dispondo o juiz de ampla liberdade na identificação dos fatos que possam levar ao afastamento temporário ou definitivo das funções parentais. Há um tema novo, que vem ganhando relevo no âmbito das relações de trabalho, mas que cabe ser contrabandeado para o âmbito do direito de família. Trata-se do assédio moral, que se pode ver configurado principalmente no exercício indevido do poder familiar. O uso, ou melhor, o abuso no exercício de poder, fruto do desequilíbrio das partes, não existe somente no âmbito das relações de emprego. Também na família essa postura pode ser flagrada e merece ser reprimida. 25.7.1 Suspensão A suspensão do poder familiar é medida menos grave, tanto que se sujeita a revisão. Superadas as causas que a provocaram, pode ser cancelada sempre que a convivência familiar atender ao interesse dos filhos. A suspensão é facultativa, podendo o juiz deixar de aplicá- la.47 Pode ser decretada com referência a um único filho e não a toda a prole. Também pode abranger apenas algumas prerrogativas do poder familiar. Por exemplo, em caso de má gestão dos bens dos menores, é possível somente afastar o genitor da sua administração, permanecendo com os demais encargos. A suspensão do exercício do poder familiar cabe nas hipóteses de abuso de autoridade (CC 1.637): faltando os pais aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos. Os deveres dos genitores são de sustento, guarda e educação dos filhos, cabendo assegurar- lhes (CF 227): vida, saúde, alimentação, educação, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade, convivência familiar e comunitária, além de não poder submetê-los a discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Apesar de o genitor ter o dever de sustento da prole, o descumprimento desse encargo não justifica a suspensão do poder familiar, pois a falta ou carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente nem para a perda e nem para a suspensão do poder familiar (ECA 23). Desarrazoada a suspensão do poder familiar em face de condenação do guardião, cuja pena exceda a dois anos de prisão (CC 1.637 parágrafo único). Tal apenação não implica, necessariamente, em privação da liberdade em regime fechado ou semiaberto, porquanto a lei penal prevê o cumprimento da pena igual ou inferior a quatro anos em regime aberto (CP 33 § 2.º c), sem falar na possibilidade de substituição da pena por sanções restritivas de direitos (CP 44). Ao depois, existem creches nas penitenciárias femininas, e as mães ficam com os filhos em sua companhia, ao menos enquanto forem de tenra idade. Como a suspensão visa a atender ao interesse dos filhos, descabida a suaimposição de forma discricionária, sem qualquer atenção ao que mais lhes convém. Este dispositivo foi revogado em face da garantia de convivência assegurada aos filhos com as mães e pais privados de liberdade. Inclusive quando os filhos estiverem institucionalizados. As visitas periódicas independem de autorização judicial e atendem ao melhor interesse dos filhos.48 Como a condenação criminal não implica na destituição do poder familiar, às claras que não enseja a suspensão do poder familiar, a não ser quando se tratar de crime doloso contra o próprio filho.49 25.7.2 Perda Distingue a doutrina perda e extinção do poder familiar. Perda é uma sanção imposta por sentença judicial, enquanto a extinção ocorre pela morte, emancipação ou extinção do sujeito passivo. Assim, há impropriedade terminológica na lei que utiliza indistintamente as duas expressões.50 A perda do poder familiar é sanção de maior alcance e corresponde à infringência de um dever mais relevante, sendo medida imperativa, e não facultativa.51 Extingue-se o poder familiar (CC 1.635): I – pela morte dos pais ou do filho; II – pela emancipação; III – pela maioridade; IV – pela adoção do filho por terceiros; e V – em virtude de decisão judicial. Judicialmente, perde-se o poder familiar quando comprovada a ocorrência de (CC 1.638): I – castigo imoderado; II – abandono; III – prática de atos contrários à moral e aos bons costumes; e IV – reiteração de falta aos deveres inerentes ao poder familiar. Tanto um rol, quanto o outro não são taxativos, mas meramente exemplificativos. Como deve prevalecer o interesse dos filhos, a postura incompatível dos pais autoriza a destituição do poder familiar, quer por comprometimento com drogas,52 quer por serem moradores de rua.53 Há, ainda, outra hipótese: cometido crime doloso contra o filho, punido com pena de reclusão, a perda do poder familiar é efeito anexo da condenação (CP 92 II). A morte de um dos pais faz concentrar no sobrevivente o encargo familiar. A emancipação (CC 5.º parágrafo único I) é concedida pelos pais, mediante instrumento público, e dispensa homologação judicial se o filho contar com mais de 16 anos. A adoção (ECA 41), ao impor o corte definitivo com o parentesco original, leva ao desaparecimento do poder familiar dos pais biológicos. A vedação ao castigo imoderado (CC 1.638 I) revelava, no mínimo, tolerância para com o castigo moderado. O castigo físico afronta um punhado de normas protetoras de crianças e adolescentes, que desfrutam do direito fundamental à inviolabilidade da pessoa humana, que também é oponível aos pais. Com a aprovação da chamada Lei da Palmada ou Lei Menino Bernardo,54 tal dispositivo encontra-se revogado. A identificação da prática de atos que afrontem a moral e os bons costumes é aferida objetivamente, incluindo as condutas que o direito considera ilícitas. Porém, não se pode subtrair a possibilidade de o juiz decidir pela exoneração por fatos que considere incompatíveis com o poder familiar e configurem abuso de autoridade. Em qualquer circunstância, o supremo valor é o melhor interesse do menor. Como o afastamento do filho do convívio de um ou de ambos os pais certamente produz sequelas que podem comprometer seu desenvolvimento psicológico, recomendável que, ao ser decretada a suspensão ou perda do poder familiar, seja aplicada alguma medida protetiva de acompanhamento, apoio e orientação tanto ao filho (ECA 100) como a seus pais (ECA 129). Caso o filho seja acolhido em programa institucional ou familiar, será elaborado um plano individual de atendimento (ECA 101 § 4.º). A perda da autoridade parental por ato judicial (CC 1.638) leva à extinção do poder familiar (CC 1.635 V), que é o aniquilamento, o término definitivo, o fim do poder familiar.55 No entanto, inclina-se a doutrina em admitir a possibilidade de haver a revogação da medida.56 A perda do poder familiar não deve implicar a extinção no sentido de afastamento definitivo ou impossibilidade permanente.57 Ou seja, a perda do poder familiar é permanente, mas não se pode dizer que seja definitiva, pois os pais podem recuperá-lo em procedimento judicial de caráter contencioso, desde que comprovem a cessação das causas que determinaram. É imperativa, e não facultativa. Abrange toda a prole, por representar um reconhecimento judicial que o titular do poder familiar não está capacitado para o seu exercício.58 De qualquer forma, como o princípio da proteção integral dos interesses da criança, por imperativo constitucional, deve ser o norte, parece que a regra de se ter por extinto o poder familiar em toda e qualquer hipótese de perda não é a que melhor atende aos interesses do menor.59 25.8 Lei da palmada ou Lei Menino Bernardo A Lei 13.010, de 26/06/2014, conhecida como Lei da Palmada ou Lei menino Bernardo60 visa a coibir a violência por parte de quem, tem o dever legal de proteger, cuidar e educar, e se prevalece da desproporcionalidade da força física, do medo, do respeito e até do afeto que, de um modo geral, crianças e adolescentes nutrem pelas pessoas que os têm em sua companhia e guarda. A Lei, que desdobrou alguns artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente61 e acrescentou um parágrafo à Lei de Diretrizes e Bases,62 assegura a crianças e adolescentes o direito de serem criados e educados sem o uso de castigo físico ou tratamento cruel ou degradante. A própria lei define como castigo físico o uso da força física que resulta em sofrimento ou lesão física, mesmo que disponha de natureza disciplinar ou corretiva. Tratamento cruel ou degradante é considerada a conduta que humilha, a ameaça grave ou a postura que ridicularize. Estão sujeitos à sanção legal quaisquer pessoas encarregadas de cuidar, tratar, educar e proteger crianças e adolescentes: pais ou responsáveis, integrantes da família ampliada e agentes públicos executores de medidas socioeducativas. Aos infratores está prevista a imposição de cinco medidas, que vão desde o encaminhamento dos responsáveis a programa de proteção à família, a imposição de tratamento psicológico ou psiquiátrico, até a mera advertência. Também pode ser determinado o encaminhamento da criança a tratamento especializado. Não houve a criminalização dos pais e responsáveis que agridem sob qualquer pretexto: correção, disciplina ou educação. Foi vetada a única apenação pecuniária que constava do projeto, e que consistia na aplicação de multa, no valor de três a 20 salários mínimos, aos profissionais da saúde, da assistência social, da educação ou a qualquer pessoa que exerça cargo, emprego ou função pública, que deixasse de comunicar ao Conselho Tutelar a suspeita ou confirmação da ocorrência de atos de violência contra menores ou adolescentes.63 De forma surpreendente é atribuído ao Conselho Tutelar a imposição das medidas previstas na Lei, apesar de todos saberem que a forma eletiva de escolha dos conselheiros, sem a exigência de qualquer qualificação, tem comprometido, em muito, as atividades que deveriam desenvolver. Ao depois, as medidas aplicadas pelos conselheiros tutelares certamente serão questionadas judicialmente, por ausência de procedimento sujeito ao contraditório. As demais regras trazidas pela Lei se limitam a determinar a adoções de políticas públicas, como campanhas educativas, capacitação profissional etc. Proposições que, sem imposição coercitiva, acabam virando letra morta, pois certamente não irão despertar o interesse do poder público, que nunca existiu quando se trata de questões familiares, sendo consideradas de âmbito privado. De qualquer modo a Lei tem o mérito de acabar com a absurda permissão que o Código Civil outorgava aos pais de castigar os filhos, ainda que moderadamente. Isto porque só o castigo imoderado ensejava a perda do poder familiar (CC 1.638 I). Ou seja, o castigo moderado era admitido. Agora não mais. Quem impinge castigo físico ou tratamentocruel ou degradante fica sujeito a cumprir medidas de caráter psicossociais. Além disso, a ação do genitor em confronto com a lei configura falta aos deveres inerentes ao poder familiar, podendo o juiz adotar as medidas previstas no Código Civil (1.637). Mas talvez o seu ponto mais nefrálgico seja não ter contemplado a violência psicológica, a negligência, a agressão emocional, que causam danos muito maiores do que a própria violência física. Afinal, são agressões que afetam a alma e deixam cicatrizes invisíveis aos olhos, mas que comprometem o desenvolvimento sadio e a formação psíquica das vítimas. Com igual propósito nova alteração foi introduzida no ECA,64 impondo às entidades públicas e privadas que atuem junto a crianças e adolescentes, a mantença em seus quadros de pessoas capacitadas para reconhecer e comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de maus-tratos. Esta mesma responsabilidade é atribuída às pessoas encarregadas do cuidado, assistência ou guarda de crianças e adolescentes, em razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão ou ocupação. A omissão ou retardamento é punível, nos termos do ECA. 25.9 Ação de suspensão e destituição Tanto a suspensão quanto a destituição do poder familiar dependem de procedimento judicial. Tais ações podem ser propostas por um dos genitores frente ao outro. Também tem legitimidade o Ministério Público (ECA 201 III), que tanto pode dirigir a ação contra ambos ou contra somente um dos pais. Nessa hipótese não é necessária a nomeação de curador especial.65 Cabe lembrar que uma das atribuições do Conselho Tutelar é representar ao Ministério Público para o efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar (ECA 136 XI). Mas tal prerrogativa não confere legitimidade ao Conselho Tutelar para propor a ação. É assegurado o direito de agir a quem tenha legítimo interesse (ECA 155). Assim, é de se reconhecer a legitimidade de qualquer parente para propor a ação. Para a identificação do juízo competente, é necessário atentar à situação em que se encontra a criança ou o adolescente. Ainda que seja buscada a exclusão do poder familiar, se está na companhia de algum familiar, a competência é das varas de família. No entanto, havendo situação de risco (ECA 98), ou seja, não estando seguro, mesmo que sob a guarda de pessoa de sua família (pais, avós, tio etc.), a ação deve ser proposta nas varas da infância e juventude (ECA 148 parágrafo único). A depender do grau de prejuízo a que está submetida a criança, possível é a suspensão liminar ou incidental do poder familiar (ECA 157). O pedido pode ser formulado via medida cautelar (CPC 888 V), ou mediante a concessão de tutela antecipada, no âmbito da ação de destituição,66 com a imedita colocação em família substituta (ECA 166), ou seja, os primeiros da fila para adotá-la, Também possível deixá-la sob a guarda de quem se encontra e com quem mantém vínculo de filiação socioafetiva.67 O réu deve ser citado pessoalmente. Quando estiver privado de liberdade o oficial de justiça deve questioná-lo se deseja a nomeação de um defensor (ECA 159 parágrafo único). Em qualquer hipótese deve o juiz nomear-lhe curador especial (CPC 9.º II). Mesmo não contestada a ação, deve o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, determinar a realização de estudo psicossocial e a ouvida de testemunhas (ECA 161 § 1.º). Quando se tratar de crianças indígenas, é indispensável a presença de representante do órgão federal responsável pela política indigenista, tanto quando da realização do estudo social como da perícia (ECA 161 §§ 1.º e 2.º). Se a ação implicar em alteração da guarda é indispensável a ouvida dos pais (ECA 161 § 4.º), bem como da criança ou do adolescente (ECA 161 § 3.º). O prazo máximo para a conclusão do processo é de 120 dias (ECA 163). Provimento do CNJ determina a investigação disciplinar do magistrado que tiver, sob sua condução, ação de destituição do poder familiar há mais de 12 meses. Em sede recursal o prazo de tramitação não pode exceder seis meses.68 A sentença que destituir um ou ambos os pais do poder familiar fica sujeita a apelação a ser recebida só no efeito devolutivo (ECA 199-B). Deve ser cumprida de imediato. Em todos os procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude o sistema recursal é o do CPC.69 Os recursos independem de preparo (ECA 198 I). O prazo para o Ministério Público e para defesa é sempre de 10 dias, salvo nos embargos de declaração (ECA 198 II). É assegurado juízo de retratação pelo juiz, devendo a remessa ao órgão recursal ser feita por decisão fundamentada, no prazo de cinco dias (ECA 198 VII).70 O recurso deve ser processado com prioridade absoluta e o julgamento não está sujeito a revisão e nem há necessidade de ser pautado (ECA 199-C). O relator deve colocar o processo para julgamento no prazo máximo de 60 dias (ECA 199-D). O parecer do Ministério Público pode ser oral (ECA 199-D parágrafo único). A sentença é averbada à margem do registro de nascimento (ECA 163 parágrafo único). Vem sendo admitida pela jurisprudência a cumulação das ações de destituição do poder familiar e de adoção. Mesmo que não haja pedido expresso de destituição, tal não enseja a extinção da ação de adoção, tendo-se o pedido como implícito, pois a destituição é um mero efeito da sentença concessiva da adoção. O que se faz indispensável é a citação dos pais, que precisam figurar na ação como litisconsortes necessários. Durante a tramitação da demanda de destituição, as crianças e os adolescentes permanecem acolhidos em instituições ou são colocados em famílias substitutas. O Conselho Nacional de Justiça estabeleceu guia única de acolhimento familiar ou institucional e guia de desligamento, além de fixar regras para o armazenamento permanente dos dados disponíveis em procedimentos de destituição ou suspensão do poder familiar.71 Infelizmente, as ações se arrastam. É tentada, de forma exaustiva, e muitas vezes injustificada, a mantença do vínculo familiar. Em face da demora no deslinde do processo, a criança deixa de ser criança, tornando-se “inadotável”, feia expressão que identifica que ninguém a quer. O interesse dos candidatos à adoção é sempre pelos pequenos. Assim, a omissão do Estado e a morosidade da justiça transformam as instituições em verdadeiros depósitos de enjeitados, único lar para milhares de jovens, mas só até completarem 18 anos. Nesse dia simplesmente são postos na rua. Tentou a Lei da Adoção72 amenizar este quadro, mas, infelizmente, não conseguiu. O fato de eternizar-se a permanência da criança institucionalizada dá ensejo a pedido de indenização por dano moral contra o Estado, em face da perda da chance de ser adotado. Leitura complementar COMEL, Denise Damo. Do poder familiar. São Paulo: Ed. RT, 2003. DANTAS, Ana Florinda. O controle judicial do poder familiar quanto à pessoa do filho. In: FARIAS, Cristiano Chaves (coord.). Temas atuais de direito e processo de família. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 113-154. ______. Do poder familiar. In: DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (coords.). Direito de família e o novo Código Civil. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 177-189. SILVA, João Teodoro. Poder familiar: emancipação de menor pelos pais e o art. 1.631 do Código Civil. Revista Brasileira de Direito de Família, Porto Alegre, IBDFAM/Síntese, n. 26, p. 144-158, out.-nov. 2004. 1. Silvio Rodrigues, Direito civil: direito de família, 353. 2. Paulo Lôbo, Do poder familiar, 183. 3. Silvio Rodrigues, Direito civil: direito de família, 355. 4. Múnus: encargo legalmente atribuído a alguém, em virtude de certas circunstâncias, a que não se pode fugir. 5. Paulo Lôbo, Do poder familiar, 178. 6. Denise Damo Comel, Do poder familiar, 315. 7. Sílvio Venosa, Direito civil: direito de família, 367. 8. José LamartineC. de Oliveira e Francisco José F. Muniz, Curso de direito de família, 31. 9. Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de direito civil, 222. 10. Taisa Maria Macena de Lima, Responsabilidade civil dos pais…, 673. 11. Guilherme Calmon Nogueira da Gama, Direito de família brasileiro, 147. 12. Waldyr Grisard Filho, Guarda compartilhada, 24. 13. Paulo Lôbo, Código Civil comentado…, 211. 14. Silvio Rodrigues, Direito civil: direito de família, 359. 15. Paulo Lôbo, Do poder familiar, 184. 16. Idem, 183. 17. Sílvio Venosa, Direito civil: direito de família, 368. 18. Silvio Rodrigues, Direito civil: direito de família, 359. 19. Fabíola Santos Albuquerque, Poder familiar nas famílias recompostas…, 169. 20. Gustavo Tepedino, Temas de direito civil, 394. 21. A Lei 13.058/2014 regulamentou a guarda compartilhada, alterando dispositivos do Código Civil. 22. João Teodoro da Silva, Poder familiar:…, 157. 23. Fabíola Santos Albuquerque, Poder familiar nas famílias recompostas…, 169. 24. Lei 8.213/1991, 16, § 2.º. 25. Paulo Lôbo, Do poder familiar, 186. 26. Ana Carolina Brochado Teixeira, Responsabilidade civil…, 156. 27. Lei 9.394/96, 12 VII. 28. Lei 13.010/14. 29. ECA. Infração administrativa. Descumprimento de dever inerente ao poder familiar (ECA, art. 249). Adolescentes infrequentes à escola. Inexistência de dolo ou culpa dos responsáveis. Pedido de penalização que não se justifica. Apelação desprovida. (TJRS, AC 70039865431, 8.ª C. Cív., Rel. Des. Luiz Ari Azambuja Ramos, j. 27/01/2011). 30. Taisa Maria Macena de Lima, Responsabilidade civil dos pais…, 628. 31. Responsabilidade dos pais e da avó em face de ato ilícito praticado por menor. Separação dos pais. Poder familiar exercido por ambos os pais. Dever de vigilância da avó. […] 2. Ação de reparação civil movida em face dos pais e da avó de menor que dirigiu veículo automotor, participando de “racha”, ocasionando a morte de terceiro. […] 3. Quanto à alegada ilegitimidade passiva da mãe e da avó, verifica-se, de plano, que não existe qualquer norma que exclua expressamente a responsabilização das mesmas, motivo pelo qual, por si só, não há falar em violação aos arts. 932, I, e 933 do CC. 4. A mera separação dos pais não isenta o cônjuge, com o qual os filhos não residem, da responsabilidade em relação aos atos praticados pelos menores, pois permanece o dever de criação e orientação, especialmente se o poder familiar é exercido conjuntamente. […] 5. Em relação à avó, com quem o menor residia na época dos fatos, subsiste a obrigação de vigilância, caracterizada a delegação de guarda, ainda que de forma temporária. […] 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, na extensão, provido. (STJ, REsp 1.074.937/MA, 4.ª T., Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 01/10/2009). 32. José Carlos Zebulum, Responsabilidade civil indireta, 49. 33. Silvio Rodrigues, Direito civil: direito de família, 364. 34. Denise Damo Comel, Do poder familiar, 149. 35. Idem, 142. 36. Silvio Rodrigues, Direito civil: direito de família, 364. 37. Denise Damo Comel, Do poder familiar, 147. 38. Ação de cobrança de aluguel. Possibilidade. Utilização exclusiva de um dos ex- cônjuges de imóvel pertencente aos filhos. Possibilidade. 1. Pretensão originária formulada no sentido de que o ex-cônjuge que ocupa imóvel doado aos filhos pague o equivalente a 50% do valor de locação do imóvel, pelo usufruto, em caráter exclusivo, do bem pertencente à prole. 2. O exercício do direito real de usufruto de imóvel de filho, com base no poder familiar, compete aos pais de forma conjunta, conforme o disposto no art. 1.689, I, do CC/02. 3. A aplicação direta do regramento, contudo, apenas é possível na constância do relacionamento, pois, findo o casamento, ou a união estável, no mais das vezes, ocorre a separação física do casal, fato que torna inviável o exercício do usufruto de forma conjunta. 4. Nessa hipótese, é factível cobrança do equivalente à metade da locação do imóvel, pois a simples ocupação do bem por um dos ex-consortes representa impedimento de cunho concreto, ou mesmo psicológico, à utilização simultânea pelo outro usufrutuário. 4. Recurso especial não provido (STJ, REsp 1.098.864/RN, 3.ª T., Rel. Min. Nancy Andrighi, p. 21/09/2012). 39. Denise Damo Comel, Do poder familiar, 160. 40. Silvio Rodrigues, Direito civil: direito de família, 365. 41. Idem, 368. 42. Paulo Lôbo, Do poder familiar, 188. 43. Maria Paula Gouvêa Galhardo, Da destituição do pátrio poder e dever alimentar, 43. 44. Idem, 44. 45. Denise Damo Comel, Do poder familiar, 100. 46. Maria Berenice Dias, Manual das sucessões, 38. 47. Silvio Rodrigues, Direito civil: direito de família, 369. 48. Autorização judicial para menor visitar pai recolhido em estabelecimento prisional. Direito de visita como forma de garantir a convivência familiar e a ressocialização do preso. Aplicação do art. 41, X, da Lei 7.210/84 – Princípio do melhor interesse da criança. Ausência de elementos capazes de caracterizar o alegado risco à segurança e à integridade física dos menores. Manutenção da decisão. 1. O direito de visitas previsto no art. 41, X, da Lei 7.210/84 configura importante instrumento para garantir a convivência familiar e o processo de ressocialização do reeducando, somente podendo ser restringido em hipóteses excepcionais, devidamente fundamentadas em fatos capazes de indicar a inconveniência do exercício da faculdade legal e que evidenciem riscos à integridade física e moral do visitante. 2. Para deferimento da autorização judicial para os filhos menores visitar o pai recolhido em estabelecimento prisional deve-se levar em conta o princípio constitucional do melhor interesse da criança, que decorre do princípio da dignidade humana, centro do nosso ordenamento jurídico atual. 3. Não evidenciado, em concreto, motivo suficiente a caracterizar risco à segurança e à integridade física dos menores, a autorização para os filhos visitarem seu genitor no estabelecimento prisional deve ser concedida, em razão da proteção constitucional da entidade familiar através do afeto e da garantia de convivência, ainda que no ambiente carcerário. (TJMG, AC 1.0521.13.003654-9/001, 6.ª C. Cív., Rel. Des. Sandra Fonseca, p. 27/09/2013). 49. A Lei 12.962/14 assegurou a convivência de crianças e adolescentes com os pais privados de liberdade. 50. Romualdo Baptista dos Santos, O Código Civil de 2002:…, 499. 51. Silvio Rodrigues, Direito civil: direito de família, 369. 52. Destituição do poder familiar. Sentença de procedência. Apelo do pai. Genitores envolvidos com entorpecente. Não comprovada a reabilitação. Impossibilidade de se exercer a paternidade responsável. Extinção do poder familiar. Medida que se impõe. 1. Do exercício do poder familiar. Ensina a doutrina que o “… poder familiar é um dever a ser exercido no interesse do filho. O Estado moderno sente-se legitimado no recesso da família, a fim de defender os menores que aí vivem. Assim, reserva-se o direito de fiscalizar o adimplemento de tal encargo, podendo suspender e até excluir o poder familiar. Quando um ou ambos os genitores deixam de cumprir com os deveres decorrentes do poder familiar, mantendo comportamento que possa vir em prejuízo do filho, o Estado deve intervir. É prioritário preservar a integridade física e psíquica de crianças e adolescentes, nem que pra isso tenha o Poder Público de afastá-los do convívio com seus pais” (DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 392). II – Diz o STJ que com “… fundamento na paternidade responsável, ‘o poder familiar é instituído no interesse dos filhos e da família, não em proveito dos genitores’ e com base nessa premissa deve ser analisada sua permanência ou destituição.Citando Laurent, ‘o poder do pai e da mãe não é outra coisa senão proteção e direção’ (Principes de Droit Civil Français, 4/350), segundo as balizas do direito de cuidado a envolver a criança e o adolescente.” (STJ, REsp 1106637/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, 3.ª T, j. 01/06/2010, DJe 01/07/2010). Recurso de apelação não provido. (TJPR, AC 1024732-0, 11.ª C. Cív., Rel. Des. Gamaliel Seme Scaff, j. 29/01/2014). 53. Ação de destituição do poder familiar. Abandono material e afetivo caracterizados. Crianças recolhidas a instituição de abrigo porque moradoras de rua. Fortes indícios de que a mãe sofre de alcoolismo, não trabalha e não possui moradia. Prevalência do interesse dos menores. Destituição do pátrio poder devida. 1. Rejeita-se a preliminar de necessidade de conversão do julgamento em diligência para elaboração de novo parecer técnico, visto que tal diligência somente se justificaria se a produção de novas provas ou a complementação da prova existente fosse essencial para o deslinde da causa, nos termos do disposto no artigo 130 do Código de Processo Civil. 2. Nos termos dos artigos 1.638 do Código Civil e 24 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o pai ou a mãe que deixar o filho em abandono ou praticar atos contrários à moral e aos bons costumes perderá, por ato judicial, o poder familiar. 3. Devidamente comprovado o abandono material e afetivo dos filhos por parte dos genitores, que não prestaram a assistência necessária aos infantes, recolhidos porque se encontravam morando na rua, debaixo de uma árvore, e porque há fortes indícios de que a mãe sofre por dependência ao álcool, não demonstra possuir fonte de renda e moradia e o pai encontra-se em local incerto, tem-se por cabível a decretação da destituição do poder familiar, em respeito ao direito das crianças à convivência familiar e comunitária e ao seu pleno desenvolvimento bio-psico-espiritual. 4. Apelação conhecida e não provida. (TJDF, AC 20120130030292, 5.ª C. Cív., Rel. Des. João Egmont, j. 06/11/2013). 54. Lei 13.010, de 26/06/2014. 55. Denise Damo Comel, Do poder familiar, 296. 56. Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de direito civil, 242. 57. Orlando Gomes, Direito de família, 293. 58. Fábio Vieira Figueiredo e Georgios Alexandridis, Alienação parental, 31. 59. Denise Damo Comel, Do poder familiar, 296. 60. O nome é uma alusão ao infortúnio ocorrido com Bernardo Boldrini que, aos 11 anos, órfão de mãe, rejeitado pela madrasta e negligenciado pelo pai, foi pessoalmente buscar ajuda no Fórum da Comarca de Três Passos-RS, mas em 4 de abril de 2014, acabou sendo morto pela madrasta. 61. Acrescentou os arts. 18-A, 18-B e 70-A e deu nova redação ao art. 13 à Lei 8.069/1990. 62. Acrescentou o § 8.º ao art. 26 da Lei 9.394/1996. 63. Foi vetada nova redação ao art. 275 do ECA. 64. Lei 13.046, de 1º/12/2014. 65. Súmula 22 do TJRS: Nas ações de destituição/suspensão do pátrio poder [hoje, poder familiar], promovidas pelo Ministério Público, não é necessária a nomeação de curador especial ao menor. 66. Ação de destituição do poder familiar. Antecipação da tutela. Presença dos pressupostos legais. Deferimento. Conforme prescreve o artigo 273 do CPC, a antecipação da tutela está condicionada a comprovação da verossimilhança das alegações e do dano irreparável ou de difícil reparação. Demonstrado, nos autos, que a agravante, genitora das crianças, ficou meses sem procurá-las na instituição em que se encontram abrigadas, patente a verossimilhança das alegações deduzidas pelo Ministério Público, bem assim, o risco do dano grave, eis que, como bem destacou a decisão agravada, com fulcro no parecer técnico, não mantinha a mãe, relação afetiva com as filhas, caracterizando-se “in casu” verdadeiro abandono material. (TJDF, AI 210402320108070000, 2.ª T. Cív., Rel. Des. Carmelita Brasil, j. 25/05/2011). 67. Ação de destituição do poder familiar. Abandono familiar. Menina que se encontra na companhia dos requerentes desde os dois anos de idade. Não merece reparo a decisão que destituiu o poder familiar, já que o apelante não exerceu as atividades inerentes à paternidade, enquanto que os apelados possuem a guarda fática da criança desde 2007, com liame afetivo evidente. Apelação cível desprovida. (TJRS, AC 70061178067, 7.ª C. Cív., Rel. Des. Jorge Luís Dall’Agnol, j. 24/09/2014). 68. CNJ Provimento 36/14. 69. A Lei 12.594/12 inseriu algumas adaptações. 70. Apesar da referência ao agravo de instrumento, este é oposto diretamente perante o órgão recursal, não havendo falar em “remessa”. 71. Instrução Normativa CNJ 03, de 03/11/2009. 72. Lei 12.010/09.
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