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MATERIAL COMPLEMENTAR DE DIREITO PENAL IV Este material tem como fonte o sítio eletrônico Dizer o Direito e a obra de Cléber Masson QUALIFICADORA DO INCISO VI - FEMINICÍDIO Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por “razões da condição de sexo feminino”, ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima enquanto mulher, como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos direitos do que as do sexo masculino. Feminicídio X femicídio: existe diferença entre feminicídio e femicídio? Femicídio significa praticar homicídio contra mulher (matar mulher – independentemente do motivo); Feminicídio significa praticar homicídio contra mulher por “razões da condição de sexo feminino” (por razões de gênero). Art. 121 (...) § 2° Se o homicídio é cometido: Feminicídio VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa (trata-se de crime comum). O sujeito ativo do feminicídio normalmente é um homem, mas também pode ser mulher (mulher também pode praticar o feminicídio). Sujeito passivo: obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino (criança, adulta, idosa, desde que do sexo feminino). Mulher que mata sua companheira homoafetiva: pode haver feminicídio se o crime foi por razões da condição de sexo feminino. Homem que mata seu companheiro homoafetivo: não haverá feminicídio porque a vítima deve ser do sexo feminino. Esse fato continua sendo, obviamente, homicídio. Transexual, homossexual e travesti. Diferenças Transexual é o indivíduo que possui características físicas sexuais distintas das características psíquicas. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a transexualiade é um transtorno de identidade de gênero. A identidade de gênero é o gênero como a pessoa se enxerga (como homem ou mulher). Assim, em simples palavras, o transexual tem uma identidade de gênero (sexo psicológico) diferente do sexo físico, o que lhe causa intenso sofrimento. Existem algumas formas de acompanhamento médico oferecidas ao transexual, dentre elas a cirurgia de redesignação sexual (transgenitalização), que pode ocorrer tanto para redesignação do sexo masculino em feminino, como o inverso. A cirurgia para a transformação do sexo masculino em feminino é chamada de “neocolpovulvoplastia” e consiste, na maioria dos casos, na retirada dos testículos e a construção de uma vagina (neovagina), utilizando-se a pele do pênis ou de parte da mucosa do intestino grosso. Importante, ainda, esclarecer que transexual não é o mesmo que homossexual ou travesti. A definição de cada uma dessas terminologias ainda está em construção, sendo ponto polêmico, mas em simples palavras, a homossexualidade (não se fala homossexualismo) está ligada à orientação sexual, ou seja, a pessoa tem atração emocional, afetiva ou sexual por pessoas do mesmo gênero. O homossexual não possui nenhuma incongruência de identidade de gênero. A travesti (sempre utiliza-se o artigo no feminino), por sua vez, possui identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico, mas, diferentemente dos transexuais, não deseja realizar a cirurgia de redesignação sexual. Vítima homossexual (sexo biológico masculino): não haverá feminicídio, considerando que o sexo físico continua sendo masculino. Vítima travesti (sexo biológico masculino): não haverá feminicídio, considerando que o sexo físico continua sendo masculino. Transexual que realizou cirurgia de transgenitalização (neovagina) pode ser vítima de feminicídio se já obteve a alteração do registro civil, passando a ser considerada mulher para todos os fins de direito? NÃO. A transexual, sob o ponto de vista estritamente genético, continua sendo pessoa do sexo masculino, mesmo após a cirurgia, em razão da redação do dispositivo, conforme explicado em sala. Razões de condição de sexo feminino: o legislador previu, no § 2º-A do art. 121, uma norma penal interpretativa, ou seja, um dispositivo para esclarecer o significado dessa expressão. § 2º-A Considera-se que há “razões de condição de sexo feminino” quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. a) violência doméstica e familiar (inciso I): haverá feminicídio quando o homicídio for praticado contra a mulher em situação de violência doméstica e familiar. É preciso contextualizar o tema e buscar a interpretação sistemática, socorrendo-se da definição de “violência doméstica e familiar” encontrada no art. 5º da Lei n.° 11.340/2006 (Lei Maria da Penha)1. Desse modo, conclui-se que, mesmo no caso do feminicídio baseado no inciso I do § 2º-A do art. 121, será indispensável que o crime envolva motivação baseada no gênero (“razões de condição de sexo feminino”). Ex.1: marido que mata a mulher porque acha que ela não tem “direito” de se separar dele; Ex.2: companheiro que mata sua companheira porque quando ele chegou em casa o jantar não estava pronto. Por outro lado, ainda que a violência aconteça no ambiente doméstico ou familiar e mesmo que tenha a mulher como vítima, não haverá feminicídio se não existir, no caso concreto, uma motivação baseada no gênero (“razões de condição de sexo feminino”). Ex: duas irmãs, que vivem na mesma casa, disputam a herança do pai falecido; determinado dia, uma delas invade o quarto da outra e a mata para ficar com a totalidade dos bens para si; esse crime foi praticado com violência doméstica, já que envolveu duas pessoas que tinha relação íntima de afeto, mas não será feminicídio porque não foi um homicídio baseado no gênero (não houve violência de gênero, menosprezo à condição de mulher), tendo a motivação do delito sido meramente patrimonial. b) menosprezo ou discriminação à condição de mulher (inciso II): para ser enquadrado neste inciso, é necessário que, além de a vítima ser mulher, fique caracterizado que o crime foi motivado ou está relacionado com o menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Ex: funcionário de uma empresa que mata sua colega de trabalho em virtude de ela ter conseguido a promoção em detrimento dele, já que, em sua visão, ela, por ser mulher, não estaria capacitada para a função. 1 Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Causas de aumento de pena: a Lei 13.104/15 previu também três causas de aumento de pena exclusivas para o feminicídio. Veja: § 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II – contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; III – na presença de descendente ou de ascendente da vítima. A pena imposta ao feminicídio será aumentada se, no momento do crime, a vítima (mulher) estava grávida ou havia apenas 3 meses que ela tinha tido filho(a). A razão de ser dessa causa de aumento está no fato de que, durante a gravidez ou logo após o parto, a mulher encontra-se em um estado físicoe psicológico de maior fragilidade e sensibilidade, revelando-se, assim, mais reprovável a conduta. A pena imposta ao feminicídio também será aumentada se, no momento do crime, a mulher (vítima) tinha menos de 14 anos, era idosa ou deficiente. A vítima, nesses três casos, apresenta uma fragilidade (debilidade) maior, de forma que a conduta do agente se revela com alto grau de covardia. Como o tipo utiliza a expressão “com deficiência”, devemos entendê-la em sentido amplo, de forma que incidirá a causa de aumento em qualquer das modalidades de deficiência (física, auditiva, visual, mental ou múltipla). Ademais, a pena imposta ao feminicídio será aumentada se o delito foi praticado na presença de descendente ou de ascendente da vítima. Aqui a razão do aumento está no intenso sofrimento que o autor provocou aos descendentes ou ascendentes da vítima que presenciaram o crime, fato que irá gerar graves transtornos psicológicos. Importante esclarecer algo muito importante: semanticamente, quando se fala que foi praticado “na presença de alguém”, isso não significa, necessariamente, que a pessoa que presenciou estava fisicamente no local. Assim, o tipo não exige a presença física do ascendente ou descendente. Poderá haver esta causa de aumento mesmo que o ascendente ou descendente não esteja fisicamente no mesmo ambiente onde ocorre o homicídio. É o caso, por exemplo, em que o filho da vítima presencia, por meio de webcam, o agente matar sua mãe; ele terá presenciado o crime, mesmo sem estar fisicamente no local do homicídio. Obs.: ascendente é o pai, mãe, avô, avó, bisavô, bisavó e assim por diante; descendente: é o filho(a), neto(a), bisneto(a) etc. Obs.2: não haverá a causa de aumento se o crime é praticado na presença de colateral (ex: irmão, tio) ou na presença do cônjuge da vítima. QUALIFICADORA DO INCISO VII – CONTRA INTEGRANTES DOS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA E SEUS FAMILIARES Reza a referida qualificadora: Art. 121 (...) Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: (...) VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. São requisitos para a presença desta qualificadora: a) VÍTIMA DO CRIME: Autoridades ou agentes do art. 142 da CF/88: o art. 142 da CF/88 trata sobre as Forças Armadas (Marinha, Exército ou Aeronáutica). Autoridades ou agentes do art. 144 da CF/88: o art. 144, por sua vez, elenca os órgãos que exercem atividades de segurança pública. Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. (...) § 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. Obs.: os servidores aposentados não estão abrangidos pelo inciso VII do § 2º do art. 121 do CP os servidores aposentados dos órgãos de segurança pública, considerando que, para haver essa inclusão, o legislador teria que ter sido expresso já que, em regra, com a aposentadoria o ocupante do cargo deixa de ser autoridade, agente ou integrante do órgão público. familiares das autoridades, agentes e integrantes dos órgãos de segurança pública: também será qualificado o homicídio praticado contra cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau das autoridades, agentes e integrantes dos órgãos de segurança pública. Quando se fala em cônjuge ou companheiro, isso inclui, tanto relacionamentos heteroafetivos como homoafetivos. Assim, matar um companheiro homoafetivo do policial, em retaliação por sua atuação funcional, é homicídio qualificado, nos termos do art. 121, § 2º, VII, do CP. A expressão “parentes consanguíneos até 3º grau” abrange: ascendentes (pais, avós, bisavós); descendentes (filhos, netos, bisnetos); colaterais até o 3º grau (irmãos, tios e sobrinhos). Obs.: não estão abrangidos os parentes por afinidade, ou seja, aqueles que a pessoa adquire em decorrência do casamento ou união estável, como cunhados, sogros, genros, noras etc. Assim, se o traficante mata a sogra do Delegado que o investigou não cometerá o homicídio qualificado do art. 121, § 2º, VII, do CP. A depender do caso concreto, poderá ser enquadrado como motivo torpe (§ 2º, I). b) RELAÇÃO COM A FUNÇÃO: não basta que o crime tenha sido cometido contra as pessoas acima listadas. É indispensável que o homicídio esteja relacionado com a função pública desempenhada pelo integrante do órgão de segurança pública. Assim, três situações justificam a incidência da qualificadora: - o indivíduo foi vítima do homicídio no exercício da função. Ex: PM que, ao fazer a ronda no bairro, é executado por um bandido. - o indivíduo foi vítima do homicídio em decorrência de sua função. Ex: Delegado de Polícia é morto pelo bandido como vingança por ter prendido a quadrilha que ele chefiava. - o familiar da autoridade ou agente foi vítima do homicídio em razão dessa condição de familiar de integrante de um órgão de segurança pública. Ex: filho de Delegado de Polícia Federal é morto por organização criminosa como retaliação por ter conduzido operação policial que apreendeu enorme quantidade de droga. De outro lado, não haverá a qualificadora do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP se o crime foi praticado contra um agente de segurança pública (ou contra seus familiares), mas este homicídio não tiver qualquer relação com sua função. Ex: policial civil, em seu período de folga, está em uma boate e paquera determinada moça que ele não viu estar acompanhada. O namorado da garota, com ciúmes, saca uma arma e dispara tiro contra o policial. Não haverá a qualificadora do inciso VII, mas o crime, a depender do conjunto probatório, poderá ser qualificado com base no motivo fútil (inciso II). Em suma, a novel qualificadora não protege a pessoa do militar, do policial, do delegado etc. A nova qualificadora tutela a FUNÇÃO desempenhada por esses indivíduos. Esse é o bem jurídico protegido. ART. 123 – INFANTICÍDIO Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos. Conceito: etimologicamente falando, infanticídio significa a morte de um infante (criança). Para a legislação penal, tecnicamente falando, é uma forma privilegiada de homicídio (pois possui todas as elementares do crime de homicídio + elementos especializantes + pena diversa menos grave). Entretanto, o legislador criou uma figura autônoma, com pena consideravelmente menor, pelo fato do homicídio ser praticado pela mãe em face do próprio filho, nascente ou recém-nascido, durante o parto ou logo após, sob a influência do estado puerperal. Para a sua configuração, não exige-se nenhuma finalidade especial, basta estar presente o estado puerperal. Objetividade jurídica: vida humana – aqui não é correto falar em vida humana extrauterina porque pode abranger alguns casos de vida humana intrauterina, conforme demonstrar-se-á. Objeto material: é a criança nascente (que está nascendo) ou recém-nascida (neonato). Diferença entre infanticídio e aborto: o infanticídio pode ocorrer durante dois momentos distintos, logo após o nascimentoou durante o parto. Em relação a primeira possibilidade (logo após o nascimento), a diferença é nítida, vez que trata-se de proteção à vida humana extrauterina, bem jurídico diverso do protegido no aborto. Com relação à segunda hipótese (durante o parte), a diferença é o momento temporal, isto é, quando começa o parto. Prevalece o entendimento de que o parto começa com a dilatação, instante em que se evidenciam as características das dores e da dilatação do colo do útero. Em seguida, passa-se à expulsão, na qual o nascente é impelido para fora do útero. Finalmente, há a expulsão da placenta, e encerra-se o parto. Se o fato é praticado pela mãe durante o parto, será infanticídio e não aborto. Sujeito ativo: trata-se de CRIME PRÓPRIO, pois somente pode ser praticado pela mãe. Ele Admite coautoria e participação, em razão da regra do artigo 30 do CP (musiquinha: “as elementares...), que diz que as circunstâncias pessoais, quando elementares, se comunicam aos coautores e participes. Logo, se alguém na execução junto com a mãe em estado puerperal ou auxiliando, vem a provocar a morte do filho dela, incorrerá na prática de infanticídio e não de homicídio. Elemento subjetivo: é necessário o dolo, direto ou eventual. Não admite a modalidade culposa. Estado puerperal: é o conjunto de alterações biopsíquicas que acometem o organismo da parturiente em decorrências das circunstâncias relacionadas ao parto, tais como convulsões e emoções provocadas pelo choque corporal, e até mesmo medicamentos, que afetam a sua saúde mental. O estado puerperal pode diminuir a capacidade de autodeterminação da mulher, bem como levá-la a uma momentânea rejeição ao bebê, visto por ela como causador de todo aquele sofrimento. Se ela o matar em razão disso, incorrerá em infanticídio. Basta a influência do estado puerperal para se caracterizar este crime, sendo desnecessária finalidade específica. Apesar de existir inúmeros meios de prova do estado puerperal, o que se pode chegar à conclusão desde relatórios dos sintomas por pessoas próximas até a inequívoca perícia médica-psiquiátrica, prevalece o entendimento, conforme Masson, de que é desnecessária perícia para constatação do estado puerperal, por se tratar de efeito normal e inerente a todo e qualquer parto (por ser comum, há uma espécie de presunção até em decorrência do princípio in dubio pro reo). Elemento logo após o parto: a expressão logo após o parto deve ser analisada no caso concreto e perdurará enquanto subsistirem os sinais indicativos de estado puerperal, bem como sua influência no tocante ao modo de agir da mulher. Em outras palavras, será infanticídio se ocorrer durante o estado puerperal. Depressão pós-parto e estado puerperal, diferenças: não se confunde o estado puerperal, de pouca duração, com eventual depressão pós-parto, que pode se tornar crônica e durar anos. A mulher que mata em situação de depressão pós-parto não incorre em infanticídio, e sim em homicídio, devendo ser submetida a exame para verificação de sua eventual imputabilidade. Consumação: com a morte. Tentativa: é possível. Crime impossível: ocorreria se a criança é expulsa morta do útero da mãe e esta, imaginando a criança estar viva, tenta matá-la (absoluta impropriedade do objeto material). LESÃO CORPORAL Lesão corporal de natureza leve Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Lesão corporal de natureza grave § 1º Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco anos. Lesão corporal de natureza gravíssima § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incuravel; III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto:Pena - reclusão, de dois a oito anos. Lesão corporal seguida de morte § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Diminuição da pena § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Substituição da pena § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas. Lesão corporal culposa § 6° Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de dois meses a um ano. Aumento de pena § 7 o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121 Violência doméstica § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. § 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). § 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. Conceito de lesão corporal: é a ofensa destinada à integridade corporal ou à saúde de outra pessoa, isto é, qualquer dano no corpo da vítima, interno ou externo (inclusive concretos problemas psíquicos), englobando qualquer alteração à prejudicial a sua saúde. Ofensas à integridade física: são modificações anatômicas prejudiciais ao corpo humano, quer em sua parte interna, quer em sua parte externa, ou em ambas. Ex.: fraturas, fissuras (fenda, rachadura), escoriações (esfolar), queimaduras, cortes, perfurações, e luxações (deslocamento de ossos), esquimose (roxidão resultante do rompimento de pequenos vasos sanguíneos) e o hematoma (esquime – vermelhidão – com inchaço) constituem lesões corporais. Obs.1: os eritemas (vermelhidão momentânea da pele provocada por uma bofetada, por exemplo,) não constituem ofensa à integridade física. Podem configurar a contravenção de vias de fato (que engloba agressões que não causam lesões). Ofensas à saúde: são perturbações fisiológicas ou mentais. Perturbação fisiológica é o desarranjo do funcionamento de algum órgão do corpo (vômitos, paralisia momentânea, diarreia). Perturbação mental é a alteração prejudicial da atividade cerebral (convulsão, depressão). Objetividade jurídica, objeto material, núcleo do tipo: é a integridade corporal e a saúde da pessoa humana. O objeto material é a pessoa humana que suporta a conduta criminosa. Já o núcleo do tipo, ofender, é prejudicar alguém no tocante a sua integridade corporal ou a sua saúde. Elementos subjetivo: é o dolo, aqui conhecido como animus laendendi (exceto nas lesões culposas, estudadas adiante). Consumação: consuma-se com o dano, isto é, efetiva ofensa à integridade física ou saúde da vítima. Tentativa: todas as modalidades admitem a tentativa. A tentativa não se confunde com a contravenção penal de vias de fato - no crime de vias de em que o dolo do agente limita-se a agredir o ofendido sem lesioná-lo, com um empurrão ou um tapa que provoca mero eritema; já na tentativa de lesão corporal dolosa a intenção é ofender a integridade física ou a saúde, o quenão ocorre por circunstâncias alheias à vontade da vítima. Observações importantes: - consentimento do ofendido: a realidade atual demonstra que as pessoas podem dispor de sua integridade física, seja ingressando em situações perigosas (treinamento de atividades marciais), submetendo-se a lesões desejadas (piercing’s, tatuagens), sem falar no fato de que o Estado não pode invadir a esfera estritamente privada das pessoas (v.g., lesões corporais sentidas decorrentes de atividade sexual entre adultos capazes). Assim, admite-se o consentimento do ofendido se for anterior, livre, respeitar a moral e os bons constumes. O consentimento do ofendido nos crimes de lesão corporal grave, gravíssima e seguida de morte é irrelevante em razão da indisponibilidade do bem jurídico protegido; - princípio da insignificância ou criminalidade de bagatela: é possível a sua incidência na lesão corporal de natureza leve e na lesão corporal culposa, quando se tratar de ofensa ínfima à integridade corporal ou à saúde de outro, como, por exemplo, espetar um alfinete em alguém ou provocar pequeníssimo arranhão na perna de alguém em razão de acidente de trânsito; - autolesão: em razão do princípio da alteridade, não se pune a autolesão, desde que ela vise violar apenas bem jurídico próprio. Contudo, caso alguém provoque lesão em si mesmo para fraudar seguro, visando receber o prêmio, incorre no crime previsto no art. 171, § 2º, V do CP, ou, ainda, se alguém cria ou simula incapacidade física para não ir para a guerra depois de convocado, pratica o crime previsto no artigo 184 do Código Penal Militar. - lesões em atividades esportivas: não há crime em razão da exclusão da ilicitude pelo exercício regular de um direito, desde que obedecidas as regras à risca. - lesões corporais e cirurgias emergenciais: o médico que ofende a integridade física de paciente que corre concreto risco de morte e precisa da cirurgia de modo urgente é fato lícito pela ocorrência de estado de necessidade de terceiro, bem como pela ausência de “animus laedendi”. LESÃO LEVE Lesão leve é a figura prevista no art. 129, caput do CP. Este nome é dado para diferenciar o instituto das figuras qualificadas (grave, gravíssima, seguida de morte e em violência doméstica) e da lesão culposa. Assim, não há definição específica do que seja lesão leve – é lesão leve toda a lesão corporal dolosa que não seja grave, gravíssima ou praticada em violência doméstica ou familiar contra a mulher. É infração de menor potencial ofensivo, razão pela qual admite transação e o seu processo segue o rito sumaríssimo (juizado). É crime de ação penal pública condicionada à representação, face ao disposto no art. 88 da Lei n. 9.099/95, razão pela qual se permite a composição civil de danos (as demais espécies de lesões são públicas incondicionadas) – exceção, lesão cometida em situação de violência doméstica e familiar contra a mulher. Prova da materialidade delitiva: este crime é material e exige prova de materialidade delitiva, obtida com o exame de corpo de delito. Lembrando que para o oferecimento da denúncia, basta o boletim médico ou prova equivalente, conforme informação expressa constante no § 1º do art. 77 da Lei n. 9.099/95. Para a condenação, exige-se perícia, sob pena de nulidade, nos termos do art. 564, III, b2 do CPP. LESÃO CORPORAL GRAVE EM SENTIDO AMPLO Preliminar: inicialmente, cumpre separar os conceitos de lesão corporal em sentido amplo e lesão corporal em sentido estrito. Lesão corporal em sentido amplo diz respeito às hipóteses das lesões corporais grave e gravíssima, que são todas crimes qualificados pelo resultado – qualificadoras (que são objetivas e se comunicam no concurso de pessoas) – inclusive, o nome lesão gravíssima foi criado pela doutrina (não existe este nome no Código como rubrica marginal).. LESÃO CORPORAIS GRAVES EM SENTIDO ESTRITO: ocorre quando a lesão corporal resultar: a) incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; b) perigo de vida; c) debilidade permanente de membro, sentido ou função; d) aceleração de parto. Art. 129 (...)§ 1º Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco anos. incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias: ocupação habitual não é sinônimo de trabalho e abrange toda e qualquer atividade física ou mental do cotidiano da vítima (andar, tomar banho, ler jornais, praticar esportes). Basta tratar-se de ocupação concreta, não se exigindo a finalidade de obtenção de lucro. Ademais, é irrelevante a idade da vítima: que pode ser uma pessoa idosa (que teve a sua incapacidade para realizar caminhada diária por mais de 30 dias em decorrência de um golpe) ou mesmo um bebê (incapacidade para mamar no peito da mãe em razão de ferimentos provocados por soco). 2 Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: (...)III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: (...) b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167; Subsiste a qualificadora ainda que a vítima possa retornar com sacrifício as suas obrigações habituais (pois não se exige isso dela). Obs.: segundo dispõe o art. 168 do CPP, no caso específico deste resultado agravador, é necessário que se realizem dois exames, um inicial, no prazo de 30 dias da prática do crime, e outro complementar, que deve ser feito logo após o prazo de 30 (trinta) dias contados do crime, que serve para provar a incapacidade para ocupações habituais (por expressa determinação legal). perigo de vida (perigo de morte): é a possibilidade concreta de a vítima morrer em decorrência das lesões sofridas. Trata-se de perigo concreto que deve ser provado por perícia médica, que deve indicar, de modo preciso e fundamentado, no que constituiu o perigo de vida proporcionado à vítima. debilidade de membro, sentido ou função: debilidade é a diminuição ou enfraquecimento da capacidade funcional. Deve ser permanente e de recuperação incerta (não se exige perpetuidade) – lembrando que se houver perda do membro, sentido ou função, estará caracterizado a lesão gravíssima. Membros são os braços, pernas, mãos e pés (dedos integram os membros – se uma pessoa perde mobilidade no dedo está caracterizado esta função). Sentido são os mecanismos pelos quais a pessoa percebe o mundo em sua volta, a saber: visão, tato, olfato e paladar. Função é a atividade inerente a um órgão ou aparelho do corpo humano, ex.: funções secretora, respiratória, circulatória. Na hipótese de órgãos duplos (como rins e olho), a perda de um deles, com o outro funcionando, acarreta, em regra, debilidade permanente (se a perda for dois é hipótese de lesão gravíssima). A perda dos dentes poderá acarretar debilidade da função mastigatória e, indiretamente, da função digestiva, fato a ser descrito pela perícia. Atenção: a recuperação do membro, sentido ou função por meio cirúrgico ou ortopédico não acarreta a exclusão da qualificadora, uma vez que a vítima não é obrigada a submeter-se a tais procedimentos. Será lesão grave, por exemplo, quando o laudo diz que a vítima ficará com 20 % ou 30 % a menos de visão ou audição; provocar cegueira total em um olho ou surdez completa em um só ouvido também é lesão grave (porque a vítima continua enxergando e ouvindo, só que de modo debilitado). aceleração do parto: é a antecipação do parto, isto é, o parto prematuro, que ocorre antes do período normal estipulado pela medicina em decorrência de lesões produzidas nagestante – deve esta ter nascido com vida, senão, terá provocado aborto (hipótese de lesão gravíssima). Exige-se o conhecimento da gravidez por parte do agressor, para evitar a responsabilidade objetiva. LESÕES CORPORAIS GRAVÍSSIMAS: o nome lesões corporais gravíssimas não existe no CP. Trata-se de uma criação doutrinária, plenamente aceita pela jurisprudência, em razão da necessidade de se diferenciar esta qualificadora da anterior (que possui penas diferentes). § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de dois a oito anos. incapacidade permanente para o trabalho: incapacidade permanente é aquela longa e douradora (não se permite fixar o seu limite temporal). Trabalho, por sua vez, é a atividade remunerada exercida pela vítima, que é prejudicada financeiramente em razão do crime. Há divergência na doutrina se a incapacidade para o trabalho deverá ser genérica (para a maioria dos trabalhos) ou relativa (para o que a vítima exerce, ainda que bem específico – como um pianista). Prevalece o primeiro entendimento, de que a incapacidade para o trabalho deverá ser genérica (para a maioria dos trabalhos). enfermidade incurável: enfermidade incurável é a alteração prejudicial da saúde por processo patológico, físico ou psíquico, que não pode ser eficazmente combinado com os recursos da medicina à época do crime. Também, é considerada enfermidade incurável aquela que somente pode ser enfrentada por procedimento cirúrgico complexo ou mediante tratamentos experimentais ou penosos, vez que a vítima não está obrigada a suportá-los – contudo, prevalecerá se houver tratamento ou cirurgia simples para solucionar o problema e a vítima se recusa injustificadamente a adotá-lo. O maior exemplo desta lesão é a transmissão dolosa de HIV, segundo o posicionamento dos nossos tribunais superiores. perda ou inutilização de membro, sentido ou função: perda é a ablação, a destruição ou a privação de membro (arrancar perna), sentido (arrancar tímpanos, eliminando a audição) ou função (extirpar pênis, extinguindo a função reprodutora). A perda pode se dar por mutilação (vem diretamente da conduta criminosa) ou por amputação (resulta de intervenção médico-cirúrgica realizada pela necessidade de salvar a vida do ofendido ou impedir consequências mais gravosas). A inutilização é a falta de aptidão do órgão para desempenhar função específica. O órgão ou membro continua ligado ao corpo, mas incapacitado para desempenhar as atividades que lhes são inerentes. Ex.: paralisia total de uma das pernas decorrente da lesão (não apenas de parte do movimento, que configuraria lesão grave pela debilidade permanente). A possibilidade da vítima poder corrigir sua lesão por meios ortopédicos ou próteses não afasta a qualificadora. deformidade permanente: deformar é alterar a forma de algo. É um dano duradouro ao corpo da vítima que não possa ser retificado por si próprio ao longo do tempo. Não se confunde com perpetuidade, é suficiente a irreparabilidade por relevante intervalo temporal – o tempo penal exige só isso para a configuração. Ex.: lesão que cause uma cicatriz no rosto da vítima. Prevalece que se a vítima realizar uma plástica, ainda assim existirá a qualificadora, vez que ela não é obrigada a se submeter a este tipo de tratamento. aborto: se a lesão gerar um aborto (sem a intenção do agente), será lesão gravíssima. Aqui, deve se lembrar se a morte do feto foi proposital, o sujeito deve responder por dois crimes: lesão corporal leve (ou grave ou gravíssima, se presente alguma outra qualificadora), em concurso formal impróprio ou imperfeito com aborto sem o consentimento da gestante (CP, art. 125). Lesão corporal seguida de morte: § 3.º Art. 129 (...) § 3º (...): Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena – reclusão, de quatro a doze ano”. Cuida-se de crime exclusivamente PRETERDOLOSO (dolo na lesão e culpa no resultado agravador morte). Com efeito, se presente o (dolo direto ou eventual) quanto ao resultado morte, o sujeito deve responder por homicídio doloso. A lesão corporal seguida de morte, crime preterdoloso, não admite a tentativa (os preterdolosos não admitem a tentativa).
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