Prévia do material em texto
www.medicinaatual.com.br AVE hemorrágico Autor(es) Raul Alberto Valiente1 Nov-2011 1 - O que é acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? O AVEH é o extravasamento agudo e espontâneo de sangue no parênquima encefálico. Ele é decorrente da ruptura: • de pequenas arteríolas perfurantes que irrigam a regiões profundas do encéfalo (núcleos da base e tronco encefálico), que ocorre, em geral, por hipertensão não controlada; • de pequenos vasos próximos da região cortical, o que ocorre principalmente em pacientes idosos com angiopatia amilóide. Não devemos confundir AVEH com a hemorragia subaracnóide (HSA), que geralmente está associada à ruptura de aneurismas encefálicos. 2 - Qual é a frequência do acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH) em relação ao isquêmico? Na maioria das séries publicadas, o AVEH corresponde a aproximadamente 15% dos acidentes vasculares encefálicos (AVEs). Em algumas populações, como a asiática, afro-americana e latina, a proporção é maior, podendo corresponder até a 30% dos AVEs. 3 - Quais são as manifestações clínicas e neurológicas do acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? Devemos suspeitar de um AVEH em paciente que apresenta um déficit neurológico focal súbito, níveis pressóricos elevados, rebaixamento do nível da consciência, náuseas e vômitos. A confirmação do diagnóstico com um método de imagem é fundamental, pois sem a imagem são frequentes os erros de diagnóstico entre AVEI e AVEH. 4 - Qual é o melhor método de imagem para o diagnóstico de acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? Pela elevada sensibilidade e disponibilidade, e pelo menor custo, a tomografia computadorizada é o exame de imagem ideal para o diagnóstico de AVEH. A ressonância magnética tem a mesma sensibilidade para o diagnóstico de AVEH, porém tem um custo elevado e menor disponibilidade. 5 - Quais são os locais mais frequentes do acidente vascular encefálico hemorrágico (AVCH)? Em 70% dos casos, o hematoma ocorre nos núcleos da base (putâmen e tálamo), em 20% dos casos ocorre na periferia dos lobos cerebrais e em 10% dos casos se localiza no cerebelo ou tronco cerebral. 6 - Quais são os principais fatores de risco para o acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? O principal fator de risco é a hipertensão arterial não controlada, responsável por até 70% dos casos de AVEH. Em aproximadamente 15% dos casos, o hematoma é decorrente de angiopatia amilóide. Outras causas importantes são os hematomas secundários ao uso de antitrombóticos, pacientes portadores de coagulopatias, malformações vasculares, abuso de drogas, hepatopatias, tumores, etilismo. 7 - O acidente vascular cerebral hemorrágico (AVEH) é mais grave do que o isquêmico (AVEI)? Sim. O AVEH é o acidente vascular encefálico mais letal. A mortalidade nas décadas passadas chegava a 50% dos casos. Atualmente, ela é menor graças ao impacto que as unidades de terapia intensiva gerais e neurológicas, além das unidades de AVE, têm tido no manejo agudo 1 Neurologista do Hospital Santa Marcelina, São Paulo-SP; Pós graduando do Serviço de Neurologia Vascular da UNIFESP/EPM. www.medicinaatual.com.br dos pacientes com hematoma. Contudo, a mortalidade global é de aproximadamente 30%, sendo que entre os pacientes que são admitidos nas primeiras 3 horas do inicio dos sintomas, a mortalidade é maior, chegando a 40%. O motivo para este resultado até certo ponto paradoxal é que pela gravidade do quadro neurológico, os pacientes com AVEH são reconhecidos pelos familiares mais rapidamente. Os pacientes com hematomas volumosos costumam apresentar rápido rebaixamento do nível de consciência associado a um déficit motor mais evidente, náuseas, vômitos e elevados níveis pressóricos. Todos estes motivos são responsáveis pela chegada mais rápida dos pacientes mais graves nas emergências. 8 - Quais são os principais preditores de mau prognóstico nos pacientes com acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? Os principais fatores preditores de pior prognóstico são: • escore de Glasgow =12; • volume do hematoma =30 ml; • presença de inundação ventricular; • origem infratentorial (cerebelo ou tronco); • idade =80 anos. 9 - É possível avaliar quantitativamente a gravidade, isto é, estimar o risco de mortalidade no momento da admissão de pacientes com acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? Sim. O escore de AVEH é uma escala clínica desenvolvida para estratificar o risco de mortalidade em 30 dias, ou seja, mortalidade relacionada ao próprio hematoma. Os componentes da escala são os mesmos fatores relacionados a pior prognóstico (tabela 1). A pontuação varia de 0 a 6 pontos e o risco de mortalidade aumenta progressivamente de acordo com o escore obtido. De acordo com o estudo original, o risco de mortalidade é de 0% em pacientes com escore de 0. A mortalidade aumenta progressivamente com o aumento da pontuação. O risco de mortalidade é de 13%, 26%, 75% e 97% com escores de 1, 2, 3 e 4; e de 100% com escores =5, de acordo com o estudo original. Tabela 1. Escore de AVCH Componentes Pontos Glasgow • 3-4; • 5-12; • 13-15. 2 1 0 Volume (ml) • >30; • <30. 1 0 Inundação ventricular • Sim; • Não. 1 0 Origem infratentorial • Sim; • Não. 1 0 Idade (anos) • >80; • <80. 1 0 Escore total 0-6 10 - Como realizar o cálculo do volume do hematoma? O volume do hematoma é um importante preditor de prognóstico e pode ser fácil e rapidamente calculado usando a formula ABC/2. Primeiramente, determina-se a imagem com maior volume do hematoma, onde A é o maior diâmetro e B é o diâmetro perpendicular a A, utilizando a escala em centímetros localizada ao lado da imagem. Para determinar o valor de C, utiliza-se como parâmetro a imagem de maior volume que recebe o valor de 1, os demais cortes de 10 mm que apresentem um volume de =75% da imagem de maior volume também recebe valor de 1. Os próximos cortes de 10 mm com volume entre 25% a 75% da maior imagem recebem www.medicinaatual.com.br valor de 0,5; e os cortes com menos de 25% do maior volume não são computados. Os valores de A, B e C multiplicam-se e finalmente divide-se por 2, obtendo-se o volume do hematoma em mililitros (ml). 11 - Quando devo solicitar uma nova tomografia de crânio (TC) de controle? Recomenda-se a realização de TC de crânio de controle após 24 horas do inicio dos sintomas, ou então imediatamente, se o paciente apresenta deterioração neurológica após o exame admissional. A importância de realizar a TC de controle é identificar os casos de expansão precoce do volume do hematoma, que é uma das principais causas de piora neurológica e associada a maior mortalidade e pior prognóstico. 12 - O que é a expansão precoce do volume do hematoma? Aumento precoce do volume do hematoma é um fenômeno que acontece principalmente nas primeiras 6 horas do início do sangramento e está associado com pior prognóstico. Em estudo prospectivo, em que pacientes com AVEH realizaram tomografia de crânio com até 3 horas do início dos sintomas, foi observado que houve aumento do volume do hematoma em 26% dos pacientes em tomografia de controle realizada uma hora após o exame basal e em segunda tomografia, realizada após 20 horas, foi detectado aumento em mais 12% dos pacientes, totalizando 38% de aumento do volume do hematoma. Este aumento associou-se a piora neurológica e maior mortalidade. Em outro estudo retrospectivo realizado no Japão, foi observado que a maioria dos casos de expansão do hematoma ocorria quando a primeira TC era realizada nas primeiras 3 horas e nenhum caso foi detectado quando a primeira TC foi realizada após 24 horas do início dos sintomas.Expansão do volume do hematoma é um dos principais determinantes de rápida piora neurológica e aumento da mortalidade, ocorrendo mais frequentemente nos hematomas profundos. 13 - Existem fatores que propiciem a expansão do hematoma? Os fatores que determinam a expansão precoce do volume do hematoma ainda não são bem conhecidos. Alguns fatores possivelmente associados são creatinina aumentada, função hepática alterada, hematomas com borda irregular, níveis pressóricos elevados, hiperglicemia, hematomas volumosos desde o início do sangramento e o uso de antitrombóticos. A revisão dos casos de expansão nos estudos realizados sugere que o principal elemento para o diagnóstico da expansão do volume do hematoma é a admissão e realização precoce da tomografia, ou seja, quanto mais precoce a realização da TC, maior a chance de detectar expansão do hematoma. Sabe-se que na maioria dos casos a expansão ocorre nas primeiras 6 horas do inicio do sangramento. 14 - É possível prevenir a expansão do volume do hematoma? Estudos sugerem que a administração precoce de fator VII recombinante, potente agente hemostático utilizado com sucesso nas hemorragias dos pacientes hemofílicos, pode ser benéfica na redução da expansão do hematoma; porém, o impacto desta medida na evolução do paciente é questionável e os resultados dos estudos são conflitantes. O manejo agressivo precoce da pressão arterial é outra possibilidade terapêutica, mas o impacto deste tratamento na redução do volume do hematoma ainda encontra-se sob investigação. A estabilização rápida do paciente e a monitoração neurológica agressiva em unidades de terapia intensiva poderão ter um impacto benéfico na prevenção e no reconhecimento rápido do aumento do volume do sangramento. 15 - Qual é o ambiente ideal para o manejo do paciente com acidente vascular encefálico hemorrágico (AVCH)? Os pacientes com AVEH devem ser tratados desde a admissão em unidades de terapia intensiva (UTI). É fundamental a integração de uma equipe multidisciplinar para o manejo adequado destes pacientes. Esta equipe deve ser composta por neurologista, neurocirurgião, intensivista e equipe de interdisciplinar. 16 - Por quanto tempo o paciente com acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH) deve permanecer na UTI? O paciente com AVEH deve permanecer por, no mínimo, 48 horas na UTI, pois elas constituem o período crítico. Metade dos óbitos ocorre neste período, quando também ocorre o risco de expansão do hematoma. Se o paciente permanecer estável, com bom nível de consciência, em www.medicinaatual.com.br condições de receber alimentação oral e com os níveis pressóricos controlados, pode receber alta da UTI e prosseguir o tratamento nas enfermarias. 17 - Qual é o impacto do manejo na UTI dos pacientes com acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? Nas décadas passadas, quando os pacientes com acidente vascular encefálico eram tratados apenas nas emergências e nas retaguardas das emergências, a mortalidade hospitalar chegava a 50%. Com o início da trombólise no AVEI e dos protocolos de conduta para o manejo do AVE agudo e o surgimento das unidades de AVE e das de neurointensivismo, houve queda na mortalidade dos pacientes com AVEH. Atualmente, com o impacto do manejo agudo nas UTIs, a mortalidade hospitalar dos pacientes com AVEH é de aproximadamente 30%. 18 - Quais são os principais objetivos no manejo agudo dos pacientes com acidente vascular encefálico hemorrágico (AVCH)? No momento da admissão, devemos realizar as medidas emergenciais para estabilização do paciente e a seguir obter a tomografia de crânio sem demora. Após a confirmação do diagnóstico, deve-se aplicar o escore de AVEH para avaliar o risco de morte. A seguir, deve-se realizar uma rigorosa monitoração do nível de consciência, controle da hipertensão arterial, prevenção da expansão do hematoma, avaliação da possibilidade de intervenção cirúrgica, e iniciar as medidas de reabilitação e profilaxia de complicações clínicas e neurológicas. 19 - Como posso interpretar o escore de acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH) na programação terapêutica? O escore de AVEH pontua os pacientes de 0 a 6. Podemos classificar os pacientes com AVEH em 3 grupos de risco de acordo com a pontuação do escore: • baixo risco de mortalidade: escores de 0 e 1; • alto risco de mortalidade: escores de 2 e 3; • muito alto risco: escores =4. Para pacientes com risco baixo (escores 0 e 1) indicamos apenas medidas clínicas. Para pacientes com risco alto (escores 2 e 3) sugerimos medidas clínicas e avaliação da neurocirurgia para provável tratamento cirúrgico associado. Para pacientes com risco muito alto (escores = 4) provavelmente nenhuma terapia seria eficaz para mudar o prognóstico de mortalidade. 20 - Quais são as principais medidas terapêuticas clínicas para os pacientes com escore 0 e 1? Pacientes com escore de AVEH 0 ou 1 caracterizam-se por apresentar hematomas de pequeno volume, sem inundação ventricular e com bom nível de consciência. Estes pacientes devem ser submetidos a uma rigorosa monitoração dos parâmetros neurológicos, rápido manejo da hipertensão, prevenção da expansão do hematoma e prevenção de complicações clínicas. 21 - Como deve ser realizada a monitoração neurológica na fase aguda do acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? Na fase aguda do AVEH o principal parâmetro neurológico é o nível de consciência, o qual deve ser monitorado frequentemente com a escala de coma de Glasgow. Sugerimos aplicar a escala de Glasgow de hora em hora nas primeiras 6 horas, a cada 2 horas entre 6 a 12 horas, a cada 4 horas até completar as primeiras 24 horas, e a cada 6 horas entre 24 a 48 horas do início dos sintomas. O escore de AVEH deve ser repetido com a TC de controle, principalmente nos casos em que ocorre piora do nível de consciência. A evolução do paciente pode ser monitorada com a escala de Rankin, que avalia a incapacidade do paciente. Sugerimos aplicar a escala de Rankin no momento da alta hospitalar e, posteriormente, no acompanhamento ambulatorial. 22 - Quais são as orientações para o manejo da hipertensão arterial na fase aguda do acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? Hipertensão não controlada é muito frequente na admissão dos pacientes com AVEH. Estudos têm demonstrado que o controle pressórico está associado com melhor prognóstico. As recomendações atuais para o controle pressórico indicam o uso de anti-hipertensivos em pacientes admitidos com pressão arterial sistólica (PAS) =180 mmHg, ou pressão arterial www.medicinaatual.com.br diastólica (PAS) =105 mmHg. O objetivo é manter a pressão arterial não superior a 160/100 mmHg. Nos pacientes com níveis pressóricos muito elevados, a redução deve ser gradual, evitando reduções abruptas de mais de 30% dos níveis basais, para evitar possíveis complicações relacionadas à redução abrupta. Inicialmente deve-se utilizar anti-hipertensivos endovenosos, como nitroprussiato de sódio, esmolol, metoprolol ou hidralazina, disponíveis no Brasil. As drogas de preferência são labetalol e nicardipina endovenosas, infelizmente indisponíveis no Brasil. 23 - A redução da pressão arterial pode piorar o quadro neurológico por determinar isquemia ao redor do hematoma? A redução gradual da pressão arterial é segura e deve ser realizada em todos os pacientes com níveis pressóricos elevados na admissão. Por muito tempo acreditava-se que a redução da pressão arterial poderia piorar a área de penumbra peri-hematoma; por este motivo, tolerava-se níveis pressóricos elevados nos pacientes com AVEH. Estudos recentes com ressonância magnética por difusão e PET demonstraram que não há penumbra peri- hematoma, como se acreditava, portanto, não há razão para deixar os níveis pressóricos elevados. Por outra parte, os benefícios do controle pressóricojá foram observados em estudos intervencionistas. A segurança na redução dos níveis pressóricos na fase aguda do AVEH foi demonstrada em dois estudos clínicos. Atualmente estão em andamento estudos analisando o impacto do controle agressivo da hipertensão no AVEH em que os pacientes são submetidos à redução gradual dos níveis pressóricos em até =140/80mmHg. 24 - Como deve ser a abordagem terapêutica dos pacientes com escore de AVEH 2 e 3? Pacientes com escore de AVEH 2 e 3 apresentam hematomas volumosos e, na maioria dos casos, acompanhados de inundação ventricular. Estes pacientes são muito mais graves e apresentam elevada taxa de mortalidade. Para eles devem ser realizados todos os cuidados clínicos e de monitoração descritos acima e também devem ser considerados para tratamento cirúrgico. 25 - Quais são os procedimentos cirúrgicos que podem ser realizados nos pacientes com acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? Pacientes com hematoma volumoso (= 30 ml) podem se beneficiar da drenagem do hematoma. A drenagem pode ser realizada por craniotomia aberta (cirurgia convencional) ou por métodos minimamente invasivos (drenagem estereotáxica ou endoscópica). Em geral, os hematomas superficiais se beneficiam da drenagem por craniotomia aberta. Já os hematomas profundos não costumam apresentar bons resultados quando operados por cirurgia aberta. Para os pacientes com hematomas profundos volumosos, deve ser dar preferência para os métodos minimamente invasivos. Outro procedimento cirúrgico que pode ser realizado é a drenagem ventricular nos casos de inundação ventricular volumosa; neste caso, existem protocolos intervencionistas em que além do implante do cateter no ventrículo, administra-se 1 mg de alteplase (rtPA) no interior do ventrículo duas a três vezes ao dia para facilitar a drenagem do sangue intraventricular. 26 - O tratamento cirúrgico é superior ao tratamento clínico conservador? No maior estudo em pacientes com AVEH (STICH Trial), 1.033 pacientes foram randomizados para tratamento cirúrgico precoce comparando com tratamento clínico conservador. Neste estudo o tratamento cirúrgico precoce não foi superior ao clínico conservador. Análise de subgrupos sugere que os pacientes com hematomas superficiais apresentam melhor prognóstico quando tratados com drenagem por cirurgia aberta, enquanto que aqueles com hematomas profundos apresentam pior prognóstico quando tratados com drenagem por cirurgia aberta. Meta-análise de todos os estudos que compararam tratamento cirúrgico e conservador indica que na maioria dos casos não há beneficio do tratamento cirúrgico precoce quando comparados com o tratamento clínico convencional. 27 - Quais são atualmente as principais recomendações para tratamento cirúrgico para o acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? Atualmente recomenda-se a drenagem do hematoma por cirurgia aberta nos hematomas superficiais (lobares) volumosos. Os pacientes com hematomas profundos volumosos podem ser considerados para tratamento cirúrgico nos casos em que ocorra rápida deterioração do nível de consciência e nos pacientes jovens. Sempre que possível deve-se dar preferência para www.medicinaatual.com.br os métodos minimamente invasivos (estereotaxia ou endoscopia). Derivação ventricular externa está indicada nos casos de hemorragia intraventricular volumosa. 28 - Como devem ser tratados os hematomas com escore de AVEH 4 a 6? Os pacientes com escore de AVEH 4 a 6 se caracterizam por apresentar grandes volumes e, em geral, com extravasamento intraventricular, importante hipertensão intracraniana e costumam ser admitidos em coma ou evoluindo rapidamente para o coma. São extremamente graves, costumam evoluir a óbito em poucas horas após o inicio do sangramento. Estes pacientes devem ser manejados conservadoramente e não têm indicação de procedimentos intervencionistas clínicos ou cirúrgicos. 29 - Quais são as futuras perspectivas para o tratamento do acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? Atualmente encontra-se em estudo o tratamento agressivo da pressão arterial, além de estudos com fator VII recombinante para prevenção da expansão do hematoma. Nas opções cirúrgicas, estão em andamento estudos com drenagem cirúrgica para hematomas lobares e outros com cirurgia minimamente invasiva para os profundos, além da drenagem da hemorragia intraventricular com a administração intermitente de rtPA, por meio do cateter para o interior do ventrículo. Outra possibilidade seria a combinação de procedimentos clínicos e cirúrgicos com o objetivo de melhorar o prognóstico dos casos mais graves. 30 - Quais são as recomendações para os hematomas associados ao uso de anticoagulantes orais? Com o aumento do uso de anticoagulantes orais, é cada vez mais frequente a ocorrência de hemorragia intracraniana associada quando o INR encontra-se acima dos valores terapêuticos recomendados. Estes casos costumam ser muito graves, com elevada mortalidade. Atualmente recomenda-se a administração concomitante de plasma fresco congelado, crioprecipitado, antagonistas da vitamina K e, se houver disponibilidade, deve ser administrado complexo protrombínico ou fator VII recombinante, os quais se mostraram mais eficazes em reverter a anticoagulação poucas horas após a sua administração. 31 - O uso de corticoesteroides é eficaz em pacientes com acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? Não há beneficio na administração de corticoesteroides no AVEH. O seu uso deve ser proscrito, pois só aumentam a chance de complicações clínicas como infecções, hiperglicemia, distúrbios hidroeletrolíticos, etc. 32 - Devo prescrever fenitoína em todos os casos de acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH) para prevenção de convulsões? Não. A profilaxia de convulsões com fenitoína está apenas indicada nos pacientes com hemorragia lobar. Apenas os pacientes com sangramento superficial costumam irritar o córtex, apresentando maior risco para crises convulsivas. Quando ocorre uma crise convulsiva, o tratamento com anticonvulsivantes deve ser mantido por 30 dias. Não devemos prescrever fenitoína profilática nos hematomas profundos. 33 - Como deve ser realizada a prevenção de trombose venosa profunda (TVP) e embolia pulmonar (EP) nos pacientes com acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? Para profilaxia de TVP/EP recomenda-se o uso imediato de compressão pneumática intermitente e de meias compressivas. Doses profiláticas de heparina não fracionada ou de heparina de baixo peso molecular devem ser prescritas após 24 horas do início dos sintomas. 34 - A recorrência do acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH) é frequente? A recorrência de AVEH é pouco frequente nos hematomas hipertensivos, que constituem a maioria (80%). Recorrência do sangramento é mais frequente nos hematomas lobares causados por angiopatia amilóide. 35 - Como deve ser realizada a prevenção secundária após um episódio de acidente vascular encefálico hemorrágico (AVEH)? Nos hematomas primários hipertensivos, a prevenção de recorrência consiste basicamente em manter os níveis pressóricos rigorosamente controlados. Nos casos suspeitos de angiopatia amilóide não há alternativas terapêuticas para prevenção de um novo sangramento. www.medicinaatual.com.br 36 - Leitura recomendada Broderick JP, Adams HP Jr, Barsan W et al. Guidelines for the management of spontaneous intracerebral hemorrhage: a statement for healthcare professionals from a special writing group of the Stroke Council, American Heart Association. Stroke 1999;30:905-15. Brott T, Broderick J, Kothari R et al. Early hemorrhage growth in patients with intracerebral hemorrhage. Stroke 1997;28:1-5. Dandapani BK, Suzuki S, Kelley RE, Reyes-Iglesias Y, Duncan RC. Relation between blood pressure and outcome in intracerebral hemorrhage. Stroke 1995;26:21-24.EUSI - Recommendations for the management of intracranial hemorrhage. Cerebrovasc Dis 2006;22:294-316 Freeman WD, Brott TG, Barrett KM et al. Recombinant factor VIIa for rapid reversal of warfarin anticoagulation in acute intracranial hemorrhage. Mayo Clin Proc 2004;79:1495-1500. Hemphill JC 3rd, Bonovich DC, Besmertis L, Manley GT, Johnston SC. The ICH Score: a simple, reliable grading scale for intracerebral hemorrhage. Stroke 2001;32:891-897; Kazui S, Minematsu K, Yamamoto H et al.: Predisposing factors to enlargement of spontaneous intracerebral hematoma. Stroke 1997,28:2370- 2375. Kidwell CS, Chalela JA, Saver JL et al. Comparison of MRI and CT for detection of acute intracerebral hemorrhage. JAMA 2004;292: 18231830. Kothari RU, Brott T, Broderick JP et al. The ABCs of measuring intracerebral hemorrhage volumes. Stroke 1996; 27:1304-1305. Massaro AR, Sacco RL, Mohr JP et al.: Clinical discriminators of lobar and deep hemorrhages: The Stroke Data Bank. Neurology 1991,41:1881-1885. Mayer SA, Brun NC, Begtrup K et al. Recombinant activated factor VII for acute intracerebral hemorrhage. N Engl J Med 2005;352:777-785. Mayer SA, Rincon F. Treatment of intracerebral haemorrhage. Lancet Neurol 2005;4:662-72. Poungvarin N, Bhoopat W, Viriyavejakul A et al. Effects of dexamethasone in primary supratentorial intracerebral hemorrhage. N Engl J Med 1987;316:1229-1233. Qureshi AI, Tuhrim S, Broderick JP ET AL. Spontaneous intracerebral hemorrhage. N Engl J Med 2001; 344:1450-1460. Sacco RL, Mayer SA. Epidemiology of intracerebral hemorrhage. In: Feldmann E, eds. Intracerebral hemorrhage. New York: FuturaPublishing Co; 1994:3-23. Sorensen B, Johansen P, Nielsen GL, Sorensen JC, Ingerslev J. Reversal of the international normalized ratio with recombinant activated factor VII in central nervous system bleeding during warfarin thromboprophylaxis: clinical and biochemical aspects. Blood Coagul Fibrinolysis 2003;14: 469-477. Valiente RA, Marin LF, FelicioAC et al. ICH Score assessment in acute intracerebral hematoma: The importance of hematoma enlargement. European Stroke Conference 2005. Wintzen AR, de Jonge H, Loeliger EA, Bots GT. The risk of intracerebral hemorrhage during oral anticoagulant therapy: a population study. Ann Neurol 1984;16:553-58.