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Resenha Livro Cartas para um jovem terapeuta

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Resenha
Cartas para um jovem terapeuta – Contardo Calligaris
Estágio Supervisionado Básico I 
À primeira vista é natural se indagar quais são as características essenciais, para um futuro psicoterapeuta, dentro da profissão. O que deve te mover? O que deve te limitar ou impulsionar? Quais devem ser suas atitudes em determinadas situações? E seus pré-conceitos, devem ser limitantes ou todos, em absoluto, flexíveis?
São tantas questões acerca do que devemos ser – tanto na profissão quanto como indivíduos – que não se espanta ver-se representado pela(o) colega à quem o autor destina suas cartas. Somos todos nós, de fato. São questionamentos que assolam as mentes por trás desta área de atuação, independente da idade ao qual se ingressa. É interessante obter uma resposta que nos põe a refletir de uma nova perspectiva. E, claro, nada mais reconfortante do que se reconhecer como dono de boa parte do que se espera de fato ter.
Ao longo do estudo para formação, você acaba se deparando com obstáculos onde é necessário reaprender, como uma criança, para que se sinta devidamente confiante e apto a atuar de um modo coeso e não-invasivo. O primeiro tópico que Calligaris cita como primordial é a escuta, o dom imparcial de se permitir ouvir sem emitir julgamentos. Sem criar, a priori, conceitos ou pré-conceitos acerca do assunto dito ou de quem o diz. É um tanto quanto difícil abster-se de um hábito natural ao homem, mas é possível quando se existe um elemento predisposto a te colocar sempre no limiar entre o juiz e o counselor. Muito embora no texto seja sumariamente descartada a prática ou visão de que um terapeuta vive de conselhos.
A obra levanta reflexões bem pertinentes, além de dar um direcionamento quanto às características mais básicas para um exercício pleno da profissão. Essas reflexões servem de construção – a partir de suas devidas respostas – para o indivíduo. O autor atravessa por assuntos como os preconceitos, os limites que cada ser possui. E levanta também a discussão sobre o psicoterapeuta em si, como persona. O que ele deve ser? Quem ele pode ser para exercer sua função sem que os limites do paciente sejam ultrapassados? A vida pessoal – escolhas sexuais, casamento, vida social, hobbies, taras, desejos, entre tantas outras coisas – devem pesar nesse processo? A meu ver o psicoterapeuta em seu setting é um instrumento da psicologia, salvo suas características que acredito serem importantes para o desenvolvimento do exercício, não há qualquer importância o que é ou deixe de ser. Neste quesito o autor, inclusive, reitera a importância de se manter paciente mesmo sendo terapeuta.
São abordados temas como amores terapêuticos e a fina linha que divide a idealização terapêutica para o interesse amoroso. Existe uma construção, de mão dupla, onde há, de fato, a necessidade de idealizar aquele que poderá cura-lo, tal qual aquele que poderá se curar. Mas no meio de tanta troca, de tanta proximidade e a sensação de intimidade, existe a confusão quanto aos amores de terapia. A idealização é importante até para a construção de um bom rapport, mas transbordar este limite invisível é buscar possíveis frustrações. Tanto quanto profissional quanto amoroso. 
A cura, como dito a pouco, também é um ponto de interrogação. “Curar ou não curar?” Calligaris pergunta em um de seus capítulos. É uma decisão e um modo de ver bem mais filosófico do que pragmático. Afinal, como o autor diz, para se buscar a felicidade é preciso não ser feliz. Assim o é a cura, a seu ver. Essa pressa em buscar uma solução para as queixas principais do paciente permite que muito do que é dito ao longo de boa parte da terapia se perca. Partindo do princípio de que a maior parte do que se queixa não é necessariamente o problema fundamentado, pode-se deduzir que assumir uma conduta imediatista não sanará o paciente de seus reais problemas.
A escrita bem solta e facilmente compreensível de Calligaris nos permite cada vez mais a identificação, que o próprio teme que exista em demasia entre terapeuta e paciente. É indispensável que haja, de forma mútua e ponderadamente limitada, certo tipo de identificação. Assim como é plausível compreender e se ver representado por tantas histórias e dúvidas expostas no livro, também o é dentro de um setting terapêutico. Ao fim da leitura foi possível fazer alguns levantamentos – inclusive com boa dose terapêutica – sobre o que de fato reúne o mundo da psicologia clínica. Seguir desarmado de fato é essencial, mesmo que ao longo do trajeto se faça necessário ministrar longas aulas de autodefesa.
Raquel Pessanha de Oliveira Garcia
Sulacap

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