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Programa de Educação Continuada a Distância Curso de Técnica Dietética Aluno: EAD - Educação a Distância Parceria entre Portal Educação e Sites Associados 130 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Curso de Técnica Dietética MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 131 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO IV 1. ESTUDO DIETÉTICO DOS ALIMENTOS DE ORIGEM VEGETAL 1. CEREAIS Cereais são grãos que provêm das germíneas, cujas sementes dão em espigas. Alguns exemplos: trigo, arroz, cevada, milho, sorgo, quinoa. São alimentos usados desde as mais remotas eras de civilização do homem pela facilidade de seu cultivo, conservação, alto teor calórico e baixo preço, Philippi (2006). Existem formas híbridas como o triticale (cruzamento entre o trigo e o centeio), o trigo anão, o milho opaco e o arroz, capazes de dar um rendimento muito maior (toneladas por hectare) que as sementes originais, além de apresentarem teor nutricional aumentado. A farinha do mesmo abre novas perspectivas de uso (de 20 a 25%) como sucedâneo de trigo. 1.2. A Estrutura dos Cereais Os cereais contêm uma camada de envoltório, películas ou tegumentos, que em algumas espécies como o trigo, milho, centeio, certas variedades de aveia e cevada, separam-se com facilidade do grão. Basta submetê-los à operação de trilhar ou bater, descascar ou debulhar. Em outras espécies, chamadas grãos nus, como o arroz e certas variedades de aveia e de cevadas, o grão não se destaca dos envoltórios. A semente propriamente dita também é constituída de seus envoltórios – testa, episperma e camada de células aleurônicas (13 a 17%), endosperma ou amêndoa farinhosa (80 a 85%) – e do embrião. Nas camadas externas de tegumentos se encontra a maior concentração de minerais e vitaminas do complexo B. Contém tiamina, 16,5 mg; ácido nicotínico, 38 a 74 mg; riboflavina, 10 a 13 mg; piridoxina, 21 a 36 mg, e ácido pantotênico, 17 a 45 mg. O germe é rico em vitamina E, também em vitaminas do complexo B. A amêndoa farinhosa contém células cheias de grãos de amido. Entre os grãos de amido encontra-se o glúten, substância de natureza protéica. 132 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Os cereais têm cerca de 70% de amido e 10% de proteínas. O arroz tem de 14% para 12%, que diminui à medida que vai sendo comprimido, decrescendo de 14% para 12%, e para 10%, e seu miolo tem casca de 2% de proteína. Segue abaixo a figura que demonstra a estrutura de um grão de trigo: Fonte: Fundamentos de Química e Controle de Qualidade dos Cereais, 1999. 1.3. Farinhas Moído ou em grão, obtêm-se a farinha. Variam entre si as farinhas segundo o grau de extração e de subdivisão. A farinha integral é obtida pela trituração do grão, mantendo-se tudo como produto único. A farinha branca de primeira representa uma parcela muito menor de extração, pois o rendimento obtido da moagem de 100g de grãos (separada a parte de envoltórios) é de apenas 30 a 60 g. Diz-se, portanto que farinha branca é de 30% a 60% de extração. A farinha, mais ou 133 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores menos escura é de 76% a 80% ou mais de extração. Na extração de 78% usada no Brasil, perde-se 50% de tiamina, 57% de riboflavina, 71% de ácido nicotínico, 46% de ácido pantotênico, 73% de biotina, 76% de piridoxina e 64% de ácido fólico. Quanto mais refinada a farinha, menos rendimento dá o grão e mais destituída está dos minerais e vitaminas que o acompanham. Sendo o pão branco confeccionado com esta farinha, é pobre em minerais e vitaminas. Como o pão é alimento de grande consumo, podendo representar a quarta parte das calorias da ração, já existe, em nosso país, um projeto de lei para que, à semelhança do que se faz nos EUA, se enriqueça, obrigatoriamente, este alimento. Assim como dos minerais e vitaminas que naturalmente acompanham o cereal, notadamente ferro, cálcio e vitaminas do complexo B. Bem assim deveriam ser enriquecidas as farinhas brancas que se destinam à fabricação de massas alimentícias, biscoitos e farinhas de consumo doméstico, porque desta maneira estaria assegurada parte das exigências diárias de vitaminas e minerais. Dispositivo oficial pretende o enriquecimento da farinha de trigo com 5% de soja. A tabela a seguir demonstra os padrões de enriquecimento adotados no EUA para farinhas e pão: Padrões de enriquecimento adotados nos EUA para farinhas e pão (miligramas por quilo) Complementos Para farinha Mínimo Máximo em mg em mg Para pão Mínimo Máximo em mg em mg Tiamina 4,4 5,4 2,2 3,96 Riboflavina 2,6 3,3 1,54 3,5 Niacina 35 44 21 33 Ferro 28,6 36,2 17 27 Cálcio 1.100 3.300 661 1.764 Fonte: Philippi, 2001. 134 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Dependendo do grau de subdivisão granulométrica, as farinhas podem ser finas e grossas. A fubarina, o fubá e a canjiquinha de milho representam diferentes graus de subdivisão do milho. A semolina e a sêmola resultam da parte da hialina, intermediária entre o envoltório e o centro farinhoso dos grãos de trigo. Pela sua riqueza em glúten são mais apropriadas para fabricação de macarrão e massas para distender. Abrangem vasta variedade de produtos, principalmente enquanto o trigo subvencionado tinha baixo custo. Existem mais de 200 variedades de trigo (tipo forte, tipo duro, vermelho de inverno, rico em glúten adequado à panificação e produtos de massas). Estas aceitam maiores níveis de farinhas sucedâneas (farinha desengordurada de milho, de raspa de mandioca, de sorgo, de arroz e também de triticale e adlai), usadas de 20% a 25% para o pão, massas alimentícias e biscoitos. Os bolos podem tolerar de 20% a 50% de farinhas amiláceas. Muito importantes são os produtos de cereais integrais, próprios para serem servidos com leite, muito populares nos EUA (Bran Flakes, Corn flakes, Corn Soya Shreds, etc.). Estes produtos contêm grande parte das vitaminas e minerais próprios dos cereais e deveriam ser produzidos e consumidos em maior escala no Brasil. Algumas farinhas integrais também são usadas para mingaus, tais como a de aveia e o triguilho, do qual também se faz quibe. É importante destacar também o teor de fibra vegetal presente nos produtos de cereais e derivados de grãos integrais, tão necessárias para a normalização da função intestinal. Os cereais não podem oferecer todos os ácidos aminados essenciais. Quando representam fonte exclusiva de proteína da dieta, é indispensável que sejam complementados com proteínas de origem animal ou outras misturasvegetais. Quando servidos com leite, constituem alimento completo e econômico. 1.4. Amido Dentro da amêndoa farinhosa dos cereais encontram-se células cheias de grãos de amido. O amido é um glicídio que se apresenta em forma granulada de cor branca, insolúvel na água e sem sabor. As partículas de amido são de tamanhos 135 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores diversos, segundo o vegetal de onde provêm. Os grãos são formados de camadas concêntricas que se foram solidificando do exterior para o interior. Quando o amido é colocado na água não se dissolve, mas, agitando-se as partículas elas se dispersam no solvente. As pequenas partículas de grãos de amido têm na sua superfície uma envoltura de substância análoga ao amido. Aquecida a água com amido, a membrana que o envolve se torna permeável e, sendo o amido hidrófilo, absorve a água inchando-se lentamente, até atingir três vezes seu volume inicial. Este fenômeno é chamado gelatinização. Inicia-se quando a solução atinge 60ºC de aquecimento e torna-se menos fluida; a 70ºC o líquido já é viscoso; a 85ºC já obtém um corpo sólido gelatinoso, tendo desaparecido a água, e a 95ºC atinge o máximo de gelatinização, formando uma massa translúcida que constitui a goma de amido. Prosseguindo o aquecimento, rompem-se gradativamente as membranas que envolvem o grão de amido, liberando dextrina, que é substância semi-solúvel. A preparação vai se tornando cada vez mais líquida, pois se está hidrolisando o amido. Quando isto acontece, diz-se habitualmente que o mingau desandou. Logo, quando é desejada uma preparação mais espessa, deve-se acrescentar mais amido (previamente dispersado), pois nada serviria continuar a cozinhar se o grau máximo de gelatinização se alcança a 95ºC. Acrescentando-se ácido a uma solução de amido, ele atuará sobre a envoltura do grão modificando-a ou rompendo-a, e o amido não terá o mesmo volume de água. Num tubo de ensaio com 50 g de amido ao qual se acrescente ácido, verificar-se-á depois de algum tempo que só há 40 g de amido, pois 10 g se transformaram em dextrina. O ácido hidrolisa o amido. Portanto, se a alguma preparação de pudim ou mingau for acrescentado suco de laranja, limão, abacaxi etc., deverá haver uma proporção maior de farinha ou fécula que a habitual nas preparações com leite. O desdobramento natural do amido é feito pelas enzimas vegetais, que agem à medida que o fruto amadurece e, no organismo, pelos sucos digestivos com enzimas amilolíticas (ptialina e amilase). Colocando em um tubo de ensaio uma porção de amido cozido e saliva, nota-se, com o decorrer do tempo, que a 136 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores substância inicialmente espessa vai se fluidificando. Pode-se acompanhar o desdobramento do amido colocando inicialmente uma gota de iodo. A sua reação com o amido é azul; aquecendo a solução o iodo se volatiliza, desaparecendo a cor. Mais tarde, pingando novamente o iodo, dará cor avermelhada, pois o amido já se transformou em eritrodextrina. Algum tempo depois o iodo já não dará cor alguma porque a eritrodextrina converteu-se em acrodextrina. Prosseguindo ainda o desdobramento, pode-se verificar com uma solução de Fehling (reativo químico) a presença de açúcares redutores, isto é, maltose e glicose. Os indígenas aplicam esta forma de desdobramento de amido na fabricação de chicha, bebida feita do milho, o qual é mastigado pelas mulheres, que o cospem e o recolhe em uma vasilha para continuar fermentando. Também na fabricação da cerveja o malte é obtido da germinação do grão de cevada. No processo germinativo o amido se converte em dextrinas e maltose, a que se acrescentam Saccharomyces cerevisiae para obter a fermentação alcoólica. Quando se deseja obter açúcar de malte, estaciona-se o desdobramento enzimático do amido, por cocção, na fase de maltose. A hidrólise artificial do amido é obtida pela indústria na fabricação da glicose (dextrosol) a partir do amido de milho. O amido submetido ao calor seco resiste a temperaturas muito mais altas do que ao calor úmido. Somente ao atingir 150ºC é que o amido desidratado torna-se mais escuro, amarelado, passando a tostado. Quando dissolvido em água observa- se que aumentou sua solubilidade e diminuiu sua capacidade de geleificação. É que o amido converteu-se em dextrina. As farinhas dextrinizadas são muito empregadas em dietética infantil, por serem de mais fácil digestão. Quando a temperatura excede a 160ºC o amido se carboniza, perdendo as propriedades de alimento. É muito difícil obter uma dextrinização a seco, uniforme, do amido, com processos domésticos, porque é difícil controlar a temperatura do forno ou da chapa. Industrialmente a dextrinização é feita em estufas de temperatura constante, por controle automático. 137 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Cocção de cereais O grão de cereal integral (trigo, milho, etc.) cozinha mais facilmente quando é submetido previamente ao remolho. A água que penetra nas porosidades da capa celulósica produz uma hidratação parcial do grão, facilitando sua desintegração posterior pela cocção. Parte da celulose se desintegra pela cocção prolongada, o amido se gelatiniza absorvendo até três vezes seu volume em água e o grão de cereal aumenta proporcionalmente em seu tamanho inicial. Os cereais tratados, descorticados, são de mais fácil cocção, pois absorvem a água facilmente. Para obter-se o arroz solto refoga-se na gordura para impedir a penetração rápida da água e a adesão da superfície de um grão ao outro. Adiciona- se água em ebulição em quantidade justa para ser totalmente absorvida (duas vezes a quantidade do arroz) e então se baixa a temperatura e abafa-se a panela, ajustando bem a tampa para que a gelatinização do amido se faça lenta e uniformemente. É conveniente colocar uma chapa de amianto sob a panela para que o calor se distribua igualmente. A cocção do arroz poderá continuar até fora do fogo, embrulhando-se bem a panela em jornais e colocando-se em ambiente fechado (forninho), só para conservar o calor, ao redor de 60 a 90°C, capaz de gelatinizar o amido. O grão (arroz ou outro qualquer), colocado em um excesso de água e submetido à cocção prolongada, desintegra-se formando papa. Facilita-se a cocção dos cereais com a adição de uma pitada de sal à preparação, mesmo ao arroz-doce e canjica. Deixar sempre o cereal abrir pela cocção em água, antes de acrescentar- lhe o leite de vaca ou de coco, para que o grão amoleça melhor pela gelatinização completa do amido. O calor seco é utilizado para a cocção do grão inteiro, na preparação de milho assado, milho pipoca, etc. O milho assado devia ser muito tenro, colhido à tarde, quando há maior concentração de açúcar, e preparado o mais cedo possível. Assado na grelha ou braseiro produz-se uma tostação superficial e cocção interna, com gelatinização do amido absorvendo a própria umidade do grão. No caso da pipoca, sendo superaquecido o grão em gordura quente, sua umidade interna 138 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores transforma-se em vapor, explodindo o grão com a ruptura da envoltura de celulose. Há uma cocção parcialdo amido por calor úmido, internamente, e, por calor seco, externamente. Industrialmente o calor seco é utilizado conjuntamente com a trituração e o esmagamento do grão por cilindros aquecidos, na fabricação de cereais pré-cozidos (corn flakes, farinha dextrinizadas, em geral, farinha de beiju) ou parcialmente dextrinizados, como no caso da farinha de aveia. Por tal motivo estas farinhas podem ser servidas com leite ou fruta amassada, mesmo sem cocção. Bem assim o produto de grão inteiro (arroz) pré-cozido abrevia o tempo de preparação. 1.5. Preparação com farinhas Dado seu conteúdo de amido, são as farinhas utilizadas como elemento de espessamento e ligação em diversas preparações. Algumas farinhas muito refinadas, como a maisena, têm até 80% de amido e, empregadas a 10% em um líquido qualquer, com cocção produzem preparação de consistência sólida (mingau de prato). Para sopas usa-se maisena a 2,5% e para molhos a 5%. A farinha de trigo, por conter menor concentração de glicídios, deve ser usada em proporção um pouco maior para dar o mesmo resultado, especialmente quando a mesma é dextrinizada (dourada na manteiga), antes de se lhe acrescentar o leite em ebulição (para fazer o molho branco). Sempre que se acrescenta farinha a um líquido em ebulição é necessário dispersá-la em água previamente, para isolar as partículas de amido e impedir que, aglomeradas, formem grumos. Nas preparações em que a receita indica que a farinha deve cozinhar ou dourar na manteiga derretida, deve-se acrescentar o leite ou o líquido em ebulição ou mais quente que a mistura de farinha e manteiga (roux), para assegurar que, derretida a manteiga, cada parcela de amido seja atingida separadamente pelo líquido quente, gelatinizando-se em seguida. Em algumas preparações, como massa aclair ou bomba e massa para base de croquete, usa-se uma concentração muito maior de farinha (de 15% a 59%), que é acrescentada de vez ao líquido contendo manteiga ou gordura, tendo de se bater 139 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores violentamente a preparação para que não formem grumos. Ainda batendo-se muito, são incorporadas as gemas. Algumas farinhas grossas como o fubá e a farinha de aveia, devem ficar de molho antes de cozinhar, para amolecerem mais prontamente. Outras farinhas grossas, como tapioca e fubá, são usadas na confecção de cuscuz, preparação que é cozida no vapor de água em recipiente especial (cuscuzeiro). 1.6. Confecções de massas As massas alimentícias constituem um grande grupo de alimentos de alto valor calórico (baixo preço, enquanto o trigo foi subvencionado) e ótima aceitação. Na confecção de massas para abrir (talharim, pastel, ravióli, etc.) utiliza-se a farinha de trigo, por conter ela proteínas que em contato com a água formam uma substância elástica, o glúten. Também o centeio, a cevada e a aveia contêm glúten, daí servirem para fazer pão. As farinhas podem ser integrais ou refinadas. A farinha de trigo pode ser de trigo duro, com muito glúten, ou mole com mais amido. A primeira se presta melhor para pão e massa de abrir, que exige elasticidade para ser distendida. As farinhas ricas em amido servem para bolos macios e biscoitos. Podem ser complementadas com sucedâneos. Os demais ingredientes usados na confecção de massas são os líquidos, gorduras, ovos, açúcar, sal e fermento. Cada ingrediente desempenha um papel importante na preparação. Agentes de crescimento De acordo com Philippi (2006) são fatores empregados para se obter crescimento e porosidade da massa. Podem ser de natureza: a) física: vapor de água e clara de ovo batida incorporando ar; b) química: fermentos em pó contendo bicarbonato, amido e um sal ácido que, em presença de água, deverá reagir com o bicarbonato de sódio produzindo anidrido 140 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores carbônico. Os sais ácidos mais usados são tartaratos, fosfatos, sulfatos, de potássio, cálcio e alumínio. c) biológica: os levedos, que por ação da zimase desdobram os glicídios produzindo anidrido carbônico e água. Todos os agentes produzem ou incorporam ar à preparação. O ar aquecido se espande, determinando crescimento. As preparações que levam substâncias químicas, cuja ação é imediata (fermento em pó ou bicarbonato de sódio), têm de ir ao forno logo que estejam misturadas, para aproveitar-se todo o efeito do fermento, cuja ação é maior com o aumento da temperatura. As massas que levam levedo têm de esperar a ação lenta destes, sendo colocadas em estufas especiais ou na beira da chapa do fogão até atingirem o dobro do seu volume pelo crescimento. Novamente mistura-se a farinha e novamente espera-se o crescimento. O efeito de crescimento da massa pode ser aumentado mediante o acréscimo de um oxidante (iodato de cálcio ou bromato de potássio) previamente dissolvido. O uso de aditivos (iodato de cálcio ou bromato de potássio), sob controle, objetiva melhorar a força do glúten de trigo mole e o desempenho das combinações com farinhas sucedâneas. O oxidante, interagindo com os outros ingredientes da massa, desprende oxigênio aumentando o volume de gases produzidos. Quando colocada, finalmente, no forno, tem ainda um novo crescimento dado pela expansão das moléculas de CO2 e outros gases existentes no seu interior. Pelo calor destroem-se as bactérias de fermentação e o processo de levedação estaciona. É muito importante que o agente de crescimento esteja uniformemente espalhado no seio da massa, para que seja uniforme o levantamento, produzindo esponjosidade regular (olhos ou orifícios da massa). Isto se obtém com um bom amassado. A maneira prática de verificar se a massa feita com levedo está no ponto é comprimindo-a com o dedo: ela deve voltar ao nível inicial. Esta prova não se aplica às massas e misturas de bolos consistentes. Todos os fermentos em pó têm a mesma capacidade de liberar CO2, só que o fazem em ritmo diferente. Os tartaratos o liberam tão logo entram em contato com água, os fosfatos tardam um pouco mais e os pós combinados o fazem lentamente. No preparo da massa é necessário que se misturem rapidamente os ingredientes 141 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores com a farinha e o fermento e que se levem rapidamente para assar. Estima-se que somente 20% a 30% do gás liberado é retido na massa. No pó misto o gás é liberado antes de a massa ir ao forno, é produzido pelo fosfato monocálcio, enquanto o sulfato de sódio e o alumínio reagem lentamente à baixa temperatura, daí ser mais indicado para as preparações feitas em grande escala, em instituições. A descoberta da fermentação química com fermentos em pó foi patenteada na Inglaterra, em 1838. Existem hoje produtos como farinhas autocrescentes, misturas para pão, bolo, roscas, sonhos, pizzas, massas congeladas ou refrigeradas que contêm agentes de fermentação como pirofosfato ácido de sódio, fósforo de sódio e alumínio fosfato monocálcico anidro. Tais produtos abreviam e facilitam o trabalho na cozinha. Todos os pós de fermento deixam um resíduo, conforme se verifica nas preparações que serão vistas a seguir. O exagero no uso de fermento não só prejudica a preparação, porque produz quantidade exagerada de gás, como deixa um sabor desagradável que lembra sabonete. 1.7. O GlútenAs proteínas existentes na farinha de trigo (gliadina e glutenina), em contato com a água, formam o glúten pela a absorção da mesma. As proteínas podem absorver água até 200% de seu peso inicial. Pela ação de misturar, bater e sovar adquire o glúten grande adesividade e permite que se possa esticá-lo e estendê-lo. Ao amornar a mistura, a glutenina forma, pouco a pouco, o núcleo de glóbulos microscópicos que logo a gliadina começa a unir uns aos outros, concorrendo para a homogeneização da massa. São as finas membranas de glúten que retêm as pequenas bolhas de ar produzidas pelos agentes de levantamento. Quanto mais glúten tiver a farinha, mais dura será a massa. A farinha pode ter 8, 12, 13 ou 14% de proteínas. As mais duras são mais apropriadas para pão, pastel e talharim, enquanto as mais moles são adequadas para pães e empadas. Em contato com o calor o glúten coagula, formando os tabiques que limitam os orifícios produzidos pela expansão do gás no interior do pão e confere a característica crocante ao pão 142 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores fresco. O pão velho é elástico, porque o glúten, mesmo cozido, absorve água adquirindo elasticidade. Voltando ao forno, seca novamente, restituindo-se ao pão característica crocante. Porém se umedecer e tiver de secar outra vez, ficará endurecido definitivamente, pois a reversibilidade do processo não é indefinida. Os cereais e as gorduras As gorduras mais apropriadas para massa de pastelaria, pão doce, bolos etc., são aquelas que se apresentam sólidas à temperatura normal. A manteiga é a que confere melhor sabor, sendo substituída com resultado satisfatório pela margarina, que é mais barata. Também a banha de porco é usada com relativa freqüência em bolinhos e pãezinhos domésticos, e atualmente as gorduras hidrogenadas. Os efeitos obtidos pelo emprego da gordura nas massas variam. No caso da massa folhada para pastelarias, se exige 1 Kg de gordura para 1 Kg de farinha, 150 a 200 ml de água e 1 ou 2 gemas. A técnica de confecção desta preparação faz com que tênues camadas de massa fiquem separadas por gordura. A preparação é feita por etapas, misturando-se primeiro a metade da gordura com os demais ingredientes para fazer a massa inicial. A mesma é então distendida, colocando-se no centro o restante da manteiga. Dobra-se a massa e leva-se novamente, no sentido contrário ao inicial. Obtém-se assim, em operações sucessivas, a massa em escamas, dado o efeito isolante da gordura. Nas receitas comuns de bolo a gordura é batida inicialmente com as gemas e o açúcar, tomando aspecto cremoso e, ao se incluir a farinha, o creme age sobre as partículas de glúten impedindo sua embebição posterior com o líquido. Ficando assim perturbada a elasticidade do glúten, resultará mais macia não crocante como a do pão simples, pois o glúten está impedindo de formar uma rede coesa no interior da massa. 143 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Os ovos Há preparações que levam somente gema, o que lhes oferece a cor e o sabor, além do que a gema age como isolante do glúten. Uma gema tem 6 g de gordura e, na massa, tem o mesmo efeito da manteiga ou outra gordura, isto é, torna-a mais macia. Os bolos do tipo “areia” levam gema e manteiga. A clara tem efeito diferente, segundo ela seja adicionada no início da operação com os demais ingredientes, ou incorporada à massa depois de ter sido batida em neve. No primeiro caso, quando é adicionada sem bater, ela concorre para aumentar o efeito do glúten por ser também uma proteína. No segundo caso, batida em neve e acrescentada cuidadosamente no fim da operação, ela contribui para a incorporação de ar e, logo, para o crescimento da massa. As massas brancas são mais duras que as massas amarelas, exceto no bolo “esponja”, que leva maior proporção de claras, que são batidas em neve previamente. Ovos congelados podem ser usados satisfatoriamente em lugar de ovos frescos. Também os ovos desidratados dão resultados aceitáveis. Podem ser adicionados com os ingredientes secos, peneirando-se conjuntamente com os mesmos. Podem ser dissolvidos ou reconstituídos, antes de adicionados à preparação. Líquidos Os líquidos mais usados são água, leite (leite fresco, leite coalhado ou leite em pó reconstituído) e sucos de frutas. O efeito do líquido é o de embeber as partículas de amido e o de desenvolver, com as proteínas, o glúten. A proporção de líquido para farinha não é constante, podendo ser de 60, 80, 120 e 240%. Depende da percentagem de glúten da farinha e do grau de embebição do amido. A consistência da massa antes de assar pode ser variável e o fato de ser bastante amolecida, dado o teor líquido, não significa que depois de assada não se torne 144 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores sólida. Pela cocção, parte da água é absorvida pelo amido e outra parte transforma- se em vapor, facilitando o levantamento da massa. Como obter-se uma boa massa Para obter-se um bom resultado é preciso obedecer às indicações das receitas (experimentadas anteriormente), que devem basear-se na ação de cada um dos componentes da preparação. Como regra geral devem ser observadas as seguintes proporções: a) O peso do açúcar não deve exceder o da farinha; b) O volume dos ingredientes líquidos (leite, água e ovos) deve corresponder ao peso da farinha; c) A quantidade, em peso, de claras deve ser igual ou maior que a gordura; d) A gordura deve entrar na proporção de 50% do peso de açúcar; e) O fermento deve relacionar-se com a farinha, sendo uma boa norma acrescentar- se uma colher das de chá (5 g) do fermento em pó para cada xícara de farinha (120g a 150 g). Dentro destas regras básicas pode haver variações que decorrem da diferença de qualidade da farinha, tamanho dos ovos, tipo de fermento, natureza da gordura, etc. 2. AS LEGUMINOSAS As leguminosas, das quais os feijões são os principais representantes, são grãos que dão em vagens. Muitas são as espécies desta grande família botânica que, depois das germíneas, representa talvez o papel mais importante na alimentação universal. Citaremos algumas: grande variedade de feijões (preto, mulatinho, manteiga, etc.), sojas, ervilhas, lentilhas, grãos-de-bico, tremoços, guandos, amendoins e alfarroba. Alimentos ricos em proteínas (23%), em algumas espécies, como na soja, contêm cerca de 40% de proteínas de alto valor biológico. 145 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Dizem os orientais: “Quem tem soja tem carne, leite e ovos”. Os italianos denominam os feijões de “carne dos pobres”. Também no Brasil o feijão é a base da alimentação popular. O feijão propriamente dito é originário do Novo Mundo, constituindo com o milho a base da alimentação das civilizações primitivas dos incas, astecas e maias. A lentilha parece ter sido a mais antiga leguminosa usada na alimentação dos povos do Mediterrâneo, grandes consumidores também de trigo e cevada. A soja, junto com o arroz, sustenta desde tempos imemoriais, a imensa e populosa Ásia. 2.1. O valor nutritivo As leguminosas representam o esteio da alimentação da populaçãomais carente no Brasil, isto é preocupante, pois, lhe oferecem apenas proteínas de limitado valor biológico que não lhes assegura crescimento e desenvolvimento normal. Entretanto, a combinação correta de feijão (100 g) e arroz (300 g) e/ou farinha de milho, segundo Philippi (2006), corrige o aminograma, fornece a cota normal diária de proteínas e metade do consumo energético para um adulto. O feijão-soja, sim, contém proteínas quase completas. As leguminosas contêm de 7 a 12 mg de ferro, apreciável quota das vitaminas do complexo B e ainda 50% de glicídios. Podem e devem figurar com freqüência nos cardápios, especialmente nos cardápios econômicos, porém, elas devem ser complementadas com proteínas de carne, leite, ovos, exceto quando se usar a soja que é quase completa (contém teor adequado de aminoácidos essenciais, exceto da metionina) ou outras combinações vegetais. Estrutura As leguminosas são grãos (frutos) contidos em vagens, ricas em tecido fibroso, com as quais algumas espécies podem ser consumidas quando ainda bem 146 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores verdes (ervilhas e vagens). Os grãos apresentam uma envoltura de celulose que representa de 2 a 5% dos mesmos e contêm no seu interior 50% de amido e cerca de 23% de proteínas (faseolina). 2.2. Cocção de leguminosas Quando ainda verdes, as vagens são tratadas retirando-se a fibra endurecida que se encontra ao longo dos bordos; inteira ou subdividida no formato desejado, será cozida em água e sal durante 20 minutos, ou menos se for cortada bem fininha. A ervilha também pode ser cozida na própria vagem, refogada ou servida com manteiga. Os grãos verdes, como as ervilhas e guandos, prestam-se a uma variedade de preparações, devendo cozinhar maior ou menor tempo segundo o tamanho do grão e segundo sejam mais novos ou não. As leguminosas secas, que é a forma como são consumidas mais freqüentemente, necessitam ficar algumas horas de remolho antes de serem submetidas à cocção. Devem ser lavadas anteriormente para serem fervidas na própria água onde ficaram de remolho, do contrário perder-se-ão as substâncias que se tenham dissolvido durante o remolho. O tempo de cocção varia com a temperatura, forma de cocção e com o tipo de grão usado. O feijão-manteiga cozinha mais facilmente que o grão-de-bico. O tempo de cocção será encurtado grandemente se for usado método de cocção por pressão, em lugar de ebulição simples. Neste último será de 2 ou 3 horas, enquanto sob pressão pode ser de 15 a 20 minutos. A quantidade de água necessária para intrumescer o grão varia para diferentes tipos de leguminosa: lentilha, ervilha seca e feijão-branco é de 2 ½: 1; feijão preto, mulatinho, fradinho etc., é de 3:1. Porém, como a preparação mais comum no Brasil contém caldo, a proporção de água deve exceder da relação de 3:1, dependendo da quantidade e grossura do caldo que se deseje. Para impedir que a envoltura dos grãos se rompa, deve-se aumentar e baixar lentamente a pressão do caldeirão ou panela. Precaução desnecessária na 147 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores preparação do feijão comum, à nossa moda, pois, ao contrário, usa-se socá-lo para engrossar o caldo, passando o amido para o meio de cocção. Na fervura inicial das leguminosas forma-se uma camada superficial de espuma, que diminui com o acréscimo do sal de cozinha e gordura. O costume brasileiro de adicionar toucinho salgado, carne-seca etc. ao feijão neutraliza parcialmente aquele fenômeno. O tempo e a temperatura de cocção das leguminosas secas variam também em diferentes altitudes. Assim a cocção à pressão (15 libras) é de 10 minutos ao nível do mar; de 900 a 1 200 m é de 12 minutos, enquanto entre 1.500 e 1.800m de altitude pode durar 15 minutos. Para impedir a descoloração do feijão há os que aconselham dar fervura inicial de 2 minutos (sem pressão) e aguardar uma hora para submetê-lo à cocção (sob pressão) já adicionada a gordura e o sal. Finalmente, baixar a pressão, retirar a tampa e cozinhar por mais alguns minutos para evitar o gosto de cocção sob pressão. As leguminosas não são submetidas à cocção por calor seco, dada a sua natureza, exceto o amendoim, que tem características muito individuais. Tem mais gordura e menos amido que as leguminosas em geral. Assemelha-se às nozes, porém tem um invólucro espesso em forma de vagem. Alimento rico em proteína, vitaminas do complexo B e gordura, seu uso está muito difundido, sendo consumido cozido ou torrado. É ingrediente indispensável em certos pratos nacionais (vatapá) e doces (pé-de-moleque, brigadeiro, etc.), além do amendoim torradinho que é servido entre as refeições e a manteiga de amendoim para canapés e sanduíches. Alfarroba – vagem de polpa muito nutritiva, de cuja semente (endosperma) é obtida a goma jataí, usada como estabilizante para produtos de sorveteria e no tratamento de gastrenterite do lactente. Tremoços – grãos de leguminosas palpilonácea que depois de curados são comestíveis (tremoço branco, amarelo e tremoço de cor azul). Usado como tira- gosto. 148 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 2.3. Formas de preparação de leguminosas 1. Feijão: o mais comum é o feijão à moda brasileira, refogado. As preparações mais complexas (feijoadas) levam carne-seca, toucinho e outros produtos de porco, além de hortaliças. Muitos pratos são feitos também com o feijão cozido simples (saladas, servido com molho de tomate, salsicha, etc.) ou amassado para confecção de bolinhos (acarajé de feijão fradinho), croquetes, etc. Muito apreciadas são as sopas à base de caldo grosso de feijão, servidas simples ou preparadas com arroz ou massinhas; sopas industrializadas e feijão pré-cozido abreviam o tempo de preparação; 2. Lentilhas: presta-se para quase todas as preparações indicadas para o feijão, além de servirem para ensopados com carne, lingüiça ou bacon; 3. Grão-de-bico: utilizado em forma triturada com óleo de sésamo em preparação muito apreciada na cozinha árabe. Os italianos o apreciam em sopas e ensopados com carne e hortaliças. Serve para purê, croquetes ou simples refogado; 4. Ervilha seca: tremoços e guandos, empregados em sopas, purês ou ensopados com outros alimentos (carne, bacon, lingüiça, etc.). Também são servidos simples e refogados com gordura e temperos e tremoços como tira-gosto. 2.4. Misturas Nutritivas de vegetais O problema do preenchimento das quotas protéicas, melhor dito, dos ácidos aminados essenciais, visando ao equilíbrio nitrogenado e ao normal desenvolvimento orgânico, é assunto de especial interesse, principalmente para a alimentação de grupos humanos de baixo poder econômico dos países em desenvolvimento. Isto se prende ao fato de que as proteínas de origem animal (carne, leite, queijo, ovos) são de produção mais demorada, têm preços altos e se tornam cada vez mais escassas nas áreas do globo de grande densidade populacional. Estas regiões concentram a maior incidência de carência protéica, normalmente na idade pré-escolar. A urgência na obtenção de alimentos ricos em 149 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores proteínasnão permite que se aguarde o tempo necessário ao crescimento de um animal ao ponto de torná-lo fonte rendosa de alimento. A ração, o tratamento e o tempo empregado somam o preço da mercadoria final. Utilizar, diferentemente, aquelas fontes de ácidos aminados que permitem aos animais formarem suas próprias proteínas é o caminho mais curto e mais econômico de alimentar seres humanos, que estão sendo submetidos a dietas de valor nutritivo inferior às rações balanceadas que recebem animais, em regiões de bom nível econômico e técnico. Seria medida urgente e em curto prazo, até que se eleve a produção e o poder aquisitivo dos referidos grupos, permitindo-lhes maior consumo de proteínas animais. Ao mesmo tempo, os grupos que abusam do uso de proteínas animais terão de reexaminar seus padrões alimentares para ajustá-los a normas moderadas e racionais. Não cabe aqui discutir os erros por excesso, que poderiam ser beneficiados com uma parcela de sobra. Estudos científicos demonstraram que o importante em uma fonte protéica é que contenha os ácidos aminados essenciais, em quantidade adequada, e guardem entre si determinada proporção, além de se fazerem acompanhar de alimentos energéticos que possibilitem adequada relação calórico-protéica. O padrão aconselhado (FAO, 1959) é: triptofano, 1; treonina, 2; fenilalanina, 2, lisina, valina, isoleucina e os ácidos aminados contendo enxofre, 3; leucina, 3,4. O que significa dizer que para o aproveitamento eficiente de uma proteína deve ela conter o dobro em treonina e finilalanina do que tem em triptofano e o triplo dos demais, exceto leucina, cuja relação é de 3,4. Num padrão simplificado, segundo a FAO, bastaria considerar apenas a relação entre triptofano, lisina e a soma de metionina e cistina, na proporção de 1:3:3. Esta relação pode ser aplicada à seleção de alimentos que se complementam entre si, atingindo proporções de ácidos aminados que satisfazem as qualificações de proteínas nobres (equivalentes às do leite e do ovo). Os padrões da FAO/OMS (1973) para teor de aminoácidos essenciais em mg/g de proteína são: lisina, 55; leucina, 70; isoleucina, 40; metionina+cistina, 35; fenilalanina+tirosina 60; treonina, 40; triptofano, 10 e valina, 50. Com base nesses dados é possível estudar combinações de alimentos de baixo custo, que, cobrindo 150 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores quantitativamente as quotas protéicas necessárias, o façam também qualitativamente, em ácidos animados, nas proporções exigidas. A tabela a seguir demonstra a composição de ácidos aminados essenciais de alguns alimentos, o que facilita a seleção dos mesmos tendo em vista o equilíbrio de ácidos aminados em uma ração segundo o padrão FAO. É claro que a preocupação só deve haver se a dieta constar de alimentos com baixo teor de ácidos aminados essenciais, devendo complementá-la com a proteína de outras fontes e manter a relação adequada de calorias para utilização correta das proteínas, o que se verifica pelo cálculo do NDpcal% (Net Dietary Protein Calorie Percet), que indica as relações de proteínas com requerimentos energéticos (disponibilidade calórica de outras fontes) e a utilização da proteína, NPU (Net Protein Utilization), decorrente de seu VB (valor biológico). Logo: Ndpcal% = calorias das proteínas ----------------------------------- X NPU Total de calorias metabolizáveis 151 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Aminoácidos em alimentos comparados ao Padrão da FAO Fonte: Franco, 2004. No sentido de encontrar fórmulas vegetais equilibradas, a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a FAO (Organização para Agricultura e Alimentação) têm incentivado pesquisas em diferentes áreas de países em desenvolvimento, inclusive no nordeste brasileiro, por iniciativa da Indústria Privada de Produtos de Alimentos. Destes estudos resultaram misturas vegetais, não 152 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores somente aplicadas em grupos de populações menos favorecidas como integrando preparações comerciais ao público em geral. Segundo o folheto N-157 do INCAP (Instituto de Nutrición de Centro América y Panama), são muito variadas as aplicações da incamparina, farinha de cor amarela, com odor e sabor que se assemelham aos do milho. Ela pode ser usada em forma de mingau ralo, refresco, em receitas de biscoitos, pastéis e massas em geral. Também é agradável em preparações salgadas como sopas, ensopados, com carne, em pastelões, etc. Dentro do mesmo critério de equilíbrio de ácidos aminados e capacidade de utilização fazem-se combinações de proteínas animais (leite em pó desengordurado, farinha de peixe, etc.) com proteínas de origem vegetal, dando maior rendimento às primeiras. Numa combinação racional, 30 g de leite em pó adicionadas a 70 g de farinha vegetal (por exemplo: milho e soja) compõem uma mistura nutritiva de 100 g, contendo mais de 20% de proteína nobre. Como exemplo das misturas citadas acima, outras combinações podem ser feitas com farinha de peixe, que está sendo usada largamente no Peru. Na alimentação regional do Amazonas utiliza-se farinha de peixe (piracuí, com 59,8 g% de proteína), hábito que poderia ser mais difundido, beneficiando também a região Nordeste. O sangue de boi tem 18,2 g de proteínas por 100 g. Em alguns matadouros o sangue é vendido pré-cozido (servido com angu de fubá ou pirão de farinha de mandioca), farofas (enriquecendo a farinha de mandioca em proteínas, ferro, etc.) e outras preparações baseadas em costumes locais (combinações com leguminosas, vegetais, etc.). O processamento industrial abriu novas perspectivas para uso do plasma obtido do sangue animal: na indústria química farmacêutica e como ingrediente na composição de produtos de salsichas, hambúrgueres e outras aplicações de farinha de sangue. O emprego racional de farinhas de leguminosas, oleaginosas e de diversas sementes (algodão, sésamo, gergelim, girassol, soja) é assunto que vem preocupando não só estudiosos das ciências da nutrição como técnicos de 153 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores indústrias de produtos alimentícios. Porque as mencionadas farinhas, ricas em proteínas adicionadas às farinhas de cereais (principalmente trigo e centeio), na fabricação de massas e pão, trazem reais vantagens, aumentando a hidratação, fortalecendo a plasticidade, favorecendo a fixação de cor e melhor pesagem na “trafila de bronze”. Por exemplo: • 100 Kg de farinha de trigo produzem 98 Kg de massa; • 99 Kg de farinha de trigo produzem mais 1 Kg de farinha de soja 98,6 Kg de massa; • 97 Kg de farinha de trigo produzem mais 3 Kg de farinha de soja 99,8 Kg de massa; • 95 Kg de farinha de trigo produzem mais 5 Kg de farinha de soja 101 Kg de massa. Verifica-se, pois, que a inclusão de 2 a 6% de farinha de soja na massa de macarrão permite um coeficiente de 0.6 de rendimento. Na indústria de biscoitos a adição de farinha de soja dá um rendimento de 1,5 a 2 Kg em 100 Kg de biscoito, além de poderser o seu preço inferior ao da farinha de trigo, o que beneficia economicamente o produtor. A inclusão de vitaminas e ácidos graxos mais enriquece fórmulas de biscoitos. Conclui-se que fórmulas de massas, pães e biscoitos deveriam ser estudadas por especialistas, não só do ponto de vista da conveniência do fabricante, como do benefício que poderiam representar para as classes menos favorecidas, proporcionando-lhes proteínas nobres a baixo custo. Foi esta uma das medidas adotadas pelo governo japonês, depois da Segunda Guerra Mundial, mantendo ainda o controle da qualidade e do preço das mercadorias. O importante é que todos os esforços se reúnam, para a obtenção de um mesmo fim, que é o de oferecer alimentação racional a cada indivíduo, dentro do indispensável para torná-lo verdadeiramente um ser humano sadio. 154 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 3. HORTALIÇAS 3.1. Histórico do cultivo de hortaliças no Brasil Antes de iniciarmos o capítulo cabe um estudo aprofundado sobre a história da incorporação das hortaliças no cardápio brasileiro. Em um trabalho recente, Bevilaqua (2005) relata todas as influências que fizeram com que este grupo alimentar se tornasse componente importantíssimo em nossa dieta. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, os índios que aqui viviam alimentavam-se com a mandioca, vários tipos de feijões e favas, jerimum ou moranga, batata-doce, beldroega, tomilho, maxixe, caruru, amendoim e várias espécies de pimenta. Na Europa, já era tradição agrícola e hábito dos portugueses, o cultivo de hortas, pois a base da alimentação era os vegetais cozidos, em forma de caldos. Aqui no Brasil, para garantir a produção dessas hortaliças, os portugueses criaram os cinturões verdes (áreas de cultivo ao redor das cidades), em Olinda, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, nos quais, além de hortas, também implantaram pomares, criavam galinhas e produziam mel. Adotaram a mandioca e cultivavam os temperos (coentro, cominho, hortelã, manjericão ou alfavaca, salsa, cebola, alho, poejo), couve, nabo, pepino, cenoura, alface, espinafre e berinjela. A outra influência decisiva na agricultura e na alimentação brasileira veio com os africanos que chegaram ao Brasil a partir de 1539 e mantinham os seus “roçadinhos” ao redor da senzala, onde plantavam quiabo, vinagreira, inhame, erva- doce, melancia, gergelim, açafrão e vários tipos de pimenta. Embora tenha surgido dessas três influências, o brasileiro não se distinguiu como um grande consumidor de hortaliças. A partir do começo do século XVII, as hortaliças pouco a pouco passaram à categoria de “mistura”, ou um complemento eventual, mas a preferência era pelas carnes de gado, de peixe e de caça, muito abundantes e baratas naquela época, e pelo feijão. Houve um aumento do consumo de saladas pelos ricos que tinham acesso à Corte Imperial, com a chegada do Príncipe Regente Dom João, em 1808, que trouxe 155 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores o costume da França. Contudo, a camada mais pobre da população não tinha o costume de comer as hortaliças, somente consumindo alguns temperos. Pequenas mudanças ocorreram no final do século, com a chegada dos imigrantes italianos, alemães e nórdicos, que não abriam mão de seus hábitos alimentares aqui no Brasil, aumentando o consumo de batata (entre os alemães) e do tomate (entre os italianos) – hortaliças curiosamente de origem sul-americana. A contribuição mais significativa para a incorporação do hábito de consumo de hortaliças pelos brasileiros ocorreu com a chegada dos imigrantes japoneses, a partir de 1908. Depois de trabalharem nas grandes fazendas de café, instalaram-se em pequenas propriedades ao redor da cidade de São Paulo, formando o cinturão verde. Produziam em larga escala e com técnicas modernas, as culturas hortícolas já conhecidas no país e outras que eles mesmos trouxeram como a couve-chinesa, a couve-rábano, o espinafre, a bardana, o rabanete, o repolho, a mostarda, o broto de bambu e o broto de feijão. O aumento da urbanização provocou um aumento do preço das terras próximas às cidades e da demanda de alimentos, gerando a necessidade de se aprimorar a produção das hortaliças, com a melhoria da tecnologia utilizada e aumento da produtividade. Com isso, a olericultura saiu das proximidades das cidades, indo para locais com melhores condições ecológicas (de solo e clima), ou de maior conveniência econômica (custo de utilização da terra e da água). Assim, a horta evoluiu para a olericultura empresarial, atendendo a demanda e exigência dos consumidores, tanto no aspecto da qualidade dos produtos, quanto ao sabor e riqueza em vitaminas e minerais. No entanto, é interessante notar que o nível de consumo das hortaliças relaciona-se com a renda pessoal, o grau de escolaridade e a cultura geral da população de um país. Na década de 1940, surgiu a Revolução Verde, onde devido à demanda crescente de alimentos, o cultivo era feito com a utilização dos “pacotes tecnológicos” surgido no pós-guerra mundial (com as grandes sobras de material de guerra das indústrias química e mecânica). Além disso, incluíam o uso da 156 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores mecanização agrícola, de sementes híbridas selecionadas, adubos químicos e agrotóxicos para garantir o aumento da produtividade. Esses pacotes tecnológicos chegaram a partir da década de 1960 no Brasil, com o apoio de políticas agrícolas de crédito rural e de centros e órgãos de pesquisa e extensão rural (como a EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias e EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural). Estes foram criados para a adequação de novas variedades de produtos hortícolas à nossa realidade de clima e solo e para auxiliar o produtor na utilização dos novos insumos (adubos químicos, herbicidas, fungicidas, inseticidas, etc.). Na década de 1970 foram implantadas as primeiras CEASA’s (Centrais de Abastecimento S.A.) beneficiando a produção, com a comercialização sendo racionalizada num único local. A década de 1980 é considerada importante para a olericultura brasileira, com o lançamento de cultivares de hortaliças adaptadas às mais diversas condições climáticas do território nacional, graças às atividades da pesquisa oficial. Foi nessa época também, que a qualidade dos alimentos passa a ser considerada como fator de segurança alimentar e nutricional - já não basta produzir em quantidade suficiente para abastecer a população e viabilizar as condições de acesso ao alimento, mas também promover e manter a saúde do homem. Com a chegada da década de 1990, aprofunda-se a crise ambiental no mundo, havendo um grande questionamento sobre a influência da sociedade capitalista na natureza e também sobre a sustentabilidade do modelo de exploração dos recursos naturais até então utilizados. Na última década acentuou-se a implantação do sistema de cultivo protegido em estufas e a hidroponia. Em 1996, na Conferência da Alimentação realizada em Roma, a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) reconhece o fracasso da Revolução Verde e o surgimento de uma Nova Revolução Verde (ou Alternativa). Além disso, movimentos internacionais que apontavam falhas na proposta química, começaram a propor soluçõespara uma melhor convivência com os recursos naturais, criando sistemas de produção baseados em modelos que 157 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores combatem a degradação do meio ambiente e o esgotamento dos recursos naturais. Isto garantiria alimento e saúde tanto para a atual, quanto para as futuras gerações. Nas Conferências das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizadas em 1972, 1982 e em 1992 (esta última no Rio de Janeiro, conhecida como ECO-92 ou Rio-92), tornaram-se visíveis os danos causados pela agricultura convencional (onde o objetivo principal é o aumento da produção). Estas mostraram que a agricultura era a fonte difusa de poluição no planeta, causado, sobretudo, pelo uso excessivo de inseticidas. Com isso, buscou- se uma agricultura menos dependente dos insumos químicos, onde se concilia as necessidades econômicas e sociais da população humana, com a preservação da base natural do planeta, ou seja, o desenvolvimento sustentável. Os métodos alternativos de produção, onde se prioriza a interação entre solo-planta-clima-pragas e etc., começam a crescer, refletindo uma mudança de atitude do ser humano em relação ao meio ambiente. Em maio de 1999 o Ministério da Agricultura e do Abastecimento, através da Instrução Normativa nº 07, aprova normas disciplinadoras para a produção, tipificação, processamento, envase, distribuição, identificação e certificação de produtos orgânicos no país. Busca-se hoje, segundo os princípios da agroecologia, o restabelecimento de uma relação saudável entre a natureza e a sociedade e a consolidação da segurança alimentar e nutricional sustentável, como opção para viabilizar a produção de alimentos de qualidade e fortalecer a agricultura familiar. Conceito As hortaliças são vegetais geralmente cultivados na horta. De forma genérica compreendem as partes comíveis das plantas: raízes tuberosas, tubérculos, frutos e sementes. São vulgarmente conhecidas por verduras e legumes, Ornellas (2006). 158 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 3.2. Valor Nutritivo A grande importância da inclusão de hortaliças variadas na dieta se deve ao seu efeito alcalinizante sistêmico, além de favorecerem o preenchimento das quotas vitamínicas, minerais, e aumentarem o resíduo alimentar no trato digestivo. As hortaliças verdes e amarelo-alaranjadas são esplêndida fonte de pró- vitamina A (caroteno), podendo cobrir de 60 a 70% das exigências desta vitamina quando são servidas em duas refeições diárias. Quando consumidas cruas são também ótima fonte de vitaminas do complexo B, são ricas em ferro, cálcio, potássio, magnésio e outros minerais indispensáveis ao organismo. As hortaliças, por seu colorido e variedade de sabor, melhoram as características organolépticas do cardápio, favorecendo a sua aceitação. 3.3. Utilização Para uma alimentação racional é importante que se inclua diariamente um prato de hortaliças cruas em saladas e um prato de hortaliças cozidas. Norma pouco praticada em nosso país porque contraria hábitos alimentares profundamente estruturados. É provável que a resistência ao uso sistemático de hortaliças se prenda ao fato de que, sendo elas perecíveis, se estragam facilmente; exigem cuidados especiais e dão trabalho para preparar; são caras e apresentam uma porcentagem alta de desperdício. Mas, vários autores dizem que isto não justifica o déficit nutritivo que a sua ausência representa na dieta, não compensa os preços dos medicamentos que terão de suplementar os minerais e vitaminas. Depois da implantação dos grandes mercados hortifrutigranjeiros em quase todos os grandes centros dos Estados da Federação, verifica-se melhor abastecimento (segundo dados obtidos na Sunab em 1978) das principais hortaliças e frutas. Exceto alguns itens típicos locais, (abiu, açaí, cacau, castanha-do-pará, cidra, cupuaçu, graviola), outros alimentos encontram-se nos CEASA’s (Centrais de Abastecimento S/A) de norte a sul. 159 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 3.4. Armazenamento As hortaliças folhosas são saborosas quando bem frescas. Devem ser consumidas, de preferência, no mesmo dia em que são adquiridas, pois murcham e amarelecem muito facilmente. Havendo necessidade de conservá-las por um ou mais dias, colocá-las envoltas em papel ou plástico, no gavetão ou cesto apropriado da geladeira. Alguns autores afirmam que hortaliças mantidas à temperatura ambiente diminuem seu teor vitamínico. Repolho conservado no congelador não apresenta modificações no conteúdo de vitamina C por dois meses, podendo ainda ficar por dois meses no refrigerador em temperatura mais alta, sem prejudicar a concentração vitamínica; porém, após três dias em temperatura ambiente, as perdas se fizeram notar. As batatas constituem uma exceção à regra, mantendo inalterado seu teor vitamínico a 20ºC, enquanto que colocadas na temperatura de 4°C reduzem a 50% seu conteúdo vitamínico. A batata-doce e a batata-baroa conservam-se bem em temperaturas baixas. Os tubérculos e raízes podem ser mantidos em lugar fresco sem necessidade de refrigeração. Os tomates colhidos maduros têm um teor vitamínico maior que os comprados verdes para amadurecerem fora do pé. As hortaliças devem ser limpas antes de acondicioná-las e conservá-las, porém deixá-las, de preferência, com casca e inteiras, sem solução de continuidade, até do dia em que forem utilizadas. Mantê-las secas, pois tomates, cenouras, batatas, molhados deterioram mais facilmente. As hortaliças frescas devem ser colocadas no lugar menos frio da geladeira, no gavetão, em temperatura de 4 a 12ºC. A hortaliça que apresentar melhor aspecto quanto à cor, consistência, integridade, tamanho, limpeza, etc., é sem dúvida a que tem maior valor nutritivo. Por tal motivo é a mais cara, o que não impede, às vezes, que seja a mais econômica, pois rende mais. 160 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 3.5. Classificação Várias partes das plantas são utilizadas como alimentos. A classificação botânica destas partes dos vegetais tem a vantagem de indicar características de estrutura e composição química, que determinam a formas de preparação a serem escolhidas. Partes diferentes da planta têm um teor diverso de água, proteínas, vitaminas, minerais e glicídios. As hortaliças são mais ricas em amido e são usadas em preparações salgadas, enquanto que as frutas têm maior concentração em glicídios solúveis, açúcares, e as utilizamos em preparações doces. 1. Folhas: acelga, agrião, aipo, alface, almeirão, azedinha, bertalha, cardo, caruru, couve, espinafre, mostarda, repolho, salsa, serralha, taioba, etc., são ricas em ferro, cálcio, pró-vitamina A, celulose e contêm quotas variáveis de outras vitaminas e minerais, sendo elas pobres em calorias (média de 29 Kcal por 100 g). As folhas tenras podem ser ingeridas cruas, enquanto que as envelhecidas, com alto teor de celulose endurecida, têm de ser cozidas e subdivididas para serem aproveitadas pelo aparelho digestivo. 2. Sementes: ervilhas, feijões verdes, lentilhas, milho verde, etc., são fontes de vitaminas docomplexo B, ferro, e contêm quotas variáveis de outras vitaminas e minerais, sendo ricas em calorias – de 40 a 80 Kcal por 100 g – quando verdes. A cutícula que envolve as sementes é constituída de celulose endurecida, devendo-se cozinhar antes de servir. 3. Tubérculos e raízes: beterraba, cenoura, nabo, rabanete, aipim, batata, cará, e inhame; caracterizam-se, as primeiras, por um teor apreciável de caroteno e ferro, contendo cerca de 40 Kcal por cento, enquanto os tubérculos têm maior concentração de amido, com 80 a mais calorias por 100 g. A beterraba, cenoura, nabo e o rabanete, quando novos, podem ser ingeridos crus, porém os tubérculos em geral têm de ser submetidos à cocção para modificar o amido e neutralizar certas substâncias tóxicas – solanina, ácido cianídrico – que alguns contêm enquanto crus. 161 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 4. Bulbos: alho-porro, alho comum, cebola, etc., contêm vitamina C e cistina (em substância volátil), que lhes confere odor característico, sendo usados especialmente como condimento. São pobres em calorias. 5. Flores: alcachofra, brócolis, couve-flor, flor de abóbora. Pouco elas têm em comum além do reduzido teor calórico (20 Kcal por 100 g), sendo brócolis ótima fonte de vitamina C, a flor de abóbora de caroteno, a alcachofra de ferro. Servem cozidas ligeiramente. 6. Frutos: abacate, abóbora, berinjela, chuchu, fruta-pão, jiló, maxixe, melão, moranga, pepino. Pimentão, pimenta, quiabo e tomate. A única coisa que têm em comum é sua classificação como fruto, pois tanto do ponto de vista nutritivo quanto das formas de preparação cada qual tem as características mais variáveis. 7. Caules: acelga, aipo, aspargo e ruibarbo. Todos pobres em calorias, tendo características próprias, cada um deles, especialmente de sabor. 8. Parasitas: cogumelos de várias espécies de plantas criptógamas com 12% de proteína e 20 a 28% de carboidratos. 3.5.1. Classificação segundo o teor de glicídios As hortaliças também são classificadas, segundo sua concentração de glicídios, em: a) Grupo A – contendo cerca de 5% de glicídios: abobrinha, acelga, aipo, alcachofra, alface, alfafa, almeirão, aspargo, azedinha, brócolis, bertalha, coentro, couve, broto de bambu, jiló, maxixe, palmito, pepino, rabanete, repolho, salsa, taioba, serralha, tomate, etc.; b) Grupo B – contendo cerca de 10% de glicídios: abóbora ou jerimum, bardana, beterraba, calabura, cenoura, ervilha verde, fava, jurubeba, nabo, quiabo, rábano, repolho-de-bruxelas, vagem, etc.; c) Grupo C – aipim, araruta, batata-baroa, batata-doce, cará, cogumelo, inhame, jujuba, mandioca, milho verde, etc. A classificação das hortaliças em A, B e C, segundo a concentração em glicídios, permite uma flexibilidade maior nos cardápios, substituindo-se as hortaliças 162 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores do mesmo grupo umas pelas outras, sem modificar o valor calórico da dieta. As hortaliças do mesmo grupo se comparam somente no que se relaciona às calorias, e não no seu valor mineral e vitamínico, em que cada qual tem características próprias. Por exemplo: couve tem alto teor de pró-vitamina A, muito mais elevado do que a alface; espinafre tem mais ferro e brócolis tem mais vitamina C. 3.6. Consistência e cocção Dentro dos grupos de hortaliças existem algumas com características semelhantes de estrutura e consistência. As folhas são ricas em celulose, enquanto os tubérculos e raízes contêm muito amido. Influem na escolha da forma de cocção das hortaliças sua estrutura e composição química. O elemento de sustentação das plantas é dado pela celulose e pelo grupo de compostos pécticos. O tecido vegetal é constituído por células contendo protoplasma, envoltas em uma membrana de natureza variável. Nesta membrana, encontram-se pectina e celulose. A pectina é a substância cimentante que une uma célula a outra. Quando a planta está verde possui apenas pró-pectina, que, por ação da pró-pectinase, se transforma em pectina e esta, por ação da pectinase, se transforma, nas plantas maduras, em ácido péctico. A pró-pectina é insolúvel, a pectina pode ser modificada pela cocção prolongada, em meio alcalino principalmente, enquanto que o ácido péctico é solúvel. Também a celulose pode ser de natureza diferente de acordo com a localização. Existem vários tipos: a celulose propriamente dita, a hemicelulose, a lignocelulose, a adipocelulose e a pectocelulose. 1. Hemicelulose: é encontrada nos vegetais tenros e novos, nas partes carnosas e na polpa; 2. Pectocelulose: é encontrada nos tecidos de sustentação e membranas vegetais, nas frutas, na beterraba, na cenoura etc.; 3. Adipocelulose: é encontrada nas folhas, nervuras e parênquima foliar; 4. Lignocelulose: se encontra nos órgão de veiculação de seiva, isto é, nas partes mais duras do tronco, não podendo ser aproveitada na alimentação; 163 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 5. Celulose propriamente dita: constitui o tecido celulósico de proteção dos vegetais e existe nas plantas em estado de plena maturação. Estando presentes nos vegetais vários compostos celulósicos, de consistência variável, devem os mesmos ser submetidos a processos de abrandamento prévio para que sejam adequados à alimentação e possam ser digeridos no aparelho digestivo. Este processo consiste no remolho durante 2, 3, 4, 6 ou mais horas, como é o caso do feijão, da ervilha etc. A água, penetrando no interior dos grãos, dá-lhes certo amolecimento, encharcando o amido e aumentando os grãos em cerca de 50% do seu volume. Pode-se abreviar o tempo de cocção das hortaliças alcalinizando a água do remolho. Baseados nesse conhecimento é que muitos cozinheiros procuram diminuir o tempo de remolho adicionando bicarbonato de sódio à água, o que é prejudicial porque reduz o teor vitamínico do alimento. É aconselhável, nestes casos, colocar os grãos de molho numa solução isotônica de cloreto de sódio (sal de cozinha) a 7% (sete por mil). A subdivisão e a cocção da celulose permitem o aproveitamento do amido encontrado no interior de grãos e sementes, que de outra forma não poderiam se digeridos pela espécie humana. Uma parte da celulose deve ser ingerida crua, nos vegetais de saladas e nas frutas, para favorecer o peristaltismo intestinal. Influem sobre o tempo de cocção a estrutura do vegetal, seu conteúdo em celulose e o tipo desta que nele predomine. Por exemplo, os folhosos contêm adipocelulose, que não se modifica pela cocção e não se desintegra. As hortaliças do grupo C, ricas em amido, exigem um tempo mais prolongado de cocção, que é tanto maior quanto mais compacto for o vegetal. Pode- se diminuir o tempo de cocção utilizando panela de pressão ou no forno, em temperatura alta. Dependendo da estrutura de certos tubérculo e raízes, como a batata e o aipim, eles podem desintegrar-se facilmente quando se excede o tempo de cocção. 164 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A batata fica aguacenta quando não se permite que se evapore a água depois de escorrida. Quando a mesma é cozida com casca, deve ser furada previamente para que a casca não arrebente quandoo vapor de água, que se forma no seu interior, aumenta a pressão, forçando-a. O mesmo acontece quando se assa batata, que submetida à temperatura além de 100ºC ocasiona a formação de vapor no seu interior, fazendo explodir a casca. Quando se deseja preparar batata recheada ou em salada, para que a mesma deva conservar a forma, é aconselhável usar batata nova, que contém mais proteína, a qual, coagulada, dá maior consistência à batata. Quando velhas, as batatas contêm mais açúcar, pouca proteína, pouco amido, e se desfazem durante a cocção. A batata farinhosa é a que contém muito amido. É de ótima qualidade a que contém muito amido e muita proteína. Durante a cocção as partículas de amido absorvem água que as rodeia dentro da estrutura da batata, que quando crua contém 78% de água, cozida por ebulição tem 75%, e assada tem 74 ½% de umidade. De acordo com o que foi exposto, conclui-se que é aconselhável escolher para a alimentação os vegetais tenros, que cozinhem rapidamente em pouco volume de água. Deve-se escorrê-los antes de pô-los na panela. Colocar sempre as partes mais duras em primeiro lugar, depois as mais moles, para que se abrandem uniformemente. Os talos são mais duros que as folhas de acelga e, num ensopado, nabos e cenouras demoram mais a cozinhar que o chuchu e as batatas. Quanto mais subdividido, mais prontamente cozinhará o vegetal, porém deve ser colocado na água já em ebulição, que produz coagulação superficial, diminuindo perdas por dissolução. 3.7. Pigmentos As hortaliças também são classificadas, segundo sua pigmentação, em: 1. Hortaliças verdes: cuja cor é dada principalmente pela clorofila, pigmento pouco solúvel na água. Na presença de ácido a clorofila transforma-se em feofitina de cor verde-oliva ou marrom. As substâncias alcalinas intensificam a cor verde, daí o uso 165 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores de bicarbonato de sódio, que é contra-indicado do ponto de vista técnico por destruir vitaminas hidrossolúveis; 2. Hortaliças amarelas e alaranjadas: cuja cor é dada pelo caroteno e pela xantofila. Estes pigmentos não são solúveis, nem se modificam pela cocção ou acréscimo de álcali ao meio de cocção. Exemplos destes vegetais são: a cenoura, a abóbora e a batata-baroa; 3. Hortaliças vermelhas: cuja cor é dada pelo licopeno, pigmento semelhante ao caroteno, tendo as mesmas propriedades de estabilidade. É encontrado no tomate, pimentão, etc.; 4. Hortaliças vermelho-arroxeadas: cuja cor é dada pela antocianina, pigmento muito solúvel, que na presença de ácido se torna mais vermelho e na de álcali se modifica para um tom arroxeado. Este pigmento é encontrado na beterraba e no repolho de Bruxelas; 5. Hortaliças branco-amareladas: cuja cor é dada pelas flavinas ou flavonas, pigmentos muito solúveis que na presença de álcali tornam-se amarelados e escurecem com a cocção prolongada. Na presença de ferro podem adquirir cor esverdeada ou parda. Por exemplo, couve-flor. 3.7.1. Cor e forma de cocção A classificação das hortaliças segundo a sua cor, conhecendo-se a propriedade dos pigmentos nela encontradas, facilita a escolha acertada do método de cocção a empregar em cada caso. As hortaliças verdes devem ser cozidas rapidamente para que o ácido contido nas células vegetais não venha a modificar o tom verde da clorofila. As folhas tenras devem ser cozidas em pouca água, abafadas, e por curto tempo. As folhas mais duras, quando se quer aproveitá-las, devem ser cozidas em quantidade maior de água em ebulição, encurtando o tempo de cocção. Usar, então, excepcionalmente, panela destampada, para que se volatizem os ácidos e os vegetais mantenham a cor verde. 166 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores As hortaliças amarelas e vermelhas contendo caroteno, xantofila e licopeno não oferecem dificuldade, porém é bom cozinhá-las sempre em pouca água, a fogo brando, para evitar perdas com dissolução no excedente de água que se venha a desprezar, e perdas por destruição, por excesso de calor mantido por muito tempo. Nas hortaliças arroxeadas deve-se impedir ou diminuir a perda do pigmento por dissolução. Como não é possível cozinhar beterraba em pequena quantidade de água, evitar a solução de continuidade, deixando-a com casca, parte do caule e raízes. Cozinhá-la junto com o feijão favorece a cor de ambos e a economia de combustível. Mais conveniente ainda é assar a beterraba. O acréscimo de suco de limão ou vinagre à preparação de vegetais arroxeados torna-os vermelhos, sem prejudicar o seu valor nutritivo. As hortaliças brancas, da mesma forma que as amarelas, devem ser cozidas em pouca água e a fogo brando. Quando forem duras é aconselhável usar o método de cocção por vapor a pressão. A cocção é mais rápida e não há perdas por dissolução. A cocção por calor seco acentua a cor de hortaliças como a cenoura e batata, porque produz a dextrinização do amido. O acréscimo de pequena quantidade de açúcar acentua a cor e o dourado, ao caramelizar-se. A tabela abaixo mostra a modificação dos pigmentos que ocorrem nas hortaliças por conta da cocção: Fonte: Ornellas, 2006. 167 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 3.8. Desperdício ou perdas sofridas pelas Hortaliças Para seu aproveitamento na alimentação, são as hortaliças submetidas a operações culinárias que constam de limpeza, subdivisão e cocção. Removem-se, inicialmente, folhas velhas, talos endurecidos, pedaços deteriorados, cascas etc., que apresentam uma perda inevitável do peso inicial, podendo representar até 62%, como é o caso do milho verde. O fator de correção para hortaliças é, geralmente, alto, devendo ser levado em conta no ato da compra, observando-se, cuidadosamente o aspecto e as condições em que são oferecidas. Não se deve deixar seduzir por preços aparentemente baixos, e deve-se procurar ver quanto realmente se aproveitará, depois de limpo e preparado o vegetal. Influi sobre a porcentagem de perdas o tratamento que recebe a hortaliça na cozinha, dependendo das aparas e da grossura das cascas removidas. Havendo um critério econômico, as partes menos tenras, como folhas exteriores, talos e partes folhosas de nabos, beterrabas e couve-flor, podem ser aproveitadas, cozidas e subdivididas, em purês, sopas, suflês, etc. 3.9. Pré-preparo das hortaliças A maioria das hortaliças cresce junto ao solo, contaminadas por terra, inseticidas e microorganismos, dos mais variados. O uso de água poluída para regá- las e a manipulação posterior descuidada de intermediários aumentam sua contaminação. Deve-se lavá-las sempre em água potável e escovar as mais compactas, por uma limpeza inicial. Aquelas que devem ser consumidas cruas merecem atenção especial, lavando-se parte por parte, folha por folha, em água corrente. Havendo dúvida quanto a sua procedência, colocá-las em saladeira especial ou em solução de permanganato de potássio de 1:10.000 (um para dez mil) ou em solução de hipoclorito de sódio de 1:1000 (um para mil) durante 20 minutos. Lavá-las bem antes de usar. De menor risco são as hortaliças das quais se removem as cascas, as que podem ser escaldadas e as que são cozidas antes de servir. 168 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo
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