Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O QUE VOCÊ SEMPRE QUIS SABER SOBRE RACIOCÍNIO CLÍNICO EM UM SÓ EBOOK r a c i o c i n i o c l i n i c o . c o m . b r Autor: Pedro Gordan Co-autores: Fabrizio Almeida Prado e Leandro Diehl r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 2 Quando comecei a trabalhar, atendia de tudo: crianças com febre, sem febre, com choro, sem choro e sempre me deparava com as vovós e seus olhares desconfiados para o jovem médico. Invariavelmente elas tinham razão, lesão de pele então... - Vai estourar sarampo, doutor! Sem sinais de Koplik, sem febre, sem exantema, sem doença na vizinhança ou irmãos, sem nada, nadinha para pensar em sarampo. E, no dia seguinte: pimba! O moleque estava com um sarampão daqueles! A vovó que sabia tudo... Um belo dia, o seu neto mais velho apareceu com uma alergia nas axilas e eu fui lá e lasquei: alergia a desodorante. Dei uma de superior e virei para a avó: - Não é, vó? Ela calmamente me respondeu: - Alergia, uma ova! Este moleque não sabe nem o que é sabão. Desodorante, então, nem pensar! É sarna, doutor! Pois é, era. Estavam todos com escabiose na casa! r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 3 Estou no consultório, um fim de uma sexta- feira daquelas... Entra a secretária apavorada: - Está aí uma ambulância do SAMU com uma doente grave para o senhor ver. Mandei entrar a paciente, mais que depressa, e vi um bilhete do médico do ambulatório do SUS: A vovó que não sabia nada... Senti aquele frio na barriga, mas como eu era o especialista, me senti honrado com a deferência. Tratava-se de uma jovem de 16 anos com história de alguns meses de aumento abdominal e aumento da pilificação abdominal. Sua pressão arterial, medida no ambulatório, era de 175x110, estava consciente e aparentemente sem desconforto, a não ser pelo edema. Ansioso, fui logo palpar o tumor. Embora eu tivesse pedido licença para examiná-la (para ela e para a sua mãe, muito nervosa, que a acompanhava), ela puxou o lençol para a cabeça...mas permitiu o exame. Não era para menos: me deparei com um útero grávido de umas 40 semanas de gestação. Inconfundível. Discretamente, virei a campânula do estetoscópio e auscultei um foco de 140bpm no quadrante inferior esquerdo do abdome. Ao mesmo tempo, palpei uma contração uterina imensa. “E agora?”, pensei. Hipertensão grave, edema, tumor abdominal e hirsurtismo. Favor atender com urgência. r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 4 - E agora? - perguntou a mãe, já meio impaciente. Eu, no meu desespero, não sabendo direito o que fazer, falei: - Não é nada, não, a senhora vai ser vovó daqui a pouco... O barulho do desmaio da mãe chamou a atenção da secretária e do motorista da ambulância, que acorreram ao consultório. Serenados os ânimos, água com açúcar para todo mundo, choros, gritos e reprimendas para lá e para cá, falei para o motorista: - Toca para o hospital de plantão! Vai nascer! Não deu outra: passando visita naquela noite, encontrei a mãe da paciente, já recuperada, que me abraçou e chorou: - É um menino! Sou uma vovó feliz! Eu nem falei que tomei o resto da água com açúcar que ela deixou para trás... r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 5 Estes casos, inocentes e até divertidos, demonstram que os erros médicos são comuns e muitas vezes trágicos, sendo responsáveis por 40 a 80 mil mortes por ano nos Estados Unidos. O Institute of Medicine (IOM) refere que um em cada 10 diagnósticos estão errados. Na prática, uma pessoa em cada três terá uma experiência pessoal em primeira mão com um erro diagnóstico. Por que falar de raciocínio clínico? Tudo isto nos motiva e estimula, nos obriga mesmo, a disseminarmos o conhecimento e nos envolvermos diretamente com a prevenção dos erros médicos. Este blog sobre raciocínio clínico é para você e para todo estudante, médico jovem ou qualquer outro médico ou profissional da saúde que, como a gente, teve e ainda tem inseguranças, mas também tem curiosidade, desejo de melhorar e de cuidar bem dos seus pacientes. Se você quer saber como funciona o raciocínio clínico e melhorar o seu próprio raciocínio, siga nossas postagens e procure praticar ao menos algumas das nossas orientações. Se você, como nós, acha que muito do ensino do raciocínio clínico é omitido na faculdade, acompanhe nosso blog. Aqui colocaremos à disposição todos os meios ao nosso alcance para te ajudar a compreender como funciona o raciocínio diagnóstico e a maneira mais humana e correta de enfrentarmos as vicissitudes da Medicina e dos sistemas de saúde. “É provável que a maioria de nós irá sofrer pelo menos um erro diagnóstico na vida, com conseqüências devastadoras.” Improving Diagnosis in Health Care. IOM, 2016. r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 6 Embora essenciais ao exercício profissional, as bases cognitivas e os mecanismos de aprendizagem do raciocínio clínico são largamente negligenciados antes, durante e depois de todo o treinamento médico. Isso deixa lacunas de formação que se tornam mais perceptíveis quando surge o seu resultado mais nefasto: os erros médicos, mais difíceis de serem prevenidos ou corrigidos a tempo. O raciocínio clínico usa, na verdade, os princípios e as habilidades do pensamento crítico (critical thinking), que é o processo intelectualmente disciplinado para ativar habilmente, conceituar, aplicar, analisar, sintetizar e/ou avaliar uma informação, obtida ou gerada por observação, experiência, reflexão ou comunicação, como um guia para o aprendizado ou para a ação. O pensamento crítico é baseado em valores intelectuais que transcendem os conteúdos, tais como: Pensamento crítico e raciocínio clínico clareza acurácia precisão consistência relevância sólida evidência profundidade extensão fidelidade r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 7 Este conceito de pensamento crítico, que nada tem a ver com “julgamento” ou “crítica”, é apolítico na sua natureza e deveria fazer parte da formação geral de qualquer pessoa, desde o curso fundamental. Por esse motivo, diferente do que é apregoado universalmente, o estudo do raciocínio clínico dispensa o conhecimento prévio de qualquer matéria básica, como anatomia, histologia ou bioquímica. Desse modo, o raciocínio clínico pode - na verdade, deve - ser treinado tão logo o estudante entre no curso de Medicina (ou até mesmo antes, ainda no ensino médio). Todos os instrumentos científicos que a Educação Médica tem ao seu dispor, como a geração de hipóteses, o reconhecimento de padrões, a formulação em contexto, a interpretação de testes diagnósticos, o diagnóstico diferencial e a confirmação diagnóstica, estão incluídos na formação pessoal, e fazem parte do dia-a-dia dos estudantes. A própria experiência de vida de cada um de nós, desde a infância, nos coloca em uma posição onde estamos continuamente levantando hipóteses diagnósticas e instituindo tratamentos. r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 8 Vamos a um exemplo prático: Um grupo de estudantes reúne-se para estudar. Um deles espirra e tosse, outros do grupo estão com a garganta irritada; isso vem acontecendo há alguns dias. No dia seguinte, todos estão com o nariz escorrendo, obrigando-os ao uso de lenços de papel. QUAL O DIAGNÓSTICO? Resfriado comum! Como chegamos a essa conclusão? Como sabemos que não se trata, por exemplo, de rinite alérgica (outra doença que faz as pessoas espirrarem e os narizes escorrerem)? r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 9 Esse tipo de processo ocorre milhares de vezes antes do curso de Medicina, pois todo estudante tem conhecimentos prévios de incontáveis condiçõesclínicas. Fizemos um resumo (ou representação) do caso com os dados importantes, ou seja: um dos estudantes espirrou e tossiu, num contexto de um agrupamento de pessoas com os mesmos sintomas de tosse, espirros, coriza e irritação na garganta. Geramos hipóteses: rinite alérgica ou resfriado. Reconhecemos o padrão de resfriado comum, isso é: “já vi esse filme antes”, através do reconhecimento de scripts, e o analisamos no contexto da reunião. Fizemos o diagnóstico diferencial entre alergia e resfriado comum analisando a epidemiologia (alergia é individual; resfriado é coletivo e contagioso) e confirmamos o diagnóstico, sem necessidade de nenhum teste diagnóstico adicional. 1. 2. 3. 4. É dessa maneira que vamos estudar o raciocínio clínico neste blog: seguindo um método e adicionando casos de complexidade crescente à medida em que ganhamos conhecimento. r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 10 Uma forma de entendermos o processo do raciocínio clínico é o diagrama abaixo, publicado originalmente no New England Journal of Medicine em 2006 e traduzido e modificado para melhor compreensão: A estrutura do raciocínio clínico História do paciente Coleta de dados Adequada representação do problema Geração de hipóteses Procurar e selecionar “script” de doenças Diagnóstico A estrutura do processo de raciocínio clínico. (Adaptado de: Cox M, Irby D, Bowen J, 2006.) A figura é autoexplicativa, mas o importante é notar que sempre se pode voltar à história do paciente e à coleta de dados e reformular o diagnóstico (ou a hipótese diagnóstica principal), pois essas são as varíaveis mais importantes. Sob o item coleta de dados, podem-se incluir informações adicionais de história, exame físico ou dados de exames complementares apropriados para cada caso. Além disso, deve-se lembrar que o processo diagnóstico é sempre dependente do contexto no qual o caso se desenvolve, e também do conhecimento e experiência do profissional (médico) envolvido. CONHECIMENTO CONTEXTO EXPERIÊNCIA r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 11 Existem dois sistemas de pensamento que regem o raciocínio em geral e o raciocínio clínico em particular, conhecidos como sistema 1 e sistema 2. Esses sistemas são exemplificados no vídeo abaixo, adaptado do livro de Daniel Kahneman: Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar (Thinking, Fast and Slow), de 2011. Os processos mentais do raciocínio clínico https://www.youtube.com/watch?v=vC1NXZea2PE&feature=youtu.be r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 12 QUAL O DIAGNÓSTICO? Resposta: Neymar em jogo da Seleção! Percebe-se o jogador, a bola, a ação, o uniforme e até a braçadeira de capitão (antes da era Tite). O diagnóstico foi rápido e intuitivo, feito de maneira inconsciente, e baseado em conhecimento prévio e reconhecimento de padrões: “já vi este filme antes!” Sistema 1: rápido e intuitivo Sistema 2: lento e deliberado Resposta: 224 O resultado desse cálculo depende de uma operação mental consciente e deliberada, mais lenta que a anterior, e que depende da metacognição - isso significa, simplesmente, que durante toda a operação estamos pensando em como estamos pensando, isto é: 7 x2 = 14, ficam 4, vai 1; 7 x3 = 21, 21+1 = 22; ou seja, igual a 224, se fizermos o cálculo mentalmente. Se usarmos uma calculadora, teremos que pensar: “vou ligar a calculadora e apertar o 7, depois o sinal de multiplicar (x), então vou apertar 3 e 2 e o sinal de igual (=)”. 7 x 32 QUAL O DIAGNÓSTICO? r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 13 Vejamos, na figura abaixo, os dois sistemas em funcionamento: Os dois sistemas de pensamento em funcionamento. DELIBERADO CONSCIENTE RÁPIDO INCONSCIENTE METACOGNIÇÃO INTUIÇÃO Sistema 2 Sistema 1 7 x 32 = 224 (Adaptado de: Quirk M, 2006; e Croskerry P, 2009.) r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 14 Na clínica, o reconhecimento de padrões do Sistema 1 ocorre universalmente, mas esse processo é especialmente evidente em algumas especialidades como Radiologia e Dermatologia, onde o reconhecimento de padrões (nesse caso, visuais) é inerente ao próprio processo diagnóstico. Já o Sistema 2 é mais utilizado por estudantes e residentes que costumam raciocinar de maneira retrógrada, isto é, do diagnóstico para os dados, e também por médicos experientes que usam o método hipotético-dedutivo, de forma anterógrada, ou seja: eles acumulam o maior número de dados relevantes da história, exame físico e exames complementares, para então chegar ao diagnóstico. Essa também é a forma de raciocínio propalada através da figura mítica do detetive Sherlock Holmes. Os dois sistemas de pensamento podem ser ativados separada ou simultaneamente, e independem da experiência do médico - embora os médicos mais experientes tenham uma tendência a raciocinar mais com o Sistema 1, pois eles tiveram mais tempo de treinamento, prática, e contato com um grande número de casos - requisitos esses que podem ajudá- los a reconhecer padrões de maneira rápida, inconsciente e intuitiva. É graças ao Sistema 1 que as vovós fazem os diagnósticos mais rápida e acuradamente do que os médicos jovens! r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 15 Erros médicos Vamos ver, agora, como esses sistemas de pensamento funcionam na prática clínica, e como podem levar a erros médicos. O próprio Sherlock Holmes nos ensina: “Dados! Dados! Preciso de dados! Não posso fazer tijolos sem barro!” Doyle AC. As faias acobreadas (The adventure of copper beeches), 1891-92 Obviamente faltam dados na história e exame físico para o diagnóstico correto. Vejamos o caso completo, portanto, depois de uma revisão que trouxe todos os dados pertinentes (os dados novos estão destacados): Analise o caso abaixo: Um paciente de 6 anos é internado no PS por artrite e febre. Ao exame físico, apresenta um sopro holossístólico no foco mitral e esplenomegalia, além de uma ferida infectada no terço inferior da perna direita. Esse caso tem sido apresentado a múltiplas platéias de médicos (inclusive cardiologistas), residentes e estudantes de Medicina, e invariavelmente a hipótese diagnóstica é: ENDOCARDITE BACTERIANA No entanto, para surpresa de todos, esse não é o diagnóstico correto. Isso ocorre porque a a maioria das pessoas, quando sob pressão para obter uma resposta rápida, usa o Sistema 1, rápido e intuitivo. O Sistema 1, de fato, pode ser o mais eficiente em algumas situações - mas não neste caso. Um paciente de 6 anos, afrodescendente, é internado no PS por artrite e febre, recorrentes desde a infância. Ao exame físico, apresenta anemia, um sopro holossistólico no foco mitral e esplenomegalia, além de uma ferida infectada no terço inferior da perna direita e cicatrizes disseminadas, em ambas as pernas. Tem dois irmãos com doença semelhante. Agora o caso já permite uma análise melhor, e o uso do mesmo Sistema 1 pode levar, desta vez, ao diagnóstico (correto): ANEMIA FALCIFORME! r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 16 Raciocínio no caso original (incompleto) Raciocínio no caso revisado (completo) As figuras abaixo ilustram o processo de raciocínio diagnóstico realizado no caso original (incompleto) e no caso revisado (completo): História do paciente Coleta de dados Adequada representação do problema Geração de hipóteses Procurar e selecionar “script” de doenças Diagnóstico História do paciente Coleta de dados Adequada representação do problema Geração de hipóteses Procurar e selecionar “script” de doenças Diagnóstico CO NH EC IM EN TO CO NH EC IM EN TOCO NT EX TO CO NT EX TO EX PE RI ÊN CI A EX PE RI ÊN CI A Um paciente de 6 anos é internado no PS, por artrite e febre, ao exame físico, apresenta um sopro holossístólico no foco mitral e esplenomegalia, tem uma ferida infectada. Um paciente de 6 anos, afrodescendente, é internado no PS por artrite e febre, recorrentes desde a infância. Ao exame físico, apresenta anemia, um sopro holossistólico no foco mitral e esplenomegalia, tem uma ferida infectada no terço inferior da perna direita e cicatrizes disseminadas, em ambas as pernas. Tem dois irmãos com doença semelhante. ANEMIA FALCIFORME! r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 17 Uma outra forma de apresentar o raciocínio clínico e a atuação dos dois sistemas de pensamento (o 1, rápido e intuitivo, e o 2, lento e deliberado) é aquela preconizada por Kevin Eva no seu seminal artigo What every teacher needs to know about clinical reasoning: Um paciente de 06 anos, afro descendente, é internado no PS, por artrite e febre, recorrentes desde a infância. Ao exame apresenta, anemia um sopro holossistólico no foco mitral e esplenomegalia, tem uma ferida infectada no terço inferior da perna direita e cicatrizes disseminadas, em ambas as pernas. Tem dois irmãos com doença semelhante. 1 06 anos, afro descendente, artrite e febre recorrentes anemia, SS++FM esplenomegalia, lesões cutâneas pré-tibiais História familiar + (Adaptado de: Eva K, 2005.) Queixas do Paciente Interação Sistema 1 Sistema 2 Resumo do Caso Hipóteses Testadas Não-analítico Analítico Representação dos sistemas de pensamento, de acordo com Kevin Eva: r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 18 Como se pode ver, no esquema acima há uma interação entre o Sistema 1 (rápido, não analítico) e o Sistema 2 (lento, analítico). Surge aqui também a importância do resumo ou representação do caso, que é uma síntese dos dados principais do caso. Um bom resumo simplifica a apresentação das informações de uma forma esquemática mas completa, num formato útil para desencadear o processo de raciocínio clínico. O resumo do caso deve ser sempre feito com o uso de boas palavras-chave, também chamadas de qualificadores semânticos, que são termos médicos de sentido oposto que ajudam a “traduzir” a história clinica e o exame físico. Alguns exemplos de palavras-chave: dor em cólica / dor contínua, supraumbilical / infraumbilical, aguda / crônica, leve / intensa, localizada / difusa. r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 19 Na história da paciente que havia omitido a gestação para a família, o médico do ambulatório do SUS que encaminhou a paciente com um “tumor, hipertensão e hirsurtismo” foi traído por várias circunstâncias: em primeiro lugar, a pressa; em segundo lugar, ele não examinou a paciente, pois um útero gravídico na quadragésima semana de gestação é um achado difícil de errar. Mas, mais do que isso: ele também foi enganado pelo seu próprio cérebro, pois ele viu ...E no caso da gestante? Qual foi o erro? na ficha os níveis pressóricos elevados da paciente e percebeu um aumento da pilificação (que pode perfeitamente ocorrer numa gestação normal). Como a paciente adolescente, acompanhada da mãe, negasse a gestação, o cérebro do médico desviou o raciocínio para a possibilidade de um tumor da glândula adrenal. Finalmente, como era uma sexta- feira à tarde, ele deve ter pensado: “vou mandar este caso para o nefrologista, pois eles estão sempre à disposição e gostam desses casos difíceis.” Deu no que deu. r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 20 Agora que temos uma idéia mais clara de como funciona o cérebro em relação ao raciocínio clínico, temos que estabelecer rotinas e regras que nos obriguem a jamais pular etapas no processo diagnóstico, pois a chance de erros aumenta à medida que deixamos de conversar com os pacientes ou deixamos de examiná-los com o devido cuidado. Além disso, a chance de erros aumenta se não conhecermos ou não prestarmos atenção aos processos mentais de raciocínio que desenvolvemos para chegar a um diagnóstico. Conclusões Nas postagens seguintes deste blog, falaremos de muitos assuntos interessantes para médicos e estudantes de medicina: Dicas para ouvir a história do paciente e fazer uma boa anamnese; Estratégias do raciocínio clínico e como utilizá-las; Doenças e sintomas que mais causam erro diagnóstico; Estatísticas sobre erros diagnósticos; Como prevenir erros diagnósticos; E muitos outros temas, sempre com uma abordagem prática mas devidamente embasada na literatura, escritos de forma atraente, e cheios de histórias reais, para ajudar você a ser o melhor médico que você pode ser. Venha conosco nesta jornada! r a c i o c i n i o c l i n i c o . c om . b r 21 Cox M, Irby D, Bowen J. Educational strategies to promote clinical diagnostic reasoning. New England Journal of Medicine. 2006; 355(21):2217-2225. http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra054782 Institute of Medicine. Improving Diagnosis in Health Care. Washington: National Academies Press, 2015. https://www.nap.edu/catalog/21794/improving-diagnosis-in-health-care Kahneman D. Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. Eva KW. What every teacher needs to know about clinical reasoning. Medical Education. 2005;39(1):98-106. http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1365-2929.2004.01972.x/full Croskerry P. A universal model of diagnostic reasoning. Acad Med. 2009;84:1022-1028. Quirk M. Intuition and Metacognition in Medical Education: Keys to Developing Expertise (Springer Series on Medical Education). Heidelberg: Springer Publishing Company, 2006. Para saber mais:
Compartilhar