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* * * * * * * * * 2 PENSAMENTO JURÍDICO DE PLATÃO 2.1 Pressupostos Podemos fixar em Platão o ponto de partida do pensamento clássico, em suas várias nuanças, e, por conseguinte, da história do pensamento jurídico ocidental, cujos antecedentes e pressupostos se encontram nos filósofos: Parmênides, que declara: “a Justiça e a Verdade são a mesma coisa”; * Pitágoras conceitua dois tipos de Justiça: A Aritmética (distributiva, ou seja, uma modalidade de justiça particular, cujo objeto é o bem do particular, ocorrendo quando a sociedade dá a cada particular o bem que lhe é divido segundo uma igualdade proporcional ou relativa), baseada no mérito, e; * a Geométrica (Comutativa, ou seja, modalidade de justiça particular, cujo objeto é o bem do particular, pela qual um particular dá a outro particular aquilo que lhe é devido, segundo uma igualdade simples ou absoluta. * Define analogicamente: “A Justiça é como uma linha reta”. Platão resolve, nas suas obras jurídicas A República, Das Leis, além da 7ª Carta, o conceito de justiça, pressupostos são assim evidenciados. Mas há nele certa criatividade e a primeira tentativa de sistematizar uma teoria de justiça. * Depois, o pensamento platônico colocou-se numa posição dialética como pensamento Sofista, desta feita as idéias dos Sofistas são contestadas veementemente por Platão. Citamos alguns das mais importantes: * a) Calides: “O Direito Natural é dos mais fortes. As leis são feiras pelos mais fracos”. b) Protágoras: “As leis feitas pelos homens são válidas e não possuem nenhuma conotação ética”. c) Carnéades: “Os homens estabeleceram uma legislação segundo seus interesses”. d) Hípias: “As leis não escritas são de origem superior às leis humanas”. * 2.2 Declaração de Princípio e Conceito de Justiça A doutrina platônica inicia com uma verdadeira Declaração de Princípios: “Toda a minha vida passei ao exame de uma única questão: a Justiça” (Platão, A República, Livro I, p. 347). Dessa forma, seu conceito de Justiça é empolgante e rico de conotações: psicológica, estética, ética, jurídica, epistemológica e metafísica. * 2.2.1 Base Psicológica “A percepção dos meus concidadãos está cega ao valor, embotada, e por isso inútil ver neles a justiça como uma percepção interior, uma virtude que radica n’alma”. * “A injustiça e a justiça são como a doença e a saúde” (A República, Livro IV, p. 444). “A justiça, se ela existe para o indivíduo, existe também para o grupo social”. * 2.2.2 Conceituação Estética da Justiça “A justiça confunde-se com a própria beleza e perfeição”. “A virtude é uma espécie de saúde, beleza e bom estado d’alma, enquanto que o vício é uma enfermidade, deformidade, e fraqueza da mesma” (A República, Livro IV, p. 444). * 2.2.3 Conceituação Ética da Justiça “A justiça é a virtude que mantém a harmonia geral, ordenando que cada classe cumpra seu dever, sem envolver-se com os demais”. “É melhor receber a justiça que praticá-la”. (A República, Livro II, p. 358). * 2.2.4 Conceituação Jurídica da Justiça “A justiça é dar a cada um o que é seu” (Definição do Direito). Simônides e referida por Platão. (A República, p.332). * 2.2.5 Conceituação Epistemológica “A justiça é virtude é sabedoria, e a injustiça, maldade e ignorância”. (A República, Livro I, p. 350). “A Prudência é o conhecimento da ação justa” (A República, Livro IV, 444). * 2.2.6 Conceituação Metafísica da Justiça “A Justiça tem fulgor solar” (o vértice do diálogo). “Deus é a medida de todas” (contestação do sofista Protágora, de que “O homem é a medida de todas as coisas”) (Leis, Livro IV, p. 716). “A Justiça é de natureza das coisas espirituais” (A República, p. 330). * 2.3 Os Conceitos Jurídicos em Particular 2.3.1 O Estado Platão apresenta uma definição do Estado, de natureza sociológica, que se antecipa de muito à própria criação da Sociologia como ciência: * Duas visões que se completam, sobre a natureza humana: - a de natureza microscópica, ou seja, o homem considerado em si mesmo; - a de natureza social, macroscópia, isto é, o homem considerado na sociedade, no Estado. * PENSAMENTO JURÍDICO EM ARISTÓTELES Direito, Justiça e Felicidade Aristóteles pôs o conceito de felicidade como o ponto central de sua ética. O homem deve atingir a eudemonia (a felicidade: principal fundamento da vida moral); como se pode ver, existe forte vinculação entre o conceito de justiça platônico e a eudemonia aristotélica; além disso, Aristóteles também considerou a justiça uma virtude (nos tornamos justos agindo com justiça), embora com bastante diferença do conceito platônico. * Discordou de Platão quanto à justiça ser uma ideia ontologicamente transcendente (razão teórica), mas concordou quanto a ela ser uma virtude (razão prática) que deve ser exercitada no plano político; procurou, aí, a base de uma vinculação entre ética e política. A justiça é para Aristóteles um dos bens que ele chamou de virtudes, vistas como qualidades. * Na Ética a Nicômaco, ele definiu a virtude como um hábito, como algo adquirido e que, portanto, não é inato - as virtudes e as técnicas se adquirem pelo exercício. As virtudes se dividem em virtudes do racional (dianoéticas ou da inteligência), que se referem ao conhecer e virtudes do caráter (éticas ou do saber prático), que se destinam à ação - por isso precisam ser exercitadas. Nesse particular, Aristóteles se diferenciou de Platão, porque não atribui ao conhecimento nenhum papel na aquisição das virtudes morais. A ética se desliga do saber (mundo das idéias) e se liga ao mundo real (mundo do ser); é no mundo real que o homem cria seus hábitos e desenvolve suas virtudes. * O que é a virtude para Aristóteles? É o hábito que se destina a realizar uma função que é característica do homem. A característica que distingue o homem é ser racional, portanto, sua virtude primordial será desenvolver sua inteligência; e como para Aristóteles o homem é um animal social, ele deverá desenvolver sua racionalidade como um ser social. * O homem chega ao estado de excelência do seu ser quando alcança a virtude, isto é, quando alcança um termo médio em relação a si próprio, ... o que nem é muito, nem é pouco; não é o único nem o mesmo para todos (Ética a Nicômaco), nem carência nem excesso - a virtude é um termo médio. * A ideia de igualdade aparece, no plano ontológico, como parte integrante de qualquer ato moral em geral, isto é, como elemento constituidor da virtude; sendo a justiça uma virtude, a igualdade está presente na própria constituição do ato justo: é a igualdade que define a virtude da justiça; se a ação inclui outro ser humano, a ação, para ser justa, deve respeitar a igualdade entre o sujeito que age e o que sofre a ação. Aristóteles descreveu dois tipos de justiça: a universal, que é a observância da lei (virtude universal) e a particular, que é o hábito de realizar a igualdade (virtude particular). * A justiça é uma virtude que só pode ser praticada em relação ao outro, conscientemente, para chegar à igualdade, ou à observância das leis, tendo como fim último o bem comum, ou seja a felicidade da polis. O conceito aristotélico de justiça se compõe de cinco elementos estruturais: o outro, a consciência do ato, a conformidade com a lei, o bem comum e a igualdade: * 1- O Outro - já acentuamos que a justiça é a única virtude que só é praticada em relação ao outro. Essa é a alteridade (refere-se a outros seres distintos do sujeito agente) da justiça, que a faz ser a maior das virtudes, a virtude perfeita, pois, como disse Aristóteles, o que a possui pode executá-la em relação com o outro e não só consigo mesmo (Ética a Nicômaco). A alteridade diz respeito tanto à justiça universal (respeito às leis e aos outros), quanto à particular (prática da igualdade). * 2- Consciência do Ato - enquanto o justo e o injusto se definem pela lei, o ato justo só se realiza voluntariamente, isto é, alguém que prejudique o outro, involuntariamente, não comete injustiça - poderá causar uma injustiça, mas somente por acidente. * 3- Conformidade com a Lei - na polis, o justo quase se identificava com as leis positivas, ou com os comportamentos costumeiros. A lei natural é a lei que revela a natureza da comunidade política, uma vez que o Estado é, ele mesmo, uma realidade natural. O justo natural é mais perfeito que o justo legal e superior a toda forma de justiça; pode-se, então, dizer que a conformidade com a lei natural seria, para Aristóteles, o elemento essencial ao conceito de justiça. * Razão, lei e igualdade têm uma relação muito íntima: a razão é aquilo que todos os homens possuem, é o igual, a característica distintiva da espécie humana; a lei é razão enquanto impede as desigualdades - é impessoal e objetiva e conduz à igualdade jurídica formal, que encontraremos mais tarde no Estado romano. * Tudo deve está em conformidade com a lei e a igualdade, isto é, o que é conforme a lei e a equidade; para ele, justiça e eqüidade não se distinguem e parece que ele não distingue o equitativo da lei natural, uma vez que é ditado pela razão - a razão, para Aristóteles, é a própria forma da natureza humana. Justo é o que é conforme a lei e a equidade - a lei e a equidade procuram realizar a essência da justiça - a igualdade. * 4- O Bem Comum - o bem comum é alcançado na política; o bem supremo, a felicidade na comunidade, se dá com a realização do bem político, que é a justiça - aos iguais deve corresponder sempre algo igual (Política). Assim se expressou Aristóteles: ...justo é o que beneficia a comunidade (Ética a Nicômaco). * 5- A Igualdade - Justiça é, para Aristóteles, a virtude que considera o outro como igual e, assim, pauta suas ações por essa igualdade. Tal igualdade fundamental, que faz parte da essência do homem, não exclui alguma desigualdade nas qualidades que o homem possui desigualmente. * Na justiça, como virtude universal, o conceito de igualdade tem papel preponderante - dar a cada um o que é seu e não exigir o bem em excesso, nem suportar pouco o mal, prejudicando os outros. Mas é na definição da justiça como virtude particular que o conceito de igualdade se faz mais importante - ...se ... o injusto é o desigual, o justo será o igual, o que, ainda que sem prova, é evidente para todos. * A justiça comutativa define a relação dos particulares entre si e a justiça distributiva, a relação dos particulares com a comunidade; ambas são regidas pelo conceito de igualdade. A distribuição dos bens da sociedade será feita a partir do mérito. E o que gera o mérito? Responde Aristóteles, na Ética a Nicômaco: Para os democratas radica na liberdade; para os aristocratas, nas virtudes; e ainda , na Gran Ética, afirmou que o mérito depende do esforço de cada um : quem se esforçou muito, receba muito e quem se esforçou pouco, receba pouco. * Embora Aristóteles fosse um democrata, seu pensamento apresenta um problema típico de sua época - acreditar que o ser humano em geral, não é livre. Mas, se todos são dotados da diferença específica, a racionalidade, como isso pode ocorrer? O filósofo julgava que os escravos possuíam uma natureza inferior a do senhor (a menos que se tratasse de um grego escravizado na guerra) - na Política ele expressa seu pensamento: aquele, que mesmo sendo um ser humano pertence por natureza não a si mesmo, mas a outros, é por natureza um escravo. * * * * * * * * * * * * * * *
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