Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Aula 8 polinoˆmios (Anterior: chineˆs. ) 8.1 se´ries formais Fixemos um anel A. Denotaremos por AN o conjunto de todas as func¸o˜es de N = {0, 1, 2, . . . } a valores em A. Em termos mais concretos, cada elemento de AN e´ uma sequ¨eˆncia infinita (a0, a1, a2, . . . ), que abreviaremos por (an). 1. Exemplos. Que tal 1. em Z, (an) = (0, 1, 2, . . . ), i.e., , an = n ∀n ∈ N. 2. (1, 2, 6, 24, 120, 720, . . . ), ou seja, an = n!. 3. Em Z2, (0, 1, 0, 1, 0, 1...), etc. Definimos a soma de sequ¨eˆncias fazendo as operac¸o˜es coordenada-a-coordenada: (an) + (bn) = (an + bn). Note que a sequ¨eˆncia nula (0, 0, . . . ) funciona como elemento neutro dessa operac¸a˜o. Temos tambe´m −(an) = (−an) funcionando como o negativo de cada sequ¨eˆncia. Definiremos a seguir uma operac¸a˜o de produto de sequ¨eˆncias. Atenc¸a˜o desde ja´, a operac¸a˜o na˜o sera´ dada pela regra de multiplicar coordenada-a- coordenada. 2 polinoˆmios Dadas as sequ¨eˆncias (an), (bn) ∈ AN, definiremos uma nova sequ¨eˆncia, (cn), pela regra seguinte: c0 = a0b0 c1 = a1b0 + a0b1 c2 = a2b0 + a1b1 + a0b2 ... cn = ∑n 0 aibn−i = ∑ i+j=n aibj = ∑n 0 an−ibi ... Note que, apesar de tanto a sequ¨eˆncia (an) como (bn) serem infinitas, a nova sequ¨eˆncia (tambe´m infinita) (cn) e´ definida usando, passo a passo, para cada n, apenas um nu´mero finito de valores: a0, . . . , an e b0, . . . , an. 2. Prop. AN e´ um anel (comutativo e com unidade) com as operac¸o˜es (an) + (bn) e (an) · (bn) definidas como acima. Prova. Apresentemos logo 1 = (1, 0, 0, 0, . . . ). Verifiquemos a distributivi- dade do produto com respeito a soma. Sa˜o dadas as sequ¨eˆncias x = (xn), y = (yn), z = (zn). Calculamos o termo geral de (wn) = ((xn) + (yn)) · (zn). Te- mos wn = n∑ 0 (xi + yi)zn−i = n∑ 0 (xizn−i + yizn−i) = (x · z)n + (y · z)n, ou seja, vale (x+ y) · z = x · z + y · z. Veja agora a associatividade como se estabelece: (x · (y · z))n = ∑n 0 xi(y · z)n−i = ∑n 0 xi ∑n−i 0 yjzn−i−j = ∑n 0 ∑n−i 0 xiyjzn−i−j = ∑n 0 ∑k 0 xn−kyjzk−j (fiz k = n− i) = ∑n 0 xn−k ∑k 0 yjzk−j = ∑n 0 xn−k(y · z)k = (x · (y · z))n. 2 8.1 se´ries formais 3 Note que o anel A se identifica naturalmente ao subanel das sequ¨eˆncias da forma (a0, 0, 0, . . . ) em que apenas a coordenada de ı´ndice 0 pode ser na˜o nula. Escrevemos, por abuso deliberado, a = (a, 0, 0, . . . ) para cada a ∈ A. Em particular, o abuso 1 = (1, 0, . . . ) e´ bastante aceita´vel... Introduzimos agora o xis da questa˜o. Mais precisamente, definimos a sequ¨eˆncia, x = (0, 1, 0, 0, . . . , 0, . . . ). Calcule x2 = x · x = (0, 0, 1, 0, 0, 0, . . . ); x3 = (0, 0, 0, 1, 0, 0, 0, . . . ); x4 = (0, 0, 0, 0, 1, 0, 0, 0, . . . ). Mais geralmente, temos que xn e´ a sequ¨eˆncia formada por zeros, exceto na casa n, onde pomos 1. Convencionamos escrever cada elemento (a0, a1, . . . ) com a expressa˜o simbo´lica∑∞ 0 anx n. Repetimos, nada mais do que uma notac¸a˜o sugestiva. Alia´s, da´ı a terminologia “se´rie formal”. Consideremos agora, em AN, o subconjunto A(N) formado pelas sequ¨eˆncias em que o nu´mero de coordenadas 6= 0 e´ finito. Por definic¸a˜o, 1, x e todas as suas poteˆncias sa˜o elementos de A(N). Note ainda que A(N) e´ certamente fechado para as operac¸o˜es de soma e produto. Cada elemento de A(N) se escreve na forma (a0, a1, . . . , ad, 0, 0, . . . ) = a0 + a1x + a2x 2 + · · ·+ adxd. Na˜o e´ a` toa que chamamos A(N) de anel dos polinoˆmios a coeficientes no anel A, em uma varia´vel x. Entendida a construc¸a˜o, escreveremos A[x] ao inve´s de A(N) para denotar o anel de polinoˆmios. Note que, por definic¸a˜o, dois elementos a0 + a1x + a2x 2 + · · ·+ adxd, b0 + b1x + b2x2 + · · ·+ brxr ∈ A[x] sa˜o iguais se e so´ se os coeficientes correspondentes forem iguais. 4 polinoˆmios 8.2 o anel de polinoˆmios Na˜o tem a menor importaˆncia, doravante, a construc¸a˜o feita na sec¸a˜o anterior para o anel de polinoˆmios, A[x], a coeficientes em um dado anel A. Denotaremos habitualmente um polinoˆmio com s´ımbolos do tipo f(x), g(x), p(x), . . . Por vezes omitiremos a varia´vel x, abreviando f, g, p, . . . . Cada elemento f(x) ∈ A[x] se escreve, na forma f(x) = a0 + a1x + · · ·+ adxd, com ai ∈ A. O anel A e´ chamado de anel dos coeficientes; cada ai ∈ A e´ dito o coeficiente de xi no polinoˆmio f . Enfatizamos que, dizer f(x) = 0 significa exigir que todos os coeficientes sejam nulos. Definimos o grau de um polinoˆmio f(x), denotado por deg f , como o maior dos inteiros i ≥ 0 tais que o coeficiente de xi e´ na˜o nulo. (Nessa definic¸a˜o o grau do polinoˆmio nulo e´ −∞... mas isso na˜o tem a menor importaˆncia: o importante e´ que o banco tal sei la´ qual he da´ n dias sem juros...–ou sera´ que essa propaganda ja´ ta´ velha demais?) Na expressa˜o acima para f(x), se ad 6= 0, temos deg f = d; o coeficiente ad do termo de maior grau se chama coeficiente l´ıder. Dizemos que um polinoˆmio e´ moˆnico se seu coeficiente l´ıder for igual a 1. 3. exerc´ıcios. 1. Mostre que ∀n ∈ Z, xn+1 − 1 = (x− 1)(xn + xn−1 + · · ·+ x + 1). 2. Ache exemplos de pares de polinoˆmios f, g a coeficentes em Z4 tais que o grau do produto f · g seja estritamente menor do que a soma dos graus deg f + deg g. 3. Mostre que o grau de uma soma de polinoˆmios e´ menor do que ou igual ao ma´ximo dos graus das parcelas. Exemplo com desigualdade estrita. E para o produto, o queˆ esperar? 8.3 algoritmo da divisa˜o No restante desta aula, salvo menc¸a˜o em contra´rio vamos considerar apenas polinoˆmios a coeficientes em um corpo K. 8.3 algoritmo da divisa˜o 5 4. Lema. Sejam f, g ∈ K[x] ambos na˜o nulos. Enta˜o temos fg 6= 0 e deg(fg) = deg f + deg g. Prova. Escrevemos f = amx m+· · · , g = bnxn+· · · , onde · · · indica termos de grau menor e am, bn sa˜o os coeficientes l´ıderes, ambos 6= 0. E´ imediato que o coeficiente l´ıder de fg e´ ambn, certamente 6= 0, ja´ que estamos em um corpo. 2 Note que o resultado acima tambe´m vale para polinoˆmios a coeficientes em qualquer domı´nio. Segue em particular que, se A e´ um domı´nio, enta˜o A[x] tambe´m e´. Vale a rec´ıproca? 5. Prop. Sejam f,g polinoˆmios a coeficientes no corpo K. Se f6= 0, enta˜o existem polinoˆmios q, r ∈ K[x] u´nicos com as propriedades 1. g = qf + r; 2. r = 0 ou deg r < deg f . O polinoˆmio q e´ chamado de quociente e r de resto na divisa˜o de g por f . Prova. Se deg g < deg f enta˜o fac¸a q = 0 e r = g. Prosseguimos por induc¸a˜o sobre n = deg g ≥ m = deg f . Escrevamos f = amXm + · · · , g = bnX n + · · · . Seja h = g − bnXn−ma−1m f . Note o ajuste feito para cancelar o termo de maior grau de g. Por induc¸a˜o, h se escreve na forma h = q1f + r, com r = 0 ou deg r < deg f . Fazendo q = q1 + bna −1 m X n−m, conclu´ımos g = qf + r. Para verificarmos a unicidade, suponhamos qf + r = q′f + r′. Da´ı vem (q−q′)f = r′−r. Ora, se q 6= q′ enta˜o o primeiro membro e´ um poli- noˆmio de grau ≥ m enquanto que o segundo membro, supondo r (resp. r′) = 0 ou deg r (resp. r′) < deg f , certamente e´ nulo ou de grau < m. 2 8.3.1 func¸o˜es polinomiais Seja A um anel. Fixe um polinoˆmio f ∈ A[x]. Escolha um elemento qualquer b ∈ A. Definimos f(b) substituindo o s´ımbolo x por b na expressa˜o de f . Explicitamente, se f = a0 + a1x + · · ·+ adxd, enta˜o f(b) = a0 + a1b+ · · ·+ adbd. 6 polinoˆmios Podemos assim associar a cada polinoˆmio uma func¸a˜o polinomial f̂ : A → A a 7→ f(a). Insistimos no fato de que, conceitualmente, f̂ e f sa˜o objetos distintos. Talvez o exerc´ıcio abaixo lhe convenc¸a disso. 6. exerc´ıcios. 4. Sejam f(x) = 1, g(x) = x2 + x + 1 ∈ Z2[x]. Mostre que as func¸o˜es polinomiais corres- pondentes, f̂ , ĝ : Z2 → Z2, sa˜o iguais, i.e., para cada z ∈ Z2 vale f(z) = g(z). Encontre treˆs polinoˆmios distintos comfunc¸o˜es polinomiais associadas iguais a ĥ, onde h(x) = x+1. 5. Mostre que, dados f, g ∈ A[x] e b ∈ A, valem as fo´rmulas (f + g)(b) = f(b) + g(b); (f · g)(b) = f(b) · g(b). 6. Seja f = anXn+an−1Xn−1+ · · ·+a1X+a0 e seja a ∈ K. Mostre que o resto na divisa˜o de f por X − a e´ igual a f(a). Conclua que f e´ mu´ltiplo de X − a se e so´ se f(a) = 0. 7. Prop. Todo ideal de K[x] e´ principal. Prova. Seja I um ideal de K[x]. Se I = {0}, na˜o ha´ nada a demonstrar. Assim, podemos supor que existe um elemento f0 ∈ I moˆnico e de grau mı´nimo com essa propriedade. Mostraremos que I = (f0), i.e., que todo elemento g ∈ I e´ mu´ltiplo de f0. Com efeito, aplicando o algoritmo da divisa˜o, podemos em todo o caso escrever, g = qf0 + r, onde r = 0 ou deg r < deg f0. Como r = g − qf0 e´ claramente um elemento do ideal I, se ocorresse r 6= 0, produzir´ıamos um elemento em I com grau inferior ao mı´nimo, o que e´ absurdo. 2 Lembremos que o MDC de uma colec¸a˜o de polinoˆmios {ft}t∈T e´ o poli- noˆmio moˆnico p caracterizado pelas propriedades seguintes: • p divide cada ft na colec¸a˜o; • se q ∈ K[x] divide cada ft na colec¸a˜o enta˜o q divide p. 8.3 algoritmo da divisa˜o 7 8. Corola´rio. Seja {ft}t∈T uma colec¸a˜o de polinoˆmios. Enta˜o existem t1, . . . , tn ∈ T e q1, . . . , qn ∈ K[x] tais que f = q1ft1 + · · ·+ qnftn e´ o MDC dessa colec¸a˜o. Prova. Seja I o ideal gerado por {ft}t∈T , I = { ∑ 1≤i≤m gifti |t1, . . . , tm ∈ T, g1, . . . , gm ∈ K[x], m = 0, 1, . . . }. Seja f o gerador moˆnico de I. Sendo f um elemento de I, necessariamente se escreve na forma f = q1ft1 + · · ·+ qnftn . Assim, se q divide cada ft na colec¸a˜o enta˜o q divide f . Por fim, sendo I = (f), e´ claro que cada ft (sendo elemento de I. . . ) e´ divis´ıvel por f . 2 9. exerc´ıcios. 7. Sejam f, g ∈ K[x], f 6= 0 e seja r o resto na divisa˜o de g por f . Prove a igualdade de ideais, (f, g) = (f, r). Deduza enta˜o o algoritmo para ca´lculo do MDC por diviso˜es sucessivas. 8. Sejam f = x3 + x + 1, g = x2 + x ∈ Z2[x]. Seja h o MDC de f, g. Adapte as contas aprendidas em Z para determinar p, q ∈ Z2[x] tais que pf + qg = h 8 polinoˆmios 10. Definic¸a˜o. Um polinoˆmio na˜o constante f ∈ R e´ redut´ıvel se existirem polinoˆmios na˜o constantes g, h ∈ K[x] tais que f = g · h. Um polinoˆmio na˜o constante f ∈ K[x] e´ primo se toda vez que dividir um produto, divide um dos fatores; em s´ımbolos: ∀ g, h ∈ K[x], f | (divide) gh⇒ f |g ou f |h 11. Prop. Seja f ∈ K[x] polinoˆmio na˜o constante. Enta˜o f e´ primo se e so´ se for irredut´ıvel. Prova. Suponhamos f moˆnico, irredut´ıvel e sejam p, q, r ∈ K[x] tais que p · q = f · r. Devemos mostrar que se f 6 | p enta˜o f |q. Seja h =MDC(f, p). Visto que f e´ moˆnico e irredut´ıvel, temos h = 1 = f1 ·f+p1 ·p. Multiplicando por q, obtemos q = q · 1 = q · f1 · f + p1 · p · q, claramente divis´ıvel por f . Reciprocamente, supondo f primo, se exib´ıssemos f como produto, f = g ·h, seguiria que f divide algum dos fatores, digamos g = f · g1. Substituindo e cancelando, viria 1 = g1 · h, logo h e´ constante e conclu´ımos que f e´ irredut´ıvel. 2 12. Proposic¸a˜o. (Fatorac¸a˜o U´nica.) Todo polinoˆmio na˜o constante em uma varia´vel e a coeficientes em um corpo se escreve de maneira u´nica (a menos de ordem dos fatores) na forma f = c · p1 · · · · · pm onde c denota uma constante e cada pi e´ um polinoˆmio irredut´ıvel moˆnico. Prova. Mostremos inicialmente, a unicidade da fatorac¸a˜o. Como um produto de polinoˆmios moˆnicos e´ moˆnico, evidentemente a constante c e´ bem determinada pois coincide com o coeficiente l´ıder de f . Por outro lado, se p1 · · · · · pm = q1 · · · · · qn fosse outra fatorac¸a˜o com cada qi moˆnico e irredut´ıvel, ter´ıamos que p1 divide algum dos qi. Reordenando se preciso, podemos supor que p1|q1 e portanto p1 = q1. Cancelando, conclu´ımos por induc¸a˜o sobre o nu´mero de fatores (ou, se preferir, sobre o grau de f). Existeˆncia da fatorac¸a˜o. Se f ja´ e´ um polinoˆmio irredut´ıvel, na˜o ha´ nada a provar. Se f = g · h, com deg g, deg h ≥ 1, enta˜o deg g, deg h sa˜o ambos < deg f e conclu´ımos por induc¸a˜o sobre o grau de f . 2 13. exerc´ıcios. 9. Fatore todos os polinoˆmios de Z2[x] de grau ≤4. Pro´ximo: o lema de Gauss. polinômios séries formais o anel de polinômios algoritmo da divisão funções polinomiais
Compartilhar