Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Civil II Defeitos nos Negócios Jurídicos (DOLO) Espécies de DEFEITOS NOS NEGÓCIOS JURÍDICOS: 2. Dolo: - Artifício ou expediente ASTUCIOSO utilizado para induzir alguém à prática de um ato que o prejudica, e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro. - Sugestões ou manobras MALICIOSAMENTE levadas a efeito por uma parte, com o objetivo de conseguir da outra uma emissão de vontade que lhe traga proveito, ou a terceiro. - O dolo é diferente do erro porque o ERRO É ESPONTÂNEO, a vítima se engana sozinha. Já o dolo é PROVOCADO INTENCIONALMENTE pela outra parte ou por terceiro, fazendo com que aquela também se equivoque. Espécies de dolo: - Há várias espécies de dolo, dando-se destaque às seguintes: a) Dolo principal e dolo acidental: - Trata-se da classificação MAIS IMPORTANTE. Dolo principal – é tratado pelo Código Civil em seu artigo 145. - Segundo Maria Helena Diniz “o dolo principal é aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não se teria concluído (CC, art. 145), acarretando, então, a anulabilidade daquele negócio” (2004, p. 418). - Pode se concluir, portanto, que o dolo é essencial quando se não fosse pelo dolo, o negócio não se concretizaria, por isso que a anulação do negócio é válida nesse caso. - Somente esta espécie de dolo – com causa determinante da declaração de vontade – vicia o negócio jurídico. - Observa-se quando o negócio foi realizado somente porque houve a indução maliciosa de uma das partes. - Se não fosse pelo convencimento ASTUCIOSO e a MANOBRA INSIDIOSA, o negócio não teria se concretizado. Dolo acidental – tratado pelo Código Civil, em seu artigo 146. - Diz respeito às CONDIÇÕES DO NEGÓCIO, mas não ao negócio em si. - Significa dizer que independentemente da ocorrência do dolo acidental, o negócio teria se realizado, mas não da forma como o foi. - Teria se realizado independentemente da malícia empregada pela outra parte ou por terceiro – porém, em condições favoráveis ao agente. - Por essa razão, o dolo acidental NÃO VICIA O NEGÓCIO, e só obriga à satisfação de perdas e danos – primeira parte do artigo 146 do Código Civil. - Trata-se de situação em que a pessoa realiza o negócio POR INTERESSE PRÓPRIO, e não em razão de induzimento feito por outrem. - Mas o comportamento malicioso da outra parte ou do terceiro influencia na FORMA e CONDIÇÕES DO NEGÓCIO. - Nesses casos – em se tratando de hipótese de dolo acidental – é mero ato ilícito, que não permite postular a INVALIDAÇÃO DO NEGÓCIO, mas apenas a reparação do dano experimentado pela vítima. - No caso do dolo acidental existe a intenção de enganar, todavia o negócio aconteceria com ou sem dolo; porém surge ou é concluído de forma mais onerosa ou menos vantajosa para a vítima. - Ele não tem influência para a finalização do ato, conforme dita o artigo 146: “É acidental o dolo, quando a seu despeito o ato se teria praticado, embora por outro modo”. - Um ótimo exemplo de dolo acidental vem de Stolze Gagliano e Pamplona Filho: “O sujeito declara pretender adquirir um carro; escolhendo um automóvel com cor metálica, e, quando do recebimento da mercadoria, enganado pelo vendedor, verifica que a coloração é, em verdade, básica. Neste caso, não pretendendo desistir do negócio poderá exigir compensação por perdas e danos”. - Pode-se compreender que o autor do negócio já tinha intenção de comprar um automóvel, e foi enganado apenas na cor deste, que suponhamos que não era de suma importância para a vítima. - Agora um exemplo de dolo essencial dos mesmos autores: “Diferente, seria, porém, a situação em que ao sujeito somente interessasse comprar o veículo se fosse da cor metálica – hipótese em que este elemento faria parte da causa do negócio jurídico. Nesse caso, tendo sido enganado pelo vendedor para adquirir o automóvel, poder-se-ia anular o negócio jurídico com base em dolo”. - Agora nota-se que um requisito para a compra do automóvel era que ele fosse de cor metálica, portanto se ele tivesse uma pintura básica o negócio não se concretizaria, e aconteceu graças ao dolo do vendedor, que enganou o comprador e viciou a sua vontade. - Nos casos em que ocorra DOLO – tanto o principal como o acidental – existe a deliberação de um contratante enganar o outro. - Porém, na primeira hipótese (principal), o artifício faz gerar uma anuência que NÃO OCORRERIA e que de MODO NENHUM SE MANIFESTARIA sem a mentira. - Já na segunda hipótese (dolo acidental), o consentimento viria de qualquer forma, só que em razão da incidência do dolo, o negócio ocorre de maneira mais onerosa para a vítima do engano. b) Dolus BONUS e Dolus Malus: - Classificação oriunda do direito romano. Dolus bonus: - Dolo tolerável, destituído da gravidade suficiente para viciar a manifestação de vontade. - É comum ocorrer no comércio em geral, onde é considerado normal – e até esperado – o fato dos comerciantes exagerarem na qualidade das mercadorias que estão vendendo. - Não torna anulável o negócio jurídico realizado, porque de certa maneira as pessoas já esperam por ele e não deixam se envolver pela mentira. - Entendem os autores que esse procedimento dos vendedores é tão comum que certamente uma pessoa normal não se deixará ludibriar pela manobra. - Tanto é comum que esse procedimento de gabar exageradamente o produto vendido não é considerado pelo ordenamento jurídico como dolo, em razão da sua menor intensidade. - Importante destacar que o Código de Defesa do Consumidor proíbe a propaganda enganosa, aquela capaz de induzir a erro o consumidor. - Desse modo, o CDC não libera todo e qualquer tipo de propaganda capaz de enganar o consumidor – apenas porque isso é considerada prática comum. - Apenas deixa de punir se a apresentação dos produtos não for capaz de enganar as pessoas a ponto de fazê-las adquirir tais produtos pelo exagero da propaganda. Dolus malus: - Aquele dolo revestido de gravidade, exercido com o propósito de ludibriar e principalmente prejudicar. - É esse dolo que pode ser dividido em principal e acidental, visto no tópico anterior. - Pode ser caracterizado por atos, palavras e até mesmo o silêncio, que tem por objetivo OCULTAR alguma situação prejudicial no momento da realização do negócio. - Somente o dolus malus – ou seja, o grave – vicia o consentimento, acarretando a anulabilidade do negócio jurídico ou a obrigação de satisfazer as perdas e danos, conforme a intensidade da gravidade. - A lei não dita regras específicas para se distinguir o dolo tolerado (dolus bonus) daquele que vicia o consentimento (dolus malus). - Caberá ao juiz – no exame do caso concreto – decidir se o contratante excedeu ou não o limite do razoável. c) Dolo positivo ou comissivo e Dolo negativo ou omissivo: - O procedimento doloso pode revelar-se em manobras ou ações maliciosas e também em comportamentos omissivos. - O Código Civil equiparou a omissão dolosa à ação dolosa, exigindo que aquela seja de tal importância que sem ela o negócio não se teria realizado – é a previsão do artigo 147 do Código Civil. - Se ficar provada tal circunstância – que o silêncio intencional de uma das partes foi fundamental para a realização do negócio – pode ser pleiteada a anulação do negócio jurídico. - Tal dispositivo ébaseado a boa-fé - que deve nortear todos os negócios jurídicos. - Tal princípio é reiterado em outros dispositivos do Código Civil que tratam de hipóteses de omissão dolosa: Artigo 180 – menor que oculta maliciosamente sua idade; Artigo 766 –que acarreta a perda do direito ao recebimento de seguro se o estipulante de seguro de vida oculta dolosamente ser portador de doença grave quando da estipulação. EXEMPLO: 1. Propaganda enganosa. Veículo ofertado em estado de novo. Defeitos constatados pelo comprador após dois dias da celebração da transação. A omissão dolosa das reais qualidades do veículo, que, em hipótese alguma pode ser considerado em estado de novo, constitui causa de anulabilidade, uma vez que, se conhecesse tais defeitos, o negócio não teria sido celebrado (RT, 773/344-346). 2. Seguro de vida. Perda do direito ao valor pelo beneficiário. Segurado que intencionalmente omitiu, ao subscrever proposta, dado relevante sobre seu estado de saúde, capaz de influir na sua aceitação pela seguradora. Má-fé caracterizada e comprovada nos autos (RT, 642/144; 640/186). d) Dolo de terceiro - artigo 148 do Código Civil: - O dolo pode ser proveniente do outro contratante ou e terceiro, estranho ao negócio. - Pelo que prevê o artigo, o dolo de terceiro apenas ensejará anulação do negócio jurídico se a parte que se aproveitar dele tivesse – ou devesse ter – conhecimento. - Se o beneficiado pelo dolo de terceiro não adverte a outra parte, está tacitamente ADERINDO ao expediente malicioso, tornando-se, assim, CÚMPLICE. - O dolo do estranho VICIA O NEGÓCIO se, sendo principal, era conhecido de uma das partes e esta não advertiu a outra porque, neste caso, ACEITOU A MAQUINAÇÃO, dela se tornou cúmplice, e responde pela sua má-fé. - Ou seja, o dolo de terceiro só pode configurar a anulação do negócio jurídico se alguma das partes tiver conhecimento deste. - Deve haver uma participação do beneficiado na consumação do negócio viciado para anulá-lo. - Caso nenhuma das partes esteja a par do dolo, o terceiro tem apenas a obrigação de ressarcir todas perdas e danos da parte que foi lesada, não anulando o negócio jurídico. - Por exemplo: se o adquirente é convencido, maldosamente, por um terceiro de que o relógio que está adquirindo é de ouro, sem que tal afirmação tenha sido feita pelo vendedor, e este ouve as palavras de induzimento utilizadas pelo terceiro e não alerta o comprador – sabendo que o relógio não é de ouro. Isso torna o negócio anulável. - Entretanto, se a parte a quem aproveite – no exemplo acima, o vendedor – não soube do dolo de terceiro, NÃO SE ANULA O NEGÓCIO. - Se nenhuma das duas partes envolvidas no negócio conhecia o dolo de terceiro, não há fundamento para anulação, pois o beneficiário, caso fosse anulado o negócio, ia se ver lesado por um ato a que foi estranho e do qual nem sequer teve notícia. e) Dolo do representante – artigo 149 do Código Civil: - O representante de uma das partes não pode ser considerado terceiro, mesmo porque está atuando como se fosse o próprio representado. Quando atua nos limites dos poderes que lhe foram conferidos, considera-se ato praticado pelo próprio representado. - Se o representante induz em erro a outra parte, constituindo-se o dolo por ele exercido na causa do negócio, este será anulável. Sendo o dolo acidental, o negócio subsistirá, ensejando apena a satisfação das perdas e danos. Dolo do representante legal: só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve. - São os representantes que a lei impõe: o tutor, curador, pais no exercício do poder familiar. Assim, o representado não pode se rebelar contra isso. - Se estes atuarem maliciosamente na vida jurídica, seria injusto que a lei sobrecarregasse com os prejuízos advindos de sua má conduta representado que não os acolheu e que, em geral, dada a sua capacidade, não podia os vigiar. Dolo do representante convencional: acarreta a responsabilidade solidária do representado. - São aquelas situações que se escolhe o representante, lhe outorga mandato, cria risco para o mundo exterior, pois o mandatário, usando o nome do mandante, vai agir nesse mundo de negócios criando relações de direito. - Se é má a escolha, tem o mandante CULPA e o dano resultante para terceiros deve ser por ele reparado. - A presunção de culpa in elegendo ou in vigilando do representado tem por consequência responsabilizá-lo solidariamente pela REPARAÇÃO TOTAL do dano e não apenas limitar sua responsabilidade ao proveito que teve. Assim, temos que os representantes civis, como por exemplo, um pai cujo filho é menor de 16 anos, ao celebrar contrato em nome do filho e agindo dolosamente, ele responderá civilmente; ao passo que quando o representante convencional celebrar contrato em nome do representado agindo dolosamente, este responderá solidariamente com aquele, ficando obrigados a indenizar a parte prejudicada. f) Dolo bilateral - O dolo de ambas as partes encontra fundamento no artigo 150 do Código Civil. - Nesse caso, considerando que ambas as partes têm culpa, nenhuma delas poderá invocar o dolo para anular o negócio jurídico ou reclamar indenização. - Isso porque cada qual quis obter vantagem em prejuízo da outra. - A doutrina, nesses casos, entende pela compensação do dolo principal com o dolo acidental. Ou seja, pouco importa que uma parte tenha procedido com dolo essencial e a outra apenas com dolo acidental. - O certo é que ambas as partes envolvidas no negócio procederam com dolo, não havendo boa-fé a defender.
Compartilhar