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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES PROF. VICTOR EDUARDO S. LUCENA E-MAIL: VICTORLUCENA84@GMAIL.COM 2016.2 AULA - III 1. Distinções (direitos reais e direitos obrigacionais, situações híbridas e obrigações propter rem) 2. Direitos da personalidade 3. Fontes do direito das obrigações 4. Princípios do direito das obrigações 1. DISTINÇÕES 1.1. DIREITOS REAIS X DIREITOS OBRIGACIONAIS Existem dois grandes grupos de direitos patrimoniais Direitos reais Direitos obrigacionais Diferenças quanto à estrutura: Sujeitos Direitos obrigacionais: relação jurídica entre pessoas determinadas ou determináveis. Direitos reais: relação jurídica entre aquele que exerce o domínio e todos os demais. Relação Direitos obrigacionais: O credor não pode atuar sobre o objeto desejado. Ele precisa da colaboração do devedor - seja através de uma conduta positiva ou negativa - para obter o adimplemento. Os direitos obrigacionais só podem ser ofendidos pelo devedor. Direitos reais: Aquele que tem o domínio exerce poder direto sobre a coisa, sem depender do consentimento de terceiros. Os direitos reais podem ser ofendidos por qualquer pessoa. Prescrição Direitos obrigacionais: é possível a ocorrência da prescrição. Direitos reais: Não existe prescrição de direito real. Previsão legal Direitos obrigacionais: podem existir relações obrigacionais diferentes daquelas previstas no Código Civil. Direitos reais: o Código Civil traz rol taxativo de direitos reais (art. 1.225). 1.2. CASOS HÍBRIDOS Não obstante as características de cada um dos direitos, há casos nos quais as relações jurídicas estabelecidas abarcam tanto relações de direito obrigacional como também de direito real. Exemplo: usufruto. No usufruto, tanto o usufrutuário como o proprietário exercem direitos sobre o bem e contra terceiros (direitos reais). Entretanto, a lei determina obrigações ao usufrutuário (art. 1.400 do Código Civil). Obrigações com eficácia real: São aquelas que, embora tenham natureza contratual, por força de lei, podem ser oponíveis à coletividade. Exemplo: contrato de locação averbado no Registro Geral de Imóveis (RGI), cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade, desde que registradas, e promessa de compra e venda registrada. 1.3. OBRIGAÇÕES PROPTER REM São obrigações impostas ao titular de determinado direito real, pelo simples fato de tal condição e por força da lei. O sujeito da obrigação propter rem mudará, caso a titularidade do bem que origina a obrigação mude. 2. DIREITOS DA PERSONALIDADE Segundo Francisco Amaral, os direitos da personalidade são "direitos subjetivos que têm por objeto os bens e valores essenciais da pessoa, no seu aspecto físico, moral e intelectual". (AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução, p. 245.) Pietro Pelegrini, por sua vez, entende que "tratando-se a personalidade de um valor, as situações existenciais não são exauridas na categoria dos direitos subjetivos, podendo ser hauridas em uma complexidade de hipóteses, como direitos protestativos, faculdades, ônus e outras categorias". FARIAS, Cristiano Chaves. Curso de Direito Civil: Obrigações, p. 85.) Nos direitos obrigacionais, tanto o sujeito como o objeto representam o ser, a pessoa. Os direitos da personalidade se inserem no grupo das situações subjetivas relacionadas à tutela dos atributos fundamentais do ser humano, resguardando-os. Os direitos da personalidade são os direitos do indivíduo sobre os aspectos da sua personalidade. Os direitos da personalidade são extrapatrimoniais (art. 11 a 21 do CC) e representam a concretização do princípio da dignidade da pessoa humana no direito privado. Características: Oponibilidade erga omnes Vitaliciedade Imprescritibilidade Relativa disponibilidade TEMOS Dever jurídico: é a adoção de determinado comportamento em função de imposição legal. Exemplo: Dever jurídico de abstenção em relação ao direito de propriedade alheio. Obrigação: é o dever jurídico específico e individualizado, que advém de relação jurídica firmada entre as partes. é a prestação. Exemplo: Obrigação de entregar 50 sacos de feijão. Sujeição: é o poder jurídico que, por ato de livre vontade, produz efeitos jurídicos sobre outra parte. Exemplo: Mandato. Ônus: é a necessidade de adoção de determinada conduta para a defesa de interesse próprio. O ônus, se inadimplido, não gera sanção. Exemplo: ônus de recorrer de uma sentença desfavorável. 3. FONTES DAS OBRIGAÇÕES Trata-se do fato jurídico constitutivo da obrigação. Quais são as fontes das obrigações? Para Caio Mario, são duas. "(...) a primeira é a vontade humana, que as cria espontaneamente, por uma ação ou omissão oriunda do querer do agente, efetuado na conformidade do ordenamento jurídico; a segunda é a lei, que estabelece uma obrigação para o indivíduo, em face de comportamento seu, independentemente de manifestação volitiva". (PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 26) Para Moacir Adiers, "(...) as fontes das obrigações constituem-se pelos fatos jurídicos tidos como hábeis para produzir o surgimento do dever de prestar de alguém e favor de outrem (...)". (ADIERS, Moacir. Fontes das obrigações no novo Código Civil, p. 29) SEPARAÇÃO CLÁSSICA Contratos Atos unilaterais de vontade Atos ilícitos Lei CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES DAS OBRIGAÇÕES SEGUNDO A FUNÇÃO Negócio jurídico: segundo a teoria objetivista, o negócio jurídico, como manifestação da autonomia privada, possibilita que os indivíduos criem normas para regularem seus interesses, desde que dentro dos limites legais. Responsabilidade civil em sentido estrito: há casos nos quais a responsabilidade surgirá dos danos causados à pessoa ou ao patrimônio, gerando o dever de prestar em prol da recomposição do status quo ante da vítima (arts. 186, 187 e 927 CC). Nesse caso, a obrigação surge do dano gerado pelo ato ilícito absoluto, ou seja, pela violação do dever de cuidado. Enriquecimento sem causa: a causa da obrigação surgida do enriquecimento sem causa reside no acréscimo patrimonial injustificado. A finalidade desta obrigação é a restituição da vontade indevidamente adquirida ao patrimônio do empobrecido. Boa-fé objetiva: a boa-fé objetiva estabelece deveres anexos a quaisquer outras relações jurídicas (deveres de informação, lealdade, respeito, probidade, garantia etc.). Ao exigir deveres de colaboração mútua, a boa-fé objetiva estabelece obrigações entre as partes. 4. PRINCÍPIOS DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Paradigmas persigidos pelo Código Civil de 2002: Socialidade Eticidade Operabilidade 4.1. PRINCÍPIO DA SOCIALIDADE O que é direito subjetivo? É o poder de agir do indivíduo, concedido e tutelado pelo ordenamento jurídico. "O ordenamento jurídico concede a alguém um direito subjetivo para que satisfaça um interesse próprio, mas com a condição de que a satisfação individual não lese as expectativas coletivas que lhe rodeiam". O objetivo maior do direito das obrigações é a finalidade social. A função social é, assim, um limite interno e positivo do direito subjetivo. É interno porque ingressa na estrutura do direito (Constituição Federal), garantindo seu dinamismo e finalidade. É positivo porque busca valorizar e legitimar a atuação do indivíduo. O princípio da socialidade objetiva preservar o bem comum através da cooperação dos indivíduos para a satisfação dos interesses patrimoniais recíprocos, sem comprometer os direitos da personalidade e da dignidade dos sujeitos da relação obrigacional. 4.2. PRINCÍPIO DA ETICIDADE O Direito é a técnicaa serviço da ética. O princípio da eticidade entra no Direito das Obrigações através das cláusulas gerais, estas editadas de forma aberta pelo legislador, com conteúdo vago e impreciso e multiplicidade semântica. Segundo Gustavo Tepedino, as clausulas gerais são "normas que não prescrevem uma certa conduta, mas, simplesmente, definem valores e parâmetros hermenêutios. Servem, assim, como ponto de referência interpretativo e oferecem ao intérprete os critérios axiológicos e os limites para a aplicação das demais disposições normativas". (TEPEDINO, Gustavo. Crise de fontes normativas e técnica legislativa na parte geral do Código Civil de 2002, p. XIX.) Exemplos de cláusulas gerais: Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Aplicação da Teoria Tridimensional do Direito, de Miguel Reale (fato + valor = norma). 4.3. PRINCÍPIO DA OPERABILIDADE OU DA CONCRETUDE De forma subjacente ao indivíduo genérico previsto no Código, existem pessoas concretas, com particularidades, que se distinguem de outras. Esse princípio também propugna por rápidas formas de solucionar as pretenções e pela não eternização das incertezas e conflitos. OBRIGAÇÃO COMO UM PROCESSO Aplicação da legalidade constitucional ao Direito das Obrigações. Primado da valorização da cidadania. A obrigação como um processo consiste em uma série de atividades exigidas de ambas as partes para a consecução de uma finalidade, qual seja o adimplemento. Pela visão da obrigação como um processo, busca-se preservar a liberdade dos obrigados, sem que um esteja em posição de superioridade em relação ao outro, mas sim de colaboração. A obrigação passa a ser relação dinâmica. Necessária observância dos deveres anexos à boa fé-objetiva. Preservação da transitoriedade das relações obrigacionais, com valorização da liberdade do indivíduo. Os deveres anexos de boa-fé não são enumeráveis. Eles são elásticos e podem ser aumentados ou diminuídos pelo acordo de vontades. Existem, entretanto, dois grupos de deveres de conduta: Deveres de finalidade positiva: aqueles que objetivam a concretização do interesse do credor. Deveres de finalidade negativa: aqueles que defendem as partes de intromissões danosas na vida pessoal e na esfera patrimonial. Em uma classificação simples, podemos dividir os deveres de conduta em: Deveres de proteção: buscam proteger a pessoa de eventuais danos à personalidade e ao patrimônio no curso da obrigação. Deveres de esclarecimento: é o dever de esclarecer sobre o um interesse justificado, ou seja, sobre as condições nas quais será contraída a obrigação. Deveres de lealdade: é mandamento de cooperação recíproca. Impõe que as partes não devem falsear sobre o objetivo do negócio nem atingir a dignidade uma das outras.
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