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ISSN 21774080 96 Investigação, 14(6):96-101, 2015 RESUMO A cetose é uma alteração metabólica que causa problemas em vacas de alta produção, gerando prejuízos para o produtor com a redução da produção, custo de tratamento ou até a morte de animais. O objetivo deste trabalho é revisar os aspectos relacionados com os fatores desencadeantes, tratamento e prevenção da cetose. Essa alteração metabólica relaciona-se com o período de transição, quando as demandas energéticas aumentam para o crescimento fetal no fi nal da gestação e para a síntese de lactose após o parto. Nesse período ocorre normalmente um balanço energético negativo (BEN), pois a ingesta não é sufi ciente para atender as demandas do animal, resultando em mobilização das reservas do tecido adiposo. Na cetose essa mobilização ocorre de forma intensa, tendo grande captação de ácidos graxos livres pelo fígado que podem resultar em esteatose hepática. Uma das formas de diagnóstico é feita através da identifi cação do aumento de corpos cetônicos séricos ou na urina. O tratamento mais adequado para a cetose é a administração por via oral de propileno-glicol, desde que não seja fornecido em excesso. A principal forma de prevenção é evitar que a vaca ganhe muito peso, pois o tecido adiposo produz leptina que inibe o apetite, sendo ideal que vaca esteja com escore 3,25 no momento do parto. Tendo em vista a importância da cetose em vacas de alta produção é importante salientar que os animais devem ser monitorados no período de transição e a dieta deve ser adequada para evitar ganho excessivo de peso. Palavras-chave: período de transição, balanço energético negativo, doença metabólica, oxidação de ácidos graxos. MV. Denis V. Bonato1*, MV. Dayane P. Vrisman2, Augusto R. Taira3, MV. MSc. Lucas G. Ghizzi4, MV. MSc. Robson K. Ueno5, Eng. Agr. MSc. Dr. Mikael Neumann3, MV. MSc. Dr. Pedro Paulo M. Teixeira1, MV. MSc. Dra. Sofi a Borin-Crivellenti1 CETOSE EM VACAS LEITEIRAS DE ALTA PRODUÇÃO Ketosis in a high-producing dairy cowt ABSTRACT Ketosis is a metabolic disorder that causes problems for the health of high producing cows, generating losses for the farmer by reducing the production cost of treatment or death of animals. The objective of this paper is to review aspects related to the factors that trigger, treatment and prevention of ketosis. This metabolic change is related to the transition period, when energy demands increase for fetal growth in late pregnancy and for lactose synthesis after delivery. During this period usually occurs a negative energy balance (BEN), because the energy intake is insuffi cient to meet the demands of the animal, resulting in mobilization of reserves in adipose tissue. In ketosis this mobilization occurs intensely, with great capture of free fatty acids by the liver that can lead to fatty liver. One form of diagnosis is done by identifying the increased serum or urine ketone bodies. The appropriate treatment of ketosis is administration orally in propylene glycol provided that it is not supplied in excess. The main form of prevention is to prevent the cow to gain too much weight, because adipose tissue produces leptin inhibits appetite, which is ideal cow is to score 3.25 at delivery. Given the importance of ketosis in high yielding cows is important to adjust the diet to avoid excessive weight gain and monitor the animals in the transition period. Keywords: transition period, negative energy balance, metabolic disease, fatty acid oxidation. 1Universidade de Franca – UNIFRAN, Franca, São Paulo, Brasil. 2Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, Jaboticabal, São Paulo, Brasil. 3Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Guarapuava, Paraná, Brasil. 4União de Ensino do Sudoeste do Paraná – UNISEP, Dois Vizinhos, Paraná, Brasil. 5Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. *Av. Dr Armando Sales Oliveira, 201, CEP: 14.404-600, Pq. Universitário, Franca – SP. Email: denisvinicius_bonato@yahoo.com.br Investigação, 14(6):96-101, 2015 REVISÃO DE LITERATURA | CLÍNICA DE GRANDES ANIMAIS ISSN 21774080 97 Investigação, 14(6):96-101, 2015 INTRODUÇÃO A bovinocultura de leite é uma atividade de extrema importância para o agronegócio brasileiro (BRASIL, 2014), pois de acordo com USDA (2014) o Brasil está em quinta colocação na produção mundial de leite, perdendo apenas para a União Europeia, Estados Unidos, Índia e China. Porém, a média de produtividade das vacas brasileiras foi de 1382 litros/vaca/ano em 2011, vem sendo inferior a produtividade do rebanho da União Europeia, que no mesmo ano alcançou uma produção média anual de 5978 litros/vaca (IBGE, 2011). No entanto, mesmo com os índices de produtividade geral de leite do país sendo inferiores aos demais, os dados publicados pelo IBGE (2014) revelam, que no ano de 2013, as indústrias coletaram 23,545 bilhões de litros do produto, ocorrendo um aumento de 5,4% na captação de leite, em comparação com o mesmo período de 2012. O fato é atribuído à algumas regiões do país que trabalham de forma muito técnica na atividade, e os índices de produtividade tem aumentado, como demonstrado pelo IBGE (2013), nos quais Castro-PR, que é o município com maior produção de leite no país, teve média de produtividade de 7.120 litros/vaca/ano. Esses dados reforçam que no Brasil são encontradas rebanhos com vacas de alto potencial para produção de leite. Entretanto sabe-se que esses animais especializados estão sujeitos a vários distúrbios metabólicos como hipocalcemia, deslocamento de abomaso, esteatose hepática, retenção de placenta, mastites e a cetose, principalmente durante o período de transição (SANTOS et al. 2010). A cetose ocorre devido a defi ciência na ingestão de carboidratos, associada a um aumento na demanda por energia, que resulta em mobilização intensa de tecido adiposo e oxidação de ácidos graxos, resultando em acumulo de corpos cetônicos (BOSE, 1995; McART et al. 2013). Essa doença acarreta prejuízos signifi cativos para o pecuarista, pois a forma subclínica da doença reduz a produção em média de 1 a 1,4 kg de leite/dia por vaca afetada e a forma clínica pode reduzir a produção em até 4 kg/dia, podendo em casos severos levar o animal a óbito (SANTOS, 2011). A doença está presente em rebanhos de todo o mundo, pois a exemplo do estado do Paraná, onde Massuqueto et al. (2009) identifi caram, em atendimentos de vacas de alta produção, a ocorrência de 11,11% de cetose e 16,67% da doença quando associada à retenção de placenta dentre o total de casos de doenças metabólicas diagnosticadas durante o período de transição. Campos et al. (2005) identifi caram, no estado do Rio Grande do Sul, cetonúria em 11,2% das 140 vacas Holandesas avaliadas, as quais apresentavam produção média de 25 kg de leite/dia. Avaliando 5.884 vacas leiteiras em vários países da Europa, Suthar et al. (2013), identifi caram que 21,8% dos animais apresentavam cetose subclínica. Levando-se em consideração a importância do tema exposto, o presente trabalho de revisão tem como objetivo elucidar os pontos importantes relacionados à fi siopatologia, diagnóstico e manejo da cetose em vacas leiteiras de alta produção. Período de transição e a correlação com a ocorrência de cetose vacas leiterias O período de transição corresponde as três semanas que antecedem o parto e as três primeiras semanas após o parto (MOTA et al. 2006). No fi nal da gestação o desenvolvimento do feto, juntamente com a preparação da glândula mamária para a futura lactação, são as prioridades das exigências energéticas, ocorrendo um aumento nas demandas por energia nesse período (RESENDE et al. 2011). Outro fator que leva ao aumento nas demandas energéticas no período de transição ocorre logo após o parto, quandoa vaca de alto desempenho inicia uma produção maciça de leite (MOTA et al. 2006). O precursor para a elaboração de lactose, sintetizada pelas células epiteliais da glândula mamária, é a glicose, com isso, quanto mais leite a vaca produzir mais glicose irá necessitar (DE KOSTER e OPSOMER, 2012). Durante esse período a vaca apresenta diversos fatores comportamentais, hormonais, metabólicos e físicos que tendem a reduzir a ingestão de matéria seca (CONTRERAS e SORDILLO, 2011). Estudos de Hayirli et al. (2002) demonstram que vacas próximas ao parto reduzem em até 30% a quantidade de matéria seca ingerida, voltando a suprir as demandas energéticas apenas após o pico de produção de leite. Com esse aumento nas demandas energéticas e a ingestão insufi ciente de nutrientes, os animais passam por um balanço energético negativo (BEN) durante o período de transição (ALLEN e PIANTONI, 2013). O BEN é algo normal para vacas destinadas para a produção de leite, sendo uma forma de adaptação para manter a produção de leite durante períodos de escassez de alimentos (McART et al. 2013). A quantidade de glicogênio armazenada no fi gádo não é sufi ciente para atender as demandas energéticas de uma vaca em BEN, ocorrendo assim, a mobilização das reservas de ISSN 21774080 98 Investigação, 14(6):96-101, 2015 tecido adiposo para gliconeogênese (XIA et al. 2010; GORDON et al. 2013). Quando o BEN é excessivo acaba resultando em efeitos negativos para a saúde do animal, pois uma quantidade exacerbada de ácidos graxos não esterifi cados e corpos cetônicos circulantes acabam se acumulando no organismo (McART et al. 2013). Lipólise e produção de corpos cetônicos A lipólise, que é a hidrólise das ligações éster entre os ácidos graxos e o glicerol no interior das células adiposas, é controlada pela lipase triglicerídea adiposa, lípase hormônio sensível (LHS) e monoacilglicerol lípase, que atuam liberando ácidos graxos livres e o 2-monoacilglicerol, o qual também será posteriormente transformado em ácido graxo livre e glicerol pela ação da monoacilglicerol lipase (SANTOS, 2011). Algumas semanas antes do parto a vaca em BEN inicia a lipólise, associada com redução nas concentrações sanguíneas de insulina e diminuição da sensibilidade dos tecidos a insulina circulante, resultando em aumento nos níveis de ácidos graxos não esterifi cados séricos (ALLEN e PIANTONI, 2013). A lipólise é infl uenciada por diversos hormônios, fato que pode variar pelo local onde a gordura está armazenada. Em bovinos a maior concentração de lipólise, principalmente a estimulada por catecolaminas, está relacionada com o tecido adiposo subcutâneo (DE KOSTER e OPSOMER, 2012). Em condições de aumento de demanda de energia, como ocorre em vacas de alta produção durante o período de transição, a lipólise é rapidamente aumentada, principalmente pela ação da LHS, mediada por diversos hormônios como a epinefrina, noroepinefrina, cortisol, hormônio da tireóide e glucagon (PALMQUIST e MATTOS, 2011). Nos casos de cetose os principais hormônios envolvidos no desencadeamento da lipólise pela LHS, são basicamente o aumento de glucagon e catecolaminas e a redução nos níveis de insulina (SANTOS, 2011). No entanto, Xia et al. (2010) não identifi caram em animais com cetose clínica aumento nos níveis de glucagon circulantes. Uma explicação plausível para este achado baseia-se no fato de que que animais com cetose clínica podem desenvolver resistência à insulina (DE KOSTER e OPSOMER, 2012). A insulina é o hormônio responsável por permitir a entrada de glicose nas células através do desenvolvimento dos receptores (FRANDSON et al. 2005). Nos casos de resistência à insulina, mesmo tendo insulina circulante, ela não se é capaz de se ligar ao seu receptor, assim não há entrada de glicose nas células. Dessa forma os níveis de insulina circulante podem estar normais a elevados em determinados momentos, resultando em níveis que variam de normais à baixos de glucagon (SANTOS, 2011). Entretanto salienta-se que devido resultados contraditórios em alguns estudos, é necessário que mais pesquisas sejam realizadas para elucidar a relação entre a concentração de insulina, associado ao glucagon e a resistência à insulina (XIA et al. 2010). Os ácidos graxos livres, resultantes da lipólise dos tecidos de reserva, são captados pelo fígado (CONTRERAS e SORDILLO, 2011). O tecido hepático tem baixa capacidade de exportar triacilglicerol na forma de lipoproteína de baixa densidade (VLDL), e os ácidos graxos acabam sendo reesterifi cados para triacilglicerol e assim permanecem depositados no parênquima hepático até sua eliminação pela cetongênese. O aumento na concentração de triacilglicerol no tecido hepático, acima de 3%, é caracterizado como esteatose hepática (SANTOS, 2011). Animais saudáveis apresentam níveis plasmáticos de ácidos graxos livres inferiores a 400 μEq/L. Na cetose subclínica estes níveis fi cam em torno 400 a 800 μEq/L e na cetose clínica são encontrados níveis acima de 1000 μEq/L (SANTOS, 2011). Esses ácidos graxos livres quando entram na mitocôndria sofrem β-oxidação resultando na formação de acetil CoA, que se completamente oxidada pode gerar energia na forma de ATP, porém para isso é necessário oxaloacetato, oriundo da fermentação de carboidratos ingeridos, que irá condensar com acetil CoA para a síntese de citrato e entrar no cilo de Krebs. Em situações de BEN falta oxaloacetato e essa oxidação não ocorre de forma completa (SANTOS, 2011). A última etapa do metabolismo incompleto energético de lipídios é a produção de corpos cetônicos, os quais são agrupados em três compostos, o acetoacetato, 3-hidroxibutirato e a acetona. Vale relembrar que embora o 3-hidroxibutirato não seja literalmente um corpo cetônico (pois não apresenta o grupamento cetona), mas sim é agrupado como nesse contexto por ter inter-relação com os demais (SANTOS, 2011). Esses corpos cetônicos são compostos ácidos, o que leva o animal a desenvolver a cetoacidose quando a produção de corpos cetônicos torna-se exacerbada (FRANDSON et al. 2005). Os ruminantes têm níveis mais altos de corpos cetônicos que espécies não ruminantes, pois o epitélio ruminal produz 3-hidroxibutirato através da β-oxidação do butirato resultante da fermentação ruminal. Por isso, em condições normais ruminantes apresentam níveis séricos de 3-hidroxibutirato em torno de 1 a 3 mg/dL. Em animais com cetose subclínica esses ISSN 21774080 99 Investigação, 14(6):96-101, 2015 níveis permanecem entre 10 a 15 mg/dL, enquanto que em animais com a forma clínica fi cam acima de 15 mg/dL (SANTOS, 2011). Diagnóstico O diagnóstico da doença pode ser feito a partir da identifi cação do aumento de corpos cetônicos no sangue ou na urina. O diagnóstico de cetonúria é um método muito interessante de monitorar vacas em período de transição, mesmo tendo está uma correlação moderada com os níveis séricos, pois além de não ser um método invasivo, pode ser realizado utilizando um aparelho portátil associada a fi tas reagentes, assim de fácil manuseio à campo e economicamente interessante (CAMPOS et al. 2005). O medidor portátil busca a concentração de β-hidroxibutirato (BHB) na urina, por isso, as fi tas utilizadas nesse aparelho são chamadas de fi tas de BHB. Os valores de BHB que um bovino em condições normais apresenta é de até 1 mmol/L, na cetose subclínica varia de 1 a 1,3 mmol/L e na cetose clínica essa valores estão superiores a 1,3 mmol/L (GEISHAUSER et al. 1998). A glicemia também é um parâmetro auxiliar no diagnóstico, pois animais saudáveis apresentam níveis de glicose de 55 a 70 mg/dL. Em vacas com cetose subclínica estes níveis fi cam em torno de 35 a 50 mg/dL e na forma clinica abaixo de 35 mg/dL (SANTOS, 2011). Xia et al. (2010)diagnosticaram, em um rebanho de 1000 vacas leiteiras na China, dez vacas acometidas na fase clínica da doença. No referido estudo foram avaliados vários parâmetros sanguíneos e amostras de tecido hepático, sendo as variáveis dos animais doentes comparados com as dez animais saudáveis. Os autores identifi caram que todos os animais doentes apresentaram menores níveis de glicose sanguínea e insulina, demonstrando também elevados níveis séricos de ácidos graxos não estratifi cados, BHB, aspartato transaminase (AST), bilirrubina total, gamaglutamiltransferase (gama-GT), ainda nesse sentido os valores de gordura concentrada no fígado foram de 18,86%, enquanto que no grupo de animais saudáveis foi de 8,31%. Esses resultados, demonstram que a avaliação de parâmetros sanguíneos e a biópsia hepática são ferramentas efi cientes para o diagnóstico de cetose, tanto na forma clínica como subclínica. Gordon et al. (2013) referem que uma das principais formas de diagnóstico da forma clínica é feita através da identifi cação dos sinais clínicos demonstrados pelos animais doentes, os quais demonstram inapetência, fezes ressecadas e rápido emagrecimento. Santos (2011) cita que em casos severos da doença os animais podem ainda demonstrar sinais neurológicos e evoluir para o óbito. Tratamento De acordo com McArt et al. (2013) o pico de incidência de cetose subclínica ocorre a partir do quinto dia após o parto, podendo evoluir para uma cetose clínica. Assim, destaca-se a importância do monitoramento dos animais nesse período, tanto para a realização de diagnóstico precoce, quanto para evitar o agravamento da doença. Uma possibilidade de tratamento para a cetose é a administração de dextrose ou glicose por via intravenosa, principalmente em animais que apresentam sinais neurológicos em decorrência de hipoglicemia. O objetivo desta terapia é elevar os níveis glicêmicos e garantir o suprimento de glicose para a síntese de lactose, tentando amenizar a mobilização de reservas corporais. De acordo com Santos (2011) os rins tendem a reabsorver quase toda a glicose, porém acaba eliminando-a quando os níveis glicêmicos ultrapassam 180 mg/dL. Assim, deve-se evitar a rápida administração de grandes quantidades volumes de soluções contendo glicose, pois a rápida elevação dos níveis glicêmicos causará a excreção renal não somente da glicose, mas também de eletrólitos, podendo agravar o quadro clínico e a desidratação do animal (GORDON et al. 2013). A situação de hiperglicemia transitória também pode causar redução na contratilidade da musculatura lisa do trato digestório, podendo levar ao deslocamento de abomaso, e por isso é importante que o volume total de glicose seja administrado de forma fracionada ao longo do dia. A administração de glicocorticóides resulta em redução da síntese de lactose e consequentemente demanda por glicose, inclusive diminuem a captação de aminoácidos pela glândula mamária e musculatura, tornando os aminoácidos disponíveis para a gliconeogênese (SANTOS, 2011). Gordon et al. (2013) citam que o melhor tratamento para a cetose é a administração da solução de propileno- glicol por via oral durante cinco dias, pois o propileno-glicol é fermentado em propionato no rúmen, que fornece succinato para o ciclo de Krebs e contribui para a produção de oxalacetato, restabelecendo a oxidação completa de ácidos graxos ou a síntese de glicose. No entanto, Santos (2011) alerta que o propileno-glicol é tóxico para os microrganismos ruminais quando administrado em excesso. ISSN 21774080 100 Investigação, 14(6):96-101, 2015 Prevenção A melhor forma de prevenção é adequar o manejo nutricional para evitar que a vaca esteja muito gorda no parto. O ideal é que o escore de condição corporal (ECC) não seja superior à 3,25 em uma escala de 1 a 5 (SANTOS, 2011), pois animais obesos tem alta produção de leptina, um hormônio proteico produzido pelo tecido adiposo, que tem alto potencial de limitar o consumo, levando algumas vacas em período de transição a terem baixo consumo de matéria seca (ECHEVERRY et al. 2012). O uso de alguns aditivos alimentares é uma alternativa importante para evitar a ocorrência de cetose, como os ionóforos, a exemplo da monensina sódica, os quais têm a função de reduzir a metanogênese (redução de 10 a 12% da energia perdida na forma de metano) e também possibilitar a maior produção de propionato através da fermentação ruminal (SANTOS, 2011). A niacina, uma vitamina do grupo B, é outra alternativa para evitar a cetose em animais obesos, pois é capaz de reduzir a lipólise. Também é observado que animais com defi ciência de colina apresentam maior incidência de estatose hepática, e para isso a suplementação com colina tem se mostrado importante para animais no período de transição (SANTOS, 2011). CONCLUSÕES A cetose é uma doença metabólica que ocorre em rebanhos de bovinos leiteiros em todo o mundo, tendo como grupo de risco vacas de alta produção e em período de transição. A doença acarreta prejuízos signifi cativos para os pecuaristas, porém um bom manejo nutricional e o uso de aditivos podem prevenir a doença. Outro aspecto importante é a monitoração das vacas em período de transição, principalmente dos animais com ECC acima de 3,25, afi m de diagnosticar e tratar esse distúrbio metabólico. REFERÊNCIAS Allen MS, Piantoni P. 2013. Metabolic Control of Feed Intake Implications for Metabolic Disease of Fresh Cows. Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice. 29: 279–297. Bose MLV. 1995. Siglas, termos, conceitos e defi nições usuais em alimentos e alimentação e alimentação de bovinos. In: Peixoto AM, Moura JC, Faria VP. 1995. Nutrição de bovinos: conceitos básicos e aplicados. 5. ed. Piracicaba: Fealq. pp. 527-563. BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Plano mais pecuária / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Assessoria de Gestão Estratégica. Brasília: MAPA/ACS, 2014. 32 p. 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