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CARREIRA JURIDICA 
Processo Civil 
Mauricio Cunha 
1 
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO 
PROCESSO CIVIL 
Considerações iniciais 
 A expressão “princípios processuais” 
vem ganhando, ao longo dos tempos, seja na 
literatura, seja na jurisprudência brasileira, 
bastante ênfase (a propósito, ver trabalho 
desenvolvido por Teresa Arruda Alvim 
Wambier na obra Recurso especial, recurso 
extraordinário e ação rescisória. São Paulo: 
RT, 2009, p. 61). Reconhece-se a eficácia 
direta dos mesmos, como ocorre com o 
princípio do devido processo legal e o princípio 
da razoável duração do processo, dentre 
outros. 
 Com Humberto Ávila, na obra Teoria 
dos princípios. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 
78 e seguintes, é possível afirmar que princípio 
é espécie normativa, norma que estabelece 
um fim a ser atingido. Se essa espécie 
normativa visa a um determinado “estado de 
coisas”, e esse fim somente pode ser 
alcançado com determinados 
comportamentos, “esses comportamentos 
passam a constituir necessidades práticas 
sem cujos efeitos a progressiva promoção do 
fim não se realiza”. É o mesmo autor que diz 
“os princípios instituem o dever de adotar 
comportamentos necessários à realização de 
um estado de coisas ou, inversamente, 
instituem o dever de efetivação de um estado 
de coisas pela adoção de comportamentos a 
ele necessários”. 
 A eficácia de um princípio do processo 
não depende de intermediação por outras 
regras jurídicas, espalhados na legislação. O 
princípio da boa-fé processual, p.e., torna 
devidos os comportamentos necessários à 
obtenção de um processo leal e cooperativo. 
Conclui-se, assim, ser possível cogitar de 
situações jurídicas processuais atípicas (não 
expressamente previstas) decorrentes da 
eficácia direta com função integrativa do 
princípio da boa-fé processual. 
 Há, porém, normas que servem à 
concretização dos princípios processuais. Os 
meios para alcançar esse “estado de coisas” 
podem ser típicos, determinados por 
subprincípios ou por regras jurídicas, que 
servem para delimitar o exercício do poder, 
contendo a arbitrariedade da autoridade 
jurisdicional. Aqui, fala-se que os princípios 
teriam uma eficácia indireta. 
 Os subprincípios exercem uma função 
definitória, delimitando com maior precisão o 
comando normativo estabelecido pelo 
sobreprincípio. 
Ex.: o princípio da boa-fé processual 
(sobreprincípio) pode ser encarado com um 
subprincípio do devido processo legal, ou seja, 
o processo, para ser devido, precisa ser 
cooperativo ou leal; o princípio do devido 
processo legal, por sua vez, pode ser 
considerado um subprincípio do princípio do 
Estado de Direito ou do princípio da dignidade 
da pessoa humana. 
 As regras jurídicas também exercem 
uma função definitória em relação aos 
 
 
 
 
 
 
 
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CARREIRA JURIDICA 
Processo Civil 
Mauricio Cunha 
2 
princípios, pois delimitam o comportamento 
que deverá ser adotado para concretizar as 
finalidades estabelecidas pelos princípios. 
Ex.: é exigência do princípio do contraditório 
que o órgão jurisdicional tenha o dever de dar 
oportunidade de a parte manifestar-se sobre a 
demanda que lhe foi dirigida. O contraditório 
garante o direito à defesa. 
 Os princípios exercem, ainda, em 
relação às normas menos amplas, uma função 
interpretativa, pois servem para interpretar 
normas construídas a partir de textos 
normativos expressos. Não se admite que um 
texto normativo seja interpretado no sentido de 
dificultar ou impedir a realização do fim 
almejado pelo princípio. 
 Por fim, os princípios exercem uma 
função bloqueadora, servindo para justificar a 
não-aplicação de textos expressamente 
previstos que sejam incompatíveis com o 
estado de coisas que se busca promover. 
Ex.: o princípio do devido processo legal serve 
para fundamentar a não-aplicação de 
dispositivos normativos que permitam uma 
decisão judicial sem motivação. 
 A sistematização da teoria dos 
princípios serve para que se possa dar uma 
interpretação mais adequada ao art. 126, CPC. 
O juiz não decide a lide com base na lei; o juiz 
decide a lide conforme o Direito, que se 
compõe do conjunto de espécies normativas: 
regras e princípios. 
 
 
Classificação 
 Conforme seu campo de abrangência, 
os princípios são classificados em 
informativos e fundamentais. 
 Os princípios INFORMATIVOS são 
normas principiológicas de denso caráter geral 
e abstrato, cuja aplicação é incidente sobre 
qualquer regra processual, de cunho 
constitucional ou infraconstitucional, 
independentemente de tempo ou lugar. 
 São eles: o princípio lógico, o princípio 
jurídico, o princípio político e o princípio 
econômico. 
 Lógico: segundo este princípio, a 
lógica do processo é aproximar o juiz da 
verdade a partir de uma sequência ordenada 
de atos, a qual possibilite uma justa 
composição aos conflitos de interesses 
apresentados. Ex.: petição inicial e resposta do 
réu antes da sentença. 
 Jurídico: todo processo deve atender 
estritamente às disposições legais, 
desenvolvendo seus atos em conformidade à 
lei vigente (evitando-se surpresas). Ex.: rol de 
testemunhas no prazo fixado pelo juiz ou no 
prazo legal. 
 Político: as regras processuais 
deverão estar em conformidade ao regime 
político adotado pelo sistema. O processo 
deve ter o maior rendimento possível, 
cumprindo sua instrumentalidade sem grandes 
sacrifícios às partes. Ex.: execução sob a 
forma menos gravosa para o devedor. 
 Econômico: as regras processuais 
devem possibilitar o acesso à justiça a todos 
 
 
 
 
 
 
 
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CARREIRA JURIDICA 
Processo Civil 
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com o mínimo de dispêndio. Orienta os 
operadores do direito à obtenção máxima de 
rendimento. Ex.: modalidades de intervenção 
de terceiros. 
 Por sua vez, os princípios 
FUNDAMENTAIS são normas principiológicas 
contextuais que se aplicam a ordenamentos 
jurídicos específicos e orientam a elaboração 
legislativa conforme os seus preceitos. O 
elenco é extenso. 
 DEVIDO PROCESSO LEGAL: previsto 
no art. 5º, LIV, CF (ninguém será privado da 
liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal) corresponde à tradução para o 
português da expressão inglesa “due process 
of law”. A palavra “law” corresponde ao 
significado de “Direito”, e não de “Lei”, ou seja, 
o processo deve estar em conformidade com o 
Direito como um todo, e não apenas com a Lei. 
É pacífico o entendimento de que o devido 
processo legal funciona como um 
supraprincípio, norteador de todos os demais 
que devem ser observados no processo. Tem 
a função de criar os elementos necessários à 
promoção do ideal de protetividade dos 
direitos, integrando o sistema jurídico 
eventualmente lacunoso. É a formação 
integrativa dos princípios, dele extraindo, como 
já mencionado, outros princípios e direitos 
fundamentais. 
Além do aspecto processual, também se aplica 
o princípio como fator limitador do poder de 
legislar da Administração Pública, bem como 
para garantir o respeito aos direitos 
fundamentais nas relações jurídicas 
privadas. 
Ainda que remanesça certe divergência a 
respeito da sua origem, costuma-se atribui-la à 
previsão contida na Magna Carta de João Sem 
Terra, no ano de 1215, que utilizava a 
expressão “law of the land”. 
Bastaria sua previsão no texto maior, uma vez 
que é princípio-base, com conceito 
indeterminado, pois, na prática, os valores 
essenciais à sociedade e ao idealdo justo 
dariam elementos suficientes para o juiz, no 
caso concreto, perceber os outros princípios 
que dele derivam. Não foi essa, porém, a 
opção legislativa. 
Atualmente, é analisado sob a ótica do devido 
processo legal substancial (substantive due 
process) e devido processo legal formal 
(procedural due process). No sentido 
substancial (desenvolvido nos Estados Unidos 
sob o raciocínio de que um processo devido 
não é apenas aquele em que se observam 
exigências formais: devido é o processo que 
gera decisões jurídicas substancialmente 
devidas), o devido processo legal diz respeito 
ao campo de elaboração e interpretação das 
normas jurídicas, evitando-se a atividade 
legislativa abusiva e irrazoável e ditando uma 
interpretação razoável quando da aplicação 
concreta das normas jurídicas. Funciona como 
controle das arbitrariedades do Poder Público, 
por ser originariamente voltado neste sentido. 
 
 
 
 
 
 
 
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As normas jurídicas são produzidas após um 
processo. As leis, após o processo legislativo. 
As normas administrativas, após um processo 
administrativo. As normas individualizadas 
jurisdicionais, após um processo jurisdicional. 
Nenhuma norma pode ser produzida sem a 
observância do devido processo legal, sendo 
por tal motivo que se fala em devido processo 
legal legislativo, devido processo legal 
administrativo e devido processo legal 
jurisdicional. 
Todavia, vem sendo exigido em relações 
jurídicas privadas, com fundamento na 
vinculação dos particulares aos direitos 
fundamentais. Exemplo: estudante de 
universidade quase expulsa de seus quadros 
em razão de ter assistido à aula de minissaia, 
mediante sindicância interna na qual não se 
concedeu direito de defesa à aula. Ainda que 
a faculdade seja privada e tenha um 
regulamento por ela mesmo criado, é natural 
que tal regulamento não contrarie os direitos 
fundamentais. 
Já no sentido formal, o princípio traz a sua 
definição clássica, vez que obrigado que o juiz, 
no caso concreto, observe os princípios 
processuais na condução do instrumento 
estatal oferecido aos jurisdicionados para a 
tutela dos seus direitos materiais. É possível 
associá-lo à ideia de um processo justo, que 
permite a ampla participação das partes e a 
efetiva proteção dos seus direitos. 
 CONTRADITÓRIO: o processo é um 
procedimento estruturado em contraditório. 
Aplica-se o princípio do contraditório, derivado 
que é do devido processo legal, nos âmbitos 
jurisdicional, administrativo e negocial (não 
obstante a literalidade do texto constitucional). 
A Constituição Federal prevê o contraditório no 
inciso LV do art. 5º: “aos litigantes, em 
processo judicial ou administrativo, e aos 
acusados em geral são assegurados o 
contraditório e ampla defesa, com os meios 
e recurso a ela inerentes”. 
O princípio do contraditório é reflexo do 
princípio democrático na estruturação do 
processo, devendo ser visto, portanto, como 
exigência para o exercício democrático de um 
poder. 
Pode ser decomposto em duas garantias: 
participação (audiência; comunicação; ciência) 
e possibilidade de influência na decisão. 
A garantia da participação é a dimensão 
formal do princípio do contraditório. Trata-se 
da garantia de ser ouvido, de participar do 
processo, de ser comunicado, poder falar no 
processo. Esse é o conteúdo mínimo do 
princípio do contraditório e concretiza a visão 
tradicional a respeito do tema. De acordo com 
esse pensamento, o órgão jurisdicional efetiva 
a garantia do contraditório simplesmente ao 
dar ensejo à ouvida da parte. 
Há, porém, ainda, a dimensão substancial do 
princípio do contraditório. Trata-se do “poder 
de influência”. Não adiante permitir que a parte 
simplesmente participe do processo. Apenas 
isso não é o suficiente para que se efetive o 
princípio do contraditório. É necessário que se 
 
 
 
 
 
 
 
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permita que ela seja ouvida, é claro, mas em 
condições de poder influenciar a decisão do 
magistrado. 
Se não for conferida a possibilidade de a parte 
influenciar a decisão do órgão jurisdicional – e 
isso é o poder de influência, de interferir com 
argumentos, ideias, alegando fatos, a garantia 
do contraditório estará ferida. É fundamental 
perceber isso: o contraditório não se efetiva 
apenas com a ouvida da parte; exige-se a 
participação com a possibilidade, conferida à 
parte, de influenciar no conteúdo da decisão. 
Mais condizente com essa visão do princípio 
do contraditório é o art. 599, II, CPC, que 
determina que o juiz deve, em qualquer 
momento da fase executiva, advertir ao 
devedor que o seu procedimento constitui ato 
atentatório à dignidade da justiça. Ora, antes 
de punir, adverte sobre o comportamento 
aparentemente temerário, para que a parte 
possa explicar-se. 
Também deve ser assim a aplicação da multa 
do art. 14, § único, CPC. Deverá o magistrado, 
ao expedir a ordem ou o mandado para 
cumprimento da diligência, providenciar 
advertir esses sujeitos (partes ou terceiros) de 
que o seu comportamento recalcitrante poderá 
resultar na aplicação da mencionada multa. 
Sem essa comunicação/advertência prévia, a 
multa porventura aplicada é inválida, por 
desrespeito ao princípio do contraditório. O 
responsável precisa saber das possíveis 
consequências de sua conduta, até mesmo 
para demonstrar ao magistrado as razões 
pelas quais não cumpriu a ordem, ou não a fez 
cumprir, ou até mesmo para demonstrar que a 
cumpriu ou não criou qualquer obstáculo para 
o seu cumprimento. Afinal, o contraditório se 
perfaz com a informação e o oferecimento de 
oportunidade para influenciar no conteúdo da 
decisão; participação e poder de influência são 
as palavras-chave para a compreensão desse 
princípio constitucional. 
Correta também a solução encontrada pelo 
STJ, no julgamento do REsp nº 250.781, rel. 
Min. José Delgado, DJ de 19.06.2000: 
“Processual civil. Litigância de má-fé. 
Requisitos para sua configuração. 1. Para a 
condenação em litigância de má-fé, faz-se 
necessário o preenchimento de três 
requisitos, quais sejam: que a conduta da 
parte se subsuma a uma das hipóteses 
taxativamente elencadas no art.17, CPC; 
que à parte tenha sido oferecida 
oportunidade de defesa 9CF, art.5º, LV); e 
que da sua conduta resulte prejuízo 
processual à parte adversa”. 
E a questão da formação dos 
pronunciamentos judiciais e o princípio do 
contraditório? 
Os pronunciamentos judiciais pautam-se, 
obviamente, em questões de fato e de direito. 
O juiz examina a questão de fato e, em 
seguida, examina a questão de direito, para 
poder decidir. 
O art. 131, CPC, prescreve que “O juiz 
apreciará livremente a prova, atendendo aos 
 
 
 
 
 
 
 
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fatos e circunstâncias constantes dos autos, 
ainda que não alegados pelas partes; mas 
deverá indicar, na sentença, os motivos que 
lhe formaram o convencimento”. O juiz pode 
basear-se em fato que não foi alegado pelas 
partes. 
O art.462, CPC, por sua vez, determina que 
“se, depois da propositura da ação, algum fato 
constitutivo, modificativo ou extintivo do direito 
influir no julgamento da lide, caberá ao juiz 
toma-lo em consideração, de ofício ou a 
requerimento da parte, no momento de proferir 
a sentença”. O juiz, ao decidir, pode basear-se 
em fato que influa no julgamentoda causa, 
mesmo que ninguém lhe tenha provocado a 
respeito. Há questões fáticas que podem ser 
apreciadas pelo magistrado ex officio. O juiz 
pode conhecer de fatos que não tenham sido 
alegados. Ele pode trazer, ele pode aportar 
fatos ao processo, mas o órgão jurisdicional 
não pode levar em consideração um fato de 
ofício, sem que as partes tenham tido a 
oportunidade de se manifestarem a respeito. 
Imagine a seguinte situação: A e B estão 
litigando, cada um argumenta o que quis e o 
juiz, no momento da sentença, baseia-se em 
um fato que não foi alegado pelas partes, não 
foi discutido por elas, mas está provado nos 
autos. Ele trouxe esse fato para fundamentar a 
sua decisão com base no art. 131, conjugado 
com o art. 462, ambos do CPC. Mas ele não 
poderia ter feito isso sem submeter esse fato 
ao prévio debate entre as partes. Isso feriria, 
escancaradamente, o contraditório. 
Vamos examinar o tema em relação às 
questões de direito. 
Há um velho brocardo iura novit curia (do 
Direito cuida a corte). Há, ainda, outro da mihi 
factum dabo tibi ius (dá-me os fatos, que eu te 
darei o direito). 
Não pode o órgão jurisdicional, assim, decidir 
com base em um argumento, uma questão 
jurídica não posta pelas partes no processo. 
Perceba: o órgão jurisdicional, por exemplo, 
verifica que a lei é inconstitucional. Ninguém 
alegou que a lei é inconstitucional. O autor 
pediu com base em uma determinada lei, a 
outra parte alega que essa lei não se aplicava 
ao caso. O juiz entende de outra maneira, 
ainda não aventada pelas partes: “Essa lei 
apontada pelo autor como fundamento do seu 
pedido é inconstitucional. Portanto, julgo 
improcedente a demanda”. O órgão 
jurisdicional pode fazer isso, mas deve antes 
submeter essa nova abordagem à discussão 
das partes. 
O órgão jurisdicional teria de, nessas 
circunstâncias, intimar as partes para 
manifestar-se a respeito (“intimem-se as 
partes para que se manifestem sobre a 
constitucionalidade da lei”). Trata-se de 
exercício democrático e cooperativo do poder 
jurisdicional, até mesmo porque o juiz pode 
estar em dúvida sobre o tema. 
 AMPLA DEFESA: contraditório e 
ampla defesa, não por acaso, estão previstos 
 
 
 
 
 
 
 
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CARREIRA JURIDICA 
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no mesmo dispositivo constitucional (art. 5º, 
LV, CF). 
A ampla defesa é “direito fundamental de 
ambas as partes”, consistindo no conjunto de 
meios adequados para o exercício do 
adequado contraditório. 
Atualmente, tendo em vista o desenvolvimento 
da dimensão substancial do princípio do 
contraditório, pode-se dizer que eles se 
fundiram, formando uma amálgama de um 
único direito fundamental. A ampla defesa 
corresponde ao aspecto substancial do 
princípio do contraditório. 
 PUBLICIDADE: processo devido é 
processo público. Os atos processuais hão de 
ser públicos. O princípio da publicidade gera o 
direito fundamental à publicidade. Trata-se de 
direito fundamental que tem, basicamente, 
duas funções: a) proteger as partes contra 
juízos arbitrários e secretos (e, nesse sentido, 
é conteúdo do devido processo legal, como 
instrumento a favor da imparcialidade e 
independência do órgão jurisdicional); b) 
permitir o controle da opinião pública sobre os 
serviços da justiça, principalmente sobre o 
exercício da atividade jurisdicional. Essas duas 
funções revelam que a publicidade processual 
tem duas dimensões: a) interna: publicidade 
para as partes, bem ampla, em razão do direito 
fundamental ao processo devido; b) externa: 
publicidade para terceiros, que pode ser 
restringida em alguns casos. 
Observe-se que o processo arbitral pode, e é 
o que costuma ocorrer, ser sigiloso. O sigilo do 
processo arbitral restringe-se à publicidade 
externa. 
Não há problema em relação a isso: trata-se 
de exercício da jurisdição por órgão não-
estatal, cujo objeto envolve situações jurídicas 
disponíveis titularizadas por pessoas capazes. 
O sigilo do processo arbitral é concretização do 
direito fundamental à preservação da 
intimidade. 
A CF estabelece possibilidade de restrição 
(mas não eliminação) à publicidade externa: “a 
lei só poderá restringir a publicidade dos atos 
processuais quando a defesa da intimidade ou 
o interesse social o exigirem” (art. 5º, LX, CF). 
O CPC também segue esta linha: a) em que o 
exigir o interesse público; b) que dizem 
respeito ao casamento, filiação, separação dos 
cônjuges, conversão desta em divórcio, 
alimentos e guarda de menores (art. 155, § 
único, CPC). Perceba que a restrição à 
publicidade tanto pode fundar-se no interesse 
público como também na preservação da 
intimidade, aplicado, sempre, o princípio da 
proporcionalidade. 
A Emenda Constitucional nº 45/2004 ratificou 
a exigência da publicidade de todos os atos 
provenientes dos órgãos do Poder Judiciário 
(arts. 93, incisos IX e X, CF). 
Há uma íntima relação entre os princípios da 
publicidade e a regra da motivação das 
decisões judiciais, na medida em que a 
publicidade torna efetiva a participação no 
controle das decisões judiciais; trata-se de 
 
 
 
 
 
 
 
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CARREIRA JURIDICA 
Processo Civil 
Mauricio Cunha 
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verdadeiro instrumento de eficácia da garantia 
da motivação das decisões judiciais. 
A publicidade em processos eletrônicos tem as 
suas peculiaridades. Com o objetivo de dar 
efetividade ao §6º do art.11 da Lei nº 
11.419/2006, o CNJ editou a Resolução nº 
121/2010, cuja leitura é recomendável. 
 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO 
PROCESSO: a Convenção Americana de 
Direitos Humanos, Pacto de São José da 
Costa Rica, no art. 8, 1, prevê que “Toda 
pessoa tem o direito a ser ouvida com as 
devidas garantias e dentro de um prazo 
razoável, por um juiz ou tribunal competente, 
independente e imparcial, estabelecido 
anteriormente por lei, na apuração de qualquer 
acusação penal formulada contra ela, ou para 
que se determinem os seus direitos ou 
obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal 
ou de qualquer outra natureza”. 
A República Federativa do Brasil é signatária 
desse Pacto, que adquiriu eficácia no plano 
internacional em 18.7.1978. O Congresso 
Nacional editou o Decreto 27, de 26.5.1992, 
aprovando o seu texto. O Governo Federal 
depositou, em 25.9.1992, a Carta de Adesão 
ao mencionado pacto. Com a ulterior 
publicação do Decreto 678 (9.11.1992), o 
Pacto de São José da Costa Rica foi 
promulgado e incorporado ao ordenamento 
jurídico brasileiro. O procedimento de 
incorporação do tratado foi respeitado em seus 
mínimos detalhes. 
Estávamos, pois, diante de norma 
constitucional, que impunha a decisão judicial 
em prazo razoável. Concluía-se, portanto, que, 
também em nosso país, o direito ao processo 
sem dilações indevidas, como corolário do 
devido processo legal, vinha expressamente 
assegurado ao membro da comunhão social 
por norma de aplicação imediata (art. 5º, § 1º, 
CF). Decorreria esse direito fundamental, 
ainda, dos princípios da inafastabilidade e da 
proteção à dignidade da pessoa humana. 
A EC nº 45/2004, que reformou 
constitucionalmente o Poder Judiciário, incluiu, 
então, o inciso LXXVIII, no art. 5º, CF, com a 
seguinte redação: “a todos, no âmbito judicial 
e administrativo, são assegurados a razoável 
duração do processo e os meios que garantam 
a celeridade de sua tramitação”. A mesma 
emenda constitucional acrescentou a alínea 
“e” ao inciso II do art.93, CF, estabelecendo 
que “não será promovido o juiz que, 
injustificadamente,retiver autos em seu poder 
além do prazo legal, não podendo devolvê-los 
ao cartório sem o devido despacho ou 
decisão”. 
Processo devido é, pois, processo com 
duração razoável. 
A Corte Europeia dos Direitos do Homem 
firmou entendimento de que, respeitadas as 
circunstâncias de cada caso, devem ser 
observados três critérios para se determinar a 
duração razoável do processo, quais sejam: a) 
a complexidade do assunto; b) o 
comportamento dos litigantes e de seus 
 
 
 
 
 
 
 
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CARREIRA JURIDICA 
Processo Civil 
Mauricio Cunha 
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procuradores ou da acusação e da defesa no 
processo; c) a atuação do órgão jurisdicional. 
 IGUALDADE PROCESSUAL 
(PARIDADE DE ARMAS): os sujeitos 
processuais devem receber tratamento 
processual idêntico; devem estar em combate 
com as mesmas armas, de modo a que 
possam lutar em pé de igualdade. Chama-se a 
isso de paridade de armas: o procedimento 
deve proporcionar às partes as mesmas armas 
para a luta. 
A garantia da igualdade significa dar as 
mesmas oportunidades e os mesmos 
instrumentos processuais para que possam 
fazer valer os seus direitos e pretensões, 
ajuizando ação, deduzindo resposta etc.. 
O processo não pode ensejar apenas o 
contraditório formal, mas, sim, o material. 
Neste sentido substancial, o princípio da 
igualdade confunde-se com o devido processo 
legal substancial. 
O princípio da igualdade processual impõe a 
criação de uma série de regras processuais 
adequadas às particularidades de cada sujeito 
do processo. Neste sentido, a igualdade 
processual confunde-se com a adequação 
subjetiva do processo. 
 EFICIÊNCIA: o processo, para ser 
devido, há de ser eficiente. O princípio da 
eficiência, aplicado ao processo, é um dos 
corolários da cláusula geral do devido 
processo legal. Realmente, é difícil conceber 
como devido um processo ineficiente. 
Ele resulta, ainda, da incidência do art. 37, 
caput, CF. Esse dispositivo também se dirige 
ao Poder Judiciário – como indica, aliás, a 
literalidade do enunciado, que fala em 
“qualquer dos Poderes”. 
Assim, o princípio do processo eficiente é 
resultado de uma combinação de dois 
dispositivos da CF: art. 5º, LIV, e art. 37, caput. 
O princípio repercute sobre a atuação do 
Poder Judiciário em duas dimensões: a) 
Administração Judiciária e b) a gestão de um 
determinado processo. Vejamos: 
a) sobre a Administração Judiciária. O Poder 
Judiciário também pode ser encarado, sob 
uma perspectiva, como ente da administração 
– e é exatamente por isso que o art. 37, CF, 
também a ele se refere. A Administração 
Judiciária – administração dos órgãos 
administrativos que compõem o Poder 
Judiciário – deve ser eficiente. 
A criação do CNJ, pela EC nº 45/2004, 
corrobora essa dimensão do princípio da 
eficiência administrativa. A simples leitura do § 
4º do art. 103-B, CF, é suficiente para 
demonstrar o que se afirma. 
O princípio, neste sentido, é norma de direito 
administrativo, sem qualquer especificidade 
digna de nota pelo fato de ser dirigido ao Poder 
Judiciário. 
b) dimensão do princípio da eficiência que ora 
nos interessa é a outra. O princípio da 
eficiência, aplicado ao processo jurisdicional, 
 
 
 
 
 
 
 
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impõe a condução eficiente de um 
determinado processo pelo órgão jurisdicional. 
O princípio, aqui, dirige-se ao órgão do Poder 
Judiciário, não na condição de ente da 
administração, mas, sim, na de órgão 
jurisdicional, responsável pela gestão de um 
processo (jurisdicional) específico. Assim, é 
norma de direito processual e, nessa 
qualidade, aqui nos interessa. 
A compreensão da eficácia processual do 
principio da eficiência impõe, ainda, que se 
levem em consideração algumas premissas. 
I. Esse princípio se relaciona com a gestão do 
processo. 
O órgão jurisdicional é, assim, visto como um 
administrador: administrador de um 
determinado processo. Para tanto, a lei atribui-
lhe poderes de condução (gestão) do 
processo. Esses poderes deverão ser 
exercidos de modo a dar o máximo de 
eficiência ao processo. Trata-se, 
corretamente, o serviço jurisdicional como uma 
espécie de serviço público. Para a 
compreensão do princípio do processo 
jurisdicional eficiente, é imprescindível, então, 
o diálogo entre a Ciência do Direito Processual 
e a Ciência do Direito Administrativo. 
Essa é a primeira premissa: o princípio da 
eficiência dirige-se, sobretudo, a orientar o 
exercício dos poderes de gestão do processo 
pelo órgão jurisdicional, que deve visar à 
obtenção de um determinado “estado de 
coisas”: processo eficiente. 
II. A aplicação do princípio da eficiência ao 
processo é uma versão contemporânea (e 
também atualizada) do conhecido princípio da 
economia processual. Muda-se a 
denominação, não apenas porque é assim que 
ela aparece no texto constitucional, mas, 
sobretudo por ser uma técnica retórica de 
reforço da relação entre esse princípio e a 
atuação do juiz como um administrador ainda 
que administrador de um determinado 
processo. 
III. Exatamente por conta disso, pode-se 
sintetizar a “eficiência”, meta a ser alcançada 
por esse princípio, como o resultado de uma 
atuação que observou dois deveres: a) o de 
obter o máximo de um fim com o mínimo de 
recursos (efficiency); b) o de, com um meio, 
atingir o fim ao máximo (effectiveness). 
Eficiente é a atuação que promove os fins do 
processo de modo satisfatório em termos 
quantitativos, qualitativos e probabilísticos. Ou 
seja, na escolha dos meios a serem 
empregados para a obtenção dos fins, o órgão 
jurisdicional deve escolher meios que os 
promovam de modo minimamente intenso 
(quantidade – não se pode escolher um meio 
que promova resultados insignificantes) e 
certo (probabilidade – não se pode escolher 
um meio de resultado duvidoso), não sendo 
lícita a escolha do pior dos meios para isso 
(qualidade – não se pode escolher um meio 
que produza muitos efeitos negativos 
paralelamente ao resultado buscado). A 
eficiência é algo que somente se constata a 
 
 
 
 
 
 
 
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posteriori: não se pode avaliar a priori se a 
conduta é ou não eficiente. 
Assim como o princípio da adequação, o 
princípio da eficiência impõe ao órgão 
jurisdicional o dever de adaptar regras 
processuais, com o propósito de atingir a 
eficiência. Mas enquanto a adequação é 
atributo das regras e do procedimento, a 
eficiência é uma qualidade que se pode atribuir 
apenas ao procedimento – encarado como ato. 
Embora se conceba um procedimento a priori 
(em tese) adequado – um procedimento 
definido pelo legislador, com a observância 
dos critérios objetivo, subjetivo e teleológico, 
um procedimento eficiente é inconcebível a 
priori: a eficiência resulta de um juízo a 
posteriori, como se disse, sempre 
retrospectivo. 
Note que, assim, podemos distinguir eficiência 
e efetividade. 
Efetivo é o processo que realiza o direito 
afirmado e reconhecido judicialmente. 
Eficiente é o processo que atingiu esse 
resultado de modo satisfatório, nos termos 
acima. Um processo pode ser efetivo sem ter 
sido eficiente – atingiu-se o fim “realização do 
direito” de modo insatisfatório (com muitos 
resultados negativos colaterais e/ou excessiva 
demora, por exemplo). Mas jamais poderá ser 
considerado eficiente sem ter sido efetivo: a 
não realização de um direito reconhecido 
judicialmenteé quanto basta para a 
demonstração da ineficiência do processo. 
Estabelecidas as premissas, podemos, agora, 
visualizar algumas aplicações do princípio da 
eficiência no processo. 
I) O dever de eficiência impõe-se na escolha 
do meio a ser utilizado para a execução da 
sentença (art. 461, § 5º, CPC). O meio 
executivo deve promover a execução de modo 
satisfatório, nos termos mencionados acima. 
II) O princípio da eficiência exerce uma função 
interpretativa. Os enunciados normativos da 
legislação processual devem ser interpretados 
de modo a observar a eficiência. Dispositivos 
relacionados à suspensão do processo, por 
exemplo, que impõem um limite temporal 
máximo para a suspensão (art. 265, §§ 3º e 5º, 
CPC), devem ser interpretados com 
temperamento: em certas situações, o 
prosseguimento do processo, após o 
vencimento do prazo máximo de suspensão, é 
medida que pode revelar-se extremamente 
ineficiente, sob o ponto de vista da 
administração do processo. 
III) Do princípio da eficiência pode-se extrair a 
permissão de o órgão jurisdicional estabelecer 
uma espécie de “conexão probatória” entre 
causas pendentes, de modo a unificar a 
atividade instrutória, como forma de redução 
de custos, mesmo que isso não implique a 
necessidade de julgamento simultâneo de 
todas elas. 
Imagine-se o caso em que um mesmo fato é 
afirmado em várias causas pendentes – 
nocividade de um determinado produto, por 
 
 
 
 
 
 
 
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exemplo -, que não podem ser reunidas para 
julgamento simultâneo, porque cada uma 
delas possui, ainda, suas próprias 
peculiaridades fáticas. Pode o órgão 
jurisdicional, neste caso, determinar uma 
perícia única, cujos custos seriam repartidos 
entre os sujeitos interessados de todos os 
processos. 
IV) O princípio da eficiência é fundamento para 
que se permita a adoção, pelo órgão 
jurisdicional, de técnicas atípicas (porque não 
previstas expressamente na lei) de gestão do 
processo, como o calendário processual 
(definição de uma agenda de atos 
processuais, com a prévia intimação de todos 
os sujeitos processuais de uma só vez), ou 
outros acordos processuais com as partes, em 
que se promovam certas alterações 
procedimentais, como a ampliação de prazos 
ou inversão da ordem de produção de provas. 
 BOA-FÉ PROCESSUAL: os sujeitos 
do processo devem comportar-se de acordo 
com a boa-fé, que, nesse caso, deve ser 
entendida como uma norma de conduta (“boa-
fé objetiva”). Esse é o princípio da boa-fé 
processual, que se extrai do texto do inciso II 
do art. 14, CPC. 
O inciso II do art. 14, CPC, não está 
relacionada à boa-fé subjetiva, à intenção do 
sujeito processual: trata-se de norma que 
impõe condutas em conformidade com a boa-
fé objetivamente considerada, 
independentemente da existência de boas ou 
más intenções. 
O princípio da boa-fé extrai-se de uma cláusula 
geral processual. A opção por uma cláusula 
geral de boa-fé é mais correta. É que a 
infinidade de situações que podem surgir ao 
longo do processo torna pouco eficaz qualquer 
enumeração legal exaustiva das hipóteses de 
comportamento desleal. É correta, portanto, a 
opção da legislação brasileira por uma norma 
geral que impõe o comportamento de acordo 
com a boa-fé (o art. 14, II, CPC, é cláusula 
geral). 
Há, porém, regras de proteção à boa-fé, que 
concretizam o princípio e compõem a 
modelagem do devido processo leal brasileiro 
(normas de litigância de má-fé dos arts. 17 e 
18, CPC). 
A boa-fé subjetiva é elemento do suporte fático 
de alguns fatos jurídicos (é fato, portanto). A 
boa-fé objetiva é norma de conduta (impõe e 
proíbe condutas). Não existe princípio da boa-
fé subjetiva. 
Importante lembrar que os destinatários das 
normas são todos aqueles que de qualquer 
forma participam do processo, incluindo não 
apenas as partes, mas também o órgão 
jurisdicional. Vinculação do Estado-juiz ao 
dever de boa-fé é o reflexo do princípio de que 
o Estado deve agir com a boa-fé, de maneira 
leal e com proteção à confiança. 
O princípio da boa-fé impõe verdadeiros 
deveres de cooperação entre os sujeitos do 
processo. 
 
 
 
 
 
 
 
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A cláusula geral da boa-fé objetiva processual 
implica, entre outros efeitos, o dever de o 
sujeito processual não atuar imbuído de má-fé, 
considerada como fato que compõe o suporte 
fático de alguns ilícitos processuais. 
Qual seria o fundamento constitucional da boa-
fé processual? Mesmo que não houvesse texto 
normativo expresso na legislação 
infraconstitucional, o princípio da boa-fé 
processual poderia ser extraído de outros 
princípios constitucionais: comportar-se em 
conformidade com a boa-fé pode ser exigência 
de conteúdo de outros direitos fundamentais. 
O STF segue o entendimento de que o 
princípio da boa-fé processual compõe a 
cláusula do devido processo legal, exigindo um 
processo leal e pautado na boa-fé (RExtr 
4649632/GO, Relator Ministro Gilmar Mendes, 
j.14.02.2006). 
 EFETIVIDADE: da cláusula geral do 
“devido processo legal” podem ser extraídos 
todos os princípios que regem o direito 
processual. 
Dela também se extrai o princípio da 
efetividade: os direitos devem ser, além de 
reconhecidos, efetivados. Processo devido é 
processo efetivo. O princípio da efetividade 
garante o direito fundamental à tutela 
executiva, que consiste “na exigência de um 
sistema completo de tutela executiva, no qual 
existam meios executivos capazes de 
proporcionar pronta e integral satisfação a 
qualquer direito merecedor de tutela 
executiva”. 
Esse posicionamento é reforçado pela 
moderna compreensão do chamado “princípio 
da inafastabilidade”, que, conforme célebre 
lição de Kazuo Watanabe, deve ser entendido 
não como uma garantia formal, uma garantia 
de pura e simplesmente “bater às portas do 
Poder Judiciário”, mas, sim, como garantia de 
acesso à ordem jurídica justa, 
consubstanciada em uma prestação 
jurisdicional célere, adequada e eficaz. 
O direito fundamental à tutela executiva, mais 
concretamente, significa: a) a interpretação 
das normas que regulamentam a tutela 
executiva tem de ser feita no sentido de extrair 
a maior efetividade possível; b) o juiz tem o 
poder-dever de deixar de aplicar uma norma 
que imponha uma restrição a um meio 
executivo, sempre que essa restrição não se 
justificar à luz da proporcionalidade, como 
forma de proteção a outro direito fundamental; 
c) o juiz tem o poder-dever de adotar os meios 
executivos que se revelem necessários à 
prestação integral de tutela executiva. 
Partir da premissa de que existe um direito 
fundamental à tutela executiva é indispensável 
para a solução de diversos problemas 
oriundos do procedimento executivo, 
principalmente aqueles relacionados à 
aplicação das regras de proteção do 
executado, com as hipóteses de 
impenhorabilidade. 
 ADEQUAÇÃO (LEGAL E 
JURISDICONAL) DO PROCESSO: o princípio 
da adequação pode ser visualizado, de acordo 
 
 
 
 
 
 
 
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com a doutrina, em dois momentos: a) 
legislativo, como informador da produção 
legislativa das regras processuais; b) 
jurisdicional, permitindo ao juiz, no caso 
concreto, adaptar o procedimento às 
peculiaridades da causa que lhe é submetida. 
Nesse segundo momento, fala-se em princípio 
da adaptabilidade, elasticidadeou adequação 
formal do processo. 
Inicialmente, a própria construção do 
procedimento deve ser feita tendo-se em vista 
a natureza e as peculiaridades do objeto do 
processo a que servirá; o legislador deve 
atentar para estas circunstâncias, pois um 
procedimento inadequado ao direito material 
pode importar verdadeira negação da tutela 
jurisdicional. O princípio da adequação não se 
refere apenas ao procedimento. A tutela 
jurisdicional há de ser adequada; o 
procedimento é apenas uma forma de encarar 
este fenômeno. 
O princípio da inafastabilidade da jurisdição 
garante uma tutela adequada à realidade de 
direito material, ou seja, garante o 
procedimento, a espécie de cognição, a 
natureza do provimento e os meios 
executórios adequados às peculiaridades da 
situação de direito material. Do princípio da 
inafastabilidade, é possível retirar-se o 
princípio da adequação da tutela jurisdicional. 
Também é possível retirá-lo do direito 
fundamental a um processo devido: processo 
devido é processo adequado. Lembre-se que 
o devido processo legal é uma cláusula geral, 
de onde se podem retirar outros princípios, tal 
como o da adequação. Há quem entenda, 
ainda, que o princípio da adequação decorre 
do princípio da efetividade, também esse 
corolário do devido processo legal. 
O titular do direito, para obter aquilo que 
realmente tem direito de obter, precisa de uma 
série de medidas estabelecidas pelo 
legislador, dentre as quais avulta a criação de 
um procedimento adequado ás 
particularidades da situação jurídica 
substancial submetida à apreciação do órgão 
jurisdicional. 
A adequação subjetiva do processo se opera 
em razão dos litigantes. São exemplos de 
regras de adequação subjetiva do processo: a) 
intervenção obrigatória do Ministério Público 
nas ações de incapazes (art. 82, I, CPC); b) 
diferenciação de regras de competência 
(domicílio do alimentando, art. 100, II, CPC; 
entes públicos federais, art. 109, I, CF); c) 
incapacidade processual para litigar em certos 
procedimentos (art. 8º, Lei Federal nº 
9.099/1995); d) prazos especiais (art. 188, 
CPC) etc. 
A adequação teleológica do procedimento faz-
se de acordo com as diversas funções a que 
visa: “Claro está que o processo de 
conhecimento, porque visa à definição do 
direito, requer atos e rito distintos daqueles 
exigidos para a execução, onde se cuida da 
realização coativa do direito declarado, ou 
para o processo cautelar, que busca a 
segurança do interesse em lide”. Há 
 
 
 
 
 
 
 
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adequação teleológica também quando o 
procedimento é adaptado aos valores 
preponderantes em cada caso. Assim, por 
exemplo, o procedimento dos Juizados 
Especiais é adequado aos valores duração 
razoável do processo e efetividade, que 
presidiram a sua criação. 
Três são, basicamente, os critérios objetivos 
de que se vale o legislador para adequar a 
tutela jurisdicional pelo procedimento: um, a 
natureza do direito material, cuja importância e 
relevância impõem uma modalidade de tutela 
mais efetiva; o segundo, a forma como se 
apresenta o direito material no processo; o 
terceiro, a situação processual da urgência. 
São exemplos do primeiro critério os 
procedimentos das “possessórias”, dos 
alimentos, da busca e apreensão em alienação 
fiduciária e o da liminar em ação civil pública 
etc. Do segundo critério são exemplos, o 
mandado de segurança, a ação monitória e a 
tutela antecipada genérica do art. 273, CPC. 
São exemplos de tutela de urgência os 
procedimentos especiais de alimentos e 
mandado de segurança preventivo. 
A indisponibilidade do direito é fator levado em 
consideração para a diferenciação 
procedimental. 
Quando a diferenciação do procedimento 
ocorre pela apresentação processual do 
direito, temos a proteção daquilo que foi muito 
bem denominado de tutela da evidência 
(aparência) com que se mostra nos autos. Não 
tem importância, a princípio, a natureza do 
direito material posto em litígio, Privilegia-se, 
sem dúvida, a comprovação do direito 
alegado: direito líquido e certo (cujos fatos se 
comprovam documentalmente) e prova 
escrita, em se tratando de ação monitória. 
Mas o processo deve ser adequado também 
pelo órgão jurisdicional, que deve estar atento 
aos mesmos critérios de adequação. 
Nada impede que se possa previamente 
conferir ao magistrado, como diretor do 
processo, poderes para conformar o 
procedimento às peculiaridades do caso 
concreto, tudo como meio de mais bem tutelar 
o direito material. Também se deve permitir ao 
magistrado que corrija o procedimento que se 
revele inconstitucional, por ferir um direito 
fundamental processual, como o contraditório 
(se um procedimento não previr o 
contraditório, deve o magistrado determina-lo, 
até mesmo ex officio, como forma de 
efetivação desse direito fundamental). Eis que 
aparece o princípio da adaptabilidade, 
elasticidade ou adequação judicial do 
procedimental: cabe ao órgão jurisdicional 
prosseguir na empresa da adequação do 
processo, iniciada pelo legislador, mas que, 
em razão da natural abstração do texto 
normativo, pode ignorar peculiaridades de 
situações concretas somente constatáveis 
caso a caso. 
Muitas vezes, há regras legais que autorizam 
essa adequação judicial do procedimento. 
Podem ser citadas, como exemplos: a) 
possibilidade de inversão da regra do ônus da 
 
 
 
 
 
 
 
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prova, em causas de consumo: a regra do 
procedimento é alterada no caso concreto, ope 
iudicis, preenchidos certos requisitos, de 
acordo com o art. 6º, VIII, CDC; b) a 
possibilidade de conversão do procedimento 
sumário em ordinário, em razão da 
complexidade da prova técnica ou do valor da 
causa (art. 277, §§ 4º e 5º, CPC); c) o 
julgamento antecipado da lide, em que se pode 
abreviar o rito, com a supressão de uma de 
suas fases (art. 330, CPC); d) a determinação 
ou não de audiência preliminar, a depender da 
disponibilidade do direito em jogo (art. 331, 
CPC); e) as variantes procedimentais previstas 
na Lei de Ação Popular (Lei Federal nº 
4.717/1965, arts. 7º e ss); f) a possibilidade de 
o relator da ação rescisória fixar o prazo de 
resposta, dentro de certos parâmetros (art. 
491, CPC); g) as mutações permitidas ao 
agravo de instrumento do art. 544, § 4º, CPC; 
h) adequação do processo em jurisdição 
voluntária (art. 1.109, CPC) etc. 
Mas o princípio da adequação do processo 
pode atuar diretamente, sem a intermediação 
de que regras que o concretizem. 
Se a adequação do procedimento é um direito 
fundamental, cabe ao órgão jurisdicional 
efetivá-lo, quando diante de uma regra 
procedimental inadequada às peculiaridades 
do caso concreto, que impede a efetivação de 
um direito fundamental (à defesa, à prova, à 
efetividade etc.). É como afirma Humberto 
Ávila, referindo-se ao devido processo legal, 
do qual, é preciso lembrar, se extrai o princípio 
da adequação: “No plano da eficácia direta os 
princípios exercem uma função integrativa, na 
medida em que justificam agregar elementos 
não previstos em subprincípios ou regras. 
Mesmo que um elemento inerente ao fim que 
deve ser buscado não esteja previsto, ainda 
assim o princípio irá garanti-lo. Por exemplo, 
se não há regra expressa que oportunize a 
defesa ou a abertura de prazo para 
manifestação da parte no processo – mas elas 
são necessárias -, elas deverão ser garantidascom base direito no princípio do devido 
processo legal”. 
Um exemplo: o prazo de defesa no 
procedimento comum ordinário é de quinze 
dias. Entende-se que esse é o prazo adequado 
para elaboração da defesa pelo réu. Imagine, 
porém, que a petição inicial venha 
acompanhada de dez volumes de documentos 
(dois mil documentos, mais ou menos). Esse 
prazo revelar-se-á, naquele caso, como 
inadequado. Permite-se que o magistrado 
dilate o prazo de defesa, permitindo a 
efetivação do direito fundamental a um 
processo adequado à apresentação da defesa 
pelo demandado. 
A flexibilidade do procedimento às exigências 
da causa é, então, fundamental para a melhor 
consecução dos fins do processo. 
Carlos Alberto Alvaro de Oliveira sugere, para 
uma reforma legislativa, o estabelecimento do 
princípio da adaptabilidade (que ele denomina 
de princípio da adequação formal, seguindo a 
terminologia do CPC Português, que contém 
 
 
 
 
 
 
 
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regra expressa) como princípio geral do 
processo, uma espécie de cláusula geral de 
adequação do processo, “facultando ao juiz, 
obtido o acordo das partes, e sempre que a 
tramitação processual prevista na lei não se 
adapte perfeitamente às exigências da 
demanda aforada, a possibilidade de amoldar 
o procedimento à especificidade da causa, por 
meio da prática de atos que melhor se prestem 
à apuração da verdade e acerto da decisão, 
prescindindo dos que se revelem inidôneos 
para o fim do processo. Como se trata de um 
desvio (previsível e permitido) da rota 
originariamente traçada, o órgão jurisdicional 
sempre deve alertar as partes de sua intenção, 
de modo a garantir a higidez do contraditório; 
somente com o prévio anúncio podem os 
litigantes comportar-se processualmente de 
acordo com as novas regras. Pensar o 
contraditório seria permitir surpresas 
processuais, em afronta direta aos princípios 
do contraditório e da cooperação. 
Em síntese: procede-se à adequação do 
processo ao seu objeto tanto no plano 
legislativo, abstrato, com a construção de 
procedimentos compatíveis com as 
necessidades do direito material, como 
também no plano do caso concreto, 
processual, conferindo-se ao órgão 
jurisdicional o poder de adequar o 
procedimento às exigências da causa. 
NOVO CPC 
LIVRO I – DAS NORMAS PROCESSUAIS 
CIVIS 
TÍTULO ÚNICO – DAS NORMAS 
FUNDAMENTAIS E DA APLICAÇÃO DAS 
NORMAS PROCESSUAIS 
 
CAPÍTULO I – DAS NORMAS 
FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL 
 
Art. 1º O processo civil será ordenado, 
disciplinado e interpretado conforme os 
valores e as normas fundamentais 
estabelecidos na Constituição da 
República Federativa do Brasil, 
observando-se as disposições deste 
Código. 
 
Art. 2º O processo começa por iniciativa da 
parte e se desenvolve por impulso oficial, 
salvo as exceções previstas em lei. 
 
Art. 3º Não se excluirá da apreciação 
jurisdicional ameaça ou lesão a direito. 
 
Art. 4º As partes têm o direito de obter em 
prazo razoável a solução integral do mérito, 
incluída a atividade satisfativa. 
 
Art. 5º Aquele que de qualquer forma 
participa do processo deve comportar-se 
de acordo com a boa-fé. 
 
Art. 6º Todos os sujeitos do processo 
devem cooperar entre si para que se 
obtenha, em tempo razoável, decisão de 
mérito justa e efetiva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Art. 7º É assegurada às partes paridade de 
tratamento em relação ao exercício de 
direitos e faculdades processuais, aos 
meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à 
aplicação de sanções processuais, 
competindo ao juiz zelar pelo efetivo 
contraditório. 
Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o 
juiz atenderá aos fins sociais e às 
exigências do bem comum, resguardando e 
promovendo a dignidade da pessoa 
humana e observando a proporcionalidade, 
a razoabilidade, a legalidade, a publicidade 
e a eficiência. 
 
Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma 
das partes sem que ela seja previamente 
ouvida. 
Parágrafo único. O disposto no caput não 
se aplica: 
I – à tutela provisória de urgência; 
II – às hipóteses de tutela da evidência 
previstas no art. 311, incisos II e III; 
III – à decisão prevista no art. 701. 
 
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau 
algum de jurisdição, com base em 
fundamento a respeito do qual não se tenha 
dado às partes oportunidade de se 
manifestar, ainda que se trate de matéria 
sobre a qual deva decidir de ofício. 
 
Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos 
do Poder Judiciário serão públicos, e 
fundamentadas todas as decisões, sob 
pena de nulidade.

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