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INTRODUÇÃ O Ã ELETROFISIOLOGIÃ Cássio Francisco Gonçalves cassio.goncalves@outlook.com Junho/2013 Para entender os fenômenos do ECG, é necessário que entendamos como o impulso é gerado lá no nodo sinusal e como ele consegue excitar as paredes ventriculares. Essas áreas mais escuras nessa figura são os discos intercalados, que são membranas celulares que separam as células umas das outras. Essas membranas fundem-se, formando as junções do tipo gap, que permitem a livre passagem de íons de uma célula a outra. Assim, um potencial de ação, por exemplo, pode difundir-se facilmente entre as células através desses discos intercalados. Então, dá para perceber que o músculo cardíaco é um verdadeiro sincício de células muito interconectadas. Existem no coração dois sincícios: o atrial e o ventricular, separados por um anel fibroso que impede que haja comunicação entre os sincícios. Então, o que acontece é que existe um sistema condutor especializado que vai levar o impulso que foi gerado lá no nó sinoatrial para as paredes ventriculares. Essa divisão em dois sincícios permite que o sincício atrial se contraia um pouco antes da contração ventricular, permitindo uma boa função cardíaca. Então, agora, faz-se necessário revisar o potencial de ação nas células cardíacas. A Professora Linda Costanzo divide o PA das células cardíacas em 5 fases. A fase 0, de despolarização rápida com a abertura dos canais rápidos de sódio e consequente influxo de sódio; a fase 1, de repolarização inicial, quando cessa a entrada de sódio e começa a sair potássio; a fase 2, o platô, um período de despolarização da membrana longo e estável, causado pela entrada lenta de cálcio; a fase 3, ou fase de repolarização, na qual a condutância ao Cálcio diminui, com diminuição, portanto do influxo desse íon e a condutância ao potássio aumenta, aumentando o efluxo desse íon; e a fase 4, que é o restabelecimento do potencial de repouso da membrana das células cardíacas, em cerca de -85mV. Para que estes PAs atinjam toda a musculatura cardíaca, é necessário termos um sistema excitatório e condutor especializado. Este sistema é formado, basicamente, pelo nodo sinual (ou nodo S-A, ou ainda, nodo sinoatrial), que é o local onde os impulsos elétricos serão gerados e transmitidos à musculatura atrial e ao nodo átrio-ventricular através das vias intermodais. O nodo A-V é uma via de retardo do impulso elétrico. Este retardo é importante, pois permite que os ventrículos se contraiam apenas depois de os átrios já terem contraído. Problemas nessa via de retardo podem cursar com alguns tipos de arritmias e com bloqueios átrio-ventriculares. Partindo do nodo A-V, o impulso atingirá o feixe de His, responsável por transmitir estes impulsos ao septo e paredes ventriculares. O músculo cardíaco, ao receber esses impulsos, então, contrair-se-á. Algo importante que aprendemos daqui, é que os eventos elétricos antecedem os eventos mecânicos, ou seja, os átrios, por exemplo, para contraírem, precisam que a despolarização de suas células já tenha ocorrido. Com isso, podemos passar para uma breve explicação do que seria um eletrocardiograma normal. E a figura que vemos abaixo é uma representação de um traçado normal. A onda P representa a despolarização dos átrios. Ao ser gerada a onda P, o impulso elétrico já foi gerado no nodo sinusal e já atingiu as células atriais. Como dito, eventos elétricos antecedem eventos mecânicos. Portanto, a onda P é formada antes da contração terminar. O complexo QRS, formado pelas ondas Q, R e S, representam as ondas de despolarização ventricular. Durante a despolarização ventricular ocorre a repolarização atrial. Contudo, a onda de repolarização atrial é “encoberta” pelo complexo QRS, portanto, não sendo grafável. Por fim, temos a onda T, onda de repolarização ventricular. Outras partes de interesse no traçado eletrocardiográfico incluem: o intervalo PR (intervalo que vai desde o início da onda P até o início do complexo QRS), que pode estar aumentado (representando mais que 0,16 segundo), indicando algum tipo de bloqueio átrio-ventricular (o retardo no nodo A-V é maior do que o ideal); o segmento ST (linha reta que vai do fim do complexo QRS até o início da onda T, ponto também conhecido como ponto J), importantíssimo na identificação de inúmeras patologias, como o infarto agudo do miocárdio ou uma pericardite, por exemplo (se há supradesnível ou infradesnível de segmento ST, dar atenção especial ao eletrocardiograma, pois pode estar acontecendo um infarto. A avaliação clínica é imprescindível); os intervalos QT e RR. Conhecer e saber interpretar um ECG é uma tarefa árdua, que demanda tempo e que será companheira de vocês por todo o período em que estiverem na faculdade e mesmo depois de formados. O exposto aqui não chega a 1% do que vocês ainda aprenderão na disciplina de Semiologia ou na Cardiologia, mas espero que possa suscitar-lhes o interesse a respeito deste maravilhoso mundo que é a eletrofisiologia. Referências: Guyton & Hall. Textbook of Physiology. 12 ed. Costanzo, Linda. Physiology, 3 ed.
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