Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Anatomia da ATM Maurício Kosminsky Modificado por Ana Carla Rios As estruturas cranio-cervicais são relacionadas entre si, formando um complexo que por sua vez é integrado a outras estruturas do corpo humano. Como exemplo: os músculos inseridos na mandíbula se relacionam direta ou indiretamente com os músculos cervicais e torácicos. Por questão didática nessa aula será abordada apenas a articulação temporomandibular (ATM), mas é importante compreender que para entender a dinâmica funcional do sistema estomatognático, faz-se necessário compreender como o funcionamento de um elemento constituinte deste interfere no funcionamento do outro elemento dentro do próprio sistema estomatognático, ou de outro sistema. O conhecimento básico da anatomia e biomecânica da ATM torna mais fácil o seu exame, permitindo uma melhor compreensão dos fenômenos patológicos e conseqüentemente uma abordagem terapêutica racional. A ATM é a região na qual a mandíbula se articula com o crânio, ela é uma articulação ginglemo-artroidal, pois pode desenvolver movimentos de rotação (gínglimo) e de translação (artróidal). A ATM apresenta várias características próprias que a diferencia de outras articulações do corpo humano, dentre elas duas são mais importantes: 1 - apesar de apresentar-se bilateralmente, funciona como uma unidade única, a articulação direita não pode mover-se independentemente da esquerda; 2 - apresenta um ponto rígido de fechamento terminal, a superfície oclusal dos dentes. CÔNDILO O côndilo mandibular é a região da mandíbula que se articula com o crânio. Existe uma grande variação na forma dos côndilos entre indivíduos diferentes e entre os côndilos direito e esquerdo de um mesmo indivíduo. Essa variação é decorrente principalmente do padrão genético e da ação de forças biomecânicas que atuam dentro dos limites fisiológicos, promovendo remodelação dos componentes articulares. O côndilo apresenta-se medindo de 7.0 a 10mm no sentido ântero-posterior e latero-medialmente 15 a 20mm, sendo o pólo medial geralmente mais proeminente que o lateral. Na região mais anterior e inferior encontra-se uma depressão denominada fóvea pterigóidea onde insere-se o músculo Pterigóideo Lateral. O eixo longitudinal formado pelos pólos medial e lateral normalmente é perpendicular ao ramo ascendente. Por outro lado os ramos não são paralelos entre si, dessa forma, os prolongamentos dos longos eixos dos côndilos se encontram em uma região posterior e superior ao eixo terminal de rotação, formando um ângulo de aproximadamente 160º. Essa inclinação orienta o posicionamento de entrada dos Raios X nas radiografias convencionais das ATMs. BARROS,J.J. O côndilo é composto de um osso esponjoso revestido por uma delgada camada de osso compacto, cuja espessura é variada. Ele é revestido por uma camada de tecido fibrocartilaginoso denso, formado principalmente de fibras colágenas e apenas poucas fibras elásticas. Esse revestimento é mais espesso em áreas de maior demanda funcional, fornecendo as condições biológicas adequadas para receber carga durante a mastigação. Quando os dentes encontram-se contatados na posição de máxima intercuspidação essa região anterior e superior do côndilo repousa na parede posterior da eminência articular, essa parece ser a área de maior demanda funcional. COMPONENTE TEMPORAL A superfície temporal da ATM pode ser dividida em uma porção côncava denominada fossa articular ou cavidade glenóide e uma convexa mais anterior denominada eminência articular. Como o côndilo a fossa articular também demonstra uma forma bastante variável. Durante o movimento de abertura máxima o côndilo translada até a crista da eminência, podendo ultrapassar em algumas articulações. Essa hipertranslação não deve ser considerado um movimento patológico quando o indivíduo não manifestar outros sintomas indicativos da desordem articular, porém deve-se aprofundar investigação dos fatores sistêmicos que podem interferir nos movimentos da ATM e quando necessário instituir orientação para o paciente com relação a este achado clínico. Na porção mais profunda da fossa articular encontra-se uma compacta óssea muito delgada, essa condição anatômica sugere que não seja uma área biologicamente desenvolvida para receber pressão, durante os esforços mastigatórios. A eminência articular pode ser dividida em duas paredes, a parede posterior (mais íngreme) e a anterior (menos íngreme). A inclinação da eminência articular contribui param a desoclusão dos dentes posteriores durante a protrusão mandibular, entretanto, não há evidências de que essa inclinação esteja relacionada com a inclinação das cúspides dentárias. Diferentemente da fossa articular a eminência articular é espessa, tolerando a presença de forças durante a função. O mesmo revestimento conjuntivo fibroso denso presente no côndilo, encontra-se, na parede posterior e medial da eminência articular. Este fato reforça a teoria de que seja uma área biologicamente desenvolvida para receber esforços durante a mastigação. Na região posterior da fossa temporal encontra-se a parede timpânica, nessa área encontram-se as fissuras escamotimpânica, petrotimpânica e a retro- escamosa. A fissura petrotimpânica estabelece uma comunicação entre o ouvido médio e a ATM por ela passam o nervo da corda do tímpano a artéria e a veia timpânica, essas estruturas nervosas e vasculares estão fora dos limites funcionais da articulação estando protegida de qualquer pressão do côndilo. DISCO ARTICULAR O disco articular localiza-se entre as superfícies articulares mandibular e temporal, tem como função proteger essas superfícies, evitando o contato direto do côndilo contra o componente temporal da articulação, bem como estabilizar os côndilos durante os movimentos mandibulares. O disco articular divide a articulação em dois compartimentos, um superior e outro inferior. No plano sargital o disco articular pode ser dividido em 3 bandas: anterior, central e posterior. A banda central ou intermediária, é a área mais delgada medindo 1 a 2 mm de espessura, não apresentando vascularização ou inervação. É nessa área que ocorre pressão durante a função mastigatória. O disco apresenta forma bicôncava; sendo as bandas posterior e anterior, mais espessas que sua banda central, medindo 4 a 5 mm de espessura. A borda posterior é ligeiramente mais espessa que a anterior e localiza-se normalmente na porção mais superior do côndilo. No plano frontal as bordas lateral e medial também são mais espessas que a parte central. A borda medial do disco articular é ligeiramente mais espessa que a lateral. A morfologia precisa do disco é determinada pelas superfícies articulares do côndilo e do componente temporal da articulação ( fossa articular). O disco é composto de um tecido conjuntivo fibroso denso, e não de cartilagem hialina como na maioria das outras articulações, esse tecido confere uma estrutura resistente, mas flexível ajustando-se de forma reversível às superfícies côncava (fossa articular), ou convexa (eminência articular). A morfologia do disco articular é mantida desde que forças destrutivas ou alterações estruturais não venham a ocorrer na articulação, nessas circunstancias alterações irreversíveis podem estar presentes. Sanders,Murakami,Clark Na borda anterior do disco insere-se o ligamento capsular, nessa região encontram-se ainda dois ligamentos, um superior e outro inferior. O ligamento superior une a porção superior da borda anterior do disco à margem anterior da superfície articular do osso temporal. O ligamento inferior une a porção inferior da borda anterior do disco ao côndilo.Ainda na borda anterior, entre os ligamentos anteriores ocorre indiretamente a inserção de tendões do feixe superior do músculo pterigoideo lateral. Nas bordas medial e lateral, ocorre a inserção dos ligamentos discais. O ligamento do pólo medial une a borda medial do disco ao pólo medial do côndilo, o ligamento do pólo lateral, une a borda lateral do disco ao pólo lateral do côndilo. Esses ligamentos contribuem para a permanência do disco sobre a superfície do côndilo. Os ligamentos Norman e Bramley discais restringem a movimentação medial ou lateral do disco, permitindo apenas um discreto movimento no sentido antero- posterior. Um aumento no comprimento desses ligamentos pode resultar no deslocamento anterior do disco, fazendo com que a borda anterior do côndilo repouse sobre a borda posterior do mesmo. ZONA BILAMINAR ( REGIÃO RETRODISCAL) Entre a face posterior do côndilo e a parede timpânica, encontra-se um tecido conjuntivo frouxo, denominado de tecido retrodiscal, essa região contém no seu interior espaços que são preenchidos com sangue durante o deslocamento anterior da mandibular. A área é abundantemente inervada pelo nervo auriculotemporal. A intensa vascularização e inervação demonstram que a região não foi biologicamente desenvolvida para receber pressão durante a função. Norman e Bramley Esta região denomina-se zona bilaminar pelo fato de apresentar na sua estrutura, duas lâminas; uma superior e uma inferior. A lâmina superior une a porção superior da borda posterior do disco articular à placa timpânica, e apresenta na sua constituição grande concentração de fibras elásticas, sendo essas ainda mais abundante nas mulheres. Sanders,Murakami,Clark As fibras retrodiscais são distendidas durante a movimentação anterior da mandíbula, tracionado o disco para posterior. A lâmina inferior une a porção inferior da borda posterior do disco a superfície posterior e superior do côndilo, sendo composto de fibras colágenas não elásticas. As estruturas retrodiscais limitam o deslocamento anterior do côndilo mandibular. Durante esse deslocamento, os tecidos retrodiscais preenchem a fossa mandibular e a região posterior do côndilo, essa expansão parece ocorrer devido ao aumento no diâmetro dos vasos que nutrem essa região. Cápsula articular Nas articulações sinoviais, os ligamentos apresentam a função de limitar o movimento. Quando os movimentos da articulação são forçados para além dos limites funcionais os ligamentos podem ser estirados já que possuem baixa capacidade de distensão. O aumento do comprimento dos ligamentos pode promover uma hipermobilidade das estruturas articulares, é o que acorre nos casos da subluxação e luxação mandibular. O disco articular funde-se a cápsula em sua periferia dividindo a articulação em dois compartimentos; o compartimento sinovial superior, e o compartimento sinovial inferior. O compartimento sinovial superior é maior, estendendo-se mais anteriormente que o inferior, é delimitado superiormente pelo osso temporal e inferiormente pela superfície superior do disco. O compartimento sinovial inferior é reforçado pelos ligamentos discais, sendo delimitado superiormente pela superfície inferior do disco e inferiormente pelo côndilo mandibular. Sanders,Murakami,Clark Os compartimentos sinoviais são independentes e não se comunicam entre si, exceto quando ocorre perfuração do disco. A cápsula apresenta na sua estrutura um tecido conjuntivo fibroso que não envolve toda a sua superfície, na região posterior o tecido vai gradualmente tornando-se frouxo, o mesmo ocorrendo na região anterior. A face interna da cápsula, voltada para as cavidades articulares, é revestida pela membrana sinovial; sua função é secretar e confinar o líquido sinovial que nutre as superfícies articulares não vascularizadas, além de remover corpos estranhos presentes no interior da articulação. Uma outra função do líquido sinovial é lubrificar a articulação, com esse objetivo dois mecanismos são empregados; o primeiro ocorre na função reduzindo o atrito durante a movimentação das superfícies articulares, um outro mecanismo de lubrificação descrito é o de "saturação", quando as superfícies articulares são sujeitas a forças de compressão, o líquido retido no interior da cartilagem discal é eliminado, lubrificando as superfícies. Quando da presença de forças compressivas prolongadas, o mecanismo de saturação pode ser esgotado não proporcionando mais a lubrificação adequada. Essa condição ocorre principalmente nos casos de parafunção de grande intensidade de força (apertamento / brixismo). Ligamentos O ligamento temporomandibular localiza-se na parte externa da cápsula articular, sendo considerado algumas vezes como um espaçamento da mesma. Pode ser dividido em duas partes; uma oblíqua e outra horizontal. O ligamento oblíquo une o tubérculo articular e o processo zigomático a borda posterior do colo do côndilo limitando o grau de rotação do mesmo. Após aproximadamente 28mm de rotação mandibular, este ligamento fica tenso, e a mandíbula é impedida de continuar a rotacionar sem que ocorra um deslocamento para anterior, evitando assim a compressão de estruturas nobres do pescoço. O ligamento horizontal liga-se anteriormente também no tubérculo articular e processo zigomático, e posteriormente na superfície lateral do côndilo e borda lateral da cartilagem discal. Esse ligamento limita o deslocamento posterior do côndilo, evitando assim a compressão da zona retrodiscal altamente vascularizada e inervada. A resistência desse ligamento pode ser demonstrada efetivamente nos casos de trauma na região mentoniana, nessas circunstâncias ocorre a fratura no colo do côndilo evitando que o mesmo invada fossa craniana.
Compartilhar