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62 TICAS DE FÍSICO-QUÍMICA UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA PRÁTICAS DE' FÍSICO-QUÍMICA Zuy Maria Magriotis Teodorico de Castro Ramalho EDITORA UFLA LAVRAS-MG SUMÁRIO I SEGURANÇA NO LABORATÓRIO 5 2 TRATAMENTO DE DADOS EXPERIMENTAIS 8 2.1 Algarismos significativos e notação científica 8 2.2 Arredondamentos 9 2.3 Operações envolvendo algarismos significativos 10 2.3.1 Regra de adição-subtração.. 10 2.3.2 Regra da multiplicação-divisão 11 2.4 Medidas e erros 11 2.4.1 Erros absolutos e erros relativos 12 2.4.2 Propagação de erros 13 2.4.2.1 Adição e subtração 13 2.4.2.2 Multiplicação e divisão 13 2.5 Tratamento estatístico ~......................................................................... 14 2.5.1 Valor médio e desvio padrão 15 2.5.2 Ajuste de retas e curvas 16 2.5.3 Interpolação linear 19 2.6 Medidas e transformações 19 3 GASES 22 3.1 Efeito Joule-Thomson .':................ 22 3.2 Razão entre capacidades caloríficas de gases 30 4. TERMO QUÍMICA 37 4.1 Entalpia de vaporização da água a partir de medidas da pressão de vapor 37 4.2 Calor de neutralização 41 4.3 Calor médio de dissolução 45 5 SOLUÇÕES 48 5.1 Determinação da massa molar por crioscopia 48 5.2 Determinação do coeficiente de partição 52 5.3 Detecção da ligação hidrogênio por espectrofotometria na região do infravermelho 55 5.4 Determinação da constante de equilíbrio de uma reação em solução 57 6 DIAGRAMA DE FASE 61 6.1 Líquidos parcialmente miscíveis 61 6.2 Diagrama de solubilidade para um sistema temário de líquidos 65 6.3 Equilíbrio sólido-líquido - misturas eutéticas 69 7 CINÉTICA QUÍMICA 72 7.1 Determinação da energia de ativação de uma reação química iônica 72 7.2 Determinação da ordem de uma reação: método das concentrações em excesso ~ "0 75 7.3 Determinação da ordem de uma reação: método da velocidade inicial.................... 77 7.4 Ordem de uma reação através de técnicas fotocolorimétricas 80 7.5 Determinação dos parâmetros de ativação da hidrólise básica do ácido acetilsal icílico 82 7.6 Determinação do mecanismo de hidrólise básica do ácido acetilsalicílico 84 8 FENÔMENOS DE SUPERFÍCIE 87 8.1 Adsorção 87 8.2 Comparação de isotermas de adsorção utilizando diferentes adsorventes 89 8.3 Estabilidade de uma solução coloidal 92 8.4 Determinação da tensão superficial de líquidos e soluções 95 8.5 Viscosidade 100 9 ELETROQUÍMICA 105 9.1 Determinação da massa de Ag e lz e os volumes de O2 e H2 produzidos por meio de eletrólise 105 9.2 Determinação da constante de velocidade e energia de ativação da reação de decomposição de acetato de etila 107 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ~.............................. 112 ~ ."L.LCA Zuy Maria Magriotís' Teodorico de Castro Ramalho' 1 EG ~A.": -ç-\ ~-O L-\BOR<\TÓRIO É muito importante que todas as pessoas que lidam num laboratório tenham uma noção bastante clara dos riscos existentes e de como diminuí-Ias. O melhor combate aos acidentes é a sua prevenção. O descuido de uma única pessoa pode pôr em risco os demais. Todos devem tomar consciência da importância de se trabalhar em segurança, do que só resultarão benefícios para todos. 1. É obrigatório o uso de avental (jaleco, guarda-pó). A não observância desta norma gera roupas furadas por agentes corrosivos, queimaduras, etc. 2. Evite usar bermuda ou saia curta, bem como sandálias ou chinelos. Use sempre algum tipo de calçado que cubra o pé. 3. Procure não usar roupas de tecido sintético, facilmente inflamáveis. 4. É expresssamente proibido fumar no laboratório. 5. Não deixe livros, blusas, bolsas, etc., jogados nas bancadas. Ao contrário, deve-se colocá-Ias longe de onde se executam as operações. 6. É proibido trazer comida ou bebida para o laboratório. Da mesma forma, não se deve provar qualquer substância do laboratório, mesmo que inofensiva. 7. Evite usar lentes de contato quando estiver trabalhando em laboratório, devido ao perigo de, num acidente, ocorrer a retenção de líquido corrosivo entre a lente e a cómea. 8. Os alunos não devem tentar nenhuma reação não especifícada pelo professor. Reações desconhecidas podem causar resultados desagradáveis. 9. Não se deve cheirar um reagente diretamente. Os vapores devem ser abanados em direção ao nariz, enquanto se segura o frasco com a outra mão. 1O.Nunca acender um bico de gás quando alguém no laboratório estiver usando algum solvente orgânico. Os vapores de solventes voláteis, como éter etílico, podem se deslocar por longas distâncias e se inflamarem facilmente. 'Professora Dra., Departamento de QuímicalDQI da Universidade Federal de LavraslUFLA - Cx. Postal 3037 - 37.200-000- Lavras,MG 'Professor Dr., Departamento de QuímicaIDQI da Universidade Federal de LavrasIUFLA - Cx. Postal 3037 - 37.200-000- Lavras,MG 6 MAGRIOTlS, Z. M. & RAMALHO, T. C. 11. Nunca despejar água num ácido, mas sim o ácido sobre a água. Além disso, o ácido deve ser adicionado lentamente, com agitação constante. 12. Não pipetar nenhum tipo de produto com a boca. 13. ão levar as mãos à boca ou aos olhos quando estiver trabalhando com produtos químicos. 14. Fechar cuidadosamente a torneira do bico de gás depois de usá-Ia. 15. Não deixar vidros, metais ou qualquer outro material em temperatura elevada, em lugares em que eles possam ser tocados inadvertidamente. 16. Não aquecer tubos de ensaio com a boca virada para o seu lado, nem para o lado de outra pessoa. 17. Usar equipamentos apropriados nas operações que apresentarem riscos potenciais. 18. Não aquecer reagentes em sistemas fechados. 19. Fechar todas as gavetas e portas que abrir. 20. Planejar o trabalho a ser realizado. 21. Verificar as condições da aparelhagem. 22. Não trabalhar com material imperfeito ou defeituoso, principalmente com vidro que contenha pontas ou arestas cortantes. 23. Conhecer a periculosidade dos produtos químicos. 24. Ler sempre o rótulo dos frascos antes de usar as substâncias neles contidas e mantê-Ios fechados quando não estiverem em uso. 25. Aprender a localização e a utilização do extintor de incêndio. 26. Com relação ao laboratório: - manter as bancadas sempre limpas e livres de materiais estranhos ao trabalho; - todo o material deverá ser lavado no início e no final das aulas, deixando-o organizado na bancada; - fazer limpeza prévia dos materiais, antes de colocá-Ios para lavagem; - rotular os reagentes ou soluções preparadas e as amostras coletadas; - jogar papéis usados e materiais que não podem ser mais utilizados no lixo somente quando não apresentar riscos; - o material sólido a ser descartado deverá ser embrulhado adequadamente e colocado no lixo; - utilizar pinça e materiais de tamanho adequado e em perfeito estado de conservação; - não introduzir pipeta, ou qualquer outro material, diretamente nos frascos dos reagentes; · Práticas de Físico-Química 7 - utilizar a capela ao trabalhar com reações que liberem fumos venenosos ou irritantes; - não descartar produtos químicos nas pias do laboratório; - ao descartar líquidos, abrir a torneira da pia para jogar o líquido em água corrente; - em caso de derramamento de produtos tóxicos, inflamáveis ou corrosivos, tomar as seguintes precauções: A) parar o trabalho, isolando, na medida do possível, a área; B) advertir pessoas próximas sobre o ocorrido; C) só efetuar limpeza após consultar o professor ou o auxiliar de laboratório; D} alertar o professor; E) verificar e corrigir a causa do problema; F) no caso de envolvimento de pessoas, lavar o local atingindo com água corrente e procurar o serviço médico. 27. Saber tomar certas iniciativas em caso de pequenos acidentes. Exemplos: - queimaduras por agentes corrosivos como ácidos ou álcalis: lavar a área atingida repetidas vezes com bastante água de torneira e, depois, com solução debicarbonato de sódio (para neutralizar ácidos) ou ácido acético (para "neutralizar bases). Esta última etapa deve ser suprlmida se a queimadura for muito severa, pois o calor da reação resultante poderá piorar a situação. Neste caso, usar apenas água e chamar o professor; - todas as vezes que ocorrer um acidente com algum aparelho elétrico ' (centrífuga, por exemplo), puxar imediatamente o pino da tomada; - cuidado com mercúrio entornado (de termômetros quebrados, por exemplo). O mercúrio, além de corrosivo, é muito tóxico. Deve-se coletá-lo ou cobri-lo com enxofre ou zinco em pó; - procurar conhecer a toxidez dos vários reagentes usados e tratá-los com a devida seriedade; - lembrar que, em caso de incêndio, na ausência de um extintor, um avental pode servir como um cobertor para abafar as chamas. 28.Comunicar ao professor qualquer acidente ocorrido. 29.Finalmente, lembrar que a atenção adequada ao trabalho evita a grande maioria dos acidentes. Émuito importante ter a certeza de que se sabe perfeitamente bem o que se está fazendo. 8 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. 2 TRATAMENTO DE DADOS EXPERIMENTAIS Números exatos: são aqueles com nenhuma incerteza. Por exemplo: o número de alunos no laboratório de Química. Números aproximados: apresentam algum grau de incerteza e resultam de medidas diretas ou indiretas. Dois termos descrevem a confiança de uma medida numérica: exatidão: relativo ao verdadeiro valor da quantidade medida; precisão: relativo à reprodutibilidade do número medido. Exemplo: (~) Figura 2. J. Exatidão e precisão. (8) (C) Na Figura 2.1 estão ilustradas a exatidão e a precisão de um número, comparadas com a precisão e exatidão de tiros ao alvo. A situação (A) ilustra a alta precisão e a baixa exatidão; a situação (B) a alta precisão e a alta exatidão; já na situação (C) têm-se a baixa precisão e a baixa exatidão. 2.1 Algarismos significativos e notação científica Na matemática, 150 é igual a 150,00. Entretanto, nas ciências experimentais, 150 não é necessariamente igual a 150,00. Na química, quando se escreve que o volume de uma solução é 25 mL, significa que a quantidade medida está dentro dos limites de 24 a 26 mL. No entanto, quando se escreve 25,00 mL, significa que a quantidade medida se encontra entre 24,99 e 25,01 mL. Algarismos significativos são os algarismos necessários para expressar o resultado de um experimento com a mesma precisão das medidas efetuadas. Assim, se o volume de uma solução é 25,00 mL, a medida está sendo representada por quatro algarismos significativos. Escrevendo que o volume é 0,02500 L, têm-se Práticas de Físico-Química 9 também quatro algarismos significativos. Os zeros que precedem o algarismo 2 não são algarismos significativos porque indicam apenas a posição da vírgula. Porém, os zeros posteriores aos algarismos 2 e 5 são significativos porque indicam que a medida foi feita com precisão na ordem de um centésimo de mililitro. Assim, não é o número de algarismos depois da vírgula que fornece a precisão de uma medida, mas sim o número de algarismos significativos. Dessa forma, em números menores que I, os zeros á esquerda do primeiro algarismo são nulos, enquanto os zeros finais são significativos. Já em números grandes, os zeros finais podem ou não ser significativos, dependendo da precisão do instrumento de medida. Esta ambigüidade pode ser evitada expressando-se a medida em notação científica, como mostrado na Tabela 2.1. Tabela 2.1. Exemplos de números expressos em notação científica e os algarismos significativos. Medida N° algarismos significativosNotação científica 0,0062 g 0,62000 g 20,010 g 125000 125000 125000 6,2 X 10.3 g 6,2000 X 10.1 g 2,0010 X 101 g 1-,2500 x 105 1,250 X 105 1,25 X 105 2 5 5 5 4 3 Exemplo: Uma bancada mede 110 em o:> 3 números significativos Uma bancada mede 110,5 em 0:>4 números significativos No primeiro caso, indica que se mediu até próximo ao centímetro; enquanto que no segundo caso, indica uma medida até o décimo de centímetro. O último algarismo significativo numa quantidade medida tem uma incerteza associada e é chamado de algarismo duvidoso. 2.2Arredondamentos Quando se arredonda, devem-se levar em conta todos os dígitos além da última casa desejada. Quando o número formado por estes dígitos é mais eqüidistante do próximo número superior, arredonda-se para o valor acima; caso contrário, 10 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. quando for menos eqüidistante, arredonda-se para baixo. Esta regra pode ser resumida da seguinte forma: . .., 1. se o dígito a ser eliminado é maior que 5, o dígito precedente é aumentado de uma unidade. Exemplo: 18,79 arredonda-se para 18,8; 2. se o dígito a ser eliminado é menor que 5, o dígito precedente é mantido. Exemplo: 18,73 arredonda-se para 18,7; 3. se o dígito a ser eliminado é igual a 5, seguido de, no mínimo, um algarismo diferente de zero, o dígito precedente é aumentado de uma idade Exemplo: 18,751 arredonda-se para 18,8 4. se o dígito a ser eliminado é igual a 5, seguido de zeros. o arredondado para o número par mais próximo. Exemplos: A) se o número for ímpar, aumenta uma uni B) se o número for par, permanece sem modifi .. . o precedente é e: ~ arredonda-se para 18,8; •- : '-', -Oarredonda-se para 18,8. 2.3 Operações envolvendo algarismos significativos o registro do resultado de um experimenr -e\-e ser tal que apenas o último algarismo significativo seja inceno (algarismo : oso). A soma algébrica de um algarismo exato com um algarismo duvidoso é algarismo duvidoso. Assim, os resultados de operações matemáticas envolvendo algarismos significativos não devem expressar uma precisão maior do que a especificada pelos números usados nos cálculos. O arredondamento deve ser feito somente na resposta final para evitar erros de arredondamento. Para tanto, utilizam-se duas regras: 2.3.1 Regra de adição-subtração O número de dígitos à direita da vírgula do resultado deve ser o mesmo do número com menos dígitos dos números usados no cálculo. O número de algarismos significativos na resposta pode ser maior ou menor do que os números usados na operação. -~- Práticas de Físico-Química II Exemplos: 5,343 x 10-5 +3,131 X 10-5 8,474 X 10-5 5,976 + 7,037 13,013 31,54 - 28,97 2,57 31,54687 + 83,82 115,37 Na adição ou na subtração de números expressos em notação científica, todos os números devem ser convertidos ao mesmo expoente. 9,754 X 103 + 5,343 X 105 => + 3,132 X 106 0,09754 x 105 + 5,343 X 105 +31,32 X 105 36,76 X 105 2.3.2 Regra da multiplicação-divisão o número de algarismos significativos do resultado deve ser o mesmo que o menor número de algarismos significativos dos termos utilizados nos cálculos. Exemplos: 2,483 , 3,5 == 0,71 2,68 x 3,26543 == 8,75 5,678x104, 8,71xl09 = 6,52xlO-6 2.4 Medidas e erros Toda medida experimental tem uma precisão determinada que depende do instrumento e das condições de medida. Assim, na avaliação de uma medida, é importante conhecer sua precisão e seu limite de confiança. O limite de confiança é determinado pelos erros que ocorrem durante as medições. Estes erros podem ser: - erros sistemáticos (determinados): são erros que podem ser evitados ou cujas magnitudes podem ser determinadas. Os principais são os erros operacionais, os erros instrumentais e de reagentes e os erros de método. Exemplo: aparelhos sem calibração ou com calibração imprópria; 12 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. - erros aleatórios (indeterminados): são erros que ocorrem em medidas sucessivas e não podem ser controlados. Quando se faz um número suficientemente grande de medidas, esses erros são distribuídos em uma curva, como mostrado na Figura 2.2. fl:y x Figura 2.2. Distribuição normal. o erro efetuado numa medida é dependenteda escala do instrumento que se utiliza para fazer a medida .: Quando se faz uma medida utilizando-se um instrumento (balança, bureta, proveta, etc.), é importante especificar o erro correspondente. Em geral, é muito dificil conhecer a exatidão da medida, pois isso implicaria no conhecimento do valor verdadeiro da medida. Entretanto, a precisão da medida é fácil de ser avaliada, pois depende, principalmente, das características do instrumento (sensibilidade, subdivisões da escala de leitura, etc.) e dos cuidados adotados na utilização do mesmo. 2.4.1 Erros absolutos e erros relativos Erro absoluto (incerteza absoluta) - e: expressa a margem do erro associado a uma medida e, por convenção, corresponde à menor escala do instrumento de medida dividida por dois. Em instrumentos digitais, este desvio é a própria sensibilidade do aparelho de medida. Erro relativo (incerteza relativa) - eR: compara o tamanho do erro absoluto com o tamanho de suas medidas associadas. e e =--------------- R magnitude da medida Práticas de Físico-Química 13 Exemplo: A incerteza relativa da leitura 15,48 ± 0,02 mL de uma bureta é: e = 0,02 = 0001 R 15,48 ' A incerteza relativa percentual - %e - é dada por 100 x incerteza relativa. Assim, a incerteza relativa do exemplo acima é %e = 100 x 0,001 = 0,1 %. 2.4.2 Propagação de erros Na maioria dos experimentos, é necessário realizar operações matemáticas com as medidas obtidas e estas têm associado um erro aleatório. A incerteza mais provável do resultado não é a soma dos erros individuais. 2.4.2.1 Adição e subtração - 3,16 (± 0,03) el - 2,75 (± 0,02) e2 + 0,97 (± 0,01) e3 1,38 (± 0,04) e4 A incerteza na resposta é obtida pela raiz quadrada da soma dos quadrados das incertezas absolutas. Exemplo: Na soma das medidas 3,16 (± 0,03) - 2,75 (± 0,02) + 0,97 (± 0,01) a incerteza absoluta é: 2.4.2.2 Multiplicação e divisão A incerteza na resposta é obtida pela raiz quadrada da soma dos quadrados das incertezas relativas percentuais. 14 MAGRIOTlS, Z. M. & RAMALHO, T. C. Exemplo: Qual a incerteza das seguintes operações? 1,26(±O,03) x 2,Ol(±O,03) = 3 39 ± e O,77(±O,02) '4 I a etapa: conversão de todas as incertezas absolutas em incertezas relativas percentuais. 1,26(±O,03) x 2,Ol(±O,03) _ 339-c.--'---'--'---'---'---'---'- -, ± e4 O,77(±O,02) 2a etapa: cálculo da incerteza das operações: ....:.1,2_6....:.(_±2....:.A-::o/c."...o,-)x-::2-,:-,O".,1-'-.(±_1,-A_%....:.) _ 3 39-, ±e4O,77(±2,6%) Logo, a resposta é 3,39 ± 3,8% 3a etapa: conversão da incerteza relativa em incerteza absoluta. 3,8% x 3,39 = 0,038 x 3,39 = 0,13 A resposta final é 3,4 ± 0, I, pois o denominador 0,77 limita a resposta em dois algarismos significativos. 2.5 Tratamento estatístico Quando se dispõe de uma série muito numerosa de medidas de uma grandeza, pode-se construir uma curva de erros ou curva de probabilidade de Gauss. Esta resulta do registro dos valores das medidas Xi na abscissa, das freqüências ni em que o mesmo resultado ocorre na ordenada (Figura 2.2). Quanto mais vezes o experimento é repetido, mais os resultados se aproximam de uma curva idealmente suave chamada distribuição gaussiana. Porém, não se tem a possibilidade de fazer tantas medidas em um experimento de laboratório. O mais provável é que um experimento seja repetido de 3 a 5 vezes. Entretanto, podem-se estimar os parâmetros estatísticos que descrevem um conjunto grande de resultados, a partir de um conjunto de resultado menor. Práticas de Físico-Química 2.5.1 Valor médio e desvio padrão Baseando-se em um certo número de hipóteses que governam a aleatoriedade dos resultados das medidas é possível mostrar que o valor mais provável dessa série de medidas é a média aritmética das medidas feitas, se todas as medidas têm o mesmo peso, a qual se chama de média: _ 1 n X =- Ix; n ;=1 o desvio-padrão, s, mede como os dados estão agrupados em tomo da média. Na realidade, s representa o grau de reprodutibilidade das medidas do método, ou seja, sua precisão. Quanto, menor for o desvio padrão, mais preciso é o método. s= Normalmente, os resultados experimentais são expressos na forma: média ± desvio-padrão (x ±s). O quadrado do desvio padrão é chamado de variância. Uma outra forma de expressar a precisão é o desvio padrão relativo (RSD): RSD=~ x Esta medida é freqüentemente expressa em percentagem, sendo denominada de coeficiente de variação (CV): RSD = ~x100 x A média de uma série de medidas, X, é uma estimativa mais confiável da média verdadeira, ~. Pode-se demonstrar que x tende para ~ quando o número de valores x. medidos tende a infinito: I limx=ll N-t'" 15 16 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. Assim, quanto maior o número de medidas, mais próxima do valor verdadeiro estará a média. O desvio padrão da média é dado por: S s, = Jn 2.5.2 Ajuste de retas e curvas A construção de um gráfico facilita a interpretação, permitindo extrair conclusões imediatas sobre a relação entre os parâmetros envolvidos no experimento e também obter, por extrapolação ou interpolação, informações sobre o comportamento do sistema em condições em que as medidas esbarram em dificuldades experimentais. De modo geral, os experimentos consistem na relação de duas variáveis, sendo uma controlada pelo operador e a outra determinada experimentalmente. Dessa forma, podem-se utilizar as coordenadas cartesianas para selecionar estas duas variáveis. Exemplo: os dados obtidos em um experimento solubilidade mútua de dois líquidos estão na Tabela 2.2. O gráfico destes dados fornece a curva da Figura 2.3. Na prática, os dados raramente permitem traçar uma curva, ou uma reta, perfeita, uma vez que todos os erros considerados podem somar-se ou subtrair-se. Dois procedimentos estatísticos devem ser aplicados à curva obtida dos dados experimentais: 1. verificar se o gráfico é linear ou não. 2. encontrar a melhor reta (ou a melhor curva) que passa pelos pontos. Tabela 2.2. Dados de solubilidade. % em massa de A Temperatura C°c) 5 5 15 22 25 45 35 51 45 50 55 45 65 40 75 20 85 5 o valor de r deve estar entre -1 e 1; quanto mais próximo de ± 1, maior a probabilidade de existir uma relação linear entre as duas variáveis. Valores próximos de +1 indicam uma correlação positiva e valores próximos de -1, uma correlação negativa. Quando r tender a zero, indica que as variáveis não estão linearmente correlacionadas. Um coeficiente de correlação entre ± 1 não confirma uma relação linear. Deve- se fazer sempre o gráfico para certificar-se de que a curva seja linear. Se, para um conjunto de pontos, o valor do coeficiente de correlação sugere uma alta probabilidade de a relação ser linear, o problema, agora, é encontrar a "melhor reta" entre estes pontos. Sabe-se que a equação de uma reta é dada por: y=ax+b Práticas de Físico-Química 60 50 o,.-.. U 40o '-' E:.a 30E: 4)c, E o 4) 20 E- lO O O 20 17 o o o o 40 60 80 100 % em massa de A Figura 2.3 Curva de solubilidade dos líquidos. Para verificar se há uma relação linear entre duas variáveis x e y. utiliza-se o coeficiente de correlação de Pearson r: nLx;y; - LX;LY; 18 MAGRIOTlS, Z. M. & RAMALHO, T. C. em que y é a variável dependente, x a variável independente, a é a inclinação da reta (!:"y/!:"x) e b é a interseção no eixo dos y (Figura 2.4). Na equação a e b são constantes. Os valores de a e de b podem ser determinados pelo método dos mínimos quadrados ou regressão linear a partir das relações: a = nL XiYi- I xiL Yi nLxt -(IxY b= I(xt)LYi-I(XiYi)Ixi nI(xt)-(IxJ ou b = SI -ax em que x e y são as médias de todos os valores de x e y, respectivamente. y x ÔY = Y2 - YI ôya=- ôx b Figura 2.4. Representação de urna rera. Além dos valores das constantes, pode-se, também, determinar os erros davariável dependente,y, da inclinação, a, e da interseção, b, da reta obtida, e da variável independente,x,: Sa = Sy I ~2JXi- X)2 s, = sy~L>F InL:(xi - X)2 Práticas de Físico-Química 19 em que y são os valores de y obtidos a partir da reta de regressão, e Yo é o valor de y no qual se quer determinar x. 2.5.3 Interpolação linear Interpolação é a estimativa de um valor que fica entre dois dados e extrapolação a estimativa de um valor que fica além dos limites de valores obtidos. A interpolação linear supõe que os valores entre dois dados se localizam sobre uma reta. ---65,0 ---~------------------------------------------------------- , Iy ~? - - - - !~~~~~l~_~~~~~~_~~~i~~_~~-~- - - - - - - - - - - -- - - -- :. , ,ôy : : , ', ,, , -60,0 ------------------------ :: , ", ,, ,,,,,, :<,_. ---- _._------" ---------_ _- ---_ .. ---------- -.- _-- - ----_ .._-_.- ..__ ._------~- Intervalo desconhecido de x .! >! 6 1< x = 12 15 >1 I l_intervalo desconhecido de y intervalo desconhecido de xnterpo açao: = ------------ ôy ôx 65 - Y = 15 -12 => = 63 3 65 - 60 15 - 6 Y , 2.6 Medidas e transformações Massa (SI = kg) kg (kilograma) lb (libra) oz (onça) kg 1 2,20462 35,27399 lb 0,453592 1 15,99999 oz 0,0283495 0,0625 1 1t = 103 kg; 1 kg = 103 g = 106 rng 20 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. Comprimento (SI = m) m (metro) ft (pé) in (polegada) mi (milha) m I 3,2808 39,37 6,2137xIO-4 fi 0,3048 1 12,00 I ,8939x I 0.4 in 0,02540 0,08333 I I ,5783x I 0.5 mi 1609,3440 5280,00 63360,0 I IÀ= 1O·lOm; 1 m = 102em = 10) mm Volume (SI = L) L ft3 . 3 gal (USA) qt (USA)in L I 3,531467x I0.2 61,023759 0,2641721 1,0566881 ft3 28,316847 I 1728,0004 7,4805231 29,922077 . 3 I ,638706x I 0.2 5,787035x 10.4 1 4,329005x 10.3 I ,73160x I0.2m gal (USA) 3,785410 0,1336804 230,99995 1 3,9999979 qt (USA) 0,946353 3,342014xI0·2 57,750017 0,2500001 I Pressão (SI = Pa) Pa (N.m·2) atm bar Torr(mmHg) psi (lbf.in·2) Pa I 9,86923x I 0.6 1,0xI0's 7 ,500617x 10.3 1,45xlO·4 atm 1,01325x105 I 1,01325 760 14,696 bar 1,0x1Os 0,9869233 I 750,0617 14,504 Torr 133,3224 1,315789xI0·3 1,333224x 10.3 I 0,0193 psi 6,895x103 0,06805 0,06895 51,715 I Energia (SI = J) J (N.m) keal eV kWh BTU J I 2,390057x I0.4 6,241512x1018 2,777778x 10.7 9,478134x 10-4 keal 4184 1 2,611448x 1022 1,62222x I0.3 3,965651 eV I ,602176x 10.19 3,829293x I0.26 I 4,450489x 10.26 I ,518564x 10·2} kWh 3,600x 106 860,4207 2,246944x I025 I 3412,128 BTU 1055,06 0,2521654 6,585169x 1021 2,930722x I0.4 1 Sistema egs: I erg = 10.7 J Práticas de Físico-Química 21 Potência (SI = W) W (J.s) kcal.h' hp BTU.min-1 W 1 0,8604207 1,341022x 10-3 5,68181xl0-2 kcal.h-I 1,162222 1 1,558565x 10-3 6,61375xI0-2 hp 745,7 641,6157 1 42,408 BTU_min-1 17,6 15,12 2,36xlO-2 1 Viscosidade (SI = Pa.s) Pa.s cP lb.ftls' Pa.s 1 103 0,672 cP 10-3 1 6,72xlO-4 lb.ft+s" 1,488 1488 1 Temperatura (SI = K) Kelvin (K) Celsius (Oe) Fahrenheit (OF) Rankine (OR) 9 9 K I Te = TK- 273,15 TF =-TK -459,67 TR =-TK5 5 9 °e 9 TR =-(Te +273,15)TK= Te + 273,15 1 TF=-Te+32 55 : 5 . TK =-(TF +459,67) 5°F 9 Te =-(TF -32) 1 TR = TF + 459,679 °R 5 5 TK = - TR Te = - TR - 273,15 TF =h-459,67 I9 9 Prefixos: 10-12 pico (p) 101 deea (da) 10-9 nano (n) 102 hecto (h) 10-6 micro (11) 103 quilo (k) 10-3 mili (m) 106 mega (M) 10-2 centi (c) 109 giga (G) 10-1 deci (d) 1012 tera (T) 22 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. Constantes Constante Símbolo Valor Constante de Avogrado NA 6,02214x1023 mor' Constante dos gases ideais R 8,31451xl0-2 L bar K-' mol" 8,31451 J K-' mol" 8,31451 L kPa K-' mor' 8,20578xl0-2 L atm K-' mol' 62,3639 L Torr K' mol' Constante de Boltzmann k 1,3806503x 10-23 J K-' Velocidade da luz no vácuo c, 2,9979458xl08 m sol Constante de Planck h 6,62606876xlO-34 J s Constante de Faraday F 9,64853415xl04 C mol' Aceleração padrão (Terra) g 9,80665 m S-2 Carga elementar e 1,602176462xl0-'9 C Unidade de massa atômica ua 1,66053873x 10-27 kg 3 GASES 3.1 Efeito Joule-Thomson o efeito Joule-Thornson é uma medida do desvio do comportamento de um gás real em relação ao ideal. Neste experimento, utiliza-se uma técnica simples para medir este efeito em alguns gases comuns. 3.1.1 Introdução Um gás é considerado ideal quando, para uma quantidade definida, as duas condições seguintes são aplicadas em todas as temperaturas: (1) A lei de Boyle é obedecida: PV = f (T) (1) (2) A energia interna U é independente do volume e, conseqüentemente, é independente também da pressão. Assim, na ausência de outras variáveis pertinentes, U é uma função apenas da temperatura: U = 9 (T) (2) Práticas de Físico-Química 23 As im a entalpia H de um gás ideal é, também, uma função apenas da temperatura: H = U + PV = h (T) (3) Conseqüen emenre, para uma quantidade definida de um gás ideal, em todas as temperaturas pode-se escre ·er: (eu) _(au) _(aH) _(OH) -oav T ap T av T ap T (4) Esta independência da energia interna de um gás com o volume foi sugerida por experimentos de Gay-Lussac e Joule. Eles encontraram que, quando uma quantidade de gás em um recipiente, inicialmente a uma dada temperatura, se expande para um outro recipiente, previamente evacuado, sem trabalho ou fluxo de calor da ou para as vizinhanças (~U = O), a temperatura final (após os dois recipientes atingirem o equilíbrio) é a mesma que a temperatura inicial. Entretanto, a sensibilidade deste tipo de experimento (conhecido como experimento de Joule) é limitada, uma vez que a capacidade calorífica dos recipientes é grande em comparação com as dos gases estudados. Posteriormente, Joule e Thomson mostraram, em outro tipo de experimento, que gases reais sofrem pequenas variações de temperatura numa expansão livre. Neste experimento, utilizaram fluxo de gás contínuo através de uma parede porosa sob condições adiabáticas. Assim, as partes sólidas do equipamento do experimento entraram em equilíbrio térmico com o gás e suas capacidades caloríficas impuseram uma limitação muito menor do que no caso do experimento de Joule. Na Figura 3.1 é mostrado um gás escoando lentamente da esquerda para a direita através de uma parede porosa. No lado esquerdo da parede, a temperatura e a pressão do gás são TI e PI, e do lado direito são T2 e P2• O volume de uma quantidade definida de gás (por exemplo 1 moi) é VI na esquerda e V2 na direita, e a energia interna é UI e U2, respectivamente. Quando 1 moi de gás escoa através da parede, o trabalho realizado pelo sistema sobre as vizinhanças é: W=P2V2-P1V1 (5) ,,, ~:::::7,,, Figura 3 .1. Esquema do experimento de Joule- Thomson. 24 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. Como o processo é adiabático, a variação na energia interna é: ~u= U2 - U1 = q - w = - w Combinando-se as equações (5) e (6) obtém-se: (6) (7) ou (8) Assim, este processo ocorre à entalpia constante. Para um processo envolvendo variações infinitesimais arbitrárias na pressão e na temperatura, a variação na entalpia é: dH=(àH) dP+(àH) dT àP T àT p (9) Neste experimento, dH é zero e dT e dP não podem ser arbitrários, mas estão relacionados por: J..l=(àT) àP H (àHjàP)T (àHjàT)p (10) A quantidade IJ definida por esta equação é conhecida como o coeficiente de Joule-Thomson e representa o valor limite da razão experimental entre a diferença de temperatura e a diferença de pressão, quando a diferença de pressão se aproxima de zero: ,. (ÓT)J..l= Im- c>p-->O óP H (11) Experimentalmente é encontrado que, numa faixa considerável, ~T tem comportamento muito próximo do linear com ~P, o que concorda com as expectativas teóricas. O denominador do lado direito da Eq. (10) é a capacidade calorífica a pressão constante C . O numerador é zero para um gás ideal (Eq. 4). p Conseqüentemente, para umgás ideal o coeficiente de Joule- Thomson é zero e não deve haver diferença de temperatura através da parede porosa. Para um gás real, o coeficiente de Joule- Thomson é uma medida da quantidade (8H/8P)T ' que pode Práticas de Físico-Química 25 ser relacionada termodinamicamente com a quantidade envolvida no experimento de Joule (8U/àV\. Usando a relação geral da termo dinâmica: (~H] = _T(av] + VaP T aT p Pode-se mostrar que, para um gás ideal: PV = const X T (12) (13) em que T é a temperatura absoluta. O coeficiente (8H/8P\ é, portanto, uma medida do desvio do comportamento predito pela Eq. (13). Combinando as Eqs. (10) e (12), obtém-se: T(aV / aT)p - V ~= Cp Para se predizer a magnitude e o comportamento do coeficiente de Joule-Thomson para um gás real, pode-se usar ~ equação de estado de van der Waals que (para um moI) é: (14) (P+ ;2)v -b)= RT Esta equação pode ser rearranjada (negligenciando o termo de segunda ordem ab/V' que é muito pequeno e substituindo-se P/RT por l/V no termo de primeira ordem) para obter: (15) aP PV= RT --+bP RT (16) Então, (av] R a 2 aT p =p+ RT2 Combinando as Eqs. (16) e (17) tem-se: (:~l= V~b + :;2 Que, substituindo na Eq. (14), obtém-se a expressão: (17) (18) (2a/RT)-b ~= Cp (19) 26 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. Esta expressão não contém explicitamente P ou V, assim, C, pode ser considerada essencialmente independente destas variáveis. A dependência de C com a temperaturap é pequena e, conseqüentemente, a dependência de 11 com a temperatura também é suficientemente pequena, de forma a ser negligenciada nos A'I' obtidos com um ilP de cerca de 1 atm (cerca de 1° ou menos para os gases aqui considerados). Conseqüentemente pode-se esperar que 11 será, aproximadamente, independente de ~P numa ampla faixa. Para a maioria dos gases sob condições normais, 2a1RT > b e o coeficiente de Joule- Thomson é positivo (uma redução da pressão na parede porosa resulta em uma queda de temperatura). Em temperaturas suficientemente altas, a desigualdade é invertida e o gás aquece na expansão. A temperatura que o coeficiente Joule- Thomson muda de sinal é chamada de temperatura de inversão TI' para um gás de van der Waals, T-~ 1- Rb Esta temperatura é, geralmente, várias centenas de graus acima da temperatura ambiente. Entretanto, o hidrogênio e o hélio são exceções, apresentando temperaturas de inversão bem abaixo da temperatura ambiente, resultado de valores muito pequenos da constante a de van der Waals para estes gases. Na Tabela 3.1 são mostrados os valores destas constantes. (20) Tabela 3.1. Valores de constantes nas equações de estado. H2 He N2 Ar COz Van der Waals A 0,244 0,0341 1,39 1,337 3,59 B 0,0266 0,0237 0,0391 0,0320 0,0427 Beattie-Bridgeman Ao 0,1975 0,0216 1,3445 5,0065 A -0,00506 0,05984 0,02617 0,07132 Bo 0,02096 0,01400 0,05046 0,10476 B -0,04359 0,0 -0,00691 0,07235 1O·4c 0,0504 0,0040 4,20 66,00 Unidades adotadas: Vem L mol'; P ematm; Tem K. (R= 0,0826L atm K"). em que A = Ao (l - B = Bo (1- bN) e = cNT3 Práticas de Físico-Química 27 Outras equações de estado semi-empíricas podem ser utilizadas para predizer os coeficientes de Joule-Thomson, Talvez, a melhor seja a equação de Beattie- Bridgeman que pode ser escrita (para 1 moi) como: (21) Nesta equação de estado há cinco constantes que são características do gás: Ao' Bo' a, b e c. Assim, o coeficiente de Joule-Thornson, em termos dessas constantes, da pressão e da temperatura, é dado por: (22) Esta equação mostra uma pequena dependência com a pressão, não mostrada pela Eq. (19) baseada na equação de van der Waals. 3.1.2 Objetivo Determinar o coeficiente Joule-Thomson para o nitrogênio e o argônio. 3.1.3 Materiais e reagentes Cela de Joule- Thomson consistindo de tubo de vidro com um disco de vidro sinterizado e camisa externa, meio isolante (lã de vidro), rolha de borracha com saída de tubo de vidro e entrada para termômetro digital, suporte universal, termômetro digital, termômetro de O°C a 50°C com precisão de O,1°C, serpentina de cobre de diâmetro interno de % in e 30 m de comprimento, manômetro de mercúrio de tubo aberto, tubo em T, mangueiras de borracha resistente à pressão, cilindros de N2 e Ar equipados com reguladores de pressão e válvula de agulha. 3.1.4 Procedimento o aparato experimental é mostrado na Figura 3.2. A "parede porosa" é um disco de vidro sinterizado, selado em um tubo de vidro de 30 mm, cuja extremidade 28 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. inferior é prolongada em 6 a 8 mm e conectada a uma serpentina de cobre (30 m de comprimento e Ij" in de diâmetro) por uma mangueira de borracha. Para que o gás atinja a temperatura ambiente, este é passado por uma serpentina antes de chegar ao tubo de vidro (até o disco sinterizado). A serpentina e a parte inferior do tubo de vidro (acima do disco sinterizado) devem ser isolados para manter a temperatura constante. A outra extremidade da serpentina é conectada a uma fonte de gás a uma pressão de 'l'í a I atm acima da pressão atmosférica. Um manômetro de mercúrio de tubo aberto é usado para medir o ilP. A extremidade superior do tubo de vidro (acima do disco sinterizado) está sempre na pressão atmosférica, mas está termicamente isolada com uma camisa externa preenchida com meio isolante como lã de vidro. ilT é a diferença entre a temperatura do gás acima do disco poroso e a temperatura do gás na saída da serpentina. Para taxas de fluxo lentas em uma serpentina longa, a suposição de que o gás a alta pressão está à temperatura ambiente é bem justificada e o presente esquema é adequado. 1. Montar o aparato conforme mostrado na Fig. 3.2. A fonte de gás deve ser um cilindro equipado com regulador de pressão e uma válvula de agulha. Certifique- se de que a pressão esteja constante. 2. Fechar a válvula agulha e ajustar a válvula principal de fornecimento de gás até que o manômetro regulador indique uma pressão de cerca de 40 psi. Então, abrir muito lentamente a válvula agulha, até que a pressão do sistema (indicado pelo manômetro de mercúrio) seja aumentada a uma velocidade de 5 em de H 9 m :in -I. Continuar o ajuste da válvula agulha até um ilP de 75 em (isto deve levar pelo menos 15 minutos). Se a pressão do gás for aumentada rapidamente no início, a serpentina não será capaz de trazer a corrente de gás inicial à temperatura ambiente e o disco poroso ficará resfriado para abaixo de seu valor no estado estacionário; isso causará uma obtenção muito lenta do valor de ilT no estado estacionário (cerca de 1 hora). Um estado estacionário será alcançado em torno de 15 minutos se todas as variações de pressão forem feitas de forma cuidadosa. A sonda do termômetro deve ficar próxima ao fundo, cerca de 5 a 10 mm acima do disco de vidro sinterizado. O termômetro de vidro deve ser colocado próximo à cela de Joule-Thomson na mesma altura do termômetro digital. 29 Práticas de Físico-Química Cilindro de Gás Ar clou N. Mangueiras de parede grossa pl gás /Manfllnetro Diferencial / Figura 3.2.Aparato do experimento do efeito Joule-Thomso n . 30 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. 3. Anotar as temperaturas do tubo de vidro (termômetro digital) e ambiente (termômetro de vidro) e L\P quando não ocorrer nenhuma variação significante na L\T em um intervalo de 5 minutos. 4. Fechar muito lentamente a válvula agulha para reduzir a queda de pressão L\P em aproximadamente 60 cm. Esta mudança deve levar, pelo menos, 3 minutos. Anotar as temperaturas e L\P. 5. Repetir o procedimento do item 4 para obter dados em L\P = 45,30 e 15 em de Hg. 6. Fazer medidas usando nitrogênio e/ou argônio. 7. Anotar a temperatura ambiente e a pressão atmosférica. 3.1.5 Análise e tratamento dos dados experimentais Para cada gás estudado, fazer o gráfico L\T versus L\P e obter a melhor reta (quedeve passar pela origem). Determinar o coeficiente de Joule- Thomson em graus atm'. Para comparação, calcular os coeficientes de Joule- Thomson para estes gases nesta temperatura a partir das constantes de van der Waals e de Beattie-Bridgeman dadas na Tabela 3.1. As capacidades caloríficas molares à pressão constante C do P N2 e Ar são 0,286 e 0,205 Latm.graus:', respectivamente. 3.2 Razão entre capacidades caloríficas de gases 3.2.1 Introdução A pressão e volume constantes, o método de expansão adiabática pode ser utilizado para determinar a razão entre as capacidades caloríficas de um gás. Serão estudados dois gases e os resultados serão interpretados em termos da contribuição feita ao calor específico pelos vários graus de liberdade molecular, A variação do conteúdo energético em uma expansão adiabática reversível está relacionada com a variação de volume pela equação: dU = -P dV (1) Para um gás perfeito: p = nRT V (2) Práticas de Físico-Química 31 Como U, para um gás perfeito, é uma função apenas da temperatura, tem-se: dU = c, dT (3) em que C, é a capacidade calorífica a volume constante. Assim, substituindo-se as Eqs. (2) e (3) na Eq. (1) e integrando, considerando C, constante na faixa de temperatura envolvida, tem-se: - ~ ~ (4)C, In- = -Rln-::::- T1 V1 em que Cv = capacidade calorífica molar a volume constante 0= volume molar A Eq. (4) prediz a diminuição de temperatura resultante de uma expansão adiabática reversível de um gás ideal. Considere o seguinte processo de duas etapas envolvendo um gás perfeito A: Etapa 1: Expansão adiabática reversível, com a pressão decaindo de P I para P2: A(P1' 01,T1)~A(P2' O2,T2) (5) Etapa 2: Restabelecimento, a volume constante, da temperatura TI: A(P2, °2,T)~A(P3' °2, T1) (6) Utilizando a lei dos gases ideais na etapa I, obtém-se: T2 P2V2-=--- T1 P1V1 (7) Substituindo a Eq. (7) na Eq. (4) tem-se: InP2 = -(Cv +R)ln O2 P1 CV 01 (8) Para um gás ideal: (9) Assim, a Eq. (8) pode ser reescrita na forma: P 2 õ, O 2In- = -=-In-::::- P1 Cv V1 (10) 32 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. Para a etapa 2: (11) Portanto, P1 e, P1In-=-~In- P2 Cy P3 A Eq. (12) pode ser reescrita na forma: õ, logP1 -logP2 õ, logP1 -logP3 Consideremos o cálculo teórico da capacidade calorífica de gases. Desde que estamos interessados nos gases ideais e na aplicação da Eq. (9), a discussão pode ser restringida a C y ' O número de "graus de liberdade" para uma molécula é o número de coordenadas independentes necessárias para especificar sua posição e configuração. Assim, uma molécula de n átomos possui 3n graus de liberdade. Essas coordenadas podem ser as três coordenadas cartesianas dos n átomos individuais, porém, é mais conveniente classificá-Ias como: (12) (13) 1. graus de liberdade translacionais: a especificação do centro de massa de uma molécula necessita de três coordenadas independentes; 2. graus de liberdade rotacionais: moléculas que contêm mais de um átomo requerem uma especificação de sua orientação no espaço. Por exemplo, o modelo de uma molécula diatôrnica rígida consiste em duas massas pontuais (os átomos) conectadas por uma barra rígida sem massa (ligação química). No centro de massa, que se localiza sobre a barra rígida, pode ocorrer a rotação independente em tomo dos dois eixos mutuamente perpendiculares e em tomo da barra rígida. Com base na teoria quântica, em circustâncias normais, a barra rígida não constitui um terceiro eixo de rotação, não havendo, portanto, momento de inércia em tomo deste eixo. Assim, a rotação de uma molécula diatômica, ou de qualquer molécula linear, pode ser descrita em termos de dois graus de liberdade rotacionais. Nas moléculas não lineares, o terceiro eixo possui momento de inércia e dessa forma, constitui um terceiro eixo de rotação. Logo, elas requerem três graus de liberdade rotacionais para a sua descrição; Práticas de Físico-Química 33 3. graus de liberdade vibracionais: o deslocamento dos átomos de suas posições de equilíbrio (vibrações) também deve ser especificado. O número de graus de liberdade vibracionais é 3n - 5, para moléculas lineares e 3n - 6, para moléculas não lineares. De acordo com o teorema da eqüipartição de energia, uma energia de kT/2 está associada com cada termo quadrático na expressão de energia. Portanto, para uma molécula, a cada grau de liberdade translacional e rotacional está associada uma contribuição de kT/2 de energia cinética e para cada grau de liberdade vibracional está associada uma contribuição de kT/2 de energia cinética e kT/2 de energia potencial (por moi de gás, as contribuições correspondentes para a energia são RT/2). Um gás monoatômico não possui energia rotacional nem vibracional, mas possui uma energia translacional de 3/ 2 RT por moI. Portanto, sua capacidade calorífica a volume constante, é: C =(aO) =~R v aT 2 v (14) Para moléculas diatômicas: E = E(trans) +E(rot) +E(vib) (15) Na Eq. (15), não se consideraram as contribuições para a energia dos estados eletrônicos, uma vez que, à temperatura ambiente, elas são insignificantes para a maioria das moléculas e, também, as pequenas energias intramoleculares que ocorrem nos gases reais. Apesar do teorema de eqüipartição ser baseado na mecânica clássica, sua aplicação ao movimento translacional está em concordância com a mecânica quântica. Em temperaturas normais, os resultados rotacionais também estarão em concordância com a mecânica quântica. Assim, a energia vibracional está quantizada e depende fortemente da temperatura; a temperaturas normais, os vários modos vibracionais são parcialmente ativos e o grau de atividade depende fortemente da temperatura. Como regra geral, quanto mais pesados os átomos ou menor a constante de força da ligação (freqüência vibracional mais baixa), mais ativo é um dado grau de liberdade a uma dada temperatura e maior será a sua contribuição para a capacidade calorífica. Além disso, as freqüências dos modos de deformações angulares de ligações tendem a 34 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. ser muito mais baixas do que as de estiramento de ligações. Para a maioria das moléculas diatômicas gasosas, em que o modo univibracional é um estiramento puro, a contribuição vibracional para Cv é muito pequena. Muitas moléculas poliatômicas, especialmente aquelas contendo átomos pesados, à temperatura ambiente, têm uma contribuição vibracional parcial significante para Cv' 3.2.2 Objetivo Calcular a razão Cp / õ, de gases monoatômicos e diatômicos. 3.2.3 Materiais e reagentes Garrafão de 18 L, rolha de borracha com três furos provida de três tubos de cobre, manômetro diferencial de tubo em 'U" aberto, com dibutilftalato como fluido indicador, duas mangueiras de parede grossa para gás; uma pinça de Mohr, barômetro de Torricelli, cilindros de argônio e nitrogênio. 3.2.4 Procedimento Neste experimento utiliza-se o método de Clement e Desormes, cuja montagem é mostrada na Figura 3.3. A mudança (5) é conduzida p~la rápida remoção e substituição da rolha de um garrafão contendo o gás sob uma pressão inicial um pouco maior que I atm (PI), de forma que a pressão do gás no garrafão caia momentaneamente para a pressão P2• A mudança de estado (6) é obtida permitindo que o gás remanescente no garrafão retome a sua temperatura inicial. A pressão P I e a pressão final P3 são lidas no manômetro. As equações termodinâmicas de (1) a (13) se aplicam somente àquela porção de gás que permanece no garrafão após a rolha ser removida. Imagine que o gás, inicialmente, no garrafão esteja dividido em duas partes por uma superficie imaginária; a parte superior da superficie deixa o garrafão quando a rolha é removida e interage irreversivelmente com as vizinhanças; a parte inferior da superfície expande-se reversivelmente contra esta superficie imaginária, realizandotrabalho ao empurrar o gás da parte superior para fora. Este processo pode ser considerado adiabático porque é rápido; dentro de poucos segundos, o gás perto das paredes recebe uma quantidade apreciável de calor pela condução direta das paredes e a pressão eleva- se quase imediatamente após a recolocação da rolha. Práticas de Físico-Química 35 Mangueirus de parede grossa pl gús Manômctro Diferencial / Garrafão de 1S Litros / Tubos de Cobre Figura 3.3 Montagem para expansão adiabática de gases. Cilindro de Gús Ar elou N. 36 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. o experimento pode dar um resultado um pouco mais baixo (P 3 baixo e, portanto, Cp/ Cv baixa) se a expansão possui um grau de irreversibilidade apreciável e se a tampa for deixada aberta por tempo demais, de forma que as condições não fiquem suficientemente adiabáticas, e um resultado um pouco mais alto, se a tampa não for removida por um tempo suficiente para permitir que a pressão caia momentaneamente. Não deve haver irreversibilidade significante se, durante a expansão, não há gradiente de pressão significante no gás abaixo da superfície imaginária e esse gradiente de pressão não deve ser esperado se a área do gargalo é pequena em comparação com a área efetiva dessa superfície imaginária. Com um garrafão de 18 L e uma P I em tomo de 5 em de Hg acima da pressão atmosférica (1 atm), o volume de ar empurrado para fora deve ser em tomo de 1 litro, que deve fornecer uma área superficial suficientemente grande para satisfazer essa condição, se o diâmetro do gargalo não for maior do que cerca de 2 a 3 em. O efeito do tempo em que a rolha fica removida é muito mais difícil de ser estimado por cálculos; uma idéia é obtida a partir da duração do som produzido quando a rolha é removida e a partir da velocidade da elevação da leitura do manômetro imediatamente após a recolocação da rolha. Para este experimento, se a rolha é retirada completamente do garrafão a uma distância de 5 a 8 em e recolocada firmemente o mais rápido possível, as condições experimentais desejadas serão satisfatoriamente satisfeitas. Pode-se obter uma garantia a mais a partir da reprodutibilidade das medidas em duplicata. 1. Montar o equipamento da Figura 3.3. O manômetro é de tubo em U com um dos lados aberto à atmosfera. 2. Fixar a tampa de borracha firmemente no garrafão e abrir o registro A e a pinça B; e fechar o registro C. Deixar o gás circular no garrafão por 10 minutos, em um fluxo em tomo de 100 mL S·I (6 L min'). 3. As conecções mostradas na Figura 3.3 são baseadas na hipótese de que o gás estudado é mais pesado que o ar e, portanto, deve ser introduzido no fundo do garrafão, de forma a forçar o gás mais leve para cima. 4. Retardar o fluxo de gás a uma fração da velocidade de escoamento pelo fechamento parcial do registro A. Abrir cuidadosamente o registro C e, então, cautelosamente, fechar a saída B, mantendo rigorosa vigilância no manômetro. Quando o manômetro atingir uma leitura de cerca de 600 mm, fechar o registro A. 5. Deixar o gás atingir a temperatura ambiente (cerca de 15 minutos), indicada pela leitura constante do manômetro. Anotar esta leitura (PI). Práticas de Físico-Química 37 6. Remover a rolha completamente do garrafão, a uma distância de 5 ou 8 em, e recolocá-Ia em um intervalo de tempo o mais curto possível, certificando-se de que ela ficou firme. Como o gás aquece, a pressão aumenta e, finalmente, após cerca de 15 minutos, atinge novamente um valor constante, que pode ser determinado pela leitura no manômetro, Anotar esta leitura (P3). 7. Repetir as etapas acima para obter mais duas determinações para o mesmo gás. Para estas repetições, não é necessário longo fluxo de gás. 8. Fazer estas medidas para o nitrogênio e o argônio. 9. Medir a pressão atmosférica (P 2) em um barômetro. 10. Anotar a temperatura ambiente. 3.2.5 Utilização dos dados Converter as leituras do manômetro (em de dibutilftalato) em em de Hg, multiplicando-se o valor lido no manômetro pela razão entre as densidades do dibutilftalato e ado mercúrio que, a 20°C, que são, respectivamente, 1,046 e 13,55 g cm'. Para determinar a pressão total no garrafão, adicionar à leitura do manômetro, convertida em mm de Hg, a pressão atmosférica (P2). Calcular a razão Cp/Cvutilizando a Eq. (13). 3.2.6 Resultados a apresentar 1. Valores de Cp/Cv utilizando a Eq. (13). 2. Valores teóricos de Cp/Cv calculados pelo teorema da eqüipartição. 3. Comparar as razões Cp/Cvexperimentais com as calculadas teoricamente e discutir, em termos da presença ou ausência das contribuições rotacionais e vibracionais, tomando o devido cuidado com as incertezas nos valores experimentais. 4 TERMOQUÍMICA 4.1 Entalpia de vaporização da água a partir de medidas da pressão de vapor 4.1.1 Introdução A pressão exercida pelas moléculas de um composto, na fase vapor, de um sistema sólido;::==::: vapor ou líquido ;::==:::vapor, em equilíbrio, é denominada 38 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. pressão de vapor. Esta é função da temperatura e independente da quantidade de partículas presentes nas fases condensada e vapor, bem como do volume que o vapor ocupa. A equação de Clausius-Clapeyron fornece a relação entre a pressão de vapor de um líquido puro e sua temperatura, que pode escrita da seguinte forma: dP ~Hvap ~s -=--=- dT T.~V ~v (1) em queA V é a diferença entre os volumes molares do gás e do líquido, tJ.S é a variação da entropia molar durante o processo e tJ.Hvap é aentalpia de vaporização à temperatura T. Integrando a Equação 1 e considerando que tJ.V ~ Vgãs = RT/P, tem-se: ~Hvap 1 InP=--- -R T (2) em que tJ.Hvap é a entalpia de vaporização molar do líquido e R é a constante dos gases. Estas equações são derivadas a partir de considerações de que as energias livres de Gibbs molar (potencial químico) para um líquido e o vapor são iguais quando eles estão em equilíbrio. Também são envolvidas várias aproximações, entre elas: (1) o volume do vapor é muito maior do que a do líquido vaporizado; (II) o vapor se comporta como gás ideal. Neste experimento, uma amostra de ar é confinada sobre a água, dentro de uma proveta invertida em um béquer. Quando a temperatura é variada, o número de moI de vapor d'água da fase gasosa irá variar conforme a equação de Clausius- Clapeyron, ao passo que o número de moI de ar permanecerá constante. O número de moi do ar na mistura pode ser encontrado, por meio da redução da temperatura, para, aproximadamente soe. esta temperatura, a pressão de vapor d'água é tão pequena que supõe-se que o volume de gás corresponde apenas ao ar presente. Assim, a entalpia de vaporização molar tJ.Hvap pode ser calculada a partir da inclinação do gráfico ln P (a pressão de vapor) versus lIT / Práticas de Físico-Química 39 4.1.2 Objetivo Determinar a entalpia de vaporização da água a partir de medidas das pressões de vapor em várias temperaturas. 4.1.3 Materiai ~entes 'tO,O&. ~,:)O°c.. Proveta de 10 mL, termômetro de vidro, béquer de 600 mL alto, bastão de vidro, bico de Bünsen, água destilada, gelo, ~ ~~ -=fo. I "{l"\..\ '}~~.o" \.0 ',)!? \lr 4.1.4 Procedimento ,..J ~~),,1.1~1o-' .., ~~ '\o-m\.. À(:~ ~~ ",,}f':.. /(' 1. Encher a proveta até, aproximadamente, 80% de seu volume total com água ·~\o.' T"I~ ~ YC -,,>SJI" ~ destilada. Tapàr-a boca da proveta com o dedo e rapidamente inverter e mergulhar' a proveta dentro do béquer alto previamente preenchido com água de torneira. Uma amostra de ar de 3:313~m- ' ~~onfinada dentro do cilindro (a montagem é An - mostrada na Figura 4.1). ~~~este volume e a temperatura. 2.-Se-fieeessá-Fif>-,a-l@o~ar-Illaiságua dentro do béquer, para garantir que toda . ;..-> \.A a proveta esteja rodeada pela água. A~ cOIp um bico de Bünsen até, . ~~o......;,. "J..c; "Ot:/!Yl~"r(). \ 3"1'l'.Jrl> ':>. c, ~Q\,dJvl"Y'~- aproximadamente.gsca'"·:mCê· ~_q«e~; netar=õ emp~ _ti4iUiál?~~ 1lP,,,,,,,,,.,,:r ..,~ . ".."..._c~ VJrt1 ~JJr~ d,L'\O~YY133 ~v~ Y'lo.!>v(y",*,- ~OvTY~ Ov '.-'-'=/"-"" ..•.•0\;1'1"<> • -~ J-~~, ~ I 3. Quando o volume do gás confinado se ~~i' além da escala da proveta, NNV\~ bi d B ,. &fxiif' ' f . I ~ ....,.n. AT,';'~~r o ICO e uns~n e . a agua res ~Jar entamente. ~ ~~ê.e:là.t<t.ait,'2Íai.c<i:a.tde.~tu:r::as:4i~lR~I'l-:er~~-'G:o.m'2.pr~e~cel~ ; ,""'~.;, ~; a·~nie.~~g.~r~~!tÍP..dp ~e;td:i:ê1;R~~~_ Durante o resfriamento da água, ~ diversas Pc medidas de temperatura e volu~m intervalos de º~~até temperatura ~I 5 . (~~~~ci.O$®l(B:e~e~ ~Ieituras de temperatura e volume ) '5'l,s"e ~ 4, Após a temperatura ter chegado a ~, ~ a água rapidamente para menos que soC, adicionando gelo. ~ volume de ar e a temperatura da água 10minutos após chegar a, aproximadamente, s-e. S ,~'(\~ bi - c' ., ~-n:o:tara temperatura am lente e a pressao atmosrenca. c i 40 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. Figura 4.1. Montagem do aparato para determinação da entalpia de vaporização da água. 4.1.5 Análise e tratamento dos dados experimentais 1. Fazer as correções de todas as leituras de volume subtraindo de 0,2 em' para compensar o menisco invertido. Utilizando-se os valores de volume e Práticas de Físico-Química 41 temperatura medidos na etapa 4 e da pressão atmosférica, calcular o número de moi do ar confinado (naJ Considere que a pressão de vapor de água é desprezível comparada com a pressão atmosférica a baixas temperaturas. 2. Para cada temperatura, entre 80° e 50°C, da etapa 3, calcular a pressão parcial do ar na mistura gasosa: p = narRT ar V 3. Calcular a pressão de vapor da água em cada temperatura: (4) (5) . Fazer o gráfi o de I P,,0 versus 1 e obter a melhor reta. -. Determinar a entalpia de raporização molar MIvap a partir da inclinação. 6. Determinar, a partir dos dados experimentais, o ponto de ebulição da água por eXlrapol~.!<:>da reta a P = 760 mmHg. 7. Discutir as principais fontes de erro. 4.2 Calor de neutralização 4.2.1 Introdução o calor de reação entre um ácido e uma base é denominado calor de neutralização. As soluções diluídas de ácidos e bases fortes podem ser consideradas tendo os seus solutos completamente dissociados. Quando soluções diluídas de ácidos fortes monopróticos são neutralizadas com soluções diluídas de bases fortes, o calor de neutralização liberado, por moI de água formado, é praticamente constante e independente da natureza dos elementos que constituem o ácido e a base (o ametal e o metal). O valor médio encontrado para o calor de neutralização, para as reações de neutralização de ácidos e bases fortes nas CNATP (1 bar e 25°C), é de 57,3 kJ mal-I que podem ser resumidas em: L'lH~98 = -57,3 kJ rnol' em que L'lH~98 é o calor de neutralização ou entalpia padrão de neutralização. 42 MAGRIOTlS, Z. M. & RAMALHO, T. C. Nas soluções diluídas de ácidos e bases fracos, estes se encontram parcialmente dissociados ou ionizados. Assim, para as reações de neutralização de ácidos ou bases fracos, o calor de neutralização depende do grau de ionização dessas substâncias. O calor de neutralização pode ser determinado por calorimetria. Um calorímetro é fundamentalmente constituído de um frasco térmico (de Dewar), um termômetro, um agitador e uma rolha. Em um calorímetro isolado adiabaticamente, o calor liberado durante a neutralização é igual à quantidade de calor recebida pelo calorímetro. A quantidade total de calor Q pode ser medida pela elevação da temperatura do sistema durante o processo. Assim, se duas soluções, uma de um ácido forte e outra de uma base forte, são misturadas em um calorímetro, que se encontra à temperatura To' haverá um aumento de temperatura (L'lT = T, - T) devido ao calor liberado pela reação de neutralização. O aumento de temperatura é proporcional à energia transferida e a constante de proporcionalidade é chamada de capacidade calorífica do calorímetro (Ccal)' Parte desse calor é gasto para aquecer também os diversos componentes do calorímetro. Dessa forma, é necessário conhecer a capacidade calorífica do calorímetro e da solução. A capacidade calorífica é a quantidade de calor absorvida por graus Celsius de aumento da temperatura. 4.2.2 Objetivo Determinar o calor de neutralização de um ácido forte por uma base forte, e de um ácido fraco por uma base forte. 4.2.3 Materiais e reagentes ,. Frascos térmicos de 250 mL (garrafas térmicas), termômetro de 0° a 50°C, cronômetro, provetas de 100 mL, 3 béqueres de 250 mL, soluções de ácido clorídrico 1,00 moi L·I, ácido acético 1,00 moI L·I e de NaOH 1,00 moi L·I, gelo e um bastão de vidro. 4.2.4 Procedimento 4.2.4.1 Determinação da capacidade calorífica do calorímetro 1. Montar o calorímetro conforme esquema da Figura 4.2. Práticas de Físico-Química 43 Frasco de Dewar Figura 4.2. Esquema de um calorímetro. 1. Colocar, no frasco térmico, 200,0 em' de água destilada, à temperatura ambiente. 2. Agitar a água e fazer, tomando nota, leituras da temperatura, em intervalos de 30 segundos, até que ela se mantenha constante. 3. Verter rapidamente, dentro do frasco térmico do calorímetro, 50,0 em' de água gelada, de temperatura conhecida e anotada, e tampar o frasco térmico. 4. Agitar a mistura imediatamente após a adição da água gelada à água do calorímetro e, anotando, fazer leituras de temperatura a cada 30 segundos, até que ela tenha atinja um valor constante. 5. Lavar o calorímetro, secar e repetir o procedimento por mais duas vezes. 4.2.4.2 Determinação do calor de neutralização 1. Montar dois calorírnetros, A (ácido) e B (NaOH) conforme o esquema da Figura 4.2. O termômetro deve ser o mesmo para os dois calorímetros e, no início da experiência deve estar no calorímetro A. A base deve ser colocada no mesmo frasco utilizado no procedimento anterior para a determinação da capacidade calorífica. 2. Medir 140,0 em' do ácido e transferi-los para o frasco térmico A, limpo e seco. Fechar e agitar o frasco, de maneira a molhar as paredes do frasco, o agitador e o termômetro. 3. Retirar a solução do ácido, colocando-a em um béquer. 4. Medir 125,0 em' deste ácido e transferi-Ios novamente para o mesmo frasco térmico A. 5. Medir 125,0 em' de NaOH e transferi-Ios para o frasco térmico B. ". 44 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. 6. Com o frasco térmico A aberto, e com o termômetro mergulhado na solução do ácido, fazer leituras de temperatura, com intervalos de 30 segundos, até o equilíbrio ser atingido. 7. Retirar o termômetro, lavá-Io, secá-lo e, em seguida, rnergulhá-lo na solução da base do frasco térmico B. 8. Com o frasco térmico B aberto, fazer leituras de temperatura, com intervalos de 30 segundos, até o equilíbrio ser atingido. 9. Transferir rapidamente os 125,0 em' da solução de ácido do calorírnetro A para o calorímetro B. Fechar imediatamente o calorímetro com a rolha e com o termômetro mergulhado na solução resultante. 10. Agitar a mistura e fazer leituras de temperatura a cada 30 segundos, até que a temperatura atinja o equilíbrio térmico. 11. Fazer o procedimento para os dois ácidos. 12. Anotar a temperatura ambiente e a pressão atmosférica. 4.2.5 Utilização dos Dados No cálculo da capacidade calorífica do calorímetro, considera-se o fato de que o calor ganho pelos 50,0 em' de água gelada é igual, numericamente, ao calor perdido pelo calorímetro e os 200,0 em' de água. Esta igualdade é representada pela equação: 0agUagel = 0cal + 0agua (1) Como 0= m.c. 6.T: (2) em que: Tf= temperatura final do sistema do calorímetro; Ti = temperatura inicial da água gelada 6.T = variação de temperatura do calorímetro Para os cálculos, considerar a densidade da água igual a 1,00 g.cm' e a sua capacidade calorífica igual a 1 cal.°C'lg'l. Na neutralização dos 125,0 em' da solução de ácido 1,00 mol.L:I, a elevação da temperatura no sistema do calorímetro (soluções, frasco, agitador e termômetro) Práticas de Físico-Química 4S é, portanto, devido à liberação de calor associado à neutralização de 0,125 moI de ácido ou de base. Esta quantidade de calor é dada pela equação: (3) em que: TA e ~ T 3 ão as elevações de temperatura das soluções do ácido e da base respectivamenre, e C é a capacidade calorífica do calorímetro. Como as olu ões são diluídas suas densidades e suas capacidades caloríficas podem er onsi eradas iguais à da água, com valores unitários. _.6 R! ultados a apresentar L Capa idade calorifica do calorímetro. _. O calor de neutralização. 3. Valor de 6H por moi de ácido (ou base) neutralizado. 4. Causas de erro. 4.3 Calor médio de díssoluçãq 4.3.1 Introdução A variação de entalpia pode ser determinada sem utilizar um calorímetro, como no caso do estudo da solubilidade dos sólidos em função da temperatura. Numa solução saturada, a uma determinada temperatura, a forma cristalina e a forma dissolvida estão em equilíbrio. Assim, uma variação na temperatura pode causar uma variação na concentração da solução. O calor de dissolução pode ser determinado por se conhecer que a fração molar do soluto na solução saturada a pressão constante, em função da temperatura, é, a partir da equação de van't Hoff dada por: t.HO 1 InX= ----+cons tanteR T (1) em que 6Ho é o calor padrão de dissolução por moi à temperatura T. O calor médio de dissolução pode, então, ser determinado pela inclinação da reta ln X versus TI. 46 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. 4.3.2 Objetivo Determinar o calor médio de dissolução do ácido benzóico em água, em função da concentração. 4.3.3 Materiais e reagentes Béquer de 600 mL, proveta de 10 mL, proveta de 500 mL, proveta de 100 mL, pipetas volumétricas de 25 rnL, termômetro 0°-100°C, erlenmeyers de 125 mL com tampa, placa de aquecimento com agitação, ácido benzóico, hidróxido de sódio 0,1 M, fenolftaleína, lã de vidro (ou algodão). 4.3.4 Procedimento 1. Pesar cuidadosamente 8 erlenmeyers de 125 mL tampados, limpos e secos. 2. Em um béquer de 600 mL, preparar uma solução de 500 mL de ~gua destilada saturada em 4,500 g de ácido benzóico, à temperatura de 50°C, com agitação. 3. Colocar, na solução, uma pipeta volumétrica de 25 mL e, após atingir o equilíbrio térmico (aproximadamente 15 minutos), pipetar exatamente 25 mL desta solução (Figura 4.3). Utilizar um filtro de lã de vidro (ou algodão) na extremidade da pipeta para evitar a entrada de cristais. Anotar a temperatura média desta operação. 4. Descarregar a pipeta em um dos erlenrneyers previamente pesado e determinar a massa da solução à temperatura ambiente. 5. Adicionar algumas gotas de fenolftaleína no erlenmeyer com a solução e titular com hidróxido de sódio 0,1 M. Anotar o volume de base gasto na titulação. 6. Repitir os itens 3, 4 e 5 nas temperaturas de 45°C, 40°C e 35°C. 7. Fazer cada medida em duplicata. 4.3.5 Utilização dos dados A partir da massa determinada no item 4, calcular o volume exato da solução recolhida, considerando sua densidade igual a 1,0 g.cm'. A partir dos volumes de hidróxido de sódio gastos nas titulações, calcular as solubilidades do ácido benzóico, em gramas por 1OOgde água e em frações molares, para cada temperatura. Práticas de Físico-Química 47 Figura 4.3. Montagem do experimento de calor médio de dissolução. Fazer o gráfico ln X vs TI e determinar o coeficiente angular da reta. Determinar o valor do calor médio de dissolução (L1HO). 4.3.6 Resultados a apresentar 1. Tabela 4.1 preenchida. Tabela 4.1 T (K) Solubilidade do ácido benzóico (g / IOOmLde água) x InX 48 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. 2. Gráfico In X vs TI. 3. Calor médio de dissolução 4. Comparar o calor médio de dissolução determinado experimentalmente com os valores encontrados na literatura. 5. Fontes de erros. 5SOLUÇÕES 5.1 Determinação da massa molar por crioscopia 5.1.1 Introdução A presença de um soluto afeta as propriedades físicas do sol vente. Propriedades fisicas de soluções diluídas que dependem dos números relativos de moléculas de soluto e solvente e não da identidade química do soluto são chamadas propriedades coligativas. As quatro propriedades coligativas mais importantes são o abaixamento da pressão de vapor do solvente, o aumento do ponto de ebulição, o abaixamento do ponto de congelamento e a osmose. Estas propriedades têm em comum o fato da presença de um soluto, independente d~ sua natureza, diminuir o potencial químico do solvente no estado líquido, de tal forma que o equilíbrio com a fase vapor (para solutos não voláteis) ou com a fase sólida seja estabelecido em temperaturas diferentes, a uma dada pressão, ou a pressões diferentes a uma dada temperatura. O abaixamento crioscópico do sol vente ocorre porque seu potencial químico na solução é menor que o do líquido puro, enquanto que o da fase sólida (considerando-a constituída de solvente puro) permanece o mesmo. Então, para restabelecer o equilíbrio entre as duas fases do solvente, a temperatura dever ser diminuída. A condição necessária para uma solução (considerada ideal) estar em equilíbrio com o solvente sólido puro é a de que os potenciais químicos das duas fases sejam iguais: IlA(I)(T,P,x) = IlA(s)(T,P) em que: IlA(I)(T,P,x)= potencial químico do solvente na solução IlA(S)(T,P)= potencial químico do sólido puro (1) Práticas de Físico-Química 49 T = temperatura de equilíbrio (ponto de congelamento da solução) A temperatura de equilíbrio na Equação (1) é função da pressão e da fração molar do solvente na solução. Assim, à pressão constante, a temperatura é função somente da fraçãomolar. IJ.~(I)(T,P)+ RTlnxA = 1J.~(s)(T,P) em que: xA= fração molar do líquido (A) IJ.~(I)(T,P)= potencial químico do líquido (A) puro 1J.~(s)(T,P)= potencial químico do sólido (A) puro O lado esquerdo da Equação (2) representa o potencial químico do solvente (A) na solução e o direito, o do sólido puro. A diferença de potenciais químicos desta equação identifica-se com a energia de Gibbs de fusão do solvente. A partir da Equação (2), supondo que o abaixamento crioscópico (L\Tf) seja menor que a temperatura de fusão do solvente puro, o que permite usar a aproximação de que as capacidades caloríficas do solvente nos dois estados (sólido e líquido) são independentes da temperatura e, ainda a aproximação de que soluções diluídas de não-eletrólitos comportam-se como soluções diluídas ideais, obtém-se a equação: (2) (3) em que: mA= massa do solvente (g) ms = massa do soluto (g) M; = massa molar do soluto (g mol') Kc = constante crioscópica do solvente (K kg mol') L\T f = abaixamento crioscópico (K) = T* - T sendo T* e T as temperaturas do solvente puro e em solução, respectivamente A constante crioscópica pode ser calculada pela relação: (4) em que: T* f = temperatura de fusão do solvente puro MA= massa molar do solvente 50 MAGRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. 6H* f = calor de fusão molar do solvente puro R = constante universal dos gases 5.1.2 Objetivo Determinar a massa molar de substâncias por meio da crioscopia. 5.1.3 Materiais e reagentes Pipeta graduada de 0,2 mL, termômetro, garras, suporte, béquer, tubos de ensaio, agitador, gelo, terc-butanol, acetona; hexano, etanol, água destilada. 5.1.4 Procedimento 1. Montar um sistema como o da Figura 5.1. gitador Terrnômet f--c f-B A D I--- A ro Figura 5.1. Montagem do experimento de crioscopia. I. No béquer (A), colocar, aproximadamente, 200 mL de água. Colocar no seu centro o tubo externo (B) vazio e, no centro deste, o tubo interno (C), ambos fixados em suporte universal por garras. 2. Pesar 3,909 g de terc-butanol no tubo C. 3. Introduzir o termômetro sem deixar o bulbo encostar nas paredes do vidro.Com agitação vertical, fazer leituras de temperaturas, introduzindo água gelada no béquer. Anotar o ponto de congelamento do terc-butanol. 4. Após a leitura, retirar o tubo C e aquecê-lo com as mãos para provocar a fusão do solvente. Práticas de Físico-Química 51 5. Colocar o tubo de ensaio novamente dentro do sistema da Figura 5.l. Repetir os procedimentos 4 e 5. As temperaturas não devem diferir mais que 2°C. 6. Adicionar 0,08 mL de soluto (acetona), com pipeta graduada de 0,2 mL, ao terc-butanol do tubo C. 7. Repetir todo o ciclo de medida de temperatura (procedimentos 4 e 5). 8. Repetir o processo do item 6 adicionando 0,04 mL de cada vez, até que o volume total do soluto adicionado seja 0,2 ml.. 9. Repetir o processo dos itens 6 a 8 utilizando os outros solutos (hexano, etanol e água). 5.1.5 Utilização dos dados A Equação (3) pode ser escrita em termos das densidades dos solutos: M - Kc·1000.dsVs (5) me - .(\T(.3.909 A partir da equação (5), preencher a Tabela 1 e construir o gráfico do abaixamento crioscópico (LlT f) versus o volume de soluto adicionado (VB). Determinar as massas molares dos solutos. 5.1.6 Resultados a Apresentar 1.Tabela 5.1 contendo os abaixamentos crioscópicos obtidos com os diferentes solutos adicionados. Tabela 5.1 Soluto 0,080 mL 0,120 mL 0,160 mL 0,200mL Acetona Hexano Etanol Água 2. Construir, a partir dos dados da Tabela 1, um gráfico, para cada soluto, do abaixamento crioscópico (LlTf) versus o volume de soluto adicionado (VB) e, pelos coeficientes angulares, determinar as massas molares dos solutos. 3. Comparar com os valores de massas molares obtidos com os valores da literatura. 52 l\1..<\GRIOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. 5.2 Determinação do coeficiente de partição 5.2.1 Introdução Quando uma substância Z, solúvel em dois solventes imiscíveis (ou cuja solubilidade mútua pode ser considerável desprezível) é agitada com uma mistura de ambos, no equilíbrio, os potenciais químicos desta substância nas duas fases se igualam. Assim, ela se distribui entre eles de acordo com a lei de distribuição de Nemst. Para um sistema no qual a substância apresenta a mesma forma molecular nos dois sol ventes: Z (fase B) -',- Z (fase A) No equilíbrio tem-se que: K = az(fase A) az(faseB) (1) em que K é a constante de equilíbrio, a/fase A) e az(fase B) são as atividades do soluto Z nas fases A e B, respectivamente. Para soluções diluídas a atividade pode ser expressa em termos de concentração. Assim, a Equação (1) pode ser escrita da forma: K= CZA CZB (2) em que: K = coeficiente de partição (constante de equilíbrio) CZA e CZB = concentrações ou as solubilidades do soluto em cada um dos solventes. Para um sistema em que as moléculas do soluto se associam em um dos solventes, por exemplo, solvente B: (3) Zn (fase B) ~ n Z (fase A) a expressão da constante de equilíbrio para o sistema será: Práticas de Físico-Química 53 \ em que: K = coeficiente de partição (constante de equilíbrio) CZA e CZB = concentrações ou as solubilidades do soluto em cada um dos solventes. n = grau de associação das moléculas do soluto Z em presença do solvente B. A expressão (3), na forma logarítmica, resulta em: InCZB=-lnK+nlnCZA (4) Assim, através do gráfico ln CZB versus ln CZA' o coeficiente de partição (K) e o grau de associação do soluto (n) podem ser determinados a partir dos coeficientes linear e angular, respecti vamente. O coeficiente de partição (K) é uma constante de equilíbrio, assim, depende da temperatura e da natureza dos solventes e do soluto. 5.2.2 Objetivo Determinar o coeficiente de partição do ácido acético entre água e clorofórmio, e o grau de associação do ácido acético na fase orgânica. 5.2.3 Materiais e reagentes Funis de separação, buretas de 50 mL, provetas de 25 mL,pipeta volumétrica de 2 e 5 mL, pipeta graduada de lmL, erlenmeyers de 125 mL, béqueres de 50 mL, ácido acético, clorofórmio, água destilada, solução de NaOH; 0,025 moJ.L-1 e 0,050 moJ.L-1, e fenolftaleína . .: 5.2A:Procedimento 1. Colocar em 6 funis de separação limpos, secos e numerados, 25,0 mL de água destilada e 25,0 mL de clorofórmio. ~ ól.J ::3 ~ 5 <ê 2. Nos funis numerados, adicionar, respectivamente, 0,2; 0,3; 0,5; 0,7; 0,9 e 1,1 mL de ácido acético. Tampar e agitar os funis durante 5 a 8 minutos, tendo o cuidado para não aquecer os líquidos com o calor da mão. 3. Deixar os funis em repouso até a completa separação das fases. 4. Transferir a camada líquida inferior, fase orgânica, de cada funil para um béquer. Desprezar a mistura da zona da interface e conservar a fase aquosa no funil. 5. Com o auxílio de uma pipeta, transferir 3 alíquotas de 5,0 mL da fase orgânica, 3 erlenmeyers. 54 MAGRlOTIS, Z. M. & RAMALHO, T. C. 6. Adicionar 25,0 mL de água destilada e uma gota de fenolftaleína a cada erlenmeyer. Titular a solução com NaOH 0,025 mol.L"; anotando o volume de hidróxido gasto. 7. Transferir a fase aquosa de cada funil de separação para um béquer. 8. Transferir 3 alíquotas de 2,0 mL da fase aquosa para 3 erlenmeyers. 9. Adicionar 25,0 mL de água destilada e uma gota de fenolftaleína a cada erlenmeyer. Titular a solução com NaOH 0,050 mol.L:', anotando o volume de hidróxido gasto. 10. Anotar a temperatura ambiente e a pressão atmosférica. 5.2.5 Utilização dos dados Com os valores médios dos volumes de hidróxido de sódio gastos nas titulações, calcular as concentrações do ácido acético nas fases aquosa (C) e orgânica (Cz). 5.2.6 Resultados a apresentar 1. Tabela 5.2 preenchida. Tabela 5.2 v Ac Fase orgânica Fase aquosa (rnL) VI V2 V3 Vm CZB VI V2 V3 Vm CZA (rnL) (rnL) (rnL) (rnL) (rnolL1) (rnL) (rnL) (rnL) (rnL) (mo I.L'I) ~~ 0,2 !,1-\ ~,CD 1/, r" TA -=t,30,3 .Q"O N,O 11C\ \)0 9}C, Cj}0 C1/1-~()'~0 0,5 3,5 313 .31~ ~\~ P-lJO! ~13 P->1'1C)~ 0,7 5,<0 5,1 SICO ~IO tlOjL éXJ}d..> 0,9 1\ ~ -=ll~ &,0 ~tf3}~ 13)CQ ~~ !,! ~1,O IIO,i '\°l'i O' 13l-\ IJõ lajO) 2. Gráfico ln CZB x ln eZA 3. Valores de K e n 4. Interpretar o valor de "n" encontrado, considerando uma eventual associação das moléculas do ácido acético na fase orgânica. ~--.-----~~-----------------------------------~~--------------~~--- Práticas de Físico-Química 55 5.3 Detecção da ligação hidrogênio por espectrofotometria na região do infravermelho 5.3.1 Introdução A freqüência de vibração de uma molécula AB é dada por: (1) Em que v é a: freqüência do estiramento do grupamento AB, mA e mB são as massas dos átomos A e B, respectivamente e "k" é a constante de força da ligação AB. Esta equação mostra que a freqüência de vibração de estiramento depende da massa das massas dos átomos que vibram. Desse modo, cada grupo de átomos AB deve apresentar uma freqüência que lhe é característica. Contudo, observam- se, experimentalmente, certas vibrações destas freqüências características. Essas vibrações são oriundas de fatores que modificam a constante de força da ligação de hidrogênio, complexação, etc. e ou origem intramolecular (efeitos eletrônicos, est~ficos, etc.). Por exemplo, o número de onda de vibração de estiramento -OH, dos álcoois em solução diluída, aparece em tomo de 3.600 em:'. Em soluções concentradas ou no estado sólido, aparece em tomo de 3.300 cm' ou mesmo a 2.200 cm'. A formação da ligação hidrogênio entre as moléculas de álcool é responsável pelas modificações. Em outras palavras, a freqüência da vibração do grupo -OH livre é diferente da do grupo -OH, que contém o hidrogênio ligado. Este fato permite determinar a constante de equilíbrio da reação de formação de um composto hidrogênio ligado: AH + B ~ AH ...B Conhecendo-se as concentrações do composto hidrogênio ligado e dos reagentes livres, na maioria das vezes, conhecem-se as concentrações iniciais de AH e B. Após a reação atingir o equilíbrio, [AH], = [AH]o - [AH...B]
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