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266 
 
A DIDÁTICA NUMA ABORDAGEM FREIREANA 
Maria da Conceição Bizerra196 
 
 
Introdução 
O presente estudo tem por objetivo refletir sobre o ensino da didática, inspirado no 
pensamento de Paulo Freire, no contexto dos cursos de formação de educadores. 
Fundamenta-se no entendimento da Didática em seu caráter prático de apoio à 
concretização do trabalho pedagógico, comprometido com as exigências da sociedade 
brasileira, fundada em novas relações de trabalho. Nesse sentido, o saber didático não se 
limita ao conhecimento específico do processo ensino-aprendizagem de uma dada 
disciplina do currículo e, também, não se identifica com um método geral de ensino. 
“Esse saber didático, enquanto saber de mediação, trata de princípios, 
essencialmente metodológicos, do processo pedagógico escolar – ensino - 
entendidos à luz do estreito relacionamento entre conteúdo e forma, no 
contexto das condições concretas do trabalho didático, o qual possui sua 
expressão nuclear na sala de aula”. (OLIVEIRA, 1993: 133) 
A partir desse posicionamento, a Didática, no âmbito da teoria e da práxis 
pedagógica transformadora, considera o ensino como uma totalidade concreta. Essa 
compreensão orienta que a Didática deve trabalhar os conteúdos de forma que proporcione: 
• articulação do ensino à prática social, entendida como ponto de partida e de 
chegada do trabalho educativo; 
• problematização, elegendo temas extraídos da realidade, como eixos integrativos 
para o trabalho pedagógico; 
• vinculação entre teoria e prática pedagógicas; 
• encaminhamento do ensino para além dos métodos e técnicas. 
Confirma-se o saber didático como saber de mediação que deve ser abordado nas 
dimensões: histórica (natureza, objeto e conteúdo); antropológica (organização do trabalho 
pedagógico no contexto de sociedade brasileira); ideológica (relações entre fins 
pedagógicos e sociais do ensino); epistemológica (relação conteúdo e forma, método de 
ensino e aprendizagem e organização da disciplina estudada). 
No momento de colocar em prática, na sala de aula, o ensino da Didática numa 
perspectiva transformadora tomou-se como fonte de inspiração o pensamento de Paulo 
Freire, especialmente, no que se refere à “educação como prática de liberdade”, aos saberes 
necessários à prática educativa e aos procedimentos didáticos por ele sugeridos. 
 
 
O pensamento freireano: bases para o ensino da Didática. 
A organização do trabalho pedagógico nessa direção exige, inicialmente, uma 
reflexão sobre o sentido de educação como prática de liberdade. 
“Educação que desvestida da roupagem alienada e alienante, seja uma 
força de mudança e de libertação. A opção, por isso, teria de ser também, 
 
196
 Universidade Católica de Pernambuco. 
 267 
entre educação” para a “domesticação”, para a alienação, e uma educação 
para a liberdade. “Educação” para o homem-objeto ou educação para o 
homem-sujeito”. (FREIRE, 1994: 45) 
Para Freire, a decisão de adotar uma proposta de educação libertadora implica 
reconhecer o homem como um sujeito com vocação histórica. Nesse sentido, contrapôs-se à 
“educação bancária”, entendida como o processo que trata o “homem como objeto”, 
depósito de saberes considerados verdades absolutas. Alertou para que as condições do 
terceiro mundo não permitem que o homem exerça sua vocação, fazendo-se necessário 
libertá-lo para que isso acontecesse. O caminho apontado consiste na instauração de uma 
pedagogia assentada no diálogo, na comunicação, tendo em vista uma nova relação humana 
preocupada com a população, no sentido de que ela própria crie uma consciência crítica do 
mundo em que vive. Desse modo, a educação é entendida como o processo de 
conscientização do homem, possibilitando o seu engajamento na luta política e na 
transformação da realidade social. 
“Por isso mesmo, a conscientização é um compromisso histórico. É também 
consciência histórica: é inserção crítica na história, implica que os homens 
assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. Exige que os 
homens criem sua existência com um material que a vida lhes oferece. 
A conscientização não está baseada sobre a consciência, de um lado, e o 
mundo, de outro; por outra parte, não pretende uma separação. Ao 
contrário, está baseada na relação consciência-mundo.” (FREIRE,1980:26 
e 27). 
Outra reflexão importante, tendo em vista a organização do trabalho pedagógico na 
área da Didática consiste nos saberes fundamentais à prática educativa transformadora que, 
segundo FREIRE, (1996) são especificados nos seguintes temas: 
“Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar 
das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do 
outro. Quem ensina, ensina alguma coisa a alguém”. (FREIRE, 1996:25) 
“Ensinar não é transferir conhecimento. É preciso insistir: este saber 
necessário ao professor - que ensinar não é transferir conhecimento – não 
apenas precisa de ser apreendido por ele e pelos educandos nas suas razões 
de ser – ontológica, política, ética, epistemológica, pedagógica mas também 
precisa de ser constantemente testemunhado, vivido”. (ib., 52) 
“Ensinar é uma especificidade humana: como os demais saberes, este 
demanda do educador um exercício permanente. É a convivência amorosa 
com seus alunos e na postura curiosa e aberta que assume e, ao mesmo 
tempo, provoca-os a se assumirem enquanto sujeitos sócio – histórico – 
culturais do ato de conhecer, é que ele pode falar do respeito à dignidade e 
autonomia do educando.” (ib., 11) 
Com o objetivo de “desalienar a população” com vistas a sua conscientização, 
Freire criou a “pedagogia do diálogo” orientando que a relação educando – educador se 
desse de forma horizontal. De acordo com essa visão, o processo educativo tem como ponto 
de partida “as situações
 
vividas” pelo educador na realidade do educando. Nesse processo, 
a relação “educador-educando” converte-se na relação “educando-educador e educador-
educando” da qual brotam os “temas geradores” ou “palavras geradoras” para serem 
trabalhadas nos círculos de cultura. Dessa
 
forma, os círculos de cultura ocupavam-se
 
dos 
temas geradores ou palavras geradoras que emanavam do diálogo sobre as experiências e 
 268 
dificuldades vividas pelo educando, compartilhadas pelo educador. Os “temas geradores” 
ou as “palavras geradoras” deviam ser aprofundadas na perspectiva da “problematização”, 
desenvolvendo no educando “uma visão crítica” de sua realidade. 
Esse processo constitui-se como a base para conscientização que se complementa na 
ação social e política, na práxis social. Espera-se, assim, uma atuação do educador-
educando em prol da transformação da sociedade, o que implica na libertação do homem 
das condições de opressão. Contra o que é a educação bancária, Freire orienta uma didática 
organizada nos seguintes passos: vivência, seleção de temas geradores, problematização, 
conscientização e ação social e política. 
É esta metodologia que se pretende desenvolver em sala de aula, tendo como objeto 
de trabalho o conteúdo da Didática. Evidentemente que esse processo foi recriado 
considerando a especificidade da referida disciplina e as
 
condições concretas do trabalho 
docente e discente. 
 
 
O pensam ento freireano rum o à sa la de au la: aproxim ação e m ed iação . 
Para assegurar essa direção política, o ensino da Didática está organizado em três 
momentos intimamente relacionados entre si: 
- descrição e problematização da prática pedagógica vivida ou observada pelos 
alunos dos cursos de formação de educadores; 
- análise crítica da prática pedagógica, buscando a explicação e a compreensão 
dos problemas da prática; 
- elaboração de propostas de ensino, tendo por referência as escolas-campo de 
atuaçãodos mencionados alunos. 
Nessa perspectiva, o trabalho pedagógico é orientado para “investigação – 
intervenção”, procurando articular teoria e prática, no sentido de “teoria não virar 
blablablá e a prática ativismo.” (FREIRE,1996:24) 
Para se obter a descrição e a problematização da prática pedagógica, os alunos são 
organizados em grupo de estudos, envolvendo os que já atuam na docência e aqueles que 
ainda não são professores. Esses grupos recebem como tarefa inicial socializar as 
experiências individuais, guiadas para compreensão da realidade educacional em sua 
dimensão coletiva. A descrição da prática ocorre de acordo com a seguinte orientação: 
“Reflita sobre a sua prática pedagógica problematizando-a nos seguintes 
termos: como se dá a relação, professor – aluno, como o professor ensina e 
os alunos aprendem; como o professor organiza o seu trabalho pedagógico 
e como se realiza como pessoa.” 
Paulo Freire, ensina que: 
“... este método – na medida em que ajuda o homem a aprofundar a 
consciência de sua problemática e de sua condição de pessoa e, portanto de 
sujeito – converte-se para ele em caminho de opção.” (FREIRE, 1980:48) 
Em geral, nos pequenos grupos, os alunos analisam essas questões de forma 
fragmentada, parcial, acrítica, apresentando relatos permeados por “chavões pedagógicos”. 
Concomitantemente, eles vão às escolas para tomarem conhecimento de experiências 
concretas de outros professores, para relacioná-las com as suas práticas, buscando pontos 
convergentes e divergentes. 
 269 
Os resultados desses estudos e observações são socializadas num grande grupo. Os 
conteúdos emergentes são organizados em torno de “temáticas geradoras” que passam a 
orientar a proposta de ensino-aprendizagem. O desafio a ser enfrentado consiste em 
transformar o ensino numa mediação entre o saber emanado da prática pedagógica vivida e 
sentida pelos alunos dos cursos de formação de professores com o saber mais elaborado 
sobre a mesma situação. 
A problematização vai se consolidando na medida em que os “alunos 
professores”197 juntamente com o professor da disciplina didática vão percebendo 
criticamente as questões que afloram a partir da reflexão sobre a prática. 
“Entendendo-se a prática como uma síntese de múltiplas determinações, 
torna-se necessário procurar as mediações que possibilitem explicar e 
compreender esse produto, para negá-la dialeticamente, transformando-a”. 
(MARTINS, 1989:100). 
Com o auxílio do estudo da literatura pertinente, procede-se a análise crítica da 
prática pedagógica. Neste sentido, os alunos começam a pensar criticamente, procurando 
entender as causas dos problemas da prática na perspectiva de desvelar a realidade. Trata-se 
de uma instrumentalização para os alunos terem condições de cotejar as práticas 
pedagógicas por eles descritas com a literatura estudada. O trabalho se desenvolve a partir 
de diferentes procedimentos didáticos orientadas pela “pedagogia do diálogo”, tendo um 
objetivo principal a sistematização dos conteúdos estudados. 
É imperativo destacar a participação dos alunos como sujeitos do processo de 
sistematização do conhecimento. Verifica-se que eles tentam superar a condição de 
seres passivos, meros receptores do conhecimento como algo pronto e acabado, resultante 
de uma relação pedagógica verticalista para a condição de sujeitos ativos, capazes de 
construírem respostas coletivas para os problemas advindos da prática. 
No processo de sistematização, o professor da turma tem um papel importante de 
criar condições para explicitar os aspectos que ficaram obscuros no decorrer dos estudos, 
mostrando a impossibilidade da disciplina dar conta de todas as dimensões do real. 
Essa metodologia tem o propósito de ultrapassar o nível da explicação da prática 
pedagógica em busca de sua compreensão, face às múltiplas determinações sociais. Para 
tanto, são necessários estudos de aprofundamento teórico sobre o ensino, tendo como foco 
central a prática social. 
Convém ressalvar que, nesse momento, os alunos do curso de formação de 
professores estão construindo e reconstruindo uma nova prática de ensinar. 
“Só assim podemos falar realmente do saber ensinado, em que o objeto 
ensinado é apreendido na sua razão de ser e, portanto, apreendido pelos 
educandos.” (FREIRE, 1996: 29) 
Tendo-se como orientação a organização do ensino a partir da realidade social, os 
"alunos-professores" assumem como tarefa a elaboração coletiva de propostas possíveis de 
serem implantadas nas escolas em que trabalham ou podem trabalhar. Em geral, essa tarefa 
é realizada em grupos que agregam os “alunos-professores” por série ou por área, e os 
resultados são socializados em reuniões plenárias. Sem desprezar o programa formal 
estabelecido pelas escolas, os “alunos-professores” conseguem produzir propostas que 
tentam vincular os conteúdos programáticos aos interesses dos seus alunos. Fica visível a 
preocupação de valorizar o saber que o aluno possui decorrente de suas condições de vida e 
 
197
 Alunos matriculados nos cursos de formação de professores que já exerceram a docência. 
 270 
que o professor deverá agir no sentido de ressignificar esse saber. Começa-se a definir um 
movimento que parte da realidade e do saber nela gerado para chegar ao saber 
sistematizado, negando, dialeticamente, a prática pedagógica descrita no início das aulas. 
 
 
Algumas conclusões 
As propostas elaboradas caracterizam-se pela exequibilidade, respeitando os limites 
impostos pela prática pedagógica escolar. O objetivo parece ser atingido no momento em 
que se instala um processo de mudança, conscientemente assumido, tendo em vista a 
compreensão que a realidade educacional “não é, mas está sendo”. O papel do professor, 
não consiste apenas em constatar o que ocorre mas de intervir como sujeito de história. 
Em todas as propostas aparece a disposição dos “alunos-professores” para 
escutarem seus alunos, tentando apreender as suas experiências, bem como a sua lógica. “O 
educador que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes 
necessário, ao aluno, em uma fala com ele.” (FREIRE, 1996:128) 
A concretização da proposta de ensino, através do processo ação - reflexão – ação, 
permite retirar alguns elementos básicos para uma prática de ensino transformadora. É 
visível que para ensinar “ao aluno-professor ou futuro professor” a desenvolver uma 
proposta de ensino comprometida com os interesses e necessidades práticas dos alunos 
oriundos dos setores mais desfavorecidos da sociedade não é suficiente apenas falar sobre o 
ensino crítico. Torna-se necessário vivenciar com eles um novo processo, tendo como 
ponto de partida e de chegada a própria prática social. Trata-se de testemunhar, com uma 
prática, aquilo que se espera dos alunos nas suas futuras práticas docentes. 
Desse modo, o processo de aprendizagem exige a apropriação. 
“... do aprendido, transformando-o em apreendido, com o que pode, por isso 
mesmo reiventá-lo ; aquele que é capaz de aplicar o aprendido – apreendido 
a situações existenciais concretas. Pelo contrário, aquele que é enchido por 
outros, de conteúdos cuja inteligência não percebe, de conteúdos que 
contradizem a própria forma de estar em seu mundo, sem que seja 
desafiado, não aprende.” (FREIRE, 1975: 27 e 28). 
Sabe-se, entretanto, que a superação da prática pedagógica descrita no primeiro 
momento das aulas não ocorre de forma radical de um dia para o outro, mas acontece de 
forma gradativa num processo alimentado pela “convicção de que a mudança é difícil mas 
é possível.” 
É a partir deste saber fundamental que pode-se programar ações educativas 
comprometidas com humanização da sociedade. Nesse sentido, 
“a mudança do mundo implica a dialetização entre a denúncia da situação 
desumanizantee o anúncio de sua superação, no fundo, o nosso sonho.” 
(FREIRE, 1996: 88) 
 271 
Referências Bibliográficas: 
1. CENTRO PAULO FREIRE. Uma Obra sobre Paulo Freire. A Partir da 
Realidade Cultural no Nordeste Brasileiro. Recife: UFPE / NUPEP, Bagaço, 2000 
2. FREIRE, Paulo. Conscientização. Teoria e Prática da Libertação uma Introdução 
ao Pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Morais, 1980 
3. ______, Educação como Prática de Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994 
4. ______, Extensão ou Comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975 
5. ______, Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São 
Paulo: Paz e Terra, 1996 
6. GHIRALDELLI JUNIOR, P. Didática e Teorias Educacionais. Rio de Janeiro: 
DP& A. 2000 
7. MARTINS, P. L. O. Didática Teórica. Didática Prática para além do confronto. 
São Paulo: Edições Loyola, 1984 
8. OLIVEIRA, M. R. N. S. A Reconstrução da Didática . Elementos Teórico-
Metodológicos. São Paulo: Papirus, 1993 
9. ________, M. R. N. S. (Org) Didática: ruptura, compromisso e pesquisa. São Paulo: 
Papirus, 1995

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