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Desconsideracao da pessoa juridica na execucao trabalhista SIQUEIRA

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Publicação Mensal de Legislação, Doutrina e Jurisprudência 
Diretor Responsável 
ARMANDO CASIMIRO COSTA(1937-2014) 
ARMANDO CASIMIRO COSTA FILHO 
Diretor Financeiro 
MANOEL CASIMIRO COSTA 
Fundador 
VASCO DE ANDRADE 
Conselho Editorial 
IVES GANDRA MARTINS FILHO (Presidente) 
MARIA CRISTINA IRIGOYEN PEDUZZI 
NELSON MANNRICH 
SÔNIA MASCARO NASCIMENTO 
MELCHÍADES RODRIGUES MARTINS 
Conselheiros Eméritos 
Benfepor AMAURI MASCARO NASCIMENTO (1989-2014) 
JOSE CASIMIRO COSTA IRANYFERRARI (1990-2012) 
I ANO 80 • Nº 02 • FEVEREIRO DE 2016 • SP • BRASIL • ISSN 1516-91541 
-NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL- ALTERAÇÕES PELA LEI N. 13.256, DE 4.2.2016 E OS 
CONFLITOS COM OS PRECEDENTES JUDICIAIS DA JUSTIÇA DO TRABALHO (SÚMULAS 
E ORIENTAÇÕES JURISPRUDENCIAIS) 
-DEDUÇÃO DO SEGURO NAS INDENIZAÇÕES POR ACIDENTE DO TRABALHO 
-Sebastião Geraldo de Oliveira 
-O REGIME DE PRECEDENTES NO NOVO CPC E REFLEXOS NO PROCESSO DO TRABALHO 
-Jorge Pinheiro Castelo 
-A CONSTITUIÇÃO,.AS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL E O PROCESSO 
DO TRABALHO 
-João Humberto Cesário 
-A ATA NOTARIAL, O PROCESSO DO TRABALHO E O NCPC 
- Conrado Di Mambro Oliveira 
-A VALIDADE E EFICÁCIA DA QUITAÇÃO VOLUNTÁRIA AMPLA DADA POR ADESÃO 
A PLANO DE DESLIGAMENTO VOLUNTÁRIO ESTABELECIDO EM NORMA REGU-
LAMENTAR DA EMPRESA SOB O CRIVO DA JURISPRUDÊNCIA CONSTITUCIONAL E 
TRABALHISTA. 
-Eugênio José Cesário Rosa 
-O DANO MORTE- A EXISTÊNCIA JURÍDICA DO PRETIUM MORTIS 
-Amaury Rodrigues Pinto Junior 
-DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA NA EXECUÇÃO TRABALHISTA: ENFOQUE 
NA POSSIBILIDADE DA DESCONSIDERAÇÃO DE MODO INVERSO 
- Danielle Karolinne Weiler de Siqueira 
-DEMOCRACIA SINDICAL 
-Rafael Foresti Pego 
REPOSITÓRIO DE JURISPRUDÊNCIA -------
A Revista LTr, com tiragem superior a 3.000 exemplares e circulação em todo o Território 
N acionai, é Repositório autorizado de jurisprudência para indicação de julgados, registrado 
no Supremo Tribunal Federal sob n. 09/85, e no Tribunal Superior do Trabalho sob n. 02/94. 
Os acórdãos publicados neste número correspondem, na íntegra, às cópias obtidas nas 
Secretarias dos respectivos Tribunais. 
Vol. 80, n9 02, Fevereiro de 2016 
Introdução 
O presente trabalho tem por objetivo estudar a 
teoria da desconsideração da personalidade jurídica 
com um enfoque na possibilidade da aplicação desta 
de modo inverso na execução trabalhista. 
Primeiramente faz-se importante urna análise de 
corno se dá aplicação da teoria da desconsideração da 
pessoa jurídica de modo clássico. 
Assim, de modo geral, a teoria da desconsideração 
da personalidade jurídica clássica tem por finalidade 
coibir fraudes realizadas mediante a abusiva utiliza-
ção da autonomia patrimonial conferida à sociedade 
personificada. Tem corno fundamento o art. 28 da Lei 
n. 8.078/90 e o art. 50 do CC. 
Porém, além da desconsideração da personalida-
de jurídica de forma clássica, tem-se verificado na 
jurisprudência a admissão da desconsideração in-
versa da personalidade jurídica na área trabalhista, 
principalmente na execução, através da qual afasta-
-se o princípio da autonomia da pessoa jurídica, pos-
sibilitando que os bens da sociedade respondam por 
o obrigações dos sócios enquanto pessoa física, sendo 
aplicada quando for apurado o uso abusivo, simula-
do ou fraudulento da pessoa jurídica. 
Diante da total impossibilidade de se executar os 
bens particulares dos sócios, tem sido autorizada a 
constrição judicial sobre o patrimônio das sociedades 
comerciais das quais os executados são acionistas ou 
cotistas, para responderem pelo valor exequendo. 
A desconsideração inversa da pessoa jurídica fun-
damenta-se nos termos do art. 50, do Código Civil, o 
qual elenca os requisitos para a sua utilização, quais 
sejam: abuso de personalidade jurídica, desvio de fi-
nalidade ou a confusão patrimonial. 
(*) Danielle Karolinne Weiler de Siqueira é Advogada, Pós-
-graduada em Direito Individual, Coletivo e Processual do Trabalho, 
pela Escola Superior da Magistratura Trabalhista - ESMATRA/MT 
- TRT 23 e pós-graduanda em Direito Processual Civil com ênfase no 
Novo CPC pela Fundação Escola Superior do Ministério Público/MT. 
Revista LTr. 80-02/191 
DESCONSIDERAÇÃO 
DA PESSOA !URÍDICA 
NAEXECUÇAO 
TRABALHISTA: ENFOQUE 
NA POSSIBILIDADE DA 
DESCONSIDERAÇÃO DE 
MODO INVERSO 
Danielle Karolinne Weiler de Siqueira (*) 
Portanto, de acordo com a desconsideração inver-
sa da personalidade jurídica é permitido que o patri-
mônio da pessoa jurídica responda pelas obrigações 
do sócio devedor, possibilitando que o credor do só-
cio atinja o patrimônio da sociedade integrada pelo 
devedor, buscando ter seu crédito satisfeito. 
Em ambos os tipos de desconsideração da perso-
nalidade jurídica é a eficácia jurídica da autonomia 
patrimonial que é suprimida pelo descumprimento 
das obrigações. 
Desta maneira, faz-se importante a pesquisa a res-
peito da teoria da desconsideração da personalidade 
jurídica, de modo clássico ou inverso, pois tem por 
objeto o resgate do princípio da responsabilidade pa-
trimonial, pela ruptura dos aspectos formais da per-
sonificação jurídica. 
1 - Considerações a respeito da responsabilidade 
patrimonial 
Antes de explanarmos a respeito da desconsidera-
ção da pessoa jurídica, é importante trazermos à baila 
um terna a esta relacionada e de fundamental neces-
sidade para o entendimento. Tal é a responsabilidade 
patrimonial. 
Assim, cumpre destacar que a responsabilidade 
patrimonial é advinda de urna obrigação contraída, e, 
por ser desta maneira, também não há corno falarmos 
em responsabilidade patrimonial sem observarmos, 
mesmo que rapidamente, o conceito de obrigação. 
Podemos citar duas definições, primeiramen-
te a conforme o doutrinador Washington de Barros 
Monteiro: 
Obrigação é a relação jurídica, de caráter tran-
sitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo 
objeto consiste numa prestação pessoal econômica, 
positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segun-
do, garantindo-lhe o adimplemento através do seu 
patrimônio _<I> 
(1) MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: di-
reito das obrigações. 1ª parte. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 8. 
Revista LTr. 80-021192 
Já de acordo com Carlos Roberto Gonçalves: 
Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao 
credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor 
(sujeito passivo) o cumprimento de determinada 
prestação. Corresponde a urna relação de natureza 
pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório (ex-
tingue-se pelo cumprimento), cujo objeto consiste-se 
numa prestação economicamente aferível. (Z) 
Com base nestas definições trazidas, podemos ti-
rar urna conclusão: após o vínculo obrigacional ter se 
estabelecido, caso não haja o cumprimento da obri-
gação firmada, nasce um direito de exigir do credor o 
adimplemento, desta maneira e em decorrência disto, 
o devedor sujeita os seus bens à execução. 
O acesso do credor ao patrimônio do devedor é 
corroborado pelo art. 591 do CPC/73, e pelo Novo 
Código de Processo Civil, de acordo com o artigo 789 
do CPC/15, a execução não tem um caráter pessoal, 
ou seja, ao contrário, esta atinge os bens do devedor, 
só existindo em nossa Constituição Federal duas ex-
ceções: no caso de prestação alimentar e do depositá-
rio infiel, sendo que quanto a esta última não há mais 
aplicação devido ao Pacto de São José da Costa Rica. 
Ou seja, somente a dívida de prestação alimentar, 
atualmente no Brasil, pode gerar execução pessoal, 
qual seja a prisão civil do devedor. 
Assim, a responsabilidade patrimonial é a possibi-
lidade que os bens/patrimônio de um devedor pos-
sam responder por urna obrigação não cumprida por 
este e que se encontra em execução. 
Cumpre destacar que, além da responsabilidade 
patrimonial anteriormente definida, há ainda a res-
ponsabilidadepatrimonial secundária, a qual pode 
ser conceituada corno a responsabilidade que o Códi-
go de Processo Civil atribui a certas pessoas que mui-
to embora não constem no título executivo, podem ter 
os seus bens sujeitos ao cumprimento da execução. 
Esta responsabilidade patrimonial secundária se 
justifica em razão de terem mantido relações jurídi-
cas de caráter patrimonial com o devedor, assim a lei 
atribui tal responsabilidade com o fim de garantir o 
pagamento do débito. 
Corno a Consolidação das Leis do Trabalho não 
regula este assunto, restou aplicável à execução tra-
balhista o previsto no art. 592 do CPC/1973: 
Art. 592.CPC. Ficam sujeitos à execução os bens: 
I - do sucessor a título singular, tratando-se 
de execução fundada em direito real ou obrigação 
reipersecutória; 
II - do sócio, nos termos da lei; 
III- do devedor, quando em poder de terceiros; 
IV - do cônjuge, nos casos em que os seus bens 
próprios, reservados ou de sua meação respondem 
pela dívida; 
(2) GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. vol. H. 5. 
ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 21. 
Vol. 80, n!! 02, Fevereiro de 2016 
V - alienados ou gravados com ônus real em 
fraude de execução.(3l 
Sendo que o citado artigo do CPC/73, no Novo 
Código de Processo Civil é correspondente ao art. 
790 CPC/15, o qual acrescentou duas possibilida-
des: 1) bens cuja alienação ou agravação com ônus 
tenha sido anulada em razão do reconhecimento, em 
ação autônoma, de fraude contra credores; e 2) do 
responsável, nos casos de desconsideração da perso-
nalidade jurídica, as quais também serão aplicáveis à 
Justiça do Trabalho. 
Art. 790. São sujeitos à execução os bens: 
I - do sucessor a título singular, tratando-se 
de execução fundada em direito real ou obrigação 
rei persecutória; 
II - do sócio, nos terrnao da lei; 
III-do devedor, ainda que em poder de terceiros; 
IV - do cônjuge ou companheiro, nos casos em 
que seus bens próprios ou de sua meação respondem 
pela dívida; 
V - alienados ou agravados com ônus real em 
freude à execução; 
VI - cuja alienação ou gravação com ônus real 
tenha sido anulada em razão do reconhecimento, em 
ação autônoma, de fraude contra credores; 
VII - do responsável, nos casos de desconsidera-
ção da personalidade jurídica.(4l 
No processo do trabalho, a responsabilidade patri-
monial secundária ocorre, de forma evidente, na su-
cessão trabalhista, quando na sucessão de empresas 
e empregadores, os sucessores, embora não tenham 
contraído a dívida, respondem pelas dívidas traba-
lhistas dos sucedidos. 
Assim, de acordo com Alexandre Oliveira Soares: 
Segundo esse instituto, que é informado pelos 
princípios da continuidade do contrato de trabalho, 
da despersonalização do empregador e da inaltera-
bilidade contratual lesiva, eventuais alterações na es-
trutura jurídica da empresa, na propriedade ou na 
estrutura jurídica não afetarão os direitos adquiridos 
por seus empregados e os seus respectivos contratos 
de trabalho.(5l 
A responsabilidade patrimonial do sócio pelos dé-
bitos contraídos pela pessoa jurídica é outra hipótese 
de responsabilidade patrimonial secundária. Dela se 
cuidará com mais vagar, por estar diretamente rela-
cionada ao objeto desta pesquisa. 
(3) BRASIL, República Federativa do. Código de Processo Civil -
CPC. Disponível em: <http:/ /www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ 
15869compilada.htm>, acessado no dia 16 de jan de 2015. 
(4) BRASIL, República Federativa do. Novo Código de Processo Ci-
vil- Lei n" 13.105/2015. Disponível em: <http:/ /www.planalto.gov. 
br I ccivil_03/ _Ato2015-2018/2015/Lei/Ll3105.htm>, acessado no 
dia 05 de jun. de 2015. 
(5) SOARES, Alexandre Oliveira. Desconsideração Inversa da 
Personalidade Jurídica e Efetividade da Tutela Executiva. Dissertação 
(Mestrado). Pontifica Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/ 
MG). Belo Horizonte, 2014. 
Vol. 80, n2 02, Fevereiro de 2016 
Porém, na execução trabalhista podem ser consi-
derados como responsáveis secundários somente nos 
casos de: 
-sucessão de empresas/empregadores; 
-do sócio que se retirou da sociedade em até dois 
anos da data de ingresso da ação. Sendo que o sócio 
que se retirou da sociedade há mais de dois anos não 
responde como regra, exceto se não averbou a sua 
saída na junta comercial. 
- da responsabilidade do sócio (no caso de des-
consideração da personalidade jurídica). 
Portanto, vemos a seguir tais casos. 
1.1- Responsabilidade secundária no caso de sucessão de 
empresas/empregadores 
Primeiramente, vamos tratar a respeito da res-
ponsabilidade secundária no caso de sucessão de 
empresas/ empregadores. 
Com base no arts. 10 e no 448 da Consolidação 
das Leis Trabalhistas, e de acordo com o princípio 
da continuidade do contrato de trabalho, da desper-
sonalização do empregador e da inalterabilidade do 
contrato de trabalho, a responsabilidade pelo referi-
do contrato é da empresa e não por quem esteja ad-
ministrando esta. 
Não sendo o contrato de trabalho, em geral, intui-
to personae em relação ao empregador, nada impede, 
juridicamente, a substituição de uma pessoa por ou-
tra, nessa qualidade, como sujeita da mesma relação 
de empregado. Ora, o estabelecimento tem um con-
ceito unitário. O novo empregador responde pelos 
contratos de trabalho concluídos pelo antigo, porque 
lhe adquiriu o estabelecimento como organização 
produtiva, como um bem que resulta do conjunto de 
vínculos existentes entre os fatores de produção, um 
desses, o trabalho.<6> 
Se, excepçionalmente, existir o intuito personae, no 
contrato de trabalho, em relação a ambos os contra-
tantes, já não poderá haver sucessão. Partindo, por 
outro lado, da premissa de. que a lei visa proteger o 
empregado, dando por findo o contrato, se o novo 
titular do estabelecimento não lhe oferecer garantias 
de solvabilidade. Do contrário, poderiam os empre-
gados tomar-se vítimas de sucessões simuladas ou 
fraudulentas.<?) 
Lembrando que como traz a professora Alice 
Monteiro, há uma corrente jurisprudencial susten-
tando a impossibilidade de sucessão quanto aos con-
tratos findos: 
Há, todavia, corrente jurisprudencial sustentando 
a impossibilidade de sucessão no tocante aos contra-
tos findos, ao argumento de que ela visa à continui-
(6) MAGALHÃES, Délio. Direito do Trabalho. 15 ed. Rio de Janei-
ro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1988. p. 77-80. 
(7) SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, Se-
gadas; TEIXERA, Lima. Instruções de Direito do Trabalho. 20 ed. São 
Paulo: LTr, 2002, v. 1, p. 303. 
Revista LTr. 80-02/193 
dade dos contratos, logo, se eles não mais vigiam à 
época da sucessão, exclui-se a responsabilidade do 
sucessor do polo passivo da ação. (p. 313).<8> 
De acordo com o doutrinador Mauricio Godinho 
Delgado existem, conforme a doutrina clássica, dois 
requisitos da sucessão e, para a doutrina moderna 
não há a necessidade do empregado ter prestado ser-
viços para a empresa sucessora, somente basta que 
tenha ocorrido a transferência total ou parcial de uma 
unidade de produção: 
São hipóteses típicas de sucessão para fins traba-
lhistas: a transferência de titularidade da empresa, 
fusão, incorporação e cisão de empresas, contratos de 
concessão e arrendamento e também as privatizações 
de antigas estatais. 
Para a doutrina clássica, são requisitos da suces-
são para fins trabalhistas: a) transferência de uma 
unidade empresarial econômica de produção de um 
titular para outro; b) inexistência de solução de con-
tinuidade do contrato de trabalho, vale dizer: o em-
pregado da empresa sucedida deve trabalhar para a 
empresa sucessora. 
Para a moderna doutrina, a qual me filio, com 
apoio da atual jurisprudência dos Tribunais, não há 
necessidade de que o empregado ou o reclamante 
em processo trabalhista ter prestado serviços paraa 
empresa sucessora, basta apenas que tenha havido a 
transferência total ou parcial de uma unidade de pro-
dução de uma empresa para outra para que ocorra a 
sucessão para fins trabalhistas. 
Pensamos estar correta a moderna doutrina ao 
exigir apenas o requisito da transferência da unidade 
econômica de produção de um titular para outro para 
que se configure a sucessão, pois os arts. 10 e 448 da 
CLT não exigem que o empregado tenha trabalhado 
para a empresa sucedida. Além disto, a interpreta-
ção está em consonância com o princípio protetor e 
propicia maior garantia de solvabilidade do crédito 
trabalhista.<9> 
Conforme Délio Magalhães<10>, são dois os requi-
sitos para que se opere a sucessão de empresas/ em-
pregadores: a) que uma unidade econômico-jurídica 
passe de um para outro titular; e b) que não haja solu-
ção de continuidade da prestação de serviços. 
Já a doutrinadora Alice Monteiro de Barros dispõe 
que são três os requisitos para que a sucessão ocorra: 
a) mudança na estrutura jurídica ou na proprie-
dade da empresa, como ocorre na compra e venda, 
sucessão hereditária ou arrendamento, incorporação, 
fusão, cisão, etc.( ... ); b) continuidade do ramo do ne-
gócio; c) continuidade dos contratos de trabalho com 
unidade econômica de produção e não com a pessoa 
natural que a explora. Este último requisito não é 
imprescindível para que haja sucessão, pois poderá 
(8) BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 8. ed. 
São Paulo: LTr, 2012. p. 315. 
(9) DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 
12. ed. São Paulo, LTr, 2013. p. 415-433. 
(10) MAGALHÃES, Délio. Op. cit., p. 77-80. 
Revista LTr. 80-02/194 
ocorrer que o empregador dispense os seus emprega-
dos antes da transferência da empresa ou do estabele-
cimento, sem lhes pagar os direitos sociais.<11l 
Sobre este tema, Arnaldo Süssekind sustenta que 
"a sucessão trabalhista opera-se ope legis, qualquer que 
seja o negócio jurídico realizado entre os empresários que se 
substituem no empreendimento objeto da transação. Para 
os empregados que continuam trabalhando na mesma uni-
dade de produção, esse negócio é res inter alias acta".<12l 
A regra da responsabilidade secundária do suces-
sor é que este responde de forma integral pela dívida, 
exceto no caso de fraude, pois que neste a empresa 
sucedida responderá solidariamente, eis o que trata o 
art. 9º da CLT e o art. 942 do Código Civil. 
Art. 9º- CLT. Serão nulos de pleno direito os atos 
praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou 
fraudar a aplica~ão dos preceitos contidos na presen-
te Consolidação.<13l 
Art. 942. CC Os bens do responsável pela ofensa 
ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à re-
paração do dano causado; e, se a ofensa tiver mais 
de um autor, todos responderão solidariamente pela 
reparação. 
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis 
com os autores os coautores e as pessoas designadas 
no art. 932.<14l 
Para Mauro Schiavi há dois tipos de responsabili-
dade secundária neste caso, a responsabilidade soli-
dária da sucessora em caso de fraude, e subsidiária, 
mesmo não existindo fraude: 
Pensamos que subiste a responsabilidade solidá-
ria da sucessora em caso de fraude e também subsi-
diária, mesmo não havendo fraude, nas hipóteses em 
que a empresa sucessora não apresenta patrimônio 
suficiente para solver o crédito trabalhista, ou para 
maior efetividade do recebimento deste.<15l 
Portanto, com base nesta responsabilidade, pode 
ser atingido o patrimônio da empresa sucedida com 
o fim de buscar o cumprimento da execução. 
1.2 - Responsabilidade secundária do sócio que se retirou 
da sociedade 
Quanto ao sócio que se retirou a menos de dois 
anos da sociedade (até dois anos de averbada a mo-
dificação do contrato), este responderá solidariamente 
(11) BARROS, Alice Monteiro de. Op. cit., p. 308-313. 
(12) SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 3 ed. Rio 
de Janeiro: Renovar, 2010. p.225. 
(13) BRASIL, República Federativa do. Consolidação das Leis 
Trabalhistas- CLT. Disponível em: <http:/ /www.planalto.gov.br/ 
ccivil_03 I decreto-lei/Del5452compilado.htm>, acessado no dia 16 
jande2015. 
(14) BRASIL, República Federativa do. Código Civil - CC. Dis-
ponível em: <http:/ /www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/ 
L10406compilada.htm>, acessado no dia 15 de jan de 2015. 
(15) SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 5. 
ed. São Paulo: LTr, 2012. 
Vol. 80, n!! 02, Fevereiro de 2016 
com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pe-
las obrigações que tinha como sócio. 
Já quanto a responsabilidade secundária do sócio 
que se retirou da sociedade há mais de dois anos, de 
acordo com o art. 1.003 do Código Civil, como regra, 
este não responde pelas dívidas contraídas pela so-
ciedade, posteriormente a estes dois anos. Eis o que 
traz o referido artigo: 
Art. 1.003. CC. A cessão total ou parcial de quota, 
sem a correspondente modificação do contrato social 
com o consentimento dos demais sócios, não terá efi-
cácia quanto a estes e à sociedade. 
Parágrafo único. Até dois anos depois de aver-
bada a modificação do contrato, responde o cedente 
solidariamente com o cessionário, perante a socie-
dade e terceiros, pelas obrigações que tinha como 
sócio.<16l 
O entendimento do doutrinador Mauro Schiavi é 
que o referido artigo do Código Civil é aplicável ao 
processo do trabalho, porém lembra que excepcio-
nalmente, nos casos de fraude e de notória insolvên-
cia da empresa ao tempo da retirada, pode sim ser 
o sócio retirante responsabilizado posteriormente ao 
prazo de dois anos de sua retirada: 
No nosso sentir, o art. 1.003 do CC se aplica ao 
Processo do Trabalho, por conter um critério objetivo 
e razoável de delimitação da responsabilidade do só-
cio retirante. Não obstante, em casos de fraude ou de 
notória insolvência da empresa ao tempo da retirada, 
a responsabilidade do sócio retirante deve persistir 
por prazo superior a dois anos.<17) 
1.3- Responsabilidade secundária do sócio (desconside-
ração da personalidade jurídica) 
Sabemos que a responsabilidade da pessoa ju-
rídica não se confunde com a do sócio, porém a lei 
estabelece ao sócio uma chamada responsabilida-
de patrimonial/ secundária, conforme os arts. 591 e 
592, inciso II do CPC/73, correspondentes aos arts. 
789 e 790, incisos 11 (bens do sócio, nos termos da lei) 
e o novo inciso VII (bens do responsável, nos casos 
de desconsideração da personalidade jurídica) do 
CPC/15. 
Art. 591. O devedor responde, para o cumprimen-
to de suas obrigações, com todos os seus bens presen-
tes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei. 
Art. 592. Ficam sujeitos à execução os bens:( ... ) 11 
- do sócio, nos termos da lei;<18l 
Assim, de acordo com esta responsabilidade pa-
trimonial, os bens particulares dos sócios podem ser 
atingidos na execução, caso a sociedade de que o sóçio 
(16) BRASIL, República Federativa do. Código Civil- CC. Op. cit. 
(17) SCHIAVI, Mauro. Op. cit. 
(18) BRASIL, República Federativa do. Código de Processo Civil-
CPC. Disponível em: <http:/ /www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ 
15869compilada.htm>. Acesso em: 16 jan. 2015. 
Vol. 80, n!! 02, Fevereiro de 2016 
faz parte não possua bens suficientes a satisfação da 
execução. 
Em virtude desta responsabilidade do sócio, de-
corre a desconsideração da personalidade jurídi-
ca, a qual vem regulamentada pelo art. 28 da Lei n. 
8.078/1990 e pelo art. 50 do Código Civil. 
Art. 28. Lei n. 8.078/90. CDC. O juiz poderá des-
considerar a personalidade jurídica da sociedade 
quando, em detrimento do consumidor, houver abu-
so de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou 
ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. 
A desconsideração também será efetivada quando 
houver falência,estado de insolvência, encerramento 
ou matividade da pessoa jurídica provocados por má 
administração. 
Art. 50. CC. Em caso de abuso da personalidade 
jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou 
pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a re-
querimento da parte, ou do Ministério Público quan-
do lhe couber intervir no processo, que os efeitos de 
certas e determinadas relações de obrigações sejam 
estendidos aos bens particulares dos administradores 
ou sócios da pessoa jurídica.(19> 
Há aplicação da desconsideração da personalida-
de jurídica em processos trabalhistas: 
Atuahnente, a moderna doutrina e jurisprudência 
trabalhista encamparam a chamada teoria objetiva da 
desconsideração da personalidade jurídica que disci-
plina a possibilidade de execução dos bens do sócio, 
independentemente de os atos destes terem violado 
óu não o contrato, ou de haver abuso de poder. Basta 
a pessoa jurídica possuir bens para ter início a execu-
ção aos bens do sócio. 
No processo do trabalho, o presente entendimento 
se justifica em razão da hipossuficiência do trabalha-
dor, da dificuldade que apresenta o reclamante em 
demonstrar a má-fé do administrador e do· caráter 
alimentar do crédito trabalhista.(20> 
No processo do trabalho, na fase executória, a des-
consideração da personalidade jurídica pode ocorrer 
de ofício, por meio de decisão interlocutória, art. 878 
da CLT, porém é necessário lembrar que o sócio tem 
o direito de invocar o benefício de ordem e reque-
rer que sejam executados primeiramente os bens da 
sociedade. 
A desconsideração da personalidade jurídica no 
proce~so do trabalho, na fase executória, pode ser de-
terminada de ofício pelo Juiz do Trabalho (art. 878 da 
CLT), independentemente de requerimento da parte, 
em sede de decisão interlocutória, devidamente fun-
damentada (art.93, IX da CF). Não obstante, o sócio, 
uma vez tendo seus bens contristados para a garantia 
da execução tem o direito de invocar o chamado be-
nefício de ordem e requerer que primeiro sejam exe-
cutados os bens da sociedade, mas para que tal seja 
possível é necessário que indique onde estão os bens, 
(19) BRASIL, República Federativa do. Código Civil- CC. Op. cit. 
(20) SCHIAVI, Mauro. Op. cit. 
Revista LTr. 80-02/195 
livres e desembaraçados para penhora, que sejam de 
fácil liquidez, e obedeçam a ordem de preferência 
mencionada no art. 655 do CPCJ21> 
A seguir vamos nos aprofundar mais um pouco 
a respeito da desconsideração da personalidade jurí-
dica, primeiramente com um enfoque na que ocorre 
de forma clássica e, posteriormente, na que se dá de 
forma inversa, tratando também em ambas dos seus 
conceitos, fundamentação, aplicação, entre outros 
aspectos. 
2 - A desconsideração da personalidade jurídica 
direta/clássica 
Como meio de garantir uma maior efetividade à 
decisão judicial proferida pelos órgãos trabalhistas, 
a Justiça do Trabalho vem admitindo a aplicação 
nesta de institutos de outros ramos do direito, tal 
como ocorre com a desconsideração da personali-
dade jurídica na execução trabalhista. A finalidade 
desta aplicação é permitir que haja efetividade dos 
direitos trabalhistas e também assegurar o fim útil do 
processo. 
A desconsideração clássica da pessoa jurídica 
consiste na possibilidade de execução dos bens par-
ticulares do sócio ante a insuficiência do patrimônio 
societário, prova de violação da lei, fraude, falência, 
estado de insolvência ou encerramento ou inatividade 
da empresa decorrentes de má administração da pes-
soa jurídica. 
Tal como exposto no tópico anterior, a teoria da 
desconsideração da personalidade jurídica clássica 
tem por finalidade coibir fraudes realizadas median-
te a abusiva utilização da autonomia patrimonial 
conferida à sociedade personificada. Tem como fun-
damento, já anteriormente mencionado; o art. 28 da 
Lei n. 8.078/90 e o art. 50 do CC. 
Para o Código de Defesà do Consumidor é autori-
zada a desconsideração da personalidade jurídica da 
sociedade em três hipóteses: 1) quando os sócios rea-
lizarem condutas ilegais e ilícitas, tais como o abuso 
de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou 
ato ilícito; ou mesmo violação de .estatutos ou con-
tratos sociais, que sejam prejudiciais ao consumidor; 
2) em caso de falência, estado de insolvência, encer-
ramento ou inatividade da pessoa jurídica em razão 
de má administração e; 3) ·quando a personalidade 
jurídica for obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos 
causados ao consumidor. 
Fábio Ulhoa Coelho (1999) sustenta que o Código 
de Defesa do Consumidor consagrou em seu citado 
art. 28 a Teoria Menor da Desconsideração da Perso-
nalidade Jurídica. Para ele, essa teoria é menos con-
sistente do que a Teoria Maior da Desconsideração da 
Personalidade Jurídica, prevista no art. 50 do Código 
Civil, sobre a qual se tecerá alguns comentários. 
Para a Teoria Menor, a desconsideração da perso-
nalidade jurídica poderá ser levada a efeito quando 
se verificar a insatisfação do crédito do consumidor e 
(21) Idem. 
Revista LTr. 80-02/196 
se constatar a ausência de bens empresariais que pos-
sam solver a dívida, mas que existam bens dos sócios 
capazes de satisfazer a obrigação social. 
O Código Civil disciplina a desconsideração da 
personalidade jurídica. Segundo Fábio Ulhoa Coelho 
(1999}, esse Código consagrou a Teoria Maior da Des-
consideração da Personalidade Jurídica, considerada 
por ele mais abstrata, mais elaborada e mais consis-
tente, se comparada com a Teoria Menor adotada 
pelo Estatuto Consumerista. 
Para a Teoria Maior, não é suficiente a simples in-
satisfação do . crédito para autorizar a relativização 
momentaneamente da regra da autonomia patrimo-
nial. Necessário se faz demonstrar que houve a ma-
nipulação fraudulenta e abusiva da personalidade 
jurídica para que o magistrado decida pela afetação 
dos bens particulares dos administradores ou sócios 
da pessoa jurídica.<22> 
A Justiça do Trabalho vem aplicando a teoria me-
nor, ou objetiva, da desconsideração da personalidade 
jurídica, a qual os sócios poderão ter responsabilida-
de patrimonial secundária quando a pessoa jurídica 
não tiver mais patrimônio a ser executado, seguindo 
o disposto no código de defesa do consumidor. 
Há a possibilidade de aplicação na esfera traba-
lhista ante a hipossuficiência do trabalhador, na sua 
dificuldade em provar a má-fé do administrador e 
o caráter alimentar das verbas devidas, assim como 
sempre que a personalidade da pessoa jurídica for 
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados. 
É importante assinalar que o instituto da descon-
sideração da pessoa jurídica encontra-se previsto no 
art. 28, § 5º da Lei n. 8.078/90 (CDC), que, segundo 
pensamos, pode ser aplicado, por analogia, ao pro-
cesso do trabalho, "sempre que sua personalidade 
for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de 
prejuízos causados aos consumidores" (e nós acres-
centamos, aos trabalhadores). 
Em se tratando de falência ou alienação de parte 
da empresa, em recuperação judicial, nada obsta o 
prosseguimento da execução contra os sócios, desde 
que o juiz adote a teoria da desconsideração da per-
sonalidade jurídica da empresa executada.( ... ) 
Há, porém, entendimento jurisprudencial admi-
tindo que somente depois de esgotadas todas as pos-
sibilidades de responsabilização da empresa falida é 
que se toma possível o redirecionamento da execu-
ção trabalhista contra os sócios da empresa falida.<23> 
Não é necessário pedido da parte ou interessado 
para que haja a aplicação da desconsideração da per-
sonalidade jurídica. 
É nesse cenário que surge o estudo da denomi-
nada teoria da desconsideração da personalidade 
jurídica do executado, também chamada de disregard 
doctrine, teoria da penetração, disregard of legal entify 
ou teoria do disregard. 
(22) SOARES,Alexandre Oliveira. Op. cit. 
Vol. 80, n2 02, Fevereiro de 2016 
No entanto, o Tribunal Superior do Trabalho tem 
aplicado a teoria da penetração de forma ampla, em 
todos os casos nos quais se verifica a insuficiência de 
patrimônio da empresa para honrar as dívidas traba-
lhistas contraídas, independentemente da comprova-
ção da existência de fraude, simulação ou desvio de 
finalidade. 
Entendemos que a Lei n. 8.078/1990 (Código de 
Defesa do Consumidor}, na parte processual, é apli-
cável ao processo do trabalho, principalmente pelo 
fato de o art. 21 da Lei n. 7.347/1985 (Lei da Ação 
Civil Pública) determinar a aplicação às ações coleti-
vas e individuais da parte processual do Código de 
Defesa do Consumidor, naquilo que for compatível. 
Ademais, a regra insculpida no art. 28 da Lei n. 
8.078/1990 está em consonância com os princípios da 
celeridade, proteção ao trabalhador hipossuficiente, 
da efetividade da execução trabalhista e do privilégio 
do crédito laboral, merecendo plena aplicação ao pro-
cesso do trabalho.<24> 
Cumpre destacar que os acionistas não possuem 
responsabilidade patrimonial nem de caráter primá-
rio, quanto menos de secundário, pois que não rea-
lizaram atos de gestão ou atual na administração da 
sociedade. 
Nesse contexto, tome-se a lealdade- em sinôni-
mo de boa-fé - como pressuposto de qualquer rela-
ção jurídica. Associado a preceitos éticos, decorrentes 
de princípios inafastáveis no mundo jurídico, como o 
de não se admitir efeitos decorrentes de atos ilícitos, 
esse pressuposto moral embasa e robustece as teses 
doutrinárias de desconsideração da personalidade 
jurídica (disregard oflegal entity). Essa matéria adquire 
relevo especial na relação de trabalho, haja vista que 
o Poder Judiciário não pode, pela inexistência de re-
gras positivas específicas sobre a hipótese particular, 
pactuar com a fraude e com o abuso de direito perpe-
trados mediante manipulação da pessoa jurídica pe-
las pessoas naturais em manobras de planejamento 
societário e tributário. 
Há, entre nós; normas positivadoras déi desconsi-
deração da personalidade jurídica. As pioneiras ma-
nifestações, constam do Código Comercial (arts. 305, 
306,350 e 359), seguidas do Código Civil (art. 1.375 e 
1.407); da Lei da Sociedade por Quotas de Responsa-
bilidade Ltda. (Decreto n. 3.708/1919, arts. 11 e 16); 
da Lei de falências (Decreto-lei n. 7.661/45, art. 6º). 
Mais recentemente, há previsão no Código de Proces-
so Civil (art. 593, li); no Código Tributário Nacional 
(Lei n. 5.172/66, arts. 134, IV e 135}, e, de modo inci-
sivo, no Código de Defesa do Consumidor( ... ) (Lei n. 
8.078/1990; art. 28). 
A lacuna da legislação do trabalho a respeito do 
tema autoriza o intérprete a socorrer-se do Código do 
Consumidor, por analogia, com base no art. 8º da CLT. 
Cabe ressaltar que, se a responsabilidade do sócio for 
cogitada somente na fase de execução, o procedimen-
to encontra fundamento na conjugação dos arts. 889 
(23) LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual (24) SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 8. 
do Trabalho. 11 ed. São Paulo: LTr, 2013. p. 1.132-1.136. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2011. p. 537-539. 
1 
I 
I 
Vol. 80, n9 02, Fevereiro de 2016 
da CLT e 42, V, da Lei n. 6.830/80. Mas, nesse caso, 
é imprescindível a ciência da determinação judicial 
para que passe a integrar a relação processua1.'25> 
Parte da doutrina trabalhista considera indispen-
sável a prévia intimação dos sócios para conheci-
mento da desconsideração da personalidade jurídica, 
para que assim fosse oportunizado a estes o contra-
ditório e a ampla defesa, sendo que a ausência desta 
intimação ocasionaria a nulidade do processo. 
Porém, prevalece atualmente o entendimento da 
desnecessidade de prévia intimação dos sócios nes-
tes casos, pois que a responsabilidade patrimonial 
secundária decorre de lei. 
Parece-nos, contudo, que nas ações oriundas de 
relação de trabalho diversa da relação de emprego, 
o Juiz do Trabalho deverá ter redobrada cautela ao 
adotar a teoria da desconsideração da pessoa jurídi-
ca, pois em tais ações o crédito objeto da obrigação 
contida no título executivo judicial, por não ter na-
tureza trabalhista, no sentido estrito do termo, isto 
é, por não ser crédito empregatício, não autoriza a 
ilação de que os sócios seriam ilimitadamente res-
ponsáveis. Nestes casos, parece-nos que a fonte sub-
sidiária será o Código Civil e não o Código de Defesa 
do Consumidor.<26> 
Sabe-se que, de lege lata, os sócios só respondem 
na proporção de sua respectiva cota-parte na empre-
sa. Caso esta não tenha sido integralizada, poderá 
responder com seu patrimônio particular até a parte 
faltante. Já os sócios-gerentes poderão responder soli-
dária e ilimitadamente se praticarem atos com exces-
so de mandato ou desrespeitarem normas legais ou o 
contrato social (CC. arts. 1.052 et seq.).<27l 
O que vem se notado na jurisprudência trabalhista 
é a aplicação não só da desconsideração da persona-
lidade jurídica de forma clássica, mas também a de 
forma inversa. 
Assim, diante da atual importância do tema, ex-
plana-rmo-lo a seguir. 
3 -'- Desconsideração inversa da personalidade 
jurídica 
De acordo com a desconsideração inversa, é per-
mitido que o patrimônio da pessoa jurídica respon-
da pelas obrigações do sócio devedor, possibilitando 
que o credor do sócio atinja o patrimônio da socieda-
de integrada pelo devedor, buscando ter seu crédito 
satisfeito. 
A eficácia jurídica da autonomia patrimonial que 
é suprimida pelo descumprimento das obrigações, 
visando o resgate do princípio da responsabilidade 
patrimonial, pela ruptura dos aspectos formais da 
personificação jurídica. 
(25) SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, Se-
gadas; TEIXERA, Lima. Op. cit., p. 1.446. 
(26) LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Op. cit., p. 1.033. 
(27) LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Op. cit., p. 1.132-1.136 
Revista LTr. 80-02/197 
É caracterizada pelo afastamento da autonomia 
patrimonial da sociedade, para, desta maneira, atin-
gir o ente coletivo e o seu patrimônio, causando a 
responsabilidade da pessoa jurídica por obrigações 
advindas do sócio controlador. 
O que vem ocorrendo atualmente é que, alguns 
sócios integram seus bens particulares ao patrimônio 
de empresas, com o objetivo de lesar terceiros; assim 
o patrimônio particular é deficitário porque o sócio 
integralizou seus bens no patrimônio empresarial, 
com o fim de protegê-los de alguma execução promo-
vida por credores. Esta situação pode ser considerada 
uma fraude ou mesmo um abuso de poder. 
Ou em outros casos, estes com divergência juris-
prudencial, há o esgotamento patrimonial do deve-
dor trabalhista, a dívida não consegue ser saldada, 
porém o devedor integra a sociedade de uma pessoa 
jurídica, da qual obtém lucros, tem uma quota-parte, 
sem que tenha ocorrido fraude ou má-fé, seria tam-
bém aplicável a desconsideração inversa nestes casos 
para parcela da jurisprudência trabalhista, conforme 
colocaremos a seguir. 
A diferença da desconsideração inversa em rela-
ção à desconsideração da personalidade jurídica clás-
sica, é que a primeira se dá de maneira contrária a 
segunda, pois que em vez de os bens do sócio serem 
atingidos pela obrigação da empresa, o patrimônio 
da empresa é que suporta as obrigações contraídas 
pelo sócio desta. 
É uma medida excepcional, assim verificados os 
requisitos basilares de sua incidência o juiz poderá 
desconsiderar a pessoa jurídica, atingindo os bens da 
empresa para quitar dívidas pessoais dos sócios desta. 
Podemos encontrar respaldo doutrinário na obra 
literária do professor Mauro Schiavi: 
A moderna doutrina, diante dos princípios da 
boa-fé objetiva e da função social da atividade em-
presarial, tem defendido a aplicaçãoda teoria inversa 
da desconsideração da personalidade jurídica. Vale 
dizer: responsabilizar o patrimônio da pessoa jurídi-
ca por atos praticados por seus dirigentes de forma 
abusiva ou ilícita, por interpretação evolutiva e teleo-
lógica dos já citados arts. 50 do CC e 28 do CDC. 
A presente teoria se aplica ao processo do tra-
balho (art. 769 e 889 da CLT), pois tem por objeti-
vo fixar maior garantia de solvabilidade do crédito 
trabalhista.<28> 
A desconsideração inversa da personalidade jurí-
dica é oriunda da doutrina e jurisprudência, não ten-
do regramento legislativo específico, sendo porém 
utilizado para a sua fundamentação o mesmo respal-
do legislativo da desconsideração da personalidade 
jurídica clássica. 
Há incontáveis decisões judiciais que reconhecem 
a aplicação da desconsideração inversa da persona-
lidade jurídica no âmbito do direito civil. Pela im-
portância paradigmática, serão tecidos comentários 
(28) SCHIAVI, Mauro. Op. cit., p. 911-927. 
Revista LTr. so-o2/198 
acerca da decisão proferida pela ministra Nancy An-
drighi, do Superior Tribunal de Justiça, relatora do 
recurso especial n. 948.117-MS: 
De início, impende ressaltar que a desconsidera-
ção inversa da personalidade jurídica caracteriza-se 
pelo afastamento da autonomia patrimonial da socie-
dade, para, contrariamente do que ocorre na descon-
sideração da personalidade jurídicà propriamente 
dita, atingir o ente coletivo e seu patrimônio social, 
de modo a responsabilizar a pessoa jurídica por obri-
gações do sócio. 
Conquanto a consequência de sua aplicação seja 
inversa, sua razão de ser é a mesma da desconside-
ração da personalidade jurídica propriamente dita: 
combater a utilização indevida do ente societário por 
seus sócios. Em sua forma inversa, mostra-se como 
um instrumento hábil para combater a prática de 
transferência de bens para a pessoa jurídica sobre o 
qual o devedor detém controle, evitando COJ11 isso a 
excussão de seu patrimônio pessoal. 
Assim procedendo, verifica-se que a finalidade 
maior da disregard doctrine, contida no referido pre-
ceito legal, é combater a utilização indevida do ente 
!!Ocietário por seus sócios. A utilização indevida da 
personalidade jurídica da empresa pode, outrossim, 
compreender tanto a hipótese de o sócio esvaziar o 
patrin;lônio da pessoa jurídica para fraudar tercei-
ros, quanto no caso de ele esvaziar o seu patrimônio 
pessoal, enquanto pessoa natural, e o integralizar na 
pessoa jurídica, ou seja, transferir seus bens ao ente 
societário, de modo a ocultá-los de terceiros. 
Feitas essas considerações, tem-se que a inter-
pretação teleológica do art. 50 do CC/02 legitima a 
inferência de ser possível a desconsideração inversa 
da personalidade jurídica, de modo a atingir bens da 
sociedade em razão de dívidas contraídas pelo sócio 
controlador, conquanto preenchidos os requisitos 
previstos na norma. 
Ademais, ainda que não se considere o teor do 
art. 50 do CC/02 sob a ótica de uma interpretação 
tt~leológica, entendo que a aplicação da teoria da des-
consideração da personalidade jurídica em sua mo-
dalidade inversa encontra justificativa nos princpios 
éticos e jurídicos intrínsecos a própria disregard doc-
trine, que vedam o abuso de direito e a fraude contra 
credores. Outro não era o fundamento usado pelos 
nossos Tribunais para justificar a desconsideração da 
personalidade jurídica propriamente dita, quando, 
antes do advento do CC/02, não podiam se valer da 
regra contida no art. 50 do diploma atual [ ... ].<29) 
Este entendimento passou a ser seguido por di-
versos julgados em nosso país, como uma medida 
excepcional quando cumpridos os requisitos legais 
de fraude ou abuso de direito estabelecidos no art. 
50 do CC. 
(29) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. STJ- Recurso Especial 
n. 948.117-MS. Relatora Ministra Nancy Andrighi. Data de Julga-
mento: 22.6.2010, T3- Terceira Turma. 
Vol. 80, n2 02, Fevereiro de 2016 
Existem duas principais críticas à desconsideração 
inversa da personalidade jurídica: primeiramente 
que ela não poderia ser realizada no bojo do proces-
so de execução ou falimentar, mas sim por ação pró-
pria; a outra é que ela ofende ao princípio do devido 
processo legal, o contraditório e a ampla defesa, pois 
que o executado não pode defender seus direitos de 
modo pleno. 
A ministra, no julgado citado anteriormente, afir-
ma que está sedimentada no Superior Tribunal de 
Justiça o fato de que a desconsideração da perso-
nalidade jurídica independe de uma ação própria, 
podendo também ocorrer em sede de processo de 
execução ou falimentar. 
O novo Código de Processo Civil, em seu art. 133, 
já preceitua que a desconsideração da pessoa jurídica 
é cabível em todas as fases do processo de conheci-
mento, no cumprimento de sentença, assim como na 
execução fundada em título extrajudicial. 
Quanto à segunda crítica, a desconsideração da 
personalidade jurídica, seja ela no modo tradicional 
ou inverso, deve obedecer ao devido processo legal, 
ao contraditório, assim como à ampla defesa, pois do 
contrário seria uma afronta ao direito fundamental 
de propriedade (art. 5º, inciso XXII, da CF). O enten-
dimento jurisprudencial majoritário é da desnecessi-
dade da citação dos sócios. 
Não há quanto a desconsideração da personali-
dade jurídica, em sua forma direta ou inversa, uma 
norma celetista específica que disciplina essa matéria. 
Assim como não há regra quanto ao assunto na Lei 
de Execução Fiscal ou mesmo no Código de Processo 
Civil. 
A autorização de aplicação subsidiária das regras 
de direito comum na seara trabalhista advém do art. 
8º da Consolidação das Leis Trabalhistas. 
A desconsideração inversa da personalidade ju-
rídica na execução trabalhista ocorre com funda-
mento no Código Civil e no Código de Defesa do 
Consumidor. 
A conduta do sócio que integraliza seu patrimônio 
particular no patrimônio social ou que transfere os 
bens de uma empresa para outra, pertencente ou não 
ao grupo econômico, com o intuito de lesar o credor 
trabalhista, é prática que caracteriza desvio de fina-
lidade da personalidade jurídica, ofensiva à boa-fé. 
objetiva e à função social da empresa .. 
Os atos materializados com essa inspiração pade-
cem de nulidade absoluta, porquanto violam todo 
um arcabouço constitucional definidor da função 
social da empresa, tais como a dignidade da pessoa 
humana do trabalhador, a solidariedade, a valoriza-
ção do trabalho, o fim da ordem econômica, a justiça 
social, a busca do pleno emprego, a redução das desi-
gualdades sociais e o valor social do trabalho. 
Por outro lado, as condutas de que se cuidam re-
presentam grande desrespeito e desprezo aos princí-
pios da eticidade, da sociabilidade, da operabilidade 
e da concretude, os quais trouxeram uma pauta de 
socialização e de solidarizàção do direito para todos 
Vol. 80, n2 02, Fevereiro de 2016 
os institutos do direito civil, incluindo, por óbvio, a 
personalidade jurídica. 
( ... ) 
Ao utilizar a personalidade jurídica para fins diver-
sos e alheios à função social da empresa, a aplicação 
da teoria da desconsideração inversa da personalida-
de jurídica é medida jurídica necessária a coibir o ato 
ilícito lesivo ao trabalhador. A incidência desse insti-
tuto encontra amparo no citado art. 9º do Texto Con-
solidado, no art. 50 do Código Civil e no art. 28, § 5º 
do Código de Defesa de Consumidor, porquanto tais 
dispositivos visam coibir a fraude, a simulação, o des-
vio de finalidade e a confusão patrimonial, tendentes 
a fraudar os interesses do credor trabalhista. 
Oportuno destacar que a desconsideração inversa 
da personalidade jurídica, a pretexto da efetividade 
e da celeridade processuais, não pode, por óbvio, 
desrespeitar o devido processo legal, o contraditório 
e a ampla defesa. Há que se assegurar aos executa-dos o exercício desses direitos e garantias processuais 
fundamentais. 
Por outro lado, a pret~xto de se respeitar o devido 
processo legal e o amplo exercício do contraditório e 
da ampla defesa dos executados, não se pode negar 
efetividade à execução trabalhista, sobretudo quando 
se tem em mente que os sócios praticaram ato ilíci-
to ao utilizarem a personalidade jurídica para além 
dos limites impostos pelo seu fim econômico, social e 
pela boa-fé objetivaP0> 
Não é possível a exigência do obreiro que prove 
cabalmente a condição financeira da pessoa jurídica, 
a prática de atos ilícitos de fraude, simulação, desvio 
de finalidade, confusão patrimonial ou prova de que 
a própria personalidade jurídica é o obstáculo da sa-
tisfação dos seus créditos exequendos. 
Dessa forma, o fundamento republicano da dig-
nidade da pessoa humana (art. 1 º, inciso III, da 
Constituição da República), o objetivo republicano 
da solidariedade (art. 3º, inciso I, da Constituição da 
República}, a valorização do trabalho humano como 
fundamento da ordem econômica (art. 170, caput, da 
Constituição da República), a justiça social como fim 
da ordem econômica (art. 170, caput, da Constituição 
da República), a redução das desigualdades sociais 
(art.170,inciso VII, da Constituição da República) e o 
valor social do trabalho (art. 1 º, inciso IV, da Consti-
tuição da República) podem ser invocados para fun-
damentar e justificar a desconsideração inversa da 
personalidade jurídica. 
( ... ) 
A reprimenda dessa conduta por meio da descon-
sideração inversa da personalidade jurídica tem dois 
efeitos. O primeiro, individual, aumenta a possibili-
dade de recebimento pelo trabalhador de seus crédi-
tos trabalhistas, impedindo a consumação integral de 
todos os males sociais do desrespeito à função social 
da empresa. O segundo, social, consiste no efeito pe-
dagógico dessa medida, porquanto a excussão do 
(30) SOARES, Alexandre Oliveira. Op. cit., p. 86-87. 
Revista LTr. 80-02/199 
patrimônio social para adimplir dívida do sócio de-
sestimula, de certa forma, o desvio de finalidade da 
personalidade jurídica." (91) 
O ministro do Tribunal Superior do Trabalho, José 
Roberto Freire Pimenta, estabelece, em decisão de 
sua lavra, importante relação entre a desconsidera-
ção da personalidade jurídica e a tutela dos direitos 
sociais fundamentais: 
( ... ) 
Constatada a existência de fraude à execução, con-
forme análise no tópico precedente é viável a descon-
sideração inversa da pessoa jurídica, nos termos do 
art. 28, § 5º, da Lei n. 8.078/90, de modo a mitigar a 
autonomia patrimonial da pessoa jurídica para asse-
gurar direitos e garantias fundamentais, insculpidos 
na Constituição Federal, em consonância com o prin-
cípio da dignidade da pessoa humana e os valores 
sociais do trabalho, nos termos do art. 1º, III e IV, e 
170 da CF. Logo, não há falar que referido instituto é 
inaplicável ao processo do trabalho por ausência de 
previsão legal. 
( ... ) 
A desconsideração inversa da personalidade jurí-
dica, assim como a tradicional, permite a tutela efe-
tiva dos direitos trabalhistas, porquanto assegura ao 
trabalhador o direito de efetivamente receber as par-
celas que lhe são devidas e que lhe foram sonegadas 
pelo empregador. Ao lançar mão dessa ferramenta,·a 
Justiça do Trabalho assegura o direito fundamental 
do trabalhador a uma tutela executiva efetiva.'31> 
Este instituto vem sendo amplamente aplicado em 
questões de cunho civil, em especial nos casos rela-
cionados ao direito de família. 
Na seara trabalhista existem duas hipóteses de ca-
bimento da desconsideração inversa: em caso de 
fraude/abuso de poder e em caso de esgotamento 
patrimonial. 
Se no decorrer do processo restar provada a frau-
de ou o abuso de poder realizado pelo reclamado por 
meio da pessoa jurídica, tal como a transferência de 
bens particulares à pessoa jurídica e a má-fé, não há 
controvérsia na jurisprudência, é plenamente cabível 
e aplicável a desconsideração inversa da personali-
dade jurídica: 
Desconsideração inversa da . personalidade jurídica. 
Aplica-se ao processo do trabalho a teoria da descon-
sideração inversa da personalidade jurídica, segundo 
a qual é possível o excepcional afastamento do prin-
cípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica 
para responsabilizar a sociedade empresarial por 
dívida de sócio, a fim de impedir que o desvio frau-
dulento de bens pessoais do sócio para a sociedade 
empresária frustre a execuçãoP2> 
(31) SOARES, Alexandre Oliveira. Op. cit., p. 90-95. 
(32) TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3° REGIÃO. 
TRT-3 - AP: 03195201203003007 0003195 - 74.2012.5.03.0030. Re-
lator: Sercio da Silva Pecanha, Oitava Turma, Data de Publicação: 
9.5.2014, 8.5.2014. DEJT /TRT3/Cad.Jud, p. 184. 
Revista LTr. 80-02/200 
Agravo de instrumento em recurso de revista - Agra-
vo de instrumento. Execução. Constrição de bens. Servi-
ços prestados no período em que o executado era sócio da 
terceira embargante. Reconhecimento de grupo econômico. 
Desconsideração inversa da personalidade jurídica. Des-
provimento. Diante da ausência de violação do dispo-
sitivo constitucional indicado, nos termos do art. 896, 
§ 2º, da CLT, deve ser mantido o r. despacho. Agravo 
de instrumento desprovidoP3> 
Processo de execução. Desconsideração inversa da 
personalidade jurídica. A admissibilidade do Recur-
so de Revista em processo de execução depende de 
demonstração inequívoca de ofensa direta e literal à 
Constituição, nos termos do art. 896, § 2º, da CLT e da 
Súmula n. 266 do TST. Agravo de Instrumento a que 
se nega provimento.<34> 
Contudo, no caso do reclamado se encontrar com 
esgotamento patrimonial, não podendo portanto pa-
gar o seu débito trabalhista, e sendo este sócio em 
uma pessoa jurídica, a qual não foi utilizada para 
ocultar o patrimônio deste, muito menos com o intui-
to de furtar-se da dívida, há divergência jurispruden-
cial quando a possibilidade ou não da utilização da 
desconsideração inversa com o fim de saldar o débito. 
Existem decisões, tais como as colacionadas abai-
xo, que aplicam a desconsideração inversa da per-
sonalidade jurídica considerando que não há uma 
necessidade de prova da fraude ou mesmo do abu-
so do poder, bastando apenas para a sua aplicação o 
descumprimento de uma obrigação ou a insolvência, 
o que configura por existir sentença trabalhista tran-
sitada em julgado que não pode ser cumprida por 
ausência de patrimônio do credor. 
No seguinte caso a pessoa física executada não 
possuía bens para o adimplemento da dívida traba-
lhista, mas era sócia proprietária de uma empresa, 
não restou configurado nos autos fraude ou mesmo 
má-fé, mas mesmo assim foi autorizada a aplicação 
da desconsideração inversa: 
Eexecução. Desconsideração inversa da personalidade 
jurídica. Inexistência de bens do devedor principal ou de 
seus sócios. Existência de empresa de propriedade do sócio. 
Mesmo ramo de atividade. Grupo econômico. A pessoa 
jurídica não pode servir de anteparo para o inadim-
plemento de crédito exequendo, sendo a desconside-
ração da personalidade jurídica salutar solução para 
assegurar a satisfação final do crédito. Caso a pessoa 
física não apresente bens, mas seja proprietária de 
outra empresa, esta é passível de constrição de seus 
bens. O fato de serem ambas controladas pela mesma 
pessoa configura grupo econômico, que autoriza a 
penhora pela ocorrência da solidariedade. Agravo de 
Petição provido.<35> 
(33) TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. TST-
·AIRR-62-43.2011.5.15.0121, 6ª Turma, Relator Ministro Aloysio 
Corrêa da Veiga, Julgamento em 7.8.2012. 
(34) TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. TST-
·AIRR-752-53.2012.5.04.0021, 8ª Turma, Relator Ministro Márcio 
Eurico Vitral Amaro, julgado em 12.02.2014. 
(35) TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO. 
Processon. 0002021- 43.2011.5.02.0046, Relator: Davi Furtado Meirel· 
les, julgado em 20.5.2012. 
Vol. 80, n2 02, Fevereiro de 2016 
Neste outro caso, o qual foi submetido a julga-
mento pelo TRT da 15ª Região, o trânsito em julgado 
da sentença trabalhista havia se dado em 10 anos sem 
qualquer solução, ou seja, sem a quitação do débito, 
assim considerando a razoável duração do processo 
e o claro abuso de direito ocorrido, restou decidido 
pela aplicação da desconsideração inversa da perso-
nalidade jurídica, visto que o devedor, muito embora 
não possuísse bens passíveis de execução, era sócio 
administrador de uma pessoa jurídica, a qual foi con-
siderada pelos magistrados altamente rentável: 
Execução de crédito trabalhista. Efetividade da decisão 
judicial. Garantia da razoável duração do processo. Proces-
so com sentença transitada em julgado há quase 10 anos 
sem solução. Abuso de direito. Desconsideração inversa 
da personalidade jurídica. Constatado que o executado 
(pessoa física) não cumpre o comando judicial, se fur-
tando a pagar verbas de natureza salarial há quase 10 
anos, e que é sócio-administrador de um negócio com-
provadamente rentável, cabível a desconsideração 
inversa da personalidade jurídica, para direcionar a 
execução contra a empresa que administra, incluindo-
-a no polo passivo da demanda, a fim de conceder efe-
tividade à execução. Inteligência dos arts. 5º, LXXVIII 
da Constituição Federal e 50 do Código Civil.<36> 
Existem várias outras decisões aplicando a des-
consideração inversa pelo mero esgotamento patri-
monial, tais como: 
( ... ) Aplica-se no Processo do Trabalho a teoria 
menor porque o primado do Direito do Trabalho é 
a proteção do hipossuficiente trabalhador cujo cré-
dito advindo do título executivo judicial trabalhista 
possui natureza alimentícia. Portanto, não há neces-
sidade de prova da fraude ou abuso de poder, bastan-
do apenas o descumprimento de uma obrigação ou 
insolvência, que, no caso, se configura por existirem 
sentenças trabalhistas transitadas em julgado que 
simplesmente não podiam ser cumpridas por ausên-
cia de qualquer tipo de patrimônio hábil em nome 
dos executados a responder pela dívidaP7) 
Agravo de petição. Da desconsideração inversa da 
personalidade jurídica. A desconsideração inversa da per-
sonalidade jurídica consiste no afastamento da au-
tonomia patrimonial da sociedade, para, ao revés 
do que ocorre na desconsideração da personalidade 
propriamente dita, atacar o patrimônio da pessoa ju-
rídica por obrigações do sócio. Uma vez que o escopo 
da disregard doctrine é combater a utilização indevida 
(36) TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15º REGIÃO. 
Processo n. 0526500-78.2005.5.15.0147. Agravo de Petição. 2ª Turma, 
4ª Câmara. Disponível em: 29.11.2013. 
(37) TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO. 
Acórdão- Processo 0122200-42.1997.5.04.0013, Data: 5.8.2014, Ori-
gem: 13ª Vara do Trabalho de Porto Alegre, órgão Julgador: Seção 
especializada em Execução, Relatora: Lúcia Ehrenbrink. Ementa: 
Impenhorabilidade. Art. 649, V, do CPC. Pessoa jurídica. A impenho-
rabilidade prevista no art. 649, V, do CPC somente alcança os bens 
daqueles que vivem do trabalho pessoal próprio, ou seja, a pessoa 
física que exerce profissão de forma autônoma, não se aplicando 
aos bens utilizados na atividade empresarial de propriedade de 
pessoa jurídica. Aplicação da Orientação Jurisprudencial n. 25 des-
ta Seção Especializada. Negado provimento ao agravo de petição 
da executada. 
Vol. 80, n2 02, Fevereiro de 2016 
do ente societário por seus sócios, o que pode ocorrer 
também nos casos em que o sócio controlador esva-
zia o seu patrimônio pessoal e o integraliza na pessoa 
jurídica, conclui-se, de uma interpretação teleológica 
do art. 50 do CC, art. 4º da Lei n. 9.605/1998 e do 
art. 28 do CDC, ser possível a desconsideração inver-
sa da personalidade jurídica, alcançando-se bens da 
sociedade em razão de dívidas contraídas pelo só-
cio controlador. Ademais, o Enunciado n. 283 da IV 
Jornada de Direito Civil considera ser cabível a des-
consideração da personalidade jurídica denominada 
"inversa" para alcançar bens de sócio que se valeu da 
pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, 
com prejuízo a terceiros. Quanto ao preenchimento 
dos requisitos do art. 50 do CC, tem-se por afastados, 
pois, pela teoria menor da desconsideração da pessoa 
jurídica, que deve ser adotada no direito trabalhista, 
o mero inadimplemento autoriza o ataque ao patrimônio 
do sócio ou, no caso, do ente social. Agravo de petição 
interposto pela empresa Engesa Engenharia e Sanea-
mento Ambiental Ltda. a que se nega provimento.<38l 
(grifas acrescidos) 
Execução. Desconsideração inversa da personalidade 
jurídica. Possibilidade. Tratando-se de execução que 
vem se processando de longa data, sem que se tenha 
obtido êxito na localização dos sócios ou de bens li-
vres para satisfação do crédito do autor, nada obsta 
o envio de ofício à Jucerja, para que seja informada 
a composição societária da empresa denunciada a 
fim de se possibilitar o prosseguimento da execução 
com a aplicação da desconsideração da personalida-
de jurídica inversa.<39l 
Agravo de petição do exequente. Desconsideração in-
versa da personalidade jurídica. Hipótese em que apli-
cável ao caso a teoria da desconsideração inversa da 
personalidade jurídica, porquanto o sócio executado, 
tendo se desfeito de todos os seus bens passíveis de 
constrição, assumiu cotas de outra empresa, da qual 
detém 50% do capital e é sócio administrador, deven-
do esta responder pelos créditos devidos ao empre-
gado, pelo seu caráter alimentar especialíssimo.<40l 
Já outros julgadores consideram que somente em 
caso de fraude ou abuso de poder, mediante a pessoa 
jurídica, pode ser realizada a desconsideração inver-
sa desta, o que deixa clara a divergência atual. 
Outro ponto interessante a respeito do tema é o 
fato de que o novo Código de Processo Civil brasi-
leiro traz uma previsão de um incidente de desconsi-
deração da pessoa jurídica, deste modo trataremos a 
(38) TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO. 
Processo n. 0055400-95.2002.5.04.0291 AP, Seção Especializada em 
Execução, disponível em 27.9.2013, Relator: Desembargador João 
Alfredo Borges Antunes de Miranda. 
(39) TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO. 
AP: 01585007020005010016 RJ, Relator: Tanía da Silva Garcia, Data 
de Julgamento: 27/05/2014, Quarta Turma, Data de Publicação: 
9.6.2014. 
(40) TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO. 
ACÓRDÃO 0078000-54.2008.5.04.0371 AP, Data 25.11.2014, Origem: 
1 º Vara do Trabalho de Sapiranga, Órgão Julgador: Seção especiali-
zada em Execução, Relator: Luiz Alberto de Vargas. 
Revista LTr. 80-02/201 
respeito se tal incidente é aplicável ou não ao proces-
so do trabalho. 
4 - Do incidente de desconsideração da pessoa 
jurídica previsto no novo Código de Processo Civil 
e o processo do trabalho 
OnovoCódigodeProcessoCivil(Lein.13.105/2015) 
nos arts.133 e seguintes (arts. 77 a 79 do projeto), prevê 
a possibilidade de um incidente de desconsideração da 
pessoa jurídica no decorrer do processo. 
Cabe analisar se tal incidente é compatível com a 
Justiça do Trabalho, pois que esta rege-se pelos prin-
cípios da concentração dos atos e da celeridade. 
Conforme colocado pela Desembargadora Suzy 
Elisabeth Cavalcante Koury, o incidente não é com-
patível com o processo do trabalho: 
O Projeto trata, ainda, do procedimento para a 
aplicação da teoria da desconsideração da personali-
dade jurídica nos arts. 77 a 79, em relação ao qual há 
uma lacuna normativa no processo do trabalho, mas 
apenas parcial, na medida em que o § 2º do art. 2º da 
CLT já prevê a hipótese de responsabilização solidá-
ria da empresa principal e de cada uma das demais 
integrantes do grupo econômico, o que dispensa,por 
si só, a necessidade de instauração do incidente nes-
tas hipóteses. 
A criação do incidente de desconsideração da per-
sonalidade jurídica também contradiz o objetivo da 
celeridade, pois que há previsão de prazo comum de 
15 dias, para a defesa e requerimento de provas, após 
o que será instruído o incidente e proferida a decisão 
interlocutória. 
Mais uma vez, ressalta-se que a aplicação do in-
cidente não se adequa ao processo do trabalho, na 
medida em que contraria os princípios da concen-
tração dos atos e da celeridade, além de possibilitar 
a interposição de mandado de segurança em relação 
à decisão interlocutória proferida, vez que descabe 
agravo de instrumento para esse fim no processo la-
boral, posição esta que, registro, não será pacífica na 
doutrina e jurisprudência e em muito prejudicará a 
execução da!' decisões, com a efetiva entrega da tute-
la jurisdicional.<41l 
Ademais, a aplicação deste na Justiça do Trabalho, 
principalmente em sede de execução, ocasionaria um 
atraso ao processo e prejudicaria a prestação jurisdi-
cional adequada: 
No processo do trabalho é usual declarar-se a 
desconsideração da pessoa jurídica, ex officio, na fase 
de execução, quando, pelos elementos dos autos, o 
juiz do trabalho infere que os administradores ou os 
sócios esvaziaram de tal modo o patrimônio da so-
ciedade que a tomou insolvente, de sorte que o exe-
quente nada encontrará, ou quando encontrar, só se 
(41) KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. As Repercussões do Novo 
Código de Processo Civil no Direito do Trabalho: Avanço ou Retrocesso?. 
Revista do Tribunal Superior do Trabalho. São Paulo: LexMagister, v. 
78, n. 3, jul./set. 2012. p. 276. 
Revista LTI. 80-02/202 
depara com bens inidôneos a responder pelo crédito 
trabalhista. Não raro, a precária situação econômica 
da sociedade comercial, industrial ou de serviços, os 
administradores ou sócios ostentam patrimônio pes-
soal e particular incompatível com os rençlirnentos a 
título de pro labore ou de. retiradas dos frutos da so-
ciedade. Em comarcas do interior, em que a conduta 
das pessoas é mais exposta perante a comunidade, 
este quadro é extremamente desrnoralizante para a 
Justiça, porque não se consegue entregar ao credor o 
bem da vida, fim último da prestação jurisdicional, 
a pretexto que não encontra patrimônio do devedor 
(sociedade). No entanto, os seus sócios não têm o me-
nor constrangimento de ostentar padrão de vida que 
absolutamente nada condiz com a situação econômi-
ca da empresa. 
Assim, é extremamente útil, na busca da real efeti-
vidade da execução, a declaração da desconsideração 
da pessoa jurídica de forma célere e expedita, com 
vistas alcançar os bens particulares dos administra-
dores ou dos sócios, para responder pelas dívidas 
trabalhistas da sociedade. O administrador ou sócio 
passa a ser, então, o devedor e integra o polo passivo 
da execução trabalhista. Ato contínuo, determina-se 
sua a citação, para que a execução contra ele prossiga. 
Apesar de ser um procedimento singelo e célere, 
não oferece insegurança jurídica, porque está sob a 
salvaguarda do contraditório e ampla defesa, por to-
dos os meios processuais que a Lei Processual oferece 
ao devedor, para resistir à execução. Nesta oportu-
nidade poderá alegar e provar todas as questões de 
fato e de direito, em defesa dos seus interesses, espe-
cialmente o eventual descabirnento da declaração de 
desconsideração da pessoa jurídica. 
O anteprojeto traz inovações profundas, porque 
pressupõe a necessidade de requerimento da parte, 
para a instauração de um incidente específico com 
vistas à obtenção de declaração judicial de descon-
sideração da pessoa jurídica. Ainda que possa ser 
requerida em qualquer processo ou procedimento 
(conhecimento ou execução), preconiza-se a conces-
são de um prazo de quinze dias para sócio ou terceiro 
manifestar e requerer as provas cabíveis, seguindo-
-se a possibilidade de instrução probatória específica 
que culminará com decisão impugnável por agravo 
de instrumento. 
O Código é silente, mas parece visível a necessi-
dade de suspensão do processo até a decisão do inci-
dente, mesmo porque não há disposição de que sua 
instauração não suspenda o andamento do processo. 
Se se der na fase de conhecimento é admissível e até 
razoável a suspensão do procedimento, mas na fase 
de execução, corno visto, será prejudicial à celeridade 
e efetividade. Não se vislumbra, porém, a necessidade 
de instauração do incidente no processo do trabalho, 
na fase de conhecimento. 
De sorte que, à primeira vista, estaria inviabiliza-
da a desconsideração da pessoa jurídica, por iniciati-
va do juiz ou de ofício. 
Não obstante omissa a Consolidação das Leis do 
Trabalho, este é um dos pontos que o anteprojeto 
Vol. 80, n2 02, Fevereiro de 2016 
atrita frontalmente com os princípios da informalida-
de, celeridade e efetividade do processo do trabalho, 
tomando, por isso, desaconselhável a sua aplicação. 
A possibilidade de cabimento de recurso da decisão, 
nitidamente de natureza interlocutória, vai na contra-
mão do espírito do anteprojeto que alardeia a irrecor-
ribilidade imediata dos interlocutórios. 
Na Justiça do Trabalho, se aplicado tal proce-
dimento incidental, será o caos, especialmente na 
execução, porque deflagraria um procedimento inci-
dental complexo que postergaria e até atravancaria 
a prestação jurisdicional. A dinâmica da atividade 
econômica que envolve a atuação empresarial, seja 
com a alienação do patrimônio da empresa ou alte-
ração da personalidade jurídica, retirada e admissão 
de sócios, ou os escaninhos artificiosos de desvios de 
patrimônio das empresas, inviabiliza o uso de tal pro-
cedimento, sem prejuízo à efetividade do processo do 
trabalho. 
Este é um dos pontos que o anteprojeto se distan-
cia do processo do trabalho.<42> 
Portanto, cumpre destacar que o incidente de 
desconsideração da personalidade jurídica acima ex-
planado não é compatível com a Justiça do Trabalho, 
pois que não condiz com o princípio da celeridade 
aplicável e necessária as causas laborais. 
Resta evidente, da mesma forma, a regulamen-
tação da desconsideração inversa da personalidade 
jurídica, conforme o art. 133, parágrafo segundo, do 
novo CPC. 
Considerações finais 
Corno meio de garantir urna maior efetividade à 
decisão judicial proferida pelos órgãos trabalhistas, 
a Justiça do Trabalho vem admitindo a aplicação 
nesta de institutos de outros ramos do direito, tal 
corno ocorre com a desconsideração da personali-
dade jurídica na execução trabalhista. A finalidade 
desta aplicação é permitir que haja efetividade dos 
direitos trabalhistas e também assegurar o fim útil do 
processo. 
A desconsideração clássica da pessoa jurídica 
consiste na possibilidade de execução dos bens par-
ticulares do sócio ante a insuficiência do patrimônio 
societário, prova de violação da lei, fraude, falência, 
estado de insolvência ou encerramento ou inativida-
de da empresa decorrentes de má administração da 
pessoa jurídica. 
Tem por finalidade coibir fraudes realizadas me-
diante a abusiva utilização da autonomia patrimonial 
conferida à sociedade personificada. Tem corno fun-
damento o art. 28 da Lei n. 8.078/1990 e o art. 50 do CC. 
Há a possibilidade de aplicação na esfera traba-
lhista ante a hipossuficiência do trabalhador, na sua 
dificuldade em provar a má-fé do administrador e 
(42) PANCOTTI, José Antônio. Anteprojeto do CPC e repercussões 
no processo do trabalho. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, São 
Paulo, v. 78, n. 1, jan./rnar. 2012. p. 109-135. 
Vol. 80, nº 02, Fevereiro de 2016 
o caráter alimentar das verbas devidas, assim como 
sempre que a personalidade da pessoa jurídica for 
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados. 
O que vem se notando na jurisprudência traba-
lhistaé a aplicação não só da desconsideração da per-
sonalidade jurídica de forma clássica, mas também a 
de forma inversa. 
De acordo com a desconsideração inversa, é per-
mitido que o patrimônio da pessoa jurídica respon-
da pelas obrigações do sócio devedor, possibilitando 
que o credor do sócio atinja o patrimônio da socieda-
de integrada pelo devedor, buscando ter seu crédito 
satisfeito. 
A eficácia jurídica da autonomia patrimonial é 
suprimida pelo descumprimento das obrigações, 
visando o resgate do princípio da responsabilidade 
patrimonial, pela ruptura dos aspectos formais da 
personificação jurídica. 
É caracteriz(lda pelo afastamento da autonomia 
patrimonial da sociedade, para, desta maneira, atin-
gir o ente coletivo e o seupatrimôri.io, causando a 
responsabilidade da pessoa jurídica por obrigações 
advindas do sócio controlador. 
A desconsideração inversa da personalidade jurí-
dica é oriunda da doutrina e jurisprudência, não ten-
do regramento legislativo específico, sendo porém 
utilizado para a sua fundamentação o mesmo respal-
do legislativo da desconsideração da personalidade 
jurídica clássica. 
Na seara trabalhista existem duas hipóteses de ca-
bimento da desconsideração inversa: em caso de 
fraude/abuso de poder e em caso de esgotamento 
patrimonial. 
Se no decorrer do processo restar provada a frau-
de ou o abuso de poder realizado pelo reclamado por 
meio da pessoa jurídica, tal como a transferência de 
bens particulares à pessoa jurídica e a má-fé, não há 
controvérsia na jurisprudência, é plenamente cabível 
e aplicável a desconsideração inversa da personali-
dade jurídica: 
Revista LTr. 80-021203 
Contudo, no caso do reclamado se encontrar com 
esgotamento patrimonial, não podendo portanto pa-
gar o seu débito trabalhista, e sendo este· sócio em 
uma pessoa jurídica, a qual não foi utilizada para 
ocultar o patrimônio deste, muito menos com o in-
tuito de furtar-se da dívida, há divergência jurispru-
dencial quando a possibilidade ou não da utilização 
da desconsideração inversa com o fim de saldar o 
débito. 
Existem decisões que aplicam a desconsideração 
inversa da personalidade jurídica considerando que 
não há uma necessidade de prova da fraude ou mes-
mo do abuso do poder, bastando apenas para a sua 
aplicação o descumprimento de uma obrigação ou a 
insolvência, o que configura por existir sentença tra-
balhista transitada em julgado que não pode ser cum-
prida por ausência de patrimônio do credor. 
O novo Código de Processo Civil, nos seus arts. 
133 e seguintes, prevê a possibilidade de um inciden-
te de desconsideração da pessoa jurídica no decorrer 
do processo, e preceitua que esta é cabível em todas 
as fases do processo de conhecimento, no cumpri-
mento de sentença, assim como na execução fundada 
em título extrajudicial. 
Restou verificado que o incidente de desconside-
ração da personalidade jurídica acima explanado não 
é compatível com a Justiça do Trabalho, pois que não 
condiz com o princípio da celeridade aplicável e ne-
cessária as causas laborais. 
Da mesma forma, observou-se que houve a re-
gulamentação da desconsideração inversa da per-
sonalidade jurídica, conforme o art. 133, parágrafo 
segundo, do novo CPC. 
Portanto, tanto a desconsideração clássica da 
personalidade jurídica, quanto a inversa, são impor-
tantes para a garantir o cumprimento de direitos e 
garantias dos trabalhadores, da mesma forma que 
reestabelecem o equilíbrio ante a violação destes. 
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