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Historia Moderna
Aula 01 – A invenção da modernidade
INTRODUÇÃO
A disciplina História Moderna das Transformações do Feudalismo as Reformas Religiosas visa comparar as abordagens da historiografia tradicional, que pensa a Idade Moderna como um momento de ruptura com os valores medievais e da nova história, que analisa as continuidades e heranças do medievo na modernidade. Estabelecer a operacionalidade dos conceitos fundamentais da modernidade, como estado, burguesia, classe social e poder, identificar os novos elementos trazidos pelo pensamento renascentista para o mundo moderno, além de avaliar a importância das reformas religiosas para a concepção de modernidade.
Nesta aula, questionaremos o conceito de modernidade, partindo do marco da história tradicional para o início desta era – a tomada de Constantinopla. Faremos um contraponto entre a visão da historiografia clássica com as novas abordagens sobre modernidade, além de analisar alguns dos conceitos chave para a compreensão do mundo moderno.
MATERIAL DIDÁTICO
ANDERSON, Perry. Linhagens do estado absolutista. São Paulo: Brasiliense, 1998.
OBJETIVO DA AULA 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Identificar as diferentes abordagens;
2. historiográficas acerca da concepção de Idade Moderna;
3. reconhecer a abordagem tradicional e seus argumentos fundadores;
4. avaliar os conceitos chave para a compreensão de modernidade.
APRENDA MAIS
A obra História e memória traz artigos sobre o que discutimos nesta aula, em especial, sobre a questão da periodização em História e a mudança na maneira de conceber e interpretar fatos e fontes históricas, que caracteriza a passagem dentre as diversas eras e, no nosso caso, entre a concepção medieval e moderna. Podemos acessar os artigos neste endereço:
http://xa.yimg.com/kq/groups/19906282/820661633/name/LE_GOFF_HistoriaEMemoria.pdf.
Quando falamos em História 
do ocidente até a tomada de Constantinopla em 1453.
Idade Moderna: Da Tomada de Constantinopla Moderna, a primeira questão que nos chama a atenção é, mas afinal o que é moderno? No nosso dia a dia, muitas vezes nos referimos ao conceito de moderno ao fazermos menção a um filme, uma roupa ou um livro.
Em História, a modernidade possui muitos sentidos, que foram mudando ao longo do tempo e da interpretação que os historiadores fazem desse termo. Para começar a entender esse conceito, temos que nos remeter à periodização clássica em História. Vamos lá!
Classicamente, a história está dividida em períodos, ou eras. Cada um desses períodos tem como marco inicial e final algum evento que os historiadores da época consideraram transformador.
Idade Antiga: Da Invenção da escrita até a queda do Império Romano do ocidente, no século V d.C.
Idade Média: Da queda do Império Romano até a Revolução Francesa, em 1789
Idade Contemporânea: Da revolução Francesa até nossos dias.
É claro que esta periodização possui muitos problemas, não é? Não podemos comparar o homem de nossos dias àquele da Revolução Francesa. Também não podemos dizer que o homem moderno rompeu completamente com o homem medieval. Além disso, essa periodização foi feita a partir do ponto de vista dos historiadores europeus. Assim, acaba considerando eventos que são importantes, sobretudo, para a Europa. Entretanto, durante décadas, foi esse modo de pensar que lançou as bases do pensamento histórico que, agora, questionamos.
O que podemos concluir? Que estas eras se basearam naquilo que era considerado como uma grande ruptura. É por isso que quando falamos de Idade Moderna, pensamos imediatamente em grandes transformações. É claro que ocorreram grandes transformações, mas elas não aconteceram de repente, nem de uma hora para outra. Como todo processo histórico, a mudança foi lenta. É por isso que podemos dizer que existe muito de medieval no homem moderno.
Vamos voltar um pouco no tempo, até o final da Idade Média, para podermos perceber essa transição entre medieval e moderno.
A Idade média está dividida em alta e baixa idade média, sendo:
Alta idade média: Começa no seculo V e vai até o ano 1000 d.c., o sistema feudal esta em seu apogeu.
Baixa idade média: Começa no seculo XI e mostra a estrutura feudal enfrentando seu desgaste, culminando em sua extinsão progressiva.
No século XIV, a Idade Média vive sua grande crise. Um dos grandes responsáveis foi a peste negra, que dizimou boa parte da população europeia. A peste, que atingiu boa parte do campesinato, provocou um enorme ciclo de fome e miséria na Europa, levando a grandes motins e a uma enorme fuga do campo.
As áreas em verde cobrem a pequena parte da Europa onde a peste não provocou uma enorme mortandade. O que deve ser enfatizado é a maneira como ela atingiu boa parte do continente e a imensa devastação demográfica que provocou. 
A igreja buscava culpados espirituais, e todo aquele que não era cristão foi duramente perseguido, como ocorreu com os judeus.
Durante a Idade Média, os burgos abrigavam, sobretudo, artesãos e pequenos comerciantes.
Com o renascimento urbano, estes burgos cresceram, consolidando as cidades. Seus habitantes eram chamados de burgueses e daí a denominação desta nova classe social, associada aos comerciantes.
Com o crescimento das cidades, o comércio se desenvolveu e o trabalho passou a ser organizado em corporações de ofício ou guildas.  Com o fortalecimento dessas instituições, nasciam novas formas administrativas. Algumas cidades se organizam em repúblicas ou comunas, e isso faz com que os burgueses possam concentrar em suas mãos poderes políticos e administrativos e, consequentemente, consolidar seu negócio.	
Se a terra era o indício de poder e riqueza durante a Idade Média, na Idade Moderna o comércio e os metais preciosos adquirem esta função. Reside aí uma das maiores “transformações” deste período: o significado de riqueza e prosperidade. A partir dessa noção,  novas políticas foram empreendidas e o comércio foi o motor dessas mudanças.
Mas, vejam só...estamos falando de RENASCIMENTO e não de SURGIMENTO.
E o que isso quer dizer?
Apesar do centro da vida medieval estar concentrado nos feudos  e, portanto, nos campos, as cidades jamais desapareceram. Durante a Idade Média elas perderam sua relevância  político-social, mas nunca deixaram de existir. Por isso, quando chegamos ao século XV, estamos falando de renascimento urbano. Isso quer dizer que as cidades readquirem importância e passam a ser importantes nos centros comerciais e políticos.
Com a crise agrícola, o feudo, principal unidade produtiva da Idade Média, começou a ruir. Na França, ocorreram as jacqueries, levantes camponeses contra a situação que se agravava cada vez mais. Se lembrarmos que boa parte da estrutura feudal se baseava na relação senhor e servo, essas revoltas indicam o esgarçamento desta relação e o surgimento progressivo de uma nova ordem social, na qual os senhores feudais veriam seus poderes diminuídos.
Somamos a isso as crises dinásticas, a disputa por territórios e o movimento cruzadista, que começara no século XI, além do quadro da crise que pôs fim à Idade Média. Se durante o período medieval, o centro socioeconômico estava no campo, isso começa a mudar com o renascimento urbano. Não é à toa que as cidades serão o coração sociopolítico da Idade Moderna.
Vamos falar agora de uma questão super importante quando nos referimos à ideia de transição de um mundo medieval para o moderno: a economia.
Economia agricula
Sem dúvida, existem várias áreas em que podemos observar a mudança da mentalidade medieval para a moderna, mas poucas delas são tão evidentes como as mudanças econômicas operadas nesta época. Durante a Idade Média, a terra gerava a riqueza, a economia era agrária e todas as relações sociais se desenvolviam a partir desse princípio.
Circulação de moedas
Na Idade Moderna, a circulação de moeda ganha importância e são necessários metais preciosos para cunhá-las, o que vai ser um dos motores das grandes navegações, que veremos mais adiante. Isso quer dizer que não existiamoeda na Idade Média?
Troca agricula
De jeito nenhum! Assim como as cidades, as moedas nunca desapareceram. Entretanto, cada feudo tinha sua própria unidade monetária e grande parte da economia se desenvolvia a partir da troca do excedente agrícola.  Agora que temos a mudança do eixo econômico do campo para a cidade, a moeda readquire sua importância, mas... qual moeda? Se cada feudo tinha uma moeda, qual deveria ser adotada?
Moeda única
A unificação da moeda é um dos pontos fundamentais para compreendermos a centralização dos estados nacionais. Para que uma única moeda seja utilizada como padrão, é necessário que exista um poder central que a determine. Como na Idade Média este poder não existia, tampouco poderia haver uma moeda única,  a unidade monetária é mais uma das características que distinguem uma era da outra. O que queremos demonstrar com isso é que, na verdade, não há uma ruptura súbita de valores e modelos sociais, mas uma transformação lenta e progressiva. Todos os fatores, políticos, sociais e econômicos estão interligados neste momento de transição.
O grande questionamento que fazemos com relação a este momento da Idade Moderna é o que leva, então, a este período ser agora chamado de moderno.
Temos que atentar exatamente para estas descontinuidades. A mudança do eixo econômico do campo para a cidade, a perda de poder dos senhores feudais, o renascimento urbano, a proeminência da burguesia, a circulação monetária, todos esses fatores vão formar a Idade Moderna e o “novo homem” que surge com ela.
Ao estudarmos história, muitas vezes perdemos a dimensão humana destes fenômenos. É como se os fatos simplesmente se sucedessem, sem nos darmos conta de que há indivíduos por trás deles.  Isso é algo que devemos ter em mente o tempo inteiro, que a história é feita por pessoas como nós, cada um fruto de seu próprio tempo.
Por isso, quando começamos a falar sobre as grandes periodizações, começamos também a questioná-las. Mesmo que tomemos os grandes marcos históricos como ponto de partida, eles não são absolutos. O historiador italiano Beneddeto Croce se referia a esta periodização como importantes para a memória, mas não temos que ficar amarrados a ela.
Os marcos históricos não devem servir para engessar o pensamento, e sim como ponto de partida para novas interpretações da história.  Nesse sentido, é enorme a contribuição da Escola dos Annales para questionar as grandes linhas de pensamento histórico.
Os Annales vão revolucionar a historiografia à medida que consideram os indivíduos envolvidos no processo histórico. Nasce aí a chamada história das mentalidades, e é sobre ela que discutiremos agora para entender a mentalidade do homem moderno.
Fernand Braudel, em sua obra principal, O Mediterrâneo, vai dividir o tempo histórico em três grandes períodos, que podemos dispor, superficialmente, da seguinte maneira:
Curta Duração
Fenômenos transitórios, que mudam constantemente e podem ser observados no decorrer do tempo de vida de uma pessoa.
Média Duração
Onde se “encaixam” as grandes periodizações. A Idade Média, por exemplo, seria um “fenômeno” de média duração.
Longa Duração
Ligado a mudanças que levam milênios, como as mudanças geográficas.
É claro que esta concepção já sofreu inúmeras revisões e constatações, mas o que queremos apreender dela é de que forma os indivíduos estão inseridos nestes fenômenos.
Se estamos falando de modernidade, temos que considerar a mentalidade do homem moderno. As mudanças de que falamos ate agora estão amparadas numa mudança na maneira de ver o mundo. Se as estruturas políticas e econômicas podem levar séculos para mudar, com as mentalidades não poderia ser diferente. Entretanto, há uma peculiaridade: mesmo se transformando, as mentalidades guardam resquícios de outras eras.
Podemos perceber esses resquícios mesmo nos dias de hoje, em nossos pequenos hábitos e costumes. É comum aos católicos fazerem o sinal da cruz ao passarem diante de uma igreja, um costume medieval. Em diversas festas e manifestações culturais, reproduzimos práticas ancestrais como nas festas religiosas ou em manifestações populares como o carnaval. Mesmo que tenhamos perdido as referências originais, de onde surgiram essas comemorações, elas fazem parte da nossa mentalidade.
Assim, embora o homem moderno tenha mudado sua maneira de ver o mundo, ainda havia nele elementos do medievo. Nada exemplifica tão bem o que estamos falando quanto o papel da igreja católica e as transformações que ela sofreu durante a Idade Moderna.
Em um mundo sem estado, como é o mundo medieval, a Igreja cumpria um duplo papel, político e religioso. Além da questão espiritual, a igreja constituía a única identidade entre os diversos reinos, que se identificavam, portanto, católicos.  
Durante a Idade Moderna, e a mudança intelectual que nela ocorre, o papel da Igreja continua sendo fundamental, quer como exemplo, quer como contraponto. Ou seja, mesmo quando é posta em discussão, ela ainda é um paradigma.
O que isso quer dizer? Quer dizer que grande parte das mudanças nas mentalidades operadas, na Idade Moderna teve como pano de fundo a questão religiosa.  Saiba mais sobre isso, lendo o PDF Papel e Poder da Igreja.
Além disso, a nova organização social das cidades teve papel fundamental na mudança das mentalidades. Nessa mudança, podemos dizer que a burguesia foi, sem dúvida, um de seus principais agentes.
Mas, afinal, como podemos definir burguesia?
Este é um termo que falamos o tempo todo, mas raramente nos detemos para entendê-lo, não é?
Primeiro, burguesia é um conceito. E como conceito, sua definição tem várias interpretações. 
Devemos considerar a ideia de burguesia de acordo com cada período que o utilizamos.
Durante a Idade Média, burguês é o habitante do burgo.
Na Idade Moderna, esse termo vai se referir não só ao habitante da cidade, mas também à classe mercantil. Ao se consolidar, ao longo da Idade Moderna, a burguesia se torna uma camada intermediária entre a classe trabalhadora e a nobreza. Embora não tenham títulos de nobreza, os burgueses serão os detentores de vasta riqueza, acumulada através do comércio. Este é o conceito que utilizamos, quando estudamos este período.
Na baixa idade média e com a Revolução Francesa e o fim da Idade Moderna, muitos historiadores irão se deter no conceito de burguesia, definido conforme o utilizaremos quando falarmos de era contemporânea, o burguês como dono dos meios de produção.
Então, podemos separar da seguinte forma:
Idade Moderna: Habitante das sociedades, dedica-se à atividade mercantil, acumulando grande poder econômico.
Idade Contemporânea: Dono dos meios de produção, esse conceito ganha força, sobretudo ao analisarmos alguns momentos históricos específicos, como a Revolução Industrial.
Na modernidade, os burgueses irão agir como agentes transformadores, e sua atuação é fundamental para compreendermos o período. Do ponto de vista político, é a aliança entre o rei e a burguesia que permite a formação e consolidação dos estados nacionais. Do ponto de vista econômico, irão investir nas grandes navegações e no projeto colonial, mudando definitivamente a Europa. Já do ponto de vista social, financiam o renascimento e apoiam a reforma, construindo uma nova mentalidade.
O Casal Rnolfini, do pintor flamengo Jan van Eyck, é um dos melhores retratos do momento de transição da burguesia. Pintado em 1434, a pintura mostra um casal burguês e é utilizada como documento iconográfico para entendermos a ascensão da burguesia enquanto classe social.
Os interesses mercantis logo irão se aliar aos desejos da nobreza, e a aliança rei-burguesia irá inaugurar uma nova era na política, à medida que centraliza o estado nas mãos de um único soberano. Ainda não estamos falando de absolutismo, pois este só ocorre quando o estado já está centralizado, mas nas origens do que chamamos de estado-nação. Este é outro conceito que ouvimos e repetimos, mas que pouco estudamos. Qual o conceito de estado?
Assim como vimos antes, quando falamos de burguesia,estado é um conceito múltiplo. Ele tem inúmeras definições e estas se alteram não somente de acordo com o tempo histórico estudado, mas também de acordo com os saberes disciplinares. Ou seja, a sociologia tem uma acepção de estado diferente da história, diferente da política, diferente da filosofia, e assim por diante.
Em história, temos que localizar o conceito de acordo com o tempo que estudamos. O que estamos falando aqui é sobre a formação de um estado centralizado, ou seja, sobre a concentração de poderes nas mãos de um único indivíduo, no caso, o rei. Por que devemos fazer essa distinção? Porque se dissermos que o estado começou na era moderna, estaremos afirmando que ele não existiu na Idade Média, o que não é verdade. Existiam diversos estados, governados por senhores feudais. O que não existia era a centralização. Ou seja, havia um estado mas não havia uma nação. É isso mesmo... estado e nação não são sinônimos. Leia o PDF Estado e nação não são sinônimos e saiba mais sobre este assunto!
Esses homens e mulheres que construíram a história mudaram o seu tempo e são frutos dele, assim como nós somos frutos de nosso tempo. É importante aqui quebrarmos um pouco a visão eurocêntrica de mundo e entendermos que a Idade Moderna está ocorrendo na Europa, mas não somente nela, e que as mudanças que serão vividas nesta época ecoam por séculos.
SINTESE DA AULA
Nesta aula você viu:
Reconheceu alguns dos principais conceitos para a compreensão da Idade Moderna;
Ccompreendeu que existem abordagens e sentidos diferentes para a modernidade;
Identificou os elementos de transição entre o medievo e a modernidade.
RELEMBRANDO
1 – Um dos principais elementos para a crise do século XIV foi a peste negra.
2 – O marco histórico tradicional para o início da Idade Moderna é a tomada de Constantinopla. 
3 – Um dos principais expoentes da escola dos annales, que desenvolveu o conceito de longa, media e curta duração foi Fernand Braudel.
4 – Durante a Idade Média, o sentido de riqueza estava ligado a posse da terra. 
5 – Como exemplo de nação sem estado, podemos citar os hebreus.
Aula 02 – A transição: Medievo a modernidade
INTRODUÇÃO
Nesta aula, identificaremos os múltiplos marcos que iniciam a era moderna. Além disso, abordaremos os principais elementos estruturais da sociedade do medievo e as modificações sofridas por essas estruturas na chamada crise do feudalismo. A partir de então veremos de que forma o sistema de organização feudal dá lugar à organização sociopolítica do mundo moderno, compondo a sociedade do Antigo Regime.
MATERIAL DIDÁTICO
FALCON, F.; RODRIGUES, A. E. A Formação do Mundo Moderno. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
OBJETIVO DA AULA 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Reconhecer a ideia de transição como algo em discussão;
2. comparar as estruturas sociais da Modernidade e seu legado medieval;
3. relacionar argumentos sobre os principais paradigmas da concepção de sociedade moderna.
APRENDA MAIS
ELIAS, Norbet. A Sociedade de Corte. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p. 27.
Neste livro, Norbert Elias faz um estudo interdisciplinar, aliando história e sociologia para entender a formação da sociedade da corte do Antigo Regime e de que forma a própria existência da corte norteia a organização da sociedade como um todo.
HESPANHA, António Manuel. A mobilidade social na sociedade de Antigo Regime.[on-line] Artigo. V11. n. 21. ano 9. indd. 123. Publicado em 27 jun. 2007. p. 121-143. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/tem/v11n21/v11n21a09.pdf.
Neste artigo o autor faz uma análise dos mecanismos de mobilidade social na Idade Moderna e do papel determinante do Rei, que detém os recursos necessários a esta mobilidade.
Conforme vimos, os marcos cronológicos que definem a Idade moderna tem sido postos constantemente em xeque. 
Embora tenhamos a Tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453 como marco clássico, podemos citar como exemplo da nova mentalidade europeia outros eventos históricos importantes, como a invenção da imprensa, por Guttemberg ou a descoberta da América, por Cristóvão Colombo.
A revisão desses marcos históricos acontece porque hoje entendemos a definição de História Moderna como algo que vai além desses marcos fixos. Ela é, na verdade, um grande processo sociopolítico e, portanto, deve ser analisada à luz dos grandes processos históricos que marcaram a chamada transição do mundo medieval para o mundo moderno.
Da mesma maneira que os iluministas irão se referir à Idade Média como Idade das trevas, os críticos do absolutismo chamarão o período moderno de antigo regime. Ambas as expressões são carregadas de significado e ilustram a transição do pensamento de uma era para outra.
Iluminismo
Os filósofos iluministas entendem a Idade Média como um período estanque, no qual a preponderância da Igreja sobre a sociedade a manteve em uma era de irracionalidade, por isso a denominação Idade das trevas. Há, portanto, uma enorme crítica a esse período e o não reconhecimento das mudanças que se operaram durante os séculos correspondentes à Idade Média.
Absolutismo
Da mesma forma, com a Revolução Francesa de 1789, os críticos do absolutismo irão denominar o período anterior de Antigo Regime, pois entendiam o modelo de poder centralizado nas mãos de um único indivíduo como algo que deveria ser abolido. Entretanto, devemos entender essa centralização como um processo indispensável para a constituição do estado contemporâneo.
Assim, modelo de sociedade e de estado da Idade Moderna irão servir como base para o estado que se seguirá a este. Se o poder centralizado pode ser considerado obsoleto no final do século XVIII, não podemos negar sua importância para a própria existência do estado moderno. Assim, adotaremos a expressão consagrada Antigo Regime ao nos referirmos à sociedade moderna e buscaremos entender a transição da sociedade feudal para a modernidade.
Duas características se destacam quando pensamos a sociedade medieval: o papel da igreja na vida cotidiana e a quase inexistente mobilidade social.
Vamos lembrar que aqui não estamos discutindo o papel da igreja nas relações de poder, assunto que veremos nas próximas aulas, mas como ela afetava diretamente a vida cotidiana do homem do medievo.
A primeira coisa que temos que ter em mente é que, no regime feudal, os papéis sociais são bastante definidos e estão demarcados desde o nascimento. Dessa forma, o filho de um camponês sempre será um camponês, bem como o filho de um senhor feudal será um senhor feudal. A posse da terra está então concentrada nas mãos de alguns indivíduos que, por sua vez, serão os detentores do poder político e econômico nessa realidade.
É importante avaliarmos a questão da fragmentação. Por que o mundo medieval é baseado na fragmentação de poder?
Teremos que ir um pouco mais longe, na crise do Império Romano. Um dos fatores da queda do Império Romano, o maior império da época, foram as invasões bárbaras. Podemos dizer, de modo simplista, que o Império Romano cresceu até o ponto em que não era mais possível proteger suas fronteiras, deixando-as sujeitas às invasões de outros povos. Sabemos, é claro, que existem várias razões para esse desgaste.
Só para lembrar: os romanos definem como bárbaros todo aquele que não pertence ao império e não tem o latim como idioma. Bárbaro é, então, o estrangeiro. É legal percebermos como esse termo chegou até nós. Hoje, utilizamos a expressão “bárbaro” como sinônimo de primitivo ou violento e esta é um herança romana. Isso é interessante para que vejamos como não existem rompímentos bruscas na história, conforme falamos na aula passada, mas cada era histórica deixa seu legado, ainda que transformado ou adaptado a novas realidades.
Entretanto, o que nos interessa aqui é perceber a importância dos bárbaros para a fragmentação de poder medieval. Quando ocorre o fim do império, as diversas regiões pertencentes a ele na Europa se fragmentam em outra estrutura. Nesse novo modelo, o centro da vida sociopolítico é o feudo e não mais as cidades.Além da relação entre senhor e servo, a sociedade medieval era baseada nos vínculos de dependência pessoal, chamados de suserania e vassalagem. Através da cerimônia chamada de homenagem, o vassalo recebia terras e bens do seu suserano, prometendo-lhe fidelidade e proteção em troca. Com isso, podemos notar que os vínculos sociais eram extremamente fortes e a definição das classes sociais bastante rígida. Vamos ver uma pirâmide social típica da Idade Média:	
Clero: A mais importante classe com uma importancia sociopolitica bastante elevada. É importante destacar que os Reis nunca desapareceram e sua importancia politica veio a se elevar na idade media com a centralização do poder.
Nobreza: Abaixo esta a nobreza composta por senhores feudais e em seu interior os reis e principes que tinham obrigações como qualquer outro e sua importancia ficou em segundo plano durante um periodo
Camponeses, servos e burgueses: A classe mais baixa da piramide social ou circulo feudal.
O Antigo Regime herdará essa pirâmide social, mas a ela devemos acrescentar os burgueses - a classe mercantil que começa a se formar no renascimento urbano e comercial. Entretanto, por não possuírem títulos de nobreza, os burgueses também ocuparão a base da pirâmide. 
Durante a Idade Moderna, embora a burguesia concentre bastante poder econômico, ela não terá direitos políticos igualmente importantes. Essa insatisfação levará às chamadas revoluções burguesas que ocorrerão na época contemporânea, como a Revolução Francesa.
Um dos problemas em se utilizar a denominação Antigo Regime é que, embora seja característica da Idade Moderna, seus marcos iniciais não são bem claros, mas podemos situa-la, aproximadamente, entre os séculos XV e XVII. A estrutura social do antigo regime talvez seja onde podemos perceber mais claramente a presença medieval na modernidade.
Segundo o historiador português Vitorino Magalhães Godinho e sua obra A estrutura da Antiga Sociedade Portuguesa: 
“Na sociedade do antigo regime, o mais visível é a divisão em estados ou ordens: clero, nobreza, braço popular. É uma divisão jurídica, por um lado, e é, por outro, uma divisão de valores e comportamentos. As pessoas estão distribuídas por categorias, que se distinguem pelo nome, pela forma de tratamento, pelo traje e pelas penas a que estão sujeitas”.
Isso quer dizer que, embora  exista uma ascensão econômica por parte daqueles que se dedicam ao comércio, a estrutura baseada em estados permanece, ainda que não seja, a rigor, tão estanque como a medieval. O que devemos entender é que a pertença a uma classe social determina toda a vida do indivíduo.
Nobres e povo possuem direitos jurídicos diferentes, o que significa, dentre outras coisas, que respondem de maneira diferente pelo mesmo crime, por exemplo. 
As vezes é difícil para nós, pessoas do século XXI, compreendermos o que isso significa. Um dos fundamentos da sociedade contemporânea é a igualdade jurídica. O que quer dizer que o primeiro principio de qualquer código de leis democrático é que todos os homens são iguais perante a lei. Em países como o Brasil, sabemos que na prática, a lei não funciona desse jeito, em todo caso, a existência desse principio é importantíssima para a democracia e os princípios de cidadania. Quando não há a garantia de igualdade jurídica, estamos afirmando que esta é uma sociedade desigual, onde existe um enorme abismo entre as classes sociais.
Nesta sociedade de ordens, nas funções político-administrativas cabem a nobreza, excluindo, portanto, a maioria da população. O clero tem o monopólio do ensino, que vai bem além de suas funções espirituais. Nenhuma destas ordens paga impostos, que recaem apenas sobre o terceiro estado, ou seja, a maior parte da população. Nesta realidade, o terceiro estado tem obrigações políticas, mas não direitos.
Vejamos a questão do clero. Quando dizemos que o clero tem o monopólio do ensino, queremos apontar que grande parte do conhecimento que é reproduzido passa pelas mãos da igreja. Isso concede ao clero um enorme poder de influenciar as mentalidades, além de ser o grande formador de opinião durante a Idade Moderna. Esta é outra herança do período medieval. É interessante pensar que sempre que falamos de Idade Moderna temos em mente algo radicalmente diferente da Idade média, como se a era anterior tivesse simplesmente desaparecido para dar lugar a uma nova mentalidade, moderna e arrojada. Isso é só parcialmente real. A base do pensamento medieval ainda ocupará um lugar de destaque na mentalidade moderna.
Vamos ver um exemplo simples:
Em meados do século XV, Johannes Gutemberg desenvolve a imprensa. Esta invenção revoluciona toda uma época – por isso, falamos no início da aula que a invenção da imprensa faz parte dos marcos iniciais da Idade Moderna. O que significou esta invenção?
Durante séculos, cabia à Igreja Católica, através dos monges copistas, reproduzir os livros. Isso era feito manualmente e os livros eram copiados e transmitidos. Havia aí uma clara intervenção da igreja. Como era ela quem copiava e distribuía os livros, podia escolher o que produzir. Essa maneira de produzir também tornava o livro algo muito caro e portanto um símbolo de riqueza. A invenção da imprensa muda radicalmente essa situação.
Os livros passam a ser produzidos em série, através de prensas. Tornam-se mais baratos e acessíveis a camadas mais baixas da população que, antes, estavam excluídas do conhecimento, ou seja, houve uma grande mudança, não é verdade? Entretanto, o primeiro livro impresso foi justamente a Bíblia, que indica que, mesmo em um momento de ruptura, esta ainda está ligada ao poderio católico.
Isso acontece em outros aspectos, como a arte. Ainda que os pintores do renascimento estejam ampliando seus objetos, retratando o homem e diversos outros temas, ainda existe uma enorme produção de arte religiosa. Exemplo disso é a capela Sistina, pintada por Michelangelo, um dos principais nomes do renascimento, o que quer dizer que mesmo em transformação essa sociedade ainda é marcada por uma forte presença católica. A igreja também muda e se adapta aos novos tempos.
Sobre o antigo regime:
Localidade
A noção de Antigo Regime pressupõe que este ocorreu na maior parte da Europa Ocidental. Certamente, isso não é homogêneo. Existem diferenças e especificidades que variam de uma região para outra, mas de modo geral, podemos dizer que o que unifica essa sociedade é a existência de uma economia fortemente atrelada ao estado, a economia mercantilista, que veremos na nossa próxima aula.
Estado
Além disso, o estado do Antigo Regime é centralizado e unitarista, onde a monarquia detém o poder soberano e não existe a divisão de poderes que conhecemos hoje. Essas características gerais coexistem com as especificidades.
Desenvolvimento
Cada região se desenvolve de uma maneira própria e isso se reflete em sua sociedade. Dessa forma, ainda que o estado controle a economia, o desenvolvimento econômico de cada lugar depende de quanto o comércio se desenvolveu, do acúmulo de capital da burguesia, no investimento feito no processo de expansão marítima, na busca de novos mercados, na existência de um mercado consumidor, no investimento feito nas manufaturas, na relação existente entre o capital público e privado, dentre outros.
Mobilidade
O que queremos apontar é que essas categorias são diferentes de um país para outro, portanto, a mobilidade social também é diferente. 
A França é considerada o exemplo do Antigo Regime por excelência. Foi nesse país em que os estamentos atingiram tal nível de imobilidade que levou a uma revolução que derrubou o Antigo Regime, a revolução Francesa de 1789. Foi também  na França que o absolutismo alcançou seu auge e, portanto, as contradições desse regime, também.
O historiador Norbert Elias, em sua obra A sociedade de Corte, busca compreender a sociedade do antigo regime na instância que, para ele, constitui o melhor objeto de análise, a corte. Para Elias, é a partir da Corte, símbolo máximo do poder político e social, queesta sociedade se organiza. 
 “...a corte real do Ancien Regime sempre acumulou duas funções: a de instância máxima de estruturação da grande família real e a de órgão central da administração do Estado como um todo, ou seja, a função de governo” (ELIAS, 2001, p. 27).
ELIAS, Norbet. A Sociedade de Corte. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p. 27.
Nessa interpretação, a corte funciona como o coração do Antigo Regime. Isso encontra explicação, em certa medida, pelo papel do Rei. Em uma sociedade com pouca mobilidade social, esta só é possível através dos favores reais. É o rei que concede terras e títulos de nobreza. Cabe lembrar que nesta realidade o rei pode se afirmar através de favores financeiros e não somente através da concessão de posses materiais, como acontecia na Idade Média.
É importante lembrar que a noção de mobilidade social é largamente utilizada por analistas contemporâneos. Os homens da época estavam inseridos em um contexto em que essa mobilidade não era passível de ser observada. O que isso quer dizer?
Não há mobilidade entre as classes sociais
A organização em estados remontava ao medievo e fazia parte do que chamamos de corpo social. As classes são estabelecidas pelo lugar de nascimento e não pelas posses, o que só irá mudar na idade contemporânea. Isso quer dizer que um burguês, ainda que rico, permanecerá burguês e dessa forma, fará parte do terceiro Estado. Um nobre, mesmo que falido, ainda detém o titulo de nobreza e por isso mantém seus privilégios.
Privilégios
Esta é uma palavra-chave para entendermos a sociedade do Antigo regime, pois é através dos privilégios que as classes se mantêm e funcionam. Um nobre pobre ainda faz parte da corte e um burguês rico não.  Isso faz com que muitos burgueses comprem títulos de nobreza, mas essa mentalidade está tão incorporada ao espírito da época que esses novos nobres serão vistos como nobreza de segunda classe. Com isso, podemos concluir que a riqueza não significa ascensão ou mudança de status social.
Esta é uma realidade tão distante da nossa que às vezes achamos difícil compreendê-la. Devemos então pensar como os homens dessa época, para os quais a nobreza vem de berço e é hereditária.
Os casamentos consanguíneos eram comuns, para manter o titulo e garantir a linhagem. De acordo com o direito de primogenitura – também uma herança medieval – cabia ao filho mais velho o direito ao título. Assim, veremos ao longo da Idade Moderna uma série de casamentos reais feitos entre as diversas casas da Europa, para manter a linha de nobreza, em uma prática secular. Podemos citar como exemplo o casamento dos reis católicos, em cujo reinado a Espanha foi unificada, Fernando de Aragão e Isabel de Castela.
Esse casamento foi igualmente vantajoso para ambos, pois unificou os dois mais poderosos reinos da Espanha.  Os casamentos reais eram, portanto, grandes alianças políticas. Podemos citar outro exemplo: o casamento de Henrique VIII e Catarina de Aragão, forjando a aliança entre Inglaterra e Espanha na época, dois reinos católicos. A incapacidade de Catarina em gerar um herdeiro homem para o trono foi uma das razões que levou Henrique VIII a pedir permissão ao papado para divorciar-se. A negativa fez com que o rei rompesse com o catolicismo e instituísse uma nova religião na Inglaterra, o anglicanismo.
Não podemos, entretanto, pensar nos estados como homogêneos. No interior de cada uma dessas classes há diferentes vontades e interesses. O Alto Clero, formado por bispos e cardeais, estará muito mais próximo da nobreza que o Baixo Clero, que por sua vez, estará mais próximo da realidade da população. Os nobres que fazem parte da Corte estão mais propensos a receber favores do Rei que aqueles que não fazem parte dela. E é claro, como classe mais numerosa, é no terceiro estado que podemos notar as maiores discrepâncias.
Convivem numa mesma ordem os pobres, os artesãos e os burgueses. Estes últimos, por terem maior poder financeiro, terão regalias que são negadas aos demais. Dentre elas, a possibilidade de estudar, ocupar cargos na magistratura e exercer influência decisiva no comércio.
Expliquemos: a existência de um poder absoluto real só é fundamental enquanto a burguesia ainda se forma. Ela é necessária porque cabe ao rei fazer as leis que regulam o comércio, organizar as expedições que irão descobrir e colonizar novas terras, conceder privilégios e concessões mercantis. O rei é fundamental na montagem da empresa mercantil. Entretanto, a partir do momento em que essa estrutura está formada, ela pode prescindir da total influência real. Essa influência não só é desnecessária como passa a ser indesejada.
Vejamos um exemplo: cabe ao Rei estabelecer as rotas e as regras do comércio marítimo. Quando isso está feito, cabe aos burgueses equipar seus navios e explorar as riquezas coloniais em nome da metrópole. Ao interferir, regulando e cobrando impostos, a Coroa diminui o lucro da burguesia, gerando insatisfação, ou seja, em um primeiro momento, o poder real foi necessário e depois que a estrutura estava funcionando, ele já não era mais necessário.
Se pensarmos nesse exemplo de forma geral, veremos que, à medida que a burguesia se fortalece, passa a apoiar cada vez menos os reis absolutos. Além disso, a alienação política se torna cada vez mais evidente. Embora a burguesia pague impostos e financie o estado absoluto, ela não tem nenhum direito político que seja equivalente aos impostos pagos. É a insatisfação crescente da burguesia que põe fim ao Antigo Regime, quando estouram as revoltas burguesas que depõem os regimes absolutos.
O que podemos concluir?
Que embora estejamos vendo uma sociedade em franca transformação, como vimos na aula passada, a herança medieval na modernidade é inegável. Nas diversas estruturas, é na maneira que a sociedade se organiza que podemos ver essa herança claramente. Se na Idade Média não verificamos mobilidade social, na Idade moderna ela tampouco acontece. O rei substitui o senhor feudal como principal figura política e é em torno dele que as relações sociais são organizadas. Ao longo da idade moderna, a burguesia se torna indispensável ao rei financeiramente, mas não adquire direitos políticos, o que acaba por selar o fim desta ordem social. A mesma burguesia que ajudou a colocar o rei no poder é responsável pela sua queda e pelo início de uma nova era, a era contemporânea.
SINTESE DA AULA
Nessa aula você:
Comparar a sociedade medieval com a sociedade moderna;
Estabelecer as principais características da sociedade do Antigo regime;
Identificar os agentes sociais que atuam na formação e consolidação do Antigo regime.
RELEMBRANDO
1 – A Idade Média como Idade das trevas era denominada pelos filósofos iluministas.
2 – As características abaixo dizem respeito ao Antigo Regime, sendo:
- A economia do período é mercantil 
- Tem a burguesia como um importante agente social 
- Politicamente, é fundado no poder centralizado. 
- A centralização do poder foi possível graças a aliança Rei/Burguesia 
3 – O vinculo de dependência pessoal estabelecido através da cerimonia de homenagem era chamado de Suserania e Vassalagem
4 – O papel da nobreza na sociedade estamental era exercer funções político administrativas.
Aula 03 - A economia na Moderniodade
INTRODUÇÃO
Nesta aula, veremos as estruturas econômicas da Idade Média e sua superação por novos paradigmas. 
Definiremos os conceitos chave de modo de produção e sistema econômico e analisaremos de que forma o mercantilismo se afirma como a base do sistema capitalista que se estabeleceria após a Revolução Industrial.
MATERIAL DIDÁTICO
FALCON, Francisco; RODRIGUES, Antônio Edmilson. A formação do mundo moderno. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
OBJETIVO DA AULA 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Identificar as origens da economia moderna;
2. Definir os principais conceitos econômicos da modernidade;
3. Reconhecer o sistema mercantil como a base do sistema capitalista.
APRENDA MAIS
Neste artigo, utilizaremos a interdisciplinaridade – já quefoi escrito por economistas e especialistas em relações internacionais - para compreender as abordagens históricas que estudam a formação da economia moderna. Podemos acessar o artigo neste endereço:
http://b36.moelabs.org/Teoria_das_RI_II-Rafael_Pons/II_semestre/Aulas_PDF/Economia_politica_do_moderno_sistema_mundial_as_contribuicoes_de_Wallerstein_Braudel_e_Arrighi.pdf.
Ao longo da História, diversos estudiosos estabeleceram modelos explicativos tendo como base as grandes transformações econômicas. Na Idade Moderna, podemos definir, de modo amplo, esta mudança econômica, como a passagem do feudalismo para o sistema capitalista. Essa era vai se caracterizar, portanto, como a grande era do mercantilismo. Mas como podemos caracterizar o mercantilismo? 
Mais adiante, veremos mais detalhes sobre isso, mas o que devemos ter em mente é que o mercantilismo não é um sistema econômico. Como assim? 
Esbarramos em outro conceito chave, o de sistema econômico. Existem algumas definições possíveis deste conceito. Vamos ver a de Francisco Lacombe: 
Sistema econômico – Sistema de propriedade, de forma de decisão sobre a alocação dos recursos produtivos, de determinação de preços, e demais mecanismos que caracterizam o sistema produtivo de uma sociedade e a distribuição dos produtos pelos agentes econômicos. 
Fonte: LACOMBE, Frascisco José //asse. Dicionário de Administrado. São Pauto: Saraiva, 2004. 
O que isso quer dizer? Que um sistema econômico é a maneira pela qual uma sociedade organiza sua economia e, junto com ela, a sua política e a sua estrutura social. 
Um sistema econômico também possui um modo de produção, e o mercantilismo, em si, não possui estas características. Então, podemos definir mercantilismo como um conjunto de práticas econômicas que marca a transição do sistema feudal para o sistema capitalista.
Falamos sobre modo de produção, não é? Esta expressão é muito comum e a encontramos o tempo todo nos textos: modo de produção feudal, modo de produção escravista, modo de produção capitalista. Mas afinal, o que é modo de produção?
Modo de produção = forças produtivas + relações de produção 
Vamos ver, em separado, os elementos que constituem o modo de produção.
Modo de produção 
O que são forças produtivas? 
Forças produtivas são formadas pelos meios de produção - a parte material como terra, capital, máquinas, ferramentas e a força de trabalho. Neste caso, não é só a mão de obra em si, mas a habilidade que essa mão de obra possui, como conhecimento técnico, por exemplo.
O que são relações de produção? 
É a maneira como se relaciona quem possui os meios de produção - terra, capital, máquinas, ferramentas e a estrutura de classes.
Um dos primeiros teóricos a pensar e definir estas questões foi Karl Marx, na obra O capital. Marx defendia que, sempre que houve uma contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, haveria um colapso do sistema econômico. É o que acontece no feudalismo. À medida que mudam os agentes econômicos - o poder econômico deixa de ser do senhor feudal para pertencer à burguesia - o modo de produção também muda, para dar conta desta nova realidade.
Para entendermos estas mudanças, vejamos como o feudalismo se organizou na idade media:
Veremos cada um separadamente:
Ver o PDF “A transição do capitalismo ao feudalismo”.
Além deste processo de transformação da economia feudal, podemos caracterizar a economia moderna pela expansão mercantil que ocorre ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII. Essa expansão permite a ocorrência da acumulação primitiva do capital. 
Essa acumulação é parte das pré-condições que, no século XVIII, darão origem à Revolução Industrial. O que devemos lembrar é que o sistema capitalista que temos hoje teve sua origem na Idade Moderna e o seu fundamento está nas relações comerciais.
Do modo de produção feudal, passamos a ter o mercantilismo baseado, sobretudo, no mercado. Embora não possa ser definido, a rigor, como sistema econômico, como já falamos antes, o mercantilismo é um conjunto de práticas econômicas cuja aplicação caracteriza a Idade Moderna. Vejamos os principais pontos nos quais esta prática se baseia:
- Metalismo 
- Protecionismo 
- Pacto Colonial 
- Balança Comercial Favorável 
Vamos ver cada um desses pontos, separadamente.
Metalismo 
Diferente da Idade Média, na qual o significado da riqueza estava na terra, na Idade Moderna, quando as nações estão ainda se formando, o que define a riqueza de um estado é o acúmulo de metais preciosos dos quais este estado dispõe. Como dissemos, há neste período a retomada do sistema monetário. Então, os metais eram muito necessários para cunhar as moedas, especialmente o ouro e a prata. A busca por estes metais será um dos motores da expansão marítima.
Protecionismo 
O protecionismo foi a forma encontrada pelos reis para proteger e incentivar o desenvolvimento econômico do Estado. Como funcionava? Os reis cobravam altas taxas de impostos de produtos estrangeiros. Dessa forma, estimulavam o consumo e a confecção de produtos nacionais, dinamizando a economia interna. É interessante perceber que a prática do protecionismo existe ainda em nossos dias, em diversas economias mundiais. Mesmo nas atuais economias nacionais, quando um Estado entra em crise, ele lança mão deste recurso.
Pacto Colonial 
Quando estudamos história do Brasil colonial é comum nos remetermos sempre ao pacto colonial, como exemplo da submissão entre a colónia e a metrópole. Por isso, estamos acostumados a entender o pacto colonial do ponto de vista colonial, percebendo-o como um problema para o desenvolvimento da colônia. Mas o que ele significava e qual sua função para a metrópole? Sabemos que a economia colonial era uma economia complementar, ou seja, de modo geral, a colônia produzia os recursos de que a metrópole necessitava.
O pacto colonial era a garantia da metrópole de que a colônia comercializaria estes produtos somente com ela. Era, na verdade, o estabelecimento de um monopólio comercial. Esse monopólio garantia a opção da metrópole de comprar e vender os produtos coloniais ao preço que ela bem entendesse. Como a colônia era obrigada a vender para a metrópole, não podia determinar o preço que quisesse. Cabia à coroa fazer isso. Logo, ela comprava estes produtos mais baratos e podia revendê-los também a preços mais competitivos. Se para a colônia o pacto era um entrave, para a metrópole era a garantia de grandes lucros, que ele necessitava para consolidar sua economia.
Balança Comercial Favorável 
EXPORTAÇÕES - IMPORTAÇÕES 
Essa é outra prática econômica que se inicia na Idade Moderna e segue existindo até nossos dias. Quando o capitalismo se consolida, a balança comercial favorável se torna quase um sinônimo de economia saudável. Consiste em exportar mais do que importar, ou seja, vender mais do que se compra. Esse recurso mantém o capital que circula no pais sempre em maior número do que aquele que é gasto no exterior, permitindo a formação de uma reserva financeira que pode ser utilizada em casos de crise econômica.
Podemos nos referir ao mercantilismo corno uma política econômica, que será necessária para que as economias nacionais que estão nascendo na Europa sejam estáveis. O que temos de observar é que estamos em um momento de transição e que a economia precisa se estabilizar para poder desenvolver os recursos do pais. Dessa forma, cada uma das nações que lança mão do mercantilismo está preocupada em formar uma base sólida para que não esteja sujeita a crises.
Podemos nos referir ao mercantilismo como uma política econômica, que será necessária para que as economias nacionais que estão nascendo na Europa sejam estáveis. O que temos de observar é que estamos em um momento de transição e que a economia precisa se estabilizar para poder desenvolver os recursos do pais. Dessa forma, cada uma das nações que lança mão do mercantilismo está preocupada em formar uma base sólida para que não esteja sujeita a crises.
Podemos dividir a economia da idade moderna em tres fasesO que podemos concluir? Que a economia modema tem sua base no mercantilismo, que reunirá as condições para a Revolução Industrial. Esta, por sua vez, é responsável por inaugurar uma nova era na economia, o periodo industrial, que irá consolidar o capitalismo como sistema econômico.
SINTASE DA AULA
Nessa aula você:
- Identificou as estruturas econômicas da Idade Média e seu progressivo desgaste e substituição;
- Compreendeu o que é mercantilismo e em quais práticas ele está amparado;
- Analisou de que forma a economia moderna cria as condições para a transformação industrial que ocorrerá na Europa do século XVIII
RELEMBRANDO
1 – Um fator que influenciou o pioneirismo das cidades italianas na época do renascimento urbano foi sua localização geográfica favorável, próximo ao Mediterrâneo.
2 – O mercantilismo se caracteriza por ter pacto colonial, metalismo, protecionismo e balança comercial favorável.
3 – As Relações de produção representam uma das características que define modo de produção.
4 – No século XVIII, é correto dizer que houva a consolidação das bases que dão origem ao sistema capitalista.
5 – Sobre a economia moderna, pode-se dizer que foi a era do mercantilismo, que se baseava em praticas econômicas que fortaleceriam os estados nacionais europeus.
Aula 04 – O Estado
INTRODUÇÃO
Nesta aula, veremos a definição de absolutismo e as diversas formas em que ele se apresenta nos países que adotaram esse sistema de governo. Perceberemos a importância da unificação precoce dos países ibéricos para a consolidação de seus Estados Nacionais e o papel da Igreja Católica. Estudaremos também o caso francês e o inglês, e de que forma as guerras religiosas e a consolidação da burguesia são fundamentais para o pleno desenvolvimento do absolutismo.
MATERIAL DIDÁTICO
ANDERSON, Perry. Linhagens do estado absolutista. São Paulo: Brasiliense, 1998.
OBJETIVO DA AULA 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Distinguir os diversos modelos de absolutismo europeu; 
2. reconhecer a importância da religião para a formação dos estados nacionais; 
3. comparar a estrutura política da Península Ibérica com as da Inglaterra e da França.
APRENDA MAIS
VIANNA, Alexander Martins. Absolutismo: os limites de uso de um conceito liberal. In: Revista Urutágua, n.14 – dez. 07/jan./fev./mar. 2008, PR. Disponível em: http://www.urutagua.uem.br/014/14vianna.PDF
Neste artigo, o historiador Alexandre Martins Vianna discute o conceito de absolutismo e sua importância para a formação política da história moderna.
Filmes:
1) Elizabeth - Diretor: Shekhar Kapur - Ano: 1998
2) Elizabeth: a Era de Ouro - Diretor: Shekhar Kapur - Ano: 2007
Nestes dois filmes, podemos observar a consolidação do absolutismo através do longo reinado da Rainha Elizabeth I, desde a coroação até o apogeu do seu reinado. O filme discute os principais aspectos políticos e sociais da Inglaterra em uma excelente reconstituição histórica do período.
Como vimos na última aula, a economia moderna precisou de um Estado forte e centralizado para se organizar. Ainda que tanto a economia quanto a sociedade guardem resquícios da Idade Média, durante a Idade Moderna, com a consolidação da Burguesia, a fragmentação medieval dá lugar à concentração de poderes nas mãos de um único indivíduo, no caso o rei, que por acumular todas as instâncias políticas, será conhecido como monarca absolutista. Embora seja um termo consagrado, a ideia de absolutismo continua sendo discutida entre os historiadores.
Quando usamos esse termo, muitas dúvidas ainda surgem e também alguns equívocos.  O fato de o governo absolutista ser centralista e não ser limitado pelos outros poderes, como estamos acostumados a ver nas sociedades modernas, faz com que confundamos absolutismo com ditadura. Por que isso acontece? Porque estamos habituados a tentar entender o passado com os olhos do presente. O que devemos ter em mente é que cada período histórico tem suas próprias características e sua própria dinâmica. Portanto, a não existência dos demais poderes não torna o Estado moderno necessariamente ditatorial ou totalitário.
Não caberia, portanto, compararmos um Estado contemporâneo totalitário, como a Alemanha fascista de Hitler, com o Estado absolutista da França moderna. Cada um deles funciona de acordo com seu próprio tempo e com o contexto no qual está inserido.
Relembrando o que já vimos até aqui: com a crise do feudalismo e o renascimento comercial e urbano, a organização política da Idade Média entra em crise e uma nova estrutura de governo começa a se organizar. Isso acontece, entre outras razões, porque o desenvolvimento mercantil torna necessário o estabelecimento de alguns princípios básicos para garantir o fortalecimento do comércio: investimento público, instituição de uma economia monetária e o controle da economia por parte do Estado.
Politicamente, podemos dizer que a centralização do Estado Moderno foi baseada na aliança entre o rei e a burguesia. A burguesia apoiava o rei e este, em troca, organizava a economia. Entretanto, esse processo não é homogêneo, ou seja, não acontece no mesmo momento e da mesma maneira em todos os países da Europa. Por razões específicas de cada região, cada Estado se centraliza e se organiza de maneira diferente.
Poder fragmentado medieval
À primeira vista, é comum termos a ideia de que essa transição política deu-se sem maiores dificuldades. Mas não foi assim. A passagem do poder fragmentado medieval para o poder centralizado moderno foi alvo de grandes disputas, seja entre reinos ou entre classes. A burguesia contrapôs-se à aristocracia para garantir o desenvolvimento comercial, reinos cristãos entraram em choque com reinos muçulmanos para centralizar seu território, e assim por diante. No processo de formação do Estado Moderno, a Península Ibérica, por razões que discutiremos adiante, saiu na frente.
Poder centralizado moderno
Por essa razão, Portugal e Espanha foram os primeiros países a se lançarem ao Atlântico, iniciando assim a expansão marítima. Esse pioneirismo é uma das razões porque a maioria dos territórios do continente americano foi colonizado pelos ibéricos. Um equívoco comum é desconsiderarmos o longo processo de centralização: parece que bastou o feudalismo entrar em crise e o comércio se desenvolver e pronto, estava feito o absolutismo. Mas não foi assim. A centralização percorreu um longo caminho e só ocorreu depois de vários séculos.
Vejamos o caso de Portugal: sua centralização nos remete ao século XI, quando é fundado o Condado Portucalense. A fundação desse condado está ligada às guerras de Reconquista. Vamos ver isso melhor.
Durante séculos, a Península Ibérica, que estava dividida em reinos, recebeu uma enorme quantidade de muçulmanos, que imigravam de diversos lugares. Esses muçulmanos estabeleceram suas próprias cidades e, no caso da Península Ibérica, também um reino muçulmano, Granada. 
Assim, ao longo dos séculos, os muçulmanos envolveram-se em conflitos com os católicos, que queriam expulsar os chamados “mouros” do território ibérico.
Essas guerras são chamadas de guerras de Reconquista justamente por marcar a reconquista do território pelos católicos. 
Ficou claro?
Portugal e Espanha só puderam realmente se unificar após a expulsão dos povos não católicos, como muçulmanos e judeus. Isso demonstra que a centralização não foi apenas um processo político, mas também social.
Pelo mapa, podemos ver os avanços do cristianismo. Em verde, temos as regiões ocupadas pelos mouros. Progressivamente, à medida que os cristãos dominam essas regiões, os mouros vão sendo expulsos, até a retomada completa do território, em um processo que vai do século VIII até o século XV.
Mas por que a expulsão dos muçulmanos foi importante para o processo de unificação dos reinos?
Lembre-se do conceito de identidade, que discutimos em nossa primeira aula. Durante a Idade Média, não havia uma identidade nacional. O que havia era o compartilhamento de uma mesma crença, a fé católica. Dessa forma, podemos dizerque os reinos ibéricos foram unificados tendo como base o catolicismo.
À medida que os portugueses conquistam novas regiões, o rei emite as Cartas de Foral, documentos que regulamentam a posse e a administração da terra. Os forais são documentos importantíssimos para a história de Portugal, pois foram a base da administração portuguesa entre os séculos XII e XVI.
Assim, já no século XIII, Portugal consegue fixar as fronteiras de seu território. Com uma base territorial sólida, o governo português pode se unificar politicamente e tornar-se um dos pioneiros no processo de expansão marítima.
Entretanto, não podemos falar de um absolutismo português. No século XVI, quando o império português alcança seu apogeu, o rei Dom Sebastião morre em batalha, sem deixar herdeiros, extinguindo a dinastia de Avis. O trono é reivindicado por vários nobres, mas acaba sob o domínio da Espanha. Portanto, entre 1580 e 1640 Portugal e Espanha são unificados, num período conhecido como União Ibérica.
O que o caso português nos mostra é que unificação territorial não significa necessariamente absolutismo. É preciso tomar cuidado ao considerarmos esses termos como sinônimos.  Mesmo com relação à Espanha, é controverso falarmos sobre a existência de um absolutismo espanhol. Se compararmos a estrutura de poder espanhola com a francesa, considerada absolutista por excelência, veremos que elas apresentam muitas diferenças.
Autores como Perry Anderson defendem a existência de um regime absolutista espanhol, reconhecendo, entretanto, suas limitações. De modo geral, podemos dizer que, se há um período absolutista espanhol, ele não se desenvolveu plenamente como na França e na Inglaterra.
Durante o século XVI, a Espanha foi o mais poderoso império da Europa, conhecendo uma expansão territorial e uma prosperidade econômicas inigualáveis. Mas a estrutura interna do império espanhol era ainda frágil, e sua base fortemente católica constituiu um entrave ao desenvolvimento do sistema absolutista. Em uma época de relações internacionais instáveis, cabia à Igreja Católica o papel de intermediador nas questões que envolvessem os diversos países e reinos.
Nesse contexto, a Igreja tem um papel político fortíssimo e é quem intermedia a assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494, dividindo entre Portugal e Espanha as terras descobertas e a se descobrir. A ligação entre a Igreja e o Estado espanhol era tão sólida que Isabel e Fernando receberam o título de reis católicos, e em nenhum país católico a Inquisição fez tantas vítimas como na Espanha.
Se no século XVI a Espanha era o maior império da Europa, o auge do Estado espanhol foi breve. Seu apogeu ocorre durante a administração da dinastia Habsburgo, mas os reinos espanhóis unificados pelos reis católicos eram instáveis. As divergências internas e o conflito de interesses regional não permitem que o absolutismo floresça plenamente.
A corrupção, os gastos desmedidos e o endividamento externo fazem com que a Espanha entre em ciclos de crise econômica. Nem mesmo as quantidades exorbitantes de prata das Minas de Potosi devolvem a saúde ao tesouro espanhol e a riqueza vinda das colônias americanas escorrem por entre os dedos dos espanhóis. A vantagem obtida com a unificação precoce dura pouco: após a formação dos Estados francês e inglês, a Espanha perde terreno político na Europa, sendo sobrepujada pelos demais países. Leia o PDF “Espanha perde terreno politico na Europa” e saiba mais sobre este assunto.
Espanha perde o terreno político na Europa
Podemos atribuir a perda dessa vantagem ao lento desenvolvimento de uma classe burguesa espanhola. Ao contrário da França, por exemplo, a burguesia espanhola se consolidou tardiamente e os vínculos que a ligavam ao estado espanhol nunca foram tão sólidos como a aliança entre o rei e a burguesia francesa e inglesa. Sejam quais forem as razões, é certo que o rei da Espanha não obteve o sucesso na concentração de poderes em suas mãos, uma das principais características absolutistas, que tem na França seu exemplo máximo. 
Apesar do absolutismo inglês e francês ter se desenvolvido de forma plena, Inglaterra e França passaram por uma crise que a península ibérica nunca conheceu: as guerras religiosas. 
O caso mais emblemático é o da Inglaterra, no qual o estado rompe com a Igreja Católica, como veremos mais adiante. 
Na antiguidade, a região da Inglaterra pertencia ao Império Romano e era conhecida como Bretanha. Quando houve a queda deste império, a região foi tomada pelos povos bárbaros, anglo-saxões, mantendo o território dividido e sem um poder central. A unificação inglesa começa no século XI, mas as sucessivas crises e disputas da nobreza impediram o desenvolvimento de um estado inglês propriamente dito. 
Um dos mais famosos reis do período foi Ricardo Coração de Leão, cuja história nos chegou através de diversas lendas, como a de Robin Hood. Na verdade, esse rei não era muito popular no seu tempo, e teve um governo breve, durante o qual ele aumentou impostos para financiar o movimento cruzadista , do qual fazia parte. É interessante perceber que Ricardo Coração de Leão participou da Cruzada dos Reis, a terceira cruzada, cujo objetivo era retomar a terra santa, Jerusalém, das mãos dos mouros. Séculos depois, outro rei, Henrique VIII, romperia com a igreja católica fundando sua própria religião, o anglicanismo
A incapacidade administrativa dos reis ingleses resulta na assinatura da Magna Carta, que concede plenos poderes aos senhores feudais, aumentando a autonomia regional e enfraquecendo o poder central. Nesse contexto, no século XIII o rei Henrique III assinaria os Estatutos de Oxford, criando a mais poderosa das instituições inglesas, que permanece até os dias de hoje: o Parlamento.
No século XIV, o Parlamento foi dividido em duas câmaras: a Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns; nessa divisão reside o fundamento do Estado inglês. Ao longo de sua história, o parlamento terá maior ou menor poder político, sendo que, no período absolutista, era submetido à vontade real.
A Câmara dos Lordes era composta pelo clero e pela nobreza e seus membros tinham o direito de hereditariedade, ou seja, o cargo passava de pai para filho.
Já a Câmara dos Comuns era composta por burgueses e cavaleiros, e seus membros eram eleitos por meio do voto.
É importante percebermos que a existência do Parlamento não impede que o absolutismo se desenvolva na Inglaterra. O que ocorre é que essa estrutura tem suas funções alteradas ao longo da sua existência, adquirindo maior ou menor influência política em diferentes reinados.
Um dos maiores problemas enfrentados pela Inglaterra era a rivalidade secular com a França. No século XIV, estoura a Guerra dos Cem Anos, que na verdade durou cento e dezesseis. Os motivos do conflito são diversos, mas duas razões se destacam: disputas territoriais e dinásticas.
É difícil para nós, hoje em dia, imaginarmos o sentido de uma disputa dinástica, por quais motivos ela acontecia. Por que razão um rei francês podia, por exemplo, reivindicar o trono inglês e vice-versa? Como já foi dito, temos sempre de levar em conta a conjuntura histórica, fazendo um esforço para pensarmos como os homens daquele período.
Em aulas passadas falamos sobre a importância dos casamentos entre membros das diversas casas da nobreza, não é? O resultado disso é que as diversas casas reais da Europa eram todas aparentadas entre si.
Para a França, a vitória significa o fortalecimento da monarquia e abre caminho para a unificação do Estado francês. Já para a Inglaterra a derrota significa uma enorme perda de prestígio, aumentando a crise que vivia a monarquia inglesa.
Agora, vamos imaginar os resultados dos mais de cem anos de conflito. A economia fica desestabilizada, a agricultura sofre grandes prejuízos, há um enorme número de mortos e o poder político se fragiliza: esta é a situação da Inglaterra no século XV. A instabilidade política leva a uma disputa interna pelo trono entre duas casas nobres inglesas, os York e os Lancaster. O conflitoficou conhecido como Guerra das Duas Rosas, porque a casa dos Lancaster era representada por uma rosa vermelha e a dos York, por uma rosa branca. Não há vitoriosos e o conflito é resolvido, novamente, através de um casamento entre membros das duas casas.
Isso ilustra a desorganização política e administrativa da Inglaterra e a razão pela qual o Estado inglês acaba se unificando tardiamente, se comparado com a Península Ibérica.
Com o enfraquecimento dos York e dos Lancaster, uma terceira dinastia ascende ao poder, os Tudor, que reinam do século XV ao XVII. Esta dinastia finalmente consegue conciliar os diversos interesses, dando início o absolutismo inglês no reinado de Henrique VIII.
Seguindo a tradição de casamentos entre casas reais, Henrique VIII toma por esposa a princesa espanhola Catarina de Aragão, católica fervorosa. A escolha a princípio pareceu favorecer a Inglaterra, já que a Espanha era um poderoso império e a aliança era algo muito desejado pelos ingleses. Mas Catarina não teve filhos homens que pudessem continuar a linhagem real. Henrique VIII pediu, então, permissão à Igreja Católica para divorciar-se da rainha e casar-se novamente. A Igreja recusa o pedido. Se o aceitasse, entraria em choque com a Espanha, o que não era de forma alguma desejável, considerando o poderio espanhol da época.
Seria muito simplista defender que Henrique VIII rompe com a Igreja católica apenas por não ter tido um filho homem. Não há dúvida de que isso é um fator, mas devemos considerar diversas outras questões, sobretudo do ponto de vista político. A Igreja Católica tem um enorme poder na Inglaterra, como nos demais países europeus. Ao romper com o papado, Henrique VIII concentra no trono todos os poderes que antes pertenciam à Igreja. O rei torna-se não só um chefe político, mas o líder espiritual da Inglaterra. Mesmo do ponto de vista religioso, há poucas diferenças entre a ideologia católica e a anglicana, exceto que os católicos são submetidos ao papa e os anglicanos, ao rei.
O rompimento com o catolicismo e o estabelecimento do anglicanismo abrem o caminho para o absolutismo monárquico, que será consolidado no reinado de Elizabeth I.
Com a morte de Henrique VIII, herda o trono sua filha, Maria I, já que, mesmo tendo se casado seis vezes, o rei teve um único filho homem, que morreu antes de poder assumir o trono. Maria I era filha de Catarina de Aragão e, como a mãe, uma fervorosa católica. Em seu curto governo, ela passa a perseguir os protestantes, dando início às sangrentas guerras religiosas inglesas. Somente após sua morte assume o trono Elizabeth I, filha de Ana Bolena, segunda esposa do rei, que restaura o anglicanismo e consolida o absolutismo monárquico.
Um dos fatos interessantes do reinado de Elizabeth I é que, embora não tenha combatido abertamente Portugal e Espanha, disputando os territórios coloniais, ela incentivou a prática da pirataria, sobretudo o saque aos navios espanhóis. Um dos mais famosos corsários da época, Francis Drake, foi condecorado pela rainha pelos serviços prestados à coroa.
O reinado de Elizabeth I foi um dos mais prósperos da história inglesa. Afirmando-se como uma rainha absolutista, ela teve poderes para fazer as reformas necessárias no Estado, fortalecendo a burguesia e investindo na expansão marítima. A rainha teve na burguesia protestante uma forte fonte de apoio, com a qual ela combateu ferozmente a nobreza católica. Sob seu reinado, cresceu o comércio de lã e a exploração das minas de carvão. Com a expansão marítima, o comércio ultramarino conheceu um impulso notável, que estimulou a indústria naval.
A rainha nunca se casou e não deixou herdeiros. Com sua morte, chega ao fim a dinastia Tudor e assume o trono Jaime I, então rei da Escócia. A morte de Elizabeth I também marca o fim o absolutismo inglês e, no século XVII, a Inglaterra seria o primeiro país a vivenciar uma revolta burguesa, a Revolução Puritana. Por último, veremos o caso da França, onde o absolutismo alcançou seu pleno desenvolvimento.
Como vimos, com a vitória na Guerra dos Cem Anos a monarquia francesa se fortalece e, progressivamente, consolida seu poder. Porém, o processo foi longo e lento e, além das disputas com a Inglaterra, a França enfrenta sangrentas guerras religiosas entre católicos e protestantes, conhecidos como huguenotes. A doutrina protestante, em especial o calvinismo, faz muitos adeptos na Paris do século XVI.
Quando a burguesia e parte da nobreza aderem ao calvinismo, o Estado francês se vê obrigado a conciliar interesses para evitar uma grande guerra, que mergulharia a França em crise. Assim, a regente Catarina de Médici concede aos huguenotes alguns privilégios, como o direito de celebrar cultos em alguns pontos específicos da França.  
Esse massacre indispõe a população contra o Estado e, sobretudo, contra a dinastia dos Valois, que após o evento enfrenta várias crises internas e disputas pelo poder. Podemos considerar uma ironia que, com a morte do último Valois, o trono seja entregue a um protestante, Henrique IV, que, para assumi-lo, tem que se converter ao catolicismo. É dele uma famosa frase sobre sua conversão: “Paris bem vale uma missa”.
Henrique IV inaugura a dinastia Bourbon, que a princípio estava sob forte influência da Igreja Católica, através dos ministros reais. Com a morte de Henrique IV, seu filho Luís XIII assume o trono. Embora o rei exercesse o poder de direito, quem o exercia de fato era o seu ministro, o cardeal Richelieu. Após sua morte, ele é substituído por outro cardeal, Mazzarino, que seria ministro de Luís XIV. Somente após a morte de Mazzarino e livre da influência da Igreja é que Luís XIV consegue chegar ao auge de seu governo, tornando-se o principal rei absolutista da França.
Luis XIV resume seu governo em uma frase: “O Estado sou eu”. De fato, o rei concentra todo o poder decisivo em suas mãos. Adota a prática do mercantilismo e institui um burguês, Colbert, como ministro, aproximando a burguesia do Estado. Se por um lado o rei concede algum poder político à burguesia, por outro busca contentar a nobreza com o luxo e a ostentação da corte.  Além disso, mantém os privilégios do Primeiro e Segundo Estados, clero e nobreza, que não pagavam impostos, fazendo com que recaia sobre o Terceiro Estado (o resto da população) o custo de manter uma corte imersa na ostentação.
Um exemplo dessa ostentação é a construção do palácio de Versalhes, que acabou se tornando um dos maiores símbolos do absolutismo. Antes de sua construção, a residência da família real era o palácio do Louvre, que abriga hoje o museu do mesmo nome. A corte ignora a miséria e a fome crescente da população. A situação não é nova: a França passava por constantes revoltas, conhecidas como Frondas, que demonstram a insatisfação popular com a Coroa Francesa.
Luís XIV é a melhor tradução do absolutismo, pois concentra todas as decisões do Estado em sua figura, fazendo um governo personalista que ignora as necessidades da população e satisfaz os nobres e a alta burguesia. Esse regime só cai no século XVIII, com a Revolução Francesa, quando a situação de miséria da população chega a níveis espantosos. Além disso, a recusa dos sucessores de Luís XIV em fazer as necessárias reformas políticas e administrativas opõe a burguesia ao Estado. Assim, sob a direção dos burgueses, o rei é deposto e um novo período se inaugura na França.
O que devemos ter em mente com relação ao Estado absolutista é que ele não é único, assumindo diferentes formas em diferentes conjunturas. Entretanto, o sentido de absolutismo – um governo personalista, centralizado, que adota o mercantilismo e estimula o crescimento comercial - ocorre em todos os países em que ele se estabeleceu.
SINTESE DA AULA
Nessa aula você:
Distinguiu os diversos modelos de absolutismo europeu;
reconheceu a importância da religião para a formação dos estados nacionais;
comparou a estrutura política da Península Ibérica com as da Inglaterra e da França.
RELEMBRANDO
1 – Sob a dinastia Habsburgo o império espanhol alcançouseu apogeu.
2 – A dinastia de Avis chegou ao seu final com a morte do rei Dom Sebastião.
3 – O rei Henrique VIII iniciou o período absolutista na Inglaterra.
4 – Os Huguenotes eram conhecidos como os protestantes na França.
5 – O reino de Granada foi formado inicialmente por muçulmanos.
Aula 05 – Renascimento
INTRODUÇÃO
Nesta aula, analisaremos a importância das universidades medievais para a difusão do pensamento moderno e de que forma a herança do mundo medieval está presente na construção dessa mentalidade. A seguir, conceituaremos humanismo e veremos de que modo ele pode ser percebido no movimento renascentista, tanto do ponto de vista cultural quanto científico.
MATERIAL DIDÁTICO
CARDINI, Franco. Dois ensaios sobre o espírito da Europa. São Paulo: Companhia Ilimitada, 1993.
OBJETIVO DA AULA 
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Identificar a importância do pensamento medieval para o mundo moderno;
2. avaliar o sentido do termo Idade das Trevas para designar a Idade Média;
3. relacionar o conceito de humanismo aos diversos renascimentos.
APRENDA MAIS
BITTAR, Eduardo C. B. O aristotelismo e o pensamento árabe: Averrois e a recepção de Aristóteles no mundo medieval. In: Revista Portuguesa de História do Livro e da Edição. Ano XII, n. 24, 2009, p. 61-103. Disponível em: http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/rphl/n24/n24a04.pdf
OLIVEIRA, Terezinha. Origem e memória das universidades medievais a preservação de uma instituição educacional. In: Varia Historia. v. 23 n. 37 Belo Horizonte. Jan./Jun. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752007000100007
Nas aulas anteriores, mencionamos o monopólio que a Igreja católica exercia durante a Idade Média e como esse privilégio se traduziu no aumento do poder católico nesse período. Vejamos agora de que forma esse pensamento medieval foi gestado e serviu como base para o pensamento moderno.
Vamos falar sobre as universidades medievais e como essas instituições foram fundamentais para o desenvolvimento do pensamento e cultura do homem europeu. Quando falamos em universidade, nos vêm à mente instituições de ensino superior que cursamos após o fim do ensino médio, como forma de adquirirmos uma profissão e nos especializarmos em uma área de conhecimento.
Antes de falar sobre essa estrutura propriamente dita, vamos voltar nossos olhos para o Oriente e para os saberes trazidos pela presença muçulmana na Europa. Lembra-se? Falamos dela na última aula.
Os muçulmanos ocuparam durante séculos uma parte da Europa e, mesmo tendo sido expulsos no processo de unificação dos estados nacionais, deixaram uma grande herança cultural como legado. Durante a baixa Idade Média, sobretudo a partir do século XIII, há uma enorme transformação do pensamento Ocidental, pois as obras que haviam sido produzidas durante a antiguidade chegam, por intermédio do oriente, aos pensadores do medievo.
Mas como podemos compreender essa influência árabe no mundo medieval, já que neste último imperava a igreja católica?
Como o renascimento urbano e comercial e, mesmo antes disso, com as cruzadas, muito do conhecimento muçulmano penetrou no medievo. Além disso, nas universidades, coexistiam tanto o ensino religioso como o laico.  Como exemplo, podemos citar a obra do filósofo grego Aristóteles, que chega ao ocidente através de traduções feitas, inicialmente do árabe. Grande parte das obras, escritas em árabe e grego, vinha das regiões hispânicas dominadas pelos mouros.
Isso aponta para uma maior integração dos reinos europeus, proporcionada pelo comércio realizado entre essas regiões. Podemos perceber mais uma vez a noção da história não como uma estrutura linear, mas como fruto de vários processos ligados um ao outro. Mas atenção, não estamos falando aqui de um sistema baseado em causa e consequência.
Vamos "abrir um parêntese" para discutir um pouquinho essa questão, "causa e consequência". Em história, existe uma discussão que é feita há décadas sobre se ela é ou não ciência. Essa pergunta nunca terá uma resposta correta, pois há aqueles que defendem a história como ciência e outros discordam. Não vamos discutir aqui os argumentos defendidos por um e outro. O que nos cabe é entender porque isso é uma preocupação que aparece muitas vezes nos discursos historiográficos.
O paradigma mais comum para definir a ciência seria algo que pode ser observado e cuja experiência pode ser repetida até que os resultados possam ser considerados um padrão. Vamos ver um exemplo simples. Sabemos que a água ferve a 100 graus centígrados. Para termos essa informação, os cientistas ferveram a água incontáveis vezes e chegaram a conclusão de que esta afirmação é verdadeira. Sob qualquer condição, a água ferve a 100 graus.
Em história, não podemos fazer isso. Não podemos repetir os fenômenos e eventos históricos várias vezes para tirarmos nossas conclusões, ou seja, o paradigma de ciência tradicional pode ser aplicado às ciências exatas, mas não às ciências humanas, o que não quer dizer, necessariamente, que ela não seja ciência.
Será que se tivéssemos as mesmas circunstâncias que provocaram a Revolução Francesa em outro país teríamos o mesmo resultado? Jamais saberemos.
Por isso, também não podemos falar em causa e consequência em história, já que não podemos dizer que as mesmas causas provoquem consequências idênticas.
A mesma conjuntura provoca processos diferentes, dependendo do lugar, das classes sociais envolvidas, do desenvolvimento dessas classes, do conhecimento acumulado pelos indivíduos, enfim, depende de uma série de fatores que são únicos em cada lugar e tempo histórico. Por isso também é impossível utilizarmos a ideia de “e se..” Ela não tem validade em história. E se Inglaterra e França tivessem se unificado antes de Portugal e Espanha? Teriam se lançado antes na expansão marítima e colonizado a América? É impossível saber!
Entendendo a questão como um processo histórico, temos um conjunto de fatores que permitiram a existência das unidades medievais. Como fruto do seu tempo, as universidades servem também para suprir a mão de obra qualificada, já que tinha como um de seus objetivos o ensino de ofícios. Mas ao lado desse tipo de ensino, também havia uma forte formação cultural com o estudo de filósofos e escritos da antiguidade.
Esses elementos estarão fortemente presentes na constituição do pensamento moderno. Os marcos precisos para quando essas instituições começaram de fato a existir é motivo de controvérsia. Entretanto, é certo que as universidades existiram não só como uma necessidade de sua época, mas também como uma disputa entre o ensino laico e religioso. Leia o PDF Disputa entre o ensino laico e religioso
O que podemos concluir é que mesmo em meio à mentalidade medieval, dominada pela Igreja, há o florescimento e a expansão do ensino e da cultura, além da recuperação do conhecimento da antiguidade. Por isso, não faz sentido nos referirmos a esse termo como Idade das Trevas. Falamos disso em outras aulas, você se lembra?
Agora que vimos mais sobre o pensamento medieval, podemos perceber o quanto esse termo é pejorativo. Estima-se que o primeiro a se referir ao período medieval como Idade das trevas tenha sido Francesco Petrarca, intelectual e poeta italiano, no século XIV. Petrarca era um homem de seu tempo, culto e que, além disso, vivia em um dos maiores centros de efervescência cultural da época, a Itália. Para essa nação, durante os séculos anteriores, a literatura latina havia experimentado um enorme declínio, o que o fez considerar o período como obscuro ou tenebroso.
O termo foi apropriado pelos iluministas que entendiam o medievo como uma época de misticismo e superstição, no qual a ciência ficou relegada a segundo plano e o mundo era regido pelas sagradas escrituras. A existência e desenvolvimento das universidades mostram o quanto esse termo é errôneo, mas essa revisão foi feita somente no século XX. Levamos séculos para perceber que o conhecimento medieval é a base na qual se sustentaria o conhecimento